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Revisitando a nós mesmos: os caminhos da ancestralidade e temporalidade na construção de uma literatura afrofuturista

Revisiting ourselves: the paths of ancestrality and temporality in the construction of an afrofuturist literature

Revisitándonos: los camino de la ancestralidad y la temporalidad en la construcción de una literatura afrofuturista

Resumo

A escritora Luciene Marcelino Ernesto, mais conhecida como Lu Ain-Zaila, é, com Fábio Kabral, precursora da literatura afrofuturista no Brasil. Suas obras transitam pela ficção científica, mitologia e fantasia, mesclando-as com a vida da população preta no contexto urbano brasileiro. O afrofuturismo é um conceito, um movimento literário, cultural, estético e político que surge a partir do encontro entre tecnologia e ficção especulativa, tendo concebido a possibilidade um futuro negro. Esse movimento propõe-se a redirecionar nosso olhar para a História numa perspectiva afrocêntrica, em que mulheres e homens negros são protagonistas de suas narrativas, expressões, manifestações. Neste artigo, analisamos o conto “Ode à Laudelina” presente no livro Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo (Ernesto, 2018ERNESTO, Luciene Marcelino (2018). Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo. Rio de Janeiro: Edição do Autor.). Tal conto versa sobre universo das empregadas domésticas, mostrando a forma como esta força de trabalho foi explorada, sendo fruto de uma sociedade escravocrata e que buscou manter esta lógica ainda nos tempos atuais. Contudo, essas mulheres, com conhecimento e acesso aos seus direitos, conseguem se desvencilhar das amarras desse trabalho que buscou aliená-las. Outrossim, destacamos nesse conto o empoderamento da mulher negra, que se efetivará por meio da apresentação estética das personagens. Tais abordagens podem ser vistas sob a perspectiva do afrofuturismo, uma vez que tal movimento transita entre os tempos passado, presente e futuro, dialogando com a ideia de ancestralidade, o que é demonstrado no conto.

Palavras-chave:
literatura afrofuturista; temporalidade; ancestralidade; empoderamento; Lu Ain-Zaila

Abstract

The writer Luciene Marcelino Ernesto, known as Lu Ain-Zaila is, along with Fábio Kabral, a precursor of Afrofuturist literature in Brazil. Their narratives are based on science fiction, mythology, and fantasy, intertwining them with the lives of the black population in the Brazilian urban context. Afrofuturism is a concept, a literary, cultural, aesthetic, and political movement that arises from the encounter between technology and speculative fiction, having conceived the possibility of a black future. This movement proposes to redirect our gaze to History from an Afrocentric perspective, where black men and women are protagonists of their narratives, expressions, manifestations. This article brought an analysis on the short story “Ode à Laudelina”, from the book Sankofia: brief stories about Afrofuturism (Ernesto, 2018ERNESTO, Luciene Marcelino (2018). Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo. Rio de Janeiro: Edição do Autor.). This short story deals with the universe of maids, showing how this workforce was exploited as a result of a slave-owning society which sought to maintain this logic even today. However, these women, with knowledge and access to their rights, are able to break free from the shackles of this work that sought to alienate them. Furthermore, the story of black women empowerment is also highlighted, which is effected through the aesthetic presentation of the characters. Such approaches can be seen from the perspective of Afrofuturism, since such a movement transits between the past, present, and future, dialoguing with the idea of ancestry, which is demonstrated in the short story.

Keywords:
afrofuturist literature; temporality; ancestry; empowerment; Lu Ain-Zaila

Resumen

La escritora Luciene Marcelino Ernesto, más conocida como Lu Ain-Zaila, es, junto con Fábio Kabral, precursora de la literatura afrofuturista en Brasil. Sus narrativas se basan en la ciencia ficción, la mitología y la fantasía, mezclándolas con la vida de la población negra en el contexto urbano brasileño. El afrofuturismo es un concepto, un movimiento literario, cultural, estético y político que surge del encuentro entre la tecnología y la ficción especulativa, habiéndose concebido la posibilidad de un futuro negro. Ese movimiento propone redirigir nuestra mirada a la Historia desde una perspectiva afrocéntrica, donde hombres y mujeres negros sean protagonistas de sus narrativas, expresiones, manifestaciones. En este artículo analizaremos el cuento “Ode à Laudelina”, presente en el libro Sankofia: relatos breves sobre el afrofuturismo (Ernesto, 2018ERNESTO, Luciene Marcelino (2018). Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo. Rio de Janeiro: Edição do Autor.). Tal relato trata sobre el universo de las sirvientas domésticas, mostrando cómo esta mano de obra fue explotada, siendo el resultado de una sociedad esclavista que buscó mantener esa lógica aún hoy. Sin embargo, estas mujeres, con conocimiento y acceso a sus derechos, logran liberarse de las ataduras de este trabajo que pretendía alienarlas. Además, también destacamos en esta historia el empoderamiento de la mujer negra, que se concretará a través de la presentación estética de los personajes. Dichos planteamientos pueden ser vistos desde la perspectiva del afrofuturismo, ya que tal movimiento transita entre el pasado, el presente y el futuro, dialogando con la idea de ascendencia, que será demostrada en el cuento.

Palabras clave:
literatura afrofuturista; temporalidade; ascendência; empoderamiento; Lu Ain-Zaila

INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo analisar o conto “Ode à Laudelina”, presente no livro Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo, da escritora Luciene Marcelino Ernesto (2018)ERNESTO, Luciene Marcelino (2018). Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo. Rio de Janeiro: Edição do Autor., mais conhecida como Lu Ain-Zaila. Aborda a forma como as premissas de tempo, ancestralidade e tecnologia são contempladas no conto — elementos importantes para a compreensão da literatura afrofuturista.

Este texto é resultado da pesquisa sobre a literatura afrofuturista e sua contribuição para a construção de novos caminhos para pensar o lugar das pessoas negras no futuro. A discussão aqui proposta parte de duas hipóteses: a primeira é que o movimento afrofuturista considera importante revisitar, recuperar os saberes ancestrais para que, de posse desse conhecimento, seja possível construir um presente e um futuro em que pessoas negras não sejam mais objetificadas, mas estejam em posição de sujeito que pensa, fala e transforma a sociedade. Dessa forma, proponho discutir a importância do transcurso temporal na literatura e quais temas surgem dessa concepção do tempo mediante a ótica africana.

Assim, conhecer quem fomos é primordial, pois nos ajudará a compreender aonde queremos chegar e o que queremos ser. Para que isso aconteça é necessário nos reconectarmos com nossa ancestralidade.

O tempo, em uma perspectiva africana, não está relacionado com a ideia de linearidade. Isso significa que esse tempo passado, as suas lembranças e seus feitos precisam ser revisitados, recuperados, mesmo que causem dor, para que possamos compreender as mazelas impostas ao povo negro e, a partir desse lugar, não permitir que essas formas de violências sejam propagadas no futuro, pois com o aporte desse conhecimento teremos condições de construir um presente diferente. Desse modo, é necessário elaborar e pensar estratégias sociais, políticas, culturais e econômicas para não permitir que o futuro traçado para nós, em uma sociedade construída com base no racismo enquanto projeto político e econômico, seja mantido.

