Neste artigo, pretende-se abordar o tráfico de drogas a partir de suas capilaridades no mundo social e nas tramas urbanas, tomando como "posto de observação" alguns de seus pontos de ancoramento na periferia da cidade de São Paulo. Essa é uma perspectiva descritiva (e analítica) que permite situar as práticas criminosas nas suas relações com o que poderíamos definir como a gestão das ilegalidades inscritas nos agenciamentos concretos da vida cotidiana. A rigor, esse é o foco da discussão a ser desenvolvida: as evidências de uma crescente e expansiva trama de ilegalidades (nova e velhas) entrelaçadas nas práticas urbanas, seus circuitos e redes sociais, e que são urdidas nas relações hoje redefinidas (e a serem bem compreendidas) entre o ilegal, o informal e o ilícito. Com base em resultados de pesquisa recente, o artigo pretende o exercício de "etnografia experimental" para tentar flagrar as mediações e conexões pelas quais esses deslocamentos das fronteiras do legal e do ilegal vêm se processando. São essas conexões e mediações que precisam ser bem compreendidas: é nelas que se tem uma chave para identificar e compreender a porosidade entre o legal e ilegal, e as fronteiras borradas entre o trabalho, expedientes de sobrevivência e práticas ilícitas; é nelas que se podem identificar e compreender as capilaridades do tráfico de drogas no mundo social, capilaridades urdidas nessas formas de junção e conjugação da trama urbana.
Práticas urbanas; Relações entre o informal; o ilegal e o ilícito; Tráfico de drogas; Ilegalidades urbanas