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Alcances formativos de atividade extensionista de contação de histórias seguida de intervenção lúdica dirigida

Logros formativos de una actividad narrativa de extensión seguida de una intervención lúdica dirigida

RESUMO

Objetivo

elucidar os alcances formativos aos integrantes de atividade de extensão desenvolvida em unidade pediátrica hospitalar estruturada na contação de histórias e intervenções lúdicas.

Método

estudo qualitativo, apoiado nos referenciais do Interacionismo Simbólico e da Análise Temática Reflexiva. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas únicas junto a nove graduandos, membros de atividade extensionista, desenvolvidas entre junho e julho de 2023, com duração média de 22 minutos.

Resultados

os participantes, estudantes dos cursos de graduação em enfermagem, medicina e pedagogia, apontaram contribuições formativas relacionadas à concepção de criança, hospitalização infantil e do lúdico enquanto tecnologia de cuidado integral. Os seguintes temas surgiram a partir da análise dos dados: “Ampliação da consideração pela criança hospitalizada e seu acompanhante”, “Formação profissional na perspectiva de um atendimento integral”; e “Valorização da incorporação do lúdico como recurso terapêutico”.

Conclusões e implicações para a prática

a atividade extensionista reverberou com reconhecimento e motivação para a adoção da contação de histórias e do lúdico na interação com a criança hospitalizada. Provocou ainda reflexões acerca do perfil profissional projetado na direção de compromisso e garantia ao cuidado humano e integral no âmbito da hospitalização infantil.

Palavras-chave:
Conhecimento; Criança Hospitalizada; Educação Continuada; Ensino; Jogos e Brinquedos

RESUMEN

Objetivo

dilucidar los alcances formativos de los integrantes de una actividad de extensión desarrollada en una unidad hospitalaria pediátrica estructurada en torno a narraciones e intervenciones lúdicas.

Método

estudio cualitativo basado en el Interaccionismo Simbólico y en el Análisis Temático Reflexivo. Se realizaron entrevistas únicas semiestructuradas a nueve estudiantes de pregrado, integrantes de actividades de extensión, realizadas entre junio y julio de 2023, con una duración promedio de 22 minutos.

Resultados

los participantes, estudiantes de las carreras de enfermería, medicina y pedagogía, señalaron aportes educativos relacionados con la concepción, la hospitalización infantil y el juego como tecnología de atención integral. Del análisis de los datos surgieron los siguientes temas: “Mayor consideración hacia los niños hospitalizados y sus acompañantes”, “La formación profesional desde la perspectiva de la atención integral”; y “Valorar la incorporación del juego como recurso terapéutico”.

Conclusiones e implicaciones para la práctica

la actividad de extensión reverberó con reconocimiento y motivación para la adopción de la narración y el juego en la interacción con niños hospitalizados. También provocó reflexiones sobre el perfil profesional diseñado hacia el compromiso y garantía de una atención humana e integral en el contexto de la hospitalización infantil.

Palabras clave:
Conocimiento; Niño Hospitalizado; Educación Continua; Enseñanza; Juego e Implementos de Juego

ABSTRACT

Objective

to clarify the educational scope for members of an extension activity developed in a pediatric hospital unit structured around storytelling and playful interventions.

Method

this was a qualitative study based on Symbolic Interactionism and Reflective Thematic Analysis. Single semi-structured interviews were conducted with nine undergraduate students, members of extension activities, developed between June and July 2023, with an average duration of 22 minutes.

Results

the participants, students of undergraduate courses in nursing, medicine and pedagogy, pointed out formative contributions related to the conception of children, child hospitalization and play as a technology of comprehensive care. The following themes emerged from data analysis: “Expanding consideration for hospitalized children and their companions”, “Professional training from the perspective of comprehensive care”; and “Valuing the incorporation of play as a therapeutic resource”.

Conclusions and implications for practice

the extension activity reverberated with recognition and motivation for the adoption of storytelling and play in the interaction with hospitalized children. It also provoked reflections on the professional profile designed towards commitment and guarantee of humane and comprehensive care in the context of child hospitalization.

Keywords:
Knowledge; Child, Hospitalized; Education, Continuing; Teaching; Play and Playthings

INTRODUÇÃO

A necessidade de hospitalização na infância é de difícil enfrentamento e de potencial traumático para a criança e sua família,11 Canêz JB, Gabatz RIB, Hense TD, Vaz VG, Marques RS, Milbrath VM. The therapeutic play in the care of nursing the hospitalized child. Rev. Enferm. Atual In Derme. 2019;88(26). http://doi.org/10.31011/reaid-2019-v.88-n.26-art.129.
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,22 Al-Yateem N, Rossiter RC. Unstructured play for anxiety in pediatric inpatient care. J Spec Pediatr Nurs. 2017;22(1):e12166. http://doi.org/10.1111/jspn.12166. PMid:27966275.
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visto que há diversas mudanças no cotidiano e comum submissão a procedimentos invasivos, desconfortáveis e dolorosos, com experiência de sentimentos adversos, como medo e ansiedade.33 Ciuffo LL, Souza TV, de Freitas TM, de Moraes JRMM, dos Santos KCO, dos Santos ROJFL. The use of toys by nursing as a therapeutic resource in the care of hospitalized children. Rev Bras Enferm. 2023;76(2):e20220433. http://doi.org/10.1590/0034-7167-2022-0433. PMid:37042927.
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Nesse contexto, o uso do lúdico, do brincar e da contação de histórias está recomendado aos profissionais de saúde, uma vez que facilitam a interação, a comunicação e a expressão de sentimentos,44 Mota HVA, Silva MR, Júnior CJS. Intervention to hospitalized children and ludoterapia: integrative review. Rev Portal Saude Soc. 2019;4(2):1141-51.

