EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR RELACIONADA À SAÚDE: UMA REVISÃO DE ESCOPO DOS ESTUDOS NO BRASIL¹

SCHOOL PHYSICAL EDUCATION RELATED TO HEALTH: A SCOPE REVIEW ON BRAZILIAN STUDIES

EDUCACIÓN FÍSICA ESCOLAR RELACIONADA CON LA SALUD: UNA REVISIÓN DE ALCANCE DE LOS ESTUDIOS EN BRASIL

RESUMO:

Esta revisão de escopo objetivou mapear os estudos que abordam a Educação Física escolar e sua relação com a saúde no Brasil. Buscou-se por estudos em oito bases de dados eletrônicas que avaliaram as ações pedagógicas relacionadas a educação para a saúde na Educação Física escolar. O processo de seleção foi feito por pares independentes. Uma síntese temática foi adotada. De 2.157 títulos, 13 foram incluídos. Eles foram publicados entre 2007 - 2020, representam intervenções nas regiões Sul, Nordeste e Sudeste, com maior número de ações na rede pública. As estratégias de intervenção destacam o trabalho teórico-conceitual que objetiva a mudança comportamental em relação a atividade física. Também, há ações relacionadas ao protagonismo juvenil e comunitário. Destaca-se a necessidade de valorização do professor de Educação Física como mediador do processo educacional e que novos estudos considerem a relação Educação Física e saúde pelo prisma de sua complexidade, mormente, concebendo-a pelo seu caráter pedagógico.

Palavras-chave:
educação para a saúde; ensino; serviços de saúde escolar; educação física

ABSTRACT:

This scope review aimed to map the studies approaching School Physical Education and its relation with health in Brazil. We searched in eight digital databases for studies that evaluated pedagogical actions related to education for health in School Physical Education. The selection process was done through independent pairs. We adopted a thematic synthesis. From 2.157 titles, we excluded 13. They were published between 2007 - 2020, representing interventions in the South, Northeast, and Southeast regions of Brazil, with a higher number in the public educational system. The intervention strategies highlight the theoretical-conceptual work that aims a behavioral change regarding physical education. There are also actions related to youth and community protagonism. We highlight the need to value Physical Education teachers as mediators of the educational process and that new studies consider the relation Physical Education and health through its complexity, mainly perceiving it through its pedagogical character.

Keywords:
health education; teaching; school health services; physical education

RESUMEN:

Esta revisión de alcance tuvo como objetivo mapear los estudios que abordan la Educación Física escolar y su relación con la salud en Brasil. Se buscaron estudios en ocho bases de datos electrónicas que evaluaron acciones pedagógicas relacionadas con la educación para la salud en la Educación Física escolar. El proceso de selección fue realizado por pares independientes. Se adoptó una síntesis temática. De 2.157 títulos, se incluyeron 13. Fueron publicados entre 2007 - 2020, representan intervenciones en las regiones Sur, Nordeste y Sudeste Brasileras, con mayor número de acciones en la red pública. Las estrategias de intervención destacan el trabajo teórico-conceptual que tiene como objetivo el cambio de comportamiento en relación con la actividad física. También hay acciones relacionadas con el protagonismo juvenil y comunitario. Se destaca la necesidad de valorar al profesor de Educación Física como mediador del proceso educativo y que nuevos estudios consideren la relación Educación Física y salud bajo el prisma de su complejidad, especialmente, concibiéndola a través de su carácter pedagógico.

Palabras clave:
educación en salud; enseñanza; servicios de salud escolar; educación física

INTRODUÇÃO

A Educação Física (EF) é reconhecida como um componente curricular obrigatório da Educação Básica no Brasil (BRASIL, 2005). A relação deste componente com a saúde é destacada em vários documentos, políticas e programas nacionais, como a Base Curricular Comum Nacional (BNCC), o relatório “Movimento é Vida” do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Programa Saúde na Escola (PSE) e o Guia de Atividade Física para a População Brasileira (OLIVEIRA, 2023). Documentos internacionais também reconhecem a necessidade de ofertar a EF nos currículos escolares como forma de abrir caminhos para que as pessoas participem de atividades físicas ao longo da vida e que possam, de alguma forma, obter benefícios para a promoção da saúde e do bem-estar (OECD, 2019; UNESCO, 2015).

Historicamente, cabe ressaltar a relação próxima entre EF e saúde, que se entrelaçam desde sua gênese, tal qual a conhecemos, ao longo do Século XIX. Os sistemas ginásticos europeus (que deram origem à EF ocidental) eram vistos pelos especialistas da época (médicos e pedagogos) como uma prática benéfica para a saúde dos indivíduos, desde que praticada de forma sistemática. Ainda, cabe notar a presença da ciência moderna como balizadora da produção dos conhecimentos relativos à prática da ginástica. Nesse sentido, a EF se tornou um forte aparato educacional sob a égide de preparar as pessoas dentro de preceitos da ordem, da hierarquia e da saúde como responsabilidades individuais. No Brasil, Rui Barbosa advogou em favor da ginástica como componente curricular capaz de cuidar do corpo e da saúde (SOARES, 2000).

