Resumo
Torto arado, de Itamar Vieira Junior, é um romance que resgata vários episódios importantes que nortearam uma vertente da literatura brasileira, o regionalismo, com todas as suas nuances sobre o coronelismo no Brasil, mais especificamente no Nordeste. Retrata a continuação do trabalho escravo após a abolição, a subserviência dos mais velhos com referência aos desmandos dos senhores e a revolta das novas gerações. Demonstra as condições dos negros que, apesar de serem beneficiados com a isenção dos castigos corporais, não conseguiram modificar sua condição, continuaram trabalhando sem direito a nada. No entanto, o jarê, religiosidade típica da Chapada Diamantina, construída com base na mistura de credos africanos e indígenas permeados pelo cristianismo, é o fio condutor. “Santa Rita Pescadeira” é a divindade esquecida que sobressai na narrativa, conduzindo a vida das personagens, e no final ainda toma a palavra e termina de contar a história. Romance que na atualidade se volta para situações que parecem pertencer ao passado, mas ainda são vigentes nos rincões do país. Analisar essa narrativa tendo como força motriz a religiosidade é o objetivo deste trabalho. Para isso, os estudos de Ronaldo de Salles Senna (2011SENNA, Ronaldo de Salles (2011). Jarê, a religião da Chapada Diamantina. In: PRANDI, Reginaldo (org.). Encantaria brasileira: o livro dos mestres, caboclos e encantados. Rio de Janeiro: Pallas. p. 74-119.), Gabriel Banaggia (2013BANAGGIA, Gabriel (2013). As forças do jarê: movimento e criatividade na religião de matriz africana da Chapada Diamantina. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Rio de Janeiro / Museu Nacional, Rio de Janeiro.), Reginaldo Prandi, Vallado e Souza (2011PRANDI, Reginaldo; VALLADO, Armando; SOUZA, André R. (2011). Candomblé de caboclo em São Paulo. In: PRANDI, Reginaldo (org.). Encantaria brasileira: o livro dos mestres, caboclos e encantados. Rio de Janeiro: Pallas. p. 120-145.), Roger Bastide (1989BASTIDE, Roger (1989). As religiões africanas no Brasil: contribuição a uma sociologia das interpenetrações de civilizações. Tradução de Maria Eloisa Capellato e Olívia Krähenbüehl. São Paulo: Pioneira.), Joana Elbein dos Santos (1986SANTOS, Juana Elbein dos (1986). Os Nàgô e a morte: Pàde, Àsèsè e o culto Égun na Bahia. Tradução da Universidade Federal da Bahia. Petrópolis: Vozes.), Beatriz Góis Dantas (1988DANTAS, Beatriz Góis (1988). Vovó Nagô e papai branco: usos e abusos da África no Brasil. Rio de Janeiro: Graal.), Achille Mbembe (2014MBEMBE, Achille (2014). Crítica da razão negra. Tradução de Marta Lança. Lisboa: Antígona.), Vilaça e Albuquerque (1978VILAÇA, Marcos Vinicios; ALBUQUERQUE, Roberto C. de (1978). Coronel, coronéis. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: Editora da Universidade de Brasília.), entre outros, serão imprescindíveis.
Palavras-chave:
religiosidade; jarê; coronelismo; trabalho escravo