RESUMO
O presente artigo parte da análise do perfil @jairbolsonaro, atribuído a Jair Messias Bolsonaro no X, antigo Twitter, enfatizando o padrão das suas interações para, a partir disso, rastrear e caracterizar sociologicamente a rede de perfis que se mobilizam em torno do questionamento das instituições socialmente legítimas de produção e difusão de conhecimento, em especial escolas, universidades e institutos públicos de pesquisa. Em termos mais concretos, a pesquisa analisou todas as postagens realizadas um ano antes do segundo turno da eleição de 2018, listando todos os perfis citados ou repostados, buscando destacar dimensões como tipo do perfil, sexo e área prioritária de atuação. Os resultados apontam não só para um grande predomínio de perfis masculinos, como também para uma cultura da masculinidade.
PALAVRAS-CHAVE:
Negacionismo; Anti-intelectualismo; Bolsonarismo; Extrema-direita; Masculinidade
ABSTRACT
This article starts from the analysis of the profile @jairbolsonaro, attributed to Jair Messias Bolsonaro on X, formerly Twitter, emphasizing the pattern of its interactions to, from this, track and sociologically characterize the network of profiles that mobilize around the questioning of legitimate institutions for the production and dissemination of knowledge, especially schools, universities and public research institutes. In more concrete terms, the research analyzed all posts made one year before the second round of the 2018 election, listing all profiles cited or reposted, seeking to highlight dimensions such as profile type, gender and priority area of activity. The results point not only to a large predominance of male profiles, but also to a culture of masculinity. This finding serves as a trigger to analyze more carefully the network of contestation of the established intelligentsia, in what is conventionally called denialism or anti-intellectualism as expressions of the so-called “cultural wars”. The central conclusion of the article is that it is necessary to advance in the investigation of the relationship identified between three contemporary phenomena, namely: Bolsonarism, denialism/anti-intellectualism and the culture of masculinity.
KEYWORDS:
Denialism; Anti-intellectualism; Bolsonarism; Far right; Masculinity
Introdução
O crescimento de movimentos de perfil conservador, quando não reacionário, descritos como de “direita”, “nova direita”, “extrema-direita” ou outras denominações análogas, tem mobilizado as ciências sociais contemporâneas, em suas diferentes expressões disciplinares, na tentativa de descrever, entender e explicar o fenômeno. Em publicação recente, Ângela Alonso (2023, p.7) chegou a caracterizar essa onda de pesquisas universitárias como “obsessão”, apontando para a substituição do antigo interesse por movimentos “de esquerda” por uma multiplicação de pesquisas sobre a “direita”.
Muito ligada ao ciclo político-cultural que se abre em 2013, essa produção se caracteriza, marcadamente, por um viés “politicista”, isto é, uma ênfase quase que exclusiva na ação política dos atores, o que se desdobra na preocupação sistemática com a dimensão organizativa, discursiva e ideológica do fenômeno (Rocha, 2021; Rocha; Medeiros, 2021; Rocha; Solano; Medeiros, 2021; Castro Rocha, 2021). Nesse bojo, ganham destaque os trabalhos sobre o “negacionismo” e o “anti-intelectualismo” desses movimentos, o que tem contribuído para aproximar as análises sobre a “direita” de uma outra agenda de pesquisa, mais ampla e mais antiga, ligada à compreensão das disputas simbólicas e da transformação do espaço intelectual brasileiro, no que tem sido vulgarmente chamado de “guerras culturais” (Cesarino, 2020; Swako, 2023; Swako; Cardoso-da-Silva, 2022; Chiaramonte; Hey, 2018; Meirelles, 2021; Meirelles; Chiaramonte, 2021; Meirelles; Fernandes, 2019).
O presente artigo pretende contribuir com esse duplo debate enfatizando uma dimensão praticamente ausente em boa parte dessa literatura: o papel da estrutura social como terreno prévio para a ação política e como chave para sua interpretação. Partindo de uma leitura sociológica, seu argumento central é que o anti-intelectualismo da direita em geral, e do bolsonarismo em particular, é mais bem compreendido quando contextualizado no bojo das transformações estruturais que impactaram o espaço intelectual brasileiro a partir da sua democratização. Para tanto, é preciso dar centralidade à expansão sistemática da escolarização, em especial do ensino superior público a partir da década de 2000, o que contribuiu para transformar socialmente as universidades brasileiras em espaços majoritariamente femininos, isto é, em que as mulheres constituem, atualmente, a maior parte do alunado.
