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Mediação literária nas bibliotecas universitárias federais brasileiras

Literary mediation in brazilian federal academic libraries

Resumo

As bibliotecas universitárias são instituições sociais vinculadas às universidades, as quais tem uma responsabilidade social não apenas com a ciência, mas com a sociedade como um todo. Diante disso, são inúmeros os desafios e problemas que são postos a ambas, universidades e bibliotecas, como, por exemplo, os baixos índices de leitura do povo brasileiro. Afinal, será que a biblioteca universitária tem alguma coisa a ver com isso? Acreditamos que sim, por isso, a mediação literária é objeto de estudo neste artigo que visa observar a existência de projetos nos sites das bibliotecas centrais, vinculadas as universidades federais brasileiras. A pesquisa é considerada descritiva e de cunho documental. A mediação literária, envolve a literatura, os leitores e mediadores que podem ser os bibliotecários ou não, num processo complexo de elaboração coletiva de significados e suas formas de partilha. Os resultados oriundos da pesquisa demonstram uma quantidade reduzida de projetos, sendo o mais potente para as concretizações das mediações literárias os clubes de leituras. Sendo, portanto, as mediações literárias uma ação a ser desenvolvida ou apoiada pelas bibliotecas universitárias a fim de que a função social, cultural e formativa dos sujeitos, possa ser fortalecida pelas instituições públicas que prestam serviços a comunidade acadêmica, e, em geral.

Palavras-chave:
mediação literária; biblioteca universitária; biblioteconomia social; bibliotecários; mediadores de leitura

Abstract

University libraries are social institutions linked to universities, which have a social responsibility not only to science but to society as a whole. Given this, there are countless challenges and problems posed to both universities and libraries, such as, for example, the low reading rates of the Brazilian people. After all, does the university library have anything to do with this? We believe so, which is why literary mediation is the object of study in this article, which aims to observe the existence of projects on the websites of central libraries, linked to Brazilian federal universities. The research is considered descriptive and documentary in nature. Literary mediation involves literature, readers, and mediators who may or may not be librarians, in a complex process of collective elaboration of meanings and their forms of sharing. The results from the research demonstrate a reduced number of projects, the most powerful for the implementation of literary mediations being reading clubs and the creation of specific spaces. Therefore, literary mediations are an action to be developed or supported by university libraries so that the social, cultural, and formative function of subjects can be strengthened by public institutions that provide services to the academic community, and in general.

Keywords:
literary mediation; academic library; social librarianship; librarians; reading mediators

1 Introdução

Quem acredita nos direitos humanos procura transformar a possibilidade teórica em realidade, empenhando-se em fazer coincidir uma com a outra (Candido, 1995CANDIDO, Antonio. Direito à literatura. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995., p. 172).

Nos últimos tempos, tem havido preocupações sobre as bibliotecas frente às novas demandas do nosso tempo, qualificadas em vários estudos. Sobre as bibliotecas universitárias em face dessas novas demandas, se relacionam, como não poderia ser diferente, às demandas da própria universidade; tomam, assim, as características dessa instituição (Tarapanoff, 1982TARAPANOFF, Kira. A biblioteca universitária vista como uma organização social. Estudos Avançados em Biblioteconomia eCiência da Informação , Brasília, v. 1, p. 73-92, 1982.). Mais recentemente, tem surgido estudos que problematizam as avaliações e suas metodologias, para entendimento das especificidades das bibliotecas universitárias (doravante, tratadas como BUs) e sua função, dentro do sistema universitário.

As universidades, por sua constituição, são instituições pluridisciplinares, de formação profissional, pesquisa e extensão (Brasil, 1996BRASIL. Ministério da Educação. Lei n. 9394 de 20 de dez. de 1996. Institui as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União : seção 1, Brasília, ano 134, n. 247, p. 1, 20 dez. 1996. ), demandam a existência de bibliotecas, como uma instituição para atendimento das necessidades de informação e apoio a essas atividades da universidade em que ela se constitui (Cunha, Cavalcanti, 2008CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordélia. Dicionário de biblioteconomia e arquivologia. Brasília: Briquet de Lemos, 2008.; Reitz, 2013REITZ, Joan M. Online Dictionary for Library and Information Science. Westport: Greenwood Publishing Group, 2013. ). Sendo criada e mantida pela instituição a qual ela atende, as bibliotecas universitárias são mantidas por sua “[...] instituição de ensino superior e [...] atende às necessidades de informação dos corpos docente, discente e administrativo, tanto para apoiar as atividades de ensino, quanto de pesquisa e extensão. Em sua estrutura, ela pode ser uma única biblioteca ou várias organizadas como sistema ou rede” (Cunha; Cavalcanti, 2008CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordélia. Dicionário de biblioteconomia e arquivologia. Brasília: Briquet de Lemos, 2008., p. 53).

O maior público das bibliotecas universitárias são os estudantes da graduação, da pós-graduação, professores e demais pesquisadores. É provável que durante o momento da formação acadêmica dos estudantes da graduação haja uma concentração nas leituras formativas das bibliografias básicas e complementares. Tal percepção, no âmbito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ficou atestada, pois, majoritariamente, a comunidade universitária se utiliza da biblioteca para atendimento dos serviços básicos, como empréstimos de livros acadêmicos e uso do espaço para estudar sozinho, o que não inclui os empréstimos de livros literários, na verdade, uma boa parcela, inclusive desconhece a presença desses acervos (Fonseca, 2023FONSECA, Aline Jardim. A biblioteca universitária como fomentadora da leitura literária: um estudo de caso no Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2023. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão da Informação e do Conhecimento) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2023.).

Como dito, o espaço da biblioteca também se faz, de suma importância, para os estudos e desenvolvimentos dos trabalhos individuais ou em grupo em seus espaços (Fonseca, 2023FONSECA, Aline Jardim. A biblioteca universitária como fomentadora da leitura literária: um estudo de caso no Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2023. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão da Informação e do Conhecimento) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2023.). Isto não é um problema, muito pelo contrário é papel da biblioteca universitária contribuir ao máximo para diversas atividades realizadas durante a vida acadêmica dos estudantes da graduação à pós-graduação. Contudo, as bibliotecas universitárias não estão dissociadas do contexto local, regional, nacional, e, tal como atesta a pesquisa Retratos da Leitura (Instituto Pró-Livro, 2020INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Retratos da leitura no Brasil. 5. ed. São Paulo: IPL, 2020. Disponível em: https://www.prolivro.org.br/5a-edicao-de-retratos-da-leitura-no-brasil-2/a-pesquisa-5a-edicao/ . Acesso em: 12 jan. 2023.
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), em sua 5ª edição, 48% dos brasileiros não são leitores. Resultado contundente, em se tratando da concepção de leitor para esse estudo, que considera leitora toda pessoa que leu pelo menos um livro, inteiro ou em partes, nos últimos três meses. Ainda mais contundente quando percebemos que desse resultado, ainda há a predominância de leitores de livros lidos em partes.

