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INFORMAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: COLETA SELETIVA SOLIDÁRIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS PELA ASSOCIAÇÃO GOTA DO ÓLEO (AGO) DE EUNÁPOLIS, BA

Environmental information for sustainable development: solidarity selective and solidary collection of recyclable materials by “Gota do Óleo Association” (AGO), in Eunápolis, Bahia, Brazil

RESUMO

Objetivo:

Demonstrar como a informação ambiental permeia o trabalho dos colaboradores do projeto e apresentar os produtos advindos do processamento dos materiais recicláveis.

Método:

A pesquisa é qualitativa, o instrumento utilizado foi a entrevista aberta com quatro catadores e o gestor, sendo a população de 12 catadores. O lócus da pesquisa foi a Associação Gota do Óleo, em Eunápolis, na Bahia.

Resultado:

Os resultados demonstraram que a associação exerce uma função importante na educação ambiental da população e é também importante fonte de renda para as famílias de catadores, utilizando informação ambiental de qualidade advinda principalmente de órgãos oficiais e disseminado informação de qualidade em suas redes sociais. Os principais produtos da associação são: vassoura, vassourão, cordas de varal de garrafas pet e sabão. A associação promove também palestras em escolas e empresas, com a finalidade de educação ambiental.

Conclusões:

Percebe-se um vazio quanto à atuação de bibliotecas e profissionais da informação, sendo este um campo fértil para a atuação dos mesmos enquanto mediadores da informação ambiental de qualidade. Iniciativas locais são imprescindíveis para a recuperação do ecossistema, bem como importante fonte de renda para as famílias.

Palavras-chave:
Informação ambiental; Desenvolvimento sustentável; Associação Gota do Óleo- Eunápolis; Coleta seletiva; Reciclagem

ABSTRACT

Purpose:

Demonstrate the pivotal role of environmental information amongst all the project collaborators and to present the products resulting from the processing of recycling materials.

Method:

The research is pragmatic, and the main tool used was an open interview with four of the street collectors, out of a team of 12 members, and their manager. The location of the research was the “Gota do Óleo” Association in Eunápolis, Bahia, Brazil.

Result:

The results demonstrate that “Gota do Óleo” Association has an important role in the education of the local community concerning environmental information. It also demonstrates the importance of the association as a source of income for the families of the local street collectors. They use credible environmental information from official agencies and disseminate quality information in their social media platforms. The main products from the association are: brooms, clothesline ropes, bottles and soap. The association also promotes conferences on environmental education in schools and private companies.

Conclusion:

There is a visible vacuum relative to the involvement of public libraries and professionals of information technology to mediate reliable environmental information to the general public, while this is a fertile field for their work. Local initiatives are crucial for rescuing the ecosystem, and an important source of income for the families.

KEYWORDS:
Environmental information; Sustainable development; Associação Gota do Óleo- Eunápolis; Selective collect; Recycling

1 INTRODUÇÃO

A informação ambiental tem um valor preponderante na sociedade, urgindo sua apropriação e uso adequados para a participação efetiva dos cidadãos em ações de desenvolvimento sustentável. A Associação Gota do Óleo (AGO) foi fundada em 2016 e está localizada na cidade de Eunápolis, na Bahia. É uma associação de coleta seletiva solidária de materiais recicláveis, tais como: latinhas de alumínio, garrafas de Polietileno Tereftalato (PET), papelão, óleo de cozinha, dentre outros. Produz também produtos reciclados como sabão, vassouras e cordas de varal de garrafas PET. Esta pesquisa apresenta o seguinte problema: em que medida a informação ambiental pode ser considerada propulsora do desenvolvimento sustentável local? Possui como objetivo geral demonstrar como a informação ambiental permeia o trabalho dos colaboradores do projeto. E ainda o objetivo específico de apresentar os produtos advindos do processamento dos materiais recicláveis.

A pesquisa também traz à tona a importância da coleta seletiva para o desenvolvimento sustentável, sendo uma temática que deve ser mais tocante nas cidades grandes brasileiras e, especialmente nas pequenas, como também no ramo dos profissionais da informação, bibliotecários; os quais devem trazer para o debate a possibilidade de se visualizar as iniciativas que impactam positivamente o meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas, tendo a informação ambiental muita importância como meio educativo nas escolas, nas empresas e nos espaços públicos em geral.

Apresenta-se no referencial teórico a importância da informação ambiental e a contribuição no âmbito da educação ambiental da população, assim como enfatiza as fontes de informação, as políticas ambientais, o desenvolvimento intercalado ao desenvolvimento sustentável nos aspectos ambiental, social e econômico. Apresenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2022) e cria o Programa Nacional de Logística Reversa, o qual regulamenta o processo de separação de coleta dos materiais para reciclagem, reutilização e os que seguem para aterros sanitários.

Em relação à metodologia, foi realizada uma ampla pesquisa bibliográfica, sendo a pesquisa qualitativa com o uso de entrevista aberta com o gestor e quatro catadores da associação, caracterizada pela amostra por conveniência. Destaca-se a importância da AGO para o desenvolvimento sustentável local e a relevância da informação ambiental em todo o trabalho da associação. Verificou-se ainda uma ausência de protagonismo de profissionais da informação na iniciativa, bem como de bibliotecas, ressaltando que Eunápolis possui uma biblioteca pública municipal, denominada Biblioteca Municipal Prof. Fernando Alban. No âmbito acadêmico brasileiro, destaca-se o trabalho do Grupo de Pesquisa em Gestão e Sustentabilidade na Ciência da Informação (GPSCIn), da Universidade Federal de Santa Catarina. Considera-se ao fim que os objetivos da pesquisa foram atendidos e recomenda-se um estudo mais abrangente com outras iniciativas brasileiras em cidades pequenas e de médio porte.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Informação ambiental