Igualmente importante para a configuração desse cenário é a intensificação da crise econômica que reduz o horizonte de possibilidades profissionais de jovens, especialmente os escolarizados, que enfrentam esse contexto de crise simultaneamente ao aumento da concorrência por vagas e diplomas universitários a partir do ingresso cada vez maior de mulheres e negros no ensino superior. Assim, mesmo sabendo que os marcadores de classe, raça e gênero seguem operando em favor dos homens, brancos e oriundos de famílias mais escolarizadas em qualquer cenário, nos contextos de crise, como vivenciado no país a partir de 2014, mesmo esse grupo estruturalmente dominante é afetado (Guimarães; Brito; Comin, 2020). E ainda: mesmo considerando que o olhar sobre a população brasileira como um todo nos obriga a reconhecer a permanência das desigualdades estruturais, inclusive em contextos de expansão econômica (ibidem), isso não impede que reduções relativas de desigualdade sejam vistas como ameaças e, por isso mesmo, enseje reações (Carlotto 2018; Comin, 2017; Kalil; Pinheiro-Machado; Scalco, 2021).
Isso posto, partindo da teoria feminista que critica o uso de categorias “sexualmente cegas” (Souza-Lobo, 2021) e de uma perspectiva estrutural que enfatiza a centralidade das variáveis sociais como classe, raça e gênero para a dinâmica das disputas políticas e intelectuais (Bourdieu, 1984; 1989), proponho considerar o bolsonarismo como um movimento marcadamente masculino, em que o anti-intelectualismo desponta como uma reação ao fortalecimento das mulheres no espaço intelectual, a partir do seu acesso sistemático à escola, especialmente ao ensino superior. A aposta central deste artigo é que essa chave de leitura confere sentido a vários achados dispersos na literatura, ligados à forma e ao conteúdo da política da extrema-direita em geral, e do bolsonarismo em particular.
Nesse sentido, vale frisar que o caráter masculino do bolsonarismo já vem sendo apontado por pesquisas dedicadas a traçar o perfil social desse grupo, seja por meio de questionários e entrevistas, seja por meio de etnografias e mapeamento de redes (Kalil, 2018; Kalil; Pinheiro-Machado; Scalco, 2021; Pinheiro-Machado et al., 2023; Teixeira, 2022). A intenção do presente artigo é partir dessa caracterização para avançar em duas direções: a primeira é mostrar que o caráter masculino se associa a uma cultura da masculinidade, baseada numa performance de certos traços tidos como ideais de masculinidade como coragem, agressividade, força e resistência; a segunda é que isso contribui para explicar um dos traços político-ideológicos mais marcantes do conservadorismo reacionário, o dito “anti-intelectualismo”, entendido aqui não como recusa, mas como disputa do que é ser intelectual e de quais os espaços e os modos mais adequados para exercer essa atividade.
Para sustentar a validade desse percurso analítico, é importante frisar, de um lado, que esta hipótese já vem sendo desenvolvida em outros países que sofreram processos de abertura do ensino superior a novas camadas sociais, notadamente os Estados Unidos, onde a extrema-direita também assume um viés negacionista; de outro, que embora o foco deste artigo seja especificamente o caráter masculino do bolsonarismo, trabalhos futuros podem explorar outras dimensões, marcadamente à adesão a uma ideologia da branquitude que também atravessa esses movimentos. Em qualquer caso, o foco específico deste artigo é o caráter essencialmente masculino do bolsonarismo, como dimensão específica.
Isso porque, dialogando com a pesquisa de Barbara Read (2018) sobre o papel da masculinidade na reação contra as universidades enquanto espaços femininos - compostos majoritariamente por mulheres - e feminizados - caracterizados como portadores de valores e traços femininos - no contexto do trumpismo nos Estados Unidos, este trabalho dá continuidade a uma agenda de pesquisa sobre os impactos políticos da transformação estrutural do espaço intelectual brasileiro a partir da democratização quantitativa e qualitativa do ensino superior no país (Carlotto, 2018; 2019; 2021). O objetivo último é argumentar que, dada a centralidade política dos conflitos ligados ao monopólio do conhecimento legítimo para as disputas econômicas e políticas contemporâneas, a ampliação da escolarização em geral, especialmente a partir da democratização do ensino superior, tem uma importância muito maior do que aquela identificada pelo campo de estudos da educação, sobretudo pela sociologia e pela economia da educação enquanto áreas especializadas.
Do ponto de vista metodológico, este artigo partiu da análise do perfil de interação do bolsonarismo no X (antigo Twitter), considerando o contexto de ascensão política desse movimento, quando o que estava articulado era seu “núcleo duro”, isto é, os setores sociais que primeiro aderem (e mais tardiamente se afastam) do bolsonarismo. A operação metodológica realizada consistiu, primeiramente, no levantamento de todas as postagens feitas pelo perfil @jairbolsonaro, atribuído a Jair Messias Bolsonaro no antigo Twitter, um ano antes do segundo turno da eleição de 2018 para, a partir disso, mapear todas as menções, citações e repostagens de outras contas no período.1
O resultado foi a construção de dois bancos de dados: um primeiro, com 1927 tuítes feitos pela conta @jairbolsonaro entre 28 de outubro de 2017 e 28 de outubro de 2018, e um segundo com 177 perfis únicos citados pela sua conta nesse intervalo. A partir daí, foram analisadas de maneira mais detida as contas majoritariamente dedicadas à disputa intelectual, visando identificar o perfil social dos movimentos ditos “anti-intelectuais” ligados a esse núcleo duro bolsonarista.
