RESUMO:
O debate sobre o corpo tem sido constante em uma série de campos do conhecimento, principalmente na Educação Física. No Brasil, esse debate foi intensificado a partir dos anos de 1980, momento em que o campo da Educação Física começa a se aproximar de modo sistemático das ciências humanas. Nesse âmbito, o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) e o seu principal evento, o Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE), apresentaram as pesquisas dos seus participantes por meio dos Grupos de Trabalhos Temáticos (GTTs) a partir de 1997. Portanto, o objetivo desta pesquisa é analisar as concepções de corpo presentes nos anais do CONBRACE, no período de 1997 a 2017. Esta pesquisa é quanti-qualitativa por meio de análise documental, com características bibliométricas. Para compor a análise dos dados, a busca e a seleção dos textos se deram a partir da presença da palavra “corpo” no título do texto, no resumo ou nas palavras-chave das comunicações orais. Os resultados demonstram que as principais concepções de corpo estão relacionadas às de corpo cultural; corpo existencial; corpo máquina/organismo; corpo sujeito pela corporeidade; e corpo identidade/simbólico, com uma forte aproximação deste debate com as perspectivas das ciências humanas, sociais, da filosofia e das artes em todo o período investigado. Em conclusão, este estudo analisou e apresentou variadas tendências, as quais apenas a realidade e a história como critérios de verdade poderão confirmar.
Palavras-chave:
anais; corpo; Educação Física
ABSTRACT:
The discussion surrounding the body has been a persistent topic across various fields of knowledge, particularly in Physical Education. In Brazil, this debate gained momentum in the 1980s when the field of Physical Education began systematically integrating with the humanities. Within this context, the Brazilian College of Sport Sciences (Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte - CBCE) and its main event, the Brazilian Congress of Sport Sciences (Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte - CONBRACE), have showcased the research of their participants through Thematic Working Groups (GTTs) since 1997. Therefore, the aim of this research is to analyze the conceptions of the body present in the CONBRACE proceedings from 1997 to 2017. This research employs a quantitative-qualitative approach through document analysis with bibliometric characteristics. To compose the data analysis, the search and selection of texts were based on the presence of the word “body” in the title, abstract, or keywords of the oral communications. The results show that the main conceptions of the body are related to cultural body; existential body; body as machine/organism; body as subject through corporeity; and identity/symbolic body, with a strong alignment of this debate with perspectives from the humanities, social sciences, philosophy, and the arts throughout the investigated period. In conclusion, this study analyzed and presented various trends, which only reality and history, as criteria of truth, will be able to confirm.
RESUMEN:
El debate sobre el cuerpo ha sido una constante en una serie de campos del conocimiento, principalmente en la Educación Física. En Brasil, este debate se intensificó a partir de la década de 1980, cuando el campo de la Educación Física comenzó a acercarse sistemáticamente a las ciencias humanas. En este contexto, el Colegio Brasileño de Ciencias del Deporte (CBCE) y su principal evento, el Congreso Brasileño de Ciencias del Deporte (CONBRACE), presentaron las investigaciones de sus participantes a través de Grupos de Trabajo Temáticos (GTT) desde 1997 en adelante. esta investigación tiene como objetivo analizar las concepciones de cuerpo presentes en los anales del CONBRACE, de 1997 a 2017. Esta investigación es cuantitativa y cualitativa a través del análisis documental, con características bibliométricas. Para componer el análisis de los datos, la búsqueda y selección de textos se realizó a partir de la presencia de la palabra “cuerpo” en el título del texto, en el resumen o en las palabras clave de las comunicaciones orales. Los resultados demuestran que las principales concepciones del cuerpo están relacionadas con las del cuerpo cultural; cuerpo existencial; cuerpo de máquina/organismo; cuerpo sujeto a la corporalidad; e identidad/cuerpo simbólico, con un fuerte acercamiento a este debate con las perspectivas de las ciencias humanas, sociales, la filosofía y las artes a lo largo del período investigado. En conclusión, este estudio analizó y presentó diversas tendencias, que sólo la realidad y la historia como criterios de verdad pueden confirmar.
Palabras clave:
anales; cuerpo; Educación Física
INTRODUÇÃO
O debate sobre o corpo tem sido constante em uma série de campos do conhecimento, principalmente na Educação Física. No Brasil, essa discussão foi intensificada a partir dos anos de 1980, momento em que o campo da Educação Física começa a se aproximar de modo sistemático das ciências humanas, fato demonstrado por algumas produções como as de Medina (2009, 2010) e Santin (2003), para citar dois exemplos. De acordo com Daolio (2005), no corpo estão inscritas todas as regras, todas as normas e todos os valores de uma sociedade específica, por ser ele o meio de contato primário do indivíduo com o ambiente que o cerca.
Em vista disso, este tema tem tido enorme relevância científica e social, pois compreender a maneira como o corpo é entendido por pesquisadores, professores e alunos em diversos ambientes sociais implica alguns aspectos como a compreensão da relação entre o ser humano e a natureza e a organização metodológica da Educação Física como componente curricular na escola. Implica também compreender os objetivos das aulas em ambientes fora do âmbito escolar, como de academias de ginástica, práticas esportivas e atividades de lazer em parques, clubes e condomínios, assim como na influência da constituição da autoimagem e autoestima das pessoas de todas as faixas etárias, desenvolvendo, desse modo, a relação corporal de cada pessoa consigo, com os outros e com a sociedade (Castellani Filho et al., 2012; Fernandes & Altmann, 2020; Gama & Baptista, 2020; Moreira, 2003; Silva, 2014; Silva, 2017).
Por outro lado, a relação de cada ser humano com o corpo, dependendo de suas condições psicológicas e/ou sociais, pode contribuir também para desenvolver problemas de distorção da imagem corporal como a anorexia, a bulimia, a vigorexia, entre outros (Gama & Baptista, 2020; Moehlecke et al., 2020; Moraes & Guizzetti, 2016; Moral-Agúndez & Carrillo-Dúran, 2020).