Na esteira exposta, percebe-se que a ciência biomédica, intermédio a instituição médica, teve um papel significativo na construção de uma racionalidade social, calcada na visão de um corpo biológico (SOARES, 2000). Mesmo com o avanço do Século XX, compreendendo aí alguns avanços teóricos sobre o conceito de saúde, ainda é conservada uma visão restrita e centrada na biologia e balizada na prevenção de doenças - concepção, inclusive, que se difunde nas escolas (COLLIER, 2021). Autores têm considerado que a EF não está distante desta conjuntura, ainda reproduzindo uma concepção biologizada de corpo e de saúde (MALDONADO, 2022; COLLIER, 2021). Logo, a EF acaba por expressar modos pedagógicos de educar as pessoas para uma sociedade do capital, materializando seu fazer didático para disciplinar os corpos para torna-los saudáveis os tirando da “indolência”, da “imoralidade”, da “preguiça” (SOARES, 2012).

Este pequeno vislumbre histórico, nos permite questionar: como desenvolver um trabalho pedagógico em que a saúde esteja presente sem recair na hegemonia histórica, assim, reproduzindo o modus operandis de uma pedagogia tradicional e voltada apenas para os interesses do capital? Como promover as práticas corporais e atividades físicas (PCAF) sem recair nos moldes hegemônicos que acabam por marcar os corpos com normas e condutas rígidas de comportamento? Autores vêm considerando que as Ciências Humanas e Sociais contribuem, significativamente, para a mudança dos cenários hegemônicos relacionados à saúde na EF escolar (OLIVEIRA, 2023; MALDONADO, 2022; PALMA, 2020; NUNES, 2020). O estudo de Brambilla, Kleba e Dal Magro (2020) evidencia que esses processos de ruptura com paradigmas tradicionais vai além da EF, promovendo ações de desmedicalização para o cuidado integral das pessoas assistidas pelos sistemas educacionais.

Nesse cenário, é preciso refletir como a EF escolar pode contribuir para construir uma educação para a saúde de modo a ampliar os significados atribuídos às PCAF como elementos de modos de viver e organizar a sociedade de forma saudável e sustentável. Esse processo, permeia a construção da autonomia no campo das PCAF em relação com a saúde (SANTOS; SILVA, 2019; FERREIRA, 2001). Destarte, a escola se destaca como lócus propício para o desenvolvimento da educação para a saúde. Nela, em grande parte, ocorre o primeiro contato e experiência da pessoa com as PCAF sistematizadas pedagogicamente (SILVA et al., 2021; OLIVEIRA; GOMES; BRACHT, 2014; FERREIRA, 2001).

Sobre a relação EF escolar e saúde, a abordagem de educação para a saúde (Gesundheitserziehung) destaca como pressuposto que uma ligação permanente com o campo do movimento depende de dois grandes objetivos: 1) que os alunos obtenham experiências positivas no campo do movimento; e 2) que possam construir competências relacionadas à saúde nos campos pessoal-individual, social e ecológico (OLIVEIRA; GOMES; BRACHT, 2014; KOTTMANN; KÜPPER, 1999). Essa abordagem foi utilizada em uma pesquisa como aparato na construção de projetos pedagógicos da EF escolar em uma perspectiva ampliada de saúde (OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015).

No entanto, tal abordagem ainda carece de ser amplamente difundida nas ações pedagógicas brasileiras. Isso pode ser pelo fato de que os movimentos críticos tenham se afastado da discussão da saúde pelo caráter biologicista que ela ganhou no país. Mais recentemente, temos observado uma aproximação das discussões entre a perspectiva crítica e culturalista da EF com a saúde em sua perspectiva ampliada. Esse movimento pode garantir uma profícua tematização da saúde nas aulas de EF, mediante ações pedagógicas de educação para a saúde (OLIVEIRA, 2023).

Compreendemos que as ações e projetos pedagógicos voltados à educação para a saúde podem contribuir na promoção da saúde nas escolas e estimular atitudes de cuidados para com a saúde e bem-estar das pessoas. Nesse sentido, é necessário que projetos e ações pedagógicas relacionadas à saúde sejam produzidas na escola, inclusive, utilizando-se de referenciais críticos e ampliados sobre a temática (COSTA; MACIEL; BRITO, 2021).

Cabe destacar que, ao longo de muitos anos (principalmente, depois dos anos de 1980), a pesquisa e prática em EF foram mais divulgadas em periódicos e comunicações científicas. Há estudos que discutem sobre a EF escolar e suas diferentes nuances, inclusive, em sua relação com a saúde. Apesar de vermos revisões na temática entre EF escolar e saúde (MANTOVANI; MALDONADO; FREIRE, 2021; OLIVEIRA; OLIVEIRA; ANTUNES, 2018; OLIVEIRA et al., 2017a; 2017b), nenhuma síntese sumarizou, de forma sistemática em uma ampla gama de bases de dados, informações referentes às práticas e projetos pedagógicos. Logo, a compreensão dos caminhos percorridos nesta área pode apontar algumas possibilidades de pesquisa e prática na escola brasileira que envolvam a EF escolar.

Posto isso, o objetivo da pesquisa foi mapear os estudos referentes à EF escolar relacionada à saúde no Brasil. Nesse sentido, buscou-se realizar um levantamento de evidências que apontassem projetos e práticas pedagógicas realizadas na EF escolar que tematizaram a saúde. Com isso, essa revisão pode, além de mapear, identificar e descrever evidências, auxiliar na identificação de lacunas do conhecimento e estabelecimento de uma agenda de pesquisa e intervenção que contribuam para aprimorar a pesquisa e, indiretamente, as práticas em EF escolar que interlaçam com a saúde individual e coletiva.

METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão de escopo seguindo as recomendações do Joanna Briggs Institute (PETERS et al., 2020). O checklist PRISMA-SCR - PRISMA extension for Scoping Reviews (TRICCO et al., 2018) foi seguido para a escrita do estudo. O processo foi realizado, rigorosamente, em cinco etapas: 1) identificação da questão da pesquisa; 2) identificação de estudos relevantes; 3) seleção de estudos; 4) mapeamento dos dados; e 5) agrupamento, resumo, elaboração e relato dos resultados (ARKSEY; O’MALLEY, 2005). Este estudo foi registrado na Open Science Framework: https://osf.io/4u5tv/.

Questão de pesquisa

Foi utilizada a estratégia Population (População), Concept (Conceito) e Context (Contexto) - PCC (MUNN et al., 2018). Foram definidos: População - professores de EF participantes como formuladores ou aplicadores de ações pedagógicas relacionadas à educação para a saúde; Conceito - ações pedagógicas que envolvam o contexto, o processo educativo e as ferramentas de ensino-aprendizagem relacionadas à educação para a saúde (compreendendo a saúde em suas variadas facetas: física, mental, social etc.); Contexto - EF escolar no Brasil. Estabeleceu-se como pergunta norteadora: O que os estudos evidenciam sobre as ações pedagógicas relacionadas à saúde abordadas pelos professores na EF escolar no Brasil?

Fontes de informação e estratégia de busca

As buscas foram realizadas em janeiro de 2021, em oito bases de dados/repositórios eletrônicos: SciELO, PubMed, LILACS, Google Acadêmico, Eric, SportDiscus, Scopus e PsycInfo. Foram aplicadas estratégias de busca adaptadas a cada base. Tomamos por base os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e do Medical Subject Headings (MeSH), assim como de termos encontrados na literatura em português e inglês (educação física escolar, escola, práticas pedagógicas, educação para a saúde, professores de educação física, atividade física e seus desfechos relacionados, saúde e educação, Brasil). Colocamos dois exemplos das fórmulas utilizadas para duas bases de dados nos quadros 1 e 2. Para ampliar o alcance, utilizamos os operadores boleanos (AND, OR e NOT) e símbolos de truncamento. As estratégias de busca foram baseadas no Peer Review of Electronic Search Strategies (MCGOWAN et al., 2016). Empregamos os filtros inglês, português e/ou espanhol como idiomas de publicação e estudos envolvendo seres humanos. Não foi aplicado período/ano como filtro de pesquisa. O software de gerenciamento de referências ENDNOTEWeb® (versão online) foi utilizado para operacionalizar o estudo (e exclusão de títulos duplicados).

Quadro 1
Fórmula utilizada na base de dados PubMed.

Quadro 2
Fórmula utilizada na base de dados LILACS.

Seleção dos estudos

Os estudos foram selecionados por duas avaliadoras separadamente. Na primeira fase, as avaliadoras analisaram os títulos e os resumos com potencial elegível para a revisão de acordo com o PCC. Após, uma reunião de consenso foi realizada para discutir sobre estudos potencialmente elegíveis/inelegíveis analisados na primeira fase. Quando houve discordância, um terceiro avaliador foi consultado. Na segunda fase, procedeu-se a leitura dos documentos na íntegra com a aplicação do PCC. Foram selecionados estudos com resultados relacionados às ações pedagógicas relacionadas à educação para saúde abordadas pelos professores na EF escolar.

Extração dos dados

A extração dos dados foi realizada por uma avaliadora e revisado por outra, com reuniões de consenso para discordâncias. Foi utilizado como instrumento de extração um formulário eletrônico construído em planilha do software Excel®, considerando informações sobre: autores, título, ano de publicação, objetivo primário, nome do projeto/intervenção, período de realização, local (cidade e estado), rede e nível de ensino, nível de formação do professor, nível de associação do professor (concursado, contratado), faixa etária do professor, série ou ano escolar, faixa etária ou média de idade dos escolares, número de escolas, número de alunos envolvidos, se a EF é elemento primário da intervenção, fundamentação teórico conceitual ou abordagem educacional da intervenção, objetivos da intervenção, ações metodológicas/estratégias de ensino da intervenção, estratégias utilizada na aula ou fora dela, ações interdisciplinares, ações intersetoriais, principais resultados avaliados, métodos de avaliação, principais resultados sobre a implementação, principais resultados sobre a efetividade em atividade física, outros comportamentos de saúde, saúde física, psicológica, cognitiva, social, ambiental e desempenho escolar.

Síntese dos resultados

Os resultados são apresentados no formato de síntese descritiva, com uso de tabelas, conforme as recomendações do Joanna Briggs Institute (PETERS et al., 2020). Foram elencadas todas as informações disponíveis pertinentes à temática sobre os documentos acessados nesta revisão relativos aos tipos de participantes, as estratégias utilizadas e os principais resultados avaliados. A síntese também incluiu os principais resultados referentes ao contexto e característica das publicações (ano de publicação, região em que foi feita a intervenção, tipo de estudo/projeto/ação, rede de ensino da intervenção, ação empreendida, nível de ensino e se a EF é elemento primário no estudo/intervenção), as estratégias de intervenção e ensino (tipo de aula/intervenção, objetivos/metas das intervenções, estratégias de ensino na/com a EF) e os resultados avaliados (principais resultados avaliados e principais resultados alcançados com a intervenção). Considerando o escopo das evidências sintetizadas, foi elaborado um modelo reflexivo sobre as implicações para futuras pesquisas e ações pedagógicas.

