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EDITORIAL

Neste número de Educação em Revista apresentamos ao leitor oito artigos agrupados em quatro conjuntos de artigos: 1. Práticas pedagógicas e formação de professores 2. Políticas educacionais e curriculares; 3. Educação, diversidade e inclusão e 4. Formação profissional. O presente número traz também um texto na seção Palavra Aberta e duas resenhas de livros recentemente publicados.

Abre o primeiro conjunto, Práticas pedagógicas e formação de professores, o artigo Atividade, ação mediada e avaliação escolar, de Helder de Figueiredo e Paula e Adelson Fernandes Moreira, que visa a contribuir para a construção de uma concepção de avaliação fundamentada na perspectiva sócio-histórico-cultural, contrastando dois modelos de avaliação, denominados como psicométrico e dialógico, tendo como base referências extraídas das teorias da atividade e da ação mediada. Os autores consideram que os modelos são diferenciados a partir de seu potencial para explorar tensões constitutivas da prática educativa, para proporcionar a tomada de consciência, pelos estudantes e professores, das tensões e desafios da prática educativa por eles vivenciada e para orientar o planejamento pedagógico concebido pelos professores a partir das contribuições dos estudantes. Segundo o artigo, essas potencialidades são essenciais à instauração de práticas de avaliação comprometidas com a valorização e reconhecimento dos professores e estudantes como sujeitos da experiência escolar.

O artigo Comunidade de prática online: uma estratégia para o desenvolvimento profissional dos professores de História, de Andréia Assis Ferreira, descreve e analisa a formação e a consolidação de uma comunidade de prática online (CoP) composta por professores de História da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte, bem como as potencialidades desta experiência para promover o desenvolvimento profissional de professores. A autora traça o diagnóstico do grupo, evidenciando os aspectos que permitem caracterizar um grupo de professores como uma CoP e o estágio de desenvolvimento da gestão desta comunidade. Os resultados desta investigação evidenciaram que a CoP pode ser uma estratégia pedagógica significativa para o desenvolvimento profissional de professores.

Ainda do primeiro grupo consta o artigo de autoria de Lorênia Hernández Cervantes e Joan Pagès Blanch intitulado La enseñanza de las ciencias sociales en la educación infantil en México. Las representaciones sociales y la práctica docente de 9 estudiantes de maestra de educación infantil. A partir de perspectivas propostas por Goodman & Adler, os autores analisam a prática docente no ensino das ciências sociais na educação infantil no referido contexto, compreendendo aspectos relacionados às estratégias educacionais utilizadas com vistas à formação cidadã e à promoção das relações humanas e as representações estudantis acerca das temáticas abordadas. De acordo com os resultados, a área de ciências sociais na educação infantil no contexto mexicano em foco está relacionada, segundo consideram os estudantes, como uma estratégia para promover as relações humanas.

No segundo grupo, Políticas educacionais e curriculares, apresentamos o artigo de Jamerson Antonio de Almeida da Silva, Analisando a concepção de Educação Integral do governo Lula/Dilma através do Programa Mais Educação. O autor discute a concepção de Educação Integral que orienta o Programa Mais Educação através da análise dos principais documentos que o fundamentam, constatando a proposição de uma Educação Integral Intercultural, assentada numa Gestão Intersetorial e Sistêmica. Segundo o ponto de vista do artigo, o programa é uma renovação da Teoria do Capital Humano na forma de uma Pedagogia das Competências ou neotecnicismo, por meio de um plano da gestão sistêmica e intersetorial, com o transplante do modelo empresarial de reorganização do trabalho (Teoria da Qualidade Total) para o âmbito do sistema educacional. Conclui-se considerando os riscos de subordinação intelectual e moral aos pressupostos do neoliberalismo, o que se expressa, segundo o autor, por meio do que classifica como "hegemonia às avessas" no âmbito da política educacional.

Nesse grupo se insere também o artigo Políticas de constituição do conhecimento escolar para o Ensino Médio no Rio Grande do Sul: uma analítica de currículo, de Roberto Rafael Dias da Silva. O artigo examina as políticas contemporâneas de constituição do conhecimento escolar para o Ensino Médio no Estado do Rio Grande do Sul, contribuindo para elucidação de aspectos e desafios mais ampliados no que se refere à reflexão sobre os processos de constituição do conhecimento escolar para o Ensino Médio no Brasil. A partir de uma análise documental, foram estudados os principais documentos curriculares para o Ensino Médio produzidos pelo referido Estado, atribuindo ênfase à recente reforma nomeada como Ensino Médio Politécnico. O estudo considera o lugar estratégico ocupado pelo Ensino Médio nas políticas contemporâneas de escolarização, tomando como objetivo geral o estabelecimento de um diagnóstico crítico das estratégias políticas que regulam a produção, a seleção e a distribuição do conhecimento escolar no Ensino Médio no referido contexto.

O terceiro conjunto, intitulado Educação, diversidade e inclusão, abre-se com o texto Espaço escolar e discriminação: significados de gênero e raça entre crianças, de Tânia Mara Cruz, que tem por foco as interseções entre as expressões da discriminação racial, as concepções de masculinidade e feminilidade e o pertencimento de gênero entre crianças. Ele resulta de uma pesquisa de campo desenvolvida em uma escola pública com diferentes segmentos sociais situada na cidade de São Paulo e busca compreender como meninos e meninas construíram significados de gênero e raça no cotidiano escolar. Caracteriza-se como pesquisa etnográfica e tem por referência os estudos acerca de gênero e da sociologia da infância. A pesquisa evidenciou a presença de forte racismo/sexismo em interações com pouca interferência dos adultos considerando em especial a localização de meninas negras frente à estética dominante de cor da pele, textura dos cabelos, beleza e peso nas representações expressas pelas crianças.

