A seção temática Educação Infantil se insere no compromisso de fomentar redes dialógicas de produção no contexto da Pós-graduação em Educação, em articulação com as questões emergentes no cenário social. Na perspectiva de mover alargamentos de redes comunicativas no campo educacional, focaliza o campo da Educação Infantil, tematizando a formação de professore(as) em articulação com as práticas pedagógicas desenvolvidas nesse campo. Resulta da colaboração de dez pesquisadoras, atuando na coordenação e/ou na produção de seis textos. Esse coletivo se organizou com proponentes de três instituições - UERJ, UFES e UNICAMP -, com participação de pesquisadoras vinculadas a instituições nacionais - UERJ, UFPA, UFPR e UNISC - e internacionais - Universitá degli studi Milano Bicocca (Milão, Itália) e Universidad Central (Santiago, Chile).
A inserção do escopo temático sobre a formação de professores(as) da Educação Infantil envolve a discussão do pertencimento da Educação Infantil ao campo da educação. Nos encaminhamentos dos sistemas nacionais de educação, observa-se uma multiplicidade de formas de encaminhar as políticas educativas para as crianças pequenas, nem sempre com pertencimento aos sistemas de ensino. As diferenças de encaminhamentos ecoam também em distinções para mobilizar a formação dos(as) professores(as) e orientar as práticas pedagógicas nos contextos institucionais. Estudos comparativos informam que no quadro mundial, observa-se uma diversidade de formas de encaminhar as políticas para a faixa etária de zero a seis anos (Rosemberg; Campos, 1994).
No contexto brasileiro, os indicadores de pertencimento ao campo da educação se fortalecem na trajetória de desenvolvimento da Educação Infantil, muito especialmente, com sua inserção nos sistemas de ensino (Brasil, 1996), dialogando expressivamente com as lutas por expansão da sua oferta, implicadas com a afirmação do direito à Educação. Nesse processo, destacamos a aprovação do último Plano Nacional de Educação com metas de expansão e indicativos para a formação de professores(as) (Brasil, 2014). Entretanto, o processo de pertencimento e inserção ao campo da educação ainda demanda muitas lutas, especialmente aquelas dedicadas a garantir os direitos das crianças de zero a três, visto que há um permanente movimento de desqualificação das creches como instituição educacional. A mesma lei que definiu metas de expansão para a Educação Infantil, estabelece como via de expansão para o 0 a 3 a "[...] oferta de matrículas gratuitas em creches certificadas como entidades beneficentes de assistência social na área de educação" (Brasil, 2014, p. 1), o que se caracteriza como, mais uma vez, o Estado formulando política pobre para pobres. Assim, focalizamos o campo da Educação Infantil, observando sua agitação ao reunir lutas sociais, alterações em legislações e iniciativas de políticas públicas que, por variados caminhos, congrega movimentos sociais, pesquisadores, legisladores, gestores e outros interessados. Com isso, move discursividades que retratam um ampliado repertório temático, distintas mensagens, vários interessados e múltiplos endereçamentos.
Nesse movimento, para circunscrever o escopo temático aqui reunido, destacamos que a integração do campo da Educação Infantil às políticas educacionais (vinda dos setores de assistência social), possibilita observar a constituição de um campo próprio nos sistemas de ensino, requerendo iniciativas de formação de profissionais em articulação com a proposição de indicativos para as práticas pedagógicas no trabalho institucional com as crianças pequenas (Brasil, 2009).
Nesse contexto, abordamos a formação como um dos temas emergentes no cenário educacional, incorrendo em mudanças na legislação do curso de formação inicial de professores(as) (Brasil, 2006). Nossa abordagem abarca discussões sobre a formação inicial e a formação continuada, no contexto do delineamento do campo profissional, implicado com as práticas pedagógicas desenvolvidas no trabalho docente com as crianças. Nessa lógica, a arquitetônica proposta foi organizada em dois eixos.
