Acessibilidade / Reportar erro

Alegorias do fim do mundo: passado e futuro da catástrofe em A morte e o meteoro, de Joca Reiners Terron

Allegories of the end of the world: past and future of catastrophe in A morte e o meteoro, by Joca Reiners Terron

Alegorías del fin del mundo: pasado y futuro de la catástrofe en A morte e o meteoro, de Joca Reiners Terron

Resumo

Neste ensaio analiso o romance A morte e o meteoro, publicado em 2019 por Joca Reiners Terron. Organizei o texto em três partes complementares, e por meio delas convido o leitor a que acompanhe meus argumentos. Na primeira parte, apresento o escritor em seu lugar de enunciação e discuto as estratégias narrativas usadas em seu livro. No segundo bloco, relaciono o romance com o momento em que foi produzido e as temporalidades que se desprendem da narração. Finalmente, debato as orientações ideológicas de Terron, para evidenciar sua escrita como uma forma de atuação sociopolítica.

Palavras-chave:
literatura contemporânea; temporalidade; século XXI; Joca Reiners Terron; literatura brasileira

Abstract

In this essay I analyze the novel A morte e o meteoro, published in 2019 by Joca Reiners Terron. I organized the text into three complementary parts, by which I invite the reader to accompany my arguments. In the first part, I present the writer in his place of enunciation and discuss the narrative strategies used in his book. In a second part, I relate the novel to the moment in which it was produced and the temporalities that emerge from the narrative. And, finally, I discuss Terron's ideological orientations in order to evidence his writing as a form of sociopolitical action.

Keywords:
contemporary literature; temporality; 21st century; Joca Reiners Terron; Brazilian literature

Resumen

En este ensayo analizo la novela A morte e o meteoro, publicada en 2019 por Joca Reiners Terron. Ordené el texto en tres partes complementarias, por las que invito al lector a que acompañe mis argumentos. En una primera parte, presento al escritor según su lugar de enunciación y discuto las estrategias narrativas utilizadas en su libro. En un segundo apartado, relaciono la novela con el momento en que fue producida y las temporalidades que se despliegan de la narración. Y, finalmente, me dedico a debatir las orientaciones ideológicas de Terron, para evidenciar su escritura como un modo de actuación sociopolítica.

Palabras clave:
literatura contemporánea; temporalidad; siglo XXI; Joca Reiners Terron; literatura brasileña

1

Produzido num período político particularmente complexo da história do Brasil, as primeiras décadas do século XXI, o conjunto da obra ficcional de Joca Reiners Terron apresenta o fim do mundo de várias formas, como um assunto recorrente. Em O riso dos ratos (2021b), por exemplo, o autor narra um processo de desestruturação, como uma linha involutiva, em que a sociedade regride a estágios cada vez menos humanos e civilizados, até o ponto em que se extingue a coletividade social.

Desde as últimas décadas do século XX, existe uma ampla discussão que questiona a ideia de um mundo unificado (Lyotard, 1979LYOTARD, Jean François (1979). The postmodern condition: a of report knowledge. Manchester: Manchester University Press., p. xxiii-xxv), o que se costuma chamar de globalização. Atualmente, passados vários anos, e com a intensificação do debate, a integração internacional parece ser somente econômica, e é difícil conceber qualquer unificação social entre os países. Também é complicado pensar em um futuro coletivo para o Brasil, num momento em que a fragmentação política só aumenta.

A obra de Terron dialoga com essas discussões, e o fim do mundo, narrado em cada um de seus livros, projeta perspectivas, quase sempre pessimistas, para essa desestruturação. Como metáfora ou literalmente um apocalipse, o escritor evoca diversas formas de catástrofe, do passado, do presente ou do futuro. Segundo ele, qualquer possibilidade de utopia no Brasil se perdeu com a colonização, e a distopia impôs-se como uma realidade, muito além de qualquer projeção imaginária. De acordo com o autor, "desde que nós conhecemos este país, a utopia está no passado, nós só podemos viver em sistemas distópicos. Aqui, acredito que a distopia é a condição, é a regra e não a exceção" (Terron, 2022TERRON, Joca Reiners (2022). Tempos de distopia: entrevista com o autor Joca Reiners Terron. Entrevista concedida a André Cardoso e Pedro Sasse. Estudos de Literatura UFF. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tehE5QIZifo. Acesso em: 28 fev. 2022.
https://www.youtube.com/watch?v=tehE5QIZ...
, min. 7).

Em sua obra ficcional, Terron utiliza recursos estéticos para construir enunciados com posicionamentos políticos. Suas construções textuais integram-se a um sistema comunicativo e expandem-se como forma de ação pela posição social que ocupam (Austin, 1962AUSTIN, John L. (1962). How to do things with words. Oxford: Clarendon Press., p. 12-52), uma vez que suas obras ganham dimensões de diálogo, além de suas propostas individuais, e se inserem em discursos coletivos com outros agentes e instituições.

A literatura, segundo minha abordagem, participa de um sistema dialógico que envolve diversos agentes, pois qualquer comunicação humana se realiza por relações em que atos individuais participam de diálogos coletivos (Bajtín, 1989BAJTÍN, Mijaíl (1989). Teoría y estética de la novela. Madri: Altea, Taurus, Alfaguara., p. 93-99; Bajtín, 1999BAJTÍN, Mijaíl (1999). Estética de la creación verbal. México, España: Siglo XXI., p. 256-258). Uma série de interações sociais e relações de poder estrutura essa pluralidade comunicativa (Bourdieu, 1992BOURDIEU, Pierre (1992). Las reglas del arte: génesis y estructura del campo literario. Barcelona: Anagrama., p. 318-359).

Joca Reiners Terron conquistou espaço social por causa da sua atuação no meio literário brasileiro desde o fim do século XX, período em que trabalhou em várias práticas relacionadas à escrita. Em 1998, fundou a editora Ciência do Acidente, que funcionou até 2004. Isso lhe permitiu relacionar-se com vários profissionais da literatura e publicar seus primeiros livros. Também trabalhou em projetos para diversas empresas literárias de renome, como Companhia das Letras, Brasil S/A, Objetiva e Rocco (Sanches, 2014SANCHES, Rozenice Evangelista (2014). Para além do género: espaços e identidades no romance Do fundo poço se vê a lua de Joca Reiners Terron. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) – Universidade do Estado do Mato Grosso, Tangará da Serra., p. 18-20).

Muitas interpretações de sua ficção costumam evidenciar a relação que Terron teve com outros escritores considerados excêntricos na literatura brasileira, seja pela localização geográfica, fora do eixo Rio de Janeiro–São Paulo, seja pelo experimentalismo das obras. Os diálogos mais citados estabelecem como fundamental a amizade que teve com Valêncio Xavier e Manoel Carlos Karam, dois autores que produziram escritos muito particulares com base na cidade de Curitiba (PR). Xavier e Karam, entre outros escritores, contribuíram para o desenvolvimento da carreira literária de Terron, mas não como professores ou conselheiros, e sim à medida que ambos passaram a ser cultuados no início do século XXI, em função da peculiaridade de seus livros. O nome de Terron, para além da relação pessoal que mantinham, ficou associado a eles como o editor que reconheceu a peculiaridade de suas obras e as publicou na Ciência do Acidente.