RESULTADOS

Foram identificados 2.157 artigos. Após exclusão de 383 duplicados, foram lidos os títulos e resumos de 1.774 estudos, dos quais foram excluídos 1.746. Foram lidos 30 artigos na íntegra (pois, houve o acréscimo de dois após consulta às referências bibliográficas), sendo 17 deles excluídos. Ao final, foram selecionados 13 estudos (Figura 1).

Figura 1
Fluxograma PRISMA do processo de seleção dos estudos.

O quadro 3 contém informações das publicações incluídas.

Quadro 3
Caracterização dos estudos.

Contexto e características das publicações

Elementos sobre o contexto e as características das publicações podem ser visualizados na tabela 1. Os estudos foram publicados entre 2007-2020. As regiões destacadas foram Sul (38,5%), Nordeste (30,8%) e Sudeste (23,1%), sendo que não foram identificadas intervenções nas regiões Norte e Centro-Oeste. Observa-se que há ações que se materializaram como intervenções com os escolares com enfoque de aumentar o nível de atividade física e/ou melhorar a aptidão física (SANTOS et al., 2020; GONZALES et al., 2018; OLIVEIRA et al., 2017c; SPOHR et al., 2014; BRITO; SILVA; FRANCA, 2012).

Tabela 1
Caracterização das publicações.

Publicação/Características	n (% de 13 estudos)
Ano
2007 - 2010	1 (7,7)
2011 - 2015	5 (38,5)
2016 - 2020	8 (61,5)
Região em que foi feita a intervenção (quando for o caso)
Sul	5 (38,5)
Nordeste	4 (30,8)
Sudeste	3 (23,1)
Centro-Oeste	0 (0,0)
Norte	0 (0,0)
Tipo de estudo/projeto/ação
Revisão	1 (7,7)
Intervenção com escolares	6 (46,2)
Planejamento e ação dos professores	3 (23,1)
Formação continuada com professores	1 (7,7)
Relato de experiência	2 (15,4)
Rede de ensino da intervenção (quando for o caso)
Pública	9 (69,2)
Privada	1 (7,7)
Pública e Privada	2 (15,4)
Ação empreendida
Programa	4 (30,8)
Projeto	5 (38,5)
Nível de ensino*
Ensino Fundamental I	4 (30,8)
Ensino Fundamental II	8 (61,5)
Ensino Médio	7 (53,8)
A EF é elemento primário no estudo ou na intervenção?
Sim	13 (100,0)

• *Os níveis de ensino apareceram mais de uma vez nos estudos acessados.
• Fonte: Elaborado pelos autores

A maioria das ações ocorreram na rede pública (COSTA; SOUZA; CARVALHO, 2020; SANTOS et al., 2020; SAMPAIO; NASCIMENTO, 2018; GONZALES et al., 2018; OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015; CARDOSO et al., 2014; SPOHR et al., 2014; FERREIRA; OLIVEIRA; SAMPAIO, 2013; KNUTH; AZEVEDO; RIGO, 2007). Apenas quatro artigos fizeram menção à formação dos professores (COSTA; SOUZA; CARVALHO, 2020; OLIVEIRA et al., 2017c; OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015, SPOHR et al., 2014), sendo que apenas um focou na formação continuada (OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015).

Sobre o nível de ensino, foi observado o destaque para as intervenções realizadas no Ensino Fundamental II (LOPES et al., 2020; SANTOS et al., 2020; GONZALES et al., 2018; CASTRO et al., 2016; OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015; SPOHR et al., 2014; BRITO; SILVA; FRANCA, 2012) e no Ensino Médio (GONZALES et al., 2018; SAMPAIO; NASCIMENTO, 2018; OLIVEIRA et al., 2017c; SPOHR et al., 2014; BRITO; SILVA; FRANCA, 2012; KNUTH; AZEVEDO; RIGO, 2007). A Educação Infantil não foi mencionada.

Foram observados estudos em que houve, pelo menos, um momento para capacitação/treinamento dos professores para a aplicação da intervenção (LOPES et al., 2020; SANTOS et al., 2020; GONZALES et al., 2018; OLIVEIRA et al., 2017c; CASTRO et al., 2016; CARDOSO et al., 2014; SPOHR et al., 2014; BRITO; SILVA; FRANCA, 2012). Nesse sentido, os professores eram responsáveis pelas intervenções na escola, fizeram parte da equipe ou eram sujeitos da pesquisa. Embora não tenha aparecido de forma detalhada, o professor foi considerado um importante mediador e orientador do ensino e das práticas voltadas ao desenvolvimento da temática saúde na EF escolar (COSTA; SOUZA; CARVALHO, 2020; SAMPAIO; NASCIMENTO, 2018; OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015; FERREIRA; OLIVEIRA; SAMPAIO, 2013; KNUTH; AZEVEDO; RIGO, 2007).

Estratégias de intervenção e ensino

A tabela 2 apresenta dados a respeito das estratégias de intervenção e ensino das ações.

Tabela 2
Estratégias de intervenção e ensino.

