Resumo
O presente artigo baseia-se na hipótese de que é possível reconhecer nas narrativas claricianas uma espécie de consciência anímica, que refletiria a ideia da crença em mais de um mundo ou natureza, oculta sob os mantos da civilização/domesticação humana. Os seres não humanos, sobretudo os animais, ganham nas prosas de Clarice Lispector um lugar de perspectiva que os definem na relação com o outro e com o mundo. Conforme esse pressuposto, o artigo dedica-se à análise de algumas passagens em contos de Clarice, com especial atenção ao conto “Amor”, dando ênfase ao olhar e ao motivo do olhar nas narrativas, na busca pela compreensão — anímica — dessas relações entre as personagens. A partir do momento em que ousam olhar o mundo não apenas como um constructo civilizacional dito humano, tais personagens, humanas e inumanas, ampliam seu olhar para aquilo que é diferença, lançando-se ao mistério da alteridade.
Palavras-chave:
Clarice Lispector; animismo; alteridade