É nesse sentido que acreditamos que caberia às bibliotecas universitárias, além da sua missão mais costumeira, de propiciar acesso às informações para atendimento às demandas da universidade (de ensino, pesquisa e extensão), elas devam possibilitar acesso a outros serviços e acervos para que haja mais leituras1 1 O próprio ato de ler (livros, jornais, revistas), de uma perspectiva ampliada da leitura, parece estar em crise no ensino superior, que vem desde, na verdade, a tenra idade, pelo afastamento da leitura o âmbito familiar e escolar (Almeida; Silva, 2018). Discussão sobre a importância da leitura na universidade também fora abordada por Pires (2012), Silva e Bin (2017), entre outros. não obrigatórias, mais atividades de mediação cultural e literária, estas que são mais comumente realizadas nas bibliotecas escolares, públicas e comunitárias2 2 Tais bibliotecas que são inclusive direitos de toda a população brasileira previstas em leis (Lei federal 12.244/2010, universalização das bibliotecas escolares e Lei federal 13.696/2018, política nacional da leitura e escrita (Brasil, 2010, 2018) não são amplamente concretizadas. Passados mais de quatorze anos o cenário das bibliotecas escolares ainda não é uma realidade nacional, mais, recentemente, a Lei 14.837, de 2024 (Brasil, 2024), vem reiterar essa obrigatoriedade das bibliotecas escolares, com profissionais especializados, e a criação um sistema nacional de bibliotecas escolares. Muitas são as escolas públicas e privadas, bem como municípios e estados que ainda não dispõem de bibliotecas públicas, ou quando existem não são centralidade das políticas públicas. De um modo, mais orgânico, devido a vinculação obrigatória da existência da biblioteca universitária e os cursos superiores, os quais são inclusive avaliados sistematicamente pelo Ministério da Educação, que se preocupa com a infraestrutura (uma delas a biblioteca), que no âmbito federal das universidades dispomos de bibliotecas abertas, integradas em um sistema de bibliotecas. Assim, diante da presença das bibliotecas universitárias na vida da comunidade acadêmica que, novamente, se destaca a importância do acesso ao acervo literário, com um dos caminhos possíveis para minimizar a falta de relação com tais acervos e bibliotecas ao longo da vida dos sujeitos. . Reiterando esse ciclo de estudos e vida acadêmica, os estudantes da pós-graduação, por sua vez, tendem a se concentrar no desenvolvimento de seus trabalhos seja no mestrado ou do doutorado, isto é, na leitura da literatura acadêmica. Barreto (2018BARRETO, Damaris de Queiroz. A leitura literária no contexto acadêmico. 2018. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Programa de pós-graduação em Ciência da Informação, Fortaleza, 2018.) ao investigar as relações estabelecidas durante o percurso acadêmico com as práticas leitoras dos mestrandos em Ciência da Informação, de dois programas de pós-graduação, confirmou que o ingresso no ensino superior ocasiona progressivamente afastamento das práticas de leituras literárias que se iniciam na graduação e se acentuam na pós-graduação (Barreto, 2018BARRETO, Damaris de Queiroz. A leitura literária no contexto acadêmico. 2018. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Programa de pós-graduação em Ciência da Informação, Fortaleza, 2018.), embora, obviamente, os usuários, quando perguntados, sempre reconheçam a importância da leitura literária para a vida e para a vida acadêmica (Fonseca, 2023FONSECA, Aline Jardim. A biblioteca universitária como fomentadora da leitura literária: um estudo de caso no Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2023. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão da Informação e do Conhecimento) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2023.; Barreto, 2018BARRETO, Damaris de Queiroz. A leitura literária no contexto acadêmico. 2018. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Programa de pós-graduação em Ciência da Informação, Fortaleza, 2018.).

Essa orientação mais restrita das suas atribuições poderia ser incorporada no discurso o desenvolvimento social e cultural dos indivíduos a partir da leitura literária; de modo que, a universidade e as bibliotecas se ocupariam também com a “[...] função cultural a partir da leitura como veículo de conscientização social e fonte de prazer estético - sentidos de ética e estética” (Tinoco, 2014TINOCO, Robson Coelho. A intricada leitura de literatura - um novo processo socioeducacional de conhecimento. Educar em Revista, Curitiba, n. 52, p. 121-136, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0104-4060.36287 . Acesso em: 6 dez. 2023.
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, p. 124). A dimensão social das bibliotecas universitárias a partir da noção de serviços e da comunhão com a comunidade pode ser mais trabalhada na literatura acadêmica como apontam Meneses-Tello e Tanus (2024MENESES-TELLO, F. ; TANUS, G. F. de S. C. Biblioteca, universidad y sociedad: desafíos sociales de las bibliotecas universitarias contemporáneas. Revista Informação na Sociedade Contemporânea, Natal, v. 8, n. 1, p. 1-39, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.21680/2447-0198.2024v8n1ID35017 . Acesso em: 12 jan. 2023.
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), e concretizada em ações a partir dessa instituição social que é a biblioteca. Os desafios das bibliotecas em universidades perpassam pela formação cidadã, diversidade cultural, direitos humanos e meio ambiente, por exemplo, ocasionando impactos internos (comunidade acadêmica) e externa (sociedade).

Então, o que se coloca neste texto é a importância de a biblioteca tomar como sua responsabilidade a ampliação de suas funções, no sentido de se voltar para a formação humana e cultural de toda a comunidade acadêmica, inclusive dos servidores técnico-administrativos e terceirizados, que são “esquecidos” pelas políticas institucionais quanto ao uso de seus espaços e serviços (Fonseca, 2023FONSECA, Aline Jardim. A biblioteca universitária como fomentadora da leitura literária: um estudo de caso no Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2023. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão da Informação e do Conhecimento) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2023.). Isso porque é a biblioteca universitária, por meio de seus bibliotecários que fará a mediação das relações entre docente e discentes, docente e docente, técnicos-administrativos e docentes, participando na construção da dinâmica dos trabalhos desenvolvidos na instituição de ensino superior (Oliveira, 2010OLIVEIRA, Joelma Gualberto. Processo de avaliação do INEP / MEC de bibliotecas universitárias pertencentes às instituições de educação superior privadas de Belo Horizonte/MG. 2010. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação ) - Escola de Ciência da Informação , Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.).

A mediação pode ser vista, para além do grosso modo, como um processo de levar algo a alguém, de estar entre duas coisas, sendo uma prática dialógica complexa (Cardoso, 2014CARDOSO, Beatriz. Mediação literária na Educação Infantil. Glossário CEALE. Belo Horizonte: FaE/UFMG, 2014.). Armando Silva e Fernanda Ribeiro (2010SILVA, Armando Malheiro da; RIBEIRO, Fernanda. Paradigmas, serviços e mediações emCiência da Informação . Recife: Nectar, 2010.) apontam a necesidade de promoção e apropriação crítica do conceito de “mediação”, em observância da área de estudo de sua utilização. No caso aqui posto, na mediação literária, estão envolvidas a experiência e vivência de leitores, iniciantes e iniciados, no âmbito da recepção e compreensão do texto, dos contextos. Ela, portanto, trata não só do processo em si, que se finda após sua realização, mas dos efeitos e resultados construídos, de experiência de relação e compartilhamento, entre sujeitos e textos, entre experiências e vivências preexistentes, entre experimentações da leitura e elaborações de significados, para a formação de coletividades, ou, em processos mais positivos, de comunidades. Se a “[...] mediação manifesta-se na emergência de uma linguagem, de um sistema de representações comum a toda uma comunidade, a toda uma cultura” (Silva; Ribeiro, 2010SILVA, Armando Malheiro da; RIBEIRO, Fernanda. Paradigmas, serviços e mediações emCiência da Informação . Recife: Nectar, 2010., p. 3), como processo ativo, ela não significa a aceitação passiva de sistemas e do comum partilhado, mas a elaboração coletiva de significados e suas formas de partilha, sendo, portanto, uma atividade para construção social.