A informação ambiental é considerada um tipo de informação especializada e na área de Ciência da Informação o primeiro número dedicado ao tema foi publicado em 1992, na revista Ciência da Informação. Naquele momento, um dos artigos já apontava uma lacuna sendo preenchida no país, com seus desdobramentos políticos, econômicos e sociais. Segundo Caribé (1992CARIBÉ, Rita de Cássia do Vale. Subsídios para um sistema de informação ambiental no Brasil. Ciência da Informação, v. 21, n. 1, p. 40-45, jan./abr., 1992. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/462. Acesso em: 17 fev. 2022.
http://revista.ibict.br/ciinf/article/vi...
), uma das principais características da informação ambiental é a sua interdisciplinaridade, se encontrando difundida e dispersa em áreas diferentes do conhecimento. E, ainda, segundo a mesma autora, a informação ambiental “leva em consideração conceitos científicos, sociais, religiosos e filosóficos, inclui valores políticos e econômicos e discute conceitos das ciências físicas e biológicas” (CARIBÉ, 1992CARIBÉ, Rita de Cássia do Vale. Subsídios para um sistema de informação ambiental no Brasil. Ciência da Informação, v. 21, n. 1, p. 40-45, jan./abr., 1992. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/462. Acesso em: 17 fev. 2022.
http://revista.ibict.br/ciinf/article/vi...
, p. 41).

Segundo o aspecto conceitual, a informação ambiental pode ser definida como “um tipo de informação científica e tecnológica que tem papel fundamental na superação da crise ambiental que vivemos hoje, contribuindo para a preservação de ambientes naturais” (TAVARES; FREIRE, 2003TAVARES, Carla; FREIRE, Isa Maria. Informação ambiental no Brasil: para quê e para quem. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 8, n. 2, p. 208-215, jul./dez. 2003. Disponível em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/369/190. Acesso em: 17 fev. 2022.
http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/in...
, p. 208). A questão da informação ambiental envolve diversos aspectos, como o direito de acesso à mesma, o acesso e o uso das fontes de informação e das políticas ambientais, tendo as tecnologias da informação um papel importante em todo o processo.

Giron (2012GIRON, Jerônimo. O direito do cidadão-consumidor à informação e a preservação ambiental na sociedade de risco. 2012. 131 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, 2012. Disponível em: https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/219/Dissertacao%20Jer%c3%b4nimo%20Giron.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 24 maio 2022.
https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstre...
, p. 76) expõe a informação ambiental como:

a informação referente a qualquer aspecto atrelado ao meio ambiente e que busca estimular a reflexão sobre as condições ambientais, motivando a interação social para modificar possíveis deturpações e, assim, melhor decidir com o escopo de proteger os recursos naturais e, consequentemente, perpetuar a vida do planeta.

O direito de acesso à informação ambiental é reforçado pela Convenção de Aarhus, assinada na Dinamarca em 1998. Tal documento apresenta de forma contundente o direito do cidadão de acesso à informação ambiental, de solicitação e contestação de planos e atividades governamentais; bem como sua importância na participação política e na tomada de decisões. Informação ambiental significa informação impressa, visual ou em meio eletrônico, envolvendo elementos do meio ambiente, fatores e substâncias, saúde e segurança da vida humana (CONVENTION..., 1998, n. p.).

A informação ambiental, segundo Cunha e Silva (2016CUNHA, Belinda Pereira da; SILVA, Lucas Gonçalves da. Crise ambiental e pós-modernidade na sociedade de informação: alguns impactos para o desenvolvimento. Conpedi Law Review, Uruguai, v. 2, n. 4, p. 75-89, jul./dez. 2016. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/329331772_Crise_Ambiental_e_Pos-Modernidade_na_Sociedade_de_Informacao_Alguns_Impactos_para_o_Desenvolvimento. Acesso em: 20 maio 2022.
https://www.researchgate.net/publication...
, p. 83),

é consequente da preocupação da sociedade com os efeitos e impactos da produção e do consumo sobre o ambiente, o resultado de um processo histórico de tomada de consciência acerca dos danos provocados pela ação humana no meio físico e social.

E ainda, pesquisadores brasileiros e estrangeiros têm trabalhado o conceito de sustentabilidade informacional, em recente publicação com um pesquisador da Alemanha (2021). Pinto e Geraldo (2021, n. p.)1 1 PINTO, Marli Dias de Souza; GERALDO, Genilson. Information Science and informational sustainability: a discipline in construction. In: LEAL FILHO, Walter (ed.); SALVIA, Amanda Lange (ed.); FRANKENBERGER, Fernanda (ed.). Handbook on teaching and learning for sustainable development. Cheltenham, UK.: Edward Elgar, 2021. 512 p. E-book. definem sustentabilidade informacional como

um mecanismo informacional de acesso, disseminação e uso da informação

sustentável, visando a institucionalização, organização e conscientização da

sociedade da informação, com o objetivo de proporcionar uma qualidade de

vida presente sem comprometer a das gerações futuras.

As fontes de informação especializadas em meio ambiente são de grande relevância para a pesquisa e para o processo de tomada de decisões. Nesse contexto, importantes fontes devem ser consideradas, como as revistas científicas, os órgãos governamentais, as Organizações Não Governamentais (Ongs) e as associações. Dessa forma,

a informação torna-se peça fundamental para a prevenção do meio ambiente, com a democratização e a politização da informação através da difusão dos meios tecnológicos principalmente da Internet é possível reduzir a distância do cidadão para acessar as informações ambientais. (IRIGARAY; TYBUSCH, 2016IRIGARAY, Micheli Capuano; TYBUSCH, Francielle Benini Agne. A contribuição dos portais brasileiros para a sociedade informacional no processo de informação ambiental sobre a água. Revista de Direito e Sustentabilidade, Brasília, DF, v. 2, n. 1, p. 59-75, jan./jun. 2016. Disponível em: https://indexlaw.org/index.php/revistards/article/view/1003/998. Acesso em: 25 mar. 2022.
https://indexlaw.org/index.php/revistard...
, p. 70).

