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Feminismo de hashtag: uma análise do ciberativismo de #JustiçaPorMariFerrer

Hashtag feminism: an analysis of #JustiçaPorMariFerrer’s cyberactivism

Resumo

O feminismo de hashtag é um fenômeno recente, contudo, cada vez mais recorrente na sociedade em rede, conectada pela Internet. Um dos exemplos desse tipo de ativismo se iniciou em 2019, quando uma jovem chamada Mariana Ferrer utilizou suas redes sociais para denunciar que havia sofrido violência sexual. Desde então, seu caso se tornou cada vez mais conhecido e foram criadas diversas hashtags para fazer referência ao caso, como a #JustiçaPorMariFerrer. O engajamento com a hashtag atingiu um grande número de engajamento em novembro de 2020, quando foi noticiada a absolvição do acusado e foi utilizado o termo ‘estupro culposo’ pelo portal que compartilhou mais detalhes do processo. A indignação com o ocorrido foi tão grande que invadiu as ruas de todo o Brasil, com protestos e manifestações. Dessa forma, o objetivo deste estudo é identificar a estrutura e aspectos da representação do feminismo por hashtag, os contextos semânticos e os conhecimentos do senso comum que perpassam esse tipo de manifestação. Para tal análise, foi utilizada a metodologia do KDD, extraindo 198.009 tweets com a hashtag #JustiçaPorMariFerrer em novembro de 2020. Entre os achados, destaca-se as categorias que revelam o discurso de repúdio em relação ao sistema e a solidariedade digital. Através das categorias, é possível perceber que há uma desconfiança com as instituições oficiais e que mulheres criam redes de solidariedade conectivas.

Palavras-chave:
feminismo; hashtag; ciberativismo; KDD; Iramuteq

Abstract

Hashtag feminism is a recent phenomenon, however, increasingly recurrent in the network society, connected by the Internet. One of the examples of this type of activism began in 2019 when a young woman named Mariana Ferrer used her social media to report that she had suffered sexual violence. Since then, her case has become increasingly known and several hashtags have been created to refer to the case, such as #JusticePorMariFerrer. Engagement with the hashtag reached a large number of engagements in November 2020, when the acquittal of the accused was reported and the term 'wrongful rape' was used by the portal that shared more details of the process. The indignation at what happened was so great that it invaded the streets of Brazil, with protests and demonstrations. Thus, the objective of this study is to identify the structure and aspects of the representation of feminism by hashtag, the semantic contexts, and common sense knowledge that permeate this type of manifestation. For this analysis, the KDD methodology was used, extracting 198,009 tweets with the hashtag #JustiçaPorMariFerrer in November 2020. Among the findings, the categories that reveal the discourse of rejection in relation to the system and digital solidarity stand out. Through the categories, it is possible to perceive that there is a distrust of official institutions and that women create connective solidarity networks.

Keywords:
feminism; hashtag; cyberactivism; KDD; Iramuteq

1 Introdução

Em 2019, uma jovem de 21 anos chamada Mariana Ferrer usou suas redes sociais para contar sua história. Segundo o relato, ela havia sofrido violência sexual no ano anterior e até então não havia recebido nenhum retorno da Justiça. Mariana passou a falar de seu caso publicamente através de seus perfis em diferentes redes sociais e aos poucos, diferentes pessoas passaram a demonstrar apoio. Contudo, tudo atingiu novos patamares em novembro de 2020. Após a notícia que o acusado havia sido absolvido por ‘estupro culposo’, a hashtag #JustiçaPorMariFerrer foi replicada milhares de vezes. Além dessa movimentação expressiva na Internet, o caso foi noticiado em diversos veículos midiáticos e a revolta foi tanta que diversas mulheres saíram às ruas para pedir por justiça e demonstrar solidariedade à Mari Ferrer em diversas cidades do país.

Manifestações semelhantes como a descrita ocorreram diversas vezes ao longo dos últimos anos e em diversas partes do mundo. Em 2014, na Nigéria surgiu a campanha #BringBackOurGirls quando o grupo militante nigeriano Boko Haram sequestrou 276 alunas. A hashtag tomou proporções tão grandes que chegou a ser destaque mundial e fez com que diversos países pressionassem o governo do país. Hashtags como #YoSiTeCreo, #HermanaYoSíTeCreo foram utilizadas em campanhas feministas na Espanha em 2018. Em 2020, a #FreeYouth foi utilizada em protestos contra o governo na Tailândia. Esses são apenas alguns exemplos de tantos outros tipos de manifestações que ocorreram na internet, especialmente por meio de hashtags.

Movimentos sociais são grandes motores da história, expondo a indignação de uma parcela da população em favor de uma causa específica. Com o nascimento da internet, a luta passou a ocupar também os espaços digitais. Existem diversos termos para identificar tal fenômeno - net-ativismo, ciberativismo, ativismo digital, entre outros. Para o presente trabalho, utilizaremos o conceito de ciberativismo que pode ser definido como “[...] um conjunto de práticas em defesa de causas políticas, socioambientais, sociotecnológicas e culturais, realizadas nas redes cibernéticas, principalmente na Internet” (Silveira, 2010SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Ciberativismo, cultura hacker e o individualismo colaborativo. Revista USP, São Paulo, n. 86, p. 28-39, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i86p28-39 . Acesso em: 11 ago. 2023.
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036....
, p. 31). Dentre tantos movimentos, o ciberfeminismo ganhou força nos últimos anos especialmente em manifestações que utilizam hashtags como estratégia de luta e confronto.

O movimento feminista, em suas diferentes ondas e perspectivas, sempre lutou para que mulheres pudessem contar suas histórias, expor suas ideias. Com a Internet, um novo mundo de possibilidades se abriu para que as mulheres pudessem se expressar e se conectar umas às outras. O mundo que antes era dominado por conglomerados midiáticos começou a parecer mais acessível a pessoas comuns partilharem sua mensagem e serem vistas. Assim, novas formas de lutar passaram a ocupar as redes digitais, com a possibilidade de pessoas em locais distantes e que não se conhecem pudessem se conectar e expressar solidariedade a uma causa.