Por meio dessas relações sociais, o escritor passou a ter visibilidade. Em 2008, destacou-se como um dos novos autores brasileiros e atraiu a atenção de críticos que tentavam estabelecer panoramas da produção recente no país, como Beatriz Resende (2008RESENDE, Beatriz (2008). Joca Terron: rompendo o tempo e o espaço. In: RESENDE, Beatriz. Contemporâneos: expressões da literatura brasileira do século XXI. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, Biblioteca Nacional. p. 129-134.) e Karl Eric Schøllhammer (2009SCHØLLHAMMER, Karl Eric (2009). Ficção brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.). Mas foi em 2010, com a publicação de Do fundo do poço se vê a lua, pela Companhia das Letras, que ele começou a ganhar grande reconhecimento no meio literário, vencendo o Prêmio Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional como o melhor romance do ano.

Mediante interações com outros agentes, para além da textualidade dos livros, os escritores constroem as suas posições sociais e isso faz com que as suas obras possam ser recebidas como propostas políticas (Bourdieu, 1992BOURDIEU, Pierre (1992). Las reglas del arte: génesis y estructura del campo literario. Barcelona: Anagrama., p. 319-325; 2007BOURDIEU, Pierre (2007). El sentido práctico. Buenos Aires: Siglo XXI., p. 86-92). Atualmente, Terron dispõe de várias formas de reconhecimento institucional: prêmios, crítica acadêmica, relações pessoais com outros agentes, publicação por uma grande editora e divulgação internacional. Essa sociabilidade, construída por ele durante os anos de trabalho com a literatura, também dá visibilidade à sua ficção e permite-lhe divulgar suas ideias entre pessoas interessadas na produção literária e nos debates políticos atuais.

Em 2019, com a publicação de A morte e o meteoro, o escritor mostra suas perspectivas sobre situações sociopolíticas do presente. Desde um ponto de vista negativo, muito em voga nos dias de hoje, Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia. aborda o esgotamento das possibilidades da vida humana na Terra. Ao mesmo tempo que expressa sua posição política sobre problemas urgentes por meio da elaboração ficcional, o escritor oferece um romance como produto a seus interlocutores. Apesar da atualidade e da importância das discussões trazidas pelo autor, sua novela de 2019 não alcançou a repercussão de sua novela mais recente, vencedora do prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte. Onde pastam os minotauros (2023) é uma obra também pessimista sobre os problemas sociais e as consequências da exploração humana no planeta.

A morte e o meteoro consiste em um romance lido pelo público principalmente como uma crítica política. Embora esse tipo de interpretação não seja o único, pois os leitores têm liberdade para construir suas próprias intepretações, essa perspectiva está associada a uma série de elementos anteriores mesmo à leitura da narrativa em si: a posição social de Terron, a trajetória construída por ele, as estratégias de divulgação que envolvem sua obra, as instituições que lhe agregam valor, bem como os textos de difusão, desde sinopses até resenhas em jornais.

As estratégias de divulgação do livro já trazem um tipo de leitura orientada para perspectivas políticas. Agregadas ao romance, essas sinopses promovem a obra e seu autor. Desde as orelhas do livro, Terron é descrito como "um dos grandes escritores brasileiros contemporâneos, [com uma] imaginação sem limites, cuja linguagem visionária confere a esta história um clima de pesadelo e horror distópico". Para promover o romance, o texto explica: "Terron criou neste A morte e o meteoro uma intrincada aventura literária, que combina segredos ancestrais, índios anarquistas, insetos alucinógenos e uma viagem sangrenta pelos lugares mais sombrios do passado e do futuro". Também a resenha publicada na Folha de S. Paulo destaca que o escritor entrelaça passado e futuro, articula tempos e espaços diversos e assim os elabora numa ficção que alerta para as consequências da negligência com os problemas ambientais (Von Holdefer, 2019VON HOLDEFER, Camila (2019). Em "A morte e o meteoro" Amazônia é destruída e homem branco é "grande mal". Folha de S. Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/11/em-a-morte-e-o-meteoro-amazonia-e-destruida-e-homem-branco-e-grande-mal.shtml. Acesso em: 17 jul. 2023.
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/...
).

Desde a publicidade de seu romance, Terron posiciona-se como um sujeito preocupado com a destruição do meio ambiente e com a indiferença em relação aos povos indígenas nos planos governamentais. Como um dos "grandes escritores brasileiros contemporâneos", como expõe a orelha do livro, ele utiliza seus recursos artísticos, a ficção literária, para denunciar o descaso histórico com as comunidades indígenas e a projeção de um futuro desastroso para os seres humanos.

2

Em A morte e o meteoro, Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia. aborda uma tribo amazônica à beira da extinção. A história passa-se num futuro próximo, por volta de 2030. Nesse porvir, ocorreu uma guerra em que Brasil e Colômbia estiveram unidos contra Venezuela, e o Chile deixou de existir pelo aumento do nível do mar. Na Amazônia a situação também é desesperadora, com a mudança climática e o constante assédio do latifúndio. O meio ambiente está a ponto de um colapso.

Com a selva devastada, o ecossistema que abriga os kaajapukugi já não lhes permite condições de sobrevivência. Como se fosse pouco, a tribo conta somente com 50 integrantes, todos homens idosos. Condenada a deixar de existir, a pequena comunidade vive isolada num dos últimos espaços amazônicos ainda não invadidos pelo agronegócio. O único contato que estabelecem com outras civilizações é por intermédio de Boaventura, um antropólogo que tem se dedicado a observá-los.

Desde o começo do romance, Joca Reiners Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia. apresenta essa história com poucas perspectivas de futuro; tudo parece caminhar em direção à catástrofe e à extinção da tribo que o escritor inventou. Uma organização não governamental entra em contato com Boaventura e propõe-lhe que se encarregue do translado da comunidade a outro ambiente em que possa subsistir. O antropólogo decide enviar a tribo para a serra mazateca, no estado mexicano de Oaxaca. Assim, os kaajapukugi migram para o México. Mas existe outra migração acontecendo paralelamente. A China lança uma nave rumo a Marte, tripulada somente por um casal. A missão espacial pouco a pouco vai revelando o objetivo de colonizar o planeta.

Os kaajapukugi movem-se de um país a outro, afastando-se de seu hábitat numa desconexão espaçotemporal. Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia. utiliza um aeroporto como símbolo das experiências contemporâneas. Desse modo, estabelece um diálogo com seu tempo, escolhe um espaço muito característico de nossa época. Desde as últimas décadas do século passado, os aeroportos tornaram-se locais cada vez mais ocupados, símbolo de deslocamento e integração internacional, porém esses lugares deixam suspensas as relações entre os sujeitos, o espaço e o tempo, ambientes somente de trânsito, onde tudo é provisório. Por isso se dificulta a relação dos indivíduos com o espaço que ocupam (Augé, 2000AUGÉ, Marc (2000). Los no lugares, espacios del anonimato: Una antropología de la sobremodernidad. Barcelona: Gedisa., p. 81-85).

Discrepâncias e ambiguidades, aparentemente sem relação, são características singulares do livro. A duplicidade complementar extrapola o conteúdo do romance e é marcante em sua forma. Estruturada em quatro capítulos, a obra apresenta dois narradores em primeira pessoa.