Assim também, Deus (2013DEUS, Cássia Costa Rocha Daniel de. Confluências entre a informação ambiental e a ciência da Informação para o desenvolvimento sustentável. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 25., 2013, Florianópolis, SC. Anais [...]. Florianópolis, SC: CBBD, 2013. Disponível em: http://repositorio.febab.org.br/items/show/2505. Acesso em: 04 out. 2021.
http://repositorio.febab.org.br/items/sh...
) ressalta que “a informação ambiental deve ser encarada como uma questão de utilidade pública pois, por meio e através dela será possível estabelecer mudanças socioeconômicas e ambientais” (DEUS, 2013DEUS, Cássia Costa Rocha Daniel de. Confluências entre a informação ambiental e a ciência da Informação para o desenvolvimento sustentável. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 25., 2013, Florianópolis, SC. Anais [...]. Florianópolis, SC: CBBD, 2013. Disponível em: http://repositorio.febab.org.br/items/show/2505. Acesso em: 04 out. 2021.
http://repositorio.febab.org.br/items/sh...
, p. 3). As políticas ambientais têm a desenvolver o ofício de instruir e incluir políticas públicas como oficialização das leis e informar a população, mesmo que haja insuficiência no quesito obrigações e multas ao poluidor e/ou ao desmatador, a partir dos órgãos aos quais compete a temática ambiental.

No Brasil, dois órgãos centrais estão vinculados ao Ministério do Meio Ambiente (MMA): o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que atuam legalmente, respectivamente, no padrão de fiscalização da qualidade do meio ambiente e na preservação e conservação das áreas protegidas. Importante ressaltar que o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) integra o conjunto de órgãos públicos de todas as esferas com o objetivo de proteger o meio ambiente. Acredita-se que a gestão competente da informação ambiental é um dos pilares para o desenvolvimento sustentável, o qual será apresentado na próxima seção.

2.2 Desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento pode ser considerado quanto à extensão urbana, ao crescimento econômico e toda uma estrutura que envolve o bem-estar da população, ou seja, a qualidade de vida, não se resumindo somente à renda per capita. Oliveira (2002OLIVEIRA, Gilson Batista de. Uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento. Revista da FAE, Curitiba, v. 5, n. 2, p. 37- 48, maio/ago., 2002. Disponível em: https://revistafae.fae.edu/revistafae/article/viewFile/477/372. Acesso em: 25 abr. 2022.
https://revistafae.fae.edu/revistafae/ar...
, p. 40) enfatiza que o “desenvolvimento nada mais é que o crescimento transformado para satisfazer as mais diversificadas necessidades do ser humano”, envolvendo a ecologia e a economia como estratégias de alcance. O desenvolvimento deve alcançar as necessidades das gerações presentes sem comprometer as gerações futuras, ou seja, deve acontecer de forma técnica e preventiva2 2 Relatório Brundtland, Nosso Futuro Comum, da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1987). Apontou as incompatibilidades entre o modelo de desenvolvimento atual e a preservação do meio ambiente. .

O desenvolvimento é um movimento que inclui toda a sociedade, mas é necessário que retrate a preservação da natureza ecológica com o comprometimento do poder público, o qual deve envolver ativamente os profissionais da área ambiental e estender as informações e os procedimentos corretos às empresas e aos cidadãos. Segundo Gibson (2006GIBSON, Robert B. Sustainability assessment: basic components of a practical approach. Impact Assessment and Project Appraisal, v. 24, n. 3, p. 170-182, sep., 2006. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.3152/147154606781765147?needAccess=true. Acesso em: 01. nov. 2021.
https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.3...
, p. 173), o desenvolvimento sustentável “deve ter como objetivo promover e preservar os sistemas sócio ecológicos, desde as famílias aos níveis globais, que sejam dinâmicos e adaptáveis, satisfatórios, resilientes e, portanto, duráveis”.

O desenvolvimento sustentável numa localidade deve envolver as dimensões naturais, sociais e econômicas, apresentadas a seguir pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional:

Dimensão natural - trata do uso e manejo sustentável dos recursos e das propostas de conservação e controle da diversidade biológica, da atmosfera, dos recursos hídricos, do solo. Trata também do combate ao desflorestamento, da proteção dos oceanos, mares e das zonas costeiras e do manejo de ecossistemas frágeis. Dimensão social - as ações para redução das desigualdades sociais, como erradicação do analfabetismo e do trabalho infantil; e as medidas estruturantes de combate à pobreza, como a distribuição de renda. Dimensão econômica - as ações propostas visando à progressiva alteração do sistema produtivo e dos padrões qualitativos e quantitativos de consumo da sociedade para a sustentabilidade (BRASIL, 2004, p. 17).

As dimensões apresentadas acima, conhecidas como o tripé do desenvolvimento sustentável, possibilitam dimensionar os impactos do desenvolvimento de um empreendimento em relação à natureza ecológica e a transformação social na comunidade/cidade, assim como a movimentação na economia local.