A segunda hipótese é que haja um entrelaçamento da ciência e da tecnologia no afrofuturismo, sendo elas utilizadas tanto na valorização do povo negro como para exemplificar a tentativa de sua alienação, seja em relação ao seu corpo, mente, seja em relação ao seu trabalho, cultura e religiosidade. Contudo, essa alienação esbarra nas formas de resistências que as personagens negras utilizam para manter sua autonomia, liberdade, identidade e subjetividade.

O afrofuturismo é um conceito, um movimento literário, estético, cultural, político, social e econômico que visa projetar um futuro em que o sujeito negro atue como agente de construção e transformação de sua história e da sociedade. Para isso, faz-se necessário revisitar o passado africano, reconectando-se com a ancestralidade, a fim de compreender que a história do povo preto não começa com a escravidão e não termina com sua “libertação”, sendo necessário recontar a história do povo africano, preto, pela perspectiva afrocêntrica.

O vocábulo afrofuturismo foi criado pelo crítico cultural Mark Dery (1994)DERY, Mark (1994). Black to the future: interviews with Samuel R. Delany, Greg Tate and Tricia Rose. In: DERY, Mark. Flame Wars: the discourse of cyberculture. Durham: Duke University Press., em seu ensaio “Black to the future”, apesar de o movimento afrofuturista existir antes mesmo de receber esta terminologia. Surgiu de uma entrevista de Dery (1994)DERY, Mark (1994). Black to the future: interviews with Samuel R. Delany, Greg Tate and Tricia Rose. In: DERY, Mark. Flame Wars: the discourse of cyberculture. Durham: Duke University Press. com pensadores negros americanos, como o escritor de ficção científica Samuel Delany, o crítico cultural Greg Tate e a professora de Estudos Africanos Tricia Rose, em que foi lançado o questionamento de por que existiriam poucos escritores afro-americanos no campo da ficção científica, tendo em vista que este gênero literário permite o encontro com o outro, com possibilidades de futuros diferentes.

Podemos dizer que o afrofuturismo nasce do encontro entre tecnologia e ficção especulativa, podendo se enveredar pela ficção científica, fantasia, horror, realismo mágico, mitologia, cyberpunk, entre outros, que se entrelaça com a história do povo africano antes e depois da diáspora.

A ficção especulativa é importante para o movimento afrofuturista porque nos permite presumir um passado, presente e futuro com a presença dos indivíduos negros, não necessariamente como até então foi feito, em condições somente de subalternidade, dando-nos condições de criar mundos possíveis com a presença de indivíduos negros. Podemos assim dizer que o afrofuturismo dialoga com a ideia de temporalidade, ancestralidade e tecnologia, sendo esses elementos importantíssimos para compreender tal movimento.

No Brasil, o movimento afrofuturista tem como referência feminina a escritora Luciene Marcelino Ernesto, quando em 2016 publica seu primeiro romance intitulado (In) Verdades. Na sequência temos (R) Evolução (2017); Sankofia: breves histórias afrofuturistas (2018) e Ìségún (2019).

As narrativas de Luciene Marcelino Ernesto, especialmente presentes no livro Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo, versam sobre os saberes ancestrais africanos e exaltam a capacidade do sujeito negro de produzir conhecimento, ciência e tecnologia. Valorizam sua cultura e ancestralidade, ao mesmo tempo que denunciam a relação de trabalho imposta aos indivíduos negros, que tem como finalidade garantir a manutenção de um projeto de subalternidade personificado pela tecnologia, a qual será utilizada na manutenção da opressão do povo preto. Entretanto, a autora também mostra por meio das tecnologias que é possível elaborar mecanismos de resistência, os quais permitirão alcançar a emancipação desses indivíduos, o que poderá ser encontrado no conto “Ode à Laudelina”.

Logo, as personagens negras não são apresentadas como aqueles indivíduos que esperam ser libertos — discurso historicamente construído —, mas que se libertam. Além disso, produzem ideias, saberes, culturas e conhecimento. Uma vez que os africanos, com o deslocamento forçado, viram-se afastados de sua cultura e história, sendo lançados em uma cosmovisão eurocêntrica, faz-se necessário recuperarmos a nós mesmos. Para isso, é necessário olhar para o passado na esperança de construir um futuro diferente.

O tempo e emancipação da trabalhadora doméstica

No conto “Ode à Laudelina”, as personagens são empregadas domésticas negras, as quais são contratadas para trabalhar em um condomínio de alto padrão. O conto começa com o anúncio de emprego para a contratação de empregada doméstica para trabalhar em um luxuoso condomínio fechado na casa de Pami, uma pesquisadora que desenvolve dispositivos tecnológicos.

A contratada é Amma, uma jovem de 23 anos que tem problemas auditivos, mas que não relata isso no momento de sua contratação por ter receio de não conseguir a vaga de emprego. Amma faz uso de um aparelho auditivo, que será de extrema importância no decorrer da narrativa. Outras meninas também serão contratadas para trabalhar no condomínio.

Ao chegarem ao local de trabalho, tudo parece perfeito e as meninas são presenteadas por Pami com um aparelho para ouvir músicas. Contudo, esse aparelho serve como dispositivo de controle mental e físico das personagens, pois elas perderão a noção do tempo, do trabalho explorado que serão condicionadas a desempenhar, dos assédios que sofrem pelo patrão e das agressões verbais e físicas a que serão submetidas pela patroa. As empregadas até percebem alguns hematomas no corpo, por exemplo, porém não sabem como eles aparecem.

Pami é uma pesquisadora que estuda o comportamento dos indivíduos negros com a finalidade de projetar vários tipos de dispositivos que serão utilizados dentro do próprio condomínio de luxo. Todavia, tal experimento visa ser expandido para toda a sociedade, no caso a brasileira, o que traria benefícios trabalhistas para os empregadores.

Ao final do conto, Amma, a personagem principal, percebe que quando não está com o aparelho de música as situações cotidianas na casa onde trabalha e mora são diferentes, o que a faz identificar que é o dispositivo que deixa as empregadas em estado de inércia, trabalhando arduamente sem receber um salário pelas atividades domésticas que desempenham. Desse modo, Amma consegue escapar da patroa, libertando todos os outros trabalhadores que, como ela, estavam tendo sua força de trabalho explorada.