Mesmo que Boaventura conte sua convivência conturbada entre os indígenas, o narrador que predomina é um antropólogo mexicano. No primeiro capítulo, essa personagem revela ser mais que um antropólogo. Funcionário público cuja formação acadêmica foi esquecida, ele descreve a si próprio como um homem solteiro, de meia-idade, que acaba de perder seus pais. A narrativa da primeira parte fica a cargo dessa personagem. Assim, somente em sua perspectiva podemos conhecer Boaventura e, de maneira muito indireta, os indígenas. Esse narrador posiciona-se num grupo social bastante específico, funcionário do Estado, um burocrata com formação superior, membro da classe média, como a maioria dos narradores da literatura brasileira contemporânea. Desse ponto de vista, oferece uma perspectiva que dialoga com a própria organização sociopolítica do país, com protagonismo da classe média, seja como personagens, seja como narradores, seja como autores, seja como o público que consome essas obras (Dalcastagnè, 2012DALCASTAGNÈ, Regina (2012). Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Vinhedo: Horizonte; Rio de Janeiro: Editora da UERJ. E-book., p. 240-296; 2021DALCASTAGNÈ, Regina (2021). O prego e o rinoceronte: resistências na literatura brasileira. Porto Alegre: Zouk., p. 10-11).

Mesmo que essa personagem seja quem intervém na narração completa, e não só no primeiro capítulo, muitas vezes os elementos do enredo também chegam a ele de maneira precária, como a comunicação com seu chefe por curtas mensagens de texto. Desse modo, toma conhecimento de que Boaventura faleceu num táxi, simultaneamente à viagem dos integrantes da tribo a Oaxaca. Ao juntar esses fragmentos, o narrador relata o processo burocrático do translado dos indígenas, terminando em sua chegada à serra de Huautla.

Reassentados, os próprios kaajapukugi constroem sua habitação e, uma vez finalizada, convidam o antropólogo mexicano a que participe do uso ritual de uma droga. Em sua alucinação, a personagem vê seus falecidos pais, mas quando volta à consciência encontra todos os integrantes da tribo mortos, com seus corpos em círculo, num ritual de suicídio coletivo.

O segundo capítulo começa com um cabeçalho, que localiza o enredo no espaço e no tempo: "No Alto Purus, 1980" (Terron, 2019TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia., p. 37). Embora se refira ao fato de a narração concentrar-se nos eventos ocorridos na bacia de um rio amazônico há meio século, a história continua mediada pelo antropólogo mexicano. O narrador conta que, na volta para a casa dos pais, descobre que recebeu um vídeo de Boaventura em que o brasileiro relata suas experiências entre os kaajapukugi.

O relato principal é realizado pelo vídeo de Boaventura, mas o narrador mexicano é a personagem que o apresenta, insere seus comentários, interrompe o vídeo, vai e volta, dependendo dos acontecimentos que lhe passam enquanto assiste a ele. A montagem do romance, com os dois narradores em primeira pessoa, entrecruzados nos capítulos 2 e 3, permite que ambos os relatos se completem pouco a pouco, dando suspense para a história. A estratégia narrativa de estruturar esses dois capítulos no vídeo em que Boaventura conta suas experiências de meio século atrás sobrepõe seu passado ao presente do narrador mexicano. O próprio recurso de utilizar um vídeo como meio de comunicação permite esses saltos temporais.

O modo de controlar a reprodução do vídeo representado no livro outra vez mostra dissociação entre tempo e espaço, característica das experiências temporais contemporâneas. A comunicação digital do nosso século, como no vídeo, possibilita essa separação, em que não necessariamente experimentamos a mesma temporalidade do espaço físico que ocupamos (Gumbrecht, 2015GUMBRECHT, Hans Ulrich (2015). Nosso amplo presente: o tempo e a cultura contemporânea. São Paulo: Editora Unesp., p. 41-48). A personagem de Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia. pode até mesmo manipular essa experiência temporal ao pausar, voltar ou avançar o relato de Boaventura.

Começa o terceiro capítulo. O antropólogo é levado ao necrotério e questionado sobre um cadáver que claramente não pertence à mesma etnia e é muito mais jovem que os demais. Ele é informado de que terão de devolver os corpos ao Brasil. Ao voltar à sua casa, retoma o vídeo. Neste, Boaventura conta como sequestrou a única mulher kaajapukugi, lhe provocou um aborto e a manteve amarrada, estuprando-a constantemente.

Com o tempo, Boaventura aprende a comunicar-se com a mulher por meio de uma linguagem que ambos conheciam parcialmente, e ela explica-lhe a cosmogonia da tribo. A indígena engravida, tem o bebê e suicida-se. O antropólogo retorna à aldeia, destrói um túmulo sagrado e abandona o filho na selva. Assim, o narrador mexicano entende por que havia um cadáver diferente e mais jovem entre os kaajapukugi. Mas nos últimos minutos do vídeo uma falha impossibilita a sua compreensão.

No último capítulo do romance, o antropólogo mexicano assiste novamente ao vídeo, interpretando-o como uma confissão de Boaventura. Ele também relaciona a migração kaajapukugi com a missão chinesa para Marte. A personagem percebe que esses eventos estão interligados de modo absurdo e sempre foram contemplados na cosmogonia da tribo, como uma temporalidade cíclica e sobreposta.

O mexicano começa a destruir tudo ao seu redor, incendeia a própria casa, tentando romper a relação com o passado familiar, e apaga o vídeo. Toda a narrativa acumula elementos para um fim catastrófico. O antropólogo mexicano é encarregado de acompanhar o retorno dos corpos à Amazônia num voo particular. Começa uma tempestade elétrica. No meio do trajeto o avião, tripulado apenas pelos pilotos, o narrador e os corpos dos indígenas, sofre uma violenta turbulência por causa da destruição de toda a crosta terrestre. O livro termina quando o kaajapukugi, filho de Boaventura e da indígena, se levanta de seu caixão e, com o narrador, olha pela janela do avião enquanto um meteoro cruza o céu a caminho da Terra.

Nesse conjunto de alegorias de destruição, os recursos estéticos têm papel fundamental para manter o ritmo da narrativa, principalmente pela montagem que entrecruza os relatos de dois narradores complementares. A duplicidade no romance de Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia., que relaciona os dois antropólogos, se apresenta ainda em outros aspectos. A ambiguidade também se expressa na relação entre passado e futuro, além de outras articulações temporais presentes na obra.

3

Segundo Joca Reiners Terron (2021a)TERRON, Joca Reiners (2021a). Joca Reiners Terron (A Morte e o Meteoro) – Entrevista. Seleção Literária. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QCMrhRebeI0. Acesso em: 14 out. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=QCMrhReb...
, A morte e o meteoro foi escrita no fim de 2018. No Brasil, as eleições já haviam passado, e em poucos meses Jair Bolsonaro seria o novo presidente. O escritor estava ciente das declarações e políticas de extrativismo ambiental propostas para o futuro governo. Por isso, tinha a perspectiva de que o desmatamento aumentaria e de que os povos indígenas seriam ainda mais ameaçados. Essa expectativa, aberta apenas a um futuro em que a esperança parece nula, marca o livro em diferentes dimensões e efetiva-se num fim catastrófico, com poucas possibilidades de sobrevivência para a humanidade, como uma projeção de um futuro quase impossível.