A mediação literária é, então, tensionada como mais uma das possibilidades de reflexão e ação a ser realizada pela Biblioteconomia e Ciência da Informação. Nesse sentido, a mediação literária significa mais que a possibilidade de propiciar o acesso à leitura literária, mas, sim, a mobilização da literatura com os agentes (leitores e mediadores) na intenção de uma construção coletiva de significados e relações. Assim, é com vistas a contribuir para aumentar as discussões das bibliotecas universitárias e sua dimensão sociocultural para a mediação literária, que este artigo se localiza, em busca de respostas para as questões contemporâneas já existentes sobre ampliação das funções, ainda que, como atestou Rasteli e Caldas (2019RASTELI, Alessandro; CALDAS, Rosângela Formentini. Mediação cultural e bibliotecas: perspectivas conceituais na Ciência da Informação no Brasil. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação , Florianópolis, v. 24, n. 54, p. 1-13, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2019v24n54p1 . Acesso em: 4 jan. 2024.
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, p. 22), “[...] se observa o pequeno montante de pesquisas na área de Ciência da Informação relativas à cultura, às artes e ao lazer”.

Ao se advogar a favor da transformação social a partir da leitura literária aproximamo-nos da “Biblioteconomia Social”, que coloca luz à biblioteca como um equipamento cultural, social, político. As bibliotecas universitárias têm potencial e infraestrutura para introduzir outros serviços formativos para os sujeitos, que extrapolem o esperado e a vida acadêmica, atendendo ao que ocorre também fora da universidade. As viradas pelas quais a Biblioteconomia e as bibliotecas vêm passando é essencial, tanto para o campo científico quanto para as instituições, pois “[...] é preciso acompanhar os movimentos, e girar, virando para o social, encantando-se com as pessoas e fortalecendo as comunidades” (Tanus, 2023TANUS, G. F. S. C. Biblioteconomia social: uma virada social. Ciência da Informação Express , Lavras, v. 4, p. 1-6, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.60144/v4i.2023.101 . Acesso em: 6 dez. 2023.
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, p. 5).

Diante disso, este artigo tem como objetivo mapear as ações de mediação literária realizadas pelas bibliotecas universitárias federais brasileiras, a fim de que possamos ampliar as reflexões sobre as novas demandas e as que são necessárias, ainda que não tenham se delineado como tal. Para tanto, recorreu-se a pesquisa documental que envolveu a busca em todos os sites das bibliotecas centrais das 69 universidades federais, durante o mês de novembro de 2023, com vistas a encontrar projetos realizados de mediação literária. A estratégia utilizada pode ser um primeiro caminho para que os bibliotecários das bibliotecas universitárias possam reconsiderar a visibilização ou mesmo a inclusão dos serviços voltados para as mediações, em especial, a mediação literária, como um novo serviço que seja explícito no próprio portal institucional, além de uma prática que pode ser fomentada ou apoiada pelas bibliotecas e sua comunidade acadêmica, composta de estudantes, servidores técnico-administrativos, terceirizados, docentes, pesquisadores e, é claro, os próprios bibliotecários3 3 Michèle Petit (2009a) nomeia os bibliotecários como mediadores de livros, de leituras e literaturas, e qualquer outra pessoa “se for determinada, se dispuser de um pouco de tempo e de vínculo com uma instituição ou uma comunidade local”, e acrescenta “Alguém que manifesta à criança, ao adolescente, e também ao adulto, uma disponibilidade, uma recepção, uma presença positiva e o considera como sujeito. “Tudo começa com uma hospitalidade” (Petit, 2009a, p. 48), envolve acolhimento, presença e escuta. .

2 Ampliando a responsabilidade social e cultural da biblioteca universitária

Ali, podemos experimentar uma relação com o livro que não se funda somente nas perspectivas utilitaristas da instrução, e nos abandonar a esses tempos de desvaneio em que não se deve prestar contas a ninguém, nos quais se forja o sujeito, e que, tanto quantos os aprendizados, ajudam a crescer e a viver (Petit, 2009 a PETIT, Michèle. A arte de ler: ou como resistir à adversidade. São Paulo: Ed. 34, 2009a., p. 273).

Como uma instituição que presta serviço e apoio às Universidades, a biblioteca universitária está subordinada à administração central das universidades (as reitorias), sendo, portanto, de acordo com Miranda (1979MIRANDA, Antônio. Biblioteca Universitária no Brasil: reflexões sobre a problemática. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 1., 1979, Niterói. Anais [...]. Niterói, UFF, Núcleo de Documentação, 1979., p.178), “[...] um organismo dentro de outro maior, seria procedente investigar o que o organismo maior pensa e espera da biblioteca, na tentativa de saber os seus limites e atribuições segundo as possibilidades reais”. Nessa mesma direção, que ela deve bem compreender o sistema mais amplo (a instituição) e que é a partir da definição dos objetivos do sistema educacional que serão especificados os objetivos da unidade de informação que lhe presta serviço, ou seja, sendo a biblioteca universitária um subsistema desse sistema educacional (Carvalho, 1976CARVALHO, Abigail de Oliveira. Biblioteca universitária: estudo de usuário. Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, v. 5, n. 2, p. 1-11, 1976.).

Dessa forma, os interesses da biblioteca universitária precisam estar adequadamente alinhados à visão, aos valores e à missão da sua instituição mantenedora, os quais, estão a preocupação com a educação, com a produção do conhecimento, com a preservação e difusão das artes, e com desenvolvimento da ciência em todos os ramos do conhecimento, para o desenvolvimento do ser humano (reflexivo, crítico e ético), orientados para o mundo do trabalho e para a vida em sociedade, comprometendo-se, com isso, com os direitos humanos, com a justiça social, a sustentabilidade, a democracia e a cidadania. Assim, como organizações que apoiam as atividades de ensino, pesquisa e extensão das universidades, as bibliotecas universitárias são consideradas espaços de aprendizado, de formação.

É nesse sentido, de suporte às atividades da universidade, entre ensino, pesquisa e extensão, que elas são, segundo Hubner e Kuhn (2017HUBNER, Marcos Leandro Freitas; KUHN, Ana Carolina Araújo. Bibliotecas Universitárias como espaços de aprendizagem. Biblos, Rio Grande, v. 31, n. 1, p. 51-72, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.14295/biblos.v31i1.6509/ . Acesso em: 12 jan. 2023.
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, p. 52), “[...] instituições presentes na trajetória da formação acadêmica da maioria dos estudantes do ensino superior, contribuindo para o seu crescimento pessoal e profissional e inserindo-os no universo da pesquisa”, que, de forma estratégica como interlocutora da informação, ela deve se abrir como intenção/local de desenvolvimento de ações extensionistas, considerando as demandas da comunidade interna e externa de usuários (Araújo; Oliveira, 2018ARAÚJO, Ana Rafaela Sales; OLIVEIRA, Rebecca Maria de Freitas Sousa. Ações de extensão empreendidas por bibliotecas universitárias: estudo dos anais do Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (2013-2017). Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 14, p. 154-170, 2018.).

Conferindo um peso ainda maior no que tange ao suporte dado às atividades de ensino, pesquisa e extensão e à sua responsabilidade, como ressaltado por Viana e Pieruccini (2018VIANA, L.; PIERUCCINI, I. Informação e educação no ensino superior: a biblioteca universitária como espaço formativo. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS- GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 19., 2018, Londrina. Anais [...]. São Paulo: ANCIB , 2018., p. 3340), a biblioteca universitária, atualmente, no Brasil:

[...] constitui categoria de controle de desempenho da instituição à qual está filiada, conforme decreto federal no 3.860, de 09 de julho de 2001, que atribui ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) a responsabilidade por organizar e proceder às avaliações de cursos de graduação e suas respectivas instituições de ensino superior (IES).