A sociedade contemporânea passou a se construir através da internet e os diferentes ciberativismos são sintomas que revelam características da cultura e de como os diferentes movimentos sociais são vistos e incorporados nesta nova realidade. Dessa forma, o objetivo deste estudo é identificar a estrutura e aspectos da representação do feminismo por hashtag, os contextos semânticos e os conhecimentos do senso comum que perpassam esse tipo de manifestação. Para tal análise, foi utilizada a metodologia do KDD, extraindo 198.009 tweets com a hashtag #JustiçaPorMariFerrer em novembro de 2020. Entre os achados, destaca-se as categorias que revelam o discurso de repúdio em relação ao sistema e a solidariedade digital.

2 A sociedade em rede

Falar que se vive em um Sociedade em Rede, ao contrário do que se imagina, não necessariamente significa viver conectado à Internet. Segundo Castells (2011CASTELLS, Manuel. O poder da identidade: a era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e terra , 2011. ) a formação de redes é uma prática antiga, contudo elas ganharam nova vida com a energização da Internet. De forma semelhante, Recuero (2012RECUERO, Raquel. A conversação em rede: a comunicação mediada pelo computador e as redes sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina , 2012., p. 16) fala que “[...] as redes sociais são as estruturas dos agrupamentos humanos, constituídas pelas interações, que constroem grupos sociais [...].”. Assim, as novas tecnologias modificam tais redes e interações, especialmente com a Internet. Novos espaços conversacionais e novas formas de interação são criadas com os novos contornos propostos pela virtualidade. “A Internet é o tecido de nossas vidas [...]” (Castells, 2003CASTELLS, Manuel. A Galáxia internet: reflexões sobre a Internet, negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003., p. 7) e é “[...] na conversação em rede que a cultura está sendo interpretada e construída [...]” (Recuero, 2012RECUERO, Raquel. A conversação em rede: a comunicação mediada pelo computador e as redes sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina , 2012.).

A vida na Sociedade em Rede digitalmente conectada pela Internet promove uma série de mudanças na forma de se comunicar e se relacionar. Talvez uma das mais evidentes e mencionadas seja a modificação de uma cultura marcada pela comunicação de massa, com um emissor falando para vários receptores, para uma cultura marcada pela colaboração, com diversos emissores e receptores ao mesmo tempo. Jenkins (2015JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2015.) chama de cultura participativa essa nova noção de receptores que não são mais passivos e distantes dos produtores, mas que agora são também produtores da mensagem em um ambiente sem regras muito bem definidas. A vida digital permite com que pessoas se conectem com outras distantes delas, construindo diferentes relações que antes não eram possíveis, ou eram muito mais complicadas.

Lévy (2010LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2010., p. 17) define a cibercultura como “[...] o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.”. Para o autor, o ciberespaço possibilitou o nascimento de novas formas de fazer arte, adquirir e compartilhar conhecimento e adiciona novas camadas a diversos processos sociais e comunicacionais, desde como encaramos sistemas políticos até como lidamos com a desigualdade. Nesse sentido, de forma semelhante a Jenkins, o autor define a inteligência coletiva como um dos princípios que constituem a cibercultura, que é a capacidade de se construir saberes de forma colaborativa.

Nessa nova realidade, a forma com que as pessoas se relacionam umas com as outras também sofre modificações. Segundo Castells (2005CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e terra, 2005.), concordando com os estudos de Wellman, a Internet favorece a expansão e a intensidade dos laços fracos e múltiplos. A rede permite com que as pessoas possam criar laços fracos com desconhecidos. As pessoas ingressam em comunidades virtuais com base em valores e interesses em comum, criando ‘portfólios pessoais’ conforme sua preferência. Existem fortes evidências de uma real solidariedade mesmo entre tais laços fracos. Contudo, o preço também é alto, pois da mesma forma rápida e superficial que tais relações se constroem, com um clique elas também podem acabar. Isso não quer dizer que tais comunidades e relações não sejam reais; elas apenas funcionam em uma dinâmica diferente: são assíncronas, com rápida disseminação e penetração, com afiliações múltiplas e parciais.

Hoje, é comum chamar de ‘redes sociais’ as diferentes plataformas disponíveis na Internet, como Facebook, Instagram, Twitter, entre outras, cada uma com características e públicos específicos e que proporcionam diferentes tipos de interação. Nelas, os pilares da cibercultura ficam ainda mais evidentes e mostram todas as potencialidades dos ambientes digitalmente conectados. O Twitter é uma das várias plataformas de rede social disponíveis na Internet. Ele foi criado em 2006 com a proposta de ser um microblogging, em que os usuários poderiam escrever pequenos textos de até 140 caracteres, os chamados tweets, inspirados pela pergunta “O que você está fazendo?”. Assim, se tornou cada vez mais popular as pessoas compartilharem pequenas partes de suas vidas, de forma rápida, curta e simples. Essa forma é compatível com o estilo de vida de cada vez mais pessoas: rápido e sem tempo para se aprofundar em muitas informações.

Uma das principais mudanças inseridas no Twitter foi a criação de hashtags. Inspirado no tagueamento que ocorria em blogs, o símbolo “#” passou a ser utilizado para demarcar tópicos, tornando em um hiperlink clicável qualquer termo que viesse após o símbolo. Dessa forma, as hashtags passaram a agrupar os tweets de diferentes pessoas, deixando mais fácil a interação com outras pessoas falando sobre o mesmo tema. Outra funcionalidade disponibilizada pela plataforma foram os Trending topics, que agrupavam os assuntos mais falados no site com certo destaque. Assim, os internautas podem saber qual é o assunto do momento e acompanhar toda a discussão sobre o tema.

