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O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO EM PUBLICAÇÕES ACADÊMICAS NO BRASIL: ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA

The Discourse of the Collective Subject in academic publications in Brazil: bibliometric analysis

RESUMO

Objetivo:

Levantar as dissertações e teses na área da Ciência da Informação (CI) que fizeram uso do método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) a fim de expressar as opiniões de um determinado grupo de sujeitos, explorando a realidade social dos investigados. O Discurso do Sujeito Coletivo associado à Teoria das Representações Sociais (TRS) tem demonstrado contribuição em pesquisas descritivas de caráter social a fim de aproximar-se de uma realidade vivida pelos indivíduos, articulando representações sócio-históricas-coletivas e preocupando-se em auxiliar no processo informacional do coletivo.

Método:

Utiliza o método de pesquisa bibliométrico, com abordagem quantitativa e, objetivos descritivos e exploratórios, em que se analisou os dados de 50 pesquisas, entre 36 dissertações e 14 teses, coletadas na base da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD).

Resultados:

A primeira dissertação que fez uso do DSC na área da CI foi no ano de 2005, quatro pesquisadoras utilizaram o método tanto na elaboração da dissertação como na tese, sendo o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina com o número mais expressivo de 20 estudos, 15 deles orientados por Souza, F. das C. de. As comunidades mais investigadas foram os bibliotecários atuantes em bibliotecas universitárias, escolares e comunitárias.

Conclusões:

O uso do método do DSC na CI tem avançado lentamente, demonstrando pouca aderência na área e uma lacuna no que diz respeito as publicações que envolvem esse domínio, apesar de constatada certa regularidade de pesquisas. A variedade de sujeitos identificados nas análises demonstrou as múltiplas possibilidades da utilização do DSC em estudos que busquem resgatar as representações sociais, envolvendo o escopo da CI.

PALAVRAS-CHAVE:
Discurso do Sujeito Coletivo; Teoria das Representações Sociais; Análise Bibliométrica; Ciência da Informação; Atores sociais

ABSTRACT

Objective:

A survey of dissertations and theses in the field of Information Science that have used the method of Collective Subject Discourse to express the opinions of a given group of subjects, exploring the social reality of those studied. The Collective Subject Discourse, associated with the Theory of Social Representations, has contributed to descriptive social research to get closer to the reality experienced by individuals, articulating socio-historical-collective representations and supporting the collective information process.

Methods:

It uses the bibliometric research method, with a quantitative approach and descriptive and exploratory objectives, analyzing data from 50 studies, including 36 dissertations and 14 theses, collected from the Brazilian Digital Library of Theses and Dissertations.

Results:

The first dissertation to use the Discourse of the Collective Subject in the field of Information Science was in 2005. Four researchers used the method in both their theses and dissertations, with the Postgraduate Program in Information Science at the Federal University of Santa Catarina having the most significant number of studies with 20, 15 of which were supervised by Souza, F. das C. de. The most studied communities were librarians working in university, school and community libraries.

Conclusions:

The use of DSC method in CI has been advancing slowly, showing little adherence in the field and a gap regarding publications involving this domain, despite a certain regularity of research. The variety of subjects identified in the analyses demonstrated the multiple possibilities of using DSC in studies seeking to retrieve social representations, involving the scope of CI.

KEYWORDS:
Discourse of the Collective Subject; Theory of Social Representations; Bibliometric analysis; Information Science; Social actors

1 INTRODUÇÃO

Ao se propor desenvolver uma pesquisa, uma das tomadas de decisões dos estudiosos diz respeito à definição de qual metodologia utilizar para alcançar os objetivos do trabalho. Dentre os diferentes métodos, quando o intuito é identificar os argumentos e opiniões de um grupo, compreendendo a interação dos sujeitos escolhidos com o meio em que vivem, o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) aliado à Teoria das Representações Sociais (TRS) têm garantido evocar a verbalização de pensamentos e maneiras de agir, permitindo identificar as representações sociais que cercam determinada comunidade.

O DSC é visto como um método que permite explorar experiências de vida a partir da narrativa, em que as pessoas expressam efetivamente o que pensam, não ficando presas a alternativas prévias (por exemplo: concordo, concordo em partes, discordo), com questões fechadas que excluem argumentos (Lefrève, 2021, 2017). Lefrève (2017) enfatiza que os indivíduos, em sua rotina, não raciocinam por meio de afirmações simples, mas dialogam e emitem pareceres sobre diversificados temas.