Essa atribuição pode também, em certa medida, propiciar uma limitação do que sejam suas atividades, pois como alertam Pereira Júnior e Medeiros (2019PEREIRA , JÚNIOR Nilo Marinho; MEDEIROS, Valéria da Silva. A biblioteca como espaço de incentivo à formação de leitores literários. Revista Philologus, Rio de Janeiro, v. 25, n. 75 (supl.), p. 58-74, 2019. , p. 65), “[...] é comum a maioria das bibliotecas se ocupar das diretrizes determinadas pelo INEP e acabam tendo pouco tempo e oportunidades de direcionar sua atenção para eventos que fomentem a leitura literária”. Todavia, é necessário também que a biblioteca universitária possa ser encarada como um espaço cultural que ultrapasse seu papel de fomentadora apenas da construção do conhecimento acadêmico-científico. E, de acordo com os autores, “[…] a biblioteca universitária, […], dispõe de meios para transformação social pela via do estímulo à leitura literária” (Pena; Crivellari; Gonzale; Mangue, 2014PENA, André de Souza; CRIVELLARI, Helena Maria Tarchi; GONZALE, José Antonio Moreiro; MANGUE, Manuel Valente. Políticas institucionais de incentivo à leitura em bibliotecas universitárias: estudos de caso no Brasil, Espanha e Moçambique. In: SEMINÁRIO ANUAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 18., 2014, Belo Horizonte. Anais [...]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2014. p. 1541-1559., p. 3).

Assim, enfocar a leitura como primordial na construção cidadã da comunidade acadêmica perpassa, nas palavras de Sousa e Feitoza (2018SOUSA, Laiana Ferreira; FEITOZA, Rayan Aramís de Brito. Responsabilidade social do bibliotecário enquanto mediador literário: análise nos currículos dos cursos de graduação em biblioteconomia no nordeste do Brasil. Informação@Profissões, Londrina, v. 7, n. 1, p. 58-76, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.5433/2317-4390.2018v7n1p58 . Acesso em: 6 dez. 2023.
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, p. 59), a “[...] prática de leitura [que] é fator preponderante para a construção de sujeitos conscientes dos desdobramentos sociais, políticos, econômicos, linguísticos e psicológicos”. Entretanto, a leitura, por si, não pode ser vista como passaporte para a cidadania ou como uma garantia antifracasso, que tende a torná-la atividade obrigatória, que originam posicionamentos morais sobre a necessidade da leitura e do desejo de se ler (Petit, 2009a PETIT, Michèle. A arte de ler: ou como resistir à adversidade. São Paulo: Ed. 34, 2009a.). Diferente disso, como disse o professor Antonio Candido, é por meio da leitura de textos literários que se tem o potencial de humanização, na medida em que confirma, nos sujeitos, os:

[...] traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante (Candido, 1995CANDIDO, Antonio. Direito à literatura. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995., p. 182).

Dessa forma, é com o incentivo à leitura de textos literários na universidade que se pode, além de melhorar a formação dos acadêmicos, fomentar um novo hábito de leitura, o que viria a incrementar o repertório cultural dos estudantes, professores, servidores técnico-administrativos (Fonseca, 2023FONSECA, Aline Jardim. A biblioteca universitária como fomentadora da leitura literária: um estudo de caso no Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2023. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão da Informação e do Conhecimento) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2023.), que são cidadãos, localizados em uma sociedade marcada pelas escritas e leituras. Decerto, a leitura literária serve mais que aos dois polos que a definem; de um lado, a leitura voltada para a utilidade escolar/acadêmica, por outro lado, a leitura pela distração, pelo prazer (Petit, 2009a PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Ed. 34 , 2009b.). Além disso, como Petit (2009aPETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Ed. 34 , 2009b., p. 41) esclareceu, é preciso ir além dessas visões, pois a leitura é uma “necessidade existencial, uma exigência vital”; os seres humanos a partir da literatura constroem sentido a sua vida, para sua existência e do outro.

Como uma atividade complexa, de produção de sentidos, pelas relações que se estabelecem, entre autoria/texto/recepção, torna-se importante para a formação crítica, porque, para sua ação, parte-se da avaliação da consistência (insistência do expresso pelo texto e sua compatibilidade com o conhecimento prévio e com os fundamentos, deslocando-se do trivial; realiza-se a percepção sobre os momentos e condições da compreensão construída, se pela revisão, pela retomada, pela inquirição, como atos necessários, aos quais são elaboradas inferências de diversos tipos, como as interpretações, as hipóteses formuladas, as previsões possíveis, e as conclusões apresentadas (Solé, 1998SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.). Tal esforço construtivo compreende os propósitos implícitos e explícitos da leitura, em conexão com os nossos conhecimentos prévios que podem ser relevantes para a interpretação (Solé, 1998). E nessas atividades, o sujeito da leitura, que no caso das universidades é tradicionalmente o discente, revela que não é incauto, vazio; realizando operações complexas em busca de entender o texto. Ou, como disse Michèle Petit:

O leitor não é passivo, ele opera um trabalho produtivo, ele reescreve. Altera o sentido, faz o que bem entende, distorce, reemprega, introduz variantes, deixa de lado os usos corretos. Mas ele também é transformado: encontra algo que não esperava e não sabe nunca onde isso poderá levá-lo (Petit, 2009b PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Ed. 34 , 2009b., p. 28).

A questão passa a ser como transformar essas operações, que são mobilizadas pelos sujeitos, em uma grande “comunidade de afetos” (Souza, 2023SOUZA, Gustavo Tanus Cesário. O universo e as estrelas em literaturas infantil e juvenil: caminhos discursivos das literaturas negro-brasileira e indígena. 2023. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2023. ), uma comunidade de partilhas e construções potentes para os sujeitos envolvidos. Para tanto, as bibliotecas universitárias se colocarem, como disse bell hooks (2013HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: WME Martins Fontes, 2013.), “comunidade de aprendizagem”, todo mundo sentiria confiança de falar e de ser ouvido, de escrever, podendo selecionar as coisas relevantes (não como acertos frente a uma interpretação modelar, mas relevância nas questões postas, nas relações realizadas, para conseguir interpretar, e construir conhecimento). Assim, desenvolver a formação coletiva, com mais potencialidades, para a vida em sociedade, torna-se uma tática importante, para o leitor em diálogo com pares, em todos em formação.

Todorov (2009TODOROV, T. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: Difel, 2009.) constatou que o espaço da literatura tem se tornado escasso em nossa sociedade, seja pela corrosão que o didatismo realiza, nas escolas, ou na crise que ela atravessa na imprensa, em perdas dos lugares da crítica, seja também na nossa vida cotidiana, em que ela rivaliza com a “aceleração digital”, que fragmenta o tempo disponível para a leitura. Em verdade, essas têm sido as contingências alteradoras da leitura literária, entretanto, como disse Benedito Antunes (2015ANTUNES, Benedito. O ensino da literatura hoje. Revista FronteiraZ: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária, São Paulo, n. 4, p. 3-17, 2015., p. 218), a questão, em análise menos rápida, não seja quantificar e localizar as perdas, mas perceber as “[...] novas condições em que a leitura ocorre, a literatura torna-se ainda mais relevante”. Assim, sob essa perspectiva, acreditamos ser possível que a biblioteca universitária possa lançar mão de todo o seu potencial institucional devotada a mediação informacional para incrementar novas formas de mediação, entre elas a cultural (conceito mais amplo por envolver outras manifestações culturais) e a literária (foco deste trabalho).

Com vistas a enriquecer e ressignificar a trajetória acadêmica de seu público-alvo e, deste modo, poder suprir possíveis lacunas no desenvolvimento da leitura dos estudantes da graduação, pós-graduação e da comunidade em geral, assim como formar e fortalecer a dimensão dos usuários enquanto leitores literários todas as bibliotecas tem papel inestimável (ainda mais quando pensamos que as bibliotecas universitárias federais tendem a ter mais infraestrutura). Sobre isso é fundamental a constituição também a partir da biblioteca da “[...] comunidade de leitores, que compartilham leituras, partilham afetos, em projetos de vida compartilhada” (Souza, 2023SOUZA, Gustavo Tanus Cesário. O universo e as estrelas em literaturas infantil e juvenil: caminhos discursivos das literaturas negro-brasileira e indígena. 2023. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2023. , p. 180), visando a “comunidade de afetos”, comunidade de diálogo, de cooperação em construção de afetos múltiplos (Souza, 2023SOUZA, Gustavo Tanus Cesário. O universo e as estrelas em literaturas infantil e juvenil: caminhos discursivos das literaturas negro-brasileira e indígena. 2023. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2023. , p. 210).

