Resumo
Com base em Veena Das (2020)DAS, Veena (2020). Vida e palavras: a violência e sua descida ao ordinário. São Paulo: Editora Unifesp. e sua leitura antropológica do elo entre vida e palavras no registro da violência na vida ordinária, o trabalho propõe uma leitura comparada de dois livros de escritoras brasileiras: Tudo é rio (Madeira, 2021MADEIRA, Carla (2021). Tudo é rio. Rio de Janeiro: Record.) e O peso do pássaro morto (Bei, 2017BEI, Aline (2017). O peso do pássaro morto. São Paulo: Nós.). Em ambos, o ato violento praticado contra a mulher estrutura a ordem narrativa, que entrelaça desejo de posse pelo corpo feminino à ocorrência de um trauma que se manifesta no corpo da escrita. Interessa apontar modos como a ficção das autoras brasileiras contemporâneas parece emergir das cenas cotidianas de violência contra a mulher e alcançar um espaço de rearranjo do sensível (Rancière, 2009RANCIÈRE, Jacques (2009). A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: 34.) fazendo da literatura campo de afetação de pessoas já habituadas ao testemunho da violência cotidiana. As autoras parecem operar um deslocamento do ato violento por meio do posicionamento ético-político da escrita literária, com base na violência encenada na literatura (Walty e Moreira, 2020WALTY, Ivete Lara Camargos; MOREIRA, Terezinha Taborda (org.) (2020). Violência e escrita literária. Belo Horizonte: Editora PUC Minas.), a novas possibilidades de mobilização do leitor.
Palavras-chave:
escritas da violência; violência de gênero na literatura; escritas de autoria feminina; literatura brasileira contemporânea