No campo das Ciências Sociais, o DSC é largamente utilizado em pesquisas descritivas, que intuem identificar e descrever pontos de vista e representações sociais (Marinho, 2015MARINHO, M. L. C. O discurso do sujeito coletivo: uma abordagem qualiquantitativa para a pesquisa social. Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervención social, Granada, v. 5, n. 8, p. 90-115, 2015. Disponível em: https://revistaseug.ugr.es/index.php/tsg/article/view/3093/pdf. Acesso em: 15 jul. 2023.
https://revistaseug.ugr.es/index.php/tsg...
). Na Ciência da Informação (CI), o método vem sendo adotado em estudos que enfatizam o cunho social, aproximando-se da realidade que é construída, representada e comunicada socialmente, predominante em pesquisas qualitativas, de nível descritivo, seu diferencial está em estimular falas espontâneas, identificando visões de mundo (Almeida, 2005ALMEIDA, C. C. de. Discurso do Sujeito Coletivo: reconstruindo a fala do "social". In: VALENTIM, M. L. P. (org.) Métodos qualitativos de pesquisa em Ciência da Informação. São Paulo: Polis, 2005. p. 59-80.; Mendonça, 2007MENDONÇA, A. V. M. O uso da análise do discurso do sujeito coletivo em Ciência da Informação. In: MUELLER, S. P. M. (org.) Métodos para pesquisa em Ciência da Informação. Brasília: Thesaurus, 2007, p. 149-170. (Série Ciência da Informação e da Comunicação).).

Sendo assim, este artigo objetiva levantar as dissertações e teses na área da CI que fizeram uso do método do DSC a fim de expressar as opiniões de um determinado grupo de sujeitos, explorando a realidade social dos investigados. Somado a este fator e identificado o capítulo “O uso da análise do Discurso do Sujeito Coletivo em Ciência da Informação” elaborado por Mendonça (2007MENDONÇA, A. V. M. O uso da análise do discurso do sujeito coletivo em Ciência da Informação. In: MUELLER, S. P. M. (org.) Métodos para pesquisa em Ciência da Informação. Brasília: Thesaurus, 2007, p. 149-170. (Série Ciência da Informação e da Comunicação).), quando foram identificadas cinco pesquisas com uso do DSC, foi instigado o levantamento a respeito da aderência e tendência em avançar com o repertório teórico-metodológico que envolve a TRS mais o DSC na CI. Para isto, este trabalho de abordagem quantitativa, faz uso da análise bibliométrica buscando quantificar, identificar e relacionar em quais programas de pós-graduação em CI o uso do DSC é mais expressivo? Quais autores e orientadores mais fizeram uso do método? Qual a produção anual? Para quais comunidades estes estudos estão mais voltados?

A relevância e justificativa deste artigo se faz por se tratar de parte de estudo de doutoramento, que foca em estudos teóricos-metodológicos, prezando pelo ineditismo da pesquisa, em que é sabido a necessidade de realizar levantamentos que indiquem os materiais já publicados a respeito do tema em questão, ou que façam o uso do DSC como aporte metodológico, entendendo o estudo bibliométrico adequado à finalidade de identificar e compreender aspectos da produção científica da CI abordando o DSC, em âmbito dos programas de pós-graduação.

2 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO

Os professores Fernando Lefèvre e Ana Maria Cavalcanti Lefèvre pertencentes à área da saúde da Universidade de São Paulo (USP), no final dos anos de 1990 desenvolveram uma pesquisa que objetivava conhecer a opinião dos servidores públicos da cidade de São Paulo a respeito do Programa de Gerenciamento Integrado da Secretaria de Saúde de São Paulo. Com as respostas coletadas, percebeu-se semelhança nos discursos, que divergiam em alguns critérios, no entanto, não alteravam o resultado. Ao realizar a síntese dos depoimentos, identificando as representações sociais, segundo um viés interpretativista e incluindo figuras metodológicas deu-se origem ao DSC (Duarte; Mamede; Andrade, 2009DUARTE, S. J. H.; MAMEDE, M. V.; ANDRADE, S. M. O. de. Opções teórico- metodológicas em pesquisas qualitativas: representações sociais e discurso do sujeito coletivo. Saúde e sociedade, São Paulo, v. 18, n. 4, p. 620-626, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/JNbhZ3dKdrKGdYXJrr6m7ft/. Acesso em: 17 jul. 2023.
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).