As bibliotecas, inclusive, estão, segundo Rasteli e Caldas (2019RASTELI, Alessandro; CALDAS, Rosângela Formentini. Mediação cultural e bibliotecas: perspectivas conceituais na Ciência da Informação no Brasil. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação , Florianópolis, v. 24, n. 54, p. 1-13, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2019v24n54p1 . Acesso em: 4 jan. 2024.
https://doi.org/10.5007/1518-2924.2019v2...
, p. 19), enquadradas como pertencentes de um amplo sistema cultural, em que “[...] o acesso à cultura torna-se condição prévia que facilitaria (ou não) a produção e apropriação de produtos culturais efetivados por processos mediadores. Nesse sentido, as bibliotecas universitárias não deveriam ser conhecidas apenas por ser “[...] um espaço que fornece serviço de documentação e informação de maneira conservadora, mas também como uma difusora cultural, a qual proporciona atividades voltadas ao interesse dos usuários da instituição e da comunidade da qual ela faz parte” (Baptista; Gonçalves, 2018BAPTISTA, Michele Marques; GONÇALVES, Márcia Servi. Ações e atividades culturais em bibliotecas universitárias: a busca por espaços mais atrativos aos usuários na biblioteca central da Universidade de Caxias do Sul. Revista ACB, Santa Catarina, v. 23, n. 3, p. 542-554, 2018., p. 544).

Contudo, parece, ainda, haver alguns obstáculos que dificultam a visão desse tipo biblioteca como sendo também um espaço de cultura; conforme afirmaram Kushnir e Pieruccini (2019KUSHNIR, Maria Rosa Carnicelli; PIERUCCINI, Ivete. Biblioteca universitária e formação cultural. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 20., 2019, Florianópolis. Anais [...]. São Paulo: ANCIB, 2019., p. 7), “Parece claro que a falta de experiências culturais diversificadas, próprias às vividas em bibliotecas públicas, e aprendizagens pertinentes aos objetivos das chamadas bibliotecas escolares, traz consigo entraves à apropriação das BUs como bens culturais”.

Além disso, essa dificuldade em cunhar a biblioteca universitária como bem cultural a serviço de seus usuários reais e potenciais pode ser advinda do processo histórico de desenvolvimento da própria instituição que as mantêm, isto é, as instituições de ensino superior. Como também pelo fato igualmente já supracitado, acerca da biblioteca universitária, enquanto espaço físico de suporte informacional ao ensino, pesquisa e extensão, como dimensão infraestrutural avaliada na metodologia do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), dimensão fisicalista que não avalia qualitativamente os serviços e seus impactos sociais e culturais, por exemplo.

Nessa direção, que o quadro 1 a seguir revela os serviços mais frequentemente encontrados nos sites das bibliotecas centrais, e que não se encontra a mediação literária como algo comum a este ambiente.

Quadro 1 -
Serviços ofertados pelas bibliotecas universitárias

Ampliando a visão e defendendo a importância da formação literária, Ferraz, Paiva e Reis (2016FERRAZ, Marina Nogueira; PAIVA, Marília Abreu Martins; REIS, Débora Crystina. O espaço leitura da UFMG: uma biblioteca pública dentro da biblioteca universitária. Bibliotecas Universitárias: Pesquisas, Experiências e Perspectivas, Belo Horizonte, v. 3, n. 2, p. 19-32, 2016.) pontuam a relevância do acesso às obras literárias para toda a comunidade acadêmica, independentemente das exigências curriculares, uma vez que isso poderia contribuir para uma formação mais abrangente e menos tecnicista. Logo, se faz necessário, como conferem Viana e Pieruccini (2018VIANA, L.; PIERUCCINI, I. Informação e educação no ensino superior: a biblioteca universitária como espaço formativo. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS- GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 19., 2018, Londrina. Anais [...]. São Paulo: ANCIB , 2018.), questionar os papéis historicamente impostos à BU, uma vez que houve mudanças relativas ao quantitativo do público que a visita (Cunha, 2000CUNHA, Murilo Bastos da. Construindo o futuro: a biblioteca universitária brasileira em 2010. Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 1, p. 71-89, 2000. Disponível em: https://doi.org/10.18225/ci.inf.v29i1.901 . Acesso em: 12 jan. 2023.
https://doi.org/10.18225/ci.inf.v29i1.90...
), ao perfil sociocultural, à faixa etária, à formação básica, à expectativa quanto ao Ensino Superior, dentre outros que, de acordo com as autoras, são facilmente identificáveis nas Intituição de Ensino Superior (IES). Na mesma direção, Becker e Grosh (2008BECKER, Caroline da Rosa Ferreira; GROSCH, Maria Selma. A formação do leitor através das bibliotecas: o letramento e a ciência da informação como pressupostos. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação , São Paulo, v. 4, n. 1, p. 35-45, 2008., p. 42, grifo nosso) acreditam que a:

[...] profissão de bibliotecário está, ainda, muito regrada por conceitos de organização e administração de centros de informação, pouco expondo sua função educativa no sentido de auxiliar a comunidade de usuários na utilização correta das fontes de informação, de incentivar o estudante ou pesquisador a ler e freqüentar a biblioteca e, principalmente, de desenvolver o gosto pela leitura.

Por fim, partilhamos da visão de David Lankes (2016LANKES, David. Expect More: exigindo melhores bibliotecas para o mundo complexo de hoje. São Paulo: Febab, 2016.) que defende que a missão de todas as bibliotecas é melhorar a sociedade a partir da facilitação do acesso e da construção do conhecimento, em que a leitura se coloca como atividade essencial justamente para a criação do conhecimento. Então, as perguntas que o autor se faz e que devemos nos fazer são: O que aconteceu com a promoção à leitura e ao amor aos livros? Crer que a biblioteca possa oferecer mais, significa abandonar a leitura e a literatura, ficção e poesia? A resposta se apresenta, no que é o dever de todas das bibliotecas, em proporcionar todas as formas de aprendizado, incluindo a leitura literária, “[...] a ficção é tão importante para o aprendizado e construção do conhecimento quanto a leitura técnica”, não devendo as bibliotecas se limitarem a livros didáticos e artigos científicos. Inclusive porque “Um bom romance pode revelar uma verdade fundamental que às vezes nem a Filosofia conseguiria” (Lankes, 2016LANKES, David. Expect More: exigindo melhores bibliotecas para o mundo complexo de hoje. São Paulo: Febab, 2016.). Ademais, as bibliotecas são espaços sociais, de recreação, de engajamento, de aprendizado, do desenvolvimento da leitura (Lankes, 2016LANKES, David. Expect More: exigindo melhores bibliotecas para o mundo complexo de hoje. São Paulo: Febab, 2016.), em suma, “[...] a biblioteca é um espaço democrático de leitura para todos lerem o que quiserem e como quiserem” (Lankes, 2016LANKES, David. Expect More: exigindo melhores bibliotecas para o mundo complexo de hoje. São Paulo: Febab, 2016.).

