Este trabalho é uma tentativa de analisar retrospectivamente o episódio que envolve Salman Rushdie e seu romance Os versículos satânicos. Começo minha análise chamando atenção para o fato de que tanto o enredo da obra quanto o ambiente sócio-político-histórico em que ela aparece estão mergulhados no meio cultural da Índia de modo a não surpreender que o romance tenha se transformado numa questão tão explosiva no cenário internacional. Em seguida argumento que isso tudo nos ensina uma lição importante a respeito de leitura e interpretação. O que quer que Rushdie ou outra pessoa fizesse com o intuito de voltar atrás ou pedir clemência aos aiotolás enfurecidos, não havia como submeter o romance a uma re-leitura - a única interpretação final e definitiva já havia sindo impingida ao malfadado romance. Essa é a enrascada pós-moderna de Rushdie. A ironia - a mesma arma que ele tão habilmente havia utilizado não apenas nos Versículos satânicos mas também em seus romances anteriores - voltou-se contra ele, produzindo um inesperado efeito bumerangue. O que temos aqui é um caso de política da ironia em ação.