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Diante do intolerável: a resistência melancólica de Letrux

In the face of the intolerable: Letrux’s melancholic resistance

Ante lo intolerable: la resistencia melancólica de Letrux

Resumo

Este artigo expõe uma reflexão teórica sobre a fabricação de espaços de reação diante do pensamento autoritário mediados por uma elaboração artística melancólica entre os anos 2018 e 2022 no Brasil. Parte-se do entendimento de que os contornos melancólicos se constituíram, de modo indissociável, como um efeito colateral à estrutura política do país. Ao considerar as relações entre melancolia, literatura e sociedade, propõe-se uma análise estruturada da obra de Letrux (2018LETRUX (2018). Na última instância do horror. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 12 jan. 2024.
www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_med...
; 2020aLETRUX (2020a). Letrux aos prantos. Rio de Janeiro: Independente; Natural Musical. 1 CD.; 2020bLETRUX (2020b). Nascemos chorando. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/B9_86g_lIUY/?utm_source=ig_embed&ig_rid=491d2df7-6940-40f2-a740-b9b164f3713a. Acesso em: 20 jan. 2024.
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; 2021aLETRUX (2021a). Sábado é sempre um pouco pior. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/sabado-e-sempre-um-pouco-pior/. Acesso em: 10 jan. 2024.
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; 2021bLETRUX (2021b). Tudo que já nadei: Ressaca: quebra-mar e marolinhas. 3. ed. São Paulo: Planeta.; 2022LETRUX (2022). A panela de pressão explodiu. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/a-panela-de-pressao-explodiu/. Acesso em: 12 jan. 2024.
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), que, ao construir objetos artísticos sob o escopo melancólico, rejeitou o assombro de um governo de extrema-direita e fomentou proposições de resistência em um tempo que se apresentava intolerável.

Palavras-chave:
Letrux; resistência; melancolia

Abstract

This article exposes a theoretical reflection about the construction of spaces for reaction against the authoritarian thought, mediated by a melancholic artistic elaboration between the years 2018-2022 in Brazil. It is based on the understanding that melancholic contours were constituted indissociably as a side effect of the country’s political structure. Considering the relations between melancholy, literature, and society, it proposes an analysis structured around Letrux’s work (2018LETRUX (2018). Na última instância do horror. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 12 jan. 2024.
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; 2020aLETRUX (2020a). Letrux aos prantos. Rio de Janeiro: Independente; Natural Musical. 1 CD.; 2020bLETRUX (2020b). Nascemos chorando. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/B9_86g_lIUY/?utm_source=ig_embed&ig_rid=491d2df7-6940-40f2-a740-b9b164f3713a. Acesso em: 20 jan. 2024.
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; 2021aLETRUX (2021a). Sábado é sempre um pouco pior. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/sabado-e-sempre-um-pouco-pior/. Acesso em: 10 jan. 2024.
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; 2021bLETRUX (2021b). Tudo que já nadei: Ressaca: quebra-mar e marolinhas. 3. ed. São Paulo: Planeta.; 2022LETRUX (2022). A panela de pressão explodiu. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/a-panela-de-pressao-explodiu/. Acesso em: 12 jan. 2024.
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), who rejected the haunting of a far-right government by creating artistic objects under the melancholic scope, fostering propositions of resistance in a time that appeared intolerable.

Keywords:
Letrux; resistance; melancholy

Resumen

Este artículo presenta una reflexión teórica sobre la producción de espacios de reacción frente el pensamiento autoritario, mediada por una elaboración artística melancólica entre los años 2018-2022 en Brasil. Se parte de la comprensión de que los contornos melancólicos se constituyeron, de manera inseparable, como un efecto colateral a la estructura política del país. Al considerar las relaciones entre melancolía, literatura y sociedad, se propone un análisis estructurado de la obra de Letrux (2018LETRUX (2018). Na última instância do horror. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 12 jan. 2024.
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; 2020aLETRUX (2020a). Letrux aos prantos. Rio de Janeiro: Independente; Natural Musical. 1 CD.; 2020bLETRUX (2020b). Nascemos chorando. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/B9_86g_lIUY/?utm_source=ig_embed&ig_rid=491d2df7-6940-40f2-a740-b9b164f3713a. Acesso em: 20 jan. 2024.
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; 2021aLETRUX (2021a). Sábado é sempre um pouco pior. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/sabado-e-sempre-um-pouco-pior/. Acesso em: 10 jan. 2024.
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; 2021bLETRUX (2021b). Tudo que já nadei: Ressaca: quebra-mar e marolinhas. 3. ed. São Paulo: Planeta.; 2022LETRUX (2022). A panela de pressão explodiu. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/a-panela-de-pressao-explodiu/. Acesso em: 12 jan. 2024.
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), quien, al construir objetos artísticos bajo el ámbito melancólico, rechazó el asombro de un gobierno de extrema derecha y fomentó, finalmente, propuestas de resistencia en un tiempo que se presentaba como intolerable.

Palabras-clave:
Letrux; resistencia; melancolía

A cada milágrimas sai um milagre
(Assumpção, 1993ASSUMPÇÃO, Itamar (1993). Milágrimas. In: ASSUMPÇÃO, Itamar. Bicho de Sete Cabeças Vol II. São Paulo: Baratos Afins. 1 CD. Faixa 2.).

Em maio de 2021, ao ser questionado se haveria um lado positivo em relação à CPI da Pandemia e ao caos político-sanitário em que o Brasil se encontrava, o escritor Zuenir Ventura, que comemorava à época 90 anos de idade, foi taxativo acerca da atmosfera melancólica que pairava sobre o país:

É uma época muito difícil. Estamos vivendo um acúmulo de crises — ética, econômica, na saúde. [...] Pessoalmente, não posso reclamar da vida. Vou fazer 90 anos feliz, sem doença, cercado de amigos, de netos, de uma família maravilhosa. Mas não se pode ser totalmente feliz num país que é hoje um cemitério. Você abre o jornal e só tem acréscimo de morte. [....] Não se pode dizer “ótimo, maravilha, estou salvo”. Estou perdendo amigos, pessoas conhecidas. É um momento distópico, para falar o mínimo
(Ventura, 2021 apud Passos, 2021PASSOS, Ursula (2021). CPI da Covid é retrato do deboche do Brasil de hoje, diz Zuenir Ventura, aos 90 anos. Folha de S.Paulo, São Paulo. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/05/faco-90-feliz-mas-nao-posso-ser-feliz-num-pais-que-e-um-cemiterio-diz-zuenir-ventura.shtml. Acesso em: 27 jan. 2024.
www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/05/...
, grifos meus).