Nessa direção ampliada das BUs e das mediações múltiplas, da informação, da cultura e da literatura, que a biblioteca do século XXI, integrante a uma instituição de ensino, pesquisa e extensão, deve se localizar. Caberia, portanto, a partir das BUs, a construção de experiências literárias que envolvem uma “[...] verdadeira apropriação e não sejam entendidos como algo que se impõe e sobre o que é preciso prestar contas” (Petit, 2009PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Ed. 34 , 2009b., p. 33), pensar nessa direção dentro de um ambiente que é regido para os estudantes com atividades avaliativas e pressão, torna-se potente para a construção mais efetiva e afetiva dos conhecimentos que se faz também na literatura.

Conservar, organizar e difundir informação ou assumir-se na função geral de apoio ao ensino técnico-científico não é mais plenamente suficiente dentro da complexidade que é a sociedade contemporânea, ou mesmo, o próprio sujeito como nos lembra Antonio Candido (1995CANDIDO, Antonio. Direito à literatura. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995.) é preciso entrar em contato com a fabulação. Sendo, a literatura e outras formas de ficção, um direito humano e uma necessidade universal, que mobiliza nos sujeitos emoções, sentimentos, valores, sonhos, risos, conflitos, visões de mundo, reflexões, sentimentos humanos.

3 Procedimentos metodológicos

Ao propormos como objetivo mapear as ações de mediação literária a partir dos sites das bibliotecas centrais, vinculadas às universidades federais do país, vamos ao encontro da classificação metodológica da pesquisa descritiva. Tais pesquisas almejam descrever as características de uma população, fenômeno ou experiência. Assim como, delineado por Gil (2007GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.) convocamos como técnica de pesquisa a documental, que utiliza fontes primárias, isto é, dados e informações que ainda não foram tratados científica ou analiticamente. Diante desse entendimento, os sites são fontes de informação para as pesquisas documentais. E ao nos localizarmos em uma sociedade imbricada com as tecnologias digitais da informação, a biblioteca, por sua vez, deve fazer parte dessa infraestrutura, sendo seu site uma das portas de entrada para as pessoas.

Não foi localizado nenhuma produção acadêmica que tenha realizado tal sistematização que propomos aqui, de considerar os sites das bibliotecas como fonte documental, para o desenvolvimento desse retrato. Por outro lado, registramos a pesquisa de Sá e Rocha (2022SÁ, Jéssica Patrícia Silva; ROCHA, Caroline Felema dos Santos. Mediação de leitura no contexto das bibliotecas universitárias: análise dos anais do CBBD (2017-2019). Folha de Rosto, Juazeiro do Norte, v. 8, n. 2, p. 244-267, 15 set. 2022.) que buscou analisar as publicações acerca da mediação literária nas bibliotecas universitárias nos anais do Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (CBBD), em duas edições, a de 2017 e a de 2019, que se configura em uma outra possibilidade de pesquisa. Sobre essa pesquisa as autoras encontraram um total de 891 trabalhos publicados. Sendo que destes apenas 18 (nove de cada edição) abordam o tema analisado, isto é, um número diminuto de relatos de experiências que envolvem a mediação literária nas instituições de ensino superior.

Retomando ao nosso caminhar, para o levantamento, nos websites, se buscou identificar e evidenciar os serviços institucionalizados, isto é, aqueles que são visíveis nos sites e tendem a ser permanentes, e não atividades esporádicas, como são, por exemplo, os eventos. Sobre isso é importante mencionar que muitas das BUs realizam eventos na Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, instituída pelo Decreto n. 84.631, de 9 de abril de 1980 (Brasil, 1980BRASIL. Decreto n. 84.631 , de 9 de abril de 1980. Institui a “Semana Nacional do Livro e da Biblioteca” e o “Dia do Bibliotecário”. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, n. 69, p. 6338, 14 abr. 1980. ), tendo início em 23 de outubro e término em 29 do mesmo mês, sendo a última data consagrada ainda ao Dia Nacional do Livro, momento de mobilização das mediações literárias. Assim, são publicadas nos websites as notícias do evento como acontecimento, e não como um tipo de serviço ou projeto durativo, e, por isso, aqueles cujas informações se perdem como notícias de eventos não foram considerados nesta pesquisa. Contudo, como exceção, a BU da Universidade Federal de Lavras traz esse tipo de serviço dentro da seção de projetos da biblioteca, mantendo a informação do histórico desses eventos da Semana do Livro e da Biblioteca.

De modo sistemático expõe-se, então, o quantitativo das IFES e os serviços encontrados nos websites das suas bibliotecas centrais. Na região Centro-Oeste foram pesquisadas oito bibliotecas centrais (vinculadas às oito universidades federais brasileiras da região), sendo localizados serviços de mediações literárias, uma realizada pela Universidade de Brasília (UnB) e outra na Universidade Federal de Jataí (UFJ), em Goiás, sendo que na primeira há também um espaço específico para a literatura.

Na região Nordeste, foram pesquisados os sites de bibliotecas centrais de vinte instituições, dentre as quais apenas uma mantém no website, a Universidade Federal do Ceará (UFC), a informação acerca do serviço. Na região Norte, foram onze websites de bibliotecas centrais visitados e uma ação encontrada, na Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Na região Sudeste, foram pesquisadas dezoito IFES que tiveram os websites de bibliotecas centrais analisados; foram detectadas sete instituições: na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), ambas em Minas Gerais.

Por fim, na região Sul foram onze instituições pesquisadas e três ações encontradas: na Universidade Federal do Paraná (UFPR), na Federal do Rio Grande (FURG), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ao analisarmos o quantitativo, percebemos que, pelo menos no que há de divulgação em canais formais, do montante de 69 IFES, um número muito reduzido sistematiza em projetos de mediação literária ou mesmo na opção serviços em seus websites oficiais das BU centrais. De um modo mais detalhado buscamos apresentar os resultados encontrados na seção seguinte.

4 Análise dos resultados

Os resultados da pesquisa advêm da visita aos sites das Bibliotecas Centrais das 69 IFES brasileiras distribuídas pelas cinco regiões do país, durante o mês de novembro de 2023. Importante reforçar que as bibliotecas setoriais não foram, neste momento, objeto deste estudo, que se concentrou nos websites das bibliotecas centrais das universidades federais brasileiras. Com a sistematização dos dados encontrados dispomos, a seguir, o Quadro 2, em que se apresentam as instituições que ofertam serviços e/ou espaços de mediação literária.

Quadro 2 -
Mediação literária nas bibliotecas centrais das universidades federais

Importante destacar que o projeto de mediação literária que se repete é o Clube de Leitura (UnB/BCE, 2023UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Biblioteca Central (UNB/BCE). Clube de leitura. Brasília, 2023. Disponível em: https://bce.unb.br/servicos/clubes-bce/clubedeleitura/ . Acesso em: 29 dez. 2023.
https://bce.unb.br/servicos/clubes-bce/c...
; UFPR/SIBI, 2023UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Sistema de Bibliotecas (UFPR/SIBI). Clube do Livro. Curitiba, 2023. Disponível em: https://bibliotecas.ufpr.br/servicos/clube-do-livro/ . Acesso em: 29 dez. 2023.
https://bibliotecas.ufpr.br/servicos/clu...
), em Brasília e no Paraná. É possível ver o quanto a ação é estruturada, a começar pela própria visibilidade no website, que traz informações dos objetivos, dos encontros e do público-alvo. Destacamos que ambos os serviços são abertos a comunidade interna e externa, o que potencializa mais a ação extensionista da universidade por via da biblioteca, para conhecermos mais sobre estes projetos:

O Clube de Leitura da BCE foi idealizado por um grupo de servidoras e servidores da BCE com o objetivo de fomentar a leitura dentro do ambiente da Biblioteca e da Universidade, ao proporcionar um espaço de debate e troca de ideias com usuárias(os), comunidade externa e servidoras(es). O Clube de Leitura da BCE é aberto à toda a comunidade acadêmica e externa. Reunião presencial: toda última quinta-feira do mês, às 12h. Reunião virtual: todas as sextas-feiras após o dia da reunião presencial, às 15h (UnB/BCE, 2023UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Biblioteca Central (UNB/BCE). Clube de leitura. Brasília, 2023. Disponível em: https://bce.unb.br/servicos/clubes-bce/clubedeleitura/ . Acesso em: 29 dez. 2023.
https://bce.unb.br/servicos/clubes-bce/c...
, grifo nosso).