A articulação teórico-metodológica consiste em transformar discursos brutos em depoimentos únicos, categorizados conforme as semelhanças identificadas. Assim, são demonstrados os contextos do pensamento do entrevistado, resgatados a partir de matrizes discursivas que refletem a empiria da pesquisa social (Lefèvre; Lefèvre; Marques, 2009LEFÈVRE, F; LEFÈVRE, A. M. C.; MARQUES M. C. C. Discurso do sujeito coletivo, complexidade e auto-organização. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, p. 1193-1204, ago./ 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/bLYcq4qWYBJnrfZzbVrZmJh/#. Acesso em: 17 jul. 2023.
https://www.scielo.br/j/csc/a/bLYcq4qWYB...
).

Trabalhar com a metodologia do DSC não se reduz a empirias, mas em abstrair analiticamente a essência dos argumentos individuais dos sujeitos, transformá-los em produtos científicos que resultará num constructo de depoimentos coletivos que descreve de maneira sistemática a realidade. O indivíduo e/ou o coletivo que discorre sobre os temas estimulados na pesquisa, traz identificação por parte de outras pessoas que se sentem representadas pelo falado que é expresso na forma do DSC, estruturando representações sociais que se aproximam daquelas praticadas pelos atores sociais de maneira geral (Lefèvre; Lefèvre, 2014LEFÈVRE, F; LEFÈVRE, A. M. C. Discurso do sujeito coletivo: representações sociais e intervenções comunicativas. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 23, n. 2, p. 502- 507, abr./ jun. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tce/a/wMKm98rhDgn7zsfvxnCqRvF/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 20 jul. 2023.
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).

Os DSCs são elaborados com trechos selecionados literalmente dos depoimentos individuais. O conteúdo de um DSC é composto por aquilo que um dado sujeito individual falou e também por aquilo que poderia ter falado e que seu companheiro de coletividade atualizou por ele, já que o pressuposto sociológico de base é que o DSC é a expressão simbólica do campo social a que ambos pertencem, e da posição que ocupam nesse campo, ou nessa cultura organizacional. Nestes termos o DSC é uma coletividade discursivada - os indivíduos pertencentes à coletividade geradora da representação social se incorporam em um dos vários pedaços que compõem o discurso do sujeito coletivo (Martins; Theóphilo, 2016MARTINS, G. A.; THEÓPHILO, C. R. Metodologia da Investigação Científica para Ciências Sociais Aplicadas. São Paulo: Editora Atlas, 3. ed., 2016., p. 77).

Conforme apontado por Figueiredo; Chiari e Goulart (2013FIGUEIREDO, M. Z.; CHIARI, B. M.; GOULART, B. N. de. Discurso do sujeito coletivo: uma breve introdução à ferramenta de pesquisa qualiquantitativa. Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v. 25, n. 1, p. 129-136, 2013. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/article/view/14931/11139. Acesso em: 20 jul. 2023.
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), o DSC trouxe uma transformação às pesquisas qualitativas, pois possibilitou explorar pensamentos, crenças e valores de grupos sociais fazendo uso de metodologia científica. Fundamentado na TRS, a partir dos depoimentos, os esquemas sociocognitivos tornam-se acessíveis, possibilitando compreender percepções e ideologias sociais, demonstrando que a voz coletiva tem força e legitimidade.

A TRS, elaborada por Moscovici (2009MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. 6. ed. Tradução de Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Vozes, 2009.) atenta-se em compreender as relações do sujeito e objeto, interpretando suas características e modos de compartilhamento do conhecimento, o que acarreta atentar-se em como as ideias são postas em práticas, em como e por que dada informação é propagada, de maneira a transformar a sociedade.

As opiniões coletivas podem ser entendidas como somas de experiência de vida comuns que compõem um depoimento síntese a partir de questões abertas. São várias pessoas falando ao mesmo tempo em um discurso redigido em primeira pessoa do singular, pois busca-se a expressão direta do pensamento coletivo, não o que uma terceira pessoa pensa (Lefèvre, 2021LEFÈVRE, F. Análise do Discurso do Sujeito Coletivo: limites e possibilidades. Youtube: Enfermagem UFBA, 01 out. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4KB_j5R7WaY. Acesso em: 07 maio 2023.
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, 2017).

O DSC é um método descritivo que produz dados/ discursos, os quais precisam ser analisados e interpretados conforme a TRS, levando em consideração que é uma teoria sobre o pensar humano. Pontuando que: “pensar é um ato sociocognitivo”, é indispensável que a pessoa tenha liberdade e autonomia para discorrer sobre o modo que pensa, “discorrer é contar uma história com conteúdo vivido e argumentos que a sustentam” (Lefèvre, 2017LEFÈVRE, F. Discurso do sujeito coletivo: nossos modos de pensar, nosso eu coletivo. São Paulo: Andreoli, 2017., p. 10).