Há inúmeras características da sustentabilidade com ações na economia da água, na coleta seletiva e na reciclagem, bem como na produção de produtos biodegradáveis. Nesse sentido, os comportamentos pessoais e coletivos podem ser direcionados na perspectiva dos 4R’s: repensar, reduzir, reutilizar e reciclar: 1) Repensar atitudes que tomamos e que tem consequência direta em nossas vidas e ao meio ambiente; 2) Reduzir o lixo e a emissão de poluentes, a partir do consumo mais consciente e poupador de recursos naturais. Compreende a relação com as práticas do uso econômico da energia, economia de energia, economia de combustível e soluções inteligentes e poupadoras como cultivo de hortas caseiras, uso de produtos recicláveis, dentre outros; 3) Descartar muitas coisas que poderiam ser reutilizados para outros fins. Reutilizar contribui não só para a economia doméstica, mas também para o desenvolvimento sustentável do planeta; 4) E reciclar, que é transformar um objeto usado em um novo produto, igual ou diferente. (PEREIRA; GOMES, 2017PEREIRA, Lauro Charlet; GOMES, Marco Antônio Ferreira. 4 R’s da Sustentabilidade: Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar. EcoDebate, dez., 2017. Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2017/12/19/4-rs-da-sustentabilidade-repensar-reduzir-reutilizar-e-reciclar-por-lauro-charlet-pereira-e-marco-antonio-ferreira-gomes/. Acesso em: 8 maio 2022.
https://www.ecodebate.com.br/2017/12/19/...
, n. p.)3 3 Sem paginação. Documento em rede. .

Os 4R’s são caminhos para se alcançar a sustentabilidade. Diante das mudanças climáticas, ressalta-se a necessidade de reforçar a informação ambiental de qualidade e o investimento em educação ambiental para a população, para que possa ter a conduta de perceber que a natureza ecológica e a humana são interdependentes, além de rever a necessidade de instruir tanto em relação à conservação quanto à preservação do meio ambiente.

Da mesma forma, a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) apresenta os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), conforme a Figura 1:

Figura 1
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

A Agenda 2030 da ONU apresenta a reafirmação da manutenção e complementos dos ODS e das necessidades e metas para atingir melhores indicadores mundiais, como: 1) Erradicação da pobreza; 2) Fome zero e agricultura sustentável; 3) Saúde e bem-estar; 4) Educação de qualidade; 5) Igualdade de gênero; 6) Agua potável e saneamento; 7) Energia limpa e acessível; 8) Trabalho decente e crescimento econômico; 9) Indústria, inovação e infraestrutura; 10) Redução das desigualdades; 11) Cidades e comunidades sustentáveis; 12) Consumo e produção responsáveis; 13) Ação contra a mudança global climática; 14) Vida na água; 15) Vida terrestre; 16) Paz, justiça e instituições eficazes; 17) Parcerias e meios de implementação. São 17 metas e 169 metas de ação global, nas quais governos, sociedade civil, iniciativa privada e instituições de pesquisa contribuíram por meio da plataforma My World. No Brasil, iniciativas importantes podem ser consultadas no site da ONU Brasil4 4 https://brasil.un.org. Acesso em: 20 dez. 2021. .

2.3 Coleta seletiva

O marco inicial para legitimar os materiais dos resíduos sólidos, como também a separação para reciclagem e reutilização se constituiu com o documento intitulado Política Nacional de Resíduos Sólidos, publicado em 2010. O mesmo tem como finalidade instruir todas as instituições que produzem resíduos sólidos e os meios de reaproveitá-los. Teve sua atualização pelo Decreto n. 10.936 de 13 de abril de 2022, como também o Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento - Resíduos Sólidos (SNIS-RS) e o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) que “é um documento estratégico de caráter macro que orienta, por meio de diretrizes e metas, a elaboração dos planos de resíduos sólidos dos demais entes federados” (BRASIL, 2022, p. 51), ou seja, o plano é a base para as prefeituras municipais planejarem a coleta seletiva de resíduos sólidos nas cidades.

Os resíduos sólidos têm sua configuração baseada nos materiais descartados que, segundo o Planares (BRASIL, 2022, p. 13), “são materiais oriundos da construção civil, industriais, dos serviços públicos de saneamento básico, dos serviços de saúde, dos serviços de transporte, agrossilvopastoris e da mineração”. Nessa mesma linha, o Planares afirma que

estão associados prioritariamente aos resíduos de origem domiciliar e da limpeza urbana, assim como aqueles gerados nos estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, nos casos em que o poder público municipal os tenha caracterizado como não perigosos, equiparando-os, em razão de sua natureza, composição ou volume, aos resíduos domiciliares (RDO). (BRASIL, 2022, p. 13).

Assim também a definição de resíduos sólidos é reforçada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004), a qual menciona o lixo produzido pelas atividades domésticas, empresas, indústrias, agricultura e serviços em geral. É notório que há fluxo contínuo de produção de lixo no Brasil e no mundo, assim como é constatado que não há um apoio contínuo para a população se conscientizar sobre o descarte adequado dos materiais.

Os planos de gestão de resíduos sólidos têm como objetivo, segundo o Planares, “subsidiar o planejamento e a gestão de resíduos sólidos em todas as esferas de governo e setor produtivo” (BRASIL, 2022, p. 51). Há duas linhas de coleta: “a indiferenciada, na qual a fonte geradora disponibiliza os resíduos para coleta sem segregação prévia”; e a coleta seletiva, que é a “coleta dos resíduos sólidos previamente separados [...]” (BRASIL, 2022, p. 21).

A reciclagem é definida (BRASIL, 2022, p. 26) “como o processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos [...]”, ou seja, os materiais como o óleo, por exemplo, irão ser trabalhados e transformados em sabão, bem como as garrafas PET poderão ser reutilizadas para confecções de tecidos, cordas de varais, vassouras e outros.

Os tipos de resíduos sólidos são classificados segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004, p. 5) como: a) resíduos classe I - perigosos e resíduos classe II - não perigosos; que podem se dividir em não inertes e inertes. O plano de resíduos sólidos constitui um ponto de partida ao enfatizar que há uma necessidade de “desenvolver a consciência em cada indivíduo sobre a sua responsabilidade e o impacto ambiental por aquilo que consome e pela forma como descarta seus resíduos” (BRASIL, 2022, p. 15); destacando a importância para a redução de resíduos sólidos como meio de evitar o descarte sem um método que atinja de forma positiva a sociedade.