O Clube do Livro do Sistema de Bibliotecas da UFPR é um serviço que visa desenvolver ações de incentivo à leitura e a discussão crítica de obras que nos façam sair da zona de conforto e refletir acerca de diversidade e questões sociais, num espaço democrático de troca de experiências, ofertado no formato on-line para toda comunidade interna e externa da instituição. Os encontros de discussão das obras são mensais (normalmente na última quinta-feira de cada mês, às 20 horas) e ocorrem no formato on-line, na plataforma Microsoft Teams, para que pessoas de diferentes localidades possam participar. O Clube é gratuito, e aberto a participação de qualquer pessoa da comunidade acadêmica da UFPR ou não. (UFPR/SIBI, 2023UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Sistema de Bibliotecas (UFPR/SIBI). Clube do Livro. Curitiba, 2023. Disponível em: https://bibliotecas.ufpr.br/servicos/clube-do-livro/ . Acesso em: 29 dez. 2023.
https://bibliotecas.ufpr.br/servicos/clu...
, grifo nosso).

Na Universidade Federal de Jataí, há opção do item “projetos culturais”, que consta “cinema lá fora”, que consiste na exibição de audiovisuais na parte externa da Biblioteca Flor do Cerrado; e “Diálogos: prosa, livro e café”. Esta é uma ação que consideramos para o presente levantamento, pois se baseia no incentivo à leitura e para construção do pensamento crítico, a partir de obras que fazem parte do acervo da biblioteca. Apesar de conseguirmos revocar a continuidade do projeto, não se encontra descrição mais detalhada sobre ele e suas edições. Mesmo assim, pela visibilidade da informação no menu do site da biblioteca, optamos por mantê-lo neste levantamento (UFJ/SIBI, 2023UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ. Sistema de Bibliotecas (UFJ/SIBI). Jataí, GO, 2023. Disponível em: https://bibliotecas.jatai.ufg.br/ . Acesso em: 29 dez. 2023.
https://bibliotecas.jatai.ufg.br/...
).

Na Universidade Federal do Ceará, o projeto “Livros livres”, em andamento desde 2016, tem como objetivo incentivar o gosto pela leitura, proporcionando espaços de cultura e lazer na universidade. Nesse projeto, os livros podem ser levados sem a efetivação do cadastro, e previsão de datas de devolução. A ideia é que as pessoas possam fazer o livro circular sem a sua institucionalização, sendo importante a manutenção dos acervos a partir das doações de livros (literatura brasileira e estrangeira - romance, poesia, conto, crônica), biografias, livros de autoajuda, histórias em quadrinhos, cordéis e outras obras de entretenimento; havendo exceção com relação aos livros didáticos e acadêmicos, por não condizerem com a proposta da atividade. Atualmente, o projeto “Livros Livres” conta com 16 espaços na UFC e dois externos (UFC/BU, 2023UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Biblioteca Universitária (UFC/BU). Livros Livres. Fortaleza, 2023. Disponível em: https://biblioteca.ufc.br/pt/servicos-e-produtos/livros-livres/ . Acesso em: 29 dez. 2023.
https://biblioteca.ufc.br/pt/servicos-e-...
).

Na Universidade Federal de Juiz de Fora, encontramos a ação “Livros na Tela”, que consiste em uma exposição na biblioteca sobre livros que foram adaptados para o cinema televisão ou outros formatos (UFJF, 2023UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA (UFJF). Bibliotecas. Livro na tela - exposição temática. Juiz de Fora, 2023. Disponível em: https://www2.ufjf.br/biblioteca/2023/07/04/livro-na-tela-exposicao-tematica/ . Acesso em: 20 maio 2024.
https://www2.ufjf.br/biblioteca/2023/07/...
). Tal ação poderia ser um projeto de extensão da biblioteca, possibilitando de modo mais amplo e sistemático a boa ideia que é a discussão entre as artes (literatura e cinema).

Na Universidade Federal de Lavras, há um item para os projetos da biblioteca (UFLA/BU, 2023UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS. Biblioteca Universitária (UFLA/BU). Projetos. Disponível em: https://bibliotecauniversitaria.ufla.br/projetos . Acesso em: 20 maio 2024.
https://bibliotecauniversitaria.ufla.br/...
), e nele uma listagem dos eventos “Semana do Livro e da Biblioteca” em nove edições - 2004, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, e “biblioteca itinerante”. Este, lançado em 2013, visa ultrapassar as fronteiras do espaço tradicional da biblioteca universitária e incentivar o hábito e o prazer pela leitura na cidade de Lavras e região, oferecendo, para isso, empréstimo de livros, exposições didático-científicas e atividades lúdicas e culturais. Contudo, não se sabe se o projeto continua em andamento. Sobre os eventos comemorativos intitulados “semana”, do livro, da biblioteca, percebemos que estes estão divulgados nos websites das bibliotecas universitárias como notícias sobre o acontecimento em si, não havendo uma preocupação em qualificá-lo como são, projetos durativos relacionados às atividades da biblioteca.

Outro projeto do sistema de bibliotecas da Universidade Federal de Ouro Preto, informado no website na seção de projetos, se chama “Ler por prazer”. Criado, em 2012, pela iniciativa da biblioteca de Nutrição, foi incorporado a outras bibliotecas setoriais. Em sua execução conta com a colaboração dos professores, técnicos administrativos e discentes da UFOP, por meio de doações de livros, tendo como objetivo “estimular o interesse da comunidade universitária à leitura de obras literárias” (UFOP, 2014UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO. Projetos na UFOP estimulam alunos e comunidade ouro-pretana ao hábito da leitura. Ouro Preto, 2014. Disponível em: https://ufop.br/noticias/projetos-na-ufop-estimulam-alunos-e-comunidade-ouro-pretana-ao-hbito-da-leitura . Acesso em: 20 abr. 2024.
https://ufop.br/noticias/projetos-na-ufo...
), visando, assim, disponibilizar e divulgar o acervo literário (literaturas nacional e estrangeira, romances, culinária, autoajuda, psicologia e biografias). Contudo, não está evidente a informação de como é feita essa divulgação, e se há uma maneira diferenciada de expor os livros e divulgá-los.

A Universidade Federal do Rio Grande, a partir do sistema de biblioteca, mantém um projeto chamado “Arvoreteca”, que tem como objetivo incentivar a leitura e promover o acesso à cultura. Cada pessoa pode “colher” e levar até dois exemplares por edição do projeto, que se mantém pelas doações de livros e por campanhas realizadas pela biblioteca. Os livros ficam disponíveis na última quarta-feira de cada mês na praça da cidade, onde são dependurados com barbantes para atrair a atenção da população (FURG/SIBI, 2023UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE. Sistema de Bibliotecas (FURG/SIBI). Arvoreteca: incentivando a leitura. Rio Grande, 2023. Disponível em: https://biblioteca.furg.br/pt/projetos-de-extensao?view=article&id=350&catid=2 . Acesso em: 30 dez. 2023.
https://biblioteca.furg.br/pt/projetos-d...
).

