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Os filhos do tempo da peste: a pandemia de COVID-19 em dois poemas de Alexei Bueno

The children of the plague times: the COVID-19 pandemic in two poems by Alexei Bueno

Los hijos del tiempo de la peste: la pandemia de COVID-19 en dos poemas de Alexei Bueno

Resumo

As doenças, as epidemias e as pandemias estão presentes tanto na história humana quanto na produção literária de diversos períodos. Em busca de compreender como se dão as representações da recente situação pandêmica de COVID-19, este artigo objetiva analisar os poemas “Matinada da peste” e “As máscaras”, publicados pelo poeta carioca Alexei Bueno no opúsculo Decálogo Indigno para os Mortos de 2020 (Bueno, 2020BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê.). Nesse sentido, este estudo fundamenta-se no pensamento de Candido (2000)CANDIDO, Antonio (2000). Literatura e Sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz/Publifolha. acerca dos aspectos internos (estéticos) e externos (sociais) que compõem a obra literária, bem como nas contribuições de teóricos da poesia e de outras áreas do conhecimento. Em linhas gerais, “Matinada da peste” contrasta a atemporalidade da natureza com a vulnerabilidade humana diante do vírus. Já “As máscaras” evoca o isolamento social por meio do corpo solitário, valendo-se de expressões como “olhos órfãos”, “lábios sem lábios”, “mãos sem outras” e aguardando um “novo amanhã”. Conclui-se que o conteúdo e a forma dos poemas analisados carregam evidentes marcas da crise sanitária, tais como a angústia, a espera, a solidão do isolamento e a esperança de dias melhores.

Palavras-chave:
Alexei Bueno; poesia brasileira contemporânea; pandemia; COVID-19

Abstract

Diseases, epidemics, and pandemics have been present both throughout human history and in the literary production of different periods. In an attempt to understand how the recent COVID-19 pandemic is represented, the article analyzes the poems “Matinada da peste” and “As máscaras”, published by the poet from Rio de Janeiro, Alexei Bueno, in the book Decálogo Indigno para os Mortos de 2020 (Bueno, 2020BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê.). The study is guided by the thoughts of Candido (2000)CANDIDO, Antonio (2000). Literatura e Sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz/Publifolha. and theorists of poetry and other areas of knowledge on the internal (aesthetic) and external (social) aspects that compose literary works. In general terms, “Matinada da peste” contrasts the timelessness of nature with human vulnerability in the face of the virus. “As máscaras” evokes social isolation through the solitary body, using expressions like: “orphaned eyes,” “lips without lips,” “hands without others,” and hoping for a “new tomorrow.” It is concluded that the content and form of the poems analyzed bear evident marks of the health crisis, such as anguish, waiting, the loneliness of isolation, and the hope for better days.

Keywords:
Alexei Bueno; contemporary Brazilian poetry; pandemic; COVID-19

Resumen

Las enfermedades, las epidemias y las pandemias están presentes tanto en la historia humana como en la producción literaria de diferentes épocas. En un intento por comprender cómo se dan las representaciones de la reciente pandemia de COVID-19, el artículo analiza los poemas “Matinada da peste” y “As máscaras”, publicados por el poeta carioca Alexei Bueno en el libro Decálogo Indigno para os Mortos de 2020 (Bueno, 2020BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê.). El estudio se guía por el pensamiento de Candido (2000)CANDIDO, Antonio (2000). Literatura e Sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz/Publifolha. sobre los aspectos internos (estéticos) y externos (sociales) que configuran la obra literaria, así como de teóricos de la poesía y otras áreas del conocimiento. En términos generales, “Matinada da peste” contrasta la atemporalidad de la naturaleza con la vulnerabilidad humana ante el virus. “As máscaras” evoca el aislamiento social a través del cuerpo solitario: “ojos huérfanos”, “labios sin labios”, “manos sin otras”, a la espera de un “nuevo mañana”. Se concluye que el contenido y la forma de los poemas analizados guardan marcas evidentes de la crisis sanitaria, tales como la angustia, la espera, la soledad del aislamiento y la esperanza de días mejores.

Palabras-clave:
Alexei Bueno; Poesia brasileña contemporânea; pandemia; COVID-19

INTRODUÇÃO

Enquanto questão universal, a enfermidade atravessa e mobiliza uma série de dilemas da condição humana. Ela acende, no homem, a consciência de sua própria vulnerabilidade ao deixá-lo mais próximo da finitude da vida. No plano coletivo, as configurações e as dinâmicas históricas, sociais, culturais, religiosas etc. conferem ao adoecimento uma complexidade que transborda a ordem biomédica. Trata-se de um fenômeno constitutivo da vida e, portanto, apresenta-se como um fértil material para a criação artística e literária.

Peste bubônica, gripe espanhola, tuberculose, aids. As doenças são muitas e foram amplamente representadas em contos, romances, crônicas, poemas e outras obras de cunho literário e em diversos períodos e contextos históricos. Lembra Ribeiro (2012)RIBEIRO, Maria Izabel Branco (2012). Arte e doença: imaginário materializado. In: MONTEIRO, Yara Nogueira; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci (org.). As doenças e os medos sociais. São Paulo: Editora Fap-Unifesp. p. 61-81. que, ao contrário dos cientistas, que procuram causas e curas para as patologias, os artistas perseguem um caminho distinto ao evocar uma experiência estética calcada na sensibilidade de suas épocas e nos recursos formais disponíveis. Discorre a autora que a perspectiva artística busca descrever as doenças, entidade abstrata que não pode ser configurada por si, “como o encontro com o desconhecido, com o destino inexorável, com situações além do controle, com os imponderáveis, com o medo, com a dúvida, ou com a esperança” (Ribeiro, 2012RIBEIRO, Maria Izabel Branco (2012). Arte e doença: imaginário materializado. In: MONTEIRO, Yara Nogueira; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci (org.). As doenças e os medos sociais. São Paulo: Editora Fap-Unifesp. p. 61-81., p. 64).

Epidemias e pandemias deixam marcas na humanidade e nas palavras. Ao longo dos séculos, inúmeros problemas de saúde pública atingiram as sociedades e suas respectivas produções literárias. Ocuparam (e continuam ocupando) páginas de livros por meio de personagens, de versos, de metáforas e de todo o arsenal literário de que dispõe a criação humana. Na atualidade, a pandemia de COVID-19 tem ocupado a vida e a literatura de forma expressiva. Essa constatação motiva o presente estudo a voltar-se para as relações entre pandemia e literatura brasileira, com enfoque na produção poética.