“Boa guerra, garoto!” é uma postagem feita pelo perfil @jairbolsonaro no primeiro dia do recorte temporal da presente pesquisa, a saber, em 28 de outubro de 2017. Trata-se da republicação de uma notícia divulgada por Flávio Bolsonaro, na qual o então deputado estadual anuncia que, por iniciativa sua, a Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro discutiria a revogação do regulamento disciplinar na Polícia Militar.
Variações desse mesmo tema apareceram mais de uma vez na amostra trabalhada por essa pesquisa, mostrando-se uma espécie de lugar-comum que associa “guerra” e “masculinidade” à atuação bolsonarista na disputa política-cultural, essa última invariavelmente associada a perfis masculinos. Considerando os vínculos que pretendo estabelecer entre bolsonarismo, “anti-intelectualismo” e masculinidade tendo em vista construir uma chave de leitura para o que tem sido chamado de “guerra cultural”, achei um título apropriado e sugestivo.
Vale notar que o uso das redes sociais, especialmente o antigo Twitter, como fonte de pesquisa para acessar o discurso da chamada “extrema-direita”, tem se consolidado como uma alternativa interessante para pesquisadores que buscam ancorar empiricamente suas pesquisas sobre o tema (Goya et al., 2019; Jungherr, 2016; Mangerrotti et al., 2021). Assim, o presente artigo, em diálogo com essa linhagem de pesquisas, partiu da análise do perfil de interação da conta @jairbolsonaro no antigo Twitter para concluir que se tratava de uma interação essencialmente masculina. A partir daí, interessada em entender melhor o “anti-intelectualismo” bolsonarista, aprofundei, na segunda parte do texto, a descrição os perfis mencionados dedicados essencialmente à disputa intelectual para contatar que se tratava não só de um universo masculino, mas, sobretudo, de um discurso masculinista. Partindo dessas constatações, na terceira parte, propus analisar o ingresso sistemático de mulheres no ensino superior como chave para entender o “anti-intelectualismo” bolsonarista como uma reação masculina a esse processo.
De homem para homem: o bolsonarismo no Twitter na campanha eleitoral de 2018
O primeiro banco de dados dessa pesquisa foi construído por meio de um processo automatizado de extração de dados do Twitter, que permitiu construir um banco com todas as postagens da conta @jairbolsonaro entre 28 de outubro de 2017 e 28 de outubro de 2018. No total, foram levantadas 1927 postagens, das quais foi possível levantar um conjunto de informações tais como data e hora da postagem, conteúdo integral da postagem, número de curtidas, número de replicação da postagem e hastags utilizadas. Embora o levantamento automatizado trouxesse também informações sobre perfis citados pela conta principal em suas postagens, confirmei essa informação por meio de uma leitura integral das postagens do período, o que deu origem a um segundo banco de dados, com todos os perfis citados. Excluídas as repetições, o banco foi montado com base em 177 perfis únicos, que visitados um a um para completar o segundo banco com informações tais como: nome do login, nome da conta, autodescrição da conta, número de seguidores em julho de 2022, natureza da conta e área de atuação.
Numa primeira classificação, separei os perfis em três categorias: i) perfis individuais, isto é, pertencentes a indivíduos; ii) perfis anônimos, que explicitamente recorrem a um nome fantasia; iii) perfis institucionais, ligados a instituições formais. Além disso, um conjunto de perfis resultaram em “contas não localizadas”, ou seja, contas que ou foram citadas errado ou foram excluídas entre 2018 e 2022, quando foi feita a pesquisa. Além disso, algumas contas, em geral de natureza individual, constavam como suspensas ou bloqueadas por decisão judicial, mas que, mesmo assim, foram consideradas. A partir dessa classificação, os perfis citados se distribuem conforme Tabela 1.
A partir desse levantamento inicial, analisei especificamente os perfis individuais e os classifiquei por sexo atribuído, resultando que dos 99 perfis individuais citados, 88 eram de homens, ou seja, cerca de 90%. A partir disso, os perfis individuais, institucionais e anônimos foram classificados por área de atuação. Na análise desses perfis em conjunto, chama a atenção que, embora o apoio de forças policiais/militares e o apelo ao uso de armas de fogo tenham sido um tema importante da campanha (Kalil; Pinheiro-Machado; Scalco, 2021), na análise das interações de Bolsonaro no Twitter durante a campanha de 2018, a performance da (hiper)masculinidade, inclusive associada à violência, aparece de maneira mais difusa em perfis de humor/sátira masculinos, na apologia das artes marciais, especialmente luta livre, e em outras subculturas masculinizadas como o rodeio e o universo sertanejo.