A melancolia concernente à crise política (desmembrada nas crises ética, econômica e de saúde) se intensificou, como apontado pelo escritor mineiro, com a experiência do luto coletivo, provocada, entre outras causas, pela indiferença governamental no tocante ao esfacelamento da vida da população brasileira.

Diante do contexto em que a melancolia se transformou no pão de cada dia do brasileiro, este artigo consiste em uma proposição estruturada na produção artística de Letrux, entre os anos de 2018 e 2021, compreendendo recortes do álbum Letrux aos prantos, do livro Tudo que já nadei, da assinatura de colunas mensais publicadas na revista Gama e das publicações na sua página do Instagram.

Com base no entendimento de que a literatura absorve a sociedade e, ao mesmo tempo, a ela reage, objetiva-se identificar como a produção da artista carioca utilizou a melancolia, culturalmente demarcada, sob a égide da resistência, diante da referida crise política do Brasil. Nesse sentido, conceitua-se a melancolia como uma chave interpretativa1 1 Importa relembrar as palavras de Susan Sontag (1986), que, por meio da leitura de Walter Benjamin, pontua a imprescindibilidade de vincular a melancolia ao conhecimento da história: “Benjamin sugere que a melancolia é a origem do verdadeiro conhecimento da história — ou seja, do conhecimento justo. O verdadeiro conhecimento da história, disse no último texto que escreveu, é um processo de empatia cuja origem é a indolência do coração” (Sontag, 1986, p. 124). , capaz de promover maior compreensão da experiência do tempo por meio de seus rastros literários.

Ao considerar a melancolia enquanto chave interpretativa, faz-se necessário pontuar que, no percurso do tempo, o seu caráter constituiu-se de forma muito ambivalente, ora assumindo características negativas, relacionadas, por exemplo, à preguiça2 2 “Como a melancolia, também Saturno, esse demônio das antíteses, investe a alma, por um lado, com preguiça e apatia, por outro com a força da inteligência e da contemplação” (Benjamin, 1984, p. 172). , ora assumindo características positivas, como na referência à genialidade3 3 No “Problema XXX”, Aristóteles (1998) destaca a relação entre a melancolia e a genialidade: “Por que razão todos os homens que foram excepcionais (perittoi) no que concerne à filosofia, à política, à poesia ou às artes aparecem como sendo melancólicos?” (Aristóteles, 1998). No prólogo de El hombre de genio y la melancolía, Jackie Pigeaud (2007) evidencia que, ao relacionar a arte, a poesia e a melancolia, o “Problema XXX” substitui a ideia de inspiração divina por inspiração melancólica, posicionando, desse modo, a melancolia como um elemento, por excelência, de criação: “[O Problema XXX] substitui a gratuidade da eleição divina pelo acaso da mistura que nos constitui. Não é mais uma questão de escolha divina, mas uma questão de fisiologia. [...] A genialidade da reflexão aristotélica reside no fato de ter sido capaz de apontar a ligação entre um humor particular e um tropo específico, a metáfora. [...] Oferece-se a possibilidade, no corpus aristotélico, de ligar uma ideia precisa de poesia a uma concepção precisa de fisiologia” (Pigeaud, 2007, p. 52-55, tradução minha, grifo meu) — “Reemplaza la gratuidad de la elección divina por el azar de la mezcla que nos constituye. Ya no se trata de un problema de elección divina, sino de un asunto de fisiología. [...] La genialidad de la reflexión aristotélica estriba en que ha sabido señalar el vínculo existente entre un humor particular y un tropo específico, la metáfora. [...] Se nos ofrece la posibilidad, dentro del Corpus aristotélico, de enlazar una idea precisa de la poesía con una concepción precisa de la fisiologia” (Pigeaud, 2007, p. 52-55). .

Diante das variadas possibilidades da envergadura melancólica, importa neste artigo a proposição de Didi-Huberman (2019)DIDI-HUBERMAN, Georges (2019). Désirer désobéir: Ce qui nous soulève, 1. Paris: Les Editions de Minuit., presente no livro Désirer désobéir: Ce qui nous soulève, 1. O filósofo francês aponta que os movimentos emancipatórios, direcionados à sobrevivência em situações opressivas, perpassam inevitavelmente pela melancólica sensação de perda, de queda, que se apresenta, nesse caso, como o primeiro propulsor político de indignação de um povo.

Não é verdade que perder nos levanta depois que a perda nos derrubou? Deve-se mesmo dizer que a perda, que primeiramente nos oprime, pode também — pela via de um jogo, de um gesto, de um pensamento, de um desejo — erguer o mundo inteiro. E essa seria a primeira força das revoltas. [...] A evidência das revoltas não seria, em primeiro lugar, o do gesto pelo qual recusamos certo estado — injusto, intolerável — das coisas que nos rodeiam, que nos oprimem? [...] É, provavelmente, o que Walter Benjamin quis designar pela expressão: “organizar o nosso pessimismo”. Frequentemente, começa com os braços levantados: desespero, indignação, seguidos da cólera, e então um chamado para “fazer alguma coisa” finalmente. Começa por um clamor, por um grito4 4 “N’est-il pas vrai que perdre nous soulève après que la perte nous a terrassés? [...] Ondevrait même dire que la perte, qui nous accable d’abord, peut aussi - par la grâce d’un jeu, d’un geste, d’une pensée, d’un désir - soulever le monde tout entier. Et telle serait la première force des soulèvements [...] L’évidence des soulèvements ne serait-elle pas, d’abord, celle du geste par lequel nous refusons un certain état - injuste, intolérable - des choses qui nous entourent, qui nous oppressent ? [...] C’est probablement ce que Walter Benjamin voulut désigner à travers d’expression : « organiser notre pessimisme ». Cela commence souvent par des bras qui se lèvent: désespoir, indignation puis colère, puis appel à « faire quelque chose », enfin. Cela commence tout aussi bien par une clameur, par un cri” (Didi-Huberman, 2019, p. 9-15).
(Didi-Huberman, 2019DIDI-HUBERMAN, Georges (2019). Désirer désobéir: Ce qui nous soulève, 1. Paris: Les Editions de Minuit., p. 9-15, tradução minha, grifos meus).