Como tudo que sofre apropriações, logo o Twitter e as hashtags passaram a ser o cenário de diversos embates. Logo, diversas formas de manifestações passaram a invadir as timelines com diversos tweets e diversas hashtags representando movimentos. Surgiu o que teóricos têm chamado de “Ativismo de Hashtag”, que é o “[...] ato de lutar ou apoiar uma causa com o uso de hashtags como o principal canal para conscientizar sobre um problema e incentivar o debate nas mídias sociais [...]” (Tombleson; Wolf, 2017TOMBLESON, Bridget; WOLF, Katharina. Rethinking the circuit of culture: how participatory culture has transformed cross-cultural communication. Public Relations Review, Sydney, v. 43, n. 1, p. 14-25, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.pubrev.2016.10.017 . Acesso em: 11 ago. 2023.
https://doi.org/10.1016/j.pubrev.2016.10...
, p. 15, tradução nossa).1 1 “Act of fighting for or supporting a cause with the use of hashtags as the primary channel to raise awareness of an issue and encourage debate via social media”.

3 O ciberativismo

A história da Internet e sua expansão não pode ser desvinculada das diferentes formas de ciberativismo que surgiram desde seu nascimento. É verdade que a criação da Internet está conectada a iniciativas militares norte-americanas. Porém, logo passou a extrapolar os fins militares, como Castells (2005CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e terra, 2005.) define, o desenvolvimento da Internet é uma consequência de uma fusão entre estratégia militar, grande cooperação científica, iniciativa tecnológica e inovação contracultural. Em um ambiente altamente controlado, como o militarismo, logo a Internet passou a crescer e extrapolar de tal forma que não poderia mais ficar presa a um fim restrito. Assim se iniciava a cultura hacker, que nasceu especialmente de uma vontade de espalhar gratuitamente as novas tecnologias de comunicação.

Os meios de comunicação historicamente sempre tiveram uma participação importante nos movimentos populares. Seja através de rádio, panfletos, gravuras, manifestações artísticas ou tantas outras, a participação popular nos meios de comunicação está diretamente relacionada ao exercício da cidadania, afinal existem pessoas e povos inteiros que anseiam condições de vida mais digna. Elas buscam interferir no processo histórico e se posicionarem como sujeitos, tendo como grandes aliados os meios comunicacionais para vocalizar suas ideias e necessidades (Peruzzo, 1998PERUZZO, Cicilia Krohling. Comunicação nos movimentos populares: a participação na construção da cidadania. São Paulo: Vozes, 1998.). A Internet, porém, é muito mais que um meio de comunicação. A Internet é uma nova forma de se estruturar a realidade e está profundamente conectada com as redes sociais e neurais que constituem os sujeitos.

Assim, a mudança social resulta da ação comunicativa que envolve a conexão entre redes de redes neurais dos cérebros humanos estimuladas por sinais de um ambiente comunicacional formado por redes de comunicação. A tecnologia e a morfologia dessas redes de comunicação dão forma ao processo de mobilização e, assim, de mudança social, ao mesmo tempo como processo e como resultado (Castells, 2017CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2017., p. 190).

Dessa forma, pensar em uma sociedade em rede é também pensar como as redes digitais ampliam as possibilidades de comunicar e, consequentemente, de ser. Assim, só é possível desafiar as estruturas impostas se as pessoas compartilham sua indignação. A característica da Internet de proporcionar uma comunicação cada vez mais horizontal, assim, incita novas formas de luta. Contudo, como Castells (2017CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2017.) expõe, o papel da Internet ultrapassa a instrumentalidade. A nova realidade conectada não só permite que novas movimentações surjam, mas sobrevivam e possam se expandir, com novas características e peculiaridades. Além disso, há uma conexão profunda entre a Internet e os movimentos sociais em rede: “[...] eles comungam de uma cultura específica, a cultura da autonomia, a matriz cultural básica das sociedades contemporâneas [...]” (Castells, 2017CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2017., p. 199).

A cultura da autonomia diz respeito aos atores sociais que se constituem como sujeitos independentes das instituições sociais, colocando em primeiro lugar seus próprios valores e interesses (Castells, 2017CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2017.). De forma semelhante, os movimentos em rede são descentralizados, autônomos e não exigem um comprometimento último com apenas uma causa, possibilitando uma participação múltipla, sem muitas vezes ser necessário sair de casa. O ciberativismo raramente é pragmático, mas está mais preocupado em provocar discussões e mudar a opinião pública. Por conseguinte, mais interessante que pensar no ‘impacto’ que tais tipos de movimento causam nas instituições sociais, é pensar em como eles suscitam pensar em debates voltados para a mudança de valores na sociedade.

Assim, a emergência do ciberespaço, com seus espaços virtuais e participativos, especialmente com grupos de discussões, passou a fazer com que tal comunicação distribuída passasse a suportar uma série de ativismos, porém diferente até mesmo das formas das formas de ativismo social ocorridas até então no campo da comunicação social (Malini; Antoun, 2013MALINI, Fábio; ANTOUN, Henrique. A internet e a rua: ciberativismo e mobilização nas redes sociais. Porto Alegre: Sulina, 2013.). A comunicação não mais ocorria de uma forma de um emissor com vários receptores; ela passou a ser com diversos emissores e receptores simultâneos, em diferentes locais e fusos do mundo. Os hackers não eram apenas de códigos e tecnologia, mas também hackers das narrativas dominantes. Este é “[...] um tipo de sujeito que produz, continuamente, narrativas sobre acontecimentos sociais que destoam das visões editadas pelos jornais, canais de TV e emissoras de rádio de grandes conglomerados de comunicação.” (Malini; Antoun, 2013MALINI, Fábio; ANTOUN, Henrique. A internet e a rua: ciberativismo e mobilização nas redes sociais. Porto Alegre: Sulina, 2013., p. 23).

Na internet, então, passou a ocorrer uma grande guerra de narrativas, em que diferentes grupos e pessoas passaram a expor suas opiniões e pontos de vistas, muitas vezes indo contra as narrativas dominantes e até mesmo ditas como oficiais. A exemplo, as hashtags se tornaram uma forma de agregar relatos de diversas pessoas sobre um assunto, criando uma rede de interação que serve para trocar informações, promover ideais, expor opiniões pessoais, organizar protestos, entre outras coisas, sendo assim uma ‘narrativa de muitos’. Assim, se escreve uma história paralela, no meio de memes, mensagens curtas de tweets, opiniões e relatos pessoais. É uma rede polissêmica que revela novas formas de pensar.