Explorar o que os sujeitos pensam é estar ciente de que eles são responsáveis por construir uma realidade, a qual é influenciada por tradições e convenções devido aos ambientes e grupos aos quais fazem parte. Nesse sentido, estudar o discurso das pessoas é procurar por suas representações, que ocorrem por meio da interação humana entendendo que indivíduo e meio social possuem interdependência e sofrem transformações contínuas, o que torna motivador buscar entender o que depoimentos podem revelar sobre práticas e vivências dos grupos investigados (Freitas, 2010FREITAS, R. P. Competência informacional e recursos informacionais na prática docente: discurso de professores da educação básica municipal à luz da Ciência da Informação. 2010. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Centro de Ciências da Educação, Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, Florianópolis, 2010. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/94515/287953.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 20 jul. 2023.
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).

Conforme exposto por Berger e Luckmann (2014BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. 36. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.), o homem é um ser social, que não se desenvolve isolado, para viver no mundo é necessário interagir e se comunicar com o outro e o veículo facilitador para isso é a conversa. Posto isto, a língua é destacada como forma de expressão que possibilita compreender a natureza humana e distinguir os seres humanos dos animais (Farr, 1999FARR, R. M. Representações sociais: a teoria e sua história. In: GUARESCHI, P. A.; JOVCHELOVITCH, S. (orgs.). Textos em representações sociais. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 31 - 59.).

O que é enfatizado por Lefèvre e Lefèvre (2014LEFÈVRE, F; LEFÈVRE, A. M. C. Discurso do sujeito coletivo: representações sociais e intervenções comunicativas. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 23, n. 2, p. 502- 507, abr./ jun. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tce/a/wMKm98rhDgn7zsfvxnCqRvF/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 20 jul. 2023.
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) diante da elaboração do DSC, é que não basta constatar a presença das representações sociais, mas para conhecê-las e reconstitui-las é preciso realizar um recorte adequado do tema a ser pesquisado, se preocupar com as perguntas que induzam os sujeitos a falarem, seguindo as figuras metodológicas que o método exige, ou seja, a identificação de expressões-chave, das ideias centrais e ancoragens que resultarão no DSC final.

As expressões-chave consistem em trechos dos depoimentos em que são ressaltados os pedaços essenciais dos discursos. Já as ideias centrais são expressões linguísticas que demonstram de forma objetiva o sentido das expressões-chave. E as ancoragens expressam crenças e ideologias que ficam implícitas no discurso, dando sustentação ao mesmo. Por fim, o DSC final se apresenta como a soma das expressões-chaves que possuem as ideias centrais e ancoragens semelhantes, mantendo as frases originais dos entrevistados unidas por conectivos, garantindo a coesão da fala (Figueiredo; Chiari; Goulart, 2013FIGUEIREDO, M. Z.; CHIARI, B. M.; GOULART, B. N. de. Discurso do sujeito coletivo: uma breve introdução à ferramenta de pesquisa qualiquantitativa. Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v. 25, n. 1, p. 129-136, 2013. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/article/view/14931/11139. Acesso em: 20 jul. 2023.
https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/...
).

Por conseguinte, percebe-se o vínculo do DSC com a TRS, adicionando a linguagem, à qual é elemento de estudos da CI. Por meio da fala, das conversas, do texto escrito e falado as pessoas vão se aproximando, interagindo, demonstrando suas posturas, seus modos de pensar e agir. Sendo assim, pautado pela base teórico-metodológica aqui apresentada constata-se que pesquisas com este viés buscam compreender o conhecimento construído e compartilhado pelos sujeitos, o qual constitui a realidade.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este estudo caracteriza-se como pesquisa quantitativa, tendo em vista que consiste numa análise bibliométrica direcionada a mapear as dissertações e teses realizadas em programas da CI, em que se fez o uso da metodologia do DSC. De natureza básica, inclui levantamento bibliográfico, para ampliar as informações e conhecimentos a respeito da temática teórica-metodológica. Seus objetivos são descritivos e exploratórios, tendo em vista que se destina a um levantamento ainda não realizado em pesquisas científicas, trazendo maior familiaridade com o tema e descrevendo os dados encontrados, fazendo relações entre eles.