Estratégias	n (% de 13 estudos)
Tipo de aula/intervenção
Teórico-conceitual e prática	5 (38,5)
Teórico-conceitual	4 (30,8)
Prática	3 (23,1)
Objetivos/Metas das intervenções*
Aumentar ou avaliar o nível de atividade física	7 (53,8)
Mais conhecimentos sobre o estilo de vida ativo e saudável	3 (23,1)
Conhecer como atua ou percebe o tema da saúde (professores)	3 (23,1)
Desenvolver a educação alimentar	2 (15,4)
Desenvolver conceitos sobre atividade física e aptidão física	2 (15,4)
Avaliar planos de aula para intervenção (professores)	1 (7,7)
Desenvolver projetos de educação para a saúde (professores)	1 (7,7)
Estratégias de ensino na/com a EF*
Oferta das práticas corporais e atividades físicas específicas	8 (61,5)
Aulas expositivas	6 (46,2)
Leituras, pesquisas e produção de materiais	4 (30,8)
Atividades extra aula de EF e interdisciplinares	4 (30,8)
Uso de dramatizações, dinâmicas e mídias	3 (23,1)
Estudos conceituais	2 (15,4)
Aprendizagem ativa (tarefas, auto checagem, descoberta guiada)	2 (15,4)
Seminários e palestras	2 (15,4)

• *Os elementos podem ocorrer em mais de um artigo.
• EF=Educação Física.
• Fonte: Elaborado pelos autores.

Em relação às estratégias metodológicas, foi observado que os estudos evidenciaram aulas teórico-conceituais e práticas (LOPES et al., 2020; SAMPAIO; NASCIMENTO, 2018; GONZALES et al., 2018; CASTRO et al., 2016; CARDOSO et al., 2014), aulas teórico-conceituais (COSTA; SOUZA; CARVALHO, 2020; SPOHR et al., 2014; BRITO; SILVA; FRANCA, 2012; KNUTH; AZEVEDO; RIGO, 2007) e aulas práticas (SANTOS et al., 2020; OLIVEIRA et al., 2017c; OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015).

Dos objetivos, destacam-se aqueles que induzem o aumento do nível de atividade física, seguido da ampliação de conhecimentos sobre o estilo de vida ativo e saudável e do desenvolvimento da educação alimentar. Ainda, se observa a meta relacionada em que os escolares devem aprender os conceitos sobre atividade física e aptidão física (LOPES et al., 2020; SANTOS et al., 2020; GONZALES et al., 2018; OLIVEIRA et al., 2017c; CASTRO et al., 2016; CARDOSO et al., 2014; SPOHR et al., 2014; FERREIRA; OLIVEIRA; SAMPAIO, 2013; BRITO; SILVA; FRANCA, 2012).

Nas aulas teórico-conceituais, verificou-se o uso de estratégias expositivas com resolução de tarefas, leitura de textos, seminários, trabalhos individuais ou em grupo, definições e conceitos do termo saúde (CARDOSO et al., 2014; SPOHR et al., 2014). Também, foram abordados temas como alimentação saudável, atividade física, modificações no estilo e qualidade de vida, comportamento sedentário, estabelecimento de metas para mudanças de hábitos, obesidade, hipertensão e diabetes (COSTA; SOUZA; CARVALHO, 2020; LOPES et al., 2020; CASTRO et al., 2016; SPOHR et al., 2014).

O tema da saúde também foi tratado de forma transversal a partir de conteúdos considerados clássicos da EF (esportes, jogos, danças e ginásticas). Nesse sentido, foram explorados conceitualmente os exercícios aeróbicos e de velocidade, alongamento, aquecimento, força, flexibilidade, estética e padrões de beleza (SAMPAIO; NASCIMENTO, 2018; SPOHR et al., 2014; KNUTH; AZEVEDO; RIGO, 2007). Um estudo apresentou o uso de teatro, apresentação de telejornal, mimetização de tribunal, jornais e filmes como possibilidades para a abordar a saúde (KNUTH; AZEVEDO; RIGO, 2007).

Nas aulas práticas, verificou-se a realização de atividades como ginástica, brincadeiras e jogos populares, treinamento funcional, alongamento e flexibilidade, esportes, exercícios de velocidade e de força (SANTOS et al., 2020; SAMPAIO; NASCIMENTO, 2018; OLIVEIRA et al., 2017; CASTRO et al., 2016; OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015; CARDOSO et al., 2014; BRITO et al., 2012).

Das estratégias extra aulas de EF com os escolares, observamos a experiência de cultivo de hortaliças no ambiente escolar, atividades com bolas, cordas, tacos e cones durante o intervalo (LOPES et al., 2020; SANTOS et al., 2020; CASTRO et al., 2016; SPOHR et al., 2014). Houve ações de distribuição de panfletos e cartazes com informações sobre estilo de vida, atividade física e alimentação saudável pelas dependências da escola (SANTOS et al., 2020; SPOHR et al., 2014). Também, foi observado a participação de uma equipe de nutrição para avaliar o plano alimentar oferecido na escola e para o aconselhamento dos pais, incentivando-os a promover mudanças para estimular hábitos de atividade física e alimentação saudável em casa (SANTOS et al., 2020). Nas ações interdisciplinares, foram realizadas palestras com professores de outras disciplinas e pausas ativas durante as aulas envolvendo movimentos corporais simples (SANTOS et al., 2020; OLIVEIRA et al., 2017c).