Na concepção de Didi-Huberman (2019)DIDI-HUBERMAN, Georges (2019). Désirer désobéir: Ce qui nous soulève, 1. Paris: Les Editions de Minuit., o clamor melancólico constitui-se não sob o escopo de uma forma passiva, mas como a rejeição aos valores opressivos, como uma força mediada pelo desespero, que pode promover a mobilização de um povo em direção à insurgência. A melancolia configura-se, nesse sentido, como um verdadeiro ato de resistência5 5 Em Povos em lágrimas, povos em armas, Didi-Huberman (2021, p. 69) afirma: “Zombamos de quem chora e os desprezamos. Será porque a emoção mostra a todos o rosto do impoder e oferece à comunidade apenas sua própria fragilidade, seu desterro, sua condição infantil, sua pobreza? [...] Existe em todo ‘poder de ser afetado’ a possibilidade de uma reviravolta emancipadora”. .

O ato de resistência, persistente nas elaborações melancólicas de um povo, pode também ser evidenciado pela produção artística. Em O ato de criação, Deleuze (1999)DELEUZE, Gilles (1999). O ato de criação. Palestra proferida em Paris em 1987. Folha de S.Paulo. Disponível em: https://lapea.furg.br/images/stories/Oficina_de_video/o%20ato%20de%20criao%20-%20gilles%20deleuze.pdf. Acesso em: 15 jan. 2024.
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aponta duas formas de produzir uma reação contra-hegemônica. Duas formas tão viscerais que resistiriam até a morte: a luta dos povos e a obra de arte.

O que resiste à morte? Basta contemplar uma estatueta de 3.000 anos antes de Cristo [...]. Poderíamos dizer então, de forma mais tosca, do ponto de vista que nos interessa, que a arte é aquilo que resiste, mesmo que não seja a única coisa que resiste. [...] Somente o ato de resistência resiste à morte, seja sob a forma de uma obra de arte, seja sob a forma de uma luta entre os homens
(Deleuze, 1999DELEUZE, Gilles (1999). O ato de criação. Palestra proferida em Paris em 1987. Folha de S.Paulo. Disponível em: https://lapea.furg.br/images/stories/Oficina_de_video/o%20ato%20de%20criao%20-%20gilles%20deleuze.pdf. Acesso em: 15 jan. 2024.
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, p. 13-14).

Assim, ao considerar o ato literário como uma estrutura que está impreterivelmente vinculada às questões políticas e, por consequência, de resistência e por vislumbrar que a melancolia concernente à referida crise brasileira, que oprime a população, pode constituir também uma proposição de reação, faz-se necessário proceder à compreensão das possibilidades de estruturação das forças reativas.

Em Nietzsche e a filosofia, Gilles Deleuze (1976)DELEUZE, Gilles (1976). Nietzsche e a filosofia. Tradução de Edmundo Fernandes Dias e Ruth Joffyli Dias. Rio de Janeiro: Rio. destaca a existência de forças dominantes e dominadas. Estas últimas concebem-se como reativas, e sua existência explica-se de modo a negar as forças ativas, funcionando como uma espécie de resposta ao poder estabelecido:

A reação designa um tipo de forças tanto quanto a ação, com a ressalva de que as reações não podem ser captadas nem compreendidas cientificamente como forças se não as relacionarmos com as forças superiores que são precisamente de um outro tipo. Reativo é uma qualidade original da força mas que só pode ser interpretada como tal em relação com o ativo, a partir do ativo
(Deleuze, 1976DELEUZE, Gilles (1976). Nietzsche e a filosofia. Tradução de Edmundo Fernandes Dias e Ruth Joffyli Dias. Rio de Janeiro: Rio., p. 35).

Considera-se neste artigo que a força ativa concerne ao governo brasileiro erigido sob o viés do pensamento autoritário no período de 2019–2022. Paralelamente, vislumbra-se o que o antagoniza: a germinação da melancolia política e a sua respectiva elaboração reativa persistente no seio da obra de Letrux.

Letícia Novaes, cujo nome artístico é Letrux, é uma atriz, cantora, compositora e escritora carioca. Por nove anos e até meados de 2016, esteve vinculada, com Lucas Vasconcellos, ao Letuce, um duo de MPB. Em 2017, com o lançamento de Letrux em noite de climão, deu início ao seu novo projeto: Letrux.

Letrux é uma artista que habita o universo alternativo, entretanto suas obras têm sido evidenciadas em algumas esferas de legitimação, como, por exemplo, a conquista do prêmio de melhor disco na categoria Superjúri do Prêmio Multishow de 2017MULTISHOW (2017). Prêmio Multishow. Multishow. Disponível em: https://multishow.globo.com/especiais/premio-multishow-2017/noticia/superjuri-premiomultishow-2017-conheca-os-vencedores-e-os-jurados.ghtml. Acesso em: 10 jan. 2024.
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, referente ao álbum Letrux em noite de climão.

Nessa esteira, em 2020, o álbum Letrux aos prantos, um dos objetos deste artigo, recebeu uma indicação ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa. Composto de 13 faixas, Letrux aos prantos foi lançado no dia 13 de março de 2020, pouco mais de um ano após o governo de extrema-direita chegar ao poder e poucos dias antes de a maioria das capitais brasileiras decretar quarentena por causa da pandemia do coronavírus. O álbum tenta confeccionar as perspectivas de uma vida regulada pela decadência política associada às questões da individualidade que provocam sentimentos como a angústia, o amor, o medo e a esperança. Todas as emoções parecem ser catalisadas por um único reflexo corporal: o pranto, como indica o samba que, inesperadamente, finaliza a música “Cuidado, Paixão”: “Não dei conta, vou chorar/Sempre-nunca é melhor nadar” (Letrux, 2020aLETRUX (2020a). Letrux aos prantos. Rio de Janeiro: Independente; Natural Musical. 1 CD.).

A publicação de seu segundo livro6 6 A autora tem outro livro, publicado em 2015, intitulado Zaralha: abri minha pasta, assinado com o seu nome próprio, visto que naquele ano o projeto Letrux, que começou em 2017, ainda não existia. , intitulado Tudo que já nadei, ocorreu em fevereiro de 2021. Entre outras questões, evidenciam-se em seus poemas e textos curtos as nuances melancólicas relacionadas às questões políticas, já apontadas em Letrux aos prantos. Associa-se às inconformidades governamentais a temática da pandemia7 7 Em uma entrevista concedida ao Canal Arte1 (2021), Letrux afirma que, no início de 2020, recebeu o convite da editora Planeta para a publicação de um livro. Apesar de ter material suficiente para a referida publicação, optou por esperar e experienciar o coronavírus, com o objetivo de que o seu livro transcorresse também os ecos dessa experiência. . Concebido como um banho-de-mar, Tudo que já nadei é subdividido em três partes, intituladas “Ressaca”, “Quebra-mar” e “Marolinhas”, e parece dar continuidade à fluidez das águas do pranto, reverberadas também nas suas publicações no Instagram e nas colunas da revista Gama8 8 Neste artigo, a análise da obra de Letrux estrutura-se exclusivamente na sua performance escrita. Para acompanhar uma investigação acerca da sonoridade em sua produção, ver Carvalho Nery (2021). .

