Resumo
Concomitantemente ao recrudescimento do autoritarismo na política e à emergência de um período de desesperança marcado pelas consequências da pandemia da COVID-19, há um sintoma que pode ser detectado em vários romances da literatura brasileira contemporânea, a elaboração nos tecidos ficcionais de figurações de utopias de comunidade. No caso do corpus foco deste artigo — Carta à rainha louca, de Maria Valéria Rezende (2019), Torto arado, de Itamar Vieira Junior (2019), e O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk (2021) —, essa utopia projeta um futuro com direitos humanos preservados ao reconstruir o passado com base em outras perspectivas, sublinhando a denúncia da violência sistêmica contra marginalizados e da revolta latente, que demandam a reparação contra as violências sistêmicas da sociedade brasileira. Pela análise de aspectos textuais e extratextuais, sabendo que o limite entre esses domínios é poroso, o artigo perscruta dois desdobramentos desses aspectos: a constituição temática no enredo de eventos que figuram utopias de comunidade; e a elaboração das vozes de narradores que demarcam tensões entre representação e alteridade.
Palavras-chave: literatura e sociedade; utopias de comunidade; narrador; história a contrapelo e ficção