É a partir desse quadro que proponho olhar para os perfis especificamente “intelectuais”, isto é, dedicados especialmente à disputa de opinião. A partir de uma seleção feita nas três grandes categorias de perfis - individuais, institucionais e anônimos -, chegamos a um total de 20 contas que apresentamos na Tabela 2, hierarquizadas segundo o número de seguidores em julho de 2022.
Do ponto de vista do perfil de gênero, chama a atenção que todos os perfis individuais mencionados são masculinos, nenhum desses com posições formais no espaço acadêmico. Escapa ao escopo deste artigo analisar em profundidade esses perfis, mas vale destacar um traço comum: o de reivindicar posições não institucionalizadas no espaço intelectual, em geral ligadas a atividades genéricas e pouco formalizadas como as de “analista”, “palestrante”, “blogueiro”, “escritor”, quando muito, “professor” ou “jornalista”, sem que se explicite qual a instituição em que lecionam ou escrevem.
Considerando os perfis institucionais, vale notar que todos esses perfis, até onde é possível rastrear sua origem e estruturação, são fruto de iniciativas exclusivamente masculinas. “O antagonista” foi criado pelo trio Diogo Mainardi, Mário Sabino e Caio Mesquita. A produtora “Brasil Paralelo” foi fundada por Filipe Valerim, Henrique Viana e Lucas Ferrugem. O portal “Mídia Sem máscara” foi uma iniciativa de Olavo de Carvalho em 2002, tendo como editor-executivo Edson Camargo. O Think Tank ILISP tem sua equipe atual, com exceção de Tailize Scheffer, formada basicamente por homens: Antônio Carlos, Camilo Caetano, Daniel Gallo, Kayque Lazzarini, Lucas Sampaio e Marcelo Faria. Por fim, o portal Terça Livre foi fundado e dirigido, até ser interditado pela justiça, por Allan dos Santos e Italo Lorezon.
Os perfis anônimos são mais difíceis de rastrear e, comparados com os outros, têm uma incidência menor e uma institucionalidade bastante precária. Ainda assim, os vínculos rastreáveis das duas contas com mais de 10 mil seguidores remontam a administradores masculinos. É o caso do perfil @andre_emb, intitulado “André (3mbaixada da Resistência)” cuja apresentação completa diz: “Perfil pessoal do criador da Embaixada da Resistência. Não focado em notícias, mas em reflexões. Sou acima de tudo um observador de narrativas. Não sei tudo, mas falo aquilo que sei. Sinta-se livre de discordar e ser rebatido. Dou boas-vindas a colaborações”. E o perfil @TradutordoBR, ligado à conta verificada e com mais de 166 mil seguidores intitulada “Tradutor de direita”, totalmente anônima, mas que apresenta um avatar masculino.
Universo intelectual paralelo e o ecossistema de escolas “livres”
Como dito até aqui, o argumento central desse trabalho é que o perfil de interação no Twitter da conta de @jairbolsonaro é não apenas masculino, mas, sobretudo, ligado a uma cultura da masculinidade que ajuda a entender melhor o conteúdo do chamado “anti-intelectualismo” da extrema-direita brasileira. Este item se dedica a aprofundar a análise de alguns aspectos desse universo de perfis “intelectuais” bolsonaristas dedicados à disputa cultural.
Como procurei demonstrar, esses perfis, além de exclusivamente masculinos, se caracterizam, em geral, por uma atuação intelectual pouco profissionalizada, ligada a papeis genéricos como os de “analista”, “escritor”, “palestrante”, “influenciador”, “blogueiro” etc. Nesse universo intelectual paralelo, ganham destaque as posições que se contrapõem às instituições formais de produção e difusão de conhecimento - em particular, as universidades públicas brasileiras, marcadas por uma crescente presença feminina, especialmente entre o alunado. No centro dessas posições estão os inúmeros cursos informais ligados a institutos, think tanks, empresas e outras instituições do gênero, que se organizam como verdadeiras “escolas livres”, embora não gratuitas.
A mais famosa e longeva dessas “escolas livres” é o “Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho”, acessível por meio de um portal on-line2 no qual ainda é possível comprar acesso ao conhecido COF - Curso Online de Filosofia - pelo qual Olavo de Carvalho formou, segundo ele mesmo, milhares de discípulos. Em novembro de 2023, era possível adquirir nesse portal o acesso completo à obra digital de Olavo de Carvalho - que inclui as 585 aulas do COF, 26 cursos avulsos e centenas de apostilas atualizadas - por 12 vezes de R$ 99,00, na “maior promoção da história”.
