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O decoro de uma cortesã 1 1 Este texto se beneficiou de produtivo debate por ocasião de sua apresentação no evento Transatlantic dialogues - Realism and modernity in Eça de Queiroz and Machado de Assis, realizado em 2015 na Universidade de Indiana, com publicação prevista na Revista de Estudos Literários da Universidade de Coimbra, sob o título “O decoro de uma prostituta”. Sou grata a Marta de Senna, Pedro Meira Monteiro e Sidney Chalhoub pelos comentários, e, muito especialmente, a Hélio de Seixas Guimarães pelas generosas observações e preciosas sugestões.

resumo

Entre as mudanças que abalaram a paisagem sensível europeia no final do século XIX, uma das mais inquietantes diz respeito à fabulação literária sobre a prostituta. O imaginário em torno do amor venal se modificou em paralelo ao gosto de um público cada vez menos identificado com as virtudes das heroínas românticas. Tais transformações repercutiram na literatura brasileira de modo particular. Afinal, no final dos Oitocentos, o país estava longe de partilhar a sociabilidade que dava base a essas mudanças na França, e os velhos valores patriarcais, católicos e escravocratas resistiam às equações mais modernas entre forma literária, erotismo e moralidade. É a partir desse quadro que se interpreta o conto “Singular ocorrência” (1883) de Machado de Assis, talvez o primeiro texto a demarcar uma mudança no modo de representar a personagem. Na história supostamente banal do relacionamento entre um homem poderoso e uma “Maria de tal”, interroga-se a performance da protagonista, cuja “discreta teatralidade” faz eco aos atributos das exuberantes cortesãs europeias.

palavras-chave:
Machado de Assis; “Singular ocorrência”; Prostituta; Teatro; Moralidade; Teatralidade

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