Desde o início da história, destaca-se o aspecto temporal que situa a narração na década de 2030, e isso fica mais complexo com a montagem e seus saltos no tempo. O relato do vídeo de Boaventura, que relembra seu passado em 1980, se cruza com o presente do narrador mexicano e pouco a pouco dá sentido a sua atualidade. Os recursos de pausar, retroceder e avançar o vídeo que estruturam os capítulos 2 e 3 dotam o romance de camadas temporais sobrepostas, muito além da relação linear entre passado, presente e futuro.

As temporalidades não são categorias estanques; expressam-se simultaneamente de modo múltiplo e sobrepõem-se, segundo as experiências dos sujeitos que as elaboram (Koselleck, 2001KOSELLECK, Reinhart (2001). Los estratos del tiempo: estudios sobre la historia. Barcelona, Buenos Aires, México: Paidós., p. 35-37). Hoje em dia, diversas temporalidades coexistem, entre a recuperação do passado, a aceleração ocasionada pela tecnologia e as perspectivas de um futuro catastrófico (Turin, 2019TURIN, Rodrigo (2019). Tempos precários: aceleração, historicidade e semântica neoliberal. Dansk: Zazie., p. 14-17, p. 26-27). As ficções articulam as temporalidades de seu momento histórico (Bajtín, 1999BAJTÍN, Mijaíl (1999). Estética de la creación verbal. México, España: Siglo XXI., p. 253-254), mas os autores também podem distanciar-se dos conceitos de tempo, reconstruí-los e expandi-los (Bajtín, 1989BAJTÍN, Mijaíl (1989). Teoría y estética de la novela. Madri: Altea, Taurus, Alfaguara., p. 402-407).

No romance de Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia., um primeiro nível temporal se expressa de maneira diegética. No livro existe uma concepção de tempo que supera a ideia de linearidade. A cosmogonia kaajapukugi baseia-se num tempo cíclico em que a extinção é necessária para que a humanidade volte a existir. Nessa ontologia todo o processo de degradação do meio ambiente já estava contemplado e levou os indígenas a buscar voluntariamente sua morte coletiva para reiniciar o ciclo, renovando a vida.

A explicação de sua cosmogonia se dá de modo muito indireto; a única mulher da tribo o faz a Boaventura usando uma linguagem que ambos entendem precariamente. O antropólogo conta isso 50 anos depois num vídeo apressado. O narrador mexicano assiste ao relato, entrecortado por várias interrupções, e no fim decide excluí-lo, com o objetivo de destruir qualquer informação relacionada aos eventos. Todas essas limitações, elaboradas por Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia., distorcem a ontologia kaajapukugi e mantêm o mistério em torno dos indígenas, que permanecem indecifráveis até o término da história.

Os kaajapukugi de Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia. nem mesmo falam no romance. A dificuldade de comunicação entre grupos sociais diferentes chega a um ponto extremo em que se impossibilita qualquer diálogo, e as relações, mesmo que mínimas, levam a consequências perversas. Desde seu ponto de vista, o escritor observa a alteridade dos indígenas e, ainda que se aproprie dos dilemas enfrentados por uma tribo à beira da extinção para sua ficção, também admite a dificuldade de uma comunicação plena com um grupo social tão diferente do seu.

Apesar das informações incompletas, essa cosmogonia revela uma série de elementos de temporalidade. Segundo os kaajapukugi, um piloto perdido chegou ao segundo céu com 50 besouros, comeu os excrementos dos insetos e, ao defecar, surgiu a humanidade. A tribo consome os besouros num ritual para visitar seus ancestrais no terceiro céu, e a prática do suicídio os mantém jovens no plano sagrado. Essa dinâmica repete-se ciclicamente, vida e morte complementam-se em sucessão. Com a cosmogonia, o suicídio ritual dos últimos 50 kaajapukugi ganha sentido, como o recomeço do ciclo. O tempo cíclico da tribo termina e começa coincidindo com o fim do tempo planetário, com a queda do meteoro. No fim do romance, os tempos cruzam-se. A circularidade kaajapukugi e a linearidade progressiva culminam com a destruição do planeta.

O livro de Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia. sobrepõe esses conceitos temporais como uma disputa em que o tempo progressivo e linear das sociedades atuais, marcado pela tecnologia e acelerado pelas dinâmicas de produção e consumo (Rosa, 2009ROSA, Hartmut (2009). Social acceleration: ethical and political consequences of a desynchronized high-speed society. In: ROSA, Hartmut; SCHEUERMAN, Willian E. (org.). High-speed society: social acceleration, power and modernity. Filadélfia: Pennsylvania University Press. p. 77-111., p. 77-111), entra em conflito com a concepção kaajapukugi de tempo em ciclos infinitos. No fim, a noção temporal da tribo é vitoriosa, com a possibilidade do reinício da humanidade, seja com a tripulação do avião, seja com os besouros indígenas que despertam da morte, seja com o casal chinês em Marte. Mas a esperança continua quase nula, o avião não tem mais combustível para continuar voando, nem solo para pousar. Tampouco há contato com a missão espacial.

Um segundo nível temporal se expressa de modo extradiegético e conecta a narrativa ao passado não só brasileiro, mas americano, e às perspectivas do futuro global. Desde o começo do romance, os dois narradores remetem-se ao processo de colonização da América, iniciado no século XVI, como um avanço do extrativismo que exterminou os povos originários. Os dois narradores representam um tipo de sociedade destrutiva. O antropólogo mexicano esforça-se para apagar qualquer relação com seu próprio passado, incendiando a casa de seus pais e depois destruindo as evidências sobre a tribo. Boaventura é um exemplo ainda melhor da ação destrutiva. O antropólogo, encarregado de preservar os indígenas, ironicamente faz com que eles percam qualquer possibilidade de futuro ao sequestrar a única mulher e provocar nela o aborto de um novo membro da tribo. É por isso que a jovem se refere a ele como "Grande Mal", o representante da sociedade branca. Boaventura, assim como o mexicano, luta para destruir sua relação com o seu próprio passado familiar.

Por mais que os dilemas centrais de A morte e o meteoro envolvam principalmente uma tribo, os protagonistas indígenas permanecem inacessíveis aos leitores; somente conhecemos o avanço da narrativa pelos antropólogos. Ambos os narradores, apesar de suas nacionalidades diferentes, possuem muitas similaridades e compartilham uma visão do mundo ocidentalizada, que os torna alheios aos kaajapukugi. Essa distância entre os antropólogos, que apresentam a narração, e os protagonistas indígenas marca uma separação social, o mesmo tipo de diferença que distancia Terron e seus leitores das comunidades originárias.

Esse conjunto de alegorias de destruição, elaborado ficcionalmente por Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia., remete-se ao extermínio indígena, causado pelo avanço do extrativismo ao longo dos séculos. Os acontecimentos narrados no romance dialogam com o processo histórico da colonização americana, remontam a desde o século XVI até a expectativa concreta de que a ameaça aos povos originários se agravaria no presente, com o governo de Jair Bolsonaro, que começou em 2019, ano de publicação do livro.