Verifica-se que a poesia brasileira contemporânea tem sido campo fértil de produções literárias acerca desse tema. Entre os variados títulos, é possível destacar alguns nomes: Pandemônio, de Edson Cruz (2020)CRUZ, Edson (2020). Pandemônio. Curitiba: Kotter., São Paulo, 24 de março de 2020, de Horácio Costa (2021)COSTA, Horácio (2021). São Paulo, 24 de março de 2020. São Paulo: Patuá; Fractal., Pandemia: 27 poemas brasileiros, de Álvaro Alves de Faria (2021)FARIA, Álvaro Alves de (2021). Pandemia: 27 poemas brasileiros. Rio de Janeiro: Ibis Libris., A era das manadas, de José Antônio Cavalcanti (2021)CAVALCANTI, José Antônio (2021). A era das manadas. Bragança Paulista: Hecatombe., Poesia pra matar o corona, de Lucas Lins (2021)LINS, Lucas (2021). Poesia pra matar o corona. São Paulo: Lote 42., Estatuário de incompletudes, de Antônio Cunha (2021)CUNHA, Antônio (2021). Estatuário de incompletudes. Curitiba: Kotter., A geração que esnobou seus velhos, de Ricardo Lísias (2022)LÍSIAS, Ricardo (2022). A geração que esnobou seus velhos. Rio de Janeiro: Oficina Raquel., e A peste e o país que se perdeu, de Volmir Cardoso (2022)CARDOSO, Volmir (2022). A peste e o país que se perdeu. Curitiba: Kotter..

Diante dessa diversidade, este artigo baseia-se em Decálogo Indigno para os Mortos de 2020, escrito pelo poeta, ensaísta, crítico e tradutor Alexei Bueno (2020)BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê.. O autor nasceu em 1963, no Rio de Janeiro (RJ), e é detentor de uma profícua e premiada produção literária, tendo conquistado os prêmios Alphonsus de Guimaraens, Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e Jabuti. Em sua volumosa produção, encontram-se os seguintes livros: As escadas da torre (1984), Poemas gregos (1985), Lucernário (1993), A juventude dos deuses (1996), Entusiasmo (1997), A árvore seca (2006), As desaparições (2009), Anamnese (2016) e Cerração (2019).

Decálogo Indigno para os Mortos de 2020 é um opúsculo publicado pela Ateliê Editorial, em 2020, sob uma restrita tiragem de 100 exemplares numerados. A obra é constituída de dez poemas: “Matinada da peste”, “As máscaras”, “Ecce homo”, “O equívoco”, “Os caixões”, “Ao longe”, “As camadas”, “Rotina”, “Despojos” e “Crepúsculos”. Todos eles, em maior ou menor grau, possuem como eixo temático as principais questões que atravessaram o período pandêmico, tais como a quarentena, o isolamento social e a morte em larga escala. Abaixo das camadas mais superficiais dos poemas, por outro lado, são reveladas questões mais profundas acerca da existência humana. Outro ponto em comum é sua configuração versífica e estrófica: os poemas são construídos em redondilha maior (mas com diferentes esquemas rítmicos e rímicos), com versos organizados em três quadras, isto é, com três estrofes de quatro versos cada uma.

Para fins de pesquisa, foram selecionados “Matinada da peste” e “As máscaras”. São poemas que fazem referência de modo mais evidente à pandemia de COVID-19, tanto por meio de seus temas quanto de suas formas. As questões suscitadas por ambos os textos, como se verá nas seções à frente, impulsionam um olhar analítico que considera não somente as configurações formais (imprescindível para o estudo de qualquer obra literária), mas também os elementos externos que perpassam por eles e que contribuem para a sua constituição enquanto artefato estético e artístico.

Nesse sentido, a interpretação dos poemas é norteada pelo pensamento de Candido (2000)CANDIDO, Antonio (2000). Literatura e Sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz/Publifolha., crítico e sociólogo que toma a dimensão social como fator relevante para a compreensão da produção literária. Em linhas gerais, sua perspectiva dá importância a uma visão dialética que integre a sociedade (fatores externos) e a organização interna da obra (fatores internos) e que averigue como tais dimensões atuam nos aspectos e nos significados do texto literário, ou seja, em sua construção artística. Nas palavras do teórico, “o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno” (Candido, 2000CANDIDO, Antonio (2000). Literatura e Sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz/Publifolha., p. 6).

Desse modo, este trabalho objetiva analisar a estrutura dos poemas, compreendendo-os como organismos motivados ou condicionados por fatores sociais que, por sua vez, atuam como componentes de estruturação. Convém ressaltar, por fim, que este estudo se baseia em teóricos da poesia a fim de compreender a organização interna dos versos de Bueno (2020)BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê., além de autores de outras áreas do saber que auxiliarão a elucidar as principais dimensões sociais e externas que atravessam “Matinada da peste” e “As máscaras”.

OS FILHOS DA ANGÚSTIA E DA ESPERA: ANÁLISE DE “MATINADA DA PESTE”

MATINADA DA PESTEPássaros cantam lá fora,
As aves não têm o vírus.
Que aurora tão mais sonora
Que os nossos frágeis suspiros…
Cantem mais, cada alva é um dia.
Sua festa é o nosso apelo.
Eternos, são a alegria
De estar no instante, de sê-lo
Sem saber de um fim. Seu canto
Que ignora o tempo, o acelera
Para nós, no hoje e no espanto,
Filhos da angústia e da espera.
29.3.2020
(Bueno, 2020BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê., p. 9).

Logo na primeira estrofe de “Matinada da peste”, identifica-se uma das principais tônicas do poema: existe um evidente contraste entre a serenidade da natureza, representada pelos pássaros, e a fragilidade dos seres humanos diante de suas preocupações simbolizada pelos “frágeis suspiros”. Em outras palavras, a obra aborda a ideia de eternidade associada aos pássaros e à natureza, contrastando-a com as efemeridade e ansiedade humanas.