O conto traz em seu título a figura de Laudelina de Campos Melo, uma personagem importante no cenário brasileiro, precursora da luta pelos direitos trabalhistas da trabalhadora doméstica. Laudelina nasceu em Poços de Caldas (MG), em 12 de outubro de 1904, e morreu em 22 de maio de 1991, aos 86 anos. Uma vez que as empregadas domésticas não eram reconhecidas como força trabalhadora remunerada, não havia um sindicato que pudesse viabilizar suas lutas por direitos trabalhistas. Então, por sua iniciativa, Laudelina funda o movimento sindical dos trabalhadores domésticos em 1936, na busca por fazer com que as leis trabalhistas fossem estendidas aos trabalhadores domésticos (UOL, 2022UOL (2022). Quem foi a brasileira que revolucionou a luta das trabalhadoras domésticas. UOL. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2022/04/27/quem-foi-a-brasileira-que-revolucionou-a-lei-para-trabalhadores-domesticos.htm#:~:text=Laudelina%20morreria%20em%201991%2C%20aos,anos%20de%20idade%2C%20em%20Campinas. Acesso em: 7 nov. 2022. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://economia.uol.com.br/noticias/red...
).

Ativista e sindicalista, Laudelina foi militante do Frente Negra Brasileira, posição com que combateu a discriminação das mulheres e a discriminação racial, filiando-se em 1931 ao Partido Comunista Brasileiro. Sua luta começa ainda na juventude quando, aos 20 anos, inicia sua participação em organizações sociais do movimento negro.

Segundo Elisabete Pinto (2014)PINTO, Elisabete (2014). Casa Laudelina de Campos Mello - Entrevista Prof. Dra. Elisabete Pinto. YouTube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HcZuUIFRB5s. Acesso em: 30 out. 2022.
https://www.youtube.com/watch?v=HcZuUIFR...
, Laudelina uniu as categorias raça, gênero e classe pelo olhar da trabalhadora negra ao defender a valorização do emprego doméstico, o feminismo e o ativismo pela igualdade racial, focando a ideia de que é preciso compreender que a discussão sobre gênero não se resume à relação entre homem e mulher, mas sim a uma relação em que estão estruturadas as relações de poder.

Como a maioria das mulheres negras, Laudelina adentrou no mundo do trabalho ainda criança, precisamente aos sete anos de idade, para cuidar dos seus irmãos enquanto sua mãe saía para trabalhar. Por esse motivo precisou abandonar a escola (Terto, 2017TERTO, Amauri (2017). Laudelina Campos de Melo, a heroína negra que lutou para garantir direitos às domésticas no Brasil. Geledés. Disponível em: https://www.geledes.org.br/laudelina-campos-de-melo-heroina-negra-que-lutou-para-garantir-direitos-as-domesticas-no-brasil/. Acesso em: 7 nov. 2022.
https://www.geledes.org.br/laudelina-cam...
).

O trabalho doméstico está presente na sociedade brasileira desde os primórdios, iniciando-se com a colonização e consequentemente com a chegada forçada dos africanos escravizados. Com a vinda da família real, duas categorias de trabalho escravo foram instauradas: os que trabalhariam na Casa Grande realizando os serviços domésticos e os que exerceriam um trabalho que exigiria maior força física, pois trabalhariam com a atividade açucareira, na construção de infraestrutura do país, entre outras atividades. É sabido que, com a escravidão, o Brasil desenvolveu-se economicamente, e foi com a mão de obra do trabalhador negro que houve produção de riquezas. Conforme destacam Cida Bento e Carone (2002)BENTO, Maria Aparecida Silva; CARONE, Iray (2002). Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida Silva (org.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, p. 25-58., foi na economia do plantation que o escravagismo se difundiu por todas as áreas da vida econômica da colônia, com o extrativismo, a agroindústria e o sistema de escravos urbanos e domésticos.

Podemos afirmar que o trabalho doméstico tem forte relação com o legado escravocrata, e sua desvalorização social pode ser associada a essa condição, que permanece nos dias atuais. Sandra Lauderdale Graham (1992)GRAHAM, Sandra Lauderdale (1992). Proteção e obediência: criadas e seus patrões no Rio de Janeiro – 1860–1910. São Paulo: Comapnhia das Letras., ao trazer as atividades exercidas pelas escravas domésticas, como o cuidado com a escolha do cardápio que seria feito na semana, a jornada longa de trabalho, os laços de lealdade que tinham para com os seus patrões, o cuidado com as mobílias, mostra que essa relação de trabalho estabelecida no período escravocrata se manteve muito parecida até pouco tempo atrás, e mudou somente com a garantia de direitos trabalhistas.

Para Juliana Teixeira (2021)TEIXEIRA, Juliana Cristina (2021). Trabalho Doméstico. São Paulo: Jandaíra. (Feminismos Plurais.), é iniciada neste período escravocrata a relação ambígua entre a trabalhadora doméstica e os senhores. Se, por um lado, tem-se a suposta afetuosidade, pois as empregadas cuidavam das filhas das senhoras (podendo ser as amas de leite, mães pretas, mucamas e muitas vezes assumindo um lugar de afeto na vida dessas crianças), por outro lado elas continuavam a ser escravas e tratadas como tal. Essa relação ambígua permanece, haja vista que as empregadas, tidas “como da família”, acabam abrindo mão de suas necessidades em prol das demandas das patroas.

O conto “Ode à Laudelina” busca recuperar, por meio da memória histórica, o legado dessa mulher, que foi fundamental na construção da base para o reconhecimento das empregadas domésticas enquanto trabalhadoras dotadas e não serviçais. Nisso, há um diálogo com a noção de temporalidade, premissa importante para o movimento afrofuturista.

Lu Ain-Zaila inaugura uma novidade ao revisitar o passado recente de luta de um segmento da classe trabalhadora, ao trazer a figura de uma trabalhadora, ainda que ela não tenha visto os direitos de sua categoria ser alcançados. São exemplos desses direitos a jornada de trabalho de 44 horas semanais, o seguro-desemprego, o pagamento de horas extras, o salário-família, o adicional noturno e o FGTS (tais benefícios foram conquistados por meio da Emenda Constitucional nº 72/2013 e regulamentados por meio da Lei Complementar nº 150, de 01 de junho de 2015, que ficou conhecida como a PEC das domésticas), fundamentais na discussão para inserir este grupo como categoria da classe trabalhadora. Francisco NoaNOA, Francisco (2015). Império, Mito e Miopia: Moçambique como invenção literária. São Paulo: Kapulana. (2015NOA, Francisco (2015). Império, Mito e Miopia: Moçambique como invenção literária. São Paulo: Kapulana., p. 16) afirma que

Discutir o passado não é só saber o que aí aconteceu nem simplesmente para saber como ele influencia o presente, mas sobretudo o que ele é, na verdade, se está concluído, ou continua sob diferentes formas. Como ensina Cícero, não conhecer o passado é permanecer sempre criança.

Isso nos leva a refletir que é pautando-nos por essa memória que poderemos reivindicar um futuro em que indivíduos negros sejam inseridos por completo na sociedade e dotados de direitos. Por meio da memória, reconectamo-nos com o passado para construir novas perspectivas de presente e de futuro diferentes. Assim, encontramos em Laudelina um legado de luta que ajudou a construir os caminhos para que o trabalho doméstico fosse reconhecido como merecedor das mesmas garantias de direitos de qualquer outro trabalhador.