Desde as promessas de campanha, Bolsonaro havia proposto capitalizar a Amazônia, avançando sobre territórios indígenas. Durante seu governo, os povos originários foram ainda mais negligenciados pelo Estado, situação propícia para a exploração de suas terras. Região que historicamente vem sendo assediada como fonte de recursos financeiros, no decorrer da presidência de Bolsonaro se implementaram várias medidas políticas para possibilitar que a Amazônia fosse drasticamente invadida (Barreto Filho, 2020BARRETO FILHO, Enyo Trindade (2020). Bolsonaro, meio ambiente, povos e terras indígenas e de comunidades tradicionais: uma visada a partir da Amazônia. Cadernos de Campo, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 1-9. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v29i2pe178663%20
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133....
, p. 1-9). Com o avanço da exploração financeira da selva amazônica e a ausência voluntária de instituições estatais, os indígenas dessa região, mas não só, ficaram cada vez mais expostos e ameaçados.

Além do diálogo com a experiência colonial vista como catástrofe e com o presente de um governo que intensificou a exploração da floresta amazônica, o romance traz uma expectativa relacionada ao futuro global. A perspectiva de que as políticas neoliberais continuarão a esgotar os recursos naturais até que o planeta não ofereça mais condições de existência para a humanidade permeia todo o livro. Essa projeção de um futuro catastrófico fica marcada no romance ao situar a narrativa numa década no futuro, num momento em que o meio ambiente está devastado.

A perspectiva de uma catástrofe iminente, evocada desde o começo de A morte e o meteoro, está relacionada à expectativa das discussões científicas atuais de que o impacto humano na Terra atingiu níveis irreversíveis. Esse debate projeta um futuro sem recursos naturais, com uma temporalidade direcionada à extinção humana, em razão da nossa própria exploração da natureza. Embora com múltiplas interpretações sobre o início desse processo, há o consenso de que a humanidade acelerou a degradação do planeta, inserindo-nos numa nova era geológica, o Antropoceno.

Essa discussão articula a reflexão científica dos estudos ambientais com a atual expectativa catastrófica da impossibilidade de futuro para a espécie humana no planeta (Szerszynski, 2017SZERSZYNSKI, Bronislaw (2017). The Anthropocene monument: on relating geological and human time. European Journal of Social Theory, v. 20, n. 1, p. 111-131. https://doi.org/10.1177/1368431016666087
https://doi.org/10.1177/1368431016666087...
, p. 111-131). Mesmo que a ideia de uma nova era geológica causada pela ação humana na Terra exista desde a metade do século XX, nas últimas duas décadas esse conceito vem sendo cada vez mais aventado (Chakrabarty, 2018CHAKRABARTY, Dipesh (2018). Anthropocene time. History and Theory, v. 57, n. 1, p. 5-32. https://doi.org/10.1111/hith.12044
https://doi.org/10.1111/hith.12044...
, p. 7-8). O debate sobre o tema considera principalmente o avanço das mudanças climáticas geradas pela exploração cada vez mais acelerada dos recursos naturais e pelo aumento demográfico da humanidade nos últimos séculos (Artaxo, 2014ARTAXO, Paulo (2014). Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno. Revista USP, São Paulo, n. 103, p. 13-24. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i103p13-24
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036....
, p. 15-16). A percepção das mudanças no planeta por meio do nosso impacto destrutivo gera uma perspectiva temporal em que não há futuro para a humanidade. A conexão entre passado, presente e futuro se rompe, numa ansiedade de que o porvir é impossível (Chakrabarty, 2009CHAKRABARTY, Dipesh (2009). The climate of History: four theses. Critical Inquiry, v. 35, n. 2. https://doi.org/10.1086/596640
https://doi.org/10.1086/596640...
, p. 197).

O extrativismo, catalisado pelo progresso tecnológico, acelera os processos naturais, degradando o planeta e gerando a expectativa de um futuro impossível para os seres humanos na Terra. Com poucas perspectivas, a relação histórica e temporal é deslocada para uma ansiedade em relação ao futuro, de modo que o passado e o presente devem ser reconciliados a fim de projetar possibilidades de sobrevivência para a espécie humana (Simon, 2022SIMON, Zoltán Boldizsár (2022). Planetary futures, planetary History. In: SIMON, Zoltán Boldizsár; DIELE, Lars (org.). Historical understanding: past, present, and future. Londres: Bloomsbury Academic., p. 119-129). No romance de Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia., essas perspectivas de preservação da humanidade, embora pessimistas e quase nulas, são expressas com a viagem chinesa para colonizar Marte e com ciclo de vida kaajapukugi renovado por intermédio de sua ressurreição.

Joca Reiners Terron afirmou ter pouca esperança na humanidade e que talvez o planeta estivesse melhor com nossa extinção. Sua visão pessimista chega a ponto de sugerir que a solução poderia ser o extermínio da espécie humana (apud Maciel, 2017MACIEL, Nahima (2017). Livro de Joca Reiners reflete desencanto de autor com a contemporaneidade. Correio Brasiliense. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2017/04/30/interna_diversao_arte,592143/livro-de-joca-reiners-reflete-desencanto-do-autor-com-a-contemporanei.shtml. Acesso em: 5 ago. 2021.
https://www.correiobraziliense.com.br/ap...
). Entretanto, ainda com o pessimismo de sua posição, as propostas do escritor afirmam-se como possibilidade de outras formas de organização política.

Os problemas discutidos por Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia. em A morte e o meteoro se revelam como uma relação entre a arte e as situações sociopolíticas de seu tempo. No início de 2023, vieram a público notícias de que, durante a presidência de Jair Bolsonaro, os povos indígenas sofreram um descaso tão grande por parte do Estado que centenas de crianças morreram por desnutrição (G1 RR, 2023G1 RR (2023). Quase 100 crianças morreram na Terra Indígena Yanomami em 2022, diz Ministério dos Povos Indígenas. G1. Disponível em: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2023/01/21/mais-de-500-criancas-morrem-na-ti-yanomami-e-lula-deve-decretar-estado-de-calamidade-publica.ghtml. Acesso em: 21 ago. 2023.
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/...
). Historicamente, os povos indígenas no Brasil têm passado por vários processos, incluindo institucionais, de invisibilização e esquecimento (Núñez Longhini, 2021NÚÑEZ LONGHINI, Geni Daniela (2021). Da cor da terra: etnocídio e resistência indígena. Tecnologia & Cultura, ed. esp., p. 65-73., p. 67-70).