O poema é construído em versos heptassílabos, também conhecidos como redondilha maior ou redondilho. Salienta Rodrigues (2021)RODRIGUES, Marina Machado (2021). Considerações sobre as redondilhas camonianas. FlorAção: Revista de Crítica Textual, Niterói, v. 1, n. 1, p. 1-12. Disponível em: https://periodicos.uff.br/criticatextual/article/view/50189. Acesso em: 08 jan. 2024.
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que esse metro possui origem na lírica trovadoresca e faz parte da chamada medida velha, tendo uso recorrente na poesia popular. Complementarmente, afirma Mattoso (2022)MATTOSO, Glauco (2022). Tractado de Versificação. São Paulo: Casa de Ferreiro. que a redondilha maior ecoa com naturalidade em glosas e trovas, no cordel e na música popular. Amplamente cultivada em Portugal no século XVI (Moisés, 2004MOISÉS, Massaud (2004). Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix.), a redondilha cruzou épocas com uso regular, mantendo-se presente até os dias atuais (Chociay, 1974CHOCIAY, Rogério (1974). Teoria do Verso. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil.).

O emprego das formas fixas e tradicionais é uma das principais características da poesia de Bueno (2020)BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê., e a presença da redondilha maior nos poemas de Decálogo Indigno... aponta para esse fato. De acordo com Andrade (2013)ANDRADE, Alexandre de Melo (2013). Os deuses se tornam humanos: a poesia de Alexei Bueno. Texto Poético, Goiânia, v. 6, n. 8, p. 36-48. https://doi.org/10.25094/rtp.2010n8a8
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, o projeto estético do poeta carioca, de inspiração metafísica, une o formalismo classicizante à sensibilidade, realizando “um diálogo com tópicos da literatura contemporânea, ao mesmo tempo em que resgata estilo e temas clássicos” (Andrade, 2013ANDRADE, Alexandre de Melo (2013). Os deuses se tornam humanos: a poesia de Alexei Bueno. Texto Poético, Goiânia, v. 6, n. 8, p. 36-48. https://doi.org/10.25094/rtp.2010n8a8
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, p. 37). O pesquisador acrescenta que a reabsorção da estética clássica é um dos traços da poesia contemporânea, encontrando eco na poética de Alexei Bueno e na de outros poetas, como Adriano Espínola, Antonio Cícero e Ivan Junqueira.

Além disso, há uma variação no esquema rítmico de “Matinada da peste”: 1-4-7 (versos 1, 5, 11 e 12) e 3-5-7 (versos 6 e 9). Todos os demais versos (2, 3, 4, 7, 8 e 10) seguem o esquema 2-4-7, o que indica a predominância desse ritmo ao longo do poema, principalmente na primeira estrofe, como pode ser observado na escansão a seguir:

1 | ssa | ros | can | tam | lá | fo | ra, (ER 7: 1-4-7)
2 As | a | ves | não | têm | o | | rus. (ER 7: 2-4-7)
3 Que au | ro | ra | tão | mais | so | no | ra (ER 7: 2-4-7)
4 Que os | no | ssos | frá | geis | sus | pi | ros... (ER 7: 2-4-7)
5 Can | tem | mais, | ca | da al | va é um | di | a. (ER 7: 1-4-7)
6 Su | a | fes | ta é o | no | sso a | pe | lo. (ER 7: 3-5-7)
7 E | ter | nos, | são | a a | le | gri | a (ER 7: 2-4-7)
8 De es | tar | no ins | tan | te, | de | sê- | lo (ER 7: 2-4-7)
9 Sem | sa | ber | de um | fim. | Seu | can | to (ER 7: 3-5-7)
10 Que i | gno | ra o | tem | po, o a | ce | le | ra (ER 7: 2-4-7)
11 Pa | ra | nós, | no ho | je e | no es | pan | to, (ER 7: 1-4-7)
12 Fi | lhos | da an | gús | tia e | da es | pe | ra. (ER 7: 1-4-7)

O metro prevalente no poema (2-4-7) é um dos esquemas fundamentais de alternância intensiva do alinhamento da redondilha maior. Tal metro, por sua vez, dispõe de numerosas possibilidades de variação de ritmo e de expressão (Chociay, 1974CHOCIAY, Rogério (1974). Teoria do Verso. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil.). Essa configuração dos versos fornece ao poema de Bueno (2020)BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê. certo caráter recitativo, potencializado por meio das rimas alternadas ABAB CDCD EFEF: “fora”/“sonora” (A); “vírus”/“suspiros” (B); “dia”/“alegria” (C); “apelo”/“sê-lo” (D); “canto”/“espanto” (E); “acelera”/“espera” (F). Assim, o poema adota um esquema rímico que contribui para a harmonia e a musicalidade em consonância com o canto dos pássaros.

Outro ponto a ser considerado em relação ao ritmo são os versos que principiam as duas primeiras estrofes e os que encerram a última estrofe. O início da primeira quadra se dá com o verso “|ssa|ros |can|tam |lá| fo|ra” (verso 1), e a segunda é iniciada com “Can|tem |mais, |ca|da al|va é um | di|a” (verso 5). Os versos estão configurados em 1-4-7, esquema que aqui enfatiza a primeira sílaba dos vocábulos, dando ímpeto à sua recitação. Efeito semelhante ocorre em “Pa|ra |nós,| no ho|je e| no es|pan|to,/ Fi|lhos |da an|gús|tia e |da es|pe|ra” (versos 11 e 12). Dessa forma, o uso do esquema rítmico 1-4-7 cumpre a função de dar impulso e força aos versos iniciais das duas primeiras quadras e aos versos finais da última. No primeiro caso, o metro enfatiza a figura dos pássaros e de seus cantos. No segundo, dá relevo ao espanto, à angústia e à espera que atravessam o “hoje”.

Constata-se em “Cantem mais, cada alva é um dia” a recorrência do /a/, vogal aberta que confere certa claridade ao verso. Pontua Martins (2012MARTINS, Nilce Sant’Anna (2012). Introdução à Estilística: a expressividade na Língua Portuguesa. São Paulo: EDUSP., p. 50) que a sonoridade dessa vogal “presta-se à transferência para ideias de claridade, brancura, amplidão, alegria etc.”. A assonância proporciona um efeito sonoro que se une ao efeito semântico das palavras, de forma que o leitor encontra no verso a sensação de iluminação do nascer do dia. Dito de outra maneira, som e sentido atuam conjuntamente para o efeito de abertura e claridade produzido pela assonância. Como elucida Candido (2006)CANDIDO, Antonio (2006). O estudo analítico do poema. São Paulo: Humanitas., a sonoridade per se não produz efeitos caso não esteja ligada ao sentido do poema.