O portal que dá acesso ao curso completo é uma página minimalista: sobre um fundo preto, é possível ver três imagens: uma águia americana centralizada no alto, a assinatura de Olavo de Carvalho digitalizada no centro e a logomarca dos seus cursos em baixo. Além disso, duas citações muito sugestivas completam o quadro. A primeira, que também integra a logomarca e acompanha a águia no cabeçalho da página, está em latim e caixa alta: “SAPIENTIAM AUTEM NON VINCIT MALITIA”, que pode ser traduzida como “a sabedoria não vence a malícia”, uma máxima “anti-intelectual” atribuída a Santo Agostinho. A segunda, ainda mais significativa, está centralizada na página, em máximo destaque, e parece ser do próprio Olavo de Carvalho: “A moderação na defesa da verdade é um serviço prestado à mentira”. Cada uma a sua maneira, essas duas citações podem ser lidas como contraposições a uma prática intelectual marcada, de um lado, pela aposta no conhecimento e, de outro, na moderação como debate pautado por regras e limites. Dito de outro modo, é uma defesa mais ou menos explícita do seu estilo agressivo e violento de argumentar (Castro Rocha, 2021), numa emulação do suposto caráter masculino da atividade intelectual.
O modelo educacional de Olavo de Carvalho inspirou uma miríade de outras iniciativas análogas que envolvem, em geral, cursos, na maioria das vezes online, informais e pagos, associados à produção de conteúdo escrito, divulgado por meio de livros, artigos, comentários e notícias. É o caso, por exemplo, do Instituto Borborema, sediado em Campina Grande e que tem, dentre seus professores, dois ex-alunos de Olavo de Carvalho igualmente citados por @jairbolsonaro entre 2017 e 2018; são eles: Felipe G. Martins e Flavio Morgenstern. O Instituto Borborema, apesar de ser também uma livraria, concentra suas atividades no oferecimento de cursos online, em relação aos quais eles destacam: “o preço justo”, o caráter online “para assistir quando e onde quiser” e a qualidade dos professores, apresentados como “alguns dos melhores do país”. A propaganda do corpo docente merece destaque porque ilustra não só o caráter masculino desse universo intelectual paralelo, como o quanto esse caráter masculino performado expressão do que significa ser um bom intelectual nesse contexto específico: dez homens brancos perfilados, um ao lado do outro, num mural monótono em que sobressai a homogeneidade.
Nesse sentido, não deve ser considerado casual o fato de que a revista digital do Instituto Borborema se intitula O homem eterno. O site do Instituto Borborema, em junho de 2022, prometia acesso gratuito ao conteúdo digital da revista pelo endereço <www.homemeterno.com>. O projeto da revista não avançou e, em novembro de 2023, o portal não estava mais disponível, embora a presente pesquisa tenha feito um registro do portal da revista, no qual um homem, jovem e sério, lê um livro concentrado em frente a uma estante de livros.3
Apesar de integrar o corpo docente do Instituto Borborema, Flavio Morgenstern concentra suas atividades, atualmente, na revista Oeste e no portal editorial Senso Incomum. A revista Oeste, cujo título é uma referência à noção de “ocidente” - que a revista associa ao valor da liberdade individual e à tradição judaico-cristã - tem um corpo de colunistas majoritariamente masculino - de 17 colunistas anunciados, consta apenas uma mulher. Já o portal Senso Incomum se destaca por ser uma espécie de selo editorial que publica livros, revistas e um portal de notícias. Na última semana de novembro de 2023, quando concluía a redação deste artigo, a notícia em duplo destaque no portal ilustrava bem o padrão de crítica aos espaços tradicionais de produção de conhecimento, em especial, escolas, faculdades e universidades, por parte desse universo intelectual paralelo. Tendo como manchete “Alunos de faculdade americana exigem ‘sala de choro’ aos ofendidos”, a “reportagem” era ilustrada por uma menina de aproximadamente 5 anos chorando. A imagem reforçava o aspecto infantil da menina ao ser possível ler, no seu gorro rosa, a frase em inglês, “meu pequeno gato”. A “notícia” faz um relato bastante impreciso de uma suposta demanda colocada por alunos e alunas da “Faculdade de Direito Georgetown Law” no Twitter, depois de um dos seus professores criticar a intenção de Joe Biden de indicar uma mulher negra para a Suprema Corte estadunidense. Segundo a reportagem, alguns desses alunos e alunas teriam mencionado, depois disso, a necessidade de um espaço, dentro da faculdade, onde pudessem se refugiar “para chorar”.4
A “reportagem” publicada pelo portal explicita os mesmos traços que Barbara Read (2018, p.597) identificou na crítica da direita trumpista às instituições de ensino, descritas como “espaços compassivos, hiperprotetivos, emotivos e feminizados que não refletem o mundo duro e real”. Em contraposição a esse espaço, a direita reivindica-se portadora da coragem necessária para enfrentar debates “adultos”, isto é, violentos, virulentos e, por isso mesmo, supostamente mais “verdadeiros”. É essa associação entre liberdade de expressão, como sinônimo de um debate sem regras e limites, e masculinidade que compõe, segundo Read, o núcleo duro da crítica às universidades na era Trump.
