resumo
O objetivo deste artigo é realizar uma reflexão crítica sobre a produção literária infantil indígena. Para isso, recorre-se à problematização teórica centrada no conceito de transculturação, conforme Canclini (2007)CANCLINI, Néstor García (2007). Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. Tradução de Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ., articulado aos estudos sobre literatura infantil e juvenil brasileira, segundo estudos de Mortatti (2001)MORTATTI, Maria do Rosário Longo (2001). Leitura crítica da literatura infantil. Itinerários, Araraquara, n. 17, p. 179-187., Ceccantini (2010)CECCANTINI, José Luís (2010). Vigor e diversidade: a literatura infantil e juvenil no Brasil em 2008. Notícias - FNLIJ, Rio de Janeiro, v. 1, n. 9, p. 1-15, set. e Martha (2016)MARTHA, Alice Áurea Penteado (2016). Olívio Jekupé: identidade indígena na produção contemporânea de literatura infantojuvenil paranaense. In: MARTHA, Alice Áurea Penteado; VALENTE, Thiago Alves (Org.). Produção cultural paranaense para crianças. Assis: Cultura Acadêmica.. Como objeto de análise, são abordadas as obras Paiquerê: o paraíso dos Kaingangs, de Cléo Busatto, e Karú Tarú: o pequeno pajé, de Daniel Munduruku, ambas editadas em 2009. Essa análise permite a proposição da hipótese de que, na literatura indígena mais recente, direcionada ao público infantil, encontram-se opções estéticas condicionadas a um intento de divulgação cultural nem sempre afeito à construção de textos literários de qualidade estética relevante. Assim, torna-se necessário refletir, no caso das narrativas, sobre ideias e concepções colocadas a serviço de um engajamento ideológico cujos reflexos, no texto literário, mostram-se contraditórios na relação com o leitor, o qual tende a enxergar na cultura indígena um elemento exótico e estereotipado, o que pouco contribui para uma relação intercultural democrática e humanizadora.
Palavras-chave:
literatura infantil indígena; Cléo Bussato; Daniel Munduruku; engajamento ideológico