Ao longo dessas plasticidades artísticas, a melancolia emerge enquanto símbolo cultural, uma das formas de questionar a realidade de sua época, posicionando-se igualmente como uma postura de resistência. A época de que trata este artigo se remete, a princípio, ao ano de 2018, período da eleição presidencial brasileira. A importância da demarcação temporal diz respeito à elaboração da percepção de como a obra de Letrux (2018LETRUX (2018). Na última instância do horror. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 12 jan. 2024.
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; 2020aLETRUX (2020a). Letrux aos prantos. Rio de Janeiro: Independente; Natural Musical. 1 CD.; 2020bLETRUX (2020b). Nascemos chorando. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/B9_86g_lIUY/?utm_source=ig_embed&ig_rid=491d2df7-6940-40f2-a740-b9b164f3713a. Acesso em: 20 jan. 2024.
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; 2021aLETRUX (2021a). Sábado é sempre um pouco pior. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/sabado-e-sempre-um-pouco-pior/. Acesso em: 10 jan. 2024.
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; 2021bLETRUX (2021b). Tudo que já nadei: Ressaca: quebra-mar e marolinhas. 3. ed. São Paulo: Planeta.; 2022LETRUX (2022). A panela de pressão explodiu. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/a-panela-de-pressao-explodiu/. Acesso em: 12 jan. 2024.
https://gamarevista.uol.com.br/colunista...
) absorveu a crise política brasileira.

À época, o escritor Laymert Garcia dos Santos (2018)GARCIA DOS SANTOS, Laymert (2018). Viva a morte! São Paulo: N-1., destacava, ao longo do texto Viva a morte!, que a morte, enquanto projeto fascista, consistia em uma plataforma política do então presidenciável e, desse modo, estaria presente tanto nos seus atos discursivos como nas suas políticas públicas.

Vivemos no Brasil um desses momentos em que a morte está sendo enunciada e justificada em todas essas suas modalidades, um momento em que a morte torna-se o projeto de vida de um candidato à presidência da República e de seus seguidores. Sua pulsão de morte exige que morram os brasileiros pela indiferença, pelo desprezo, pelo ódio, de fome, de frio, mas também pela ação de balas reais na noite das periferias, nas batidas policiais, nas delegacias, na distante Amazônia cobiçada por mineradoras, madeireiros e pelo agronegócio, nas manifestações pacíficas, nas greves...
(Garcia dos Santos, 2018GARCIA DOS SANTOS, Laymert (2018). Viva a morte! São Paulo: N-1.).

Na atmosfera de depreciação da vida que pairava sobre o país, em uma postagem no seu Instagram, às vésperas do segundo turno, que aconteceu no dia 28 de outubro, Letrux (2018)LETRUX (2018). Na última instância do horror. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 12 jan. 2024.
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elaborava, pela perplexidade, a melancólica experiência ante a aproximação de um tempo que se anunciava intolerável, convocando à reflexão acerca da passividade em relação às referidas situações.

[Os candidatos que lideram as pesquisas] na última instância do horror das trevas, retrógrados, sem menor capacidade de universalizar a liberdade, o respeito, a empatia. é insano estar viva, é absurdo. [...] a podridão humana e a ignorância, me dobram os aparelhos digestivos. estou viva. até quando estaremos vivxs? e como será essa vida? livre? ou castradas? poderemos existir da forma que realmente somos? queride diárie, me despeço e rezo às deusas por sonhos marítimos confortantes9 9 O vídeo que compõe a publicação é um trecho do clipe “Amoruim”, música presente no álbum Letrux em noite de climão, que seria lançado em 31 de outubro de 2018. Letrux (2018) encerra a postagem com uma referência ao vídeo e à legenda: “‘amoruim’, o clipe completo estreia dia 31, último dia do mês de outubro, o mês que arrebentou até os nós” (Letrux, 2018, grifo meu).
(Letrux, 2018LETRUX (2018). Na última instância do horror. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 12 jan. 2024.
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).

Após a materialização do horror das trevas como governo do país, iniciado em 201910 10 Em uma publicação na revista Gama, Letrux relembra como foi a volta para casa após o anúncio que conclamava o presidente eleito em 2018: “Voltei pra casa aterrorizada, tudo era estranho, o mesmo caminho de sempre parecia agora um trem fantasma, a cada esquina um susto, um horror. Horror esse que nunca foi embora, o Brasil piorou de forma radical e absoluta, em todas as áreas” (Letrux, 2022). , Letrux aos prantos parece responder ao sonho marítimo confortante, destacado pela artista em 2018. Perante a realidade brasileira que se apresentava inevitável, Letrux (2020a)LETRUX (2020a). Letrux aos prantos. Rio de Janeiro: Independente; Natural Musical. 1 CD. constrói, sob o escopo do pranto, que as articulações melancólicas funcionam como uma espécie de reação ao poder estabelecido.

No trecho da música “Abalos sísmicos”, presente no álbum, percebe-se a insistência da impossibilidade de construir um bem-estar organicamente quando se vive enredada em um país governado pela extrema-direita, fato que também está associado às questões pessoais.

Acordei bem mas o país não colabora
Nem você
Você diz que não sente nada
Mas tá aí toda deslumbrada
Me abalo e me abalo muito
Me abalo e me abalo muito
Não fui acostumada com terremoto,
Eu me abalo e me abalo muito
(Letrux, 2020aLETRUX (2020a). Letrux aos prantos. Rio de Janeiro: Independente; Natural Musical. 1 CD.).

A imagem provocada pelas últimas frases, “Não fui acostumada com terremoto, Eu me abalo e me abalo muito”, trata da instabilidade relativa ao poder instaurado, insuflada sobretudo pela insegurança proporcionada pelo governo brasileiro: “Acordei bem, mas o país não colabora” (Letrux, 2020aLETRUX (2020a). Letrux aos prantos. Rio de Janeiro: Independente; Natural Musical. 1 CD.).

Diante do real, que se apresentava inevitável, a melancolia pode irromper como uma das formas de questionar a realidade. Abalar-se, assim, é um modo de dizer que se está vivo, apontando que o tangível não é processado por meio de uma espécie de letargia. A melancolia de que trata Letrux aos prantos reflete a impossível negociação com valores opressivos que foram exponencialmente agravados no seio da pandemia.