A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais ressalta que “o volume de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) que segue para unidades de disposição inadequada continua aumentando [...]” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS, 2021, p. 48). Pelo acúmulo do lixo indiferenciado percebe-se que não há uma política de obrigatoriedade de destinação adequada, a qual poderia proporcionar inúmeras contribuições para o bem-estar da população, dentre eles: “proteção da saúde pública; preservação do meio ambiente e mitigação climática; desenvolvimento econômico; e desenvolvimento social” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS, 2021, p. 48-49).

Mancini, Ferraz e Bizzo (2012MANCINI, Sandro Donnini; FERRAZ, José Lázaro; BIZZO, Waldir Antônio. Resíduos sólidos. In: ROSA, André Henrique (org.). Meio ambiente e sustentabilidade. Porto Alegre: Bookman, 2012. p. 346-347., p. 347) apresentam as nuances no desenvolvimento dos termos lixo e resíduo sólido. O primeiro “como todo e qualquer produto ou material que não possua serventia”. Já o resíduo sólido “é todo e qualquer produto ou material, proveniente de um processo, que ainda por ter serventia, pode ser reaproveitado, reutilizado ou reciclado”. (MANCINI; FERRAZ; BIZZO, 2012MANCINI, Sandro Donnini; FERRAZ, José Lázaro; BIZZO, Waldir Antônio. Resíduos sólidos. In: ROSA, André Henrique (org.). Meio ambiente e sustentabilidade. Porto Alegre: Bookman, 2012. p. 346-347., p. 347). O lixo é um processo acumulado pelo homem nas atividades institucionais e domésticas, em sua grande parte segue para os aterros sanitários e lixões no Brasil5 5 Mais de 60% em aterros sanitários e quase 40% em lixões e aterros controlados (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS, 2021, p. 21). . Diante das novas tecnologias, advindas das pesquisas científicas, há processos a partir do lixo que estão em desenvolvimento, como a geração de energia limpa e de biocombustíveis.

A coleta de materiais recicláveis é direcionada segundo o padrão internacional em cores, apresentado no quadro abaixo:

Quadro 1
Cores dos Coletares Padronizados para a Coleta Seletiva

Segundo Mancini, Ferraz e Bizzo (2012MANCINI, Sandro Donnini; FERRAZ, José Lázaro; BIZZO, Waldir Antônio. Resíduos sólidos. In: ROSA, André Henrique (org.). Meio ambiente e sustentabilidade. Porto Alegre: Bookman, 2012. p. 346-347.), a coleta seletiva pode ser um caminho informativo, educativo e de prática contínua para a população. Entretanto, é importante mencionar que nem sempre há um planejamento efetivo nas prefeituras, sendo de sua responsabilidade as instruções domésticas e empresariais segundo o Planares (BRASIL, 2022). Nesse cenário, o processo de coleta seletiva fica sob responsabilidade dos catadores que têm um vínculo com as associações ou trabalham de forma individual, os quais carecem de apoio do poder público, quanto aos equipamentos de segurança e remuneração. Assim também se vislumbra que as administrações municipais poderiam fazer parcerias com as associações de catadores, adquirindo seus produtos para uso.

3 METODOLOGIA

A pesquisa se focou em duas partes: a pesquisa bibliográfica com documentos impressos e eletrônicos sobre a temática, a qual se constituiu como base teórica para o trabalho. Segundo Demo (2017DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2017., p. 35) “a pesquisa se define aqui sobretudo pela capacidade de questionamento, que não admite resultados definitivos, estabelecendo a provisoriedade metódica como fonte principal da renovação científica”, e é nesse caminho que a ciência se estabelece com novos métodos e inovações.

No segundo momento, ocorreu a coleta dos dados em maio de 2022, a fim de verificar com os colaboradores sociais, envolvidos nas atividades de coleta seletiva dos resíduos sólidos, a reutilização e a reciclagem “in loco”, assim como a coleta de materiais para outras instituições, por não serem aproveitados pela AGO; havendo uma separação para o repasse. A pesquisa é classificada como qualitativa, “com o propósito de estudar a experiência vivida das pessoas e ambiente sociais complexos, segundo a perspectiva dos próprios atores sociais” (GIL, 2019GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2019. E-book., p. 56).

A população desta pesquisa inclui o total de 12 catadores nas atividades da AGO, no entanto a amostra está concentrada em cinco colaboradores, dois do gênero feminino e três do masculino, sendo que um dos catadores se destaca nas atividades da gestão, assim como os outros quatro nas atividades internas e externas. A amostra é por conveniência, que são “casos disponíveis aos quais temos acesso” (HERNÁNDEZ SAMPIERI; FERNÁNDEZ COLLADO; BAPTISTA LUCIO, 2013HERNÁNDEZ SAMPIERI, Roberto; FERNÁNDEZ COLLADO, Carlos; BAPTISTA LUCIO, Maria del Pilar. Metodologia de pesquisa. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013. 624 p., p. 409). A técnica para análise de dados utilizada foi a análise do discurso, a qual “busca compreender como um objeto simbólico (texto, foto, pintura, escultura, etc.) produz sentidos e como este objeto está cheio de significância” (FERNANDES, 2020FERNANDES, Alan Tocantins. O que é análise do discurso? Como pode ser usada? E o que a difere de uma análise gramatical? 2020. Disponível em: https://www.roseta.org.br/2020/03/25/o-que-e-analise-do-discurso-como-pode-ser-usada-e-o-que-a-difere-de-uma-analise-gramatical/. Acesso em: 20 nov. 2022.
https://www.roseta.org.br/2020/03/25/o-q...
, n. p.).