Resultados avaliados

A tabela 3 apresenta os principais resultados avaliados da implementação das intervenções.

Tabela 3
Principais resultados da implementação.

Resultados em indicadores da saúde	n (% de 13 estudos)
Principais resultados avaliados*
Estratégias de ensino	4 (30,8)
Conhecimentos sobre as concepções de saúde (professores)	4 (30,8)
Conhecimentos sobre saúde e estilo de vida saudável	3 (23,1)
Resistência abdominal	3 (23,1)
Flexibilidade	3 (23,1)
Aptidão cardiorrespiratória	3 (23,1)
Nível de atividade física	3 (23,1)
Força muscular	2 (15,4)
Composição corporal	2 (15,4)
Comportamento sedentário	1 (7,7)
Satisfação dos alunos sobre as ações	1 (7,7)
Principais resultados alcançados com a intervenção*
Melhora da aptidão física relacionada à saúde	2 (15,4)
Aumento do nível de atividade física	2 (15,4)
Maior conhecimento sobre saúde e atividade física	2 (15,4)
Promover um estilo de vida mais saudável	1 (7,7)
Ampliação da concepção de saúde (professores)	1 (7,7)
Diminuição do comportamento sedentário	1 (7,7)
Melhora de hábitos alimentares saudáveis	1 (7,7)
Ampliação do entendimento de saúde nas aulas de EF	1 (7,7)

• *Os elementos podem ocorrer em mais de um artigo.
• Fonte: Elaborado pelos autores.

Nos estudos, prevalece as intervenções direcionadas à aplicação de plano de ação vinculado a um programa/projeto, cujo objetivo é avaliar o efeito da intervenção direcionada à saúde nas aulas de EF (SANTOS et al., 2020; LOPES et al., 2020; GONZALES et al., 2018; OLIVEIRA et al., 2017c; CASTRO et al., 2016; SPOHR et al., 2014; BRITO; SILVA; FRANCA, 2012). Dentre eles, foi observada a presença de artigos com o objetivo de analisar a percepção e a experiência do professor de EF acerca de sua concepção de saúde (SAMPAIO; NASCIMENTO, 2018; FERREIRA; OLIVEIRA; SAMPAIO, 2013; KNUTH; AZEVEDO; RIGO, 2007) e verificar como esse tema vem sendo desenvolvido nas aulas (COSTA; SOUZA; CARVALHO, 2020; OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015; CARDOSO et al., 2014).

Com relação aos resultados, observa-se estudos direcionados à mudanças de comportamento frente aos fatores de risco, pautados no aumento da atividade física e hábitos alimentares saudáveis, desenvolvimento da aptidão física relacionada à saúde, assim como o aumento de conhecimento em saúde dos escolares (SANTOS et al., 2020; GONZALES et al., 2018; SPOHR et al., 2014; BRITO; SILVA; FRANCA, 2012).

Observa-se o incentivo à prática da atividade física com fins voltados à aptidão física para a saúde e propostas de educação alimentar (OLIVEIRA et al., 2017c; CARDOSO et al., 2014; BRITO; SILVA; FRANCA, 2012). Quando os resultados estão relacionados aos professores, apontam a predominância de uma perspectiva restrita (biológica) no desenvolvimento da temática saúde nas aulas de EF (COSTA; SOUZA; CARVALHO, 2020; SAMPAIO; NASCIMENTO, 2018; OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015; FERREIRA; OLIVEIRA; SAMPAIO, 2013; KNUTH; AZEVEDO; RIGO, 2007).

Quanto aos estudos que apresentaram a aplicabilidade e o impacto do programa/projeto de intervenção, observa-se que a maioria das ações tiveram uma implementação conforme planejada, apresentando algumas limitações e dificuldades na promoção da atividade física e saúde no âmbito escolar. Ainda, se observa que os desfechos e os resultados da implementação das intervenções circundam as relações comportamentais da atividade física e da saúde física/motora (SAMPAIO; NASCIMENTO, 2018; CASTRO et al., 2016; CARDOSO et al., 2014). Não foram observados estudos com enfoque na saúde psicológica, socioambiental ou no desempenho escolar/saúde cognitiva.

DISCUSSÃO

A presente revisão mapeou estudos que abordaram as ações pedagógicas relacionadas a saúde na EF escolar no Brasil. Foi possível constatar a ausência de estudos que conferissem destaque para as regiões Norte e Centro-Oeste, que ainda são regiões com disparidades em programas de pós-graduação stricto sensu na área da EF. Também, se observou a presença de artigos de natureza epidemiológica, revisões e intervenções que contemplaram a abordagem entre saúde e EF escolar com enfoque biológico e com diferentes estratégias de ensino. Outros estudos de revisão, semelhantes à temática abordada aqui, também identificaram essa perspectiva hegemônica na relação EF escolar e saúde (MANTOVANI; MALDONADO; FREIRE, 2021; OLIVEIRA; OLIVEIRA; ANTUNES, 2018; OLIVEIRA et al., 2017a; 2017b).