A referida acentuação melancólica diz respeito à relação entre o governo e a naturalização das centenas de milhares de mortes ocasionadas pelo vírus como um fato casual da experiência brasileira11 11 Importa recordar o livro intitulado Arquivo pandemia. Trata-se de uma compilação de textos, considerados por suas organizadoras como testemunhais e ficcionais, que foi distribuída de forma gratuita pela Editora UFMG. Os textos compreendem os meses de março, abril e maio de 2020, período que pode ser considerado como o início da pandemia no Brasil. Com os corações entristecidos pela experiência do luto massivo e coletivo, com a possibilidade da iminência de uma morte súbita e misteriosa, por causa da incompreensão da ação do coronavírus no corpo humano, a população encarava o medo da morte e a incompreensão acerca de um futuro que parecia ter deixado de existir. “E a situação fica mais crítica a cada dia… Já não existem leitos com respiradores… Já não tem lugar para os corpos… covas estão sendo abertas… Covas rasas… É inacreditável ouvir as declarações do presidente da República. Terrível mesmo. Parece um pesadelo. Já era assustador, mas agora nem tenho palavras pra traduzir como anda minha cabeça no meio disso tudo” (Maia, 2020, p. 161-162). .

Em Pandemia e neoliberalismo, Calazans e Matozinho (2021)CALAZANS, Roberto; MATOZINHO, Christiane (2021). Pandemia e neoliberalismo: a melancolia contra o novo normal. Rio de Janeiro: Mórula. consideram que, no Brasil, a população se equilibrava diante de duas mortes: a pandemia e a ameaça política concernente aos discursos e às políticas de morte, constituídas, em primeiro lugar, da abominação às ações que possivelmente evitariam um alto número de mortes, como, por exemplo, o uso de máscaras, o distanciamento e o repúdio ao tratamento precoce, e, em segundo, pela indiferença discursiva, com frequência exposta nos jornais, em relação ao alto número de mortos no país.

Um governo que diz que “morrer é destino” é um governo genocida: recusa ao povo o direito de encontrar, em relação à morte, os ornamentos que um desejo decidido possibilite a uma morte que não seja nem temida, nem súbita, mas o resultado de diversos encontros. A pulsão de morte como pura cultura de morte só não destrói se encontra a pulsão de vida. E a vida só existe se permitir que outro mundo seja sonhado e que o impossível aconteça
(Calazans; Matozinho, 2021CALAZANS, Roberto; MATOZINHO, Christiane (2021). Pandemia e neoliberalismo: a melancolia contra o novo normal. Rio de Janeiro: Mórula.).

Diante dessa situação, o pranto de que trata Letrux aos prantos demonstra a inconformidade em relação ao intolerável. Nessa trilha, em um longo ensaio intitulado A água e os sonhos, Bachelard (2013)BACHELARD, Gaston (2013). A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes. aponta que não se pode escapar da importância das lágrimas na constituição humana: “Pesadas lágrimas trazem ao mundo um sentido humano, uma vida humana, uma matéria humana” (Bachelard, 2013BACHELARD, Gaston (2013). A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes., p. 67). A melancolia, revestida nas lágrimas, caracterizaria, então, de modo primordial, a nossa humanidade.

A esse respeito, poucos dias após as cidades brasileiras decretarem o fechamento das fronteiras, momento em que a pandemia começou a se materializar de modo contundente no país, a artista incorporou a ambivalência persistente no pranto sob o viés da raiva, da inconformidade e, acima de tudo, da força:

Nascemos chorando, não é curioso isso ser nosso primeiro ato/gesto fora da barriga? Chorei vendo Jornal Nacional, chorei com números alarmantes, seja das mortes ou dos desempregos. Lágrimas caíram pensando que minhas plantas vão morrer (não estou em casa). [...] Me debulhei pensando que o governador do Rio [de Janeiro] prevê caos para daqui a 15 dias. Chorei de raiva pensando nos bilionários do mundo. Chorei com ódio lembrando dos donos dos bancos. [...] Sempre incorporei a revolta no corpo. [...] O que o corpo não aguenta e libera é muito forte. Lágrima, suor e gozo. Que força. Esse momento é de extrema importância para a humanidade mas ainda estou assombrada, quem não está?12 12 Nesse trecho há uma referência à música “Déjà-Vu Frenesi”, presente no álbum Letrux aos prantos: “Todo corpo tem água/Lágrima, suor e gozo/[...] Ou a gente chora, ou a gente sua/Ou a gente goza/[...] Se organizar direito todo mundo chora” (Letrux, 2020a).
(Letrux, 2020bLETRUX (2020b). Nascemos chorando. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/B9_86g_lIUY/?utm_source=ig_embed&ig_rid=491d2df7-6940-40f2-a740-b9b164f3713a. Acesso em: 20 jan. 2024.
www.instagram.com/p/B9_86g_lIUY/?utm_sou...
).

Letrux (2020b)LETRUX (2020b). Nascemos chorando. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/B9_86g_lIUY/?utm_source=ig_embed&ig_rid=491d2df7-6940-40f2-a740-b9b164f3713a. Acesso em: 20 jan. 2024.
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destaca a força presente nas emoções humanas, a recorrência do pranto na sua própria existência e o seu corpo enquanto matéria indissociavelmente vinculada às emoções, constituindo, portanto, um meio de transcorrer sentimentos revoltosos. Em Povos em lágrimas, povos em armas, Didi-Huberman (2021DIDI-HUBERMAN, Georges (2021). Povos em lágrimas, povos em armas. Tradução de Hortencia Lencastre. São Paulo: N-1., p. 45) aborda a capacidade mobilizadora das emoções nos corpos: “É como se a emoção fosse uma epidemia, passando da transformação do corpo diante das coisas à transformação das coisas através do corpo”.