Segundo Urbizagastegui (2016URBIZAGASTEGUI, R. La Bibliometría, Informetría, Cienciometría y otras “Metrías” en el Brasil. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianópolis, v. 21, n. 47, p. 51-66, 2016. DOI: 10.5007/1518-2924.2016v21n47p51. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2016v21n47p51. Acesso em: 21 jul. 2023.
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), a divulgação de estudos com o uso do método bibliométrico no Brasil teve um aumento a partir do final dos anos 1990, evidenciando os indicadores de produção e quantificação de pesquisas. As métricas permitem mensurar objetos de interesse, o que facilita analisar as comunicações científicas.

Com o objetivo e problema deste artigo delimitados, no mês de junho de 2023 realizou-se um levantamento na base Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), buscando localizar teses e dissertações com os termos “discurso do sujeito coletivo” AND “ciência da informação”, com busca em todos os campos. Não houve delimitação de ano, possibilitando ter dados amplos a respeito de qual período o método ficou em evidência nas pesquisas da CI brasileira.

Com a coleta, obteve-se um total de 59 resultados, excluídos seis registros duplicados, duas pesquisas em educação e uma em administração hospitalar, restando 50 registros. A partir dessa coleta, os dados foram transpostos para uma tabela no programa Excel relacionando autores, orientadores, instituição, ano de defesa da dissertação ou tese, tipo (dissertação/ tese), palavras-chave e sujeitos investigados nos trabalhos. Para a identificação dos sujeitos foi necessário a leitura na íntegra dos resumos das pesquisas e em alguns casos, em que este dado não estava explícito, a busca desse elemento no capítulo referente aos procedimentos metodológicos.

4 DISCUSSÃO E ANÁLISES DOS DADOS

A partir dos dados coletados foi possível perceber que a primeira dissertação cadastrada na base em que se fez o uso do DSC foi no ano de 2005. Apesar do método ter surgido no final da década de 1990, sua ampla divulgação foi no ano 2000 com o livro “O Discurso do Sujeito Coletivo: uma nova abordagem metodológica em pesquisa qualitativa”, dos autores Lefèvre; Lefèvre e Teixeira, dado que demonstra que não demorou para tal metodologia começar a ser utilizada nas pesquisas em CI.

Quanto aos tipos de trabalhos, foram: 36 dissertações e 14 teses, seus anos de defesa estão ilustradas no Gráfico 1 - Ano das publicações:

Gráfico 1
Ano das publicações

Ao observar os períodos e considerando que se trata em maior número de dissertações, pode-se dizer que estes dados se relacionam com a passagem dos alunos pela pós-graduação, que varia entre dois a quatro anos. Neste aspecto, 46 diferentes autores defenderam dissertações de mestrado e teses de doutorado utilizando o método em questão. No entanto, quatro pesquisadores: Farias, G. B.; Fioravante, E.; Pizzarro D. C. e Silva A. C. P. O. defenderam tanto a dissertação de mestrado como a tese de doutorado fazendo uso do DSC, o que indica, notadamente, uma continuidade nas pesquisas que usam o DSC, em ambientes de pós-graduação em CI no Brasil. Essa tendência reflete-se na justificativa e discussão pretendida nesta pesquisa, pois aponta para um desenvolvimento contínuo das pesquisas que utilizam o DSC e, em decorrência, adensam as discussões teóricas e metodológicas que podem consolidar o DSC como método apropriado às pesquisas da área.

Fioravante, Pizzarro e Silva pertenceram ao mesmo Grupo de pesquisa “Informação, Tecnologia e Sociedade” (GRITS) pertencente à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Outro indicador observado foi que Pizzarro e Silva tiveram como orientador em comum, Souza, docente da UFSC, tanto no mestrado, quanto no doutorado. Enquanto Farias e Fioravante foram orientadas por Souza durante o mestrado e, Fioravante ainda teve sua coorientação durante o doutorado. Pode-se inferir ainda que das quatro autoras, somente Farias fez troca de universidade para cursar o doutorado, realizando-o na Unesp.

Fatores que podem ser relacionados aos programas de pós-graduação aos quais os orientadores fazem parte, conforme exposto na Tabela 1 - Programas de pós-graduação:

Tabela 1
Programas de pós-graduação

Dados que inferem que o uso da metodologia do DSC está mais relacionado aos orientadores e seus métodos de trabalho, consequentemente a universidade em que lecionam, que vinculado a opção dos orientandos. Leva-se em consideração também que foram constatados 29 orientadores diferentes, dos quais apenas seis orientaram mais de uma pesquisa, são eles: Souza (UFSC), com 15 trabalhos orientados, sendo 13 dissertações e duas teses; Muñoz (UnB), com três dissertações orientadas acerca do método; Belluzzo (Unesp), com três teses sob sua orientação; Vitorino (UFSC), com duas dissertações sob sua orientação; Silva (UFPB) com duas dissertações; e, Crivellari (UFMG), tendo orientado uma dissertação e uma tese.