Percebemos que, no conto “Ode à Laudelina”, as personagens rompem com esse sistema que as explora — luta esta que fez parte da vida de Laudelina Campos Melo, e nisto temos a projeção de um futuro em que trabalhadores negros se emancipam de um sistema que os oprime. Logo no início do conto, as mulheres, ao chegarem ao condomínio para trabalhar, recebiam um fone de ouvido, sendo este um mecanismo de hipnose das empregadas, o qual faria com que elas trabalhassem incessantemente sem perceber.

– Amma, eu tenho um presente para você. É um fone de ouvido novo que vai ser lançado daqui a alguns meses, ganhei uma caixa e acho que o tempo passa melhor ouvindo músicas.

– E como descreveria, Amma, o seu dia, como será?

– Obrigada, ele será... perfeito e maravilhoso.

Segunda-feira

– Quero que aceite este presente, ganhei esta caixa de cortesia, mas como só tenho um par de orelhas...

– Nossa. Obrigada. E que fone diferentes. Nunca vi igual.

– E como descreveria, Alexia, o seu dia, como será?

– Não duvido de que será... perfeito e maravilhoso.

Quinta-feira

– E então, gostou do fone?

– Demais... ele é leve, cômodo e deixa a gente a vontade. Me sinto muito bem. – Damara? Como descreveria, o seu dia, como será?

– Ele será... perfeito e maravilhoso (ErnestoERNESTO, Luciene Marcelino (2018). Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo. Rio de Janeiro: Edição do Autor., 2018, p. 111).

Destaca-se que os dispositivos tecnológicos foram usados pela personagem Pami com o intuito de alcançar benefícios econômicos, e isso aconteceria porque os empregados em geral trabalhariam exaustivamente, de forma automatizada.

A tecnologia, ao ser utilizada pelo capital como instrumento de acúmulo de riqueza, representa uma oportunidade de reprodução em grande escala de uma mão de obra explorada. As chamadas inovações tecnológicas (apresentadas no conto na figura dos artefatos para ouvir músicas) beneficiaram o sistema capitalista a ponto de atrelarem o progresso ao volume de reprodução desses aparatos. Isso nos leva a refletir que o capitalismo, para se sustentar, precisa da transformação das formas de produção.

Como no conto, não era necessária uma grande quantidade de trabalhadores para exercerem suas atividades laborais no condomínio, pois um trabalhador daria conta de realizar muitas tarefas — com o adendo de que, neste caso, não recebia um salário pelos serviços prestados, haja vista que o dispositivo tecnológico lhe tirava a consciência da realidade em que ele estava inserido, não permitindo a reivindicação do cumprimento das leis trabalhistas. Assim, havia redução do custo e aumento da produtividade e de trabalho excedente, o que consequentemente levava à acumulação de mais riqueza pelo patrão.

A tecnologia pode impactar tanto o progresso social e econômico quanto o processo de trabalho. Lu Ain-Zaila critica essa forma de utilização da tecnologia como ferramenta de aumento da exploração da força de trabalho, já que o tempo do trabalhador estava voltado exclusivamente para a produção.

– Então é isso? Somos um grande experimento? E para obter o quê?

– Amma, querida, dinheiro... poder sobre os outros e em especial sobre “profissionais necessários” como atendentes, domésticas, etc., o de sempre. E quer saber? Deixarei que veja o tamanho do meu empreendimento. Traga-a. Sou levada até o escritório, onde um imenso painel se desloca para a direita e atrás dele, vejo inúmeros monitores mostrando funcionários por todo o balneário, todos com algum tipo de dispositivo, de fones a comunicadores (Ernesto, 2018ERNESTO, Luciene Marcelino (2018). Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo. Rio de Janeiro: Edição do Autor., p. 122).

Esses trabalhadores destacados no conto só trabalham em demasia porque perderam a capacidade de compreender as relações de trabalho que estão sendo operadas. Elas obedecem e reproduzem uma satisfação laboral porque estão em um tipo de transe, tanto que, quando percebem tal situação, as personagens empregadas fogem do lugar, destruindo todo o laboratório. Outrossim, quando tornam à consciência, elas conseguem perceber o que está se passando e se rebelam contra esse sistema de opressão.

– Damara. Você está bem?

– Eu... onde eu estou? – fala Damara agitada.

– Por favor, calma. Eu preciso que se controle, respire e me ouça, pois nossas vidas dependem disso. Somos as únicas acordadas de um transe, controle, eu sei lá... mas por favor, finja que está tudo bem, se não voltaremos a ser bonecas domésticas (Ernesto, 2018ERNESTO, Luciene Marcelino (2018). Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo. Rio de Janeiro: Edição do Autor., p. 121).

Em outra passagem, agora com a consciência restaurada, Amma vê como era o alimento fornecido a ela (antes parecia perfeito, agora ela vê que eram alimentos estragados).

– Todo... o que existe nessa geladeira é... resto de comida!

– As sobras... do almoço e jantar, todas estão arrumadas em pratos velhos, e envoltos em plásticos... filme – quero vomitar e gritar ao mesmo tempo.

– Parabéns! Gostou de ver a verdade, minha querida Amma? Aposto que agora você teve uma bela noção do que foi sua vida nesses últimos três meses. Era isso que você comia, um sonho, não é? (Ernesto, 2018ERNESTO, Luciene Marcelino (2018). Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo. Rio de Janeiro: Edição do Autor., p. 125).

O homem entra neste sistema capitalista tendo sua força de trabalho utilizada meramente como mercadoria, seja ele branco, seja ele negro. Contudo, enquanto o homem branco consegue adentrar nesse sistema como alguém que terá certa valorização, ainda que também esteja na posição de explorado, ao homem e às mulheres negras não estão reservadas essas valorizações e, por isso, eles acabam por ser excluídos. E aqui entra o pacto narcísico da branquitude que é enxergar seus privilégios como mérito, não compreendendo que essas facilidades fazem parte de um conjunto de privilégios que estão a sua disposição por dispositivos sociais, políticos e econômicos.

Obviamente, no sistema econômico em que estamos inseridos, a exploração dá-se com vista à obtenção de riqueza, “dinheiro...poder”, entretanto a mão de obra negra tende a ser a mais explorada. Lourenço CardosoCARDOSO, Lourenço (2010). Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco anti-racista. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud, v. 8, n. 1, p. 607-630. (2010CARDOSO, Lourenço (2010). Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco anti-racista. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud, v. 8, n. 1, p. 607-630., p. 611) afirma que “ser branco pode significar ser poder e estar no poder”. Assim, ele é o poder, uma vez que detém os meios de produção e o capital, e está no poder quando oprime o trabalhador na elaboração da mais-valia.