Ao indexar suas mensagens sobre o mundo em uma hashtag, o perfil de uma rede faz da tag um movimento de apresentação da ação política em seu assunto e transforma as mensagens em quantidades intensivas de argumentos de uma controvérsia. A hashtag cria um regime de atenção cujo principal motor reside na capacidade da tag ser controversa e inconclusa, porém influente [...]. A timeline torna-se uma linha do tempo acelerada, turbilhonando a subjetivação em rede, ao mesmo tempo em que a hashtag faz da ação coletiva dos movimentos sociais uma viva perspectiva da constituição do mundo (Malini; Antoun, 2013MALINI, Fábio; ANTOUN, Henrique. A internet e a rua: ciberativismo e mobilização nas redes sociais. Porto Alegre: Sulina, 2013., p. 214-215).

Nesse sentido, o ativismo de hashtag é uma forma de manifestação que agrega a capacidade das redes de conectar diversos atores sociais de forma horizontal com a cultura da autonomia, em que cada indivíduo pode inserir seus próprios valores em uma discussão maior. É uma forma das pessoas contarem suas versões da história e encontrarem outros que compartilham de experiências semelhantes, em um ato também de solidariedade digital. Nem todas as campanhas que ocorrem por meio de hashtags necessariamente ocupam o espaço urbano, mas esse não é o objetivo principal. Mais uma vez, o cerne do ciberativismo é propor discussões que, aos poucos, possam provocar uma mudança de pensamento. Assim, mais que compartilhar teorias extensas e complexas sobre cada movimento, o ativismo de hashtag propõe que cada indivíduo exponha formas diferentes de pensar, formas que muitas vezes se opõem ao sistema majoritário.

Ao redirecionar a hashtag (concebida por seus desenvolvedores como ferramenta de comunicação interpessoal) como veículo para atos disruptivos de resistência política, os ativistas de hashtags ofereceram uma nova ideia: que o compartilhamento de ideias em espaços digitais pode ser uma forma de resistência radical (Fang, 2015FANG, Jenn. In defense of hashtag activism. Journal of Critical Scholarship on Higher Education and Student Affairs, Chicago, v. 2, n. 1, p. 137-142, 2015., p. 139, tradução nossa).2 2 “By repurposing the hashtag (conceived by its developers as a tool for interpersonal communication) as a vehicle for disruptive acts of political resistance, hashtag activists offered a new idea: that the sharing of ideas in digital spaces might itself be a form of radical resistance”.

Dessa forma, se torna mais claro compreender o porquê de tantas pessoas aderirem tais formas de manifestação. Sem sair de casa, cada indivíduo pode contribuir com seu olhar para a discussão e auxiliar a colocar um importante tema em voga. Ainda, entre tantos tipos de manifestações que utilizam das estratégias discursivas fornecidas pelas hashtags, o ativismo de cunho feminista ganha certo destaque. Em uma sociedade tão inóspita para mulheres, especialmente mulheres que desafiam a forma majoritária de pensar, o ativismo por meio de hashtags é uma forma de incentivar que assuntos de interesse das mulheres atinjam novos patamares, ganhem mais atenção e assim possam desempenhar um importante papel na constante luta pela mudança de pensamento da sociedade.

4 O feminismo de hashtag

O feminismo é um movimento social que comumente se divide em ‘ondas’, que marcam o foco da luta das mulheres em cada época. Além disso, como os diversos movimentos sociais, possui diversas perspectivas e intersecções que se entrelaçam. Porém, de forma geral, para as feministas o discurso e o ato de se expressar sempre foram importantes. O simples ato de falar sua vontade, seu pensamento, é um ato de valentia. Contudo, para além do lutar por direitos, as mulheres passaram a questionar diversas estruturas impostas socialmente e os questionamentos começaram a perpassar um debate mais inicial: afinal, o que é ser mulher? Dentre estas discussões, quando o mundo passou a se perceber virtual e cada vez mais conectado digitalmente, as mulheres também começaram a se questionar como é ser mulher não só no mundo como um todo, mas também nesta realidade digitalmente conectada.

Em conjunto com o nascimento da internet, Donna Haraway (2000HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue. Antropologia do ciborgue. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.) escreve o Manifesto Ciborgue, em que a autora desestabiliza as categorias tradicionais de gênero e traz a metáfora de um novo ser, que se constitui através de linhas de códigos e pode se apresentar de várias formas. É o marco do início do ciberfeminismo. Neste começo, a Internet era vista como um local livre, em que cada um poderia atuar como preferisse e assim, subverter estruturas sociais. “O ciborgue é uma imagem condensada tanto da imaginação quanto da realidade material: esses dois centros, conjugados, estruturam qualquer possibilidade de transformação histórica.” (Haraway, 2000HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue. Antropologia do ciborgue. Belo Horizonte: Autêntica, 2000., p. 37).

Neste contexto, duas vertentes de luta ciberfeminista começaram a se fortalecer. A primeira com Sadie Plant e Sandy Stone, consideradas pesquisadoras precursoras do ciberfeminismo. Plant (1998PLANT, Sadie. Coming across the future. In: DIXON, Joan B.; CASSIDY, Eric J. (ed.). Virtual futures: cyberotics, technology and post-human pragmatism, London: Routledge, 1998. p. 30-36.) aponta a Internet como um território essencialmente feminino, enquanto Stone (1991STONE, Allucquere Rosanne. Will the real body please stand up. In: BENEDIK, Michael. Cyberspace: first steps, Cambridge: MIT Press, 1991. p. 81-118.) não é tão otimista e defende a ideia de que o corpo digital ainda se constrói essencialmente na heteronormatividade. Do outro lado das pesquisas acadêmicas, um viés mais artístico da luta surgia, especialmente com a VNS Matrix.