Verificando a descrição do currículo Lattes dos seis orientadores, consultados no dia 31/10/2023, na descrição informada por Souza (última atualização do currículo em 02/06/2015), aposentado em fevereiro de 2015, consta que a ênfase da temática de suas pesquisas são “educação bibliotecária, política profissional, políticas públicas de informação e ética profissional, estudando-os com o emprego da Teoria das Representações Sociais e da análise de discursos, particularmente, adotando o Discurso do Sujeito Coletivo”.

Muñoz, (última atualização do currículo em 30/09/2023) ressalta que os seus temas de interesse envolvem, principalmente: “aspectos sociais e fatores humanos na interação de-e-entre seres humanos, práticas informacionais, desenho universal, cooperação, inclusão, mediação e comunicação da informação”.

Belluzzo, (última atualização do currículo em 07/02/2023), atua principalmente nos seguintes temas: “competência em informação e midiática, bibliotecas universitárias, ambientes empresariais, transformação digital e sustentabilidade”.

Vitorino, (última atualização do currículo em 22/05/2023) menciona que suas “orientações se desenvolvem na área da competência em informação”.

Silva (última atualização do currículo em 28/10/2023), pesquisa os eixos temáticos: “gestão da informação e do conhecimento, marketing em unidades de informação, aprendizagem organizacional, redes sociais, redes de colaboração e aprendizagem, metodologia científica e normalização”.

Crivellari (última atualização do currículo em 01/09/2023), pesquisa preferencialmente: “trabalhos nos campos da cultura e da informação, mercado de trabalho para os grupos profissionais dos mesmos campos; qualificação, relações de trabalho, organização do trabalho e administração de unidades de informação”.

Portanto, sintetizando as áreas de interesses dos orientadores percebe-se o estreito encadeamento com os processos contínuos de transformação da sociedade, os quais causam e provocam relacionamentos entre os sujeitos, seja na parte política, ética, organizacional e da competência em informação. Sendo assim, trabalhar com o DSC, que tem como pano de fundo a TRS, é estar atento as aproximações e comunicações entre o “eu” e o “outro”, os quais expressam variados discursos que interagem em espaços sociais, compartilhando-os por meio da língua, de posturas, modos e culturas (Jovchelovitch, 2000JOVCHELOVITCH, S. Representações sociais e esfera pública: a construção simbólica dos espaços públicos no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2000.).

A preocupação com o meio social em que os pesquisados estão/ são incluídos também fica representado pelas palavras-chaves selecionadas nas pesquisas. Em que foi realizado o seu cotejamento, após a normalização de todos os termos utilizados como palavras-chave dos trabalhos aqui analisados. A normalização buscou uniformizar a apresentação dos termos. Nesse aspecto, foi percebida a ocorrência de 165 diferentes termos, dos quais 15 tiveram um número superior a três ocorrências, configurando-se nas palavras-chaves mais utilizadas, conforme a Tabela 2 - Ocorrência de palavras-chaves:

Tabela 2
Ocorrência de palavras-chaves

Fica em destaque mais uma vez que o DSC evoca o uso da TRS, a qual segundo Lefrève (2021) são teoria e método capazes de conectar o social com a realidade. Tratando-se de programas de pós-graduação em CI, a palavra-chave CI e as variações entre biblioteca universitária, biblioteca escolar, leitura, informação, ensino de Biblioteconomia, bibliotecas comunitárias e ética bibliotecária não parecem surpreender, pois trata-se do espaço e ambiente social no qual a maioria dos graduados em Biblioteconomia estão inseridos, fazendo parte do seu universo de atuação profissional.

Quanto aos termos competência informacional, práticas informacionais, competência em informação, remete às orientadoras já citadas Belluzzo e Vitorino, renomadas por suas pesquisas nestas áreas. Unindo a TRS com a competência em informação, pode-se apontar o posicionamento de Zuccari (2019ZUCCARI, P. Perfil de gestores de micro e pequenas corretoras de seguros sob a ótica da competência em informação: uma contribuição teórico-aplicada. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Marília, 2019. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/zuccari_p_do_mar.pdf. Acesso em: 11 nov. 2023.
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) de que a competência em informação deve estimular o desenvolvimento de todas as suas dimensões (conhecimento, prática e atitudes) sendo capaz de disseminá-la as outras pessoas, portanto, o indivíduo não basta possuir conhecimentos ou habilidades, mas saber relacionar-se com o outro para ser perspicaz ao influenciar os tomadores de decisões, compartilhando saberes. Nesse sentido, fica evidenciado que há um coletivo que precisa engajar-se sociologicamente, que compartilha seus vividos seja para o bem comum ou da organização em que trabalha.