Há um falso entendimento de que o racismo está relacionado única e exclusivamente à forma como uma pessoa negra é tratada, no sentido de ser xingada ou tratada de forma preconceituosa; contudo, o racismo é uma estrutura que cria mecanismos para manter em posições de poder pessoas brancas. Pensando na classe trabalhadora, todas as pessoas que estão inseridas nesse escopo são de alguma forma exploradas pelo sistema capitalista, que é operado por capitalistas brancos. Tanto faz se o oprimido é branco ou negro, o importante é que haja a produção de riqueza para o capitalista. Contudo, nessa classe trabalhadora pessoas negras tendem a ser mais exploradas, a estar em posições mais subalternas, em atividades laborais que exijam mais força física e menos o ato de pensar.

No final do conto “Ode à Laudelina”, vemos as personagens destruindo o laboratório onde a patroa realizava suas pesquisas, mostrando que, apesar de haver uma estrutura que insiste em elaborar um mecanismo de alienação daquelas trabalhadoras domésticas, há possibilidades de estremecimento dessas estruturas. No conto, esse estremecimento vem com a destruição e libertação de todos os trabalhadores do condomínio que viviam naquela condição de exploração e fora das leis que garantiam às trabalhadoras domésticos direitos destinados a qualquer outro trabalhador. Isso é de extrema importância porque, mesmo que alguns empregadores insistam em burlar a lei, ela está posta para que seja utilizada quando a trabalhadora se sentir lesada, e isso é um avanço; é a demonstração de um futuro em que, pelo menos pelas leis, as empregadas domésticas estão sendo amparadas.

Nos últimos parágrafos do conto temos a seguinte fala de Amma, direcionada às outras colegas de trabalho:

Mas estou feliz por estarmos juntas, vivas, e na medida do possível cientes de nosso lugar no mundo e dos nossos direitos que não devemos permitir que retrocedam. Não somos pessoas de segunda classe, trabalhamos por uma vida melhor, para nós e para os nossos. Essa é a nossa utopia e ela vai acontecer (Ernesto, 2018ERNESTO, Luciene Marcelino (2018). Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo. Rio de Janeiro: Edição do Autor., p. 132).

TECNOLOGIAS E RESSIGNIFICAÇÃO DO CORPO NEGRO

A primeira abordagem feita sobre o conto “Ode à Laudelina” destacava uma das premissas do movimento afrofuturista, que é a temporalidade, e como ela se relaciona com a luta pelos direitos das trabalhadoras domésticas. Propôs também a discussão sobre o uso da tecnologia com a finalidade de alienação das forças de trabalho. A segunda abordagem está voltada para a ideia de ancestralidade, que nos levará a vislumbrar as tecnologias como instrumentos de emancipação, acionando assim o que chamamos de tecnologias ancestrais.

Eduardo Oliveira, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em seu artigo “Epistemologia da Ancestralidade” (2012), afirma que uma das estratégias efetivas de dominação do indivíduo negro foi tirar-lhe a condição de produzir significados sobre seus próprios signos. Além disso, ele emprega a ancestralidade como categoria analítica que pode ser utilizada como conceito para compreender uma epistemologia que interpreta seu próprio regime de significados com base no território que produz seus signos de cultura.

Retomar e criar essas condições, instrumentos e mecanismos de produzirmos significados sobre esses signos passa pelo viés da ancestralidade. Isso não significa que devemos copiar os nossos ancestrais ou que devemos voltar ao passado e lá ficar, mas que devemos descolonizar nosso olhar sobre o conhecimento produzido sobre nós. É também importante passarmos a nos olhar no escopo do saber, conhecimento, valores, cultura, pelo viés de uma perspectiva não mais euro-americana. Logo, precisamos deixar de nos olharmos pelo olhar do outro hegemônico que se colocou neste lugar de norma, de padrão.

A ancestralidade não pode ser reduzida apenas a uma genealogia. Ela é pensar o povo preto como um ser carregado de cultura, história e tradição. É modificar a nossa relação com o mundo criando caminhos diferentes, mostrando que não há uma única forma de concebê-lo e compreendê-lo, mas que existem várias possibilidades e uma delas é negra. Para tanto, é necessário voltar os nossos olhares para as pessoas que nos antecederam.

Esse revisitar o passado não se reduz a olhar um momento histórico específico e, a partir disso, engendrarmos um projeto de mudança; é compreendermos a forma utilizada para difundir um conhecimento hegemônico que colocou às margens saberes e conhecimentos africanos, ou que, quando os utilizou, foi exclusivamente no campo dos mitos e mitologias, o que não é algo negativo, porém somos mais que isso.

Recuperarmos saberes que foram perdidos e reconstruirmos novos saberes e conhecimentos tendo o passado como referência é uma premissa da epistemologia da ancestralidade, que começa com uma cosmovisão africana que se estende na diáspora. Assim, pegar a experiência do passado e tentar reconstituir este novo ser no presente é primordial para construir novos futuros. “A ancestralidade se apresenta então como categoria de reconhecimento no modo de assentir a ontologia do sujeito negro” (Ribeiro, 2020RIBEIRO, Katiúscia (2020). O futuro é ancestral. Le Monde Diplomatique. Disponível em: https://diplomatique.org.br/o-futuro-e-ancestral/. Acesso em: 10 mar. 2022.
https://diplomatique.org.br/o-futuro-e-a...
).

Podemos dizer que a epistemologia da ancestralidade nos permite criar ferramentas para confrontar uma cosmovisão que buscou organizar a vida, a produção e a sociedade com base em uma única perspectiva. “A ancestralidade ancora a existência do ser sujeito negro, ‘ancestralizar’ é viver” (Ribeiro, 2020RIBEIRO, Katiúscia (2020). O futuro é ancestral. Le Monde Diplomatique. Disponível em: https://diplomatique.org.br/o-futuro-e-ancestral/. Acesso em: 10 mar. 2022.
https://diplomatique.org.br/o-futuro-e-a...
). Eduardo OliveiraOLIVEIRA, Eduardo (2012). Epistemologia da Ancestralidade. Disponível em: https://filosofia-africana.weebly.com/uploads/1/3/2/1/13213792/eduardo_oliveira_-_epistemologia_da_ancestralidade.pdf. Acesso em: 1º mar. 2021.
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(2012OLIVEIRA, Eduardo (2012). Epistemologia da Ancestralidade. Disponível em: https://filosofia-africana.weebly.com/uploads/1/3/2/1/13213792/eduardo_oliveira_-_epistemologia_da_ancestralidade.pdf. Acesso em: 1º mar. 2021.
https://filosofia-africana.weebly.com/up...
, p. 3) assevera que

A Ancestralidade é uma categoria analítica que se alimenta das experiências dos africanos e afrodescendentes para compreender essa experiência múltipla sob um conceito que lhe dá unidade compreensiva, sem reduzir a multiplicidade da experiência a uma verdade, mas pelo contrário, abre para uma polivalência de sentidos.