O artigo de Eliene Nery Santana Enes e Maria Gabriela Parenti Bicalho fecha o terceiro conjunto de textos. Intitulado Desterritorialização/ Reterritorialização: processos vivenciados por professoras de uma escola de Educação Especial no contexto da Educação Inclusiva, o trabalho analisa os processos de desterritorialização/reterritorialização vivenciados por professoras de uma escola de Educação Especial da rede pública estadual do município de Governador Valadares (MG) a partir das transformações operadas pelas políticas da educação inclusiva. A pesquisa apresenta perspectiva interdisciplinar e é marcada pela articulação de concepções advindas dos campos da Educação e dos estudos territoriais, considerando os aspectos histórico-temporais, espaciais e simbólicos presentes nos processos estudados. O artigo contribui para elucidação de mecanismos pelos quais as professoras promovem modificações de práticas, concepções, códigos, fazendo parte do devir da escola e da Educação Especial por meio de deslocamentos e constituição de territórios e processos alternativos.

Em Formação profissional apresentamos o artigo Formação de recursos humanos em saúde no Brasil: uma revisão integrativa, de autoria de Carine Vendruscolo, Marta Lenise do Prado e Maria Elisabeth Kleba. No artigo, as autoras analisaram temáticas de estudos relacionados à formação de profissionais orientada para o Sistema Único de Saúde, de 2001 a 2012. A pesquisa confirma a importância da formação como geradora das mudanças na prática dos trabalhadores da saúde, recomendando a realização de pesquisas com vistas ao fortalecimento dos dispositivos de reorientação da formação e ao aprofundamento do debate.

Em Palavra Aberta, Heloísa Andreia de Matos Lins apresenta reflexões acerca da cultura visual no texto Cultura visual e Pedagogia da imagem: recuos e avanços nas práticas escolares. A autora compreende a cultura visual para além de um repertório de imagens, considerando-a como um conjunto de discursos visuais que constroem posições e que estão inscritos em práticas sociais. Tais discursos estão intimamente relacionados às instituições que concedem o "direito ao olhar", em particular a escola, que se propõe a disciplinarizar os olhares, organizando um campo do visível e do invisível, do belo e do feio, num universo de concepções e práticas que a autora intitula de Pedagogia da Imagem. O texto apresenta ao leitor algumas inquietações: Quais são as possibilidades de transformação nas práticas pedagógicas, a partir do uso as imagens e das tecnologias? São realmente necessárias? Trouxeram/trazem de fato novidades ao que já era realizado? Como a cultura visual influencia tais decisões em âmbito escolar e como a escola participa da construção dessa forma cultural, ao longo da história? Como texto aberto, este Palavra Aberta convida o leitor ao debate, sempre urgente e necessário, acerca das relações entre Educação e Cultura Visual.

Educação em Revista apresenta, neste número, duas resenhas. A primeira, de autoria de: Inácio da Ressurreição Mamboma Luemba Serrano, apresenta e discute a obra de Francisco Perujo, Pesquisar no labirinto: a tese, um desafio possível. De acordo com Luemba Serrado, a obra contribui para o conhecimento dos desafios com que estão confrontados os pesquisadores em processo de doutoramento, num percurso que Serrano classifica como "pesquisar no labirinto". A resenha apresenta a obra destacando suas contribuições para compreensão das angústias, problemas, desafios, fracassos e desistências que caracterizam o processo de pesquisa em nível de doutorado, sendo uma obra de interesse a todos os que se dedicam à pesquisa acadêmica.

A segunda resenha intitula-se Corpo, cultura e educação na virada do século XIX ao XX: o Turnen em questão, de Carlos Herold Júnior. Trata-se de reflexão acerca da obra de Leomar Tesche, Turnen: transformações de uma cultura cor poral europeia na América, publicada no Brasil pela Editora Ijuí. O autor coloca em relevo o valor da obra para compreensão das contribuições do Turnen na construção dos traços sócio-culturais de um determinado tempo e de vários espaços, sendo de interesse para a história da educação, a história do corpo e a história da educação física. Segundo destaca, "Turnen poderá servir como uma importante sustentação na hora de justificar esforços de pesquisa voltados aos estudos históricos sobre a cultura corporal de movimento existente na virada do século XIX ao XX", sendo obra importante por reunir no conjunto de seus capítulos uma quantidade generosa de referências bibliográficas produzidas em vários países e que investigam as variadas facetas do Turnen em termos mundiais. Segundo o autor, a obra contém informações valiosas para que, no futuro, pesquisadores brasileiros somem esforços aos de Leomar Tesche e se ocupem de dimensões ainda não estudadas sobre a expansão dos movimentos ginásticos no Brasil.

Como registrado no nosso último númro, a partir dessa publicação Geraldo Leão e Júnia Sales Pereira assumriam a Editoria Geral de Educação em Revista, sob a forma de mandato, na sucessão do prof. Sérgio Cirino e em parceria com os demais Editores Adjuntos. Gostaríamos, por fim, de agradecer ao colega Sérgio Cirino, que atuou como Editor Chefe de Educação em Revista no último mandato, expressando nossa gratidão por sua dedicação, companheirismo, competência e, sobretudo, sua capacidade de articulação de equipe para o trabalho, sempre de forma cuidadosa, transparente e profissional, representando a Revista em fóruns nacionais e internacionais e contribuindo decisivamente para consolidação da política editorial da revista.

Geraldo Leão

Júnia Sales Pereira

Ana Galvão

Danusa Munford

Manuela David

Teresa Alves

Zélia Versiani

(Editores)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Abr 2014
  • Data do Fascículo
    Mar 2014
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