Para melhor ilustrar as palavras-chaves das pesquisas, foi elaborada a Figura 1 - Nuvem de palavras-chave, representando a ocorrência dos termos encontrados mais de duas vezes nos trabalhos analisados, contemplando 31 dos 165 termos.

Figura 1
Nuvem de palavras-chave

A Figura 1 deixa clara a relação do DSC com a TRS e o uso da CI com o método e teoria. De encontro a esta afirmação, tem-se o posicionamento de Rocha (2014ROCHA, L. F. Teoria das representações sociais: a ruptura de paradigmas das correntes clássicas das teorias psicológicas. Revista Psicologia: ciência e profissão. Online, v. 34, n.1, p. 46-65, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/wrWbcH7fPm37DBzk6x4JmKK/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 26 maio 2023.
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) ao mencionar que a TRS diverge de uma epistemologia individualista, mas percebe o social em sua totalidade, ampliando o olhar da ciência, articulando conhecimentos preexistentes, em que sujeitos conversam entre si e transformam o meio social por meio dos saberes do senso comum.

Apesar do DSC ser dependente e fundamentado na TRS, ao serem analisadas as fundamentações metodológicas das 50 pesquisas localizadas, constatou-se que nove desses registros sequer mencionam, nas palavras-chave, a relação das representações sociais com o método. Dado que merece destaque, visto que demonstra uma omissão do embasamento teórico, pois, conforme Lefèvre (2017LEFÈVRE, F. Discurso do sujeito coletivo: nossos modos de pensar, nosso eu coletivo. São Paulo: Andreoli, 2017.), a utilização do DSC corresponde especificamente ao ato de reconstituir representações sociais por meio dos depoimentos coletivos.

Jodelet (1989JODELET, D. Représentations sociales: un domaine en expansion. In: JODELET, D. (ed.) Les représentations sociales. Paris: PUF, 1989, p. 31-61.), argumenta que representar consiste em um ato mental no qual o sujeito estabelece uma relação com um objeto. Portanto, observando as palavras-chave em destaque, há bibliotecários, mediando a informação, a leitura, as práticas informacionais em diferentes âmbitos, seja em micro e pequenas empresas, em bibliotecas comunitárias, bibliotecas universitárias, bibliotecas escolares, entre outros ambientes, trabalhando com a gestão da informação, com inovações, com ética e lutando por políticas públicas que beneficie a profissão e os usuários, primando por competências em informação que afaste os indivíduos da desinformação, incentivando um olhar crítico ao estarem em contato com a internet, de maneira em que se percebe que o meio social é constituído por sujeitos-objeto-mundo interconectados, estabelecidos em um contexto diário em que os grupos fazem parte.

Acrescentando a explanação de Jovchelovitch (2004JOVCHELOVITCH, S. Psicologia social, saber, comunidade e cultura. Psicologia e Sociedade, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 20-31, maio/ ago. 2004. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822004000200004. Acesso em: 20 set. 2023.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822004...
), todo saber exige uma representação, dessa forma, as representações sociais comportam uma ciência do “entre”, que incorpora categorias como o eu, o discurso, a representação, a atitude, o comportamento, entre outros fatores cruciais que desempenham uma função central no processo de formação do saber.

Quanto aos coletivos representados e estudados houve a incidência de 36 grupos, aqueles que obtiveram uma ocorrência maior que duas estão representados na Tabela 3 - Coletivos representados.

Tabela 3
Coletivos representados

Os coletivos estudados são diversificados e podemos inferir que o maior número de pesquisas envolvendo bibliotecários (14) reflete por se estar tratando da área da CI, sobretudo em espaços voltados à atuação de bibliotecário, como percebido na análise das palavras-chave. Um diferencial são os discursos elaborados a partir de documentos (2), demonstrando que o texto escrito também emerge opiniões. Cabe apontar que, acerca da diversificação dos coletivos representados nas pesquisas, tais como docentes, discentes, mulheres negras, gestores entre outros grupos, ficam novamente evidentes a pertinência, adequação e sobretudo, as múltiplas possibilidades do uso do DSC em pesquisas de escopo da CI, quer seja a partir de depoimentos orais, ou registrados em documentos.