Conforme mencionado, o poema trabalha o contraste entre a natureza e o homem. De um lado, o canto e a imunidade dos pássaros perante o vírus acentuam a perenidade da natureza em relação aos dramas humanos. De outro, os “frágeis suspiros” realçam a fragilidade humana diante de seus dilemas. A ideia de eternidade e de serenidade associada aos pássaros e à natureza em contraste com as brevidade e ansiedade humanas evoca uma oposição entre efemeridade e permanência, recorrente no conjunto poético de Bueno (2020)BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê.. Como verifica Andrade (2013ANDRADE, Alexandre de Melo (2013). Os deuses se tornam humanos: a poesia de Alexei Bueno. Texto Poético, Goiânia, v. 6, n. 8, p. 36-48. https://doi.org/10.25094/rtp.2010n8a8
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, p. 38), “o poeta demonstra, em toda a sua produção poética, certa angústia com a passagem do tempo. Sua poesia brota dessa preocupação com a irreversibilidade do tempo, aliada aos fatores de permanência da paisagem [...] e dos conceitos”. Nessa lógica, a fortuna crítica do poeta carioca, a sucinto exemplo de Samyn (2009)SAMYN, Henrique Marques (2009). Diante do ser: Metafísica e finitude em Ivan Junqueira e Alexei Bueno. Estação Literária, Londrina, v. 3, p. 55-63. https://doi.org/10.5433/el.2009v3.e25219
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, Teixeira (2011)TEIXEIRA, Francisco Diniz (2011). A tradição na contemporaneidade: notas sobre Alexei Bueno. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE LETRAS E LINGUÍSTICA, 13., 2011, Uberlândia. Anais [...]. Uberlândia: EDUFU, 2011. v. 2, n. 2. p. 1-12. Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosilel/wp-content/uploads/2014/04/silel2011_697.pdf. Acesso em: 7 jan. 2024.
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e Bonfá (2015)BONFÁ, Carlos Eduardo Marcos (2015). A busca da experiência total do humano na poesia de Alexei Bueno. Tese (Doutorado) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara., vem observando a produção de uma poesia metafísica que trata de questões como a angústia em face da passagem do tempo, da fragilidade dos seres e da morte, entre outros dramas e dilemas sociais.

Existe uma relação entre interior e exterior colocada de forma implícita nos primeiros versos do poema. Os pássaros cantam “lá fora”, o que remete a uma exterioridade que se contrapõe à interioridade do ponto de vista do eu lírico. É possível identificar, implicitamente, que esse olhar parte de um interior para o exterior, onde os pássaros cantam. Dado o contexto histórico e social do poema, não é forçoso interpretar a relação entre o dentro e o fora como uma dicotomia imposta pela quarentena e pelo isolamento social. Assim, uma provável imagem seria: no interior de sua residência, isolado, o eu lírico contempla pela janela (por meio de uma fresta ou de qualquer outra abertura) a paisagem composta das aves que cantam. Interior e exterior, dentro e fora, prisão e liberdade.

Todavia, o contato do eu lírico com os pássaros não se dá unicamente por via visual. Mais do que contemplar, isolado, os pássaros “lá fora”, o eu lírico ouve o canto. É pelo som que é construída a paisagem vislumbrada, haja vista a aurora “tão mais sonora”, a “festa” das aves que cantam e a assonância referida anteriormente. Esse fator auditivo acaba por fazer jus ao estrato sonoro do poema. O olhar e o canto, o ver e o ouvir, complementam-se.

A natureza é dada por sua atemporalidade e eternidade mediante a figura dos pássaros, que são “eternos”, são a “alegria” de “estar no instante” e possuem um canto que “ignora o tempo”, pois não sabem “de um fim”. Em contraposição, os seres humanos são retratados em sua fragilidade e finitude diante do tempo. Os homens são “filhos da angústia e da espera”: filhos de um tempo em que o futuro parece não despontar no horizonte das sociedades. Trata-se de uma experiência existencial que atravessou muitas pessoas, principalmente no início da pandemia, quando ocorreu o estabelecimento de uma série de restrições sociais para conter a disseminação do vírus em diversos países, incluindo o Brasil. Conforme reflete o filósofo Duarte (2020DUARTE, Pedro (2020). A pandemia e o exílio do mundo. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo., p. 24), “o futuro não chega. O presente é condenado a si mesmo”, posto que é um “tempo cuja espera não tem termo, fim ou previsão, mais ou menos como o nosso agora”. Diante da inexistência de um fim do desenrolar dos fatos, os filhos desse tempo esperam e se angustiam.

São filhos de um tempo pandêmico, de crise. Os primeiros registros do vírus Sars-CoV-2 surgiram na China, em dezembro de 2019, e alcançaram dimensão global nos primeiros meses do ano seguinte. A COVID-19 causou extensa mortalidade, levando ao colapso sistemas de saúde, públicos e privados, e desencadeando uma série de desafios em termos sociais, econômicos, políticos, culturais, entre outros. A pandemia tornou-se um dos fenômenos mais significativos das últimas décadas. Cesare (2020)CESARE, Donatella Di (2020). Vírus soberano? A asfixia capitalista. Tradução de Davi Pessoa. Belo Horizonte: Âyné. considera-a como o terceiro grande acontecimento do século XXI, ao lado do ataque terrorista do 11 de setembro, em 2001, e da crise financeira de 2008. Na concepção da autora, a pandemia global “é um evento histórico, que determina um antes e um depois, e já transformou o século XXI e até mesmo a maneira de vê-lo” (Cesare, 2020CESARE, Donatella Di (2020). Vírus soberano? A asfixia capitalista. Tradução de Davi Pessoa. Belo Horizonte: Âyné., p. 12).

Enquanto evoca questões essenciais e atemporais da existência humana, tais como a morte e a angústia perante o tempo, o poema é revestido de uma relevante camada histórica. Nessa orientação, Bosi (1977)BOSI, Alfredo (1977). O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix. discorre que o poeta é dotado de uma consciência histórica elaborada no processo de escrita. Segundo o estudioso: “O poeta é o primeiro a dar, pela própria composição do seu texto, um significado histórico às suas representações e expressões” (Bosi, 1977BOSI, Alfredo (1977). O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix., p. 121). O crítico prossegue: “Para a consciência histórica do autor (e do leitor), todo signo é um valor em estado atual ou virtual. A consciência histórica é a matriz das conotações” (Bosi, 1977BOSI, Alfredo (1977). O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix., p. 123).