No conto “Ode à Laudelina” é dado destaque ao cabelo, que durante muito tempo foi utilizado como tecnologia de opressão sobre o corpo da mulher negra, especialmente. Dessa maneira, o cabelo é importante na construção da narrativa de Lu Ain-Zaila e será apresentado como ferramenta de ressignificação de um corpo que outrora recebera adjetivações negativas e que carrega uma história de ancestralidade que dialoga com formas de resistências a padrões hegemônicos.

Assim, entendemos que o corpo da mulher negra é de certa forma ancestral, uma vez que fizemos a passagem pelo transatlântico carregadas de história, cultura, valores e os trouxemos para a vida na diáspora. E foi isso que permitiu que os africanos escravizados resistissem às mazelas que lhes foram impostas. Acorrentaram-nos o corpo, mas não a mente. Lu Ain-Zaila traz a dimensão do corpo da mulher negra dessa perspectiva, dando destaque ao cabelo.

Todas as vezes que as personagens são apresentadas, no conto, há uma descrição especificamente de seus cabelos: “Amma, 23 anos, seu black power avermelhado, mas resolve trançar para não ter problemas e esconder a orelha onde utiliza o aparelho auditivo”. “Alexia R., 23 anos, dreads curto na altura do ombro”. “Lena D., 34 anos, ama seu black power curto”. “ Verena P., 34 anos, usa tranças num tom azulado”. “Damara M., 28 anos, crespo curto, em transição” (Ernesto, 2018ERNESTO, Luciene Marcelino (2018). Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo. Rio de Janeiro: Edição do Autor., p. 108-113).

Ao apresentar a personagem pelas características do cabelo, Lu Ain-Zaila toca em um assunto que durante muito tempo foi um tema custoso para mulheres negras. Assim, a autora coloca esse cabelo em uma posição de orgulho e enaltecimento de uma identidade negra, e não como algo que deveria ser diferente, modificado, por ter sido visto com um estigma de vergonha.

Assim sendo, o cabelo crespo representa um traço da identidade negra, é dotado de valor simbólico, uma vez que aceitar esse cabelo em sua forma natural faz parte do processo de tornar-se negro. Da mesma forma, o cabelo propicia a construção social, cultural, política e ideológica de algo que denominamos como beleza negra.

Para além da questão estética, o cabelo para a população negra tem uma simbologia que começa com a compreensão da história de seus ancestrais e passa pelo empoderamento feminino, que se reflete na forma como as mulheres negras passam a enxergar o cabelo crespo como belo1 1 Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae, 2022), mais de 70% das brasileiras têm cabelos crespos ou cacheados, e as mulheres negras movimentam R$ 1,7 trilhão em negócios anuais. .

Lu Ain-Zaila não aborda apenas o cabelo, mas destaca as suas diversas formas de estilo, seja, black power, black power curto, dreads, tranças, crespo curto, em transição. A aceitação do cabelo em seu estágio natural é um avanço, pois durante tempos a mulher negra se viu obrigada a alisar seus cabelos na tentativa de se sentir inserida em diversos ambientes sociais. Anita Pequeno (2019)PEQUENO, Anita (2019). História sociopolítica do cabelo crespo. Z Cultural, p. 15-28. Disponível em: http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/historia-sociopolitica-do-cabelo-crespo/. Acesso em: 15 out. 2022.
http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/his...
, em seu artigo “História sociopolítica do cabelo crespo”, traz a dimensão política da aceitação do cabelo crespo, mostrando as diferenças da aceitação do cabelo crespo entre homens e mulheres negras. Além disso, a pesquisadora associa cada forma de cabelo com o contexto político em que esses modos de cabelos foram usados.

Nessa perspectiva do cabelo como símbolo de uma africanidade, encontra-se a obra da pensadora Nilma Lino Gomes (2008)GOMES, Nilma Lino (2008). Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica., que em seu livro Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra levanta a discussão sobre o cabelo ser projeto de uma identidade negra. Podemos inferir da discussão da autora que, no Brasil especificamente, o racismo não está materializado somente na cor da pele, mas também na textura crespa do cabelo.

Segundo Nilma Lino Gomes (2008)GOMES, Nilma Lino (2008). Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica., mesmo que o indivíduo tenha a pele mais clara, se tiver um cabelo com textura crespa esse cabelo será adjetivado como algo negativo, inferiorizado, haja vista que este corpo poderá ser visto como fruto de uma mistura racial, mesmo que esta textura do cabelo não seja algo exclusivo dos povos africanos. Talvez por isso tenha havido tentativas diversas de suavizar essa marca de negrura presente no cabelo crespo, não na tentativa de ele ser visto como branco, mas na tentativa se ser visto como menos negro. Segundo Nilma Lino GomesGOMES, Nilma Lino (2008). Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica. (2008GOMES, Nilma Lino (2008). Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica., p. 43)

O cabelo do negro ao ser visto como algo “ruim” e do branco como “bom” expressa um conflito, por isso, mudar o cabelo pode significar a tentativa do negro de sair do lugar da inferioridade ou da introjeção deste. Pode ainda representar um sentimento de autonomia, expresso nas formas ousadas e criativas de usar o cabelo.

O cabelo crespo não está associado somente à ideia de uma estética, de uma beleza, mas traz em seu bojo valores simbólicos, os quais propiciam a reflexão do que é ser negro tanto no campo da subjetividade quanto no campo da materialidade. O cabelo crespo é uma linguagem e, como tal, dialoga em um contexto social, cultural, político, ideológico, até mesmo econômico. Segundo Nilma Lino GomesGOMES, Nilma Lino (2008). Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica. (2008GOMES, Nilma Lino (2008). Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica., p. 39), “o cabelo crespo sozinho, porém, não diz tudo. A sua representação se constrói no âmago das relações sociais e raciais, não podem ser pensados separadamente”.

Ademais, existe um valor simbólico atribuído ao cabelo que é constantemente processado por práticas culturais e políticas que o investem de valor e significado, destacando-se que onde a raça estrutura as relações sociais de poder, o cabelo — tão visível quanto a cor da pele — assume outra dimensão fortemente simbólica.

Se o racismo é engendrado com base na ideia de que existem atributos biológicos convencionados como símbolo de beleza, de superioridade e de normalidade, e que atributos fora desse padrão são adjetivados de forma pejorativa, consequentemente o cabelo é percebido nessa estrutura em que a ele é atribuída uma série de conotações negativas. Dessa forma, aceitar o cabelo em sua forma crespa é um ato de resistência.

Essa resistência deu-se em um contexto histórico e sociológico em que os penteados assumiram um significado político que ajudou na ressignificação do que é ser negro, ou melhor, do que é tornar-se negro, fazendo com que nós reconhecêssemos nosso cabelo como um elemento constitutivo da nossa identidade. Kobena MercerMERCER, Kobena (1987). Black hair/Style politics. New Formations, v. 1987, n. 3, p. 33-54. (1987MERCER, Kobena (1987). Black hair/Style politics. New Formations, v. 1987, n. 3, p. 33-54., p. 37, tradução nossa) afirma que

Discursos de nacionalismo negro sempre reconheceram que o racismo “funciona” ao encorajar a desvalorização da negritude pelos próprios sujeitos negros, e que um sentimento de orgulho recentralizado é um pré-requisito para uma política de resistência e reconstrução2 2 Discourses of black nationalism have always acknowledged that racism ‘works’ by encouraging the devaluation of blackness by black subjects themselves, and that a re-centering sense of pride is a prerequisite for a politics of resistance and reconstruction. .

