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PLANTAR, TRADUZIR, MINERAR: ANÍSIO TEIXEIRA (1935-1947)1 1 Artigo publicado com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq/Brasil para os serviços de edição, diagramação e conversão de XML.

PLANTAR, TRADUCIR, MINAR: ANÍSIO TEIXEIRA (1935-1947)

RESUMO:

Tomamos Anísio Teixeira como um hub, a partir do qual almejamos desenhar a configuração de redes, enlaçando sujeitos e instituições. Elegemos o período entre 1935 e 1947, esmiuçando o trabalho editorial que realizou para Companhia Editora Nacional (CEN), a partir da documentação do acervo da editora, depositado no Centro de Memória e Pesquisa Histórica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); bem como os documentos sobre a breve passagem de Anísio pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), entre 15 de julho de 1946 e 15 de fevereiro de 1947, existentes no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC-FGV) e no Unesco Archives. O texto está estruturado em duas partes: na primeira parte, ressaltamos a atuação de Anísio junto à CEN; na segunda, o foco se desloca para sua trajetória na Unesco. Em ambas, é a trama móvel das redes que conduz a escrita, guiada por uma argumentação alicerçada na história transnacional da educação. É importante realçar que ao endereçarmos a reflexão para a perspectiva transnacional, não estamos descurando do espaço nacional, nem colocando o Brasil na posição periférica com respeito a um suposto centro difusor de saber. Ao contrário, pretendemos reconfigurar o território a partir das experiências dos sujeitos, das trocas estabelecidas, problematizando o confinamento das fronteiras físicas na organização do campo educacional, em uma época marcada pela disseminação de governos autoritários, guerra e esforço de reconstrução em escala mundial.

Palavras-chave:
Unesco; Companhia Editora Nacional; Biblioteca do Espírito Moderno; História Transnacional da Educação e Teoria das redes

RESUMEN:

Tomamos a Anísio Teixeira como hub, desde donde pretendemos diseñar la configuración de redes, vinculando sujetos e instituciones. Nosotros elegimos el período comprendido entre 1935 y 1947, escudriñando la labor editorial que realizó para la Compañía Editora Nacional (CEN), a partir de documentación del fondo de la editorial, depositada en el Centro de Memoria e Investigaciones Históricas de la UNIFESP; así como documentos sobre la breve estancia de Anísio en la Unesco, entre el 15/07/ 1946 y el 15/03/1947, existentes en el CPDOC-FGV y en el Archivo de la Unesco. El texto se estructura en dos partes: en la primera parte destacamos el trabajo de Anísio en la CEN; en el segundo, la atención se centra en su carrera en la Unesco. En ambas, es la red móvil de redes la que impulsa la escritura, guiada por un argumento basado en la historia transnacional de la educación. Es importante resaltar que cuando dirigimos la reflexión a una perspectiva transnacional, no estamos descuidando el espacio nacional, ni colocando a Brasil en una posición periférica respecto de un supuesto centro difusor de conocimientos. Por el contrario, pretendemos reconfigurar el territorio a partir de las experiencias de los sujetos, de los intercambios establecidos, problematizando el confinamiento de las fronteras físicas en la organización del campo educativo, en una época marcada por la expansión de gobiernos autoritarios, la guerra y los esfuerzos de reconstrucción a escala mundial.

Palabras clave:
Unesco; Companhia Editora Nacional; Biblioteca do Espírito Moderno; Historia Transnacional de la Educación; Teoría de redes

ABSTRACT:

We take Anísio Teixeira as a hub, from which we aim to design the configuration of networks, linking subjects and institutions. We choose the period from 1935 to 1947, scrutinizing the editorial work he carried out for Companhia Editora Nacional (CEN), based on documentation from the publisher’s collection at the Center for Memory and Historical Research of the History of UNIFESP; as well as documents about Anísio’s brief stay at UNESCO, form July 15, 1946 to February 15, 1947, existing at CPDOC-FGV and at the UNESCO Archives. The text is structured in two: in the first part, we highlight Anísio's work in CEN: in the second one, the focus shifts to his career at UNESCO. In both, it is the mobile web of networks that drives the writing, guided by an argument based on the transnational history of education. It is important to highlight that when we address the reflection to a transnational perspective, we are not neglecting the national space, nor placing Brazil in a peripheral position with respect to a supposed center that disseminates knowledge. On the contrary, we intend to reconfigure the territory based on the experiences of the subjects, the exchanges established, problematizing the confinement of physical borders in the organization of the educational field, in a time marked by the spread of authoritarian governments, war and reconstruction efforts on a global scale.

Keywords:
UNESCO; Companhia Editora Nacional; Biblioteca do Espírito Moderno; Transnational History of Education; Network theory

INTRODUÇÃO

A produção biográfica sobre Anísio Teixeira é substantiva2 2 Cf., entre outros, GOUVEIA NETO, 1973; GERIBELLO, 1977; LIMA, 1978; FERRO, 1984; SCHAEFFER, 1988; VIANA FILHO, 1990; ROCHA, 1992; NUNES, 2000, 2010; CURY, 2000; BRANDÃO; MENDONÇA, 2008. e bastante compreensiva sobre sua atuação como político educacional e filósofo da educação. No entanto, a despeito da diversidade com que retraçam a trajetória do educador, podemos identificar uma dupla lacuna.

A primeira tem cunho factual e refere-se ao interstício entre 1935 e 1947. Por certo, os(as) autores(as) remetem ao autoexílio de Anísio na Bahia, quando, após passagem pela Argentina, retorna a Ituaçu para dedicar-se à tradução de livros e, nos anos seguintes, aos negócios familiares, alternando entre Caetité e Salvador na condução, junto com os irmãos Jaime e Nelson, da Sociedade Importadora e Exportadora (Simel), empresa de exportação de minérios e importadora de locomotivas e material ferroviário. Os(as) biógrafos(as) também concedem destaque ao convite, feito por Julian Huxley para Teixeira tornar-se Conselheiro para educação na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1946. No entanto, não passam de breves menções em uma narrativa cujo foco central é a participação do educador no cenário político educativo nacional antes e depois desses anos.

A segunda lacuna é de natureza historiográfica e prima pelo que Martin Lawn (2014LAWN, Martin. Um conhecimento complexo: o historiador da educação e as circulações transfronteiriças. Revista Brasileira de História da Educação, v. 14, n. 1, p. 127-144, 2014.) denomina nacionalismo metodológico. Não se pode negar que sejam feitas referências às viagens ao exterior, como à Europa em 1925, ou aos Estados Unidos (EUA), em 1927; que especial destaque confira-se ao recebimento do título de Master of Arts, pelo Teacher’s College da Columbia University (TC/UC), após dois anos de estudo entre 1928 e 1929; e ao período passado como Conselheiro na Unesco, entre 1946 e 1947; ou mesmo que se realce sua passagem como professor de universidades americanas na década de 1960. Os episódios emergem como elementos da vida profissional de Anísio e interessam na medida em que informam sobre a constituição do pensamento do educador e reiteram a posição de relevo internacional que angariou, legitimando sua importância para a educação brasileira. O trânsito internacional de Teixeira não aparece, portanto, no âmbito de uma história transnacional da educação, em que o circuito das redes oferece indícios para a percepção dos modos como foi se configurando a arena educativa, entretecendo iniciativas nacionais e internacionais em mútua fertilização.

É esse panorama que almejamos traçar neste artigo. Não pretendemos uma imersão biográfica. Diferentemente, propomos tomar Anísio como um hub, a partir do qual, almejamos desenhar a configuração de redes, enlaçando sujeitos e instituições. Na teoria das redes, hubs são “nós atrativos”, que apresentam potencial disseminador de tendências e informações, com contatos pessoais numerosos e capacidade de influência nas ligações. Podem tanto designar indivíduos, quanto grupos, corporações ou qualquer tipo de coletivo (BARABÁSI, 2003BARABÁSI, Albert-László, Linked: how everything is connected to everything else and what it means for business, science, and everyday life. New York: Plume, 2003.). Mas na dinâmica das redes, também, o que se considera por hub pode se apresentar apenas como um nó, no deslocamento da perspectiva de análise. Assim, alternando entre a posição como nó ou como hub, Anísio Teixeira catalisa nosso olhar na compreensão das interconexões do campo educacional.

Analisamos o período entre 1935 e 1947, esmiuçando o trabalho editorial que realizou em particular para Companhia Editora Nacional (CEN), nas cartas trocadas entre editores, nos livros traduzidos e nos procedimentos de tradução, a partir da documentação do acervo da editora, depositado no Centro de Memória e Pesquisa Histórica da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp (TOLEDO, 2013TOLEDO, Maria Rita de A. Coleções autorais, tradução e circulação: ensaios sobre a geografia cultural da edição (1930-1980). 2013. Dissertação (Livre-Docência) - Universiade Federal de São Paulo, Guarulhos, 2013.). As fontes incluem os documentos sobre a breve passagem de Anísio pela Unesco, entre 15 de julho de 1946 e 15 de fevereiro de 1947, existentes no CPDOC-FGV e no Unesco Archives (Fundo Preparatory Commission for Unesco (Prep.Com), 1945-1946, e Dossiê Pessoal Anísio Teixeira (DPAT)).

Para tanto, o texto está estruturado em duas partes: na primeira parte, ressaltamos a atuação de Anísio junto à CEN; na segunda, o foco se desloca para sua trajetória na Unesco. Em ambas, é a trama móvel das redes que conduz a escrita, guiada por uma argumentação alicerçada na história transnacional da educação. Ressaltamos que ao endereçarmos a reflexão para a perspectiva transnacional, não estamos descurando do espaço nacional, nem colocando o Brasil na posição periférica com respeito a um suposto centro difusor de saber. Ao contrário, propomos, como sugere Doreen Massey (2008MASSEY, Doreen B. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.), reconfigurar o território a partir das experiências dos sujeitos e de suas trocas, problematizando o confinamento das fronteiras físicas na organização do campo educacional, em uma época marcada pela disseminação de governos autoritários, guerra e esforço de reconstrução em escala mundial.

AS REDES DE EDIÇÃO: SOCIABILIDADES E PROGRAMAS DE LEITURA

Um dos lugares de poder a partir do qual pode-se formar os nós de uma rede extensa, com tramas nacionais e internacionais, é o das grandes editoras. Articuladoras de autores, textos, tradutores, instituições produtoras, difusoras ou financiadoras de culturas transnacionais, as editoras constituem um campo (simbólico, econômico, político) no qual se distribuem lugares de emissão, circulação e recepção do que foi produzido em termos de cultura letrada. Esses lugares, nem sempre contínuos ou sem acidentes, são organizados segundo regimes discursivos que classificam, definem e distribuem saberes, segundo sua localização em uma geografia cultural configurada pelas diferentes estratégias editoriais, sempre em disputa (TOLEDO, 2013TOLEDO, Maria Rita de A. Coleções autorais, tradução e circulação: ensaios sobre a geografia cultural da edição (1930-1980). 2013. Dissertação (Livre-Docência) - Universiade Federal de São Paulo, Guarulhos, 2013.). Como “mestre” da geografia cultural da edição, o editor desenha projetos, se adianta ao mercado, criando uma variedade de produtos em territórios em constituição, assim como perscruta o público cativo, canoniza autores e obras, retroalimentando territórios já estabelecidos (TOLEDO, 2013TOLEDO, Maria Rita de A. Coleções autorais, tradução e circulação: ensaios sobre a geografia cultural da edição (1930-1980). 2013. Dissertação (Livre-Docência) - Universiade Federal de São Paulo, Guarulhos, 2013.). Os seus catálogos são verdadeiros mapas das geografias culturais que instituem no tempo.

Se de um lado a geografia cultural da edição é fruto das escolhas do editor, de outro, depende de um certo acúmulo de capital social que as práticas editoriais devem ser capazes de mobilizar: a oferta de textos por autores renomados ou novos autores; o acesso a linhas de apoio das instituições culturais; a liberação de direitos de tradução em disputa, as indicações de tradutores ou ilustradores, o acesso a diferentes gráficas e a produtores de papéis, entre outras situações, são exemplos das redes que os editores constituem ao longo da existências de seu selo. São as diversas relações sociais que permitem às editoras transitar pelos espaços da produção do livro e constituir políticas editoriais específicas para seu catálogo. O lugar de editor é o da intersecção das redes de produção capitalista da cultura escrita; é o de instituidor de redes simbólicas de autores e mediadores culturais de diferentes campos do saber. Essa condição foi amplamente mobilizada por Monteiro Lobato e por Octalles Marcondes Ferreira - donos da CEN3 3 Ver, por exemplo, a carta enviada por Lobato a Fernando de Azevedo, apresentando Anísio Teixeira (FRAIZ; VIANNA, 1986, p. 8). .