Importa ressaltar que todos os poemas de Decálogo Indigno… foram escritos em um único dia (21 de maio de 2020), com exceção de “Matinada da peste”, escrito em 29 de março do mesmo ano. A inclusão de datas ao fim dos poemas é prática costumeira na poética de Alexei Bueno. De fato, a datação dos poemas não pode ser compreendida como algo estranho ao trabalho do poeta carioca. Todavia, no contexto das obras aqui analisadas, é possível pensar a menção à data como expressão dessa consciência histórica de que fala Bosi (1977)BOSI, Alfredo (1977). O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix..

Sobre isso, comenta Saramago (1982SARAMAGO, José (1982). Os Poemas Possíveis. Lisboa: Caminho., p. 13), no prefácio da segunda edição de Os Poemas Possíveis, que “toda a criação cultural há de ter logo a sua data, a que lhe é imposta pelo tempo que a produz”. Adiante, o escritor português discorre que, apesar dessa face temporal, as obras podem revelar outros tempos, passados ou vindouros, indefinidos ou não, “mas outras datas levam sempre também, anteriores, as dos materiais herdados — quantas vezes importunamente dominantes —, e, de longe em longe, aquela impalpável data ainda por vir, aquele sentir, aquele ver e experimentar só futuro ainda” (Saramago, 1982SARAMAGO, José (1982). Os Poemas Possíveis. Lisboa: Caminho., p. 13). Como destacado, embora os poemas do opúsculo sejam dotados de significativa carga histórica, observável em sua temática, eles também revelam profundas questões acerca da existência humana, ultrapassando o seu próprio contexto de produção.

As marcas dessa consciência histórica estão impressas em outros elementos da obra: de forma mais evidente, no título, “Matinada da peste”, e na referência ao “vírus”. Em um quadro mais amplo, a pandemia encontra-se já no título do opúsculo — trata-se de um decálogo para os mortos de 2020, ou seja, de uma publicação direcionada e inserida em um tempo específico — e, em maior ou menor grau, de modo mais ou menos explícito, nos demais poemas da suíte, como em “As máscaras”, texto que será discutido a seguir.

O CORPO ENCARCERADO: ANÁLISE DE “AS MÁSCARAS”

AS MÁSCARASRostos ao meio vendados,
Os olhos órfãos, lá fora...
Encarcerados no agora.
(Há tempos que, só passados
São grandes, porque passaram).
Lábios sem lábios, com a fala
Que, sem ouvintes, se cala,
Mãos sem outras, que as deixaram
Até um sonhado amanhã.
Homens — como nos moldamos
Ao que veio, ao que enfrentamos —,
Só nossa é a nova manhã.
21.5.2020
(Bueno, 2020BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê., p. 11).

Se em “Matinada da peste” pôde ser observada a predominância de versos heptassílabos configurados em 2-4-7 (com algumas exceções ao longo do poema), em “As máscaras” há uma significativa variação do esquema rítmico, como evidencia a escansão:

1 Ros | tos | ao | mei | o | ven| da | dos, (E.R 7: 1-4-7)
2 Os | o | lhos | ór | fãos, | lá | fo | ra... (E.R 7: 2-4-7)
3 En | car | ce | ra | dos | no a | go | ra. (E.R 7: 4-7)
4 (Há | tem | pos | que, | | pa | ssa | dos (E.R 7: 2-5-7)
5 São | gran | des, | por | que | pa | ssa | ram). (E.R 7: 2-5-7)
6 | bios | sem | | bios, | com a | fa | la (E.R 7: 1-4-7)
7 Que, | sem | ou | vin | tes, | se | ca | la, (E.R 7: 2-4-7)
8 Mãos | sem | ou | tras, | que as | dei | xa | ram (E.R 7: 1-3-7)
9 A | té um | so | nha | do a | ma | nhã. (E.R 7: 2-4-7)
10 Ho | mens — | co | mo | nos | mol | da | mos (E.R 7: 1-3-7)
11 Ao | que | vei | o, ao | que en | fren | ta | mos —, (E.R 7: 1-3-7)
12 Só | no | ssa é a | no | va | ma | nhã. (E.R 7: 2-4-7)

Conforme elucida Chociay (1974CHOCIAY, Rogério (1974). Teoria do Verso. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil., p. 68), a redondilha maior é “extremamente maleável por comportar variadíssimas disposições acentuais e soluções de andamento”. Essa maleabilidade do heptassílabo pode ser constatada no poema em questão, que adota os seguintes esquemas rítmicos: 1-3-7 (versos 8, 10, 11), 4-7 (verso 3), 1-4-7 (versos 1, 6), 2-4-7 (versos 2, 7, 9, 12) e 2-5-7 (versos 4, 5). Dessa forma, tendo em vista que o ritmo “espelha toda a inquietação, as alterações do espírito e da sensibilidade, a concepção do mundo, sofrendo influências das transformações da arte e do pensamento” (Candido, 2006CANDIDO, Antonio (2006). O estudo analítico do poema. São Paulo: Humanitas., p. 88), torna-se necessário compreender individualmente os efeitos rítmicos de cada verso, o que será feito nas próximas páginas deste artigo.

A imagem inicial de “rostos ao meio vendados” sugere uma limitação visual ou de compreensão e pode ser interpretada — como já indica o título do poema — como a representação das máscaras utilizadas durante a pandemia de COVID-19 para conter a propagação do vírus. As máscaras podem simbolizar uma barreira de proteção, mas também criam uma sensação de isolamento e de distância social.

Os “olhos órfãos” indicam a falta de contato visual direto e a desconexão emocional resultantes das medidas de isolamento social. O olhar é direcionado para “lá fora”, revelando um mundo externo que, por causa da pandemia, se torna distante. Assim como em “Matinada da peste”, esse poema elabora a ideia de interioridade e exterioridade de um ponto de vista interno do eu lírico. A referência ganha relevância se relacionada à pandemia, período em que as sociedades enfrentaram restrições de locomoção e viveram com incertezas sobre o futuro, concentrando-se nas limitações e na urgência do presente.