Na amostra desse universo intelectual paralelo, construído com base nas menções diretas da conta de Jair Bolsonaro no Twitter, vale destacar, ainda, a atuação da produtora de conteúdo Brasil Paralelo (BP). Embora a BP seja um portal de vídeos semelhante a outras plataformas de streaming como Amazon Prime e Netflix, seu nome formal “Brasil Paralelo Entretenimento e Educação S/A” explicita que ela se pretende, também, uma plataforma de educação online. Acessando seu portal em novembro de 2023, somos confrontados por uma grande chamada para a promoção de Blackfriday em que um timer anuncia que o/a visitante tem pouco mais de 10 h para assinar a plataforma de conteúdo com 45% de desconto. Com isso, de R$ 19,90 por mês, o assinante poderia acessar todo conteúdo por apenas R$ 10,45 mensais.5
No portal, é possível acessar conteúdos gratuitos em diferentes formatos, tais como: artigos, notícias e e-books. Esses últimos merecem destaque por serem apresentados como publicações de leitura rápida e disponíveis para download gratuito mediante cadastro válido - por meio do qual a BP constrói uma rede de propaganda que inclui dezenas de e-mails semanais de oferta de produtos. A cada mês, a BP indica um conjunto de títulos que ficam em evidência no portal. O conteúdo dessa amostra em novembro de 2023 indica o quanto a relação entre o ataque às instituições escolares - explícita tanto na defesa do homeschooling quanto na promoção de técnicas alternativas de leitura - se associa de maneira intrínseca à crítica do feminismo, particularmente na sua associação com a esquerda, em geral, e o marxismo, em particular.
Além desse conteúdo gratuito, o portal destaca o acesso a vídeos pagos numa aba autodenominada “Originais BP”, cuja apresentação feita pelo próprio perfilinclui a missão da plataforma: “resgatar os bons valores, ideias e sentimentos no coração de todos os brasileiros”.
O acesso pleno ao conteúdo de streaming depende de assinatura, mesmo assim, é possível ver uma seleção de títulos em que se destaca, ne novo, o tema da crítica do sistema de ensino formal brasileiro. Dentre as produções originais da BP em destaque no site, evidencia-se a série “Pátria Educadora”, uma “jornada pela educação” em que, segundo eles, se apresentam “conceitos, análises e denúncias sobre as diferentes ideologias e personagens que pensam o sistema de ensino brasileiro”. A imagem ilustrativa da série tem um tom passadista e remete a uma sala de aula antiga, provavelmente em um seminário, onde um preceptor, em vestes religiosas e tendo como referência uma lousa, instrui seus pupilos, todos homens.
Vale notar que a característica específica da Brasil Paralelo é atuar na interface entre educação e entretenimento e, portanto, não oferece certificados formais como outras “escolas livres” desse ecossistema mapeado por meio de uma seleção de perfis citados pela conta @jairbolsonaro no Twitter. Ou seja, trata-se de um espaço de produção e transmissão de conteúdo de caráter educativo, mas não exatamente sob a forma de uma plataforma de ensino. Ainda assim, a associação entre perfil de gênero e crítica ao sistema formal de ensino constitui-se, como nos demais casos, num eixo estruturante do seu conteúdo multimídia, como procurei demonstrar.
A análise da interação da conta de @jairbolsonaro no antigo Twitter evidenciou o caráter essencialmente masculino dessa interação, ao mesmo tempo em que a descrição sistemática dos perfis e agentes que, ligados ao bolsonarismo desde 2017, operam na linha de frente das disputas intelectuais evidenciou a mobilização de um discurso masculinista que associa liberdade de expressão à liberdade de agressão, capacidade intelectual à “força”, diálogo de ideias à guerra e constrói caricaturas do sistema de ensino como espaços feminilizados e, portanto, “fracos”. Para compreender como isso se opera, a proposta deste artigo é olhar para o processo de ingresso das mulheres, inclusive as mulheres negras, no ensino superior a ponto de tornar esses espaços compostos por uma maioria feminina.