Entre as principais estratégias para assegurar a oferta de textos e autores a públicos visados e difundir pelos diferentes territórios da geografia cultural que promove aquilo que produz, os editores convidam renomados intelectuais para organizar coleções de livros dentro de suas especialidades. O gênero “coleção” marcou o estilo de desenvolvimento dos negócios de muitas editoras internacionais (como a Hachette, Presses Universitaires de France) e brasileiras, como a CEN ou a Cia. Melhoramentos. Esse gênero editorial tem como pressuposto a padronização da materialidade dos livros, assim como do estabelecimento de uma ordem dos livros - de uma fórmula editorial - voltada para públicos visados: livros para a infância; para divulgação científica; para moças; para intelectuais etc. A coleção, desde seu nome, dá a ver a prescrição de seus leitores e de seus usos. Nesse sentido, inscreve-se materialmente como mercadoria flexível, que permite sua adequação às condições do mercado, seja para conquistar novos leitores, seja para ampliar o consumo do público contumaz. Às coleções podem se associar figuras conhecidas nos campos de saber ou de entretenimento para os quais estão destinadas. Os organizadores de coleção - sobretudo das coleções autorais - convidam escritores, selecionam manuscritos, mobilizam conhecimentos de outras coleções sobre assuntos e públicos análogos, reorganizam os textos adicionando paratextos ou adaptando a parafernália tipográfica às formas de sua recepção. As coleções são afeitas a projetos educativos, de difusão literária; de renovação da cultura. Por isso mesmo, são também lugares de engajamento de grupos culturais ou movimentos políticos: dependem de redes de sociabilidades e de difusão de representações particulares (TOLEDO, 2020TOLEDO, Maria Rita de A. Coleção Atualidades Pedagógicas: do projeto político ao projeto editorial (1931 a 1981). São Paulo: Edusp, 2020.).

Esse lugar de poder foi rapidamente observado pelos “renovadores da educação” que se associaram a grandes editoras para publicar linhas editoriais que difundissem autores e textos considerados fundamentais para a nova educação do Brasil. Lourenço Filho e Fernando de Azevedo, por exemplo, se associaram a grandes editoras paulistas para colocar no mercado seus projetos editoriais e suas redes de autores, além de escolher e traduzir textos referenciais do movimento internacional da Escola Nova. Assim, as grandes editoras e suas coleções autorais de educação aliaram as redes nacionais às internacionais para fazer circular a produção de novos saberes educacionais e dos nomes referenciais que passaram a autorizar as práticas e discursos. Exemplar é a participação de Anísio Teixeira na publicação do volume 12 (1930) - “Vida e Educação de John Dewey” - na Biblioteca de Educação, dirigida por Lourenço Filho. O editor convida Teixeira para escolher, traduzir e realizar um estudo de introdução dos textos de Dewey para o público brasileiro. Em contrapartida, Teixeira faz a negociação da liberação dos direitos de tradução dos textos, mobilizando suas relações com os professores da Universidade de Columbia, sobretudo Suzzallo, construídas durante sua estada naquela instituição em 1927 (TOLEDO e CARVALHO, 2017TOLEDO, Maria Rita de A.; CARVALHO, Marta. A tradução de John Dewey na coleção autoral Biblioteca da Educação. Educação & Sociedade, v. 38, n. 141, 2017. DOI: 10.1590/ES0101-73302017157307.
https://doi.org/10.1590/ES0101-733020171...
).

Pode-se dizer que, em relação à coleção de Fernando de Azevedo - na CEN - o papel de Teixeira foi central. Na condição de Diretor da Instrução Pública/Departamento de Educação do Distrito Federal (DF) (1931-1935), Teixeira participou da Coleção Atualidades Pedagógicas como autor, tradutor e revisor. Seu nome sai em vários volumes da Coleção. A Atualidades Pedagógicas edita o grupo de professores da Universidade de Columbia das relações de Teixeira, como Paul Monroe4 4 Em carta a Nelson Teixeira, de 1929, Anísio comenta que tomaria chá com Paul Monroe, uma das figuras principais da História da Educação/Educação Comparada da Columbia University. (TEIXEIRA, A. 1929). , I.L. Kandel e Dewey. No entanto, essa não foi a única forma de sua participação na editora de Marcondes Ferreira. Teixeira teve papel central nos vários negócios que a CEN fez com a Prefeitura do Distrito Federal e com o grupo político da militância educacional. A CEN publica em livro a Reconstrução Educacional no Brasil: ao povo e ao governo. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova5 5 Ver a correspondência na qual Ferreira explica que cada autor do Manifesto deve pagar 50$000 para receber dez exemplares. Carta de Octalles Marcondes Ferreira a Anísio Teixeira de 22/12/1932). Arquivo Anísio Texeira/CPDOC AT1928.04.27. Na citada correspondência está a carta de Teixeira - como Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal - acertando com a CEN a edição do Boletim de Instrução Pública do DF (Carta de Anísio Teixeira a Octalles Marcondes Ferreira,15/03/1932). Arquivo Anísio Texeira/CPDOC AT 1928.04.27. , logo em março de 1932, financiado pelos signatários do documento. Também publica os livros que difundiam os Programas da Escola Primária produzidos pela gestão Teixeira do DF. O mesmo Departamento adquiriu livros infantis e livros para professores da editora para suas bibliotecas institucionais, além de fornecer, como mencionado, para a Coleção de Azevedo autores e textos vinculados à reforma (TOLEDO, 2020TOLEDO, Maria Rita de A. Coleção Atualidades Pedagógicas: do projeto político ao projeto editorial (1931 a 1981). São Paulo: Edusp, 2020.; VIDAL, 2000VIDAL, Diana. Na batalha da educação: correspondência entre Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo (1929-1971). Bragança Paulista: EDUSF, 2000.).

A CEN se transforma em um dos lugares em que ocorrem os encontros e onde projetos culturais vão se gestar. Com a projeção que a própria editora adquire nos anos 1930, com seu sucesso comercial e com seu renome de fomentadora da cultura, transforma seus postos de direção de coleção em lugares de prestígio intelectual e simbólico: produzir um programa editorial significava interferir no universo de publicação de autores e títulos impondo, de certo modo, suas representações sobre o que seria fundamental para a cultura e para o leitor, prescrevendo temas, abordagens, problemas etc. Esse prestígio se materializava nas formas contratuais com as quais a editora trabalhava6 6 Azevedo, por exemplo, recebia, para dirigir a Biblioteca Pedagógica Brasileira, salário mensal além de uma porcentagem fixa sobre cada título editado (Companhia Editora Nacional - Contrato de 14 /12/1930 CMPH Coleção CEN). .

A CEN incorporou toda uma rede de intelectuais com afinidades políticas e culturais e fez circular suas representações nas coleções e livros que editou. Se no início da editora Monteiro Lobato é o epicentro dessa rede, fazendo as intermediações entre os “irmãos” e Octalles, apresentando-os e pedindo para que o sócio os publique ou lhes dê guarida na casa editora; os “irmãos” passam a se movimentar, angariando novas conexões e ampliando o alcance da ação editorial da CEN. Por exemplo, Hermes Lima é apresentado por Teixeira a Lobato em 19317 7 Ver Carta de Teixeira a Lobato de 8 de julho de 1931 (FRAIZ; VIANNA, 1986, p. 62). . Lima é logo incorporado à editora, organizando uma coleção: a Biblioteca de Cultura Jurídica e Social. A Editora reforça os laços de solidariedade entre os sujeitos da irmandade, inclusive nos momentos de crise, transformando-se em porto seguro para os que dela precisassem.

O próprio Teixeira sonhava com uma coleção que apresentasse a nova mentalidade “moderna” para o brasileiro. Em carta a Lobato dava contornos do que pretendia reunir como coleção: “Sonhei aqui com o Octalles - o grande - o humilde - educador - nacional - o sonho de ir trabalhar com você. Primeiro trabalho: a história de hoje. Encontrei no Wells todo o material: work, wealth and happiness of mankind. Quando poderemos fazer isto?” (FRAIZ; VIANNA, 1986FRAIZ, Priscila; VIANNA, Aurélio(org.). Conversa entre amigos: correspondência escolhida entre Anísio Teixeira e Monteiro Lobato. Salvador/Rio de Janeiro: Fundação do Estado da Bahia/FGV/CPDOC, 1986., p. 72).

Nessa direção, a atividade de editor, para os próprios intelectuais do período, é avaliada como um hub importante em suas carreiras: era atividade privada, independente de marés políticas; e lugar de prestígio e articulação de nomes, textos e distribuição de capital (financeiro e cultural).

A vida no sertão do país da ociosidade

Lembro-me de quando te vi no Rio de Janeiro, traqué pela polícia, escondido pelos amigos como um grande criminoso - e naquela ocasião também chorei. To whom the bells toll? Todos estávamos implemente perseguidos, foragidos, escondidos com você, enquanto lá fora o tumor Vargas sorria com o charuto e entregava a Cultura Brasileira aos percevejos da Coisa Romana. (FRAIZ; VIANNA, 1986FRAIZ, Priscila; VIANNA, Aurélio(org.). Conversa entre amigos: correspondência escolhida entre Anísio Teixeira e Monteiro Lobato. Salvador/Rio de Janeiro: Fundação do Estado da Bahia/FGV/CPDOC, 1986., p. 101).

De Buenos Aires, Lobato relembra a terrível forma como Teixeira deixou o Departamento de Educação do DF para se esconder de seus algozes em Ituaçu e Caetité. O conflito que desencadeou a demissão de Teixeira é bem conhecido: logo após a Intentona Comunista (novembro de 1935), foi acusado de ser responsável pelo comunismo na Prefeitura do DF e de americanizar a educação da cidade, sendo sua prisão exigida por alguns (NUNES, 2000NUNES, Clarice, Anísio Teixeira: a poesia da ação. Bragança Paulista: EDUSF, 2000., p. 488). Nessas condições, foi para Buenos Aires e depois para São Paulo, aguardando os desenlaces da reação de repressão do Estado (SÁ MOTTA, 2002SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. A ´Intentona Comunista´ ou a construção de uma legenda negra. Tempo, v. 7, n. 13, p. 189-207, 2002.).

No final de abril, Teixeira confirmou a Azevedo que ocuparia espaço na CEN, dada a falta de condições de se recolocar no serviço público: “Isso porém, não me impedirá de me fixar, por enquanto, em São Paulo, para tentar ganhar a vida embora com trabalho particular. O nosso bom Octalles promete prover-me do necessário para cobrir o mínimo mensal de Despesas” (VIDAL, 2000VIDAL, Diana. Na batalha da educação: correspondência entre Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo (1929-1971). Bragança Paulista: EDUSF, 2000., p. 34). O trabalho na editora começava imediatamente: para Nelson, em carta de 16/01/1936, avisava que já havia traduzido um livro de Dewey e começara outro de Wells, História Universal, “que deveria levar bom tempo para finalizar”. Contudo, o que aparece da editora ainda eram “praticamente as traduções” (TEIXEIRA, N. 1936TEIXEIRA, Nelson. [Correspondência]. Destinatário: Anísio Teixeira. 16 jan. 1936. 1 carta. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&hf=www18.fgv.br&pagfis=469 . Acesso em: 19 ago. 2023
https://docvirt.com/docreader.net/DocRea...
).