No tocante ao mesmo verso, constata-se a considerável presença da vogal /ó/, destacada pelas sílabas tônicas de “Olhos”, “ÓRfãos” e “FOra”. Das nove vogais do verso, seis são /o/ – “Os olhos órfãos, lá fora...”, contudo a sonoridade aberta /ó/ das tônicas é o que está em relevo; as demais ocorrências de /o/ (sonoridade fechada) apenas corroboram a forte sonoridade aberta propiciada pela assonância. A repetição e a expressividade da vogal aberta /ó/ podem expressar uma espécie de saudade, de nostalgia dos períodos sem quarentena e sem reclusões. São tempos passados e “são grandes, porque passaram”, como assinalam os versos 4 e 5. Em suma, a saudade desse tempo grandioso, que se tornou parte do passado, pode ser ouvida e sentida pela assonância.

O verso “En|car|ce|ra|dos |no a|go|ra” é construído em 4-7, esquema rítmico que proporciona menos movimento à leitura. Ele entra em contraste com os demais versos da primeira estrofe, que possuem maior alternância sonora. Diante dessa discrepância, é produzido um efeito de peso que reveste o verso de uma tonalidade grave. É uma tonalidade que enfatiza, por meio do ritmo, a sensação de isolamento e confinamento presente no vocábulo “encarcerados”, que, por seu turno, também evoca semanticamente a ideia de prisão.

Os versos “(Há tempos que, só passados // São grandes, porque passaram)” são separados não apenas pelo enjambement, mas sobretudo pela divisão entre a primeira e a segunda estrofe. O vácuo branco entre elas, visualmente perceptível, faz cessar por alguns segundos a leitura. Recorda Cohen (1978COHEN, Jean (1978). Estrutura da linguagem poética. Tradução de Álvaro Lorencini e Anne Arnichand. São Paulo: Cultrix., p. 49) que “o espaço em branco é o signo gráfico da pausa ou silêncio. Signo natural, aliás, pois a ausência de letra simboliza normalmente a ausência de voz”. Assim, o enjambement e o silêncio do espaço em branco deixam em suspenso a leitura, evidenciam os “passados” e dão relevo à passagem do tempo.

Outrossim, há pelo menos outros três aspectos estruturantes dos versos “(Há tempos que, só passados // São grandes, porque passaram)”. O primeiro deles é a presença dos parênteses, sinal gráfico que confere interioridade e certa reflexividade à expressão do eu lírico. O segundo é a equivalência de ritmo. Ambos os versos são igualmente construídos no esquema rítmico 2-5-7. O terceiro é a repetição de vocábulos pertencentes à mesma família linguística. O substantivo “passados” e o verbo “passaram” acentuam de modo sonoro e semântico o caráter temporal. Os três aspectos, em conjunto, projetam gráfica, rítmica, sonora e semanticamente a reflexão sobre o tempo.

A menção aos “lábios sem lábios, com a fala/ Que, sem ouvintes, se cala” destaca a solidão da expressão, em que a comunicação perde seu propósito na ausência de alguém para ouvir, e a solidão experimentada, quando as interações sociais são reduzidas. A falta de testemunhas para a fala dos lábios e a solidão das “mãos sem outras” sugerem um estado de reclusão, podendo evocar a ideia de distanciamento físico e emocional, no qual toques e contatos são limitados. Ressalta-se que a crise da COVID-19 desestabilizou o sistema de normas corporais e subjetivas dos indivíduos por causa das medidas de saúde que limitavam a proximidade física entre as pessoas. Foram proibidos toques, beijos, carícias e outros gestos, impactando a subjetividade humana e afetando sobretudo os países da América Latina. A esse respeito, Birman (2021BIRMAN, Joel (2021). O trauma na pandemia do Coronavírus: suas dimensões políticas, sociais, econômicas, ecológicas, culturais, éticas e científicas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira., p. 91) pontua que “nos afeta bem mais do que aos indivíduos de países norteados pelas tradições anglo-saxônica, nórdica e asiática, onde o distanciamento corporal já estaria instituído cultural e socialmente”.

É relevante considerar a significativa presença do corpo em “As máscaras”. São olhos órfãos, lábios emudecidos e mãos desacompanhadas de outras mãos. São olhos, lábios e mãos que se encontram de algum modo cerceados pela distância, pelo silêncio e pela solidão. A ausência de ouvintes e de toques apresenta-se, no poema, como ponto central da experiência em tempos pandêmicos. Os efeitos mais íntimos do isolamento social perpassam pela corporeidade e por suas camadas perceptivas e sensíveis. Em outros termos, o corpo congrega as dores do cerceamento de sua própria humanidade, experimenta e acumula as restrições que o impedem de viver e de se expressar plenamente.

Já o “sonhado amanhã” pode representar a esperança de um futuro melhor, a promessa de um amanhã mais promissor, em que as mãos possam novamente se encontrar. Conforme discutido por Dias (2021)DIAS, Cristiane Costa (2021). Memórias do futuro da pandemia: o tempo em suspenso. In: PETRI, Verli et al. (org.). Ditos e não-ditos: discursos da, na e sobre a pandemia. Campinas: Pontes. p. 151-166., a pandemia gerou uma variedade de emoções, incluindo revolta, angústia, ansiedade e medo. O sentimento mais prevalente foi a incerteza do porvir. Nessa conjuntura, a pandemia projeta o futuro para um estado de suspensão, percebendo o passado como nostalgia e o presente como saturação. Nas palavras da autora, “o presente é o tempo da espera, enquanto o futuro parece estar em suspenso pelo distanciamento social. De diversos modos, o futuro está suspenso, porque a morte está à espreita pelo novo coronavírus” (Dias, 2021DIAS, Cristiane Costa (2021). Memórias do futuro da pandemia: o tempo em suspenso. In: PETRI, Verli et al. (org.). Ditos e não-ditos: discursos da, na e sobre a pandemia. Campinas: Pontes. p. 151-166., p. 152).