Os cinco catadores entrevistados foram: LS (21 anos), AP (34 anos), LJ (18 anos), EB (59 anos) e JC (47 anos), respectivamente dois do gênero feminino e três do masculino. LS e AP possuem ensino médio completo e fazem as atividades internas; LJ possui nível fundamental II incompleto e EB ensino fundamental I incompleto, os quais se dedicam às atividades internas e externas. JC, que é o gestor, possui formação em Pedagogia e é pós-graduado em Psicopedagogia Institucional e Clínica, bem como em Gestão e Docência do Ensino Superior, o qual trabalha tanto no ambiente interno quanto no externo à AGO, indo até os domicílios previamente contatados.

Importante ressaltar que todos os colaboradores são remunerados por seu trabalho, uma parte da receita é destinada para a manutenção da associação e a outra para os colaboradores. Além da venda dos produtos, alguns materiais são vendidos para depósitos, tais como papeis fragmentados, sacolas plásticas, PEAD-embalagens coloridas, filmes plásticos e plástico misto. São depósitos que trabalham com vendas desses materiais para reutilização ou reciclagem, num modelo de venda denominado por eles de Bigbag.

O instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista aberta com o gestor e quatro catadores, ressaltando que não foi possível entrevistar os outros sete devido à agenda dos mesmos, com alternância de horários; os quais fazem as atividades internas e a coleta externa nas casas e ruas. Foi obtido um termo de consentimento do uso do nome da associação assinado pelo gestor para fins da pesquisa, bem como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os dois roteiros de entrevista se encontram como apêndices do trabalho.

3.1 O projeto

A AGO, entidade sem fins lucrativos, foi fundada e registrada no dia 22 de maio de 2016 na cidade de Eunápolis na Bahia. A ideia surgiu entre grupo de amigos que teve como ponto inicial a coleta de óleo, posteriormente com garrafas PET para produção de vassouras e com o decorrer das atividades outros tipos de materiais para destinação de um descarte adequado. A estrutura da associação e seu funcionamento se encontra, no momento, nas dependências familiares do gestor; um galpão pequeno, com identificação para que a população possa localizá-lo. Entretanto, depois de seis anos de fundação, a partir de doações de alguns órgãos públicos e apoiadores da causa, está sendo construída uma nova sede para armazenamento dos materiais.

Os produtos oriundos da reciclagem são: vassoura, vassourão e corda de varal de garrafas PET, bem como o sabão feito com as doações de óleo de cozinha oriundas das residências e do comércio (Figura 2).

Figura 2
Produtos

A associação utiliza as redes sociais para alertar, informar e solicitar à população materiais para doação, sinalizando o contato telefônico para que os lares domésticos possam contatá-la e os colaboradores seguirem um roteiro de coleta doméstica. Possui uma página no Instagram com 940 publicações e 2873 seguidores, na qual coloca diversas informações importantes sobre o funcionamento da mesma, incluindo muitos vídeos6 6 https://www.instagram.com/associacao_gota_do_oleo/. Acesso em: 30 maio. 2022. Possui também uma página no Facebook: https://www.facebook.com/AGO-Associação-Gota-do-Óleo-103897284465881. Acesso em: 05 maio 2022. .

Figura 3
Página do Instagram

A AGO tem contribuído nas questões sociais por meio de projetos, com destaque para o projeto denominado Geração de Emprego e Renda, com 70 famílias cadastradas. A AGO possui um estatuto social, o qual informa que é uma instituição da economia solidária, constituída para proporcionar melhorias econômicas, sociais e ambientais aos catadores e catadoras de materiais recicláveis que fazem as atividades internas e externas. Atende, assim, várias demandas nas cidades aos arredores de Eunápolis, contribuindo na movimentação econômica das pessoas físicas.

A AGO desenvolve atualmente dez projetos de sustentabilidade ambiental, são eles: 1) projeto de coleta do óleo de cozinha usado do comércio e residências de Eunápolis para a fabricação do Sabão Artesanal Ecológico Aruba (recicla em média 2 mil litros por mês); 2) projeto de coleta de água da chuva para a fabricação do sabão, limpeza da sede e lavagem das garrafas PET; 3) projeto de coleta de banner, faixas e outdoors para a fabricação de bolsas ecológicas; 4) projeto de coleta de garrafas PET de refrigerante e de energético de dois litros para a fabricação de vassouras, vassourões e cordas de varal; 5) projeto de coleta seletiva solidária de materiais recicláveis; 6) projeto de geração de emprego e renda; 7) projeto de oficinas de sabão em barra, em pasta e líquido; 8) projeto de palestras: AGO e o meio ambiente, sustentabilidade ambiental; 9) projeto de palestras: AGO no combate ao trabalho infantil de forma irregular; 10) projeto junto à sociedade para a arrecadação de roupas, brinquedos e sapatos para a doação à famílias carentes.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para a análise dos resultados e a compreensão da importância da informação ambiental no labor dos colaboradores, é preciso compreender sua dinâmica, seu fluxo. Os posicionamentos dos quatro catadores entrevistados trazem elementos e olhares congruentes no que se refere às questões ambientais, sociais e econômicas, diante de suas atividades e necessidades. Os catadores sinalizaram que o trabalho com os materiais recicláveis tem como objetivo a questão econômica, sendo a renda um contributo às questões financeiras pessoais, assim como outros exploraram que vivem das atividades de reciclagem. Essa versão dos catadores compactua com as questões sociais e econômicas apresentadas na Agenda 21 Nacional (2004) e no Relatório Brundtland (1987), ao enfatizarem o combate à pobreza e a progressão qualitativa econômica dos catadores, por exemplo. A situação é bastante propícia, pois ao mesmo tempo que contribui positivamente para o meio ambiente ainda oferece uma renda para os colaboradores e suas famílias.