Em meados de 1936, denúncias e possibilidades de prisão ressurgiram e a polícia ainda era uma ameaça a Teixeira, de modo que desistiu de São Paulo e foi para a Bahi (TEIXEIRA, A. 1937TEIXEIRA, Nelson.[Correspondência] Destinatário: Anísio Teixeira. 24 abr. 1937. 1 carta. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&hf=www18.fgv.br&pagfis=485. Acesso em: 19 ago. 2023
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). A partir de 1937, passou a conjugar a vida de sertanejo com a de tradutor da CEN: “Você conhece a vida sertaneja”, escreveu a Nelson, “A nossa atividade rural é uma promessa de renda para daqui alguns anos. Porque enquanto não nos deu, só ficam as traduções que não dão senão muito pouco” (TEIXEIRA, A. 1937TEIXEIRA, Nelson.[Correspondência] Destinatário: Anísio Teixeira. 24 abr. 1937. 1 carta. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&hf=www18.fgv.br&pagfis=485. Acesso em: 19 ago. 2023
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). À espera do algodão, as dívidas se acumulavam. Por isso, Teixeira contava bastante com o suporte de Ferreira: “O Octalles, entretanto, tem-se posto inteiramente à minha disposição, na sua generosidade de amigo. Assim, caso V. precise de alguma importância, como acho que precisa, é só me telegrafar para que eu te mande entregar a importância”(TEIXEIRA, A. 1937TEIXEIRA, Nelson.[Correspondência] Destinatário: Anísio Teixeira. 24 abr. 1937. 1 carta. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&hf=www18.fgv.br&pagfis=485. Acesso em: 19 ago. 2023
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). Em 1938, a questão financeira pesava sobre Teixeira, sobretudo, pelas dívidas que havia adquirido quando ainda era Secretário da Educação. Mais uma vez escreveu a Nelson discutindo a questão: “A minha situação é a seguinte: estou a traduzir The Work, Wealth and Happiness of Mankind de Wells e associado com o Peres e o Altino em um negócio de bois com a Faz. Reunidas. Comprei fiado, de modo que isso adia a minha necessidade de capital pelo menos até fevereiro” (TEIXEIRA, A. 1938TEIXEIRA, Anísio.. [Correspondência]. Destinatário: Nelson Teixeira. 9 ago. 1938. Disponível em:https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&hf=www18.fgv.br&pagfis=551.
https://docvirt.com/docreader.net/DocRea...
).

Uma coleção para Wellsificar o Brasil8 8 A BEM durou até a década de 1980, com variações quanto a sua direção. Consultar FONSECA, 2010.

No ano de 1938, paralelamente à vida de sertanejo, Anísio lançou a Biblioteca do Espírito Moderno (BEM), pela CEN, sob sua direção.

Há poucas provas das razões pelas quais a BEM foi tão adiada por Ferreira, já que, como veremos, havia sido projetada pela irmandade desde 1936. No entanto, é possível inferir que a complexa situação do DF, no final de 1936, tenha incidido de modo avassalador sobre a editora, que havia dado suporte e difundido a Reforma educacional de Anísio Teixeira. Em 19 de março de 1936, Ferreira recebeu uma carta enviada por sua filial do Rio de Janeiro - A Editora Civilização Brasileira. Na carta, o “sapo” relata o golpe que a CEN estava sofrendo por parte de Lourenço Filho:

Otalles,

Complementando nossa palestra do telefone, junto a esta remeto o artigo9 9 O Diário da Noite lançou no dia 16 de março de 1936 artigo contra o livro Geografia de D. Benta. (PROPAGANDA, 1936). que deu origem aos acontecimentos de ontem. É verdade que Chateaubriand se aproveitou de uma situação, em que vejo tomarem parte o petróleo, a necessidade de Ministro de Educação afastar o Fernando, como também interesse da Companhia Melhoramentos e do Lourenço Filho.

Sabe você que o Lourenço Filho dirige a Biblioteca Pedagógica da Melhoramentos, e como é amigo do Ministro e do Padre Elder Câmara, aliado aos dois, fazendo portanto a política da Igreja e contra a obra do Anísio, atirou em cima de nós a Melhoramentos.

Desconfiado com o seu aviso de que nós deveríamos nos aproximar do Ministro (...) desenvolvi um trabalho de sapo sobre o modo de pensar de Lourenço Filho relativamente aos livros de Lobato.

Pessoas de minha confiança, que são elementos do magistério, onde dispõe de situação de relevo, revelaram-me que o livro “Geografia de D. Benta” foi criticado e entregue ao Ministro por Lourenço. (...)

Ao mesmo tempo que isto sucedia, a título de ser necessário rever os programas para organiza-los sobre novos moldes. Está aqui o grande golpe contra nós. Para lançar a confusão, o Lourenço fez crer que esses programas tinham tendências bolchevistas. (Carta da Civilização Brasileira a Marcondes Ferreira, 19/03/1936CEN - COMPANHIA EDITORA NACIONAL. Catálogo da Biblioteca do Espírito Moderno, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1943. CMPH, Coleção Companhia Editora Nacional, UNIFESP., pasta 23 - Biblioteca Monteiro Lobato - grifos originais).

A denúncia expunha a disputa político-editorial estabelecida entre a CEN e a Melhoramentos, implicada nos serviços a serem prestados ao Estado, nos projetos educacionais e, sobretudo, pelas redes de relação e intrigas que permitiam o avanço da hegemonização das posições da Igreja Católica naquele momento de crise.

Possivelmente, a pressão política sobre a CEN congelou o plano de edição da BEM por pelo menos dois anos. De todo modo, suas linhas editoriais foram constituídas desde 1936. A retomada da proposta teria sido desencadeada pelas necessidades financeiras do próprio Teixeira - premido pelas dívidas - e pela dependência de seu editor.

Para se compreender esse projeto é preciso retomar o ano de 1936 e os planos paulistas de Teixeira. Como indicamos, Anísio relatou a Lobato o convite recebido por Ferreira para visitar a CEN:

Depois de um mês de espichamento em Santos, estou como estivesse nascido novo. (...) E então sonhei com aquele velho sonho da coleção de livros fundamentais. Com uma modificação. A toleima brasileira, que só “reflete” telegramas e brochuras, está a pensar que só há, no mundo, os hospitais alemães e o sanatório russo para cura da humanidade. Ora é necessário mostrar-lhes que há gente sã em 4/5 da terra e gente saníssima em uns países anglo-saxônicos e nórdicos. E que essa gente é sã porque se nutre bem. E que a nutrição intelectual é tão precisa quanto a material. Quando não há nutrição intelectual é indispensável logo depois dietas especiais - e temos Itália e Alemanha e Rússia... Ora, a nutrição de hoje é o pensamento elaborado à vista do avanço das ciências e da democracia... A coleção seria, pois, de alimentos dessa espécie. Coleção de civilização contemporânea. Para dizer os corolários da ciência e da democracia (FRAIZ; VIANNA, 1986FRAIZ, Priscila; VIANNA, Aurélio(org.). Conversa entre amigos: correspondência escolhida entre Anísio Teixeira e Monteiro Lobato. Salvador/Rio de Janeiro: Fundação do Estado da Bahia/FGV/CPDOC, 1986., p. 73).

Completou a proposta indicando como esse tipo de território editorial estaria na mira da Editora:

Começar por Wells e pelos geniais “exorcistas” contemporâneos e, de vez em quando, para mostrar a continuidade com a floresta do pensamento humano, um jequitibá secular - Montaigne, Platão etc. Que acha você? Uma coleção para a supernutrição do Brasil. Não será de nutrição que realmente o país precisa? E não está 200% de acordo com a política da Companhia? (FRAIZ; VIANNA, 1986FRAIZ, Priscila; VIANNA, Aurélio(org.). Conversa entre amigos: correspondência escolhida entre Anísio Teixeira e Monteiro Lobato. Salvador/Rio de Janeiro: Fundação do Estado da Bahia/FGV/CPDOC, 1986., p. 73)

Como último argumento comparou sua proposta à coleção de Azevedo - Biblioteca Pedagógica Brasileira (BPB):

A coleção de F.A. é muito interessante, mas meio doméstica, sem horizonte internacional. Seria necessária uma coleção em que a pedagogia fosse capítulo e não um título. Pedagogia é bobagem se não for toda a cultura humana. (...) Falei com Afrânio e ele está de acordo. (FRAIZ; VIANNA, 1986FRAIZ, Priscila; VIANNA, Aurélio(org.). Conversa entre amigos: correspondência escolhida entre Anísio Teixeira e Monteiro Lobato. Salvador/Rio de Janeiro: Fundação do Estado da Bahia/FGV/CPDOC, 1986., p. 73).

A estratégia mobilizada por Teixeira fomentava a ideia de que o lugar internacional da nova coleção seria trunfo para o sucesso do empreendimento e de sedução do diretor da CEN. De um lado, se afastava da política daqueles dias violentos; de outro, trabalhava com as traduções - sempre um bom negócio para a editora (TOLEDO, 2020TOLEDO, Maria Rita de A. Coleção Atualidades Pedagógicas: do projeto político ao projeto editorial (1931 a 1981). São Paulo: Edusp, 2020.). Nessa representação, uma bibliografia internacional permitiria a prática de difusão de novas bases culturais para o enfrentamento de um governo reacionário, descrito por Lobato, em 1932, como:

O governo que ensine o povo o que quiser; a religião, idem. Nós, do alto da nossa Education-City, servida por todas as máquinas existentes e as que hão de vir, pairaremos sobre o país qual uma nuvem de luz. Um corpo de cérebros, dirigido por você, prepara; multiplicadora, dissemina. (...)A nossa educação cairá como chuva de neve sobre o país, sem saber e sem querer saber aonde os flocos irão pousar (FRAIZ; VIANNA, 1986FRAIZ, Priscila; VIANNA, Aurélio(org.). Conversa entre amigos: correspondência escolhida entre Anísio Teixeira e Monteiro Lobato. Salvador/Rio de Janeiro: Fundação do Estado da Bahia/FGV/CPDOC, 1986., p. 69).

O projeto de wellsificação10 10 O termo inventado por nós refere-se a Herbert George Wells (1866-1946), romancista, jornalista, visionário científico e enciclopedista britânico. Seu pensamento busca uma síntese do evolucionismo, do pragmatismo e de vários tipos de socialismo. Segundo Elzinga, Wells procurou participar das principais discussões internacionais que sucederam a Primeira Guerra Mundial. Embora Wells fosse um crítico da Liga das Nações, defendeu a ideia de unificação mundial como única alternativa a um conflito devastador (ELZINGA, 2004, p. 138, nota 4). do Brasil, apesar de emergir da derrota sofrida por Teixeira no DF, fomentaria a atualização do país com a modernização de sua cultura e do espírito universal tão propugnado por H. G. Wells.

A nova Biblioteca começaria com os textos de Wells já traduzidos por Teixeira e por Lobato, entre 1936 e 1938. A certeza da dupla era a da necessidade de wellsificação daqueles tempos sombrios. Em carta a Lobato, Teixeira contou seus dias, reafirmando essa necessidade:

Aqui também faz frio (850m de altitude), mas não faz barulho como lá. E aquela lãzinha11 11 Teixeira se refere à lã do sobretudo caramelo que usava em New York. é moderna e inquieta e toda se encrespa com a prolongada monotonia do país da ociosidade (...) Consolam-na meus livros: Vivo em ter Dewey, Russel, Wells e Lobato. E fazem-lhe bem esses homens de amanhã. Vivo com eles mergulhados no futuro. Muitos têm saudades do passado, nós, eu e a lã, temos saudades do futuro. É uma sensação esquisita e muito mais eufórica. O The shape of things to come, de Wells, é um dos meus manuais, a continuação do Outline, com o mesmo método, a mesma exatidão penetrante, até o ano de 2106. O último acontecimento registrado é o do novo ano de 2106. Não sei se você leu. Não é mais utopia, é o real do Outline of the future. Tive ganas de traduzí-lo. E ainda o farei, de tal modo o livro “resultou”... Nada conheço de mais convincente, de mais persuasivo, de mais fulminante contra as estupidezas atuais e de mais inspirador para esperanças do futuro. (VIANNA; FRAIZ, 1986FRAIZ, Priscila; VIANNA, Aurélio(org.). Conversa entre amigos: correspondência escolhida entre Anísio Teixeira e Monteiro Lobato. Salvador/Rio de Janeiro: Fundação do Estado da Bahia/FGV/CPDOC, 1986., p. 81).