Segundo Vigarello (2006), o corpo se tornou o nosso mais belo objeto de consumo, destacando que muitas transformações ocorreram em relação ao corpo e à beleza a partir das mudanças políticas, sociais e culturais de cada época. O corpo é o lócus de atuação da moda, da educação (especialmente da Educação Física), da filosofia, das artes e das ciências, e este fato implica a compreensão das características, capacidades e habilidades desejadas e estabelecidas para cada período da história e em séculos diferentes; isto é, do ponto de vista científico, esse tema é estudado, avaliado, compreendido, explicado e interrogado tanto por pesquisadores individuais como por grupos de pesquisa (Corbin et al., 2008, 2009a, 2009b; Wolf, 2021).
Em relação aos diferentes pesquisadores e grupos de pesquisa, é frequente a relação destes com entidades científicas dos mais variados matizes e análises, que examinam o corpo em seus aspectos naturais como a anatomia, a fisiologia, o treinamento esportivo, no que diz respeito à saúde e ao desempenho esportivo, nas suas concepções presentes na filosofia e na epistemologia, em seus vínculos sociais na sociologia, na antropologia e, também, na estética, como é o caso das artes (Gama, 2019).
Uma das entidades científicas no campo da Educação Física brasileira é o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE). Essa entidade foi criada em setembro de 1978 e possui em sua estrutura uma direção nacional com mandato bienal, secretarias estaduais e Grupos de Trabalhos Temáticos (GTTs), os quais têm como foco reunir pesquisadores de diferentes regiões do Brasil e do exterior em relação a um único tema. Também constituem o CBCE a Assembleia Geral - órgão máximo de deliberação - e os Associados - Associados Professores de Graduação e de Pós-Graduação; Associados Graduados; Associados Estudantes da Pós-Graduação; Associados Estudantes da Graduação; Associados Institucionais (CBCE, 2018).
O CBCE nasce num Brasil endurecido e profundamente marcado pela ditadura militar dos anos 70, período em que é possível constatar a emergência e a proliferação discursiva das vantagens e da importância de espaços de descanso e de diversão do trabalhador, uma preocupação mais acentuada com os usos do tempo livre e deste tempo voltado para a prática de atividades físicas e esportivas; período que promove uma cultura esportiva, um modo esportivo de ser e cultua também um certo tipo de descontração e um certo tipo de corpo, saudável e produtivo (Soares, 2007, p. 128).
Dentro do CBCE, os GTTs foram criados em 1995 durante o principal evento da entidade, em sua 9ª edição, o Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE), que nesse ano foi realizado em Vitória, no estado do Espírito Santo, sendo que os trabalhos por GTT estrearam efetivamente no X CONBRACE, realizado em Goiânia, estado de Goiás, em 1997. De lá para cá, houve mudanças nesses grupos, alguns foram extintos, outros criados e/ou modificados de acordo com as necessidades da comunidade acadêmica vinculada ao CBCE. No Congresso de 1997, o debate sobre o corpo era um tema transversal para todos os GTTs, no qual nenhum dos grupos agregava pesquisadores específicos sobre o tema. Todavia, investigações relevantes sobre o corpo estiveram presentes em vários GTTs, entre eles o de Escola, o de Epistemologia, dentre outros (Grando et al., 2007).
De acordo com Grando et al. (2007), foi em 1999, no CONBRACE de Florianópolis, estado de Santa Catarina, que se apresentou o GTT Memória, Cultura e Corpo (GTTMCC) para se discutirem temas relacionados à história da Educação Física e ao corpo, de modo que, em 2004, surgiu a necessidade de debate sobre o corpo e a cultura em um espaço específico no interior do CBCE. Dessa forma, entre os 14 GTTs atuais, existe hodiernamente o GTT Corpo e Cultura (GTTCC), com a sua primeira participação no XIV CONBRACE em 2005, sendo esse também o ano da primeira edição do Congresso Internacional de Ciências do Esporte (CONICE), que passou a ocorrer simultaneamente com o CONBRACE.
A produção do GTTCC sempre foi um foco de reflexão com uma série de pesquisas e publicações. Entre essas estão os trabalhos de Baptista et al. (2015) e um número especial da Revista Arquivos em Movimento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenado por Baptista e Lüdorf (2014). Nesse número foram apresentados balanços sobre o tema em todo o Brasil, com as análises sendo realizadas por regiões geográficas do País, fracionadas em: Centro-Oeste (Vilarinho Neto et al., 2014); Nordeste (Viana & Farias, 2014); Norte (Alencar, 2014); Sudeste (Lüdorf et al., 2014); e Sul (Wenetz et al., 2014).
Conforme afirma Soares (2007), talvez o CBCE seja num futuro de esquecimento deliberado um lugar concebível de memória, em que se permita pensar, neste curto recorte de tempo da sua existência - 45 anos em 2023 -, a emergência e a visibilidade das muitas histórias da Educação Física e Ciências do Esporte por meio da configuração de novos problemas, abordagens e objetos.
Dessarte, o objetivo desta pesquisa é analisar as concepções de corpo presentes no CONBRACE no período de 1997 a 2017. Como referências centrais, a busca foi feita nos anais do CONBRACE de 1997 em seus diferentes GTTs, entre 1999 e 2003 no GTTMCC, e de 2005 a 2017 no GTTCC.
METODOLOGIA
Esta pesquisa é quanti-qualitativa por meio de análise documental, com características bibliométricas (Coimbra et al., 2019; Okubo, 1997; Santos Filho & Gamboa, 1997; Severino, 2013). Para realizar esta análise, foram examinados os anais do CONBRACE de 1997 a 2017, verificando a produção sobre o corpo nesse importante evento.
Cabe reforçar que, em 1997, no X CONBRACE realizado na cidade de Goiânia, pela primeira vez na história do CBCE, dividiram-se os trabalhos por GTT. Entretanto, conforme foi indicado anteriormente, nesse ano não foi criado nenhum GTT sobre corpo, o que veio a acontecer dois anos depois, no XI CONBRACE de Florianópolis, realizado em 1999. Na ocasião foi criado o GTTMCC. Logo adiante, em 2004, o GTTMCC foi dividido em dois GTTs, durante encontro realizado em Cuiabá, no estado de Mato Grosso, pelo CBCE na 56ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC): o primeiro em GTT Memória da Educação Física e do Esporte (GTTMEFE) e o segundo em GTTCC (Grando et al., 2007).
Pelo menos desde 1997, o CONBRACE divulga os anais do evento com os trabalhos publicados em cada GTT. De modo geral, as comunicações orais aparecem como textos mais aprofundados e pôsteres como resumos.
