O POEMA "Na festa da casa-grande", de João Cabral de Melo Neto, está centrado na figura do cassaco de engenho. Os seus procedimentos estilísticos lembram de perto as técnicas pictóricas de Joan Miró, às quais o poeta dedicou um ensaio revelador. O uso de figuras intensas e isoladas e de linhas melódicas breves obedece a uma poética de superfície que difere programadamente da perspectiva clássica e de sua ilusão de profundidade. Mas esses procedimentos não valem por si mesmos de um modo absoluto: foram usados pelo poeta tanto neste poema (que transforma o cassaco em coisa vazia) como em textos anteriores que apontavam para uma atitude vital de resistência do rio ou do trabalhador nordestino. O que marca realmente a diferença é a presença de um lado de dentro, a voz do poema, que é interna em O cão sem plumas, O rio e Morte e vida severina, mas é exterior em Na festa na casa-grande, cujo falante é um deputado com acento nordestino. Onde não há perspectiva, a voz assume o papel de doador de sentido.