Resumo
Distúrbios seletivos da memória semântica têm atraído o interesse de muitos pesquisadores e a questão da existência de sistema semântico único ou múltiplo permanece como um tema muito controvertido na literatura.
Objetivos:
Discutir a questão de sistemas semânticos múltiplos por meio de um estudo longitudinal de uma paciente com afasia progressiva primária fluente que evoluiu para um quadro de demência semântica.
Métodos:
Uma mulher de 66 anos com comprometimento seletivo da memória semântica foi avaliada em dois momentos por meio de testes neuropsicológicos e fonoaudiológicos e os resultados foram comparados aos de três indivíduos controles pareados.
Resultados:
Na primeira avaliação, o exame físico estava normal e a paciente obteve 26 pontos no Mini-exame do estado mental. Na avaliação da linguagem foram constatadas: produção oral fluente, anomia, comprometimento da compreensão de palavras, preservação dos aspectos sintáticos e fonológicos da linguagem e dislexia e disgrafia de superfície. As memórias autobiográfica e episódica encontravam-se relativamente preservadas. Em testes de memória semântica, a seguinte dissociação foi constatada: distúrbio da memória semântica verbal com preservação da memória semântica não-verbal. Os exames de ressonância magnética cerebral revelaram atrofia acentuada do lobo temporal anterior do hemisfério cerebral esquerdo. Após 14 meses, as dificuldades da memória semântica verbal tornaram-se mais intensas e o distúrbio semântico, inicialmente restrito, à esfera verbal passou a domínios não-verbais.
Conclusões:
Dada a dissociação encontrada na primeira avaliação, acreditamos que temos evidências clínicas contra a existência de um único sistema semântico.
Palavras-chave:
demência semântica; memória semântica; lobo temporal; afasia progressiva primária; sistema semântico.