5 Silva MKCO, Ferraz LCC, Farias MB, Januário JKC, Vieira ACS, Moreira RTF et al. THe use of play in the pediatric hospitalization scenario. Rev Enferm UFPE On Line. 2019;13:e238585.

6 Silva C, Schmidt FM, Grigol AM, Schultz LF. The nurse and the child: therapeutic toy and the practice of playing during hospitalization. Semin Cienc Biol Saude. 2020;41(1):95-106.

7 Delvecchio E, Salcuni S, Lis A, Germani A, Di Riso D. Hospitalized children: anxiety, coping strategies, and pretend play. Front Public Health. 2019;7:250. http://doi.org/10.3389/fpubh.2019.00250. PMid:31555632.
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8 Perasso G. The play specialist in the pediatric healthcare: evidence-based professionalism, issues in practice, and training across different countries. Int. J. Sci. Ann. 2021;4(1):45-7. http://doi.org/10.26697/ijsa.2021.1.7.
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9 Neves SJO, Prado PF. Storytelling in pediatric oncology unit. Rev Bras Cancerol. 2018;64(3):383-7. http://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2018v64n3.44.
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10 Teodoro GS, Carlúcio LR, Vador RMF. The nurse and the socialization of the hospitalized child: use of illustrations and stories as mediators. Braz. J. Develop. 2021;7(6):61267-86. http://doi.org/10.34117/bjdv7n6-481.
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-1111 Claus MIS, Maia EBS, de Oliveira AIB, Ramos AL, Dias PLM, Wernet M. The insertion of play and toys in Pediatric Nursing practices: a convergent care research. Esc Anna Nery. 2021;25(3):e20200383. http://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2020-0383.
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assim como acolhem e minimizam sofrimentos. De acordo com a literatura, alguns exemplos de estratégias lúdicas que podem ser utilizadas incluem brinquedos diversos, livros de desenho, lápis de cor, massinha, músicas alegres, e jogos de quebra-cabeça e de memória.1212 Carvalho ACBR, Alencar LVS, Costa MVM, Batista PVS, Magalhães JM, Cardoso SB et al. Children’s play therapy in the hospital context: an integrative review of the literature. Rev Enferm Atual In Derme. 2024;98(1):e024267. http://doi.org/10.31011/reaid-2024-v.98-n.1-art.2004.
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,1313 Figueiredo Jr AM, Reis DP, Lima KN. The importance of play during hospitalization: a report of experience. REAC. 2019;5:e1315. http://doi.org/10.25248/reac.e1315.2019.
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O brincar no hospital transcende a ocupação recreativa e atua como instrumento facilitador, com potencial de agregar efeitos terapêuticos e, dessa forma, favorecer uma assistência integral e humanizada.1414 Nijhof SL, Vinkers CH, Van Geelen SM, Duijff SN, Achterberg EJM, Van Der Net J et al. Healthy play, better coping: the importance of play for the development of children in health and disease. Neurosci Biobehav Rev. 2018;95:421-9. http://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2018.09.024. PMid:30273634.
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Estudo realizado com 52 enfermeiros reconheceu a força do brincar-cuidar nas práticas assistenciais, e assinalou a premência de vivências formativas práticas.1515 Maia EBS, Banca ROL, Rodrigues S, Pontes ECD, Sulino MC, de Lima RAG. The power of play in pediatric nursing: the perspectives of nurses participating in focal groups. Texto Contexto Enferm. 2022;31:e20210170. http://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2021-0170.
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Entretanto, outra pesquisa realizada em unidades pediátricas de internação revelou que, apesar de o profissional reconhecer os benefícios da incorporação do lúdico, sua utilização ocorre de forma não sistematizada e heterogênea.1111 Claus MIS, Maia EBS, de Oliveira AIB, Ramos AL, Dias PLM, Wernet M. The insertion of play and toys in Pediatric Nursing practices: a convergent care research. Esc Anna Nery. 2021;25(3):e20200383. http://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2020-0383.
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Derivado disso, o uso do brincar, brinquedo e lúdico revela-se incipiente na assistência à criança hospitalizada, muito pelo significado e sentido que os profissionais de saúde atribuem a eles. Diante de tal cenário, a formação profissional está concebida como estratégia de mudança, por deter potencial para transformar o sentido da prática assistencial.1111 Claus MIS, Maia EBS, de Oliveira AIB, Ramos AL, Dias PLM, Wernet M. The insertion of play and toys in Pediatric Nursing practices: a convergent care research. Esc Anna Nery. 2021;25(3):e20200383. http://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2020-0383.
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,1616 Boztepe H, Çınar S, Ay A. School-age children’s perception of the hospital experience. J Child Health Care. 2017;21(2):162-70. http://doi.org/10.1177/1367493517690454. PMid:29119813.
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Nesse aspecto, o Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024) preconiza que pelo menos 10% da carga horária curricular da graduação seja desenvolvida a partir de ações de extensão,1717 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (BR). Plano Nacional de Educação PNE 2014-2024: Linha de Base. Brasília (DF): Inep; 2015. cujo movimento interdisciplinar, de cunho educativo-científico, visa favorecer a interação entre discente-docente e a comunidade, contribuindo para a transformação social.1818 Arantes ÁR, Deslandes MS. The university extension as a mean of social and professional transformation. Sin. Mult. [Internet] 2017 [cited 2024 fev 19];6(2):179-83. Available from: https://periodicos.pucminas.br/index.php/sinapsemultipla/article/view/16489
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A indicativa deve-se às contribuições de atividades extensionistas para conhecimentos e habilidades nos loci do campo profissional, com desdobramentos à conformação da identidade profissional.1919 Reis LC, Alves CM, Paiva HFFB, Anversa ALB, Moreira EC, Oliveira AAB et al. Extension curriculum in health courses: na integrative review. J Pol Educ-s. 2022;16:e86071. As evidências apontam ainda que a experiência promove reflexões relativas à singularidade e complexidade da realidade onde as ações práticas ocorrem.2020 Rozin L, Forte LT. Curricularization of university extension health courses: a proposal with the use of community diagnosis. Esac. Saude. 2021;22:e774. http://doi.org/10.22421/1517-7130/es.2021v22.e774.
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Nos cursos da saúde, a discussão está em pauta crescente, com recomendações para sua tematização a partir de estudos qualitativos, na intenção de adensar o entendimento da vivência para a formação profissional.1919 Reis LC, Alves CM, Paiva HFFB, Anversa ALB, Moreira EC, Oliveira AAB et al. Extension curriculum in health courses: na integrative review. J Pol Educ-s. 2022;16:e86071.