No primeiro eixo, as reflexões sobre a formação de professores(as) se dirigem à formação inicial e continuada, observando as interlocuções com as práticas pedagógicas desenvolvidas neste campo de trabalho. Neste eixo, começamos reunindo discussões sobre as formas de encaminhar a formação, com os artigos de Ofelia Reveco Vergara: Formación Continua de los Docentes de la Educación Infantil ¿cuál debe ser el debate? e de Agnese Infantino: Qual Formação no Trabalho Educativo com a Primeira Infância? Seguimos priorizando reflexões sobre a formação, destacando as práticas pedagógicas com bebês, um desafio presente no campo da formação na Educação Infantil, com o artigo de Marynelma Camargo Garanhani e Lorena de Fátima Nadolny: A Linguagem Movimento na Educação de Bebês para a Formação de Professores. Concluímos esse eixo abordando a alteridade linguageira dos encontros entre crianças pequenas e adultos, no viver junto das práticas pedagógicas na Educação Infantil, com as reflexões propostas por Sandra Regina Simonis Richter e Simone Berle: Pedagogia como Gesto Poético de Linguagem.
No segundo eixo reunimos reflexões sobre os processos de formação considerando as possibilidades de encontro das instituições de Educação Infantil e, especialmente, de seus profissionais com outros espaços educativos e formativos. Destacamos as possibilidades de trabalho conjunto das instituições educativas com o museu, com o artigo de Franca Zuccoli: Formar-se com Arte entre Museu e Pré-escola. Marcando os 50 anos do golpe militar, também destacamos o estudo sobre a Revista Criança (publicação do Ministério da Educação) como espaço educativo e formativo, evidenciando as marcas da história política do país no processo de formação dos(as) educadores(as) não diplomados(as) com o artigo de Ana Maria Orlandina Tancredi Carvalho: Formação Docente para a Educação Pré-Escolar na Época da Ditadura Militar.
Essa arquitetônica permitiu circunscrever a temática da formação em articulação com discussões sobre as práticas pedagógicas empreendidas no campo da Educação Infantil. Tocando esses temas, buscamos estimular interlocuções no campo da Educação Infantil, em dialogia com o campo da formação e da educação em geral, mas trazendo temas e abordagens ainda pouco presentes na formação universitária dos cursos de pedagogia, tais como arte, museu, linguagens, bebês e corpo. Integrando nossos engajamentos e lutas, organizamos esse dossiê também como possibilidade de mover nossos dizeres nos debates em curso, abrindo a novos(as) interlocutores(as) em tempos estranhos, no olho do furacão da chamada ideologia de gênero, pátria educadora, entre outros discursos e documentos que nos têm indignado. Convidamos a todos(as) para uma leitura inspirada nas palavras presentes em entrevista concedida por Eduardo Galeano e atribuída a manifestações populares: "Se vocês não nos deixam sonhar, nós não os deixaremos dormir" (Galeano, 2015, online)1.
Referências
- BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 jun. 2014. Seção I. P. 1.
- BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
- BRASIL. MEC/CNE. Resolução CNE/CEB nº 05, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 dez. 2009.
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BRASIL. Resolução nº 1, de 15 de maio de 2006. Disponível em: <Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf >. Acesso em: 05 jul. 2014.
» http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf -
GALEANO, Eduardo. O Mundo Está Dividido entre os Indignos e os Indignados. Envolverde: Jornalismo & Sustentabilidade, São Paulo, online, 13 abr. 2015. Disponível em: <Disponível em: http://www.envolverde.com.br/sociedade/galeano-o-mundo-esta-dividido-entre-os-indignos-e-os-indignados/ >. Acesso em: 28 ago. 2015.
» http://www.envolverde.com.br/sociedade/galeano-o-mundo-esta-dividido-entre-os-indignos-e-os-indignados/ - ROSEMBERG, Fúlvia; CAMPOS, Maria Malta. Creches e Pré-Escolas no Hemisfério Norte. São Paulo: Cortez, 1994.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Oct-Dec 2015