“Elas sim!” O ingresso de mulheres no ensino superior como chave para compreender o “anti-intelectualismo” bolsonarista como uma reação masculina
Embora a expansão da escolarização feminina no Brasil, segundo a literatura, remonte aos anos 1960 e, no ensino superior, às consequências da reforma universitária de 1968, foi apenas a partir da consolidação de políticas expansão massiva do ensino privado nos anos 1990 que, no início dos anos 2000, as mulheres com ensino superior superaram os homens com a mesma qualificação no conjunto da população brasileira (Guedes, 2008). Ainda que a presença feminina no ensino superior seja muito concentrada em certos cursos e áreas (Guedes, 2008; Ávila; Portes, 2009), esse processo de ingresso de mulheres no ensino superior se intensifica e se complexifica a partir dos anos 2000. Nesse sentido, foram as políticas voltadas à democratização qualitativa do ensino superior público a partir de 2003 que produziram as mudanças estruturais mais profundas nesse espaço, conformando uma nova onda de democratização, contemplando não só as mulheres brancas de famílias portadoras de capital econômico e/ou cultural, mas também as mulheres negras provenientes de famílias de baixa renda e escolaridade (Artes; Ricoldi, 2015; Carlotto, 2021; Senkevics; Mello, 2019).
Isso se torna evidente quando analisamos os dados do Censo da Educação Superior do Inep/MEC.6 Escapa aos objetivos deste trabalho esquadrinhar as mudanças demográficas do ensino superior brasileiro, uma vez que existe farta bibliografia sobre o assunto, que analiso detidamente em outros trabalhos (Carlotto, 2018; 2021). Basta ilustrar o resultado de um processo importante de mudança que leva as mulheres, em geral, e as mulheres negras em particular, a se constituírem como uma nova maioria demográfica na educação superior brasileira. Nesse sentido, considerando os dados relativos ao total de ingressantes no ensino superior brasileiro, nas modalidades presencial e a distância, em 2022, temos que 59,7% eram mulheres e 40,3%, homens, distribuídos segundo a Tabela 3.
O processo de mudança torna-se ainda mais profundo e evidente quando olhamos especificamente para as universidades federais que, além de concentrar 65% do alunado do ensino superior público brasileiro, têm suas matrículas reguladas por um regime de reserva de vagas normatizado pela Lei n.12.711/2012, também chamada Lei de Cotas, há mais de dez anos, que estabelece 50% de vagas para egressos do ensino médio público e, dentro disso, um percentual que varia para cada estado da federação de reserva de vagas para pretos, pardos e indígenas. O resultado dessa política somada a outras - como a nacionalização do Enem, a interiorização de campi e a institucionalização do PNAES - é que, atualmente, as mulheres negras compõem o principal grupo social entre os ingressantes de universidades federais brasileiras, conforme é possível ver na Tabela 4, que mostra, ainda, que as mulheres representavam 53,9% dos ingressantes das universidades federais em 2022.
Assim, mesmo considerando que existem mecanismos de segregação horizontal e vertical que operam, dentro e fora do ensino superior, para preservar vantagens dos homens, especialmente dos homens brancos, no interior desses espaços (Carlotto; Toledo, 2024, no prelo), é inegável que estamos diante de uma mudança estrutural cujos efeitos precisam ser melhor investigados.
Descrevendo um processo análogo - de expansão da presença de mulheres e negros no ensino superior dos Estados Unidos -, Barbara Read (2018) propõe interpretar os ataques às universidades norte-americanas na era Trump como uma reação ao ingresso sistemático de mulheres (e negros) nesses espaços, a ponto de formarem uma nova maioria no ensino superior do país. Essa mudança demográfica ajuda e explicar por que, segundo a autora:
[...] a reação anti-intelectual e antirracional contra as elites acadêmicas não é formatada como uma reação à masculinidade branca e sua maneira de ser ou fazer - antes, a linguagem e os dispositivos de enquadramento utilizados pelo populismo antielitista, em geral, apresentam essas elites em termos feminizados. (Read, 2018, p.595)
Nesse sentido, segundo Read, a defesa da liberdade de expressão enquanto contraposição ao chamado “politicamente correto”, que está no âmago dessa reação anti-intelectual, baseia-se, em geral, na crítica do debate acadêmico descrito como excessivamente protegido e, por isso, “fraco”, “ingênuo”, “afeminado” e “alienado”. Ainda segundo a autora, em contraposição a esse ambiente acadêmico “protegido”, os movimentos pela liberdade de expressão defendem espaços “abertos”, onde tudo pode ser dito de qualquer maneira, sem mediação ou moderação, de modo que o debate possa se dar em termos “duros”, “francos”, em geral “agressivos”, mas, por isso mesmo, mais “verdadeiros” de modo a preparar os estudantes para o “mundo real”, onde eles devem aprender “a lutar e vencer os outros” (ibidem, p.597).