Diante do exposto e da escassez de literatura relacionada às ações de extensão universitária que tomam as atividades lúdicas no cuidado hospitalar infantil, o presente estudo questiona sobre a formação profissional de estudantes da graduação inseridos em uma atividade extensionista prática em unidade hospitalar pediátrica. O objetivo é elucidar os alcances formativos aos integrantes de atividade de extensão desenvolvida em unidade pediátrica hospitalar estruturada na contação de histórias, seguida de intervenções lúdicas.

MÉTODO

Estudo de abordagem qualitativa e exploratória, apoiado no referencial do Interacionismo Simbólico (IS), uma vez ser a intenção desta pesquisa explorar percepções e o significado da participação na atividade extensionista estruturada em contação de histórias e intervenções lúdicas na formação profissional. O referencial tornou-se pertinente por explorar as ações humanas e os significados que as sustentam. Além disso, entende que a maneira como o ser humano interpreta os fatos e se comporta perante alguém ou algo está diretamente relacionada aos significados, os quais são resultados de processos interacionais. Com base nesse referencial, pode-se compreender a ação humana como um processo contínuo de mudanças nas ações alinhada às situações sociais e às interações com outros indivíduos.2121 Charon JM. Symbolic Interactionism: an introduction, an interpretation, an integration. 10º ed. Boston: Prentice Hall; 2010.

A pesquisa foi desenvolvida com graduandos dos cursos de enfermagem, medicina e pedagogia de uma universidade pública do interior paulista, todos integrantes da atividade extensionista intitulada “Estoriando e Brincando em Unidade Pediátrica”, desenvolvida na unidade de internação pediátrica do hospital universitário da cidade. A participação dos discentes foi voluntária, mediante manifestação de interesse às professoras supervisoras, sendo uma delas do curso de enfermagem, e a outra, do curso de pedagogia.

Os estudantes integrantes do projeto se organizavam em trios que revezavam semanalmente. Eles programavam tanto a contação de histórias quanto uma intervenção lúdica, como jogos, brincadeiras e músicas. O tempo de duração da atividade em si era de aproximadamente uma hora, além do período utilizado para elaboração da mesma (cerca de sete horas), totalizando oito horas semanais.

O convite para integrar o estudo ocorreu via mensagem eletrônica. Todos os convidados aceitaram participar voluntariamente, totalizando nove participantes. Não houve recusa nem solicitação para se retirar do estudo após a coleta de dados. Os critérios de inclusão foram ter o mínimo de quatro inserções na atividade extensionista de contação de histórias, estar participando ativamente do projeto e ter idade maior de 18 anos.

A coleta de dados foi realizada nos meses de junho e julho de 2023. As entrevistas semiestruturadas ocorreram em ambiente virtual, mediadas pela plataforma Google Meet®. Vale a pena destacar que o link para leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi enviado anteriormente.

Utilizou-se a seguinte pergunta disparadora: considerando a sua inserção na atividade de extensão, o que destacaria como contribuição para a sua formação? Dessa maneira, apresentaram-se as seguintes colocações, sempre de modo articulado à narrativa do participante: conte-me sobre uma revelação derivada da vivência junto à atividade extensionista; e a atividade extensionista oportunizava contato com o acompanhante da criança, a criança, outros estudantes e profissionais. Essas interações tiveram desdobramentos para a sua formação? Poderia falar sobre? Outras perguntas foram apresentadas, a fim de compreender a formação experienciada via atividade extensionista.

A duração média das entrevistas foi de 22 minutos. Foram gravadas em áudio e, posteriormente, transcritas na íntegra com auxílio do software Microsoft Word® . Após, foi realizada dupla conferência da transcrição, com envio da mesma aos participantes, para que ocorresse a validação do material. Destaca-se que as entrevistas foram conduzidas pela primeira autora, por ter mais afinidade com o método de coleta de dados, sendo ajudada pela segunda autora.

O processo analítico dos dados esteve apoiado na Análise Temática Reflexiva, proposta por Braun e Clarke.2222 Braun V, Clarke V. Reflecting on reflexive thematic analysis. Qual Res Sport Exerc Health. 2019;11(4):589-97. http://doi.org/10.1080/2159676X.2019.1628806.
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Dessa forma, para familiarização com os dados, a transcrição das entrevistas foi lida e relida exaustivamente pelas pesquisadoras para, posteriormente, estabelecer os códigos que capturassem a leitura semântica e conceitual relativa ao fenômeno posto em exploração. Em seguida, os códigos foram agrupados, com o estabelecimento de temas, os quais foram revistos de modo a checar se esses se articulavam com os códigos de dados extraídos e com o conjunto geral de dados. Assim, o material obtido foi definido e nomeado a partir da essência de cada tema. Os participantes tiveram suas identidades preservadas, sendo identificados pela letra P, alusiva à palavra “profissional”, seguida do número arábico tradutor da ordem de sua entrada no estudo.