Por conseguinte, neste estudo, para compor a análise dos dados, a busca e seleção dos textos se deu a partir da presença da palavra “corpo” no título do texto, no resumo ou nas palavras-chave das comunicações orais. Entretanto, com base nas informações sobre a origem dos GTTs, considerando de modo específico o tema “corpo” com o intuito de analisar os primeiros 20 anos da criação dessa estrutura no interior do CBCE e os 25 anos de ação dos GTTs em 2022, esta pesquisa adotou a divisão sugerida por Brito et al. (2021), por considerar que a proposta ajuda a entender os diferentes momentos de criação dos GTTs relacionados ao corpo. Assim, ficou estabelecida a distribuição dos períodos conforme as expressões a seguir: i) Período de Generalização (1997) - uma vez que não havia um GTT específico, fez-se a busca em todos os GTTs nos anais de 1997; ii) Período de Reconhecimento (1999-2003) - denominado desta forma, pois o Colégio cria um GTT específico para esse debate (Memória, Cultura e Corpo - MCC), direcionando a investigação a se deter especificamente nesse GTT; e iii) Período de Consolidação (2005-2017) - esse último período correspondente à divisão do GTTMCC em GTTMEFE e GTTCC, ficando esta pesquisa restrita a este último.
O fato de esta pesquisa se restringir aos trabalhos de comunicação oral publicados nos anais de 1997 a 2017 se deu pela necessidade de leitura completa dos textos para se discutirem as concepções de corpo presentes nos CONBRACEs. Desse modo, identificou-se primeiro o número de comunicações orais de cada ano para, em seguida, serem selecionados os textos pela busca da palavra “corpo” (Tabela 1).
A partir da Tabela 1, observa-se um total de 538 comunicações orais apresentadas no período de análise. Em seguida, foram inicialmente selecionados 207 (38,5%) textos para leitura na íntegra por corresponderem aos critérios de inclusão. Contudo, após a leitura, foram identificados textos que não apresentavam concepções explícitas de corpo (Tabela 2).
Assim, do total de 207 trabalhos que foram analisados, 75 (36,2%) deles não apresentavam concepções de corpo, assim especificados, observando-se cada período: 10 (38,5%) na fase de Generalização; 23 (60,5%) no período de Reconhecimento; e 42 (29,4%) na etapa de Consolidação. Logo, há 132 (63,8%) trabalhos possuindo concepção de corpo e aptos para serem avaliados. Os textos foram submetidos a uma análise quanti-qualitativa, conforme afirmam Santos Filho e Gamboa (1997, p. 105):
Em relação às categorias quantidade-qualidade, as pesquisas com enfoque dialético, no que se refere às técnicas, geralmente utilizam as [fontes] historiográficas, tratando as dimensões quantitativas e qualitativas dentro do princípio do movimento. Essas categorias modificam-se, complementam-se e transformam-se uma na outra e vice-versa, quando aplicadas a um mesmo fenômeno. De fato, as duas dimensões não se opõem, mas se inter-relacionam como duas fases do real num movimento cumulativo e transformador, de tal maneira que não podemos concebê-las uma sem a outra, nem uma separada da outra.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Antes, é importante apresentar dois elementos que podem ajudar a entender o processo de produção do conhecimento sobre o corpo durante os anos do evento. O primeiro diz respeito à distribuição dos trabalhos de acordo com as regiões, instituições e pesquisadores. Essa análise se justifica, porquanto a repartição das regiões das instituições e pesquisadores pode ajudar a compreender a concentração da produção do conhecimento sobre um dado tema, bem como os expoentes na produção do conhecimento em cada período. Há ainda o interesse de vincular a distribuição da produção do conhecimento sobre o corpo com os cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestrado e Doutorado em Educação Física no Brasil), pois, teoricamente, os principais pesquisadores e grupos de pesquisa possuem - em sua maioria - ligações com Programas de Pós-Graduação (PPGs).
O segundo ponto, e o mais relevante deste estudo, é identificar as principais concepções de corpo em cada momento. Para tanto, foram identificadas certas categorias que expressam as concepções centrais, bem como se procurou apresentar citações em cada período que indicam as reflexões que levaram ao desenvolvimento de certas compreensões. Logo, estes resultados e discussões estão assim subdivididos: i) perfil da produção do conhecimento - regiões, instituições e principais pesquisadores; e ii) as categorias das concepções de corpo expressas em cada período delimitado.
Perfil da produção do conhecimento sobre corpo nos anais do CONBRACE: regiões, instituições e principais pesquisadores
De acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), instância responsável pela avaliação dos PPGs (Mestrado e Doutorado no Brasil), existem 60 Programas de Pós-Graduação em Educação Física (PPGEFs) - considerando cursos de Mestrado Acadêmico e Profissional, assim como Doutorado Acadêmico e Profissional -, sendo que 6 desses (10,0%) estão no Centro-Oeste; 8 (13,3%) no Nordeste; 1 (1,7%) no Norte; 28 (46,7%) no Sudeste; e 17 (28,3%) no Sul (Brasil, 2021).
Na Tabela 3 são apresentados os trabalhos analisados por região e período de análise a respeito da produção sobre as concepções de corpo no CONBRACE.
Cruzando as informações relacionadas ao número de PPGEFs e a quantidade de trabalhos sobre corpo, de acordo com a informação encontrada por região, é possível identificar que não há correspondência direta entre o número de PPGEFs e o número total de trabalhos publicados como comunicação oral no CONBRACE. Essa informação demonstra algumas possibilidades. A primeira delas seria que os pesquisadores com publicação nos anais do evento em lide não têm - ou não tinham - uma relação específica com os PPGEFs. Por outro lado, algumas temáticas - como é o caso das concepções de corpo - podem interessar a pesquisadores específicos, e por isso não se encontrou tal relação.
Ao se olhar de maneira mais detida, percebe-se um quantitativo de cursos distribuídos em cada região, com o Sudeste possuindo mais PPGEFs, o Sul em segundo, o Nordeste em terceiro, o Centro-Oeste em quarto e, por último, o Norte. Quando se avalia a distribuição de trabalhos nos períodos, verifica-se uma certa similaridade no período de Generalização - Sudeste com mais trabalhos, Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte, respectivamente -, enquanto no período de Reconhecimento os trabalhos vieram apenas do Sudeste e do Sul; e, no Período de Consolidação, a sequência foi Sudeste, Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte, não demonstrando especificamente haver uma correlação.