Importante ressaltar que, por visualizarem o aspecto financeiro, são catadores conscientes de que estão contribuindo para os cuidados com a natureza ecológica e que foram capacitados para a separação do lixo doméstico; como o Sr. EB que se aperfeiçoou nos tipos de materiais que podem ser reciclados, reutilizados e repassados para outros depósitos, bem como os que vão para o aterro sanitário. O mesmo ressaltou que “os cursos ofertados por uma universidade de Eunápolis foram muito oportunos”, os quais foram direcionados para as pessoas que vivem da reciclagem. Segundo o catador EB, foram norteadores para a coleta seletiva nas ruas.

Em relação ao manuseio das atividades na AGO, o mesmo acontece por meio de máquinas manuais, assim como a coleta frequente no dia a dia. Os catadores não sinalizaram nenhuma dificuldade com as atividades internas na associação, mas as atividades externas, quando os materiais são retirados nos pontos de lixo nas ruas, causam acidentes aos catadores, por não terem a separação adequada, fato sinalizado pela catador EB. Visualiza-se que há uma falha no que é de responsabilidade da prefeitura na orientação dos restaurantes, comércios, lojas e outros; na separação padrão dos materiais para posterior coleta das organizações que trabalham a reciclagem e a reutilização dos mesmos.

Os catadores apresentam as atividades da coleta seletiva, os processos de reciclagem e a reutilização na AGO como contributos para o cuidado do meio ambiente, ao perceberem os impactos negativos do descarte inadequado nos solos, rios e mares. Além disso, ressaltam a importância do tipo de reciclagem que fazem, entendendo que a destinação adequada oferece possibilidade de transformar “o lixo em outro produto, seguindo todo um padrão”, ressaltado pela catadora AP. Enquanto a catadora LS enfatizou que as atividades proporcionadas pela AGO “retiram o material que estaria no meio ambiente e é transformado em outra coisa”. O catador LJ ressaltou que a coleta seletiva “ajuda muito o meio ambiente”.

Quanto aos treinamentos, o gestor da AGO realiza instruções orais para os catadores exercerem suas atividades, como um passo a passo, e que os mesmos no fazer diário vão criando autonomia nas atividades e no manuseio das máquinas. A catadora AP enfatiza que utiliza “o Google para buscar informações na internet sobre suas atividades na AGO, como também segue as orientações da associação”. Assim também percebeu a importância da separação adequada do lixo para o meio ambiente e ganhos para quem trabalha. A catadora LS enfatizou que “a informação utilizada para suas atividades vem sempre das orientações orais da associação”.

O gestor JC enfatizou que a associação iniciou a reciclagem com o óleo de cozinha para a produção de sabão. Informou também que “depois de seis anos de projeto chegamos à conclusão, de que, tem que ter uma lei que obrigue as pessoas a separarem seus materiais recicláveis e o horário de colocá-los na rua”, ou seja, ser uma rotina doméstica da população e do comércio, sob as orientações da prefeitura municipal. Um aspecto interessante é que a AGO traz a comunidade do bairro Dinah Borges, onde fica instalada, para doar óleo de cozinha, garrafas PET, vasos plásticos de produtos de limpeza e outros materiais para a separação adequada, ocorrendo também a venda dos produtos. Tendo um ponto específico para a coleta seletiva, pode-se evitar que a comunidade faça o descarte inadequado, bem como envolve os colaboradores locais.

O gestor ressaltou o apoio que tem recebido de instituições públicas, como a prefeitura que fornece o caminhão de lixo dois dias na semana para a coleta seletiva nos domicílios e órgãos da justiça que reforçam eventuais doações. Segundo o mesmo, a sobrevivência da associação está atrelada à venda dos produtos e atualmente existem 70 famílias cadastradas para realizarem essa atividade comercial, entre pessoas físicas e jurídicas. A maioria das pessoas físicas está na zona rural e urbana de Eunápolis, Itabuna, Itabela e Guaratinga, as quais têm a oportunidade de adquirirem renda e desenvolverem um olhar diferenciado em relação ao meio ambiente. O gestor também ressaltou o apoio da população em doar os materiais recicláveis e comprar os produtos. Essa abordagem se correlaciona com os 4Rs de Pereira e Gomes (2017PEREIRA, Lauro Charlet; GOMES, Marco Antônio Ferreira. 4 R’s da Sustentabilidade: Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar. EcoDebate, dez., 2017. Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2017/12/19/4-rs-da-sustentabilidade-repensar-reduzir-reutilizar-e-reciclar-por-lauro-charlet-pereira-e-marco-antonio-ferreira-gomes/. Acesso em: 8 maio 2022.
https://www.ecodebate.com.br/2017/12/19/...
): repensar, reduzir, reutilizar e reciclar.

As fontes de informação usadas por JC para manter a organização e as atividades são o MMA, o ICMBio e a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), os quais são caminhos informacionais para ressaltar a importância da coleta seletiva para a natureza ecológica. O mesmo busca seguir um roteiro de fonte confiáveis para a destinação da informação ambiental segura para a população, assegurando uma educação ambiental de qualidade. Isso se reflete em todo o conteúdo postado nas redes sociais, criadas e mantidas pelo gestor. Para JC, a associação é muito importante para a localidade e seu “impacto é muito forte para a sociedade”. Ressaltou também a preocupação com o legado para as gerações futuras, o que é congruente com o conceito de sustentabilidade informacional, apresentado por Pinto e Geraldo (2021, n. p.).