O grupo de artistas nasceu na Austrália em 1991 e passou a criar diversas peças provocativas para pensar a relação das mulheres com a tecnologia. As criações da VNS Matrix questionam as estruturas patriarcais e exploram diversas formas de representação feminina, posicionando-se contra discursos machistas. O grupo, assim como diversas teorias ciberfeministas, nasceu na chamada terceira onda do feminismo, marcada especialmente pela obra de Judith Butler (2019BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019.) Problemas de Gênero, que questiona as categorias estanques do que significa ser homem e do que significa ser mulher.

O ciberfeminismo reflete os questionamentos de sua época e na realidade, não possui apenas uma definição. Em 1997, na I Conferência Internacional Ciberfeminista, na Alemanha, ao invés de definir-se um conceito, foi elaborada uma lista com 100 itens expressando o que o ciberfeminismo não é: ciberfeminismo não é uma fragrância; ciberfeminismo não é ideologia; ciberfeminismo não é uma teoria; ciberfeminismo não é uma praxis; ciberfeminismo não é um trauma; ciberfeminismo não é estável; ciberfeminismo não tem apenas uma linguagem. Essa é uma das maiores marcas do feminismo moderno, a recusa em possuir definições claras.

Assim, a Internet abarca uma diversidade imensa de expressões ciberfeministas, que podem ir desde o compartilhamento de um meme à uma reflexão mais aprofundada em um artigo. Não há uma unidade, não há apenas uma forma válida de se expressar, não há apenas uma linha de pensamento. A Internet, ao mesmo tempo que consegue agregar diversas pessoas que pensam de forma semelhante, abre espaço para que mais e mais ideias novas surjam em contato umas com as outras. Da mesma forma que a Internet mudou tanto desde sua criação, as pessoas passaram a produzir expressões cada vez mais heterogêneas, que também se modificam conforme a sociedade aprende mais a se relacionar com o novo contexto digital e hiperconectado.

Uma das formas de expressão e luta que surgiu com a Internet foi o ativismo por hashtags. Palavras de ordem e slogans não são novidade em movimentos sociais. Historicamente, diversos movimentos se utilizam de recursos comunicacionais para expor suas pautas e ganhar força. O mesmo pode se dizer do movimento feminista, que ao longo dos anos criou slogans emblemáticos como “o pessoal é político” e “meu corpo, minhas regras”. Sair para a rua em uma passeata carregando um cartaz com uma frase emblemática mostra o que este sujeito acredita, seu apoio na luta, seus ideais. De forma semelhante, as redes sociais passaram a ser o palco de diversas lutas e as hashtags, seus slogans.

O fenômeno das hashtags pode ser compreendido como uma estratégia para discussão das performances de gênero e oposição à violência contra mulheres (Romeiro; Pimenta, 2021ROMEIRO, Nathália Lima; PIMENTA, Ricardo Medeiros. Mídias sociais, violência contra mulheres e informação: prospecção do campo à luz das humanidades digitais. Em Questão, Porto Alegre, v. 27, n. 4, p. 107-136, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.19132/1808-5245274.107-136 . Acesso em: 11 ago. 2023.
https://doi.org/10.19132/1808-5245274.10...
). Foram diversas as hashtags que geraram discussões na Internet e levaram milhares de pessoas a falar sobre um mesmo assunto, tanto no Brasil como em outros locais do mundo. Campanhas como #meuamigosecreto, #nãomereçoserestuprada, #mulherescontracunha, #metoo são alguns dos exemplos. Nesse sentido, o ano de 2015 no Brasil foi emblemático e ficou conhecido como “Primavera das Mulheres” pela quantidade de mulheres se mobilizando em rede por todo território nacional. A #PrimeiroAssedio teve sua hashtag replicada mais de 82 mil vezes, entre tweets e retweets (#PrimeiroAssédio, 2015#PrimeiroAssédio. Think Olga, Brasil, 2015.). Como a Think Olga, coletivo que lançou a campanha, explicita, “[...] acreditamos que se apoderar da própria história é uma forma de ajudar a mulher a se reconhecer como vítima e se libertar dessa culpa [...]” (Think Olga, 2015THINK OLGA. [Organização não governamental de inovação social. Plataforma digital]. Brasil, 2015.).

Deixar em evidência na Internet assuntos sensíveis às mulheres pode ter grande impacto em como diversas pautas são percebidas e discutidas. As hashtags funcionam como agregadores desses pensamentos e marcam a realidade, combinando tecnologia e o ser social. Tais campanhas podem servir para sensibilizar, para dar visibilidade, para mostrar indignação, para compartilhar experiências e podem também servir para marcar encontros, manifestações, passeatas.

Movimentos como esse suscitam diversas discussões, desde o que define uma hashtag como sendo feminista ou não, e até se esse tipo de ciberativismo possui de fato relevância na esfera pública. Há quem chame de “ativismo de sofá”, que designa um ativismo de fachada, sem tanto impacto na vida social. Contudo, o mais interessante nesse tipo de manifestação não é necessariamente tentar mensurar impactos, mas sim compreender aspectos da cibercultura, as novas formas de manifestação política e como os indivíduos constroem suas identidades neste contexto. Como expõe Dixon (2014DIXON, Kitsy. Feminist online identity: analyzing the presence of hashtag feminism. Journal of Arts and Humanities, Beaverton, v. 3, n. 7, p. 34-40, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.18533/journal.v3i7.509 . Acesso em: 11 ago. 2023.
https://doi.org/10.18533/journal.v3i7.50...
, p.39, tradução nossa)3 3 “Women are using hashtag feminism to rise above the limitations of not only women’s mobility but the limitations of being a feminist. [...] Whether or not hashtag feminism is a point of action or the foundation for social movement is another discussion, but in analyzing if hashtag feminism is personal empowerment, one would have to argue that hashtag feminism demonstrates an ability to redefine social realities by combining new ways, and ideas, in forming communities for women who are seeking a place to express their beliefs, globally, with other women who share in their social identity. The ways in which we create community, life, and identity in online communities are merging into the arena of research and academia, and it’s revealing power in language and everyday experiences that cannot be ignored”. ,

As mulheres estão usando o feminismo de hashtag para superar as limitações não apenas da mobilidade das mulheres, mas também das limitações de ser feminista. Se o feminismo de hashtag é ou não um ponto de ação ou a base para o movimento social é outra discussão, mas ao analisar se o feminismo de hashtag é empoderamento pessoal, seria preciso argumentar que o feminismo de hashtag demonstra uma capacidade de redefinir realidades sociais combinando novas formas e ideias para formar comunidades para mulheres que procuram um lugar para expressar suas crenças, globalmente, com outras mulheres que compartilham sua identidade social.