A pesquisa foi apreciada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, sob Parecer no 6.063.464 de 16/05/2023 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) no 67814523.3.0000.5504. Todos os preceitos éticos foram respeitados.

RESULTADOS

Os participantes deste estudo apresentaram idade média de 20 anos. Sete delas eram graduandas de enfermagem; um era graduando de medicina; e uma era graduanda de pedagogia. Seis deles já haviam cursado mais de quatro semestres do curso, enquanto que um deles já estava no último ano de formação profissional.

A partir da leitura dos textos originados das entrevistas e reflexões dos trechos, foi possível identificar conteúdos estruturantes sobre o impacto da atividade extensionista na formação profissional condicionado à utilização do brincar, do lúdico e da importância do acompanhante da criança hospitalizada. Dessa forma, detalham sobre as edificações de significados e seus desdobramentos a comportamentos e valores por meio dos temas: “Ampliação da consideração pela criança hospitalizada e seu acompanhante”; “Formação profissional na perspectiva de um atendimento integral”; e “Valorização da incorporação do lúdico como recurso terapêutico”.

O tema “Ampliação da consideração pela criança hospitalizada e seu acompanhante” trata-se da concepção dos estudantes sobre as transformações e significados relativos à criança hospitalizada, ao uso do brincar e à presença do acompanhante. Os subtemas originados, como “Criança hospitalizada e o lúdico” e “Acompanhantes: sofrimentos e necessidades”, representam as transformações de entendimento e ressignificações diante do cenário pediátrico hospitalar e os alcances formativos obtidos.

No subtema “Criança hospitalizada e o lúdico”, tem-se que a atividade de contar histórias infantis e brincar em unidade pediátrica modificou o símbolo “criança adoecida e hospitalizada”, agregando o entendimento da permanência do interesse e desejo da criança em brincar, apesar da necessidade de hospitalização. Esse processo ocorreu a partir do testemunho de situações que os levaram a (re)significar o brincar como ocupação desejada e promotora de conforto e alegria para a criança, inclusive com alcance sobre seu quadro clínico.

Fui vendo o quanto o brincar traz muitos pontos positivos para a criança. Teve um caso de uma menininha que ela ia voltar com o cateter de oxigênio, mas, depois da nossa contação de história, ela não precisou usar, então isso vai mostrando o quanto que não ajuda só na criatividade, mas também ajuda na questão da melhora da criança que está internada no hospital. (P1)

Uma coisa que me marcou muito foi um menininho que estava com cilindro de oxigênio, passou carregando o “cilindrinho” como se fosse uma mochila de rodinha, sentou na cadeira para ouvir a história e depois brincou. Foi muito incrível. Eu acho que eu passei o dia inteiro pensando sobre isto e sorrindo de orelha-a-orelha. Ele brincou muito, apesar do cilindro. Mesmo estando num lugar diferente, ali doente, elas são crianças do mesmo jeito; elas brincam, elas querem brincar. (P2)

Me marcou bastante um menino de três anos que estava com câncer, e ele estava em cuidados paliativos, e a família falou que ele estava muito agitado, que ele não tinha conseguido dormir por alguns dias, e eu fui no quarto contar a história para ele e ele pegou no sono. Ele falou: “Eu vou mimir”, e pegou no sono enquanto eu estava contando a história, e a família me agradeceu. Eu fiquei muito feliz de ter conseguido que ele descansasse um pouco. O Estoriando fez com que eu visse situações assim, e fui pensando diferente o brincar e seu valor para a criança hospitalizada. (P4)

Ver crianças doentes foi o que mais me pegou. Ver os bebês doentinhos, com acesso. Acho que isso me doeu, porque é algo totalmente diferente do que eu vejo. As crianças geralmente vão bem para a escola. Então, é uma nova perspectiva. Um dia que fiquei muito feliz foi quando contei a história para uma criança que estava super mal, achando que ia ser furado. Aí eu cheguei contando a história e ele parou de chorar e ficou mais tranquilo. E isso foi bom! E eu gostei. Foi o dia que eu mais gostei! (P6)

No subtema “Acompanhantes: sofrimentos e necessidades”, a vivência da atividade colocou os participantes em contato com acompanhantes e promoveu sua visibilidade a partir de uma nova perspectiva: de alguém que tem uma historicidade, que vivencia a hospitalização e sofre com ela, de modo a requerer acolhimento. Significam ainda que a segurança e conforto relacional favorecem para o acompanhante se revelar.

Nisso, chega uma mãe com uma nenenzinha de seis ou sete meses. Só que essa mãe ela era menor de idade, ela tinha lá os seus 16, 17 anos. E no momento da brincadeira, que a gente estava brincando, eu não lembro qual era a brincadeira, ela veio para mim com a nenenzinha e falou: “Você segura ela para mim brincar, por favor?”. Eu falei: “Nossa, sim!”, e aí eu peguei a neném e eu segurando a neném, vendo ela brincar, vendo ela conviver. Eu pensei: “Ela também tem suas necessidades”. O acompanhante também precisa deste cuidado [...] (P2)