Terron (2020TERRON, Joca Reiners (2020). Entrevista: Joca Reiners Terron. País de ponta-cabeça. Cândido. Entrevista concedida a Jonatan Silva. Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/Entrevista-Joca-Reiners-Terron. Acesso em: 12 set. 2021.
https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Notici...
) afirma ter escrito A morte e o meteoro como uma denúncia urgente, motivada pela condição sociopolítica do país. Segundo o escritor, a atual situação brasileira continua com a perpetuação da estrutura de desigualdade social do início da colonização, da qual não conseguimos nos libertar até agora. Para gerar mudanças no futuro, o escritor propõe:

Enquanto o processo colonial não for interrompido de vez não teremos futuro. […] No Brasil precisamos de um gesto simbólico que rompa com o passado: assumirmos a língua brasileira, deixarmos de falar o português [e] oficializar as línguas indígenas e africanas […]. Será a real independência do Brasil, só assim se quisermos fundar o futuro. E claro, o primeiro presidente dessa República futura deverá ser Ailton Krenak (Terron, 2020TERRON, Joca Reiners (2020). Entrevista: Joca Reiners Terron. País de ponta-cabeça. Cândido. Entrevista concedida a Jonatan Silva. Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/Entrevista-Joca-Reiners-Terron. Acesso em: 12 set. 2021.
https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Notici...
).

A referência a Krenak não é mera coincidência. Um dos líderes originários mais reconhecidos no país atualmente, ele foi nomeado intelectual do ano em 2020 pela União Brasileira de Escritores e, em 2023, tornou-se o primeiro indígena na Academia Brasileira de Letras. Em 2016, Terron participou de um debate com Ailton Krenak na 32ª Bienal de Arte de São Paulo. Desde então, a questão do extermínio e da desterritorialização dos povos originários, que já estava presente em algumas obras anteriores do escritor, passou a chamar sua atenção (Terron, 2021aTERRON, Joca Reiners (2021a). Joca Reiners Terron (A Morte e o Meteoro) – Entrevista. Seleção Literária. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QCMrhRebeI0. Acesso em: 14 out. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=QCMrhReb...
). Com a eleição de Bolsonaro como presidente, sua preocupação com políticas de exclusão dos povos indígenas e com o incremento da exploração da Amazônia aumentou.

Em 2019, mesmo ano de A morte e o meteoro, Krenak publicou Ideias para adiar o fim do mundo, livro que desde o título mostra a relação entre os dois escritores. Em um diálogo efetivo, Krenak (2021KRENAK, Ailton (2021). Entre livros: conversa entre Denilson Baniwa, Ailton Krenak e mediação de Pollyana Quintella. Pivô Arte e Pesquisa. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fIxK77RTHXE. Acesso em: 12 mar. 2022.
https://www.youtube.com/watch?v=fIxK77RT...
, min. 48-52) recomenda a obra de Terron como uma alegoria da situação dos povos indígenas na atualidade. O líder indígena defende que é preciso acabar com o extrativismo dos recursos naturais, gerar uma mudança na dinâmica da exploração neoliberal e abrir-se para outras visões de mundo, valorizando a pluralidade ontológica. Só assim, segundo ele, haverá uma chance de não chegarmos à extinção das múltiplas comunidades do planeta e de preservarmos a espécie humana em sua heterogeneidade (Krenak, 2019KRENAK, Ailton (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras., pos. 107-125).

Em diálogo com ativistas políticos, Krenak retoma os argumentos de outros líderes indígenas, como Davi Kopenawa. Em A queda do céu, um livro de difusão internacional escrito com Bruce Albert, bem como em muitos de seus discursos, Kopenawa também argumenta que o extrativismo desconecta os seres humanos — ou pelo menos a civilização ocidental branca — da natureza, e essa relação permite a degradação do planeta com pouca consciência de que nós, os seres humanos, estamos provocando nossa própria destruição (Kopenawa; Albert, 2015KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce (2015). A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras., p. 407-420).

O conceito de antropoceno, cientificamente discutido, com frequência ignora as desigualdades sociais e considera as consequências da exploração dos recursos naturais como responsabilidade de toda a espécie humana, como se as civilizações fossem um todo uniforme (Chakrabarty, 2009CHAKRABARTY, Dipesh (2009). The climate of History: four theses. Critical Inquiry, v. 35, n. 2. https://doi.org/10.1086/596640
https://doi.org/10.1086/596640...
, p. 221-222). Esse tipo de abordagem generalizante invisibiliza a multiplicidade e oculta as particularidades que definem as ontologias. Ao defender a pluralidade como tema central, os povos indígenas confirmam a especificidade de cada um dos povos (Núñez Longhini, 2021NÚÑEZ LONGHINI, Geni Daniela (2021). Da cor da terra: etnocídio e resistência indígena. Tecnologia & Cultura, ed. esp., p. 65-73., p. 68-72). Tanto Krenak quanto Kopenawa, assim como muitos povos indígenas, combatem a ideia do humano universal. As discussões propostas pelos líderes indígenas, e também como evidencia a tribo ficcional kaajapukugi, deixam clara a pluralidade humana.

Krenak e Kopenawa construíram suas carreiras como ativistas políticos desde as últimas décadas do século XX. Os argumentos defendidos por eles foram inicialmente apresentados sobretudo em congressos e eventos políticos dos quais participaram nos últimos 40 anos. Mais recentemente, ganharam maior divulgação, chegando aos leitores por meio da publicação de suas ideias em livros da Companhia das Letras.

Ao produzir uma ficção literária com os temas abordados por líderes como Kopenawa e Krenak, Terron amplia o escopo da discussão. Com seu romance, o escritor desloca a questão dos fóruns políticos para o meio literário. Se no início as discussões sobre repensar o extrativismo e incluir a pluralidade dos povos nativos nos projetos nacionais eram voltadas principalmente para grupos interessados em congressos e discursos políticos, com o romance o público se expande para pessoas que leem ficção literária.

Muito mais do que expressões artísticas autônomas, os escritores utilizam sua produção cultural como um instrumento que lhes permite conquistar espaço na sociedade (Bourdieu, 2007BOURDIEU, Pierre (2007). El sentido práctico. Buenos Aires: Siglo XXI., p. 90-92, p. 99-105). Dessa forma, entendem a arte como um recurso político e social, ao mesmo tempo que oferecem um produto a seus interlocutores (Bourdieu, 1992BOURDIEU, Pierre (1992). Las reglas del arte: génesis y estructura del campo literario. Barcelona: Anagrama., p. 319-325). Ao assimilar questões discutidas em seu próprio tempo, os autores integram-se em diálogos e estabelecem relações discursivas com outros sujeitos, geralmente de seu próprio grupo social, projetando assim intenções e perspectivas políticas (Bajtín, 1989BAJTÍN, Mijaíl (1989). Teoría y estética de la novela. Madri: Altea, Taurus, Alfaguara., p. 93-99; 1999BAJTÍN, Mijaíl (1999). Estética de la creación verbal. México, España: Siglo XXI., p. 279-290).

Terron apropria-se das demandas das comunidades indígenas, dos problemas urgentes do presente, que persistem desde o passado e projetam um futuro catastrófico, e elabora-os artisticamente como uma narrativa ficcional, oferecida à comunidade interlocutora do escritor.

Em A morte e o meteoro não existe possibilidade de harmonia, senão de conflito. Os indígenas do romance estão à beira da morte, e o contato com outras civilizações apenas acelera seu processo de extinção. Na elaboração ficcional de Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia., a própria comunicação é impossível entre os diferentes grupos. Os kaajapukugi só conversam entre si, e os precários diálogos entre o antropólogo Boaventura e a última mulher da tribo terminam com o estupro e a morte da indígena. A universalidade do ser humano, vista como prejudicial pelos líderes indígenas brasileiros, aparece no livro de Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia. como uma impossibilidade de comunicação que gera destruição.