Percebe-se então que a obra de Letrux (2018LETRUX (2018). Na última instância do horror. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 12 jan. 2024.
www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_med...
; 2020aLETRUX (2020a). Letrux aos prantos. Rio de Janeiro: Independente; Natural Musical. 1 CD.; 2020bLETRUX (2020b). Nascemos chorando. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/B9_86g_lIUY/?utm_source=ig_embed&ig_rid=491d2df7-6940-40f2-a740-b9b164f3713a. Acesso em: 20 jan. 2024.
www.instagram.com/p/B9_86g_lIUY/?utm_sou...
; 2021aLETRUX (2021a). Sábado é sempre um pouco pior. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/sabado-e-sempre-um-pouco-pior/. Acesso em: 10 jan. 2024.
https://gamarevista.uol.com.br/colunista...
; 2021bLETRUX (2021b). Tudo que já nadei: Ressaca: quebra-mar e marolinhas. 3. ed. São Paulo: Planeta.; 2022LETRUX (2022). A panela de pressão explodiu. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/a-panela-de-pressao-explodiu/. Acesso em: 12 jan. 2024.
https://gamarevista.uol.com.br/colunista...
) evoca a força mobilizadora presente nos corpos que se emocionam e promove o delineamento do sentido humano de que fala Bachelard (2013)BACHELARD, Gaston (2013). A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes.. Ao escancarar a inevitabilidade da melancolia diante de tempos intoleráveis, a sua elaboração propõe uma rejeição à passividade, por demonstrar a força reativa concernente à melancolia: “O que o corpo não aguenta e libera é muito forte” (Letrux, 2020bLETRUX (2020b). Nascemos chorando. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/B9_86g_lIUY/?utm_source=ig_embed&ig_rid=491d2df7-6940-40f2-a740-b9b164f3713a. Acesso em: 20 jan. 2024.
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).

Nesse sentido, em Tudo que já nadei, a artista compõe, com perplexidade melancólica, a percepção poética de que a existência estava permeada de situações abomináveis, afastando a naturalização de tais circunstâncias. A insatisfação com a política brasileira, já aparente em Letrux aos prantos, soma-se, assim como as postagens do Instagram, ao caos provocado pela pandemia.

Toda hora, um susto interno. [...] Não chega a ser medo da morte, é medo do horror. Quando foi que mil e quinhentas pessoas morrerem por dia no país se tornou de boa? Falho em compreender. Estou horrorizada com o horror. E, estando mais dentro do que nunca, fico tendo esses sustos. Quando a gente pode sair, o mundo abobalha tanto que anestesia. Não podendo sair, estou desconfiada como presa tola e magrela. Fico tendo esses sustos. Um soluço à décima potência, sabe assim?
(Letrux, 2021bLETRUX (2021b). Tudo que já nadei: Ressaca: quebra-mar e marolinhas. 3. ed. São Paulo: Planeta., p. 32-33, grifos meus).

A melancolia constituída dos constantes sustos internos demonstra a impossível conciliação com os tempos intoleráveis. O horror provocado pela banalização das mortes tem origem no medo de sua própria normalização, concebida embrionariamente na corrida presidencial, como apontado por Garcia dos Santos (2018)GARCIA DOS SANTOS, Laymert (2018). Viva a morte! São Paulo: N-1., e encontrando solo fértil para a sua proliferação com a chegada do coronavírus ao país. Para Letrux (2022)LETRUX (2022). A panela de pressão explodiu. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/a-panela-de-pressao-explodiu/. Acesso em: 12 jan. 2024.
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era inconcebível vislumbrar alguma normalidade naquele contexto: “Que vida fácil (e esquisita) deve ser essa onde se vive em pleno Brasil e acredita-se que tudo está indo bem. Que essa máquina invisível que nos opera, de alguma forma, está funcionando” (Letrux, 2022LETRUX (2022). A panela de pressão explodiu. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/a-panela-de-pressao-explodiu/. Acesso em: 12 jan. 2024.
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).

Ademais, o conglomerado de crises concernia também a um agouro infeliz que havia muito tempo não visitava o país com tanta frequência: a fome. Letrux (2021b)LETRUX (2021b). Tudo que já nadei: Ressaca: quebra-mar e marolinhas. 3. ed. São Paulo: Planeta. constrói, em Tudo que já nadei, a sensação de que casa e comida perpassam por poucos brasileiros: “Gosto quando falta pouco pra chegar em casa. E os últimos grãos de areia úmidos me enchem de esperança, de quem tem ovo e pão em casa” (Letrux, 2021bLETRUX (2021b). Tudo que já nadei: Ressaca: quebra-mar e marolinhas. 3. ed. São Paulo: Planeta., p. 48-49, grifo meu).

A esperança reservada aos poucos que tinham pão e ovo em casa13 13 Em novembro de 2021, o Jornal Hoje divulgou que 74% das crianças brasileiras de 2 a 9 anos não tinham acesso às três refeições diárias, o que demonstrava que a crise humanitária brasileira, como comentado por Zuenir Ventura (apud Passos, 2021), se situava na saúde, na economia e, naturalmente, na política. é confrontada com o assombro da certeza de que muitos não os tinham, a exemplo do trecho da coluna intitulada “Sábado é sempre um pouco pior”:

As notícias de mortes, fome e desemprego me assombram num ponto tão periclitante. [...] (Ainda não te parece inacreditável esse monstro ser presidente?). Dormir tem sido bom. Sou privilegiada com casa e comida. [...] Mas ainda assim a vida é pantanosa nesse governo genocida, e quando sonho, ninguém usa máscaras (houve um ou dois sonhos que a pandemia existia)
(Letrux, 2021aLETRUX (2021a). Sábado é sempre um pouco pior. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/sabado-e-sempre-um-pouco-pior/. Acesso em: 10 jan. 2024.
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).

Diante desse cenário, a sobrevivência melancólica, a sobrevivência reativa, persistente nos rastros literários de Letrux, compreendia a vida pantanosa que abarcava o país e vislumbrava a imprescindibilidade de tolerar os rastros do tempo corrente, sem sucumbir a eles: “A gente é do sistema delirante de sobrevivência. Nunca o abandonamos. Se não, sucumbiríamos. E isso seria periclitante demais” (Letrux, 2022LETRUX (2022). A panela de pressão explodiu. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/a-panela-de-pressao-explodiu/. Acesso em: 12 jan. 2024.
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).

A sobrevivência existente nas obras de Letrux parece condensar uma postura essencialmente humanista: diante da distopia estabelecida no Brasil, havia a necessidade de ser melancólica. Nesse sentido, ao confrontar a erosão da vida concernente à subjugação da população brasileira, que à época estava assombrada por um governo de extrema-direita, a referida melancolia, circunscrita em objetos artísticos, poderia funcionar enfim como um verdadeiro ato de resistência, por manifestar a inconformidade em relação às atmosferas intoleráveis.