Dessa forma, o feminismo de hashtag é também um desafio ao movimento feminista, criando formas de se manifestar descentralizadas e sem tanto comprometimento. A organização da manifestação vem da própria hashtag, que agrupa diversas histórias e comentários. Ainda, através desse recurso diversas mulheres podem expor suas histórias, encontrar outras com histórias semelhantes e que mandam mensagens de apoio, nem que seja em formato de ‘like’. De acordo com os estudos de McDuffie e Ames (2021MCDUFFIE, Kristi; AMES, Melissa. Archiving affect and activism: hashtag feminism and structures of feeling in Women’s March tweets. First Monday, Chicago, v. 26, n. 2, p. 2-15, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.5210/fm.v26i2.10317 . Acesso em: 11 ago. 2023.
https://doi.org/10.5210/fm.v26i2.10317...
), o feminismo de hashtag pode servir como uma documentação histórica de mulheres, ‘herstory’, uma forma de desafio à documentação e narrativas históricas tradicionais e patriarcais. Além disso, o ato de compartilhar momentos pessoais, que de alguma forma se tornam hashtags virais, está fortemente atrelado a algum tipo de trauma cultural, que muitas mulheres sofrem. Esse tipo de movimento expressa a afetividade e a solidariedade envolvida.

Neste cenário, toda vez que uma hashtag chega aos Trending topics ela está revelando algo da cibercultura e de seus indivíduos. Entre os dias um até oito de novembro, a hashtag #JustiçaPorMariFerrer chegou aos Trending topics sendo replicada cerca de 98 mil vezes. Um número tão expressivo de postagens não ocorreu sem um ‘estopim’: o portal The Intercept Brasil postou uma matéria de Alves (2020ALVES, Schirlei. Julgamento de influencer Mariana Ferrer termina com sentença inédita de ‘estupro culposo’ e advogado humilhando jovem. The Intercept Brasil, Brasil, 3 nov. 2020.) com o título Julgamento de influencer Mariana Ferrer termina com tese inédita de ‘estupro culposo’ e advogado humilhando jovem. A história de Mariana já havia circulado nas redes sociais, mas nunca havia atingido proporções tão grandes. Ao longo da publicação, a jornalista mostra com exclusividade alguns trechos das audiências do caso, além de documentos revelando a absolvição do réu, que deu margem para a interpretação que levou o título. Logo após a matéria, diversas pessoas começaram a se manifestar com a hashtag pedindo por justiça, acompanhadas ainda de outras como #EstuproCulposoNãoExiste. Dessa vez, a hashtag ultrapassou as redes digitais e passou a ocupar diferentes ruas em diferentes cidades pelo Brasil.

5 Procedimentos metodológicos

Para o presente estudo, foi desenvolvido um processo de análise com base no Knowledge Discovery in Databases (KDD), proposto por Fayyad et al. (1996FAYYAD, Usama M. et al. (ed.). Advances in knowledge discovery & data mining. Menlo Park: American Association for Artificial Intelligence, 1996.) apresentado na Figura 1.

Figura 1 -
Passos que compõe a metodologia KDD

A metodologia se refere a um conjunto de cinco atividades iterativas e interativas, podendo ser repetida quantas vezes forem necessárias e é adequada para grande volume de dados. Na primeira etapa, de seleção dos dados, foi determinado que extrairíamos tweets que possuem a hashtag #JustiçaPorMariFerrer, durante o mês novembro de 2020, por meio da técnica Web scraping4 4 Coleta de dados que permite a extração de dados de sites da web convertendo-os em informação estruturada para posterior análise. a partir do desenvolvimento de uma solução computacional em linguagem Python5 5 Uma das várias linguagens de programação que existem. que extrai os dados do Twitter. Desta forma, para o recorte temporal definido, foram coletados 198.009 tweets. O período selecionado foi escolhido pois representa o mês de grandes manifestações sobre o caso.

Na etapa de pré-processamento, outra solução computacional foi desenvolvida para tratar as inconsistências apresentadas nos dados textuais, tais como ocorrências de caracteres especiais e menções a outros usuários - identificadas por meio do símbolo @, como forma de anonimizar os dados. Ainda nesta etapa, por meio de expressões regulares, foi realizada a capitalização de texto (todos os elementos textuais tratados em minúsculo), como forma de normalizar o processamento de dados textuais por modelos computacionais. Na etapa de transformação, o conjunto de dados foi, por fim, persistido em dois arquivos em formato txt, para fins de análise textual, um contendo essencialmente os textos dos tweets e outro corpus textual contendo os textos e os demais atributos quantitativos.

A etapa de mineração de dados contemplará duas abordagens: análise exploratória descritiva, de forma a identificar aspectos interacionais, e análise preditiva, de forma a classificar o conteúdo dos tweets. O software utilizado para as análises será o Iramuteq. O Iramuteq é um software gratuito e com código aberto que permite fazer análises estatísticas sobre corpus textuais e tabelas indivíduos/palavras. Ele fundamenta-se no software R6 6 Linguagem de programação voltada à manipulação, análise e visualização de dados. e na linguagem Pyhton. Alguns tipos de análises possíveis são: análise de similitude, Classificação Hierárquica Descendente (CHD) pelo método de Reinert (1990REINERT, Max. Alceste une méthodologie d'analyse des données textuelles et une application: Aurelia de Gerard de Nerval. Bulletin of Sociological Methodology/Bulletin de méthodologie sociologique, New York, n. 26, p. 24-54, 1990.), nuvem de palavras, análise lexicográfica, entre outras.