É nesse contexto que, aos movimentos sociais, como o Black Power, e a slogans como “Black is beautiful” são associados alguns tipos de penteados, como o afro e os dreadlocks.

Sobre o penteado dreadlocks, trazido por Lu Ain-Zaila por meio da personagem Alexia, que tinha dreads curto na altura do ombro, Kobena Mercer (1987)MERCER, Kobena (1987). Black hair/Style politics. New Formations, v. 1987, n. 3, p. 33-54. afirma que esse penteado redefiniu a negritude como atributo positivo, revelando uma resistência aos padrões de beleza oficial, padrões tradicionais eurocêntricos.

Para além de redefinir uma negritude, o penteado dreadlock (que também implicava um vínculo simbólico entre sua aparência naturalista e a África por meio da reinterpretação da narrativa bíblica que identificava a Etiópia como uma Sião ou Terra Prometida) faz parte do movimento Rastafári, o qual aparece como efeito da diáspora africana e como um projeto de liberdade e igualdade para os negros.

Já o cabelo afro, apresentado no conto “Ode à Laudelina” por intermédio da personagem Amma com seu black power avermelhado, simbolizava um vínculo reconstitutivo com a África como parte de um processo contra-hegemônico que ajudava a redefinir um povo da diáspora não como negro, mas como afro-americano, o qual buscava também uma estética natural.

Essa naturalidade consistia na rejeição tanto dos penteados alisados quanto dos cortes de cabelo curtos, ou seja, buscava-se estimular o crescimento do cabelo a fim de penteá-lo de forma arredondada e para cima. Segundo Kobena Mercer (1987)MERCER, Kobena (1987). Black hair/Style politics. New Formations, v. 1987, n. 3, p. 33-54., esse formato do cabelo estava associado a um Orgulho Negro.

Tal cabelo exigia da pessoa uma postura corporal imponente, no sentido de erguer a cabeça para olhar as pessoas. Essa questão do olhar é importante porque ele representa um ato político. Durante o período da escravidão foi tirado o direito de as pessoas escravizadas olharem, uma vez que se elas encarassem os senhores poderiam ser punidas fisicamente. bell hooks (2014)HOOKS, bell (2014). Alisando o nosso cabelo. Tradução de Lia Maria dos Santos. Geledés. Disponível em: https://www.geledes.org.br/alisando-o-nosso-cabelo-por-bell-hooks/. Acesso em: 10 out. 2022.
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coloca que diversas tentativas de reprimir nosso olhar produziram em nós um desejo devastador de ver, desenvolvendo em nós um olhar opositor, “ao olhar corajosamente, declaramos em desafio: eu não só vou olhar. Eu quero que meu olhar mude a realidade” (hooks, 2014HOOKS, bell (2014). Alisando o nosso cabelo. Tradução de Lia Maria dos Santos. Geledés. Disponível em: https://www.geledes.org.br/alisando-o-nosso-cabelo-por-bell-hooks/. Acesso em: 10 out. 2022.
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, p. 216). Assim sendo, o cabelo afro exige do indivíduo negro esse olhar opositor, de resistência, por isso a postura corporal precisa ser altiva.

Outras formas de cabelo destacados no conto de Lu Ain-Zaila são o cabelo com tranças e o cabelo em transição: Verena usa tranças num tom azulado e Damara crespo curto, em transição.

As tranças, para os africanos, antes da diáspora forçada, eram carregadas de simbologias, pois poderiam indicar mecanismos de identificação da tribo, de grupos étnicos, da religião, de poder, posição social, região geográfica. Já com a diáspora forçada, as tranças passaram a ser utilizadas, especialmente no período da escravidão, com a função de transmitir mensagens, ou seja, eram utilizados como mapas com desenhos de rotas de fuga.

Maria Rita Rolim (2021)ROLIM, Maria Rita (2021). Tranças: além da estética uma forma de sobrevivência. Em Pauta. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/empauta/trancas-alem-da-estetica-uma-forma-de-sobrevivencia/. Acesso em: 20 dez. 2022.
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, no artigo “Tranças: além da estética uma forma de sobrevivência”, pondera que as tranças, além de trazerem mapas com as rotas de fuga indicando o caminho para os quilombos, também eram o local onde se guardavam sementes que seriam levadas aos quilombos para lá serem plantadas.

Dessa forma, a trança passou a ter outro papel: de sobrevivência, pois indicava o caminho para a liberdade; de resistência, pois foi mantida enquanto os africanos e seus descendentes ficaram cativos; e de resgate da nossa negritude. Na atualidade, as tranças representam ancestralidade, obviamente, mas também a exaltação da beleza negra. Nilma Gomes (2008)GOMES, Nilma Lino (2008). Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica. afirma que, já adultas, as mulheres negras voltam a se aproximar das tranças, como se fosse uma reconciliação com o que elas são. Só que agora as tranças são estilizadas, coloridas.

Já a transição capilar é um fenômeno recente que começa nos Estados Unidos e chega ao Brasil por intermédio de influenciadores negros que compartilham nas redes sociais o processo doloroso que é passar pela transição. Doloroso porque é uma quebra do paradigma do que significava ser belo, que era ter o cabelo quimicamente tratado, para a aceitação do cabelo com a sua textura natural.

Este é um processo de revisitar quem somos, uma vez que o indivíduo se depara com a situação de ver seu cabelo ganhando a forma natural, crespa, ao mesmo tempo que ele está em sua forma química, alisado. O problema não é necessariamente alisar o cabelo, mas acreditar que esta é a única alternativa de beleza. A transição faz com que a mulher que aceita a passar por esse processo vislumbre quem ela era (com o cabelo alisado) e projete como ele será (com o cabelo em sua textura natural). Traz também em seu bojo o autocuidado, pois o cabelo em sua forma natural necessita ser olhado de forma especial, desde sua textura.

Esse movimento, que também é de autoaceitação de uma negritude que fora escondida por detrás do alisamento, transforma aos poucos a imagem que a mulher tem de si, o que impactará sua autoestima.

Ao destacar essas características das personagens, Lu Ain-Zaila mostra-nos que há uma superação dos modelos e padrões instaurados como normas, uma vez que as personagens se assumem mulheres negras que demonstram ter orgulho do que são. Sendo assim, podemos inferir que os processos históricos mostrados pelo viés dos movimentos sociais foram fundamentais para a afirmação de uma identidade que ecoará e impactará a construção de uma autoestima.