Os programas de intervenções em saúde realizadas na EF escolar qur foram destacados nos estudos, direcionam-se, predominantemente, para ações com foco em mudanças comportamentais frente aos fatores de riscos (principalmente, os ligados ao comportamento sedentário). Também, estão pautados em hábitos alimentares saudáveis e no aumento do nível de atividade física para a melhora da aptidão física relacionada à saúde. Diante de estudos críticos, pode-se conceber que as ações desenvolvidas parecem ainda ser corroboradas pela hegemonia histórica calcada nas Ciências Biológicas e em uma racionalidade educacional para uma civilidade do capital. Neste bojo, as práticas pedagógicas visam disciplinar os corpos como objetos passíveis de se tornarem “saudáveis” (ou seja, para não se tornarem “indolentes”, “imorais” e “preguiçosos”) (SOARES, 2012).

Quando direcionados somente nesta via, há a desconsideração das determinações sociais construídas historicamente e molda-se um processo educativo centrado apenas nos agentes patogênicos. Ou seja, as ações são reduzidas a grupos de risco e mediadas pela intervenção sem considerar a história de vida dos sujeitos, o ambiente que os cercam e suas condições concretas de vida (OLIVEIRA, 2004). Em complemento, Oliveira e Souza Júnior (2021) consideram que intervenções dessa natureza se limitam por seu caráter prescritivo e descontextualizado do ambiente escolar.

Por outro lado, observamos estudos que evidenciaram boas práticas ao ampliar a perspectiva da saúde na EF escolar, inclusive, ao promover o protagonismo juvenil na organização dos conteúdos e em ações interdisciplinares (LOPES et al., 2020; SANTOS et al., 2020; OLIVEIRA et al., 2017c; CASTRO et al., 2016; OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015; CARDOSO et al., 2014; SPOHR et al., 2014; KNUTH; AZEVEDO; RIGO, 2007). Maldonado (2022) aponta que essas boas práticas tem uma íntima relação com concepções advindas das Ciências Humanas e Sociais. Em tal esteira teórico-prática, os professores podem problematizar ações pedagógicas para além da perspectiva biológica, fazendo emergir temáticas como: “padrão de beleza, conceitos ampliados de saúde e qualidade de vida, a diversidade cultural nos corpos dos sujeitos, as representações que crianças, idosos, adultos, adolescentes e pessoas com deficiência produzem ao vivenciar as práticas corporais” (MALDONADO, 2022, p. 13). O engendramento de tais ações pedagógicas permitem que os alunos compreendam tais temáticas em sua complexidade sistêmica e provisória (MALDONADO, 2022).

Buscando ampliar a discussão, Oliveira et al. (2017a, p. 104) consideram que, ao tratar pedagogicamente os saberes das PCAF, é possível reconhecer que essas “[...] transitam entre instâncias de ordem individual/biológica, mas também coletiva e pública, que se entrelaçam e se complementam mutuamente”. Nessa perspectiva, a saúde na EF escolar ganha nova envergadura considerando a integralidade dos sujeitos (OLIVEIRA; OLIVEIRA; ANTUNES, 2018). Tais processos, podem contribuir para a escola como um todo como uma centelha para medidas de desmedicalização da educação e da vida (BRAMBILLA; KLEBA; DAL MAGRO, 2020).

Exemplificando o que foi dito no último parágrafo, vemos o relato de experiência de Oliveira e Souza Júnior (2021) com alunos do Ensino Médio, em que o tema da saúde foi estabelecido tangenciando o trato simultâneo entre as esferas individual/biológica, pública/coletiva e os conteúdos da EF, cujo tema gerador foi a ginástica. A ação pedagógica, evidenciando questões de ordem biofisiológica, também ampliou as perspectivas dos alunos possibilitando a eles compreenderem como as determinações sociais construídas historicamente podem influenciar suas escolhas e possibilidades de movimento.

A partir do exemplo citado acima, e considerando a função social da EF escolar que medeia a apropriação das PCAF produzidas historicamente (OLIVEIRA; OLIVEIRA; ANTUNES, 2018), vemos a figura do professor. Esse, juntamente com a comunidade escolar, constitui-se um importante mediador e orientador do ensino, aqui especificamente, do tema da saúde (OLIVEIRA, 2023; BRASIL, 2021; SILVA et al., 2021).

Porém, grande parte dos professores observados nos estudos apresentaram um conhecimento restrito do conceito de saúde (individual e biológico). O estudo de Oliveira e Gomes (2021) pode nos dar algumas pistas para explicar esse fenômeno. Os autores apontam para uma presença mínima de discussões relacionadas à saúde ou à saúde ampliada (no bojo das Ciências Humanas e Sociais ou da Saúde Coletiva) nos cursos de formação de professores em EF - por se considerar que esse tema não caberia ao licenciado, mas, ao bacharel em EF (OLIVEIRA; GOMES, 2021).

Logo, essa presença mínima pode estar gerando tal compreensão restrita, já que a maior discussão relacionada à saúde nos cursos de graduação acaba ocorrendo em disciplinas de cunho biológico como, por exemplo, Anatomia, Biologia, Fisiologia etc. Diante disso, é mister que as concepções ampliadas de saúde façam parte dos cursos de formação de professores de EF, de maneira que criem condições para o tensionamento das perspectivas hegemônicas ainda presentes na área.

Além da formação inicial, vemos a necessidade do estabelecimento de formação continuada para os professores (SILVA et al., 2021). Em uma formação orientada na perspectiva crítica, foi observado que os professores puderam ampliar suas compreensões em relação ao trato pedagógico da saúde na EF escolar. Foi fator preponderante o fato de a intervenção não ser apenas um plano exógeno advindo de fora da escola, mas construída pelos próprios sujeitos que viviam aquele contexto (OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015).