Para Fonseca (2010FONSECA, Silvia Asam da. A coleção Bibliotheca do Espírito Moderno: um projeto para alimentar espíritos da Companhia Editora Nacional (1938-1977). 2010. Dissertação (Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010.), o projeto inicial da coleção articulava educação, ciência e democracia, de modo a engendrar na cultura sua modernização e garantir os antídotos contra os regimes totalitários que se estabeleciam nos anos 1930. Esses três pontos seriam estrategicamente articulados pelo gênero editorial da difusão científica - seja pela literatura de ficção, seja pela difusão das biografias de grandes cientistas -, da circulação de conhecimentos sobre a cultura universal e pela difusão de valores pacifistas. Essas eram as bases fundamentais da pedagogia wellsiana (ELZINGA, 2004ELZINGA, Aant. A Unesco e a política de cooperação internacional no campo da ciências. In: MAIO, Marcos Chor. Ciência, política e relações internacionais: ensaios sobre Paulo Carneiro. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Unesco, 2004. p. 308-321. DOI: 10.7476/9788575415092.0013. Acesso em: 19 ago. 2023..
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). A coleção poderia propiciar ao seu leitor, na conjunção de títulos sobre educação, ciência e democracia, as condições para a reflexão: reflexão apoiada no conhecimento do mundo.

O texto de apresentação da coleção indicava esse tipo de programa de leitura:

O NOSSO TEMPO marcado pelo singular tumulto mental que lhe acentua o caráter de transição e mudança, é por isso mesmo um dos mais assinalados períodos de reconstrução intelectual e moral da história. Apesar da falta de perspectiva em que nos achamos para julgar das suas grandes realizações científicas, literárias e artísticas, algumas das obras modernas vêm obtendo do público consagrações que importam na imortalidade. A inaudita difusão cultural do mundo de hoje permite desses milagres que os antigos não conheciam. A BIBLIOTECA DO ESPÍRITO MODERNO visa coordenar para o leitor brasileiro, dentre as obras consagradas pela aceitação pública, aquelas que mais diretamente buscam condensar, esclarecer e popularizar a herança cultural da espécie, tornando-a realmente e sem perda de nenhum dos finos e raros valores que sempre a caracterizaram quando não passava de legado atribuído a privilegiados eruditos, a herança comum e por todos partilhada (CEN, 1943CEN - COMPANHIA EDITORA NACIONAL. Catálogo da Biblioteca do Espírito Moderno, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1943. CMPH, Coleção Companhia Editora Nacional, UNIFESP., p. 1).

Como ponto de partida, o reconhecimento da caótica situação do mundo e dos tempos contemporâneos: características da atualidade que poderiam ser dirimidas justamente com o conhecimento científico e literário, contidos não tanto nas instituições de cada país mas na miríade das obras forjadas pela difusão cultural mundial. O próprio espírito moderno seria fruto dessa herança cultural da espécie compartilhada: destacando-se aí a universalidade dessa herança em oposição a superioridade de raças ou nações. Ter um espírito moderno, como vaticinava Wells (de Teixeira e Lobato) era ser portador da herança comum, era partilhar a universalidade da ciência, da educação e da democracia.

A descrição do plano continua:

Além disso, incluirá a biblioteca documentos biográficos que nos familiarizem com os grandes homens e as grandes mulheres que souberam fazer de suas vidas um espetáculo de beleza ou de altura e, por esse modo, contribuíram para tornar a vida mais significativa e a civilização humana mais digna (CEN, 1943CEN - COMPANHIA EDITORA NACIONAL. Catálogo da Biblioteca do Espírito Moderno, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1943. CMPH, Coleção Companhia Editora Nacional, UNIFESP., p. 1).

Por fim, o plano da BEM destaca o artífice da estratégia de sintonização do leitor brasileiro com o leitor mundial.

A COMPANHIA EDITORA NACIONAL, tomando a si a grande responsabilidade de editar a BIBLIOTHECA DO ESPÍRITO MODERNO, foi buscar, para orientá-la e dirigi-la o grande educador brasileiro ANÍSIO TEIXEIRA, espírito dos mais ilustres da nossa época e tão justamente talhado para assumir a direcção de uma biblioteca de tamanha finalidade. Biblioteca de civilização e cultura, os leitores terão em seus volumes o mais rico documentário com que se poderá tentar compreender e acompanhar o longo esforço do pensamento humano para embelezar, enriquecer e dirigir a vida (CEN, 1943CEN - COMPANHIA EDITORA NACIONAL. Catálogo da Biblioteca do Espírito Moderno, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1943. CMPH, Coleção Companhia Editora Nacional, UNIFESP., p. 1).

Para Fonseca (2010FONSECA, Silvia Asam da. A coleção Bibliotheca do Espírito Moderno: um projeto para alimentar espíritos da Companhia Editora Nacional (1938-1977). 2010. Dissertação (Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010., p. 38-39), não é possível ignorar o significado da escolha do nome BEM, levando-se em consideração quem era seu organizador. Retomando o trabalho de Vidal (2005VIDAL, Diana. Anísio Teixeira, professor de professoras: um estudo sobre modelos de professor e práticas docentes (Rio de Janeiro, 1932-1935).Revista Diálogo Educacional(PUCPR), v. 5, p. 293-314, 2005. , p. 9), Fonseca lembra que em 1934, no Instituto de Educação, o termo “educação e espírito moderno” encimava uma lista de dez temas do curso oferecido por Teixeira na escola. O curso tinha como objetivo demonstrar a preocupação de relacionar a educação ao mundo moderno, às ciências e à compreensão da sociedade com as bases filosóficas da educação; e ainda usava o termo “experiência” para relacionar educação e o mundo vivido, experimentado. “De que adianta escola se não for para reconstruir a vida humana em bases melhores?” (FONSECA, 2010FONSECA, Silvia Asam da. A coleção Bibliotheca do Espírito Moderno: um projeto para alimentar espíritos da Companhia Editora Nacional (1938-1977). 2010. Dissertação (Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010., p. 39).

A BEM foi composta por quatro séries, organizadas por gêneros editoriais: 1ª filosofia; 2ª ciências; 3ª história e biografias; e 4ª literatura. Optou-se no seu programa editorial pelas traduções de textos “de excelente qualidade”, sobretudo, do inglês, complementados por um ou outro do francês. Os autores eram originários dos Estados Unidos e Inglaterra, mas havia também a presença de franceses, em especial de André Maurois, Charles Seignobos e Jacques Maritain (FONSECA, 2010FONSECA, Silvia Asam da. A coleção Bibliotheca do Espírito Moderno: um projeto para alimentar espíritos da Companhia Editora Nacional (1938-1977). 2010. Dissertação (Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010., p. 37). O programa de leitura contou com pouquíssimos títulos nacionais, marcando sua posição de biblioteca do mundo.

A rede constituída pelas relações entre diretor de coleção e autores espraiava-se para um duplo território: os autores internacionais, comercializados pelos grandes editores ingleses, estadunidenses e franceses; e o território doméstico de tradutores12 12 Foram tradutores da BEM alguns dos perseguidos políticos do regime de Vargas como o próprio Teixeira, Lobato e Edgar Sussekind de Mendonça. Também trabalharam na coleção Nelson Teixeira, Godofredo Rangel, Afrânio Coutinho, Edson Carneiro, entre outros. . Anísio (e Lobato) usaram a coleção como galeria subterrânea para manter o projeto de modernização do espírito brasileiro, procurando, estrategicamente, elevá-lo à condição do espírito moderno mundial. Mobilizaram seu autor predileto, Wells, transformando o que achavam ser sua pedagogia em modelo de leitura e formação da sociedade de leitores médios brasileiros13 13 Fonseca descreve as representações contemporâneas dos editores sobre o que concebiam como território do público de leitores médios. Ver os capítulos 1 e 2 de sua tese (FONSECA, 2010). . Esse modelo contava com a publicação de Will Durant, Bertrand Russell, Charles Seignobos, Julian Huxley e H. G. Wells da série História Universal.

Pode-se dizer que a BEM foi marcada pelo ideal internacionalista wellsiano, bastante difundido desde o fim da I Guerra Mundial. Para Elzinga (2004ELZINGA, Aant. A Unesco e a política de cooperação internacional no campo da ciências. In: MAIO, Marcos Chor. Ciência, política e relações internacionais: ensaios sobre Paulo Carneiro. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Unesco, 2004. p. 308-321. DOI: 10.7476/9788575415092.0013. Acesso em: 19 ago. 2023..
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), a perspectiva de Wells, sobretudo em relação a um mundo menos beligerante - construído a partir da cooperação científica e cultural internacionalista - circulava entre cientistas britânicos (e anglo-saxões) desde, pelo menos, o final da I Guerra Mundial. Assim, a ciência seria um “produto comum do gênero humano” e o “conhecimento científico seria um bem público que existiria para o benefício de toda a humanidade” (ELZINGA, 2004ELZINGA, Aant. A Unesco e a política de cooperação internacional no campo da ciências. In: MAIO, Marcos Chor. Ciência, política e relações internacionais: ensaios sobre Paulo Carneiro. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Unesco, 2004. p. 308-321. DOI: 10.7476/9788575415092.0013. Acesso em: 19 ago. 2023..
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, p. 91). Ser diretor dessa coleção colocava Teixeira na mesma sintonia de outros cientistas do período, como por exemplo, Julian Huxley e Paulo Carneiro. Essa sintonia seria fundamental para o convite recebido por Teixeira para a Unesco.

No final de 1941, Teixeira deixou a direção da coleção, apesar de, nos anos que seguiram, a maioria dos títulos editados terem sido escolhidos e negociados por ele (FONSECA, 2010FONSECA, Silvia Asam da. A coleção Bibliotheca do Espírito Moderno: um projeto para alimentar espíritos da Companhia Editora Nacional (1938-1977). 2010. Dissertação (Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010., p. 70). Com um tom lamentoso, despediu-se do que havia sido seu ofício (parcial) nos anos anteriores:

Caríssimo Lobato,

Desde que o deixei em São Paulo, depois de um convívio de oito dias - que soube o que significou para mim - entrei numa fase desconcertante... Nunca senti tanto a falta de meus amigos. Deve ter notado que a minha visita foi uma visita para concluir o desligamento que se vinha fazendo a despeito de minha vontade, pela força das circunstâncias e pelo propósito obscuro que nasce de nós de obedecer às contingências. Quando saltei na Bahia, senti que você e o Otalles e o Fernando estavam muito mais distantes de mim do antes. Não sei participar sem tomar responsabilidade. E o fato de não poder mais toma-la perante vocês, lançou-me num constrangimento que explica meu silêncio (VIANNA; FRAIZ, 1986FRAIZ, Priscila; VIANNA, Aurélio(org.). Conversa entre amigos: correspondência escolhida entre Anísio Teixeira e Monteiro Lobato. Salvador/Rio de Janeiro: Fundação do Estado da Bahia/FGV/CPDOC, 1986., p. 89).14 14 Teixeira replica essa mesma mensagem para Azevedo (VIDAL, 2000, p. 52).

A partir daí, Teixeira se engajou na Simel, abandonando, segundo ele mesmo, a vida intelectual (VIDAL, 2000VIDAL, Diana. Na batalha da educação: correspondência entre Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo (1929-1971). Bragança Paulista: EDUSF, 2000., p. 53). Segundo Lima, a II Guerra beneficiou os negócios da empresa e Teixeira fez algum dinheiro (LIMA, 1978LIMA, Hermes, Anísio Teixeira: estadista da educação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978., p. 142). Com o fim do conflito armado, novas oportunidades na arena educacional surgiram para Anísio.

A ATUAÇÃO NA UNESCO

Tal qual as editoras, as organizações, e no nosso caso as organizações internacionais, se constituem como hubs. Estruturam-se a partir da constituição de redes e estabelecem princípios de governabilidade, assentados em um conjunto de valores, metas, intenções e sociabilidades. Seu estudo permite escapar de análises baseadas na relação centro-periferia, estimulando a abordagem transnacional, na medida em que atraem sujeitos de várias partes do mundo e visam produzir efeitos que transcendem as fronteiras nacionais. Nesse sentido, estimulam o foco na participação dos atores, conduzindo a interpretações que entretecem micro e macroanálises, convidando a explorar percursos, viagens e intercâmbios.

Para Fuchs (2007FUCHS, Eckhardt. Networks and the History of Education. Paedagogica Historica, v.43, n.2, p. 185-197, 2007., p. 187), as redes consistem em relações condensadas e intensas em um determinado espaço, cuja compreensão demanda atentar para “o significado, a forma, e a duração da sua existência, bem como [para] a intensidade, frequência, equilíbrio, proeminência e rapidez dos contatos, trocas e transferências”.15 15 No original, “the meaning, the shape, and the duration of its existence as well as the intensity, frequency, balance, prominence and speed of contacts, exchanges and transfers”. As correspondências são uma das fontes privilegiadas que servem de guia para transitar no cipoal das relações e acontecimentos que unem Teixeira e a Unesco.