A elaboração do DSC ocorre mediante uma série de procedimentos que utilizam os estratos literais dos depoimentos, buscando sentido semelhante. No entanto, cabe destacar que os pensamentos das comunidades, mesmo limitados à expressão verbal, podem ser extraídos de diversas fontes, como artigos de jornais, revistas, discussões em grupo, vários tipos de depoimentos e documentos legais, entre outros. Essa diversidade de fontes converge, ao término do processo, em depoimentos coletivos (Lefèvre; Lefèvre, 2012LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. C. Pesquisa de representação social: um enfoque qualiquantitativo: a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo. 2. ed. Brasília: Liber Livro Editora, 2012. (Série Pesquisa; 20).).

Portanto, diante das análises é perceptível que a CI faz uso de diferentes propostas teóricas e metodológicas, estando firmada nesse meio a TRS e o DSC como uma maneira de articular representações sócio-históricas-coletivas, pesquisando variados sujeitos e adentrando em seu meio social como forma de compreender seus universos e explorar pesquisas que envolvem informações, valores, ideologias, culturas e figuras. Atentar-se à construção da realidade dos indivíduos relaciona-se diretamente a CI como ciência que se preocupa em orientar os sujeitos no processo informacional, atuando no compartilhamento da informação, mas para isso, compreendendo a realidade que cerca esses coletivos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos dados coletados ficou evidenciado que o DSC ao adotar uma abordagem fundamentada na TRS, envolve uma análise abstrativa da essência dos argumentos individuais dos atores sociais. Essa abstração resulta na criação de produtos científicos, culminando em um constructo de depoimentos que sistematicamente descrevem a realidade, ou seja, as representações sociais são solidificadas aproximando-se das ações praticadas pelos indivíduos de maneira geral.

Crenças, valores, opiniões e modos de pensar são explorados mediante uma metodologia científica, destacando a contribuição do DSC nas pesquisas sociais para reforçar a voz coletiva, demonstrando legitimidade as falas dos grupos. A estreita relação da linguagem, por meio das falas, dos textos escritos e depoimentos são enfatizados como elementos de estudo da CI, que se evidencia com o uso do DSC e TRS, clarificando que pesquisas com esta vertente sociológica devem permanecer a ser utilizada, possibilitando adentrar nas realidades de diferentes grupos sociais e compreender e explorar seus universos, identificando valores e identidades.

Desta forma, verificando as pesquisas apontadas por Mendonça (2007MENDONÇA, A. V. M. O uso da análise do discurso do sujeito coletivo em Ciência da Informação. In: MUELLER, S. P. M. (org.) Métodos para pesquisa em Ciência da Informação. Brasília: Thesaurus, 2007, p. 149-170. (Série Ciência da Informação e da Comunicação).), em que eram citados dois trabalhos em programas de pós-graduação em CI, defendidos no ano de 2005, que fizeram uso do DSC, para o ano de 2023, com 50 registros, dezoito anos se passaram, pode-se constatar que o método ainda tem pouca aderência nos estudos desenvolvidos na CI, avançando lentamente na área. Ainda que, no caso da presente pesquisa, os dados observados apontam para uma pequena regularidade do uso da DSC em pesquisas na CI. Posto que, desde 2005, exista ao menos uma pesquisa com o uso do DSC, em poucos anos foram percebidos um número considerável delas. Fator que gera uma lacuna no que diz respeito às publicações que envolvem o domínio do DSC na CI.

Ficou evidenciado que Souza (UFSC) foi o pioneiro em orientar estudos com a utilização do DSC, em que a TRS era destacada como base. Após sua aposentadoria, o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFSC declinou o uso do método em dissertações e teses. Dado que deixa em aberto se seus orientandos (as) permaneceram utilizando o DSC nas pesquisas desenvolvidas.

As investigações quanto ao discurso coletivo, em sua maioria direcionaram-se as comunidades que envolviam bibliotecários atuantes em bibliotecas universitárias, escolares e comunitárias. Provavelmente, devido aos estudos analisados pertencerem aos programas de pós-graduação em CI, no entanto, a diversidade dos sujeitos trabalhados aponta que o método é indicado em qualquer pesquisa que tenha o intuito de resgatar as representações sociais a partir de relatos vividos ou mesmo presentes em documentos.

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EDITORES

Edgar Bisset Alvarez, Genilson Geraldo, Jônatas Edison da Silva, Mayara Madeira Trevisol, Edna Karina da Silva Lira e Luan Soares Silva.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    11 Out 2023
  • Aceito
    01 Abr 2024
  • Publicado
    05 Jul 2024
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