Notas

  • 1
    Importa relembrar as palavras de Susan Sontag (1986)SONTAG, Susan (1986). Sob o signo de saturno. Tradução de Ana Maria Capovilla e Albino Poli Jr. São Paulo: L&PM., que, por meio da leitura de Walter Benjamin, pontua a imprescindibilidade de vincular a melancolia ao conhecimento da história: “Benjamin sugere que a melancolia é a origem do verdadeiro conhecimento da história — ou seja, do conhecimento justo. O verdadeiro conhecimento da história, disse no último texto que escreveu, é um processo de empatia cuja origem é a indolência do coração” (Sontag, 1986SONTAG, Susan (1986). Sob o signo de saturno. Tradução de Ana Maria Capovilla e Albino Poli Jr. São Paulo: L&PM., p. 124).
  • 2
    “Como a melancolia, também Saturno, esse demônio das antíteses, investe a alma, por um lado, com preguiça e apatia, por outro com a força da inteligência e da contemplação” (Benjamin, 1984BENJAMIN, Walter (1984). Origem do drama barroco alemão. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense., p. 172).
  • 3
    No “Problema XXX”, Aristóteles (1998)ARISTÓTELES (1998). O Homem de gênio e a melancolia. Tradução de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Lacerda. destaca a relação entre a melancolia e a genialidade: “Por que razão todos os homens que foram excepcionais (perittoi) no que concerne à filosofia, à política, à poesia ou às artes aparecem como sendo melancólicos?” (Aristóteles, 1998ARISTÓTELES (1998). O Homem de gênio e a melancolia. Tradução de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Lacerda.). No prólogo de El hombre de genio y la melancolía, Jackie Pigeaud (2007)PIGEAUD, Jackie (2007). Prólogo. In: ARISTÓTELES. El hombre de genio y la melancolía: problema XXX. Barcelona: Acantilado. p. 9-76. evidencia que, ao relacionar a arte, a poesia e a melancolia, o “Problema XXX” substitui a ideia de inspiração divina por inspiração melancólica, posicionando, desse modo, a melancolia como um elemento, por excelência, de criação: “[O Problema XXX] substitui a gratuidade da eleição divina pelo acaso da mistura que nos constitui. Não é mais uma questão de escolha divina, mas uma questão de fisiologia. [...] A genialidade da reflexão aristotélica reside no fato de ter sido capaz de apontar a ligação entre um humor particular e um tropo específico, a metáfora. [...] Oferece-se a possibilidade, no corpus aristotélico, de ligar uma ideia precisa de poesia a uma concepção precisa de fisiologia” (Pigeaud, 2007PIGEAUD, Jackie (2007). Prólogo. In: ARISTÓTELES. El hombre de genio y la melancolía: problema XXX. Barcelona: Acantilado. p. 9-76., p. 52-55, tradução minha, grifo meu) — “Reemplaza la gratuidad de la elección divina por el azar de la mezcla que nos constituye. Ya no se trata de un problema de elección divina, sino de un asunto de fisiología. [...] La genialidad de la reflexión aristotélica estriba en que ha sabido señalar el vínculo existente entre un humor particular y un tropo específico, la metáfora. [...] Se nos ofrece la posibilidad, dentro del Corpus aristotélico, de enlazar una idea precisa de la poesía con una concepción precisa de la fisiologia” (Pigeaud, 2007PIGEAUD, Jackie (2007). Prólogo. In: ARISTÓTELES. El hombre de genio y la melancolía: problema XXX. Barcelona: Acantilado. p. 9-76., p. 52-55).
  • 4
    “N’est-il pas vrai que perdre nous soulève après que la perte nous a terrassés? [...] Ondevrait même dire que la perte, qui nous accable d’abord, peut aussi - par la grâce d’un jeu, d’un geste, d’une pensée, d’un désir - soulever le monde tout entier. Et telle serait la première force des soulèvements [...] L’évidence des soulèvements ne serait-elle pas, d’abord, celle du geste par lequel nous refusons un certain état - injuste, intolérable - des choses qui nous entourent, qui nous oppressent ? [...] C’est probablement ce que Walter Benjamin voulut désigner à travers d’expression : « organiser notre pessimisme ». Cela commence souvent par des bras qui se lèvent: désespoir, indignation puis colère, puis appel à « faire quelque chose », enfin. Cela commence tout aussi bien par une clameur, par un cri” (Didi-Huberman, 2019DIDI-HUBERMAN, Georges (2019). Désirer désobéir: Ce qui nous soulève, 1. Paris: Les Editions de Minuit., p. 9-15).
  • 5
    Em Povos em lágrimas, povos em armas, Didi-Huberman (2021DIDI-HUBERMAN, Georges (2021). Povos em lágrimas, povos em armas. Tradução de Hortencia Lencastre. São Paulo: N-1., p. 69) afirma: “Zombamos de quem chora e os desprezamos. Será porque a emoção mostra a todos o rosto do impoder e oferece à comunidade apenas sua própria fragilidade, seu desterro, sua condição infantil, sua pobreza? [...] Existe em todo ‘poder de ser afetado’ a possibilidade de uma reviravolta emancipadora”.
  • 6
    A autora tem outro livro, publicado em 2015, intitulado Zaralha: abri minha pasta, assinado com o seu nome próprio, visto que naquele ano o projeto Letrux, que começou em 2017, ainda não existia.
  • 7
    Em uma entrevista concedida ao Canal Arte1 (2021)CANAL ARTE1 (2021). Letrux comenta o livro Tudo que já nadei. Canal Arte 1, São Paulo. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=nLtoxB5s2Fc. Acesso em: 1º jan. 2024.
    www.youtube.com/watch?v=nLtoxB5s2Fc...
    , Letrux afirma que, no início de 2020, recebeu o convite da editora Planeta para a publicação de um livro. Apesar de ter material suficiente para a referida publicação, optou por esperar e experienciar o coronavírus, com o objetivo de que o seu livro transcorresse também os ecos dessa experiência.
  • 8
    Neste artigo, a análise da obra de Letrux estrutura-se exclusivamente na sua performance escrita. Para acompanhar uma investigação acerca da sonoridade em sua produção, ver Carvalho Nery (2021)CARVALHO NERY, Fernanda Barboza de (2021). Literatura, música e os abismos inexistentes: uma reflexão sobre o universo artístico fragmentado. Estação Literária, Londrina, v. 28, p. 7-22, 2021. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/estacaoliteraria/article/view/44821/Carvalho%20Nery. Acesso em: 10 jan. 2024.
    https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.ph...
    .
  • 9
    O vídeo que compõe a publicação é um trecho do clipe “Amoruim”, música presente no álbum Letrux em noite de climão, que seria lançado em 31 de outubro de 2018. Letrux (2018)LETRUX (2018). Na última instância do horror. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 12 jan. 2024.
    www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_med...
    encerra a postagem com uma referência ao vídeo e à legenda: “‘amoruim’, o clipe completo estreia dia 31, último dia do mês de outubro, o mês que arrebentou até os nós” (Letrux, 2018LETRUX (2018). Na última instância do horror. Rio de Janeiro. Instagram: @leticialetrux. Disponível em: www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 12 jan. 2024.
    www.instagram.com/p/BpTHo0JFyuX/?utm_med...
    , grifo meu).
  • 10
    Em uma publicação na revista Gama, Letrux relembra como foi a volta para casa após o anúncio que conclamava o presidente eleito em 2018: “Voltei pra casa aterrorizada, tudo era estranho, o mesmo caminho de sempre parecia agora um trem fantasma, a cada esquina um susto, um horror. Horror esse que nunca foi embora, o Brasil piorou de forma radical e absoluta, em todas as áreas” (Letrux, 2022LETRUX (2022). A panela de pressão explodiu. Gama, São Paulo. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/letrux/a-panela-de-pressao-explodiu/. Acesso em: 12 jan. 2024.
    https://gamarevista.uol.com.br/colunista...
    ).
  • 11
    Importa recordar o livro intitulado Arquivo pandemia. Trata-se de uma compilação de textos, considerados por suas organizadoras como testemunhais e ficcionais, que foi distribuída de forma gratuita pela Editora UFMG. Os textos compreendem os meses de março, abril e maio de 2020, período que pode ser considerado como o início da pandemia no Brasil. Com os corações entristecidos pela experiência do luto massivo e coletivo, com a possibilidade da iminência de uma morte súbita e misteriosa, por causa da incompreensão da ação do coronavírus no corpo humano, a população encarava o medo da morte e a incompreensão acerca de um futuro que parecia ter deixado de existir. “E a situação fica mais crítica a cada dia… Já não existem leitos com respiradores… Já não tem lugar para os corpos… covas estão sendo abertas… Covas rasas… É inacreditável ouvir as declarações do presidente da República. Terrível mesmo. Parece um pesadelo. Já era assustador, mas agora nem tenho palavras pra traduzir como anda minha cabeça no meio disso tudo” (Maia, 2020MAIA, Andréa Casa Nova (2020). Não sou coveiro... E daí? In: CASA NOVA, Vera; MAIA, Andréa Casa Nova (org.). Arquivo pandemia: diários íntimos, recortes poéticos, históricos, geográficos, políticos, antropológicos, artísticos, psicossociais do isolamento. Belo Horizonte: Editora UFMG. v. 1. p. 160-165., p. 161-162).
  • 12
    Nesse trecho há uma referência à música “Déjà-Vu Frenesi”, presente no álbum Letrux aos prantos: “Todo corpo tem água/Lágrima, suor e gozo/[...] Ou a gente chora, ou a gente sua/Ou a gente goza/[...] Se organizar direito todo mundo chora” (Letrux, 2020aLETRUX (2020a). Letrux aos prantos. Rio de Janeiro: Independente; Natural Musical. 1 CD.).
  • 13
    Em novembro de 2021, o Jornal Hoje divulgou que 74% das crianças brasileiras de 2 a 9 anos não tinham acesso às três refeições diárias, o que demonstrava que a crise humanitária brasileira, como comentado por Zuenir Ventura (apud Passos, 2021PASSOS, Ursula (2021). CPI da Covid é retrato do deboche do Brasil de hoje, diz Zuenir Ventura, aos 90 anos. Folha de S.Paulo, São Paulo. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/05/faco-90-feliz-mas-nao-posso-ser-feliz-num-pais-que-e-um-cemiterio-diz-zuenir-ventura.shtml. Acesso em: 27 jan. 2024.
    www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/05/...
    ), se situava na saúde, na economia e, naturalmente, na política.