Em relação ao desenvolvimento sustentável, JC apresenta vários aspectos em sua fala, como: “no consumo consciente em relação a preservar o meio ambiente para as futuras gerações, dando aos materiais recicláveis a destinação correta; dentro da economia circular e solidária a geração de emprego e renda digna para os catadores e catadoras inseridos no projeto”. Isso vai ao encontro do que diz Oliveira (2002OLIVEIRA, Gilson Batista de. Uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento. Revista da FAE, Curitiba, v. 5, n. 2, p. 37- 48, maio/ago., 2002. Disponível em: https://revistafae.fae.edu/revistafae/article/viewFile/477/372. Acesso em: 25 abr. 2022.
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), ao conceber o desenvolvimento sustentável enquanto transformação social, bem como o Relatório Brundtland (1987), que respalda a questão da manutenção da natureza ecológica para as presentes e futuras gerações. Nesse sentido, JC enfatiza que a “educação ambiental é o diálogo permanente com a sociedade”. Segundo JC, a dificuldade que a AGO tem é a falta de apoio quanto aos recursos para as despesas e que seria um ponto positivo as instituições públicas aderirem à compra de produtos produzidos pela associação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Respondendo ao problema de pesquisa, a informação ambiental pode ser considerada propulsora do desenvolvimento sustentável local, pois a mesma é crucial em todas as etapas do trabalho da AGO. As fontes utilizadas por eles podem ser condensadas em: palestras/treinamentos recebidos; o mecanismo de busca Google e as fontes governamentais como o MMA, o ICMBio e a ABIOVE. Para a divulgação dos conteúdos, utilizam fortemente as redes sociais, principalmente o Instagram, que inclui informações sobre meio ambiente, coleta seletiva, reciclagem, produtos e palestras sobre educação ambiental; dentre outras.

Foi possível verificar que a informação ambiental permeia todo o trabalho dos colaboradores, desde o recolhimento do lixo, passando pela confecção dos produtos e chegando à divulgação e à promoção da educação ambiental nas redes sociais. De modo geral, a informação ambiental é a norteadora para a gestão nas apresentações realizadas nas escolas, nas feiras e em outros espaços, principalmente sobre materiais reciclados e coleta seletiva. Sinaliza-se os impactos negativos do lixo nos rios, no solo, na vegetação e nas espécies; e o tempo para degradação, caso seja destinado de forma inadequada.

A AGO contribui para a preservação do ecossistema local; assim como no âmbito socioeconômico envolve catadores, comerciários e vendedores autônomos rurais. Essa dinâmica social dos catadores e das pessoas cadastradas na venda dos produtos oportuniza um tipo de renda para pessoas não ativas na economia. O aspecto da renda para os colaboradores é crucial, foi bastante realçado pelos mesmos. Inclusive trabalham com o pix solidário, caso qualquer cidadão deseje fazer a contribuição para a construção da sede e para a manutenção das atividades.

Vive-se um momento histórico em que a preocupação com o meio ambiente é uma constante mundial, e as nações estão preocupadas em construir uma agenda. Nesse sentido, ressalta-se a iniciativa da COP27/2022, evento internacional ocorrido no Egito para discutir proposições relativas aos impactos das mudanças climáticas. Vislumbra-se que, no cenário global, iniciativas locais são de grande importância, como a promovida pela AGO, a qual incentiva a população de Eunápolis a reciclar o lixo, a partir do qual novos produtos são criados. Os produtos apresentados advindos da reciclagem foram as vassouras, os vassourões, as cordas de varal e o sabão.

Outros estudos se fazem necessários sobre a importância da informação ambiental para a recuperação da natureza ecológica e também sua contribuição sobre os aspectos socioeconômicos das comunidades. Acredita-se piamente que bibliotecas e bibliotecários são fundamentais nesse processo, ao mediarem uma informação de qualidade para os colaboradores sociais. Não se encontrou neste estudo tal tipo de mediação, demonstrando aí que há um campo fértil e aberto para intervenção dos profissionais da informação em diversas cidades brasileiras.

Iniciativas locais são imprescindíveis para a recuperação e a preservação do ecossistema, as quais devem ter a parceria de vários segmentos da sociedade, principalmente da gestão pública municipal. Educação ambiental deve ser o motor do desenvolvimento social, envolvendo todas as faixas etárias e classes sociais, para que, de repente, ainda dê tempo de o planeta nos salvar, parafraseando o líder indígena, escritor e ambientalista Aylton Krenak.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a colaboração da Associação Gota do Óleo pelo trabalho encantador e pela colaboração com a pesquisa

REFERÊNCIAS

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  • PUBLISHER

    Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC . As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.
  • 1
    PINTO, Marli Dias de Souza; GERALDO, Genilson. Information Science and informational sustainability: a discipline in construction. In: LEAL FILHO, Walter (ed.); SALVIA, Amanda Lange (ed.); FRANKENBERGER, Fernanda (ed.). Handbook on teaching and learning for sustainable development. Cheltenham, UK.: Edward Elgar, 2021. 512 p. E-book.
  • 2
    Relatório Brundtland, Nosso Futuro Comum, da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1987). Apontou as incompatibilidades entre o modelo de desenvolvimento atual e a preservação do meio ambiente.
  • 3
    Sem paginação. Documento em rede.
  • 4
    https://brasil.un.org. Acesso em: 20 dez. 2021.
  • 5
    Mais de 60% em aterros sanitários e quase 40% em lixões e aterros controlados (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS, 2021, p. 21).
  • 6
    https://www.instagram.com/associacao_gota_do_oleo/. Acesso em: 30 maio. 2022. Possui também uma página no Facebook: https://www.facebook.com/AGO-Associação-Gota-do-Óleo-103897284465881. Acesso em: 05 maio 2022.

EDITORES

Edgar Bisset Alvarez, Ana Clara Cândido, Patrícia Neubert e Genilson Geraldo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    17 Jun 2022
  • Aceito
    25 Jan 2023
  • Publicado
    10 Fev 2023
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