Para o presente trabalho, foi utilizado o método CHD. Nele, os segmentos de texto são classificados conforme o vocabulário e frequência. A análise permite obter classes que ao mesmo tempo que apresentam vocabulário semelhante entre si, também são diferentes de outras classes (Camargo, 2005CAMARGO, Brigido Vizeu. ALCESTE: um programa informático de análise quantitativa de dados textuais. In: Moreira, Antonia Silva Paredes et al. (org.), Perspectivas teórico-metodológicas em representações sociais. João Pessoa: Ed. da UFPB, 2005. p. 511-539.). Para entender o que significam tais classes, Reinert (1990REINERT, Max. Alceste une méthodologie d'analyse des données textuelles et une application: Aurelia de Gerard de Nerval. Bulletin of Sociological Methodology/Bulletin de méthodologie sociologique, New York, n. 26, p. 24-54, 1990.), utiliza a noção de mundo, “[...] enquanto um quadro perceptivo-cognitivo com certa estabilidade temporal associado a um ambiente complexo [...]” (Camargo; Justo, 2013CAMARGO, Brigido Vizeu; JUSTO, Ana Maria. Tutorial para uso do software de análise textual IRAMUTEQ. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2013., p. 5). Na linguística e na comunicação, podem ser interpretadas como campos lexicais ou contextos semânticos e também, pensando nas representações sociais podem indicar teorias ou conhecimentos do senso comum sobre um dado acontecimento, ou ainda apenas aspectos de uma mesma representação. A classificação ocorre até que se atinja uma estabilidade, que requer unidades textuais com vocabulário semelhante. Assim, chega-se à um dendrograma que representa as partições das classes finais. Após, é possível verificar o conteúdo lexical de cada uma das classes obtidas. É importante, contudo, ressaltar que todo método possui limitações. Identificar um conjunto de relações semânticas nos dá indícios para compreender o modo de pensar e a sociedade, mas não é o bastante para abarcar toda a complexidade que existe dentro de uma comunidade e o que a influencia. Ainda assim, a análise nos permite vislumbrar um horizonte para considerar como as pessoas se relacionam no ambiente digital.

Por fim, após chegar aos padrões com o auxílio de softwares, chegamos na etapa de avaliação. É nessa etapa que analisamos os resultados para responder os objetivos do presente estudo, que são identificar a estrutura e aspectos da representação do feminismo por hashtag, os contextos semânticos e os conhecimentos do senso comum que perpassam esse tipo de manifestação. Aqui também contamos com o apoio da literatura utilizada para percorrer os padrões apresentados e assim, tentar responder os principais questionamentos do estudo.

6 Análise #JustiçaPorMariFerrer

Para compreender, então, os contextos semânticos que perpassam tal tipo de manifestação, utiliza-se a o método CHD proposta por Reinert (1990REINERT, Max. Alceste une méthodologie d'analyse des données textuelles et une application: Aurelia de Gerard de Nerval. Bulletin of Sociological Methodology/Bulletin de méthodologie sociologique, New York, n. 26, p. 24-54, 1990.) para avaliar o corpus extraído do Twitter entre o período selecionado, que foi o mês de novembro de 2020, e avaliar as categorias. Foi obtida retenção de 81,44% (161.252 tweets) dos segmentos textuais, índice considerado eficiente conforme definição do método. Foram obtidas duas categorias - ou classes - de segmentos textuais, conforme observado na Figura 2, sendo 70% dos tweets da classe 1 e 30% dos tweets da classe 2.

Figura 2 -
Categorias obtidas com Iramuteq

O software para quando atinge a estabilidade. A estabilidade é alcançada quando retém mais de 75% dos elementos textuais, que no caso é cada tweet. O Quadro 1 apresenta alguns exemplos dos tweets classificados:

Quadro 1 -
Exemplos de tweets classificados

A classe 1 apresenta discurso de repúdio em relação ao sistema, à justiça e ao fato. A classe 2, claramente, reforça um discurso de mobilização na rede social - os tweets associados a esta classe contém marcações de usuários e alto índice de retweets. As classes permitem avaliar os conhecimentos de senso comum que perpassam o movimento, assim, não é necessário ler cada publicação para compreender as visões de mundo presentes em #JustiçaPorMariFerrer, basta analisar com mais profundidade tweets representativos de cada classe, processo que será realizado a seguir.

6.1 Classe 1: categoria repúdio ao sistema

A primeira categoria identificada mostra a indignação do público em relação à resolução do julgamento. Dessa forma, há a compreensão que o sistema é regido por uma lógica patriarcal, que favorece os homens e pune as mulheres. Ver a forma com que a audiência é conduzida causa indignação, revolta, explicitando a importância do afeto para gerar a comoção. Ainda, o uso de marcadores de tempo mostra que as reações ao caso são constantes e acompanham o desenrolar de novos fatos, mostrando como os indivíduos participam em tempo real do movimento.

Figura 3 -
Tweet da Classe 1

Chama a atenção o constante uso do plural, dando uma noção de coletivo. O usuário se insere na trama com outras pessoas, reconhecendo que há o compartilhamento de uma mesma causa e um mesmo sentimento. Além disso, o uso da linguagem simples e da falta de alguns termos específicos, especialmente os jurídicos, corroboram para a proposição de Young (2002YOUNG, Iris Marion. Inclusion and democracy. Oxford: Oxford University Press, 2002.) de que as práticas narrativas dão voz quando falta o conhecimento técnico. O ‘papel’ citado no Tweet 2 pode se referir aos documentos e resoluções do processo.

Figura 4 -
Tweet da Classe 1

Mesmo com a falta de termos, há o reconhecimento da violência sofrida. Ao gritar ‘estado opressor’, ‘macho estuprador’ a ativista consegue nomear elementos da cultura do estupro. Os tweets demonstram que há um pedido para que as mulheres sejam vistas como cidadãs e tenham seus direitos garantidos.

Figura 5 -
Tweet da Classe 1

A narrativa que se delineia no Twitter desafia a que foi construída pelas instituições oficiais. Ainda que a justiça tenha declarado Aranha inocente, as mulheres não aceitam a história que foi contada e assim buscam confrontar a tese apresentada pela defesa. O que pôde ser interpretado como ‘estupro culposo’, ou seja, que não havia como o empresário saber, durante o ato sexual, que a jovem não estava em condições, é colocado em debate.