Por fim, um aspecto a ser considerado na última estrofe se refere ao esquema rítmico. Seguem o esquema 2-4-7 os versos 9 (“A|té um| so|nha|do a|ma|nhã”) e 12 (“Só| no|ssa é a| no|va| ma|nhã”). Já os versos 10 e 11 (“Ho|mens — | co|mo |nos| mol|da|mos/ Ao| que| vei|o, ao| que en|fren|ta|mos —,”) seguem o esquema 1-3-7. Essa variação do ritmo faz espelhar um verso no outro, algo que se deve também ao efeito das rimas emparelhadas e interpoladas, que seguem o esquema ABBA CDDC EFFE em todo o poema. Especificamente nos versos 10 e 11, esse espelhamento rítmico e rímico concentra e adensa o caráter vocativo esboçado pelo eu lírico. Nesse caso, a voz poética conserva um senso de unidade ao direcionar-se aos homens por meio de um “nós” implícito, anunciando que “só nossa é a nova manhã”. Além disso, o esquema 1-3-7 produz um ritmo que confere a esses versos certa seriedade e solenidade. Não como profecia, mas como gesto de esperança, o eu lírico aponta a “nova manhã” de um “sonhado amanhã” aos homens moldados pelo que veio e pelo que foi enfrentado, aos homens moldados pela distância, pelo silêncio e pela solidão, na expectativa da claridade de um porvir incerto.

BREVES APONTAMENTOS SOBRE O SOCIAL E O UNIVERSAL NA POESIA

Candido (2000)CANDIDO, Antonio (2000). Literatura e Sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz/Publifolha. salienta que os fatores sociais são responsáveis pelo aspecto e pelo significado da obra, fornecendo a ela matéria para a criação ou atuando como agentes da estrutura. Nessa perspectiva, afirma-se que a pandemia de COVID-19 permeia “Matinada da peste” e “As máscaras”, além de Decálogo Indigno... em geral. Em diferentes graus, tal contexto atua na construção de imagens, ritmos, sonoridades, sensações e sentimentos, integrando-se à forma dos poemas. Quando lidas à luz dessa crise sanitária, as produções poéticas adquirem camadas adicionais de significado, relacionando-se com experiências de isolamento, distanciamento social e esperança em tempos desafiadores. São questões de cunho social e que desempenham certo papel na organização interna dos textos.

Ainda que os poemas analisados guardem uma relevante camada social e histórica, é preciso frisar que “cada poema é uma leitura da realidade; essa leitura é uma tradução; essa tradução é uma escrita: um voltar a cifrar a realidade decifrada” (Paz, 1984PAZ, Octavio (1984). Os Filhos do Barro: do romantismo à vanguarda. Tradução de Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira., p. 98). Tais obras são, sobretudo, uma leitura da realidade, traduzida e escrita por meio da linguagem poética: a tradução do mundo materializada no poema. Portanto, não são reflexo direto ou documento dos dramas de determinado período da História; antes, são testemunho sensível que cifra e decifra a realidade, que representa o mundo pelo trabalho estético e artístico com a matéria verbal. Sendo essencialmente poesia, revelam questões mais profundas que as da superfície dos poemas.

Segundo Paz (2009PAZ, Octavio (2009). Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva., p. 55), “o poeta fala das coisas que são suas e de seu mundo, mesmo quando nos fala de outros mundos [...]. O poeta não escapa à história, inclusive quando a nega ou a ignora”. Todavia, a palavra poética nunca é inteiramente histórica: manifesta a realidade, mas vai além da palavra e da História. O poema é histórico por ser um produto social e uma criação, mas transcende o tempo ao situá-lo em um momento anterior a toda História. O poema é expressão sensível da concretude da vida. Ele ultrapassa o tempo histórico ao comunicar algo que não permanece somente na superfície da palavra, no seu significado mais imediato. Esse falar outra coisa guia o leitor na recriação do poema e na descoberta da própria natureza humana (Paz, 2009PAZ, Octavio (2009). Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva.).

Nesse ângulo, “Matinada da peste” e “As máscaras” fornecem a expressão do universal, de emoções comuns a todos os seres humanos. Eles carregam uma série de referências temporais, embora não se reduzam a contextos específicos por tratar da própria condição dos homens, os quais já enfrentaram, ao longo dos séculos, inúmeras crises sanitárias e humanitárias. Verifica-se que a função de um poema não é apenas a veiculação de questões de âmbito individual, mas antes a manifestação da universalidade adquirida pela elaboração artística. Observa Adorno (2003ADORNO, Theodor W. (2003). Notas de literatura I. Tradução de Jorge M. B. de Almeida. 34. ed. São Paulo: Duas Cidades., p. 66) que as emoções e experiências individuais expressas pelo poeta “só se tornam artísticas quando, justamente em virtude da especificação que adquirem ao ganhar forma estética, conquistam sua participação no universal”. Em convergência, Merquior (1997MERQUIOR, José Guilherme (1997). A astúcia da mímese: ensaios sobre lírica. Rio de Janeiro: Topbooks., p. 28) assinala que “a lírica tem por objetivo a imitação de estados de ânimo, através de um discurso organizado de maneira especial, e, por finalidade última, determinado conhecimento de verdades humanas universais”.

Essa noção de universalidade aplicada aos poemas analisados pode suscitar uma suposta contradição. Seria possível uma obra tão conectada ao seu tempo, como é Decálogo Indigno para os Mortos de 2020, evidenciar questões humanas universais? Considerar a universalidade da poesia “não significa, de modo algum, que toda obra literária não reflita, em certos pontos, a realidade político-social, a cultural, e a de aspectos permanentes da vida humana” (Merquior, 1977MERQUIOR, José Guilherme (1997). A astúcia da mímese: ensaios sobre lírica. Rio de Janeiro: Topbooks., p. 32). Essa divergência é dissolvida ao se compreender em que medida os fatores externos atuam na configuração de cada obra, cuja estrutura deve ser ponto de partida para o discernimento dos elementos sociais que participam da composição lírica. Em suma, a participação do social no lírico deve ser identificada na estrutura do próprio poema (Merquior, 1977MERQUIOR, José Guilherme (1997). A astúcia da mímese: ensaios sobre lírica. Rio de Janeiro: Topbooks.).

Conforme se buscou demonstrar ao longo deste artigo, a experiência da pandemia de COVID-19 foi elaborada poeticamente como motivo e como construção formal dos poemas. A participação do social (a experiência da pandemia) no lírico pôde ser observada na estrutura das obras investigadas. Isto é, a intimidade dos poemas evidencia a presença dos elementos sociais nos estratos semântico, rítmico, rímico e sonoro. Dito em termos colocados por Candido (2000)CANDIDO, Antonio (2000). Literatura e Sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz/Publifolha., nota-se a influência dos componentes externos na formação interna da produção literária. Assim, a forma e o conteúdo operam de maneira indissociável nos efeitos e significados dos poemas. Tais obras não são documentos que registram uma época, mas artefatos artísticos, monumentos que representam, pela linguagem poética, emoções que são comuns aos seres humanos e que ultrapassam a força dos séculos.