O estudo possibilita compreender que a saúde em uma perspectiva restrita, baseada somente em aspectos físicos e comportamentais, torna-se uma barreira para o desenvolvimento de ações pedagógicas de educação para saúde em uma perspectiva ampliada e que considere a integralidade das pessoas nos planos pessoal-individual, social e ecológico (OLIVEIRA; GOMES; BRACHT, 2014; KOTTMANN; KÜPPER, 1999). Fomentar a produção de práticas e projetos de saúde na EF escolar em uma perspectiva ampliada se faz necessário uma vez que, atualmente, temos políticas públicas que fomentam essa relação, como o Programa Saúde na Escola (PSE) (BRASIL, 2011) e o Guia Brasileiro de Atividade Física e Saúde (BRASIL, 2021) - que, inclusive, destaca-se por ter um capítulo específico para a EF escolar (SILVA et al., 2021).

Ainda mais, compreendemos que há estudos que tomam o enfoque no relato científico (dos desfechos e resultados de uma intervenção) e “deixam de lado” as estratégias pedagógicas que são os meios - e que acabam não sendo detalhadas ou relatadas. Logo, observamos a necessidade de a comunidade científica da área se colocar mais aberta aos relatos de experiência para que essas ações pedagógicas ganhem notoriedade e possam ser disseminadas, assim, promovendo/inspirando boas práticas ou práticas inovadoras. Nesse sentido, é necessário construir espaços para acesso aos relatos do cotidiano, de modo que a comunidade profissional e científica possa reconhecer, refletir e ressignificar estas experiências nos contextos de trabalho.

Implicações para futuras pesquisas e ações pedagógicas

Com base nos elementos observados em nosso estudo, as seguintes implicações podem ser consideradas para futuras investigações e para justificar a importância de ações pedagógicas relacionadas à saúde na EF escolar:

1. Os estudos originais precisam considerar (ou, pelo menos, deixar de forma mais explícita) os elementos das determinações sociais da saúde para ampliar o enfoque das intervenções para além da perspectiva comportamental e biológica.

2. São necessários mais estudos focados na implementação e no protagonismo da comunidade escolar (por exemplo, que adotem metodologias de pesquisa-ação), para que os professores de EF e demais membros da comunidade escolar sejam protagonistas da construção dos saberes didático-pedagógicos relacionados a uma perspectiva ampliada de saúde. Isso garante que os projetos futuros não sejam exógenos aos contextos escolares, pensados por pessoas “de fora” e (apenas) aplicados pelos professores.

3. São necessários estudos que ampliem a avaliação das dimensões da saúde em suas complexidades social, ambiental e psicológica, para garantir uma expressão mais integral do desenvolvimento humano.

Possibilidades e limitações do estudo

Este estudo indica como possibilidades ter buscado evidências da EF escolar brasileira acerca das ações pedagógicas relacionadas à saúde. Conforme a metodologia aplicada, os resultados nos auxiliam a perceber como vem se dando as intervenções e ações pedagógicas vinculadas ao tema da saúde na EF escolar. Isso nos leva a considerar as estratégias utilizadas e observar possibilidades para avançar no ensino da EF escolar voltada aos conteúdos e conhecimentos em saúde.

Nossa pesquisa se restringe a um recorte de estudos desenvolvidos no Brasil. Portanto, a interpretação dos achados tem esta limitação territorial. Também, a revisão de escopo não visa avaliar a qualidade metodológica dos textos, considerando apenas os seus conteúdos e conceitos (o que poderia ser observado em outros tipos de revisão mais rigorosas quanto à metodologia). Nesse sentido, a inclusão dos estudos não se delimitou na qualidade ou na eficácia das intervenções. Apesar de termos feito uma busca em oito bases de dados de ampla abrangência, é possível que ainda existem estudos que tenham ficado de fora por não se encontrarem nessas bases de dados pesquisadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta revisão permite considerarmos que os estudos brasileiros que abordam sobre EF escolar e saúde ainda vem tendo um enfoque biológico e comportamental, e que os estudos em perspectivas ampliadas ainda são incipientes (pelo menos, nas bases consultadas). Consideramos que, além da necessidade do aumento de ações pedagógicas e projetos em uma perspectiva ampliada de saúde, é preciso destacar que a EF faz parte de uma escola que deve mobilizar todos os seus agentes para fomentar os modos de viver saudáveis e sustentáveis construídos coletivamente na pluralidade de possibilidades de se viver bem (inclusive, na luta por melhores condições de vida e bem-estar). Destacamos a necessidade da valorização do professor de EF como mediador do processo pedagógico. Indicamos que novos estudos sejam produzidos considerando a relação EF e saúde pelo prisma de sua complexidade contemplando os fatores sociais, históricos, culturais, econômicos, psicológicos etc. Ainda, ressaltamos a necessidade de que essa relação seja concebida pelo seu caráter pedagógico.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

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  Artigo publicado com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq/Brasil para os serviços de edição, diagramação e conversão de XML.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  05 Jul 2024
• Data do Fascículo
  2024

Histórico

• Recebido
  01 Jul 2023
• Aceito
  18 Mar 2024
• Preprint postado em
  21 Abr 2022
  10.1590/SciELOPreprints.4002