Nesse sentido, a reivindicação de uma “uma retórica agressiva repleta de palavrões e humor ácido - politicamente incorreto” se liga não só à “restauração de hierarquias, valores e modo de vida tradicionais”, como apontam Rocha, Solano e Medeiros (2021, p.xiii), mas, sobretudo, a uma performance da masculinidade em que o debate público - metaforizado como guerra - é apresentado como sendo para “os fortes” que se recusam a pautar suas ações por regras, limites, protocolos ou métodos.
Nesse sentido, o anti-intelectualismo desses grupos não se apresenta exatamente como uma negação da atividade intelectual em si mesma, mas como uma disputa em torno da maneira com que essa atividade deve ser desenvolvida, o que implica uma crítica sistemática às instituições produtoras de conhecimento legítimo, apresentadas como espaços excessivamente protegidos e, por isso mesmo, mais “fracos”. Nesse registro, o anti-intelectualismo nada mais é do que a defesa de uma outra maneira de discutir intelectualmente, pautada pela recusa de regras argumentativas, inclusive metodológicas, e na apologia da violência, da força e da capacidade de resistência como medida para estabelecer vencedores e vencidos. Dito de outro modo: o anti-intelectualismo da extrema-direita é, na verdade, a defesa de que quem se impõe no debate intelectual não é quem tem as melhores evidências e argumentos, mas quem vence o teste de força e resistência do debate metaforizado como guerra ou, se quisermos, como um espaço essencialmente
Conclusão
O presente artigo propõe uma abordagem alternativa partiu à literatura brasileira sobre a ascensão da extrema-direita bolsonarista, de um lado, e o anti-intelectualismo, inclusive negacionista; de outro, associando esse duplo debate por meio da noção de masculinidade. Para tanto, com base em uma análise da interação do perfil atribuído a Bolsonaro no Twitter no momento-chave de ascensão do bolsonarismo, emergiu o caráter marcadamente masculino dessa interação, bem como sua relação intrínseca com uma cultura da masculinidade constantemente performada, inclusive sob a forma de críticas mais ou menos explícitas aos espaços institucionais de produção e difusão de conhecimento legítimo, especialmente as universidades públicas, descritas como espaços feminizados e, portanto, frágeis, excessivamente protegidos e poucos “sérios”. Constatação, mostrou-se importante analisar a transformação estrutural do ensino superior brasileiro, especialmente as universidades públicas, para tentar entender o terreno social que dá sentido ao ataque sistemático de apoiadores do bolsonarismo ao sistema de ensino.
Esse movimento analítico pretendeu complementar tanto as abordagens hegemônicas sobre a ascensão da nova/extrema direita brasileira - marcadas pela ênfase quase que exclusiva dada à dimensão puramente política do fenômeno, limitado à sua expressão discursiva, ideológica e organizativa - quanto as análises mais difundidas sobre o anti-iintelectualismo, tratado como recusa e não como disputa do conhecimento legítimo. Nos dois casos, procurei mostrar que a análise ganha em densidade e capacidade explicativa quando trazemos, para o primeiro plano da análise, o impacto da estrutura social - e sua transformação - o que implica, nesse caso específico, atentar para o peso das hierarquias de gênero - enquanto relações de poder - abandonando definitivamente o uso de categorias sexualmente cegas, a começar pelas de anti-intelectualismo e guerra cultural.
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Notas
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1
A primeira parte deste levantamento foi fruto de uma pesquisa orientada por mim entre 2020-2021 usando-se ferramentas automáticas de extração de dados no Twitter, hoje x, por meio de um perfil de pesquisa (Teixeira, 2021). A segunda parte, a saber, a análise das postagens de Bolsonaro e a construção de um banco de dados com todos os perfis citados, foi feita por mim exclusivamente para este artigo.
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2
Disponível em: <https://sl.seminariodefilosofia.org/>. Acesso em: 29 nov. 2023.
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3
Importante frisar que, na versão original deste artigo, havia um print desse portal, acessado em junho de 2022. Porém, por política editorial, a imagem precisou ser excluída.
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4
Disponível no portal Senso Incomum sob a manchete Manchete: “Alunos de faculdade americana exigem ‘sala de choro’ aos ofendidos”. Disponível em: <https://sensoincomum.org/2022/02/09/alunos-de-faculdade-americana-exigem-sala-de-choro-aos-ofendidos/>.
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5
A centralidade dada à promoção e ao “preço justo” em todas essas plataformas analisadas indica que se trata, sem dúvida, de um negócio e que essa dimensão deve ser considerada na análise. Porém, acho equivocada e simplista a interpretação de que a contraposição às universidades pode ser interpretada apenas na chave público/privado, como uma tentativa de subordinar os espaços autônomos das universidades a uma lógica de mercado.
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6
Embora o CES tenha informações sobre sexo do alunado desde o início, foi somente a partir de 2009 que o censo passou a incorporar a variável cor/raça segundo o padrão do IBGE (Senkevics; Machado; Oliveira, 2016).