Referências

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  • ASSUMPÇÃO, Itamar (1993). Milágrimas. In: ASSUMPÇÃO, Itamar. Bicho de Sete Cabeças Vol II São Paulo: Baratos Afins. 1 CD. Faixa 2.
  • BACHELARD, Gaston (2013). A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes.
  • BENJAMIN, Walter (1984). Origem do drama barroco alemão Tradução de Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense.
  • CALAZANS, Roberto; MATOZINHO, Christiane (2021). Pandemia e neoliberalismo: a melancolia contra o novo normal. Rio de Janeiro: Mórula.
  • CANAL ARTE1 (2021). Letrux comenta o livro Tudo que já nadei Canal Arte 1, São Paulo. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=nLtoxB5s2Fc Acesso em: 1º jan. 2024.
    » www.youtube.com/watch?v=nLtoxB5s2Fc
  • CARVALHO NERY, Fernanda Barboza de (2021). Literatura, música e os abismos inexistentes: uma reflexão sobre o universo artístico fragmentado. Estação Literária, Londrina, v. 28, p. 7-22, 2021. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/estacaoliteraria/article/view/44821/Carvalho%20Nery Acesso em: 10 jan. 2024.
    » https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/estacaoliteraria/article/view/44821/Carvalho%20Nery
  • DELEUZE, Gilles (1976). Nietzsche e a filosofia Tradução de Edmundo Fernandes Dias e Ruth Joffyli Dias. Rio de Janeiro: Rio.
  • DELEUZE, Gilles (1999). O ato de criação. Palestra proferida em Paris em 1987. Folha de S.Paulo Disponível em: https://lapea.furg.br/images/stories/Oficina_de_video/o%20ato%20de%20criao%20-%20gilles%20deleuze.pdf Acesso em: 15 jan. 2024.
    » https://lapea.furg.br/images/stories/Oficina_de_video/o%20ato%20de%20criao%20-%20gilles%20deleuze.pdf
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  • DIDI-HUBERMAN, Georges (2021). Povos em lágrimas, povos em armas Tradução de Hortencia Lencastre. São Paulo: N-1.
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Editor:

Paulo César Thomaz

Editores convidados:

Diana Junkes Bueno Martha e Moama Lorena de Lacerda Marques

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    28 Mar 2024
  • Aceito
    22 Jul 2024
Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade de Brasília (UnB) Programa de Pós-Graduação em Literatura, Departamento de Teoria Literária e Literaturas, Universidade de Brasília , ICC Sul, Ala B, Sobreloja, sala B1-8, Campus Universitário Darcy Ribeiro , CEP 70910-900 – Brasília/DF – Brasil, Tel.: 55 61 3107-7213 - Brasília - DF - Brazil
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