A alegoria da colonização e suas consequências para o futuro, construídas em A morte e o meteoro, evidenciam a exploração e a dificuldade de diálogo como destruidoras de civilizações. Ao elaborar essa perspectiva em seu romance, Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia. insere-se em uma rede discursiva que dialoga com as discussões de líderes indígenas que contrapõem a universalidade do humano e alertam quanto aos perigos do extrativismo, como fazem Krenak e Kopenawa.

Em diálogo com o debate proposto pelos líderes indígenas, a sugestão que Terron faz de Krenak como presidente e da mudança do idioma português para brasileiro ganha força simbólica como uma ruptura com o processo colonial. Esses atos poderiam quebrar a dinâmica do avanço extrativista e possibilitar um novo começo, outra organização sociopolítica. Por mais utópico que pareça, o próprio escritor reconhece tais atos como simbólicos de recomeço. Como no romance, eles interromperiam a linearidade em direção à destruição para recomeçar com outro processo.

A produção artística tem pouco espaço como instrumento de mudança nas sociedades. Desde o fim do século passado, também o papel desempenhado pelos produtores culturais tem se tornado cada vez mais orientado para o mercado, o que limita seu potencial crítico, mas não impede a ação política (García Canclini, 1990GARCÍA CANCLINI, Néstor (1990). Culturas híbridas: estrategias para entrar y salir de la modernidad. México: Grijalbo., p. 95-106; Yúdice, 2002YÚDICE, George (2002). El recurso de la cultura: usos de la cultura en la era global. Barcelona: Gedisa., p. 13-15; Rivera Garza, 2013RIVERA GARZA, Cristina (2013). Los muertos indóciles: necroescrituras y desapropiación. México: Tusquets., p. 43-44).

Terron (2021a)TERRON, Joca Reiners (2021a). Joca Reiners Terron (A Morte e o Meteoro) – Entrevista. Seleção Literária. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QCMrhRebeI0. Acesso em: 14 out. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=QCMrhReb...
entende que seria difícil realizar mudanças no processo de degradação planetária por meio da escrita, no entanto ele propõe uma ação em menor escala. Desiludido com os rumos do país, e apesar de sua visão pessimista, o escritor acredita que podemos promover mudanças em pequenos níveis. Por meio da ação individual voltada para a mudança, seu conceito de política aponta para uma organização sociopolítica diferente da atual. Essa outra sociedade, no limite de sua projeção, com uma nova língua e um presidente indígena, poderia recomeçar de forma mais harmônica.

O ponto de vista individual de Terron, expresso como um conjunto de alegorias da catástrofe em seu romance, mostra um lado perverso das sociedades atuais e a expectativa de um futuro próximo ainda mais desastroso. Apesar de serem elaborações pessoais, as imagens pessimistas desse mundo que o escritor desenha encontram diálogo no meio literário. A começar pelo reconhecimento por parte da crítica, pela tradução quase imediata e pela publicação em outros países. Além disso, pela perspectiva cruzada com os debates indígenas, principalmente com Ailton Krenak, cuja etnia é mencionada em A morte e o meteoro (Terron, 2019TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia., p. 102). Por meio desse diálogo, o romance adquire um sentido coletivo, ganha reforço institucional, algo que o autor construiu ao longo dos anos, desde sua editora, Ciência do Acidente, e os contatos que adquiriu até o reconhecimento com prêmios e as relações de trabalho que estabeleceu como editor em grandes empresas literárias.

Em um primeiro momento, a discussão das lideranças indígenas sobre a urgência de repensar o extrativismo e incluir a pluralidade dos povos originários nos planos de governo estava mais circunscrita a fóruns e congressos políticos. Com a publicação dos argumentos dos líderes indígenas pela Companhia das Letras, uma editora de grande circulação, oferece-se essa questão para a reflexão dos leitores. Com os livros de Kopenawa e Krenak disponíveis na última década, o público tem acesso à leitura sobre as questões iminentes debatidas pelas comunidades indígenas.

Com A morte e o meteoro, Terron (2019)TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro. São Paulo: Todavia. inclui-se no diálogo com essa rede discursiva. Ele apropria-se dos temas, elabora-os como ficção literária, na qual as consequências do passado ainda estão presentes e projetam um futuro catastrófico, e oferece-os a um público interessado em ler romances. As múltiplas projeções de seu livro, tanto políticas quanto temporais, que remontam ao século XVI e se estendem até a destruição do planeta, ganham significado como consciência de que a ocupação humana da Terra tem resultados desastrosos que continuarão a piorar.

Ao participar do debate político, Terron conquista um espaço entre os leitores como um sujeito preocupado com as situações sociais e ambientais e, assim, promove seu trabalho para um público interessado em ficção e política. O escritor insere-se em uma rede discursiva de seu tempo, responde a problemas abordados em diálogos sociais anteriores e oferece sua perspectiva pessoal a seus interlocutores (Bajtín, 1999BAJTÍN, Mijaíl (1999). Estética de la creación verbal. México, España: Siglo XXI., p. 265-268). Esse público, ao qual as declarações são dirigidas, é formado pela mesma comunidade de significado de que o autor participa (Volóshinov, 2009VOLÓSHINOV, Valentín Nikoláievch (2009). Interacción discursiva. In: VOLÓSHINOV, Valentín Nikoláievch. El marxismo y la filosofía del lenguaje. Buenos Aires: Godot Argentina., p. 136-138). Por fim, o público de Terron precisa tomar uma posição, manter a sequência do diálogo político e refletir sobre sua projeção catastrófica do futuro.

  • Este ensaio é parte da pesquisa de doutorado intitulada Mientras se acaba mundo, Diálogos políticos en la literatura brasileña del siglo XXI, projeto realizado com o apoio econômico do Consejo Nacional de Humanidades, Ciencia y Tecnología (CONAHCYT - México).