Esta análise demonstra que houve um crescimento na produção do tema em algumas regiões, principalmente no Centro-Oeste. As possibilidades para isso são inúmeras, sendo uma delas o local de realização dos eventos, pois, embora o CONBRACE seja realizado sempre em lugares diferentes, as mudanças provocadas pelas políticas públicas coordenadas, principalmente, no período do governo do Partido dos Trabalhadores (PT), tal como o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI)2, fizeram com que se aumentasse o número de cursos e professores universitários nas Instituições de Ensino Superior (IES) públicas federais de todo o Brasil. Dessarte, vários docentes saíram de suas regiões de origem (nascimento e formação), sobremaneira dos PPGEFs das regiões Sudeste e Sul, e migraram para vários estados do Nordeste, Centro-Oeste e Norte, embora esta seja uma análise que precisa ser aprofundada em próximos estudos.
Outro aspecto a ser destacado são os autores que mais apresentaram trabalhos, em que é possível identificar quem tem publicado de maneira constante sobre o tema ao longo do tempo no CONBRACE. Como forma de estabelecer critérios nessa seleção, optou-se por apresentar até três autores que mais apresentaram trabalhos em cada período. Desse modo, durante o momento da Generalização, a pesquisadora que mais apresentou trabalhos discutindo o corpo e suas concepções foi a professora Terezinha Petrúcia da Nóbrega, com dois trabalhos, sendo ela também a participante que mais apresentou trabalhos em todo o CONBRACE de 1997.
Nos outros períodos, os quais contam com mais eventos, foi possível identificar os pesquisadores Andréa Moreno, Carlos José Martins e Ivan Marcelo Gomes, cada um com dois trabalhos no período de Reconhecimento. Já no período de Consolidação do tema, tem-se como pesquisadores com maior número de trabalhos: Karenine de Oliveira Porpino, com sete trabalhos; Juliana Gomes Saneto e Silvia Maria Agatti Lüdorf, com quatro trabalhos cada uma.
Deve-se apontar ainda que, na somatória de períodos, permanecem com maior quantidade de trabalhos apresentados: Karenine de Oliveira Porpino (7); Ivan Marcelo Gomes (5); Juliana Gomes Saneto (4); Silvia Maria Agatti Lüdorf (4); Terezinha Petrúcia da Nóbrega (3); e Carlos José Martins (3).
Desses pesquisadores, Karenine de Oliveira Porpino e Terezinha Petrúcia da Nóbrega são do Nordeste e vinculadas à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os demais são vinculados a instituições do Sudeste: Ivan Marcelo Gomes e Juliana Gomes Saneto, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); Silvia Maria Agatti Lüdorf, da UFRJ; e Carlos José Martins, da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Nesse aspecto, é possível demonstrar algumas das instituições e regiões que mais produzem sobre corpo no Brasil. Quanto aos principais pesquisadores do Norte, Sul e Centro-Oeste, serão necessários estudos futuros.
Por fim, em relação aos pesquisadores que mais apresentaram trabalhos, Terezinha Petrúcia da Nóbrega, Carlos José Martins e Ivan Marcelo Gomes foram os que mantiveram uma produção em mais de um período, sendo que este último demonstrou uma elevação em suas produções.
As categorias das concepções de corpo expressas nos anais do CONBRACE
Na Tabela 4, são apresentadas as principais categorias identificadas quando se discute a concepção de corpo nos anais do CONBRACE.
As concepções de corpo identificadas - com maior prevalência - e categorizadas foram: corpo cultural; corpo existencial; corpo máquina/organismo; corpo sujeito pela corporeidade; corpo identidade/simbólico; dentre outras. Diante de todas as categorias predominantes identificadas, é possível apresentar como em cada período os autores expuseram suas compreensões. Contudo, foram selecionadas algumas para demonstrar como elas são evidenciadas considerando-se os limites de um artigo. Desse modo, este estudo dialogará com as concepções de corpo cultural; corpo existencial; corpo máquina/organismo; corpo sujeito pela corporeidade; e corpo identidade/simbólico, justamente por serem as de maior frequência.
Foi muito comum nos textos se evidenciar o corpo como uma construção cultural, sendo esta a categoria com mais trabalhos. Alguns exemplos estão demonstrados a seguir3:
O corpo, pensado em sua diversidade cultural e social, tem sido um ponto central nas reflexões antropológicas [...]. O corpo repleto de símbolos, como nos lembra Mauss, é o instrumento primeiro e o mais natural objeto técnico do homem onde são inscritas as tradições da sociedade. Desta forma, uma pequena ação ou gesto podem traduzir com clareza certos elementos culturais aprendidos pelo indivíduo dentro de sua comunidade ( Fassheber, 2001 , p. 2).
E se ele, o corpo, ‘fala’, o faz através de uma série de códigos, de cheiros, de comportamentos e de gestos que só podem ser ‘lidos’, ou seja, significados na contextualização de uma dada cultura. Entretanto, isso não quer dizer que os corpos são ‘lidos’ ou compreendidos do mesmo modo em qualquer tempo e lugar, nem que seja atribuído valor ou importância semelhantes às características corporais em distintas culturas (Kowalski & Ferreira, 2005, p. 951-952).
De modo geral, pesquisadores que dialogam com a ideia de corpo na perspectiva de uma elaboração cultural, como exposto, tendem a negar ou, ao menos, questionar essa ideia como uma construção biológica. Esse movimento pode ser percebido em alguns textos considerados clássicos no campo da Educação Física, como os de Daolio (2004, 2005).
Correia e Almeida (2020, p. 4) dizem que, quando
[...] buscaram pensar nas ações do próprio corpo frente às relações de poder que o atravessam; não interessariam somente os efeitos da cultura sobre o corpo, mas a maneira como acontece a própria ação do corpo nas relações sociais, isto é, numa determinação que não vem apenas de fora e se inscreve nele, mas interna ao próprio corpo.