Porque às vezes a gente vê que o acompanhante, a mãe, por exemplo, está ali [...] está a falar: “Olha, não é fácil”. Então, eu acho que é uma atividade que nós podemos aplicar bastante aquele saber ouvir, porque às vezes não é para as crianças que estão ali e vão brincar, mas às vezes é para os pais. Eles precisam conversar, falar como que eles estão se sentindo ali. Às vezes, durante as brincadeiras das crianças, os pais conversam com a gente, daí eles falam: “Nossa, que legal, porque estava assim e agora está acontecendo isso, a gente estava na UTI e veio para cá”. Então, a gente aprende muito saber ouvir e considerar o acompanhante também. (P3)

Eu via como as mães interagiam e tudo parecia melhorar, o clima dava uma aliviada. (P7)

Passei a pensar diferente a família da criança, a pessoa que está com ela, pois o contar da história também permitia ao acompanhante falar um pouco de si. Ele ia mostrando lados que eu não conhecia, via. (P8)

O tema “Formação profissional na perspectiva de um atendimento integral” traduz as contribuições da atividade para um olhar e fazer alinhados à integralidade. Identificou-se que a busca por conhecimento é um desdobramento de avanços nas competências relacionais, com modificação de comportamentos junto às crianças e aos acompanhantes. Alguns estudantes se perceberam mais sensíveis às necessidades singulares e com esforços para acolhê-las e promover conforto. Além disso, um aspecto relevante na prática da atividade extensionista destacado foi a oportunidade de perceber o outro, suas concepções e perspectivas, sendo um desafio para os futuros profissionais da área da saúde a capacidade de identificar e delimitar as reais necessidades de saúde e cuidado.

Eu acho que a gente amplia o nosso olhar. A gente passa a ver muito mais coisas do que a gente veria se não tivesse essa oportunidade, essa experiência. [...] eu acho que o Estoriando me trouxe essa visão de “Será que é só a técnica?” Não é. Vai muito além. Acho que isso foi e é muito importante para formação, e o Estoriando que me abriu os olhos para isso. (P2)

Desde quando entrei na faculdade, ouço sobre a integralidade do cuidado, de cuidar do todo da pessoa. O Estoriando é uma das atividades que veio para ampliar minha visão quanto a isso [...] eu não estou lá para aplicar injeções ou medicações, eu não estou lá para isso. [...] nós cuidamos deles (crianças e acompanhantes), de outras formas, mas nós cuidamos é uma coisa que eu quero levar para vida, para minha profissão, quando eu for enfermeira. De fato, eu quero fazer toda a parte técnica, nós precisamos fazer, né? É necessária. Mas eu também quero envolver essa parte integral [...] e o Estoriando me ajudou muito a ver e ilustrar mais sobre isso. (P3)

Tem um contato real com as crianças e as mães, e isso ajuda a ter mais jeito para conversar, de poder ajudar, ter outra conduta, [...] pois não é apenas a conduta biológica, tem a forma de conversar, interagir e criar vínculo. É algo que a gente exercita no projeto. (P5)

Integralidade, tanto ouvi e aqui vivi. Este posicionamento que consegue alcançar a pessoa, um pouco da sua história, da sua vida, pois a interação na contação e brincadeira faz isto: nos coloca em relação com eles, com coisas que são só deles (criança e acompanhante). (P9)

Na medida em que modificaram o olhar para as crianças e os acompanhantes, movidos pelo testemunho dos efeitos no bem-estar, alguns participantes assinalaram identificar avanços em suas habilidades relacionais com a criança e o acompanhante.

Eu destacaria o contato que a gente tem com as crianças e os acompanhantes lá dentro. (P4)

A atividade ajuda muito na questão do desenvolver um relacionamento com as crianças, com os familiares. (P1)

O brincar é uma forma de você dialogar com aquela criança, de você conversar. (P2)

Ademais, a maioria dos entrevistados significou que a qualificação da relação deles com a criança e o acompanhante retroalimenta positivamente sua consideração e seu olhar direcionado. Referiram avanços na empatia e transformações em seu atitudinal, assim como passaram a dar mais valor à criação de vínculo. Desse modo, concluem que é necessário mostrar disponibilidade para interagir.

A gente escutou muitos relatos assim, muito tocantes dos familiares, que falaram que estavam se sentindo presas lá. Há dias que eles não viam a luz do sol nem nada. Que agradeciam poder estar conversando e brincando. [...] se eu não tivesse participado do Estoriando, eu não teria desenvolvido tanto essa habilidade de olhar para a criança integralmente, de olhar para os acompanhantes e poder perceber e sentir eles. (P1)

Nessa última vez que eu fui, teve uma mãe que ficou muito agradecida. Ela falava: “Obrigada por participarem, de vir aqui com a gente para conversar, brincar”. A gente fica tipo “Ah, que gostoso de ouvir”. De alguma forma, a gente leva conforto para as mães e crianças. Hoje, valorizo isto, me esforço para prestar atenção nas necessidades e acolher. Isto só ocorre pela forma aberta que a gente está lá. (P4)

O Estoriando me ajudou a pensar que eu posso ajudar as crianças e acompanhantes naquele contexto, no sentido “O que eu posso fazer por eles?”, e assim “O que eu posso fazer por você hoje que venha a te ajudar? Como que eu posso fazer você sorrir mais hoje? Como eu posso melhorar o seu dia?”. Eu aprendi a estar ali pensando sobre isto. Isso tem ajudado muito a desenvolver a conversa, a fala, a troca de olhares. Como você compreende o paciente não só com o que ele fala, mas com a forma como ele se manifesta também, com os gestos, que são as linguagens corporais. (P3)

Ainda, alguns estudantes assinalaram que começaram a fazer uso deliberado de estratégias lúdicas, da história e do brincar na abordagem de crianças hospitalizadas, aspecto que, para aqueles que havia tido disciplinas sobre criança, vinculado à cursos da saúde, permaneceu em um âmbito mais teórico.