6.2 Classe 2: categoria solidariedade digital

A segunda categoria identificada consegue revelar a importância do apoio online. As postagens apresentam um senso de coletividade, de união, que move diversas mulheres por uma causa. Essa solidariedade pode ser identificada tanto pela reunião em protestos nas ruas quanto também pela viralização da mensagem e do caso, para que mais pessoas conheçam e apoiem o movimento.

Figura 6 -
Tweet da Classe 2

É interessante notar que, apesar da faísca inicial que leva as mulheres às ruas ser por conta de Mariana, em uma mesma frase é possível perceber como os objetivos são amplos. Não existem ações pragmáticas para de fato mudar o resultado do julgamento de Ferrer. A ação se encontra no campo do discurso, simbólico. Há a noção da cultura do estupro, do machismo e da importância do movimento feminista para combatê-los, mas não há espaço para se aprofundar nas táticas de enfrentamento.

Mais uma vez, aqui se apresenta a noção de coletividade. Há uma expectativa em relação aos que os usuários irão fazer. O ato de ‘pedir’ por justiça pode muitas vezes ser apenas o compartilhamento da hashtag na rede social e marcar outras pessoas para que façam o mesmo.

Mais uma vez, tanto a Figura 7 como a Figura 8 mostram como a viralização no espaço digital é uma importante estratégia para este tipo de movimento. Ao marcar outros usuários para postarem com a hashtag, as ativistas buscam alcançar o maior número de pessoas, inclusive colocando a hashtag no Trending topics do Twitter, como forma de tentar ‘furar a bolha’ e alcançar novos públicos para conhecerem o caso de Mariana.

Figura 7 -
Tweet da Classe 2

Figura 8 -
Tweet da Classe 2

7 Considerações finais

A análise do movimento #JustiçaPorMariFerrer aponta como as mulheres utilizam estratégias discursivas para se expressarem, para se fazerem ouvidas. A força do feminismo de hashtag está na capacidade de lutar para redefinir realidades sociais, buscando novas formas para mulheres expressarem suas crenças com outras mulheres que compartilham de identidades sociais semelhantes, como expõe Dixon (2014DIXON, Kitsy. Feminist online identity: analyzing the presence of hashtag feminism. Journal of Arts and Humanities, Beaverton, v. 3, n. 7, p. 34-40, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.18533/journal.v3i7.509 . Acesso em: 11 ago. 2023.
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). Assim, na cibersociedade, uma postagem pode ganhar uma função política, pois denuncia as injustiças sofridas por uma pessoa, injustiça essa que é reconhecida por outras tantas mulheres.

Dessa forma, dizer que esse tipo de ativismo é inválido é ignorar todas as potencialidades do discurso, já há muito tempo sabido e utilizado pelo movimento feminista. Olhar para tais tipos de manifestação buscando ações pragmáticas é ignorar a própria gênese do movimento, em rede, descentralizado e múltiplo. Portanto, para que as potencialidades das hashtags sejam capturadas, é preciso compreender as características da sociedade em rede, cada vez mais digitalmente conectada, como o favorecimento e expansão de laços fracos e múltiplos, assim como a colaboração de diversos atores.

Dessa forma, as hashtags são capazes de construir uma narrativa colaborativa, ecoando diferentes vozes em um mesmo movimento, com diferentes pessoas expondo seus pontos de vistas, dores, visões sobre os fatos comentados. As hashtags, nesse sentido, também formam uma memória coletiva sobre um determinado assunto ou acontecimento. Estudá-las, buscando avaliar uma quantidade maior de postagens, é útil para capturar quantitativamente um sentimento generalizado sobre um acontecimento. Ao analisar as hashtags utilizadas em um determinado momento e contexto, é possível identificar os temas mais relevantes, os atores envolvidos, as opiniões e os sentimentos expressos pelos usuários. Com a análise, foi possível perceber que há um consenso sobre a desconfiança e indignação com as instituições oficiais, assim como um incentivo para a solidariedade digital. Sabe-se, porém, que existem limitações, que podem cair em generalizações. Como já citado anteriormente, a análise nos permite ter um norte, buscando evitar vieses causados por um recorte muito limitado. Porém, para que haja uma maior compreensão das manifestações sociais no contexto das redes digitais, é valido complementar com outros métodos que permitam capturar mais nuances do fenômeno, de forma mais aprofundada.

As mulheres, então, buscam formas de se filiar ao ativismo e se ajudar, ainda que através de laços fracos e temporais. Contudo, a indignação é tão grande que o movimento cria forças, o que talvez não ocorreria sem as potencialidades proporcionadas pelas redes digitais. Assim, os participantes lutam para que a causa seja conhecida e para que mais pessoas se aliem, difundindo assim pontos de vistas e pensamentos.

O feminismo de hashtag, porém, não é o movimento feminista. É uma expressão dele. É também um sintoma de uma sociedade que cada vez mais desconfia das instituições democráticas e tem dificuldade de se aliar e se comprometer em níveis mais profundos. Afinal, é um impulso repentino que, ao mesmo tempo que tem grande força e destaque, também acaba rápido e não se perpetua. Papacharissi (2016PAPACHARISSI, Zizi. Affective publics and structures of storytelling: sentiment, events and mediality. Information, Communication & Society, London, v. 19, n. 3, p. 307-324, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1080/1369118X.2015.1109697 . Acesso em: 11 ago. 2023.
https://doi.org/10.1080/1369118X.2015.11...
) porém, nos lembra que revoluções podem parecer instantâneas, mas seu impacto se desdobra ao longo do tempo. Assim, estudar os contextos semânticos de um movimento com tanto engajamento ajuda indicar os caminhos para os quais nossa sociedade está rumando.

Parecer de avaliação

O parecer de avaliação deste artigo está disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/view/125902/90069

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  • 6
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    15 Jul 2022
  • Aceito
    03 Jun 2023
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