Também é possível identificar uma aproximação com um autor clássico da antropologia: Marcel Mauss. Esse autor traz análises importantes em sua obra Sociologia e Antropologia em relação ao debate sobre o corpo como uma construção cultural, sendo um de seus conceitos centrais a análise das técnicas corporais, em que o corpo é um elemento fundamental. Para ele:
O corpo é o primeiro e o mais natural instrumento do homem. Ou, mais exatamente, sem falar de instrumento: o primeiro e o mais natural objeto técnico, e ao mesmo tempo meio técnico, do homem, é seu corpo. Imediatamente, toda a imensa categoria daquilo que, em sociologia descritiva, eu classificava como ‘diversos’ desaparece dessa rubrica e ganha forma e corpo: sabemos onde colocá-la (Mauss, 2013, p. 407).
Desse modo, aparentemente, nas análises dos autores acima, é possível reconhecer uma forte influência da antropologia. Entender o corpo como instrumento é identificá-lo como uma categoria que apresenta um diálogo entre o ser humano e a natureza, bem como o meio pelo qual determinada cultura é elaborada e passa a se relacionar com o próprio corpo.
Em uma outra categoria dos dados avaliados, é possível identificar o corpo como expressão existencial do ser humano, porquanto é pelo corpo que se existe. Esta análise pode ser vista nos excertos a seguir:
O mundo da vida é o lugar onde a coexistência da vida dos corpos-sujeitos é sistematizada e explicitada [...]. Corpo este com capacidade de expressão e palavra, representado por elementos constituintes de subjetividade. Cabe destacar que a singularidade não é uma globalidade uniforme, tampouco uma totalidade, e sim um corpo em falta, sendo constituído por uma rede histórica demandada pelo outro ( Schwengber, 1997 , p. 226).
Já o que na época revela-se uma novidade para mim - conceber o Ser como sendo o próprio corpo, como uma totalidade indivisível ( Medeiros, 1999 , p. 1317).
Parece redundante a utilização do termo, pois se tomarmos a definição de Merleau-Ponty o ser é um ser corporal, deste modo para além do que é a definição do termo, importa a sua implicação. O autor nos convida a pensar que o corpo é a dimensão central da existência ( Correa, 2009 , p. 3).
Nessas passagens apresentadas, é possível identificar termos como “coexistência”, “totalidade indivisível” e, ainda, “existência”. Estas análises se aproximam predominantemente do pensamento do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty. Para esse filósofo, a perspectiva do corpo como o lócus central de existência é a essência da sua teoria. Merleau-Ponty (2011, p. 118), por sua vez, esclarece que a atenção à vida é a consciência que se toma de “movimentos nascentes” no próprio corpo - tanto que, para esse autor, não se tem um corpo, se é um corpo.
Outras pesquisas na Educação Física que têm uma concepção em comum são aquelas nas quais se compara o corpo a uma máquina. Essa análise é presente em autores que discutem o corpo na perspectiva da biodinâmica. De acordo com Manoel e Carvalho (2011), existem três grandes linhas de pesquisa na Educação Física brasileira, sendo elas: a) biodinâmica; b) sociocultural; e c) pedagógica. Segundo esses pesquisadores:
As linhas de pesquisa na biodinâmica são orientadas pelas ciências naturais (ABERNETHY, 1996; AMADIO; BARBANTI, 2000). A subárea sociocultural trata de temas como esporte, práticas corporais e atividade física nas perspectivas da sociologia, da antropologia, da história e da filosofia. A subárea pedagógica investiga questões relativas à formação de professores, ao desenvolvimento curricular, aos métodos de ensino e à pedagogia do esporte, além de tratar de aspectos metodológicos, sociais, políticos e filosóficos da educação. As subáreas sociocultural e pedagógica definem suas linhas de investigação orientadas pelas ciências sociais e humanas. Nesse sentido, a Educação Física investiga em estreita proximidade com a área da educação (BAIN, 1995; BRACHT, 2006), com a sociologia (, 2009), com a filosofia (FENSTERSEIFER, 1996; KRETCHEMAR, 1994) e com a história (SBETTIOARES, 1998) (Manoel & Carvalho, 2011, p. 392).
No caso deste estudo, procura-se a proximidade com o campo sociocultural, entendendo-se que os pressupostos filosóficos e sociais da Educação Física podem influenciar inclusive na compreensão e intervenção pedagógica, como já foi dito anteriormente, trazendo impactos para a formação humana de modo geral. Na sequência, alguns trechos dos anais analisados sobre a compreensão de corpo máquina/organismo:
‘O corpo é considerado uma máquina que funciona segundo os princípios das ‘leis físicas’, portanto, seus movimentos ocorrem por meio da mecânica de seu próprio funcionamento, sendo que a ‘governabilidade’ está relacionada a ela e/ou ao exercício de uma vontade estabelecida por uma razão a priori’ (DESCARTES,1974, p. 234) ( Rodrigues, 1997 , p. 1586).
Segundo Foucault, a partir do século XVII desenvolveu-se em nossas sociedades um tipo de poder político que tinha por tarefa gerir a vida do corpo social. Este poder se desdobrava em duas formas principais, dois pólos (sic) de desenvolvimento interligados por um conjunto de relações intermediárias. O primeiro destes pólos (sic) centrava-se no corpo como máquina: seu adestramento, ampliação de suas aptidões, ampliação de suas forças, crescimento paralelo de sua utilidade e docilidade, sua integração em sistemas eficazes e econômicos. Este conjunto de procedimentos caracterizariam o poder disciplinar, que configura uma anátomo-política do corpo humano. O segundo, formou-se por volta da metade do século XVIII, focado no corpo-espécie, corpo transpassado pela mecânica do ser vivo e como suporte dos processos biológicos: proliferação, nascimentos e mortalidade, nível de saúde, duração da vida, longevidade, com todas condições que podem fazê-los variar. Tais processos são assumidos mediante toda uma série de intervenções e controles reguladores que configuram uma bio-política (sic) da população. As disciplinas do corpo e as regulações da população constituem os dois pólos (sic) em torno dos quais se desenvolveu a organização do poder sobre a vida em nossas sociedades. O corpo para Foucault não tem estruturas e necessidades fixas, como quer a perspectiva naturalista, mas pode ser modificado, aperfeiçoado, e suas necessidades são produzidas e organizadas de diferentes maneiras. Ele é maleável, flexível, formado por diversos hábitos, valores e práticas, estando, portanto, inscrito na história. É por não ser um dado natural, que as técnicas de poder investem sobre sua materialidade e forças (Altmann & Martins, 2001, p. 1).