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, destacamos o “Blog da BC” que “[...] é um espaço de divulgação e reprodução de notícias sobre acesso e uso de informação em ciência, tecnologia e inovação, bem como sobre questões relacionadas à literatura e outros assuntos de amplo interesse da comunidade universitária” (UFRGS/BC, 2023UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Biblioteca Central. (UFRGS/BC). Blog da BC. Porto alegre, 2023. Disponível em: https://www.ufrgs.br/bibliotecacentral/blog-da-bc/ . Acesso em: 29 dez. 2023.
https://www.ufrgs.br/bibliotecacentral/b...
). Nesse blogue, há uma seção específica para a “Literatura” e outra para “Autoria feminina”, com várias notícias, informações, divulgação de livros e projetos literários, que recebe a curadoria de conteúdo da Bibliotecária do Departamento de Serviços aos Usuários da Biblioteca Central da UFRGS.

Dentre as informações sobre os espaços específicos dispostas nos websites das BUs, apenas uma parte diminuta é direcionada ao literário, à leitura literária. Destes últimos, apresentam-se:

  1. a biblioteca central, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG/BC), que abriga o “espaço de leitura”, com um acervo de mais de 8 mil exemplares, de obras literárias em gêneros variados, contemplando clássicos da literatura, best-sellers, livros de poemas, literatura infantojuvenil, romances, obras para pessoas com deficiência visual etc., o espaço se coloca como propício para a “leitura autônoma e livre de obrigações”, promovendo a interação entre os leitores (UFMG/BC, 2022UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Biblioteca Central (UFMG/ BC). Espaço de leitura. Belo Horizonte, 2022. Disponível em: https://www.bu.ufmg.br/bcentral/espaco-de-leitura/ . Acesso em: 29 dez. 2023.
    https://www.bu.ufmg.br/bcentral/espaco-d...
    );

  2. a Universidade Federal de Rondônia (UNIR), com “espaço leitura deleite, ainda que o empréstimo de livros não seja permitido para alunos especiais da pós-graduação, discentes de cursos de extensão, prestadores de serviço da UNIR, professores voluntários e servidores inativos (UNIR/BC, 2023UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA. Biblioteca Central. Biblioteca Setorial Prof. Roberto Duarte Pires (UNIR/BC). Espaço leitura deleite. Porto Velho, 2023. Disponível em: https://bibliotecacentral.unir.br/pagina/exibir/5676 . Acesso em: 29 dez. 2023.
    https://bibliotecacentral.unir.br/pagina...
    );

  3. o espaço dedicado ao público e a literatura infantojuvenil, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), que visa inclusive na sua missão o atendimento a comunidade em geral, com ênfase nos moradores do entorno da universidade. Com inscrição facilitada, estudantes de escolas que participam dos encontros narrativos e empréstimos domiciliares podem utilizar os serviços, tendo a presença do docente e mediante autorização do responsável da escola (UNIRIO/ BIJU, 2023UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Biblioteca Infantojuvenil (UNIRIO/BIJU). Biblioteca Infantojuvenil. Rio de Janeiro, 2023. Disponível em: https://www.unirio.br/bibliotecacentral/biblioteca-infantojuvenil . Acesso em: 30 dez. 2023.
    https://www.unirio.br/bibliotecacentral/...
    );

  4. vinculado ao Departamento de Ação Cultural, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) possui dois espaços específicos para a literatura, são eles: Biblioteca infantil e Espaço HQ. A biblioteca infantil, criada em 1995, possui acervos literários e atividades voltadas para o público infantil. Mais recentemente, em 2015, o espaço passou por uma revitalização e agregou uma briquedoteca, unindo o prazer da leitura com o prazer de brincar. O Espaço HQ dispõe de uma Gibiteca apresenta também uma grande coleção de mangás, como Dragon Ball, Power Comics, One Piece, entre outros (UFSCar/ BCo, 2023UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. Biblioteca Comunitária (UFSCar/ BCo). São Carlos, 2023. Disponível em: https://www.bco.ufscar.br/acervos . Acesso em: 29 dez. 2023.
    https://www.bco.ufscar.br/acervos...
    );

  5. mais recentemente, no dia 23 de outubro de 2023, na biblioteca central, da Universidade de Brasília, foi inaugurado o “Espaço Ler”, que é voltado para os moradores de Brasília que não estudem na universidade. Com livros escolhidos por uma curadoria, que levou em conta os títulos mais recentes e os mais emprestados, a comunidade pode inclusive realizar empréstimos de livros mediante um cadastrado, de modo que o objetivo é “expandir e democratizar a leitura na sociedade”, concretizando, assim, uma demanda histórica (Biblioteca [...], 2023BIBLIOTECA DA UnB empresta livros de graça à comunidade externa e inaugura novo espaço. Portal G1DF, Brasília, 25 out. 2023. ).

Todos esses espaços abertos à comunidade em geral, como devem ser as bibliotecas universitárias federais, tem, portanto, esse diferencial de agregar em um espaço acolhedor às várias literaturas, extrapolando a leitura acadêmica, e aos seus leitores.

5 Considerações finais

As bibliotecas universitárias brasileiras têm, ainda, inúmeros desafios a serem superados, a começar pelas carências materiais e humanas, faltam profissionais, espaços físicos, recursos financeiros, estes os quais vêm sendo cortados dramaticamente ano a ano4 4 O corte e o bloqueio de verbas nas instituições de ensino e pesquisa, como as universidades, foi sentida sistematicamente ao longo de todo o último governo federal (2019-2022). . Em face disso, advogar pela “mediação literária” pode ser visto como aumento das atividades que os bibliotecários já possuem, profissionais estes que são poucos diante das demandas tradicionais das bibliotecas. Entretanto, para atendimento da demanda social contemporânea, que são a promoção de relações qualificadas, das quais a posta aqui neste artigo é uma delas.

Para tanto, se faz necessário combater alguns truísmos que circulam, como o tamanho5 5 Vemos que, no Brasil: Há uma visão largamente disseminada de que o serviço público federal brasileiro, sem exceção, é marcado por uma tendência crônica de inchaço e empreguismo, característicos de um clientelismo e patrimonialismo arraigados e de uma partidarização contumaz. Daí resultariam contratações ou nomeações por critérios no mínimo duvidosos ou flagrantemente perversos. Na melhor das hipóteses, as “áreas meio”, eminentemente administrativas, estariam superdimensionadas, enquanto faltariam profissionais nas áreas finalísticas (Lassance, 2017, p. 7). do estado brasileiro. Em análise do quantitativo de servidores públicos no mundo, não por acaso, é maior proporção desses profissionais nos países desenvolvidos em comparação com os casos dos países em desenvolvimento (Pessoa; Mattos; Britto; Figueiredo, 2009PESSOA, Eneuton; MATTOS, Fernando Augusto Mansor de; BRITTO, Marcelo Almeida; FIGUEIREDO, Simone da Silva. Emprego público no Brasil: comparação internacional e evolução. Brasília, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, n. 19, p. 1-17, 30 mar. 2009.). No caso brasileiro, o problema é ainda maior, tendo em vista que o montante desses servidores engloba a segurança nacional, em um país que historicamente e constitucionalmente se entende como um país não beligerante; diante de um propósito melhor, que é o atendimento das necessidades diversas e concretas da população.

Em relação aos servidores que se aposentam, há ainda a movimentação para a extinção da vaga, não havendo a reposição de profissional. Diante disso, como ação contrária a esse movimento, faz-se necessário o sentido de trabalho cooperativo, em que os partícipes do sistema universitário, que é composto por estudantes, profissionais, pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, se relacionem para a execução das atividades de leitura e crítica. No caso, em específico, da mediação literária, caberá a articulação com os cursos de Letras e seus Centros Acadêmicos, com outras áreas do conhecimento, como um caminho mais profícuo para construção de parcerias e projetos, ampliando as possibilidades de fomentar ações voltadas para as mediações literárias.

Assim, esse envolvimento