Deixar para trás o que se configurou socialmente como algo bonito, mas que era uma forma de violência contra as mulheres negras (a modificação do cabelo) para dar espaço a novas formas de se enxergar, de ser e existir resgatando o cabelo crespo natural como motivo de orgulho é traçar novas possibilidades que poderão servir como referência para as futuras gerações, que não precisarão ver no alisamento do cabelo um mecanismo de beleza para a mulher negra, algo que já tem acontecido na atualidade.

Joice BerthBERTH, Joice (2019). Empoderamento. São Paulo: Pólen. (2019BERTH, Joice (2019). Empoderamento. São Paulo: Pólen., p. 121), ao falar do empoderamento negro pelo viés da questão da estética, afirma que “a inferiorização da aparência e da estética negra em detrimento da branca foi tão somente uma das tecnologias empregadas para sustentar e justificar o sistema de opressão e exploração de sujeitos para acúmulo de privilégios sociais”.

O empoderamento pelas vias da estética dá-se pela aceitação e orgulho dos traços fenótipos negroides, do nosso cabelo, de nossa cor de pele. É necessário reconstruir a imagem do negro, tirando-o do lugar de exótico, estereotipado e caricaturado. Isso não se reduz à simples busca pela beleza, mas a entender que esses traços são a materialização de uma estética que apresenta nossa negritude.

Segundo Joice BerthBERTH, Joice (2019). Empoderamento. São Paulo: Pólen. (2019BERTH, Joice (2019). Empoderamento. São Paulo: Pólen., p. 129), “a estética é um dos pilares do processo de empoderamento”. Consequentemente, precisa ser pensada como uma contranarrativa perante as imposições de beleza criada pelo padrão eurocêntrico, em que os traços da brancura são tidos como belo e os traços da negritude são vistos como feios, compreendendo-se que houve e há uma estratégia para manter o negro no seu não lugar.

O antropólogo Kabengele Munanga (2017)MUNANGA, Kabenguele. (2017). As ambiguidades do racismo à brasileira. In: KON, Noemi M.; SILVA, Maria L.; ABUD, Cristiane C. (org.). O racismo e o negro no Brasil: questões para a psicanálise. São Paulo: Perspectiva, 2017. p. 71-90. afirma que existem vários problemas que o povo negro precisa enfrentar, destacando que um deles é

a alienação do seu corpo, de sua cor, de sua cultura e de sua história e consequentemente sua “inferiorização” e baixa estima; a falta de conscientização histórica e política etc. A recuperação dessa identidade começa pela aceitação dos atributos físicos de sua negritude antes de atingir os atributos culturais, mentais, intelectuais, morais e psicológicos, pois o corpo constitui a sede material de todos os aspectos da identidade (Munanga, 2017MUNANGA, Kabenguele. (2017). As ambiguidades do racismo à brasileira. In: KON, Noemi M.; SILVA, Maria L.; ABUD, Cristiane C. (org.). O racismo e o negro no Brasil: questões para a psicanálise. São Paulo: Perspectiva, 2017. p. 71-90., p. 9).

Desse modo, Lu Ain-Zaila corrobora a discussão sobre a importância de a mulher negra se enxergar não mediante o olhar do outro colonizador, julgador que a subjuga e infere que ela não tem beleza por ter um cabelo fora do que se convencionou acreditar que era o padrão. Mostra que a aceitação do cabelo em sua forma natural demonstra a aceitação de quem de fato somos, apesar de esse ato ter passado por um processo longo de descolonização do nosso olhar sobre nós mesmos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se olharmos o afrofuturismo como um movimento que está construindo um futuro em que os sujeitos negros estão presentes, em constante movimentação e não mais em condições subalternas, mas em condições em que suas potencialidades são desenvolvidas e suas vozes são ouvidas, perceberemos que o conto de Lu Ain-Zaila, ao abordar a trabalhadora negra como um indivíduo emancipado que sabe de seus direitos de pertencer à sociedade e não como um cidadão de segunda classe, é afrofuturista. Isso, não apenas porque traz dispositivos tecnológicos que procuram fazer com que os empregados se abstraiam de sua realidade, mas porque mostra que as tecnologias ancestrais podem e devem ser usadas para emancipar os sujeitos.

Além disso, Lu Ain-Zaila revela que a situação de trabalho a que os trabalhadores negros são constantemente expostos, que é de exploração e subserviência, pode ser alterada. Assim, olha para trás mostrando, por meio da figura de Laudelina de Campos Melo, que lhes é possível ser inseridos na sociedade, com seus direitos garantidos, e que eles não se permitirão retrocessos. As trabalhadoras domésticas, no conto, rompem com a situação a que estavam expostas, libertando-se deste jugo do trabalho explorado a que foram submetidas. Essa confluência entre passado e futuro é importante na obra de Lu Ain-Zaila e nas narrativas afrofuturistas.

Além disso, a autora traz uma ruptura com determinadas tecnologias que foram empregadas para alienar o corpo da mulher negra, especificamente ao abordar a questão do cabelo. Ao trazer a dimensão da constituição de uma identidade negra por meio da aceitação do cabelo crespo como algo natural, Lu Ain-Zaila demonstra que é no “ancestralizar”, conforme expõe Katiúscia Ribeiro (2020)RIBEIRO, Katiúscia (2020). O futuro é ancestral. Le Monde Diplomatique. Disponível em: https://diplomatique.org.br/o-futuro-e-ancestral/. Acesso em: 10 mar. 2022.
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, que passamos a (re)existir, a conhecer e aceitar quem somos, pois a ancestralidade não está no passado; é algo que está presente no nosso ser, no nosso existir, que compõe quem somos no tempo presente e futuro, e isso permitirá que a mulher negra se empodere.

Esse empoderamento pelas vias da subversão de padrões de beleza hegemônicos permite que sejam construídas novas referências para as gerações que estão vendo a transformação de corpos negros e, consequentemente, crescem em um ambiente de autoaceitação. O afrofuturismo traz em seu cerne isto: projetar novos futuros para pessoas negras utilizando como referências vivências e histórias negras.

  • 1
    Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae, 2022SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO A MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE) (2022). Investir na beleza da mulher negra é oportunidade de crescimento. Sebrae. Disponível em: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/artigosEmpreendedorismo/investir-na-beleza-da-mulher-negra-e-oportunidade-de-crescimento,1ee3c2cb780ae710VgnVCM100000d701210aRCRD. Acesso em: 28 dez. 2022.
    https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae...
    ), mais de 70% das brasileiras têm cabelos crespos ou cacheados, e as mulheres negras movimentam R$ 1,7 trilhão em negócios anuais.
  • 2
    Discourses of black nationalism have always acknowledged that racism ‘works’ by encouraging the devaluation of blackness by black subjects themselves, and that a re-centering sense of pride is a prerequisite for a politics of resistance and reconstruction.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    28 Nov 2022
  • Aceito
    08 Nov 2023
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