O convite para integrar a Unesco veio em carta, escrita por Julian Huxley em Nova Iorque, de 12 de junho de 1946HUXLEY, Julian. [Correspondência]. Destinatário: Anísio Teixeira. New York, 12 jun. 1946. 1 carta. Disponível em:Disponível em:http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/Visita_Guiada/p5a212.htm . Acesso em: 14 ago. 2023..
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(HUXLEY, 1946HUXLEY, Julian. [Correspondência]. Destinatário: Anísio Teixeira. New York, 12 jun. 1946. 1 carta. Disponível em:Disponível em:http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/Visita_Guiada/p5a212.htm . Acesso em: 14 ago. 2023..
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)16 16 Tanto a documentação do Unesco Archives Fund Preparatory Commission for Unesco (Prep.Com) 1945-1946, quanto a do dossiê pessoal Anísio Teixeira não estão organizadas. Portanto, as referências usadas aqui serão apenas Prep.Com. ou DPAT, caso se refiram, respectivamente, à Comissão Preparatória ou ao Dossiê Pessoal Anísio Teixeira. . Apesar de Anísio estar nessa cidade naquele dia, Huxley partiu para Londres e o encontro presencial foi adiado. Por meio da missiva, sabemos que, na condição de Secretário Executivo da Comissão Preparatória da Unesco, Huxley chamava Teixeira para, na qualidade de Conselheiro em Educação, auxiliar a Seção de Educação a preparar o relatório ou a agenda da Primeira Conferência da Unesco, a se realizar em novembro, em Paris. O contrato seria temporário (de 1º. de julho ao final do ano), sendo o primeiro mês probatório. Anísio trabalharia sob a chefia de Kuo Yu-Shou, recebendo um salário anual de 1.500 libras, acrescido de um auxílio residência de 1,10 libras por dia17 17 De acordo com a Revista do Empresário, (TAXAS, 1947), a cotação da libra oscilou entre Cr$ 77,33 (em 3 de janeiro) a Cr$ 74,555 (em 31 de dezembro). No mesmo período, o dólar oscilou entre Cr$ 19,60 e Cr$ 18,50. Implica dizer que a proposta era de em torno de Cr$ 55.000,00 para 6 meses, acrescido de aproximadamente Cr$ 83,00 por dia, algo por volta de Cr$ 11.700,00/mês. Só para base de comparação, segundo o Decreto-lei 5.977 de 10 de novembro de 1943 (BRASIL, 1943), ficava instituído no Brasil, por um período de 3 anos, o valor mensal de Cr$ 380,00 para o salário mínimo. Ou seja, o contrato correspondia a uma percepção mensal equivalente a 30 salários mínimos. .

No dia seguinte, Anísio respondeu por telegrama, expressando sua perplexidade, prontidão para servir a Unesco sob a liderança de Huxley e surpresa pelo convite, pedindo alguns dias para considerar a proposta, a que aceitou em missiva datada de 19 de junho. Teixeira assumiu a Unesco no dia 15 de julho. Dificuldades com a compra de passagens, bem como com a autorização da viagem e visto, o que levou Howard Wilson, secretário executivo assistente, a contatar o embaixador do Brasil em Londres, George Álvares Maciel, para pedir agilidade ao Departamento de Passaportes no Rio de Janeiro, retardaram a chegada a Londres e a instalação em seu gabinete na Belgrave Square, nr. 46-4718 18 A mudança dos escritórios da Unesco para Paris ocorreu em 16 de setembro, sendo o staff instalado no Hotel Majestic, situado à Av. Kléber, nr. 19. . Em 22 de julho de 1946, Anísio, em papel timbrado da Unesco e assinando como Conselheiro da Seção de Educação, reiterava a Huxley o aceite da oferta (DPAT).

Nas redes de relações... novamente o educador

Quais caminhos teriam sido percorridos para que Huxley chegasse a cogitar o nome de Teixeira? Na carta convite, ele afirmava que “Todos tinham me assegurado que você seria a melhor pessoa possível que poderíamos obter da América Latina para a Seção de Educação”19 19 No original: “Everyone has assured me that you would be the best possible person we could obtain from Latin America for the Education Section” (Prep.Com., tradução nossa). . A quem ele se referia? Em cópia carbono de um possível telegrama de Huxley a [Howard] Wilson, lia-se “nenhum fundamento para a sugestão de Filho ou Dantas. STOP Único brasileiro contactado ou desejado é Teixeira. STOP Muito ansioso para obtê-lo” (DPAT)20 20 No original: “No foundation whatever for suggestion de Filho or Dantas. STOP Only Brazilian approached or desired is Teixeira. STOP Most anxious to obtain him.” . A referência a Filho parece remeter a Lourenço Filho. Mais incerta é a menção a Dantas. Poderia talvez designar Francisco Clementino San Tiago Dantas, que à época lecionava na Faculdade de Direito de Paris, na condição de professor conferencista21 21 Sobre a trajetória de San Tiago Dantas, ver (DANTAS, 2009). .

Cinco anos antes, em 1941, o livro Os fenômenos da vida, de Julian Huxley fora publicado na Biblioteca do Espírito Moderno, da CEN, com tradução de Octávio Domingues. No entanto, o interesse não parecia derivar de relações comerciais tecidas com o curador da coleção, mas de uma rede de intelectuais da qual ambos poderiam fazer parte.

Para mapear essa rede, o primeiro fio a puxar é o próprio Huxley. Nascido em Londres, em 1887, dedicou-se à Biologia, recebendo o título de doutor em ciências pela Universidade de Oxford. Sua trajetória profissional enlaça passagens pela Alemanha, EUA, Congo Belga e União Soviética. Trabalhou no Rice Institute, Texas (1912-1916); New College of Oxford (1919-1925); King’s College (1925-1927); e Royal Institution (1927-1931). Em 1927 e 1929, afastou-se da vida acadêmica para escrever com G. P. e H. G. Wells, os três volumes de The Science of Life, publicados originalmente em 1931, 1934 e 1937 por Waverley Publishing Company Ltd. A partir de 1931, abandonou a universidade e dedicou-se à escrita de livros, sendo eleito fellow da Royal Society em 1938. Durante a Segunda Grande Guerra, fez parte do Brain Trust da Corporação Britânica de Radiodifusão (MAUREL, 2012MAUREL, Chloé. Huxley, Sir Julian Sorell. In: REINALDA, B.; KILLE, Kent J.; EISENBERG, Jaci L. (ed.). Biographical Dictionary of Secretaries General of International Organizations. Nijmegen: Radboud University, 2012. Disponível em: www.ru.nl/fm/iobio. Acesso em: 16 ago. 2023..).

No outono de 1941, recebeu um convite da Rockefeller Foundation para realizar palestras nos EUA. Além da visita a universidades, a proposta envolvia discorrer sobre como a Inglaterra continuava a fazer negócios em tempos de conflito armado. A estadia, que deveria ser de 6 semanas, prolongou-se até maio de 1942, em virtude do ataque dos japoneses a Pearl Harbor e o consequente ingresso dos EUA no conflito armado. Com isso, Huxley permaneceu mais tempo do que o previsto em Nova Iorque (HUXLEY, 1970HUXLEY, Julian. Memories. New York, Evanston, San Francisco, London: Harper & Row Publishers, 1970. Disponível em:Disponível em:https://archive.org/details/memories00huxl/page/n11/mode/2up . Acesso em 16 ago. 2023.
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, p. 256-261).

Neste breve relato, a conexão mais imediata que surge entre Teixeira e Huxley é a do escritor britânico H. G. Wells. No projeto de wellsificar o Brasil, a BEM publicou nada menos que seis volumes de sua autoria: História universal (Três tomos) (1939); História do futuro (1939); O destino da espécie humana (1941); e A construção do mundo (1943). O destino da espécie humana e História do futuro foram traduzidos por Lobato. Mas foi Anísio quem verteu ao português História Universal e A construção do mundo. Um indício da proximidade entre Wells, Huxley e Teixeira emerge em carta de Anísio a George Counts, na qual comenta ter estado em Londres em 1946, por ocasião do falecimento de Wells (13 de agosto de 1946); e ouvir de um amigo comum sobre o estado de desesperação do escritor britânico nos últimos meses de vida (TEIXEIRA, A. 1960TEIXEIRA, Anísio.. [Correspondência]. Destinatário: George Counts. Rio de Janeiro, 1 jul. 1960. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&hf=www18.fgv.br&pagfis=9410 . Acesso em: 14 ago. 2023.
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). Por certo, a essa época Teixeira já estava a serviço da Unesco, mas a remissão a um amigo comum suscita entrelaçar esses três personagens em nossa narrativa.

Outro aspecto que parece significativo é o fato da viagem feita aos EUA em 1941 ter sido realizada a convite da Rockefeller Foundation e da permanência em Nova Iorque haver se prolongado além do esperado. Nos dois casos, favorecia-se o contato com a Universidade de Columbia. Se bem que nesse trecho das memórias, Huxley não tenha assinalado nenhuma ida à universidade, não se pode deixar de mencionar as amizades que ali tinha feito quando de sua ligação com o Rice Institute, entre 1912 e 1916 (HUXLEY, 1970HUXLEY, Julian. Memories. New York, Evanston, San Francisco, London: Harper & Row Publishers, 1970. Disponível em:Disponível em:https://archive.org/details/memories00huxl/page/n11/mode/2up . Acesso em 16 ago. 2023.
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, p. 90 e 95). Tampouco se pode minimizar a importância da Rockefeller Foundation no suporte ao International Institute do Teacher’s College, de 1923 a 1938, e à circulação de estudantes estrangeiros na instituição (CREMIN; SHANNON; TOWNSEND, 1954CREMIN, Lawrence; SHANNON, David A.; TOWNSEND, Mary Evelyn. A history of Teachers College Columbia University. Nova Iorque: Columbia University Press, 1954.). Nem se pode olvidar que Anísio frequentou o TC/UC entre 1928 e 1929. As conexões ficam aqui mais fluídas, mas indiciam a circulação de Huxley e Teixeira em uma mesma comunidade acadêmica, em um lapso temporal de 30 anos.

Voltar aos títulos da BEM pode oferecer outras pistas para identificação dessa rede internacional. Dois elementos autorizam o percurso. O primeiro é relativo ao próprio objetivo do empreendimento editorial. Em carta a Lobato, mencionada anteriormente, Anísio distinguia a sua nova iniciativa daquela levada a cabo por Azevedo, considerada “muito interessante, mas meio doméstica, sem horizonte internacional” (FRAIZ; VIANNA, 1986FRAIZ, Priscila; VIANNA, Aurélio(org.). Conversa entre amigos: correspondência escolhida entre Anísio Teixeira e Monteiro Lobato. Salvador/Rio de Janeiro: Fundação do Estado da Bahia/FGV/CPDOC, 1986., p. 73). O segundo, indicado por Fonseca (2010FONSECA, Silvia Asam da. A coleção Bibliotheca do Espírito Moderno: um projeto para alimentar espíritos da Companhia Editora Nacional (1938-1977). 2010. Dissertação (Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010., p. 37-38), refere-se à importância que a literatura estadunidense assume para a Coleção, em razão do apreço de Lobato e Teixeira pelos EUA e a admiração de ambos pela cultura democrática do país.

A questão toma corpo quando analisamos os nove títulos publicados na série Filosofia, na primeira fase, entre 1939 e 1943. As três primeiras obras, História da Filosofia (1938), Filosofia da vida (1938) e Os grandes pensadores (1939), são de autoria do estadunidense William James Durant. Nascidos nos EUA, temos ainda James Harvey Robinson, autor de A formação da mentalidade (1940); e William James, A filosofia de William James (1943). Participam da série, também, os ingleses Bertrand Russell, autor de Educação e vida perfeita (1941); e John Stuart Mill, de Sobre a liberdade (1942). O francês Jacques Maritain, autor de Humanismo integral (1941); e o português Fidelino de Sousa de Figueiredo, de Espanha - uma filosofia de sua história (1943) completam a lista. Mais interessante que assinalar a nacionalidade, entretanto, é informar que desses sete autores, três - Durant, Robinson e Maritain - foram professores da Universidade de Columbia. Russel deu aulas na Universidade da California e Fidelino Figueiredo passou por Berkley.