Esse corpo é normalmente colocado como um alter ego consagrado na sociedade, uma auto-admiração. Sendo assim, há uma fragmentação do corpo de tal forma que o organismo perde sua totalidade, podendo ser afirmado que as peças dessa máquina perfeita são substituíveis ( Siqueira & Mendes, 2009 , p. 2-3).
Nesses excertos, é possível identificar alguns aspectos importantes. O primeiro é compreender que, em alguns dos estudos, a compreensão de corpo máquina ou de corpo organismo aparece mais como uma denúncia do que como um anúncio. A partir de Medeiros (1999), ao se discutir o corpo em pesquisas, podem ser identificadas duas formas centrais de análise. Uma que é denominada de denúncia, e a outra como anúncio. Na denúncia, não se pretende confirmar certa concepção de corpo, mas, ao contrário, apresentar essa análise como um problema. Por outro lado, nos anúncios, o corpo máquina/organismo é asseverado como sendo algo adequado e/ou positivo.
Nas análises apresentadas, infere-se que ambas as condições se manifestam. No caso dos estudos de Rodrigues (1997) e de Siqueira e Mendes (2009), identifica-se certo anúncio, pois se entende das passagens analisadas que há uma defesa do corpo enquanto máquina/organismo. Por outro lado, o estudo de Altmann e Martins (2001) demonstra, em seu diálogo com o filósofo francês Michel Foucault, a denúncia de que o corpo é visto em sua condição de máquina em um primeiro momento, e de organismo em um segundo momento, como forma de se estabelecer uma biopolítica sobre o corpo e, consequentemente, sobre o próprio ser humano.
Ao se olhar para o corpo como anúncio de máquina, observa-se a menção a Descartes, filósofo e matemático francês do século XVII, que foi citado por Rodrigues (1997), sendo um autor importante neste debate tanto pela obra Meditações metafísicas como pela obra Discurso do método (Descartes, 2005, 2006).
Verifica-se uma defesa do corpo como máquina quando Descartes (2006, p. 44) diz:
Considerava-me, primeiramente, como tendo um rosto, mãos, braços, e toda essa espécie de máquina composta de ossos e carne, tal como ela aparece em um cadáver, a qual eu designava pelo nome de corpo [...]. No que tange ao corpo, não duvidava de modo algum de sua natureza; pois pensava conhecê-la muito distintamente.
Nessa passagem, Descartes (2006) demonstra a sua compreensão de corpo, apontando para o fato de que, mesmo tendo compreensão da existência do rosto, das mãos, dos braços, entre outros, ele o entende com uma espécie de máquina. Outro ponto de proeminência é o fato de ele ver um corpo como vê um cadáver. Sobre esse fato proeminente, ele merece devida reflexão crítica a partir do pensamento de Adorno e Horkheimer (1985, p. 218), os quais, séculos mais tarde, vêm dizer, no texto “Interesse pelo corpo”, presente na obra Dialética do esclarecimento, que não “[...] se pode mais converter o corpo físico (Körper) no corpo vivo (Leib)”.
Outro autor que fala do ser humano e do corpo como uma máquina é La Mettrie (1865, p. 37-38, tradução nossa), o qual assim se expressa:
O corpo humano é uma máquina que ele mesmo monta suas molas; viva imagem do movimento perpétuo. Que os alimentos mantenham o que a febre excita. Sem eles, a alma enfraquece, fica furiosa e morre abatida. É uma vela cuja luz volta à vida quando morre. Mas alimente o corpo, despeje em seus cachimbos de sucos vigorosos, licores fortes: então a alma, generosa como eles, se arma com coragem orgulhosa, e o soldado que a água o teria feito fugir, tornam-se ferozes, correm alegremente até a morte ao som de tambores. Isso é, já que a água quente agita o sangue que a água fria havia acalmado.
Essa perspectiva de La Mettrie se apresenta também em outros autores, como é o caso de Bittencourt e Bassalo (2021, p. 12), os quais identificaram, em sua investigação empírica, a seguinte verbalização dos participantes:
[...] ‘dependendo do assunto específico [...] pode ser de certa forma uma máquina pode ser um instrumento pode ser várias coisas’. [...] e, refletindo acerca da complexidade da pergunta sobre como entende o corpo, demora cerca de quatro segundos para então iniciar sua resposta e afirmar que a definição de corpo está sujeita a um ‘assunto específico’, mas que, de certo modo, ele é uma ‘máquina’ e pode ‘ser várias coisas’, o que denota a noção de corpo útil, funcional e disciplinado para ser utilizado como instrumento de trabalho, de vigilância e de exame.
Além de se compreender neste aspecto o corpo como uma máquina, não se pode deixar de mencionar a concepção de corpo como organismo, a qual foi apresentada no estudo de Siqueira e Mendes (2009), sendo essas concepções muito próximas das ciências biológicas. Entre os autores clássicos da filosofia, o positivista Auguste Comte apresenta essa compreensão nitidamente de um organismo. Segundo Comte (1978, p. 434): “Os seres vivos são necessariamente corpos, que, apesar da sua maior complicação, seguem sempre as leis mais gerais da ordem material, cuja preponderância imutável domina todos os fenômenos próprios deles, sem, todavia, anular nunca a espontaneidade dos mesmos”.
Para além de Comte, na obra Escritos sobre a Medicina, Georges Canguilhem, médico e filósofo francês do século XX, demonstra que o corpo pode ser entendido como organismo, o qual “[...] é a estrutura anátomo-fisiológica do ser humano”, e complementa dizendo que o “[...] corpo humano vivo é o conjunto de poderes de um existente tendo capacidade de avaliar de se representar a si mesmo esses poderes, seus exercícios e seus limites” (Canguilhem, 2005, p. 41).
Como forma de trazer um ponto de interrupção deste debate sobre corpo enquanto organismo, ainda é possível dialogar com esse médico francês quando ele diz ser o corpo, simultaneamente, um dado e um produto. Para Canguilhem (2005, p. 42), o corpo é um dado “[...] uma vez que é um genótipo, efeito a um só tempo necessário e singular dos componentes de um patrimônio genético”. Todavia, o corpo pode ser também um produto em “[...] sua atividade de inserção em um meio característico, seu modo de vida escolhido ou imposto, esporte ou trabalho, contribui para dar forma a seu fenótipo, ou seja, para modificar sua estrutura e, por conseguinte, para singularizar suas capacidades” (Canguilhem, 2005, p. 42).
