Resumo
A narrativa O cheiro do ralo, de Lourenço Mutarelli, apresenta como elemento formal sobressaliente uma urgência na maneira de contar, a qual se mostra responsável pela representação de formas de vida aceleradas e deflagradoras de um estado de torpor existencial que adormece o sujeito e lhe impede de transcender uma dada ordem cotidiana estabelecida. Reconhecendo a forte presença desse elemento estrutural na referida narrativa, busca-se, neste estudo, defender a hipótese de que ele se apresenta como um recurso formal eficiente para o alcance e a captação de leitores apressados. Não para distraí-los ou diverti-los, mas para sensibilizá-los, a partir da representação de estilos de vida acelerados, automatizados e envolvidos por uma atmosfera terrificante, de mal-estar (como é a do protagonista de O cheiro do ralo), sobre as angústias humanas deflagradas por formas de vida típicas de uma sociedade em que imperam os media e um capitalismo voraz, que, abreviando a relação dos seres com o tempo e com o entorno para garantir o lucro mediante a produção e o consumo em grande escala, desencadeia, entre outras coisas, intensos estados de torpor mental, anula a ética, a solidariedade e a afetividade entre os homens, além de estimular a projeção de um egocentrismo que tangencia a perversão.
Palavras chave:
Lourenço Mutarelli; literatura brasileira contemporânea; ficção; urgência