A prevalência de autores estadunidenses e ingleses na série, como de resto nas publicações da BEM, no período não se deve exclusivamente à predileção de seus fundadores, como se pode supor, mas às mudanças que se foram operando na Europa a partir de 1933 e que levaram à eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939. O exemplo da New Education Fellowship (NEF), conhecida no Brasil como Liga Internacional pela Educação Nova (LIEN), é relevante. Enquanto nos anos iniciais, os Congressos da NEF/LIEN espalharam-se pelo território europeu (Calais, França, em 1921; Montreux, Suíça, em 1923; Heidelberg, Alemanha, em 1925; Locarno, Suíça, em 1927; Elsinore, Dinamarca, em 1929; Nice, França, em 1932); nos anos posteriores, concentraram-se em países anglófonos, fossem eles Congressos internacionais (Inglaterra, em 1936; e EUA, em 1941) ou regionais (África do Sul, em 1934; Nova Zelândia, em 1937; Austrália, em 1937 e 1946) (VIDAL, 2021VIDAL, Diana. Cem anos da New Education Fellowship. In: RABELO, Rafaela Silva e VIDAL, Diana Gonçalves. Escola nova em circuito internacional: cem anos da New Education Fellowship. Belo Horizonte: Fino Traço, 2021. p. 9-18., p. 10). A alteração da geopolítica mundial acompanhava, era acompanhada por, a consolidação da literatura anglo-saxã na academia, em geral, e na educação, em particular.

O exemplo da NEF é significativo porque remete à própria construção da Unesco e às redes que foram articuladas. A circunstância da seção francesa da NEF, em cooperação com a sede londrina, organizar uma conferência na Sorbonne e Cité Universitaire, em Paris, de 29 de julho a 12 de agosto de 1946, com o tema Educational Reform and New Education22 22 Cf. notícia publicada na revista oficial da NEF, The New Era, em fevereiro de 1946, p. 44. , não era fortuita. Unia as duas cidades envolvidas em sediar os trabalhos da organização. A mudança dos escritórios da Unesco de Londres para Paris ocorreria praticamente um mês depois (16/09/1946). As correspondências trocadas entre Claire Soper, secretária internacional da NEF, e membros da Comissão Preparatória denotam também o entrelaçamento dessas organizações no imediato pós-guerra (Com.Prep.). Joseph Watras (2011WATRAS, Joseph. The New Education Fellowship and UNESCO's programme of fundamental education, Paedagogica Historica, v. 47, n. 1-2, p. 191-205, 2011. DOI: 10.1080/00309230.2010.530274.
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) reconhece que vários grupos participaram da criação da organização e destaca em particular o envolvimento da NEF com o programa de educação fundamental da Unesco, pondo em cena atores associados ao TC/UC e ao Institute of Education da University of London, entre outras instituições, e multiplicando os personagens dessa rede na qual Huxley e Teixeira se moviam.

Um último fio a puxar é Paulo Carneiro. Afinal, quando ficou claro que Anísio não retornaria para a Unesco em 1947, em 31 de março, Huxley escreveu a Carneiro, solicitando a indicação de outro “candidato brasileiro realmente bom para um posto na Organização” (DPAT)23 23 No original: “a really good Brazilian candidate for a post in the Organization”. . O episódio corrobora a afirmação de Vianna Filho (2008) de que o contato para colaborar com a organização veio por sugestão de Carneiro. Formado em química industrial pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, Carneiro recebeu uma bolsa de estudos para realizar seu doutorado em Paris, na Sorbonne. Retornou ao Brasil em 1932 e novamente voltou à França em 1938, quando atuou até 1944, como assistente técnico do Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil e, posteriormente, vice-diretor (MAIO, 2004MAIO, Marcos Chor(org.). Biobibliografia: Trajetória e produção intelectual de Paulo Carneiro. In: MAIO, Marcos Chor. Ciência, política e relações internacionais: ensaios sobre Paulo Carneiro. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Unesco, 2004. p. 308-321. ISBN: 978-85-7541-509-2. DOI: 10.7476/9788575415092.0013. Acesso em: 19 ago. 2023..
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, p. 312-313). Voltou ao Brasil com a libertação da França, mas retornou à Paris em 1945 para “reassumir seus trabalhos e logo recebe um convite para participar da Delegação Brasileira à Conferência das Nações Unidas em Londres” (BURIGO, 2021BURIGO, Danielle. Paulo Carneiro: Legados de um Brasileiro na UNESCO. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialista em Relações Internacionais) - Universidade de Brasília, Brasília, 2021., p. 14). “Em 1946 foi escolhido delegado do Brasil na primeira Assembleia das Nações Unidas” (BURIGO, 2021BURIGO, Danielle. Paulo Carneiro: Legados de um Brasileiro na UNESCO. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialista em Relações Internacionais) - Universidade de Brasília, Brasília, 2021., p. 14). No mesmo ano, foi

convidado pelo então Ministro das Relações Exteriores do Brasil, João Neves Fontoura, para tornar-se delegado permanente do Brasil junto à UNESCO, cargo que ocupou até 1958, atuando depois como embaixador até 1965. (...) Um ano após o golpe que derrubou João Goulart, Paulo Carneiro foi destituído da representação da UNESCO. (...) Imediatamente a UNESCO convoca Paulo para o seu Conselho Executivo, papel que exerceu por 28 anos, a mais longa permanência de alguém no conselho, podendo mesmo após o desligamento obrigatório da delegação do Brasil junto à organização, participar das conferências gerais subsequentes (BURIGO, 2021BURIGO, Danielle. Paulo Carneiro: Legados de um Brasileiro na UNESCO. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialista em Relações Internacionais) - Universidade de Brasília, Brasília, 2021., p. 17).

Tanto Huxley quanto Carneiro participaram das primeiras reuniões que deram origem à Unesco. Segundo Danielle Burigo (2021BURIGO, Danielle. Paulo Carneiro: Legados de um Brasileiro na UNESCO. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialista em Relações Internacionais) - Universidade de Brasília, Brasília, 2021., p. 17-18), teria sido Carneiro que, em conversas com Needlham e Huxley, propusera incluir ciências no mandato da nascente organização. É relevante destacar que Carneiro consta entre os intelectuais ligados à Associação Brasileira de Educação (ABE) nos anos iniciais de sua criação (ABE, 2024ABE - Associação Brasileira de Educação. 2024, Quem somos. Disponível em:Disponível em:https://www.abe1924.org.br/quem-somos . Acesso em:19 ago. 2023.
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), tendo permanecido no Rio de Janeiro entre 1932 e 1938, durante o período em que Teixeira conduziu sua reforma de instrução pública (1931-1935) e em que o educador esteve ativamente engajado nas ações da ABE. Entre as iniciativas da reforma implementada por Teixeira, incluiu-se a criação da Universidade do Distrito Federal, em 1935, talvez o motivo que levou Anísio a ser convidado para assumir os trabalhos relativos ao ensino superior na Seção de Educação da Unesco.

Tendo frequentado o TC/UC por dois anos e capitaneado uma importante reforma de educação na capital do Brasil; havendo ocupado a vantajosa função de curador da BEM para a CEN e alimentado um circuito de traduções ao português de obras em inglês; Teixeira congregava várias credenciais que o tornavam conhecido aos atores do novo eixo geopolítico com o final da Grande Guerra. Os EUA e seu parceiro, a Inglaterra, assumiriam a tarefa de reconstrução do mundo, agenda para a qual a educação era item fundamental e que foi endereçada a partir da criação da Unesco, em 1946.

O reconhecimento internacional que o convite de Huxley lhe proporcionava, conferia a Teixeira a oportunidade de retornar ao cenário da educação brasileira em situação de grande prestígio. Significativa foi a manifestação do Conselho Universitário da Universidade do Brasil, enviada a Huxley em 12 de julho de 1946, na qual o reitor Ignácio Azevedo do Amaral, expressava “a satisfação e o desvanecimento” com que o douto conselho acolhia a indicação do brasileiro para um posto na Unesco. Isso também ocorreu com o telegrama mandado por Raul Jobim Bittencourt, presidente da ABE, a Huxley, congratulando o comitê pela escolha de Anísio (DPAT).

Alegrias e misérias do trabalho na Unesco

Em documento manuscrito, possível esboço da carta convite enviada a Anísio, Huxley informava que o educador seria responsável pela educação superior, indo se juntar ao trabalho realizado pela Comissão Preparatória, composta por, além de Kuo Yu-Shou (China), conselheiro sênior, Ravnholt (Dinamarca) educação de adultos; Elena Torres (México) educação primária e de massas; Lawverys (Inglaterra) consultor geral; e, possivelmente, Guiton (França) educação secundária (DPAT). Na circular de staff, nr. 60, de 30 de outubro de 1946, temos a composição da equipe: Kuo Yu-Shou, G. Cowan, X. E. Gabriel, M. J. Guiton, H. Holmes, Leonard Kenworthy, Henning Ravnholt, S. Soully, Anísio Teixeira e Elena Torres.

As principais tarefas da Comissão Preparatória eram:

convocar a primeira sessão da Conferência Geral; preparar a agenda provisória da primeira sessão e documentos e recomendações relativos à agenda; estudar e preparar recomendações concernentes ao programa e orçamento; e providenciar sem demora para imediata ação sobre necessidades urgentes de reconstrução educacional, científica e cultural em países devastados24 24 No original: “to convoke the first session of the General Conference; to prepare the provisional agenda for the first session and prepare documents and recommendations relating to the agenda; to make studies and prepare recommendations concerning the programme and budget; and to provide without delay for immediate action on urgent needs of educational, scientific and cultural reconstruction in devastated countries.” (Prep. Com. 2009). .

Em longo memorandum, enviado por Howard Wilson a Kuo Yu-Shou, em 1º de abril de 1946, desenhava-se o escopo da Seção de Educação, seus objetivos específicos, o cronograma de trabalho, as tarefas mais urgentes e a configuração esperada da equipe. Wilson afirmava, quanto ao primeiro elemento:

Para sumarizar tudo isso: o escopo da sua seção é amplo e longo, e o programa a ser concebido para o futuro deve ser extremamente flexível e abrangente. Não podemos nos permitir ignorar qualquer nível, aspecto ou agência da educação na concepção do padrão global da UNESCO. Ao mesmo tempo, devemos ser altamente práticos e previdentes na escolha de alguns aspectos desta área total para ataque imediato. Estes aspectos seleccionados deverão (a) ter consequências educativas imediatas e óbvias e (b) ser importantes por proporcionarem à UNESCO a oportunidade de um crescimento bem sucedido na direção certa.25 25 No original: “To summarize all this: the scope of your section is broad and long, and the programme to be envisioned for the future must be extremely flexible and comprehensive. We cannot afford to ignore any level or aspect or agency of education in conceiving the over-all pattern for Unesco. At the same time we must be highly practical and far-sighting in choosing a few aspects of this total area for immediate attack. These selected aspects should be (a) of immediate and obvious educational consequence, and (b) of importance as affording Unesco opportunity for successful growth in the right direction.” (Prep. Com. 2009).

A ideia era abarcar a educação para a vida toda, ou na fórmula adotada por Wilson, “from the cradle to the grave”, ou seja do berço ao túmulo, em todas as áreas do conhecimento. A seção deveria trabalhar em colaboração com as demais: Letras e Filosofia; Artes; Ciências Sociais; Ciências Naturais;, Museus e Bibliotecas; e Mídia de Comunicação de Massas. Não era esperado que se estabelecesse um padrão mínimo de educação para o mundo. Mas visava-se conhecer como a educação era praticada nos vários países e fornecer exemplos de boas práticas educativas. Sugeria, outrossim, algumas linhas de ação: redução do analfabetismo e educação de massas por meio de recursos imagéticos e auditivos; educação em saúde e higiene; educação vocacional, não restrita a treinamento profissional, mas como forma de superar a distância entre vocação e cultura, fermento da “educação liberal”; e educação cívica para “um mundo”, o que envolveria “educação para respeito e compreensão internacionais”.