A angústia, o medo da morte e os dilemas da passagem do tempo — para citar as principais questões levantadas por Bueno (2020)BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê. nos poemas de Decálogo Indigno... — são experiências essencialmente humanas e que se sobrepõem às particularidades históricas, políticas e culturais das sociedades. São experiências intensificadas em tempos de crise, como a recente pandemia do novo coronavírus e os períodos de guerra e de adoecimento generalizado ao longo da História. A título exemplificativo, a gripe espanhola, na primeira metade do século XX, deixou um rastro de morte no Brasil e em outros países. Exigiu a implementação de medidas de quarentena, isolamento social e higienização e provocou caos em diversas regiões. Nos dois meses de combate à epidemia, a cidade de São Paulo (SP) enfrentou saques e desabastecimento de suprimentos; ademais, pilhas de corpos (expostos e em decomposição) encontravam-se nas ruas e aguardavam para serem recolhidos (Schwarcz; Starling, 2020SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel (2020). A bailarina da morte: a gripe espanhola no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.).

Importa realçar que a quarentena é uma prática antiga. Na Grã-Bretanha, por exemplo, foi aplicada a restrição de circulação social como estratégia para a contenção de enfermidades no século XIX. Nessa época, as precárias condições de higiene — ruas expostas a dejetos, esgotos a céu aberto e pouco acesso à água — propiciaram que comunidades urbanas e rurais fossem regularmente atingidas por epidemias de varíola, escarlatina, cólera, malária etc. Na metade da era vitoriana, o Reino Unido promulgou leis de quarentena e estabeleceu o fechamento de escolas e casas comerciais. A desinfecção do ambiente dos doentes ou falecidos também foi uma medida adotada (Kellehear, 2016KELLEHEAR, Allan (2016). Uma história social do morrer. Tradução de Luiz Antônio Oliveira de Araújo. São Paulo: Editora Unesp.). Ressalvando a precaução de evitar anacronismos nessa consideração, é possível que os fatos desse período, e de outros ao longo das décadas, guardem semelhanças com alguns dos desafios enfrentados durante a pandemia de COVID-19.

Não é preciso estender a reflexão à peste bubônica, que ceifou boa parte da população europeia e de diferentes continentes no século XIV, para compreender que as doenças atingem profundamente a vida humana, material e subjetivamente, em seu plano individual e no coletivo. A angústia, o medo da morte e os dilemas da passagem do tempo são questões significativamente acentuadas em tempos de crise, provocados pelo adoecimento e pela mortalidade em larga escala, mas não são restritas a pandemias ou a tempos caóticos. A leitura dos poemas, do mesmo modo, não se limita ao contexto histórico de produção do opúsculo. Apreciadas em décadas futuras, as obras revelarão algo de profundo da existência do leitor, em circunstâncias pandêmicas ou não.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura brasileira contemporânea, particularmente a poesia, tem produzido diversas obras que exploram o contexto da pandemia de COVID-19. Entre elas, há os poemas “Matinada da peste” e “As máscaras”, em que este artigo se baseou, publicados em Decálogo Indigno para os Mortos de 2020, do poeta carioca Bueno (2020)BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê.. O opúsculo é constituído de dez poemas, que abordam questões como a quarentena, o isolamento social e a morte, revelando pela linguagem poética camadas profundas da existência humana.

Adotando uma perspectiva dialética que incorpora fatores externos e internos na análise e interpretação das produções literárias, buscou-se compreender não apenas a organização interna de “Matinada da peste” e “As máscaras”, mas também os elementos sociais que os condicionam. Para isso, este trabalho valeu-se do pensamento de Candido (2000)CANDIDO, Antonio (2000). Literatura e Sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz/Publifolha., uma vez que o crítico e sociólogo considera o social um aspecto relevante no estudo analítico do texto literário.

Verificou-se que “Matinada da peste” aborda o contraste entre a atemporalidade da natureza, simbolizada pelo canto eterno dos pássaros, e a fragilidade humana diante da pandemia de COVID-19. O poema coloca em evidência elementos contrastantes como o som da natureza (canto) e o som dos homens (“frágeis suspiros”), a imunidade dos pássaros e a vulnerabilidade humana ao vírus, de modo a representar as dores e os dilemas desses tempos de peste, angústia e espera. Já em “As máscaras” se destaca o que talvez seja a imagem síntese da crise sanitária: as máscaras de proteção. A experiência do isolamento social atravessa os “olhos órfãos”, os “lábios sem lábios” e as “mãos sem outras” do corpo que aguarda o “sonhado amanhã”. Importa assinalar que em ambos os poemas a expressão “lá fora” evoca as dimensões interna e externa da percepção. Isso sugere um olhar lírico que parte de dentro para fora, ou seja, situado em uma interioridade que remete ao isolamento social provocado pela situação pandêmica, dado o contexto de produção das obras.

Os poemas analisados, assim como os demais publicados em Decálogo Indigno para os Mortos de 2020 (Bueno, 2020BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê.), possuem um significativo estrato histórico e social, destacado neste artigo. Tais produções poéticas são dotadas de uma considerável camada social, identificada em diversos níveis ao longo dos versos, entretanto não se limitam à mera tematização da pandemia, pois transbordam as marcas da História ao revelarem questões universais da condição humana.

Desse modo, Bueno (2020)BUENO, Alexei (2020). Decálogo Indigno para os Mortos de 2020. Cotia: Ateliê. consegue extrair dos tópicos do seu tempo a essência da condição humana e a sua universalidade. Sua obra desvela questões cruciais das sociedades e transcende o contexto histórico em que foi escrita. Para além da pandemia de COVID-19, os poemas investigados revelam a angústia diante da efemeridade humana e da espera por um amanhã que não emudeça a nossa existência.

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Editor:

Paulo César Thomaz

Editores convidados:

Moama Lorena de Lacerda Marques e Diana Junkes Bueno Martha

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    19 Mar 2024
  • Aceito
    22 Jul 2024
Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade de Brasília (UnB) Programa de Pós-Graduação em Literatura, Departamento de Teoria Literária e Literaturas, Universidade de Brasília , ICC Sul, Ala B, Sobreloja, sala B1-8, Campus Universitário Darcy Ribeiro , CEP 70910-900 – Brasília/DF – Brasil, Tel.: 55 61 3107-7213 - Brasília - DF - Brazil
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