Com certeza, a minha formação não seria a mesma se eu não tivesse entrado no Estoriando. A disciplina de saúde da criança e do adolescente, ela vem com essa questão muito forte do teórico. Essa questão do lúdico, do brincar, foi trabalhada, por exemplo, em uma aula só, teórica, e aí a prática mesmo foram poucos dias que a gente ficou, acho que foi três dias. [...] depois que eu entrei no Estoriando, eu comecei a usar muito mais o lúdico, até para fazer procedimentos nas crianças, para mostrar para elas como que é, para depois fazer nelas, e isso acabou mudando o meu jeito de cuidar e de olhar para aquelas crianças. (P1)

Eu uso e abuso do brincar, de um jeito divertido de falar com a criança. Faz muita diferença, é uma linguagem que a acessa, que chega nela, e foi no Estoriando que eu fui sendo martelada com esta ideia, com esta percepção. (P9)

Devido ao fato de a atividade estruturar-se na interação entre pessoas (contadores de história, crianças, famílias), os estudantes simbolizaram mudanças em suas habilidades relacionais.

Pelo menos, eu, assim, sou muito tímida para chegar nas pessoas. E aí, eu acho que o Estoriando me ajudou muito para chegar, assim, para [...] não sei como fala, mas para saber interagir e também para se expressar, sabe? Com as crianças, com os pais, para não chegar, assim, sabe? (P4)

Antes, eu estava muito perdida, por onde começar. Mas só de estar no projeto Estoriando, eu fui caminhando para dentro do hospital, tendo contato com as famílias, saber me portar mais. Antes, eu não tinha muita noção. Isso melhorou até para os estágios. Depois desse contato com a atividade, comecei a conversar mais com os pacientes. (P7)

O tema “Valorização da incorporação do lúdico como recurso terapêutico” revelou que a execução da atividade extensionista reforçou para os integrantes o significado e, consequentemente, o valor do lúdico. Contudo, perceberam que a mesma ideia não ocorre com a mesma proporção junto a outros profissionais que atuam na unidade pediátrica. Portanto, afirmam, na intersecção da “Incipiência de valorização” e da “Motivação para incorporação e uso”, que ocorre um desafio para valorização do lúdico e adoção prática deste recurso.

O subtema “Incipiência de valorização” retrata o diagnóstico contextual realizado, no qual percebeu-se que os profissionais do serviço não reconhecem a importância da atividade, do brincar e do lúdico enquanto recursos terapêuticos. A impressão que tiveram foi de existir um significado de mais valia para procedimentos técnicos e práticos, como se o lúdico, o brincar e a contação de histórias não fossem tecnologias relevantes e integrantes do cuidado no contexto da hospitalização infantil. Dessa forma, não testemunham os profissionais interessados ou executando ações estruturadas nesses eixos na sua atividade diária.

Eu sinto que os profissionais, eles não estão muito abertos para receber a gente. Eles raramente passam lá e dão uma olhada, vê o que está acontecendo. Eles não se interessam muito em participar junto com a gente, acho que não valorizam o recurso como algo que o profissional deve fazer. (P2)

Os profissionais se aproximam muito pouco, não sinto que eles valorizem o brincar, a contação de histórias como tecnologia, sabe? (P8)

Por outro lado, alguns dos integrantes da atividade sentem grande “Motivação para incorporação e uso”, subtema desenvolvido. Isso se deve aos desfechos testemunhados e ao prazer que sentem ao desenvolver a atividade. Tal fato os motiva à ampla incorporação desses elementos no seu atitudinal junto às crianças. A satisfação sentida com a interação e o conforto provido repercutiu na valorização do brincar, da história e do lúdico na relação com a criança, compreendendo que pode também ter desdobramentos ao acompanhante.

““Olha, eu nunca vou esquecer o que vocês fizeram aqui, e eu não vou deixar que a minha filha esqueça, porque, nos momentos mais tristes que eu estive no hospital, vocês vieram e trouxeram alegria para a gente”. Então, essa foi a última frase. [...] então, para cada dia que eu vou, mesmo que ninguém me fala nada, só o fato dela rir, dela contar algo rindo, ela brincar ali, por exemplo, num momento e rir com a gente, aquilo para mim já é muita coisa. E agora eu busco este jeito lúdico sempre que estou com as crianças, sobretudo lá no hospital. (P3)

E quantos relatos que a gente não ouviu da mãe falando assim: “Nossa, depois que vocês saíram daqui, a criança até melhorou, os sinais vitais melhoraram”. Então, assim, eu não consigo não fazer sem o lúdico [...] e então, para cada dia do Estoriando que eu vou, eu falo: “Cara, eu não posso parar, o projeto não pode parar”. E isso não pode parar porque as pessoas esperam. Eu descobri que elas esperam. Elas falam: “Aí a gente espera toda quarta que vocês vêm”. Outras pessoas falam: “E amanhã, vocês vêm?”. A gente fala: “Não, amanhã não. É só de quarta”. (P9)

Salienta-se, portanto, que o desenvolvimento da atividade de extensão avança o desenvolvimento de conhecimentos, significados e habilidades relativos ao contexto do cuidado na hospitalização infantil, com contribuição à formação profissional.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo reforçam a relevância das atividades extensionistas para ressignificar a formação e, consequentemente, levar à adoção de um novo comportamento2121 Charon JM. Symbolic Interactionism: an introduction, an interpretation, an integration. 10º ed. Boston: Prentice Hall; 2010. diante de uma realidade envolvida com a prática profissional. Isso se deve pela proximidade e crítica que elas favorecem, uma vez que elas provocam um diálogo entre o “dito” e o “vivido” ao longo do desenvolvimento da atividade de extensão. Assim, é recurso formativo para resistir e avançar nos conhecimentos, valores e condutas de cada profissão, ampliando a concepção do escopo profissional daqueles que dela participam,2323 Pinheiro JV, Narciso CS. The importance of inserting university extension activities for professional development. Rev ES. 2022;14(2):56-68. como assinalado pelos graduandos integrantes da atividade de extensão relacionada nesta pesquisa.