O documento traçava os objetivos específicos da seção: (a) elaborar um esboço de 25 a 30 páginas com o programa de ação da Unesco, indicando as iniciativas que deveriam ser lançadas imediatamente e seu desenvolvimento esperado para os cinco anos seguintes; e (b) preparar o tratamento de um tópico selecionado, que poderia ser analfabetismo, para consideração da Primeira Assembleia. A questão deveria ser discutida na reunião da Comissão Preparatória, prevista para julho. Era esperado que o primeiro item estivesse pronto para impressão em setembro. Quanto ao segundo, seria aperfeiçoado em reunião de agosto ou setembro e estaria pronto para 10 de outubro, de modo a ser divulgado com antecedência à Primeira Assembleia em novembro de 1946.

Para dar curso aos objetivos, Wilson propunha duas linhas de ação: efetuar um resumo de todas sugestões até então recebidas de governos, organizações e indivíduos, compilando uma lista a mais completa possível; iniciar um processo de coleta de sugestões adicionais por meio do envio de: (a) um questionário aos Ministros de Educação; (b) cartas de inquérito a organizações e agências; (c) cartas pessoais a especialistas de todo o mundo.26 26 Todas as informações mencionadas referentes ao memorândum estão disponíveis em Prep.Com.

Apesar de Wilson insistir em qualificar os termos do memorândum como sua concepção do que deveria ser o programa da Seção de Educação, aberta a alterações por propostas de Kuo Yu-Shou, os inquéritos foram efetivamente realizados. Em 29 de maio, ofício assinado por Kuo e Wilson e endereçado a organizações inquiria sobre suas características e perguntava sobre como a Unesco poderia auxiliar o trabalho por elas desenvolvido, pedindo que oferecessem sugestões ao programa geral da Seção de Educação. Ao ofício seguia uma longa lista com o nome de mais de 50 organizações (Prep.Com.).

O tema da alfabetização foi reformulado como Educação Fundamental. E, em 12 de junho, em carta endereçada a James Yen (China), Margaret Read (Reino Unido), Ismail el Kabbani (EUA), R. M. Chetsingh (Índia), Frank Laubach (EUA), B. H. Easter (Jamaica), Thomas Jesse Jones (EUA), C. K. Ogden (Reino Unido), Margaret Mead (EUA), I. A. Richards (EUA), Labouret (França), Rheinallt Jones (África do Sul), Lucas Ortiz (México) e Nieto Caballero (Colômbia), Kuo solicitava a participação desses especialistas em uma enquete, base para o relatório a ser apresentado à Comissão Preparatória, publicado em inglês e francês. Pedia retorno até, no máximo, dia 26 de julho e oferecia um honorário de “25 guineas” pelo copyright do manuscrito (Prep.Com.).

Foi nesse circuito que se instalou Anísio, a partir de 15 de julho de 1946, quando passou a integrar os quadros da Seção de Educação da Unesco. Além do contato com entidades e sujeitos, Teixeira fazia parte de uma ampla Comissão Preparatória que, em outubro, contava com uma equipe de 167 membros, acrescida dos representantes de cada um dos 43 países que haviam assinado o instrumento adotado pela Conferência para a Criação da Unesco em 1945 em Londres (Prep. Com. 2009).

Nos seis meses em que atuou junto à organização, teve a oportunidade de interagir pessoalmente ou por correspondência com educadores de todas as partes do mundo. Na capa da pasta de acompanhamento de dossiês, o nome de Teixeira aparece relacionado entre as pessoas que manusearam o dossiê ”Requests to Educationalists and Educational Organizations Reports”. A pasta chegou às suas mãos em 28 de agosto de 1946 e com ele permaneceu até 10 de outubro (Com. Prep.). Outro dossiê ao qual teve acesso, em 5 de outubro de 1946, foi “Education - Soviet Union - Handbook for entrants to the Higher Educational Establishments of U.S.S.R (1944-45)”, que consistia em uma publicação sobre a matéria (Com.Prep). Se a segunda menção é episódica, a primeira demonstra o envolvimento do educador com os inquéritos promovidos pela Comissão Preparatória e que deram substância às propostas feitas pela Seção de Educação à Assembléia Geral.

Entre 20 de novembro e 10 de dezembro de 1946, a Primeira Assembleia da Conferência Geral ocorreu em Paris. “Após a eleição do Diretor-Geral, em 6 de dezembro, o mandato da Comissão Preparatória expirou e a Comissão foi dissolvida, mas o seu pessoal continuou a trabalhar como Secretariado da UNESCO” (Prep. Com. 2009). Foi nessa condição que, em 25 de janeiro de 1947, Anísio deixou a França para gozar férias no Brasil. Naquele momento, ainda ponderava sobre seu futuro na organização. A viagem incluía uma passagem por Nova Iorque. Seguia em companhia de sua esposa, Emília Ferreira Teixeira. Em carta de 29 de janeiro de 1947 a Lobato, escrita a bordo do Queen Elizabeth, Anísio evidenciava sua hesitação:

A Unesco é, ao mesmo tempo, uma obra tardia e uma obra prematura. É esta sua contradição essencial. Tardia porque, de muito, o mundo pedia um centro intelectual para unificação de sua experiência e direção do seu progresso. (...) Em vez da Unesco, tivemos, porém, uma ciência e uma inteligência nacionais e nacionalistas até à apoplexia final hitleriana. (...) Mas… com a vitória - que ironia! - os homens voltaram às suas divisões antigas. E, dentro dessas divisões, a Unesco, que pretenderam criar, é algo extremamente prematuro.

Se Wells ainda estivesse vivo, creio que estigmatizaria a pequenina Unesco que estamos construindo. (...) É horrível pensar estas coisas e ainda mais horrível cooperar em obras frustras. (TEIXEIRA, A. 1947aTEIXEIRA, Anísio.. [Correspondência]. Destinatário: José Bento Monteiro Lobato. 29 jan. 1947a. Disponível em Disponível em https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&pesq=monteiro%20lobato&hf=docvirt.com&pagfis=2390 . Acesso em: 28 ago. 2023.
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).

No entanto, dizia-se contagiado pelo entusiasmo manifesto por Lobato, em missiva recebida anteriormente à partida da França, e afirmava: “Vou voltar para a Unesco para uma nova experiência”. Desistira de seguir viagem adiante. Retornaria de Nova Iorque para Paris, após resolver os negócios da Simel que o haviam levado aos EUA. A resolução, entretanto, foi revista por razões de duas ordens: familiar e financeira. Escrevia Anísio a Lobato em 13 de fevereiro de 1947:

a carta junto escrevi-lhe de bordo. Estava em pleno estado de imparcialidade e chegara àquelas conclusões. Em N.Y. pus os pés em terra. E senti que eles não tinham a leveza que supozera em pleno mar - cinco “paralelepípedos” - o amarram ao chão. A mulher e quatro filhos. Estas decisões ruíram. Telegrafei a Unesco que considerava minha volta impossível e estou esperando … a reação.

É uma pena. É uma dor. Mas que hei de fazer? (TEIXEIRA, A. 1947bTEIXEIRA, Anísio.. [Correspondência]. Destinatário: José Bento Monteiro Lobato. 13 fev. 1947b. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&pesq=monteiro%20lobato&hf=docvirt.com&pagfis=2394 . Acesso em: 28 ago. 2023.
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, grifos no original)

Os negócios com cimento e gesso prosperavam e a eles se somaram outras iniciativas relativas a pesquisas sobre manganês e cromo. “Era com tais projetos que resolvi voltar ao Brasil, demitindo-me da UNESCO”, rememorava Anísio em carta a seu irmão, Nelson, de 3 de novembro de 1947 (TEIXEIRA, A. 1947cTEIXEIRA, Anísio.. [Correspondência]. Destinatário: Nelson Teixeira. 3 nov. 1947c. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&pesq=unesco&hf=docvirt.com&pagfis=565 . Acesso em: 28 ago. 2023.
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). Na mesma missiva, afiançava: “O Dr. Octávio Mangabeira apanhou-me em Belém. Não resisti à tentação da volta ao ‘cívico’ e os projetos comerciais entraram em crepúsculo”. De fato, entre 1947 e 1951, Teixeira integrou o governo baiano como Secretário de Educação e Saúde, mantendo-se apenas parcialmente nos negócios da Simel.

O pedido de resignação da Unesco foi feito em 15 de fevereiro. Ao recebê-lo, Huxley, em carta de 28 de fevereiro, pediu que Anísio reconsiderasse e permanecesse no cargo até, pelo menos, o final do ano. Em telegrama de 17 de março, Teixeira descartou qualquer possibilidade de retomar suas funções na Unesco. Na resposta, a ele redigida, em 3 de abril, Huxley lamentava a decisão e declarava a intenção de manter contato, como consultor (voluntário), dando sequência à colaboração estabelecida (DPAT). Outras tentativas, efetivamente, foram realizadas no sentido de associar mais decididamente Teixeira à Unesco.

Em 28 de maio de 1948, um telegrama enviado a Teixeira, oferecia-lhe o cargo de Chefe da Seção de Educação com um salário anual de 7.450,00 dólares, acrescido de 2.000,00 dólares anuais de auxílio residência, além do custeio das despesas de transporte para ele e seus dependentes. O telegrama foi emitido após Huxley ter recebido missiva de Carneiro, na qual o último assegurava a satisfação com que o governo brasileiro acolhia a indicação de Anísio ao posto.

Em telegrama de 24 de junho de 1948 endereçado a Samuel Selsky, chefe de pessoal em exercício, porém, Anísio informava que não havia conseguido obter licença do governo da Bahia para dedicar-se à Unesco e pedia que enviasse suas desculpas a Huxley. No mesmo dia, em carta a Huxley, Carneiro relatava a impossibilidade de Teixeira se desvincular da Secretaria da Educação e Saúde da Bahia, apesar de haver anunciado anteriormente que o educador chegaria a Paris no 1º. de julho, para iniciar as atividades junto à organização. A troca de correspondências e o desencontro de informações denunciam a hesitação com a qual Teixeira avaliou o novo convite.

O salário proposto era substancialmente melhor que o de conselheiro. No entanto, compromissos com o governo da Bahia e questões familiares pesaram na decisão. Como confidenciou a Azevedo, em carta de 22 de julho de 1948, dizia Anísio: “Afinal, eu também não fui para a Unesco. Um vago mas profundo sentimento de dever me reteve aqui, para a imolação, talvez, mas, não me foi possível vencê-lo... Devemos ao Brasil, pelo menos, a presença” (grifos no original) (VIDAL, 2000VIDAL, Diana. Na batalha da educação: correspondência entre Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo (1929-1971). Bragança Paulista: EDUSF, 2000., p. 37).

Novamente, em 1953, Teixeira seria convidado para assumir posto de Chefe de Divisão de Extensão da Educação Escolar27 27 Carta de B.W. Pringle, do Escritório de Pessoal e Administração, com data de 21 de agosto de 1953, PEM/APS/IA/1222. DPAT. , a ser exercido em Paris. Outra tentativa foi feita em 22 de julho de 1954, quando lhe ofereceram o cargo de Chefe Associado do Escritório Regional do Hemisfério Oeste em Havana, com a incumbência de desenvolver amplamente o programa da Unesco na América Latina e Caribe28 28 Carta de B.W. Pringle, do Escritório de Pessoal e Administração, com data de 22 de julho de 1954, PEM/APS/IA/1818. DPAT. . Em ambos os casos, o educador declinou o convite.