Outra categoria encontrada, a partir das concepções de corpo analisadas, foi a de corpo sujeito pela corporeidade. Essa categoria foi identificada em algumas passagens como as que se seguem:
‘Corporeidade é a referência básica existente do homem como ser no mundo, diante dos aspectos sociais, políticos, ideológicos, religiosos, éticos, educacionais e outros’ (Merleau-Ponty) ( Alencar & Cavalcanti, 1997 , p. 1311).
Com o advento da República houve, no Brasil, a necessidade de se estabelecer uma nova ordem social inspirada no projeto de modernização dos países europeus [...]. De acordo com a visão dos republicanos, a população mineira dessa época era em sua maioria pobre, analfabeta, doente, fraca, e sendo assim não atendia às perspectivas do novo modelo de cidadão que se pretendia formar. Era preciso estabelecer, o mais rápido possível, novos valores e uma nova corporeidade ( Oliveira, 2003 , p. 1).
O homem é a sua corporeidade, é movimento criativo que possui possibilidades ilimitadas de vivências significativas. Nessa perspectiva, a corporeidade é uma relação de totalidade, e o ser humano, sendo sua corporeidade, se expressa sempre de forma original, criativa e intencional ( Surdi et al., 2011 , p. 7).
Nessas três passagens mencionadas, a constituição de um corpo sujeito, conforme prevê Merleau-Ponty (2011), é feita a partir da corporeidade de cada ser. Interessante destacar nessa concepção como a construção da corporeidade se aproxima da perspectiva fenomenológica, sendo esta a perspectiva teórica mais explícita nos trabalhos categorizados como corpo sujeito pela corporeidade. Segundo o filósofo francês:
O espaço e, em geral, a percepção indicam no interior do sujeito o fato de seu nascimento, a contribuição perpétua de sua corporeidade, uma comunicação com o mundo mais velha que o pensamento. Eis por que eles obstruem a consciência e são opacos para a reflexão (Merleau-Ponty, 2011, p. 342, grifo nosso).
Merleau-Ponty retoma a ideia de corporeidade em outra passagem ao afirmar que:
A solução de todos os problemas de transcendência se encontra na espessura do presente pré-objetivo, em que encontramos nossa corporeidade, nossa sociabilidade, a preexistência do mundo, quer dizer, o ponto de desencadeamento das ‘explicações’ naquilo que elas têm de legítimo - e ao mesmo tempo o fundamento de nossa liberdade (Merleau-Ponty, 2011, p. 580, grifo nosso).
Por último, apresenta-se a concepção que trata do corpo como expressão da identidade/simbólico. A seguir, alguns excertos para se compreender melhor essa concepção:
O corpo é a própria pessoa. Mais do que identidades sociais, máscaras ou personagens adotadas, mas até mesmo do que as ideias e convicções, frágeis e manipuladas, o corpo é a própria realidade da pessoa. Portanto, já não existe vida privada que não suponha o corpo ( Grunennvaldt, 1997 , p. 1402).
O corpo é, de acordo com Sant’Anna (2001), ‘biocultural’, visto que é território biológico e simbólico que pode revelar e, ao mesmo tempo, esconder traços de sua subjetividade e de sua fisiologia. Por isso, ao pesquisar sobre o que é desconhecido no corpo, torna-se inviável separá-lo tanto da natureza quanto de seu contexto histórico e cultural. Por ser finito, pois acompanha o indivíduo desde seu nascimento até a sua morte, o corpo é sujeito de inúmeras transformações, nem sempre desejáveis ou previsíveis ( Vasconcelos, 2005 , p. 1241).
Há uma esperança no imaginário social que o corpo concretize uma identidade, sem ambiguidades e inconstâncias, isto é, que o corpo mostre as ‘marcas’ biológicas como identidade fixa e normal. Contudo, o processo é complexo e essa dedução pode ser equivocada porque os corpos são significados pela cultura e, continuamente, alterados. Conforme Sau (1993, p.19) “(...) tudo é natural inclusive a ‘cultura’, mas num sentido amplo tudo é cultural, inclusive a ‘natureza’(...)” ( Costa, 2013 , p. 2).
Verifica-se que, nos períodos de Generalização e de Consolidação, a concepção de corpo como identidade ou simbólico é contemplada, contudo, no período do Reconhecimento, isso não ocorre, demonstrando que durante esse tempo a ideia de corpo como expressão da identidade ou como elemento simbólico não se estabelece teoricamente no CONBRACE. Sobre a identidade, Takaki e Bassani (2016, p. 91) afirmam que:
A imagem que esse corpo transmite é capaz de expressar inúmeros significados, voluntários ou não, que acabam por classificar, elegendo certos indivíduos a determinados grupos, selecionando os estranhos, agregando para si seus semelhantes. O corpo e as identidades caminham juntos quando pensamos nas funções que acabam desempenhando em nosso tempo.
Esta passagem de Takaki e Bassani (2016) traz o debate da identidade que dialoga de modo próximo com o estudo de Costa (2013). Este ponto é importante para se analisar como, em algumas perspectivas teóricas, a construção da identidade é importante. Em relação à construção de um corpo simbólico, o diálogo se realiza por perspectivas como da citação a seguir:
O corpo simbólico vai se formando pela incorporação de significantes, desde as primeiras identificações. Trata-se mesmo de uma ‘in-corpo-ração’, ou da introdução, no corpo, de significantes dirigidos e/ou associados ao futuro sujeito - desde seu nascimento ou mesmo antes de ele nascer - que vão criando um campo simbólico propício ao desenvolvimento de um sujeito [...]. A instância simbólica, ou seja, as palavras advindas dos outros, vai animar o corpo real, no sentido original, de animare, do latim: dotar de vida (animus: espírito, energia, coragem, audácia, vontade, desejo e paixão). Como é um corpo simbólico, ‘este corpo falado não escapa às regras da semântica e da sintaxe - faz-se objeto de condensações e deslocamentos’ (Nacht, 2000, p. 208) - e é passível de associações e de interpretação (Víctora, 2015, p. 46).
