RESUMO
A doença de Chagas (DC) é causa importante de cardiomiopatia e acidente vascular cerebral no Brasil. Os infartos e atrofia cerebral na DC parecem ocorrer independente da gravidade da cardiomiopatia, sendo o comprometimento cognitivo pouco estudado.
Objetivo:
Determinar a prevalência de alterações na ressonância magnética entre chagásicos e não chagásicos; determinar se os níveis de marcadores inflamatórios estão aumentados na DC e determinar a eficácia da aspirina em reduzir a taxa de microembolização nestes pacientes.
Métodos:
Quinhentos pacientes consecutivos com diagnóstico de insuficiência cardíaca serão submetidos a uma avaliação cognitiva estruturada, coleta de biomarcadores e pesquisa de sinais de microembolia por Doppler transcraniano. Os primeiros 90 pacientes são descritos, avaliados por testes cognitivos e ressonância magnética cerebral, com medida de N-acetil aspartato (NAA), colina (Cho), mioinositol (MI) e creatina (Cr).
Resultados:
A idade média foi de 55±11 anos, 51% eram do sexo feminino, 38 (42%) tinha DC. A média da relação NAA/Cr foi mais baixa em pacientes com DC quando comparada com outras miocardiopatias. O desempenho nos testes de memória de longo prazo e desenho do relógio foi significativamente pior nos portadores de DC. Na análise multivariada, corrigindo para fração de ejeção, idade, gênero e nível educacional, redução da relação NAA/Cr (p=0.006) e disfunção cognitiva (memória de longo prazo, p=0.023; teste do desenho do relógio, p=0.015) permaneceram associados a DC.
Conclusão:
Nesta amostra preliminar, a doença de Chagas esteve associada a disfunção cognitiva e redução dos níveis de NAA/Cr, independente da função cardíaca e nível educacional.
Palavras-chave:
doença de Chagas; acidente vascular cerebral; comprometimento cognitivo; atrofia cerebral; biomarcadores