Referências

  • ARTAXO, Paulo (2014). Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno. Revista USP, São Paulo, n. 103, p. 13-24. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i103p13-24
    » https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i103p13-24
  • AUGÉ, Marc (2000). Los no lugares, espacios del anonimato: Una antropología de la sobremodernidad. Barcelona: Gedisa.
  • AUSTIN, John L. (1962). How to do things with words Oxford: Clarendon Press.
  • BAJTÍN, Mijaíl (1989). Teoría y estética de la novela. Madri: Altea, Taurus, Alfaguara.
  • BAJTÍN, Mijaíl (1999). Estética de la creación verbal México, España: Siglo XXI.
  • BARRETO FILHO, Enyo Trindade (2020). Bolsonaro, meio ambiente, povos e terras indígenas e de comunidades tradicionais: uma visada a partir da Amazônia. Cadernos de Campo, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 1-9. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v29i2pe178663%20
    » https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v29i2pe178663%20
  • BOURDIEU, Pierre (1992). Las reglas del arte: génesis y estructura del campo literario. Barcelona: Anagrama.
  • BOURDIEU, Pierre (2007). El sentido práctico Buenos Aires: Siglo XXI.
  • CHAKRABARTY, Dipesh (2009). The climate of History: four theses. Critical Inquiry, v. 35, n. 2. https://doi.org/10.1086/596640
    » https://doi.org/10.1086/596640
  • CHAKRABARTY, Dipesh (2018). Anthropocene time. History and Theory, v. 57, n. 1, p. 5-32. https://doi.org/10.1111/hith.12044
    » https://doi.org/10.1111/hith.12044
  • DALCASTAGNÈ, Regina (2012). Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Vinhedo: Horizonte; Rio de Janeiro: Editora da UERJ. E-book
  • DALCASTAGNÈ, Regina (2021). O prego e o rinoceronte: resistências na literatura brasileira. Porto Alegre: Zouk.
  • G1 RR (2023). Quase 100 crianças morreram na Terra Indígena Yanomami em 2022, diz Ministério dos Povos Indígenas. G1 Disponível em: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2023/01/21/mais-de-500-criancas-morrem-na-ti-yanomami-e-lula-deve-decretar-estado-de-calamidade-publica.ghtml Acesso em: 21 ago. 2023.
    » https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2023/01/21/mais-de-500-criancas-morrem-na-ti-yanomami-e-lula-deve-decretar-estado-de-calamidade-publica.ghtml
  • GARCÍA CANCLINI, Néstor (1990). Culturas híbridas: estrategias para entrar y salir de la modernidad. México: Grijalbo.
  • GUMBRECHT, Hans Ulrich (2015). Nosso amplo presente: o tempo e a cultura contemporânea. São Paulo: Editora Unesp.
  • KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce (2015). A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras.
  • KOSELLECK, Reinhart (2001). Los estratos del tiempo: estudios sobre la historia. Barcelona, Buenos Aires, México: Paidós.
  • KRENAK, Ailton (2019). Ideias para adiar o fim do mundo São Paulo: Companhia das Letras.
  • KRENAK, Ailton (2021). Entre livros: conversa entre Denilson Baniwa, Ailton Krenak e mediação de Pollyana Quintella. Pivô Arte e Pesquisa Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fIxK77RTHXE Acesso em: 12 mar. 2022.
    » https://www.youtube.com/watch?v=fIxK77RTHXE
  • LYOTARD, Jean François (1979). The postmodern condition: a of report knowledge. Manchester: Manchester University Press.
  • MACIEL, Nahima (2017). Livro de Joca Reiners reflete desencanto de autor com a contemporaneidade. Correio Brasiliense Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2017/04/30/interna_diversao_arte,592143/livro-de-joca-reiners-reflete-desencanto-do-autor-com-a-contemporanei.shtml Acesso em: 5 ago. 2021.
    » https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2017/04/30/interna_diversao_arte,592143/livro-de-joca-reiners-reflete-desencanto-do-autor-com-a-contemporanei.shtml
  • NÚÑEZ LONGHINI, Geni Daniela (2021). Da cor da terra: etnocídio e resistência indígena. Tecnologia & Cultura, ed. esp., p. 65-73.
  • RESENDE, Beatriz (2008). Joca Terron: rompendo o tempo e o espaço. In: RESENDE, Beatriz. Contemporâneos: expressões da literatura brasileira do século XXI. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, Biblioteca Nacional. p. 129-134.
  • RIVERA GARZA, Cristina (2013). Los muertos indóciles: necroescrituras y desapropiación. México: Tusquets.
  • ROSA, Hartmut (2009). Social acceleration: ethical and political consequences of a desynchronized high-speed society. In: ROSA, Hartmut; SCHEUERMAN, Willian E. (org.). High-speed society: social acceleration, power and modernity. Filadélfia: Pennsylvania University Press. p. 77-111.
  • SANCHES, Rozenice Evangelista (2014). Para além do género: espaços e identidades no romance Do fundo poço se vê a lua de Joca Reiners Terron Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) – Universidade do Estado do Mato Grosso, Tangará da Serra.
  • SCHØLLHAMMER, Karl Eric (2009). Ficção brasileira contemporânea Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
  • SIMON, Zoltán Boldizsár (2022). Planetary futures, planetary History. In: SIMON, Zoltán Boldizsár; DIELE, Lars (org.). Historical understanding: past, present, and future. Londres: Bloomsbury Academic.
  • SZERSZYNSKI, Bronislaw (2017). The Anthropocene monument: on relating geological and human time. European Journal of Social Theory, v. 20, n. 1, p. 111-131. https://doi.org/10.1177/1368431016666087
    » https://doi.org/10.1177/1368431016666087
  • TERRON, Joca Reiners (2010). Do fundo do poço se vê a lua São Paulo: Companhia das Letras.
  • TERRON, Joca Reiners (2019). A morte e o meteoro São Paulo: Todavia.
  • TERRON, Joca Reiners (2020). Entrevista: Joca Reiners Terron. País de ponta-cabeça. Cândido Entrevista concedida a Jonatan Silva. Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/Entrevista-Joca-Reiners-Terron Acesso em: 12 set. 2021.
    » https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/Entrevista-Joca-Reiners-Terron
  • TERRON, Joca Reiners (2021a). Joca Reiners Terron (A Morte e o Meteoro) – Entrevista. Seleção Literária Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QCMrhRebeI0 Acesso em: 14 out. 2021.
    » https://www.youtube.com/watch?v=QCMrhRebeI0
  • TERRON, Joca Reiners (2021b). O riso dos ratos São Paulo: Todavia.
  • TERRON, Joca Reiners (2022). Tempos de distopia: entrevista com o autor Joca Reiners Terron. Entrevista concedida a André Cardoso e Pedro Sasse. Estudos de Literatura UFF Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tehE5QIZifo Acesso em: 28 fev. 2022.
    » https://www.youtube.com/watch?v=tehE5QIZifo
  • TERRON, Joca Reiners (2023). Onde pastam os minotauros São Paulo: Todavia.
  • TURIN, Rodrigo (2019). Tempos precários: aceleração, historicidade e semântica neoliberal. Dansk: Zazie.
  • VOLÓSHINOV, Valentín Nikoláievch (2009). Interacción discursiva. In: VOLÓSHINOV, Valentín Nikoláievch. El marxismo y la filosofía del lenguaje Buenos Aires: Godot Argentina.
  • VON HOLDEFER, Camila (2019). Em "A morte e o meteoro" Amazônia é destruída e homem branco é "grande mal". Folha de S. Paulo Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/11/em-a-morte-e-o-meteoro-amazonia-e-destruida-e-homem-branco-e-grande-mal.shtml Acesso em: 17 jul. 2023.
    » https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/11/em-a-morte-e-o-meteoro-amazonia-e-destruida-e-homem-branco-e-grande-mal.shtml
  • YÚDICE, George (2002). El recurso de la cultura: usos de la cultura en la era global. Barcelona: Gedisa.
Editor: Paulo César Thomaz
Editora de seção: Leila Lehnen

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    29 Fev 2024
  • Aceito
    02 Jul 2024
Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade de Brasília (UnB) Programa de Pós-Graduação em Literatura, Departamento de Teoria Literária e Literaturas, Universidade de Brasília , ICC Sul, Ala B, Sobreloja, sala B1-8, Campus Universitário Darcy Ribeiro , CEP 70910-900 – Brasília/DF – Brasil, Tel.: 55 61 3107-7213 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: revistaestudos@gmail.com