A partir da compreensão de Víctora (2015), tem-se que o corpo simbólico é constituído por meio de linguagens e interações pessoais e dependentes de interpretação. Nota-se que as ideias de identidade se aproximam de teorias sociológicas, principalmente nos debates de gênero e sexualidade, ou pela perspectiva da fenomenologia, assim como as ideias de simbólico.
Mais concepções de corpo também foram encontradas ao longo do estudo, tais como: objeto; social; fragmentado/fronteira; histórico; aparência/estética; sagrado; subjetividade; totalidade; artificial/virtual; político; antropológico; espetáculo; coisificado; poder/controle; dentre outras. Tais categorias têm ganhado constância na produção sobre o corpo e merecem estudos posteriores que promovam análises mais aprofundadas.
Além disso, cada uma das concepções podem evidenciar uma perspectiva epistemológica distinta, as quais não foram discutidas aqui, pois em algumas situações existem divergências quanto à análise de certos autores, uma vez que vários grupos de pensadores acreditam que, ao não se posicionarem epistemologicamente e não se vincularem a determinadas tradições do pensamento, conseguem debater o objeto, neste caso o corpo, com autores que julgam mais interessantes de forma independente e diversificada.
Contudo, concorda-se com a postura apresentada por Gamboa (2017) ao analisar a produção do conhecimento. Para o autor, toda produção pode ser situada do ponto de vista: teórico, quando são usadas referências teóricas clássicas ou atuais; epistemológico, no momento em que se debate o conhecimento a partir dos paradigmas epistemológicos; gnosiológico, para indicar a relação com teorias mais críticas ou tradicionais [racionalidade instrumental ou comunicativa]; e ontológico, por estar relacionado à compreensão que se tem de ser humano.
Também há um número significativo de produções sem uma concepção clara de corpo. Esse ponto é interessante pelo fato de as produções usarem o termo corpo como senso comum. Nada obstante, conforme foi visto ao longo desta pesquisa, as concepções, tão logo sucedem, são múltiplas e apontam, como dito anteriormente, para a necessidade de análises posteriores.
CONCLUSÃO
Esta pesquisa analisou as concepções de corpo presentes no CONBRACE no período de 1997 a 2017. A partir dos resultados coligados, pôde-se observar que as principais concepções de corpo estão relacionadas às de corpo cultural; corpo existencial; corpo máquina/organismo; corpo sujeito pela corporeidade; e corpo identidade/simbólico, as quais demonstram uma forte aproximação deste debate com as perspectivas das ciências humanas, sociais, da filosofia e das artes em todo o período investigado.
Porém, infelizmente ainda existem estudos que apresentam o corpo apenas como uma máquina/organismo, isto é, um objeto disciplinado e fragmentado, em que existe um debate aproximado com as ciências duras, embora os GTTs analisados busquem aproximação com as ciências moles. Ainda, cabe destacar a presença teórica de autores positivistas como, por exemplo, Comte (1978), que é uma importante referência na filosofia e na sociologia e que considera o corpo um organismo.
Registra-se ainda que não foi possível identificar a concepção de corpo em um número significativo de trabalhos - 75 no total -, demonstrando que as pessoas que discutem o tema já o entendem por um lugar comum ou que não há clareza da importância da concepção de corpo em relação à Educação Física, o que sugere a necessidade de novos estudos sobre tal problemática.
Importante dizer a respeito dos principais autores encontrados nesta análise, pois, com isso, é possível localizar a região de produção do conhecimento. Deve-se registrar que os achados desta pesquisa não demonstram uma relação linear entre o número de trabalhos sobre o corpo e o número de PPGs em Educação Física por região do Brasil. Este dado sugere algumas possibilidades. A primeira, que não foi analisada, está relacionada às linhas de pesquisa dos PPGs. A segunda diz respeito aos grupos de pesquisa sobre corpo distribuídos pelo Brasil, os quais não foram identificados nesta pesquisa, mas estão presentes em outros estudos (Alencar, 2014; Lüdorf et al., 2014; Viana & Farias, 2014; Vilarinho Neto et al., 2014; Wenetz et al., 2014).
Ao se localizarem os principais autores de cada período, esta pesquisa demonstrou a distribuição geográfica dos estudos e dos nomes importantes de cada período. Se, por um lado, esses pesquisadores confirmam o prestígio dos PPGs no Sudeste, por outro, apresentam a forte influência do Nordeste, sobremaneira da UFRN neste tema.
No período de Consolidação, houve uma quantidade bem significativa de comunicações orais advindas do Centro-Oeste. Isto se deve, provavelmente, ao fato de que o CONBRACE de 2017 - último ano desta análise - ocorreu na cidade de Goiânia; contudo, é preciso um acompanhamento dos dados para saber como se consolidam tais informações ao longo do tempo, haja vista a presença de edições anteriores do CONBRACE em outras regiões, e isso não ter sido um fator central de aumento da produção no tema. Ademais, esse aumento de trabalhos da região Centro-Oeste pode estar vinculado à estabilização de alguns grupos, como o Núcleo de Estudos do Corpo e Natureza (NECON), da Universidade de Brasília (UnB), coordenado pela professora Dulce Maria Filgueira de Almeida; e o Grupo Corpo, Educação e Cultura (COEDUC), da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), organizado pela professora Beleni Salete Grando, os quais têm participado ativamente da produção do GTTCC, sobremaneira a partir de 2005.
Em conclusão, este estudo analisou e apresentou variadas tendências, as quais apenas a realidade e a história como critérios da verdade poderão confirmar.
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1
Artigo publicado com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq/Brasil para os serviços de edição, diagramação e conversão de XML.
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2
O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais é um programa instituído pelo Governo Federal do Brasil através do Decreto nº 6.096/2007, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Esse programa ajudou na criação e expansão de universidades federais em todo o País, aumentando o número de vagas para estudantes, novos cursos e ampliação do quadro docente.
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3
Para diferenciar as passagens dos textos analisados na pesquisa realizada nos anais do CONBRACE das citações de autores que são utilizados para dar sustentação teórica ao texto, este estudo adota o itálico para os excertos provenientes dos anais examinados.
Histórico
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Recebido
01 Nov 2022 -
Preprint postado em
31 Out 2022
10.1590/SciELOPreprints.4942 -
Aceito
01 Abr 2024