Apesar de não voltar a ocupar postos na Unesco, manteve constantes as relações com a organização. Em 1950, foi chamado a participar da assembleia ocorrida em Florença (VIDAL, 2000VIDAL, Diana. Na batalha da educação: correspondência entre Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo (1929-1971). Bragança Paulista: EDUSF, 2000., p. 43). Em 1951, desenvolveu na Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia um inquérito-testemunho sobre relações interraciais, em convênio com a Unesco (VIDAL, 2000VIDAL, Diana. Na batalha da educação: correspondência entre Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo (1929-1971). Bragança Paulista: EDUSF, 2000., p. 45). Em 1956, compareceu a reuniões da Unesco em Lima (TEIXEIRA, A. 1964TEIXEIRA, Anísio.. [Correspondência]. Destinatário: George Counts. Rio de Janeiro, 1 jul. 1960. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&hf=www18.fgv.br&pagfis=9410 . Acesso em: 14 ago. 2023.
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). Em 1957, iniciou a colaboração com a organização para a criação de um curso de preparo de especialistas em educação no Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo (VIDAL, 2000VIDAL, Diana. Na batalha da educação: correspondência entre Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo (1929-1971). Bragança Paulista: EDUSF, 2000., p. 62), inaugurado em 1958 com a presença de Malcolm Adiseshiah, vice-diretor da organização (VIDAL, 2000VIDAL, Diana. Na batalha da educação: correspondência entre Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo (1929-1971). Bragança Paulista: EDUSF, 2000., p. 73). Os contatos prosseguiriam na década de 1960, demonstrando que as redes tecidas no curto período como Conselheiro da Educação Superior haviam sido sólidas o suficiente para alimentar novos projetos, fossem por iniciativa da Unesco ou de instâncias brasileiras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Editoras e organizações foram tomadas por nós como hubs, pontos de intersecção em tramas de relações pessoais, acadêmicas, econômicas e políticas, em um momento pautado por ascensão de governos autoritários, guerra e reconstrução. Na narrativa, assumiram proeminência as agências dos sujeitos, tendo como entroncamento a figura de Anísio Teixeira. O educador foi, assim, simultaneamente percebido como nó nas muitas redes aqui traçadas (familiares, educacionais, comerciais, políticas), e como um hub, articulador de sujeitos e iniciativas em vários campos.

A tessitura que propusemos nos fez transitar entre correspondências pessoais, comerciais e profissionais, associadas a outras fontes, em sua maior parte colhidas em acervos institucionais, seja da CEN ou da Unesco, e pessoais, como o Fundo Anísio Teixeira do CPDOC. Por certo, um tratamento quantitativo dos dados, nos permitiria produzir mapas dinâmicos dessas redes que apenas conseguimos esboçar neste texto. No entanto, o procedimento intentado permitiu demonstrar a importância da teoria das redes na conformação do campo educacional no Brasil e no exterior. Do mesmo modo, a explosão do continente das fronteiras geográficas possibilitou reconhecer o circuito transnacional em que se moviam os educadores brasileiros e a fertilização mútua que beneficiava o cenário nacional e internacional dessa circulação de sujeitos e ideias.

A análise, entretanto, não se esgota neste artigo. Ao contrário, os elementos mobilizados pela escrita suscitam sendas para o entendimento das ações posteriores lideradas por Anísio na arena educacional brasileira no imbricamento das redes constituídas dentro e fora do país. Nesse percurso, se interessa a agência de Teixeira, é menos sua biografia o que fomenta o investimento, e mais o exercício cruzado das muitas agências de sujeitos no processo de (re)facção contínua da educação, como política e intervenção social.

FINANCIAMENTO

Este artigo apresenta resultados parciais das pesquisas realizadas no âmbito do Projeto Temático FAPESPSaberes e práticas em fronteiras: por uma história transnacional da educação (1810-…), processo nr. 2018/26699-4.

REFERÊNCIAS

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  • TEIXEIRA, Anísio.. [Correspondência]. Destinatário: José Bento Monteiro Lobato. 29 jan. 1947a. Disponível em Disponível em https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&pesq=monteiro%20lobato&hf=docvirt.com&pagfis=2390 Acesso em: 28 ago. 2023.
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  • TEIXEIRA, Anísio.. [Correspondência]. Destinatário: José Bento Monteiro Lobato. 13 fev. 1947b. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&pesq=monteiro%20lobato&hf=docvirt.com&pagfis=2394 Acesso em: 28 ago. 2023.
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  • TEIXEIRA, Anísio.. [Correspondência]. Destinatário: Nelson Teixeira. 3 nov. 1947c. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&pesq=unesco&hf=docvirt.com&pagfis=565 Acesso em: 28 ago. 2023.
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  • TEIXEIRA, Anísio.. [Correspondência]. Destinatário: George Counts. Rio de Janeiro, 1 jul. 1960. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&hf=www18.fgv.br&pagfis=9410 Acesso em: 14 ago. 2023.
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  • TEIXEIRA, Nelson. [Correspondência]. Destinatário: Anísio Teixeira. 16 jan. 1936. 1 carta. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&hf=www18.fgv.br&pagfis=469 Acesso em: 19 ago. 2023
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  • TEIXEIRA, Nelson.[Correspondência] Destinatário: Anísio Teixeira. 24 abr. 1937. 1 carta. Disponível em: Disponível em: https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AT_Corresp&hf=www18.fgv.br&pagfis=485. Acesso em: 19 ago. 2023
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  • TOLEDO, Maria Rita de A. Coleções autorais, tradução e circulação: ensaios sobre a geografia cultural da edição (1930-1980). 2013. Dissertação (Livre-Docência) - Universiade Federal de São Paulo, Guarulhos, 2013.
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    » https://doi.org/10.1590/ES0101-73302017157307
  • TOLEDO, Maria Rita de A. Coleção Atualidades Pedagógicas: do projeto político ao projeto editorial (1931 a 1981). São Paulo: Edusp, 2020.
  • VIANA FILHO, Luís. Anísio Teixeira: a polêmica da educação Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
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  • VIDAL, Diana. Anísio Teixeira, professor de professoras: um estudo sobre modelos de professor e práticas docentes (Rio de Janeiro, 1932-1935).Revista Diálogo Educacional(PUCPR), v. 5, p. 293-314, 2005.
  • 1
    Artigo publicado com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq/Brasil para os serviços de edição, diagramação e conversão de XML.
  • 2
    Cf., entre outros, GOUVEIA NETO, 1973; GERIBELLO, 1977; LIMA, 1978; FERRO, 1984; SCHAEFFER, 1988; VIANA FILHO, 1990; ROCHA, 1992; NUNES, 2000, 2010; CURY, 2000; BRANDÃO; MENDONÇA, 2008.
  • 3
    Ver, por exemplo, a carta enviada por Lobato a Fernando de Azevedo, apresentando Anísio Teixeira (FRAIZ; VIANNA, 1986, p. 8).
  • 4
    Em carta a Nelson Teixeira, de 1929, Anísio comenta que tomaria chá com Paul Monroe, uma das figuras principais da História da Educação/Educação Comparada da Columbia University. (TEIXEIRA, A. 1929).
  • 5
    Ver a correspondência na qual Ferreira explica que cada autor do Manifesto deve pagar 50$000 para receber dez exemplares. Carta de Octalles Marcondes Ferreira a Anísio Teixeira de 22/12/1932). Arquivo Anísio Texeira/CPDOC AT1928.04.27. Na citada correspondência está a carta de Teixeira - como Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal - acertando com a CEN a edição do Boletim de Instrução Pública do DF (Carta de Anísio Teixeira a Octalles Marcondes Ferreira,15/03/1932). Arquivo Anísio Texeira/CPDOC AT 1928.04.27.
  • 6
    Azevedo, por exemplo, recebia, para dirigir a Biblioteca Pedagógica Brasileira, salário mensal além de uma porcentagem fixa sobre cada título editado (Companhia Editora Nacional - Contrato de 14 /12/1930 CMPH Coleção CEN).
  • 7
    Ver Carta de Teixeira a Lobato de 8 de julho de 1931 (FRAIZ; VIANNA, 1986, p. 62).
  • 8
    A BEM durou até a década de 1980, com variações quanto a sua direção. Consultar FONSECA, 2010.
  • 9
    O Diário da Noite lançou no dia 16 de março de 1936 artigo contra o livro Geografia de D. Benta. (PROPAGANDA, 1936).
  • 10
    O termo inventado por nós refere-se a Herbert George Wells (1866-1946), romancista, jornalista, visionário científico e enciclopedista britânico. Seu pensamento busca uma síntese do evolucionismo, do pragmatismo e de vários tipos de socialismo. Segundo Elzinga, Wells procurou participar das principais discussões internacionais que sucederam a Primeira Guerra Mundial. Embora Wells fosse um crítico da Liga das Nações, defendeu a ideia de unificação mundial como única alternativa a um conflito devastador (ELZINGA, 2004, p. 138, nota 4).
  • 11
    Teixeira se refere à lã do sobretudo caramelo que usava em New York.
  • 12
    Foram tradutores da BEM alguns dos perseguidos políticos do regime de Vargas como o próprio Teixeira, Lobato e Edgar Sussekind de Mendonça. Também trabalharam na coleção Nelson Teixeira, Godofredo Rangel, Afrânio Coutinho, Edson Carneiro, entre outros.
  • 13
    Fonseca descreve as representações contemporâneas dos editores sobre o que concebiam como território do público de leitores médios. Ver os capítulos 1 e 2 de sua tese (FONSECA, 2010).
  • 14
    Teixeira replica essa mesma mensagem para Azevedo (VIDAL, 2000, p. 52).
  • 15
    No original, “the meaning, the shape, and the duration of its existence as well as the intensity, frequency, balance, prominence and speed of contacts, exchanges and transfers”.
  • 16
    Tanto a documentação do Unesco Archives Fund Preparatory Commission for Unesco (Prep.Com) 1945-1946, quanto a do dossiê pessoal Anísio Teixeira não estão organizadas. Portanto, as referências usadas aqui serão apenas Prep.Com. ou DPAT, caso se refiram, respectivamente, à Comissão Preparatória ou ao Dossiê Pessoal Anísio Teixeira.
  • 17
    De acordo com a Revista do Empresário, (TAXAS, 1947), a cotação da libra oscilou entre Cr$ 77,33 (em 3 de janeiro) a Cr$ 74,555 (em 31 de dezembro). No mesmo período, o dólar oscilou entre Cr$ 19,60 e Cr$ 18,50. Implica dizer que a proposta era de em torno de Cr$ 55.000,00 para 6 meses, acrescido de aproximadamente Cr$ 83,00 por dia, algo por volta de Cr$ 11.700,00/mês. Só para base de comparação, segundo o Decreto-lei 5.977 de 10 de novembro de 1943 (BRASIL, 1943), ficava instituído no Brasil, por um período de 3 anos, o valor mensal de Cr$ 380,00 para o salário mínimo. Ou seja, o contrato correspondia a uma percepção mensal equivalente a 30 salários mínimos.
  • 18
    A mudança dos escritórios da Unesco para Paris ocorreu em 16 de setembro, sendo o staff instalado no Hotel Majestic, situado à Av. Kléber, nr. 19.
  • 19
    No original: “Everyone has assured me that you would be the best possible person we could obtain from Latin America for the Education Section” (Prep.Com., tradução nossa).
  • 20
    No original: “No foundation whatever for suggestion de Filho or Dantas. STOP Only Brazilian approached or desired is Teixeira. STOP Most anxious to obtain him.”
  • 21
    Sobre a trajetória de San Tiago Dantas, ver (DANTAS, 2009).
  • 22
    Cf. notícia publicada na revista oficial da NEF, The New Era, em fevereiro de 1946, p. 44.
  • 23
    No original: “a really good Brazilian candidate for a post in the Organization”.
  • 24
    No original: “to convoke the first session of the General Conference; to prepare the provisional agenda for the first session and prepare documents and recommendations relating to the agenda; to make studies and prepare recommendations concerning the programme and budget; and to provide without delay for immediate action on urgent needs of educational, scientific and cultural reconstruction in devastated countries.” (Prep. Com. 2009).
  • 25
    No original: “To summarize all this: the scope of your section is broad and long, and the programme to be envisioned for the future must be extremely flexible and comprehensive. We cannot afford to ignore any level or aspect or agency of education in conceiving the over-all pattern for Unesco. At the same time we must be highly practical and far-sighting in choosing a few aspects of this total area for immediate attack. These selected aspects should be (a) of immediate and obvious educational consequence, and (b) of importance as affording Unesco opportunity for successful growth in the right direction.” (Prep. Com. 2009).
  • 26
    Todas as informações mencionadas referentes ao memorândum estão disponíveis em Prep.Com.
  • 27
    Carta de B.W. Pringle, do Escritório de Pessoal e Administração, com data de 21 de agosto de 1953, PEM/APS/IA/1222. DPAT.
  • 28
    Carta de B.W. Pringle, do Escritório de Pessoal e Administração, com data de 22 de julho de 1954, PEM/APS/IA/1818. DPAT.

DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSE:

  • 30
    As autoras declaram que não há conflito de interesses.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

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