De acordo com a literatura, as atividades de extensão estimulam a percepção e o reconhecimento das diferenças entre teoria e prática, aprimorando a formação dos estudantes e garantindo que seja colocado em prática aquilo que foi visto em sala de aula.2323 Pinheiro JV, Narciso CS. The importance of inserting university extension activities for professional development. Rev ES. 2022;14(2):56-68. Ainda, proporcionam a aproximação entre universidade-comunidade, a partir da interlocução de saberes, com indivíduos se comunicando por meio de símbolos, de forma dinâmica, e compartilhando uma perspectiva de interação, oportunizando novos significados, comportamentos2121 Charon JM. Symbolic Interactionism: an introduction, an interpretation, an integration. 10º ed. Boston: Prentice Hall; 2010. e estabelecendo contribuições para o aprofundamento da cidadania, fortalecimento da autonomia e, consequentemente, transformação da sociedade.2424 Sampaio JF, Bittencourt CCBL, Porto VFA, Cavalcante JC, Medeiros ML. The universiy extension and the health promotion in brazil: systematic review. Rev Portal Saude Soc. 2019;3(3):921-30. Em suma, a ação da extensão universitária com inserção prática no contexto social coloca em relação a teoria e a realidade, favorecendo apropriação dos determinantes que promovem ou obstaculizam a viabilidade e efetiva incorporação de evidências científicas.

Neste estudo, os participantes apontaram indícios de uma valorização insuficiente das tecnologias “contação de histórias” e “lúdico” no cuidado da criança hospitalizada. Contudo, enfatizaram que eles, ao abrirem-se para a experiência de colocar as tecnologias em prática, testemunharam o seu alcance, com valorização e incorporação ao seu modo de ser e estar junto de crianças no hospital e fora dele. Sendo assim, a interação entre os estudantes e as crianças fez com que esses compartilhassem uma visão diferente da anterior, desenvolvendo, consequentemente, uma nova perspectiva sobre como deveriam agir em relação a essa realidade e alterando a direção dos atos uns dos outros.2121 Charon JM. Symbolic Interactionism: an introduction, an interpretation, an integration. 10º ed. Boston: Prentice Hall; 2010.

Torna-se importante destacar que a vivência da extensão universitária oportuniza experiências aos estudantes que os direcionam a atitudes responsáveis e seguras, e contribuem de forma ativa para a promoção da comunicação entre a universidade e a sociedade, interligando a educação continuada, ensino, pesquisa e extensão. Estudos demonstram que a participação em atividades de extensão exerce potencial de crescimento pessoal e profissional no estudante de graduação, garantindo melhor desenvolvimento em trabalhos em equipe, práticas e saberes, aperfeiçoados a partir de conhecimento adquirido fora dos modelos tradicionais, além de proporcionar a ele a habilidade de assumir o papel do outro2121 Charon JM. Symbolic Interactionism: an introduction, an interpretation, an integration. 10º ed. Boston: Prentice Hall; 2010. e ter maior desenvoltura ao se expressar.2525 Nunes SF, Melo LU, Xavier SPL. Competências para promoção da saúde na formação em enfermagem: contribuições da extensão universitária. Rev. Enferm. Atual In Derme. 2022;96(37):e-021189. http://doi.org/10.31011/reaid-2022-v.96-n.37-art.1216.
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,2626 Santana RR, Santana CCAP, Costa No SB, Oliveira ÊC. Extensão university extension program as an educational practice for health promotion. Educ Real. 2021;46(2):e98702. http://doi.org/10.1590/2175-623698702.
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Esses achados científicos são compatíveis com as falas e vivências experienciadas pelos estudantes desta pesquisa.

Sabe-se que, no cenário de hospitalização da criança, há necessidade de readaptação ao novo ambiente, tanto pela criança quanto pelo acompanhante. Tendo isso em vista, a utilização do lúdico, do brincar e do brinquedo é comprovadamente um potencializador do processo de adaptação desses a essa nova realidade, ajudando a tirar o foco a internação, na recuperação e no processo de tratamento,66 Silva C, Schmidt FM, Grigol AM, Schultz LF. The nurse and the child: therapeutic toy and the practice of playing during hospitalization. Semin Cienc Biol Saude. 2020;41(1):95-106.,2727 Fernandes MNF, Chaves FL, Nunes JT. Nurses’ perception regarding the playing in a Pediatric Hospital in Maranhão State. J Health Sci. 2017;19(2):120-5. http://doi.org/10.17921/2447-8938.2017v19n2p120-125.
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,2828 Yogman M, Garner A, Hutchinson J, Hirsh-Pasek K, Golinkoff RM, Baum R et al. The power of play: a pediatric role in enhancing development in young children. Pediatrics. 2018;142(3):e020182058. http://doi.org/10.1542/peds.2018-2058. PMid:30126932.
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estratégia que é ofertada pela atividade de extensão como sendo uma importante ferramenta de cuidado. A sua utilização proporciona um ambiente agradável, e, mesmo que momentaneamente, tira o foco da doença, trazendo para o hospital alegria e descontração.

Estudo realizado recentemente mostrou que a utilização do brincar por profissionais de enfermagem tem o impacto de transformar o ambiente hospitalar em algo mais familiar à criança, ofertando um sentido de normalidade e continuidade de sua vida, mesmo durante a estadia na unidade de internação pediátrica.1515 Maia EBS, Banca ROL, Rodrigues S, Pontes ECD, Sulino MC, de Lima RAG. The power of play in pediatric nursing: the perspectives of nurses participating in focal groups. Texto Contexto Enferm. 2022;31:e20210170. http://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2021-0170.
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Sendo assim, a promoção do cuidar que valorize o lúdico, associado com o brincar, oportuniza a ela a alegria de “ser criança”, ainda mais em períodos estressantes. O presente estudo traz, pela percepção dos estudantes da graduação, a importância de se adotar o lúdico em sua prática profissional, simbolizado como uma ação de cuidar e um aspecto indispensável da criança que deve ser preservado, mesmo no contexto de doença e hospitalização.

Por outro lado, o uso dessas tecnologias não foi estimulado pelos profissionais que atuam na unidade pediátrica na qual a atividade era exercida, indo ao contrário da opinião dos estudantes. Nesse sentido, percebe-se a falta de artigos na literatura que explorem o simbolismo entre o conhecimento da importância do brincar e a implementação da sua prática no contexto da pediatria hospitalar, uma vez que é fator preditor para determinar comportamentos2121 Charon JM. Symbolic Interactionism: an introduction, an interpretation, an integration. 10º ed. Boston: Prentice Hall; 2010. nas práticas de cuidado, podendo estar relacionado à falta de capacitação ou especialização em pediatria. Ainda, as dificuldades podem ser derivadas da falta de tempo, preocupação com outras atividades a serem executadas, turno de trabalho, excesso de trabalho administrativo e número insuficiente de funcionários.2727 Fernandes MNF, Chaves FL, Nunes JT. Nurses’ perception regarding the playing in a Pediatric Hospital in Maranhão State. J Health Sci. 2017;19(2):120-5. http://doi.org/10.17921/2447-8938.2017v19n2p120-125.
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Sendo assim, pode-se perceber que a atividade extensionista promoveu o olhar para o acompanhante da criança hospitalizada, além de edificar o significado de ser a contação de histórias e o lúdico promotores de um contexto relacional estreito propício a uma comunicação aberta, reveladora da singularidade e acolhedora, com contribuições à qualidade da assistência.2929 Ferreira LB, Oliveira JSA, Gonçalves RG, Elias TMN, Medeiros SM, Mororó DDS. Nursing care for the families of hospitalized children and adolescents. Rev. Enferm. UFPE On Line. 2019;13(1):23-31. Ainda, alinha-se ao princípio do IS de que os significados estão em aberto e em transformação, dependendo daquilo que for vivenciado nas interações sociais.2121 Charon JM. Symbolic Interactionism: an introduction, an interpretation, an integration. 10º ed. Boston: Prentice Hall; 2010.

Pesquisa realizada com o objetivo de relatar a percepção familiar e/ou do acompanhante em relação à importância da utilização do brincar como recurso no tratamento fisioterapêutico de crianças hospitalizadas reafirmou a aprovação do acompanhante pelo uso de recursos lúdicos e seu alcance na direção da integralidade.3030 Santos SBB, Andrade MCB. Playing as a strategy in physiotherapy care of hospitalized children under the perception of the companion: a descriptive cross-cross study. Rev. Pesqui. Fisioter. 2023;13:e5127. http://doi.org/10.17267/2238-2704rpf.2023.e5127.
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Provocou ainda a reflexão acerca da premência de todos os profissionais presentes na cena da internação infantil incorporarem tecnologia mediada pelo brincar e lúdico na interação com a criança, com desdobramentos na relação junto ao acompanhante.

Por fim, exalta-se o fato de que a inserção em atividade prática, como as desenvolvidas em projetos de extensão, traz ressignificados e oportuniza aos estudantes da graduação e futuros profissionais das áreas da saúde e da educação uma reflexão sobre sua profissão e sobre a importância da utilização do lúdico, do brincar e do brinquedo na hospitalização infantil, estimulando a adoção de novos comportamentos.2121 Charon JM. Symbolic Interactionism: an introduction, an interpretation, an integration. 10º ed. Boston: Prentice Hall; 2010. Cabe, portanto, às instituições de ensino dar o devido suporte e oportunizar tais experiências aos estudantes da graduação, com apostas em atividades extensionistas ancoradas no exercício de práticas profissionais.

Conclusões e implicações para a prática

Este estudo permitiu reconhecer a força das atividades de extensão universitária com inserção prática no contexto de atuação profissional para a formação do estudante, inclusive em termos de valores pessoais.

Vivenciar a utilização da contação de histórias e do lúdico em um ambiente de internação pediátrica provocou reconhecimento e motivação para a adoção de tais recursos na interação com a criança hospitalizada, deslocando concepções acerca do cuidar na direção de uma assistência humana e integral, inclusive no que tange à consideração ao acompanhante da criança.

Torna-se fundamental oportunizar, na formação profissional, a vivência prática de atividades extensionistas, com o intuito de ampliar um cuidado humano e promotor de conforto no âmbito da hospitalização infantil.

Por fim, o presente estudo teve como limitação a entrevista em maior número de graduandos de enfermagem, o que não possibilitou confrontar, de forma aprofundada, saberes adquiridos de outras áreas de estudo.

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Editado por

EDITOR ASSOCIADO

EDITOR CIENTÍFICO

Ivone Evangelista Cabral https://orcid.org/0000-0002-1522-9516

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    19 Fev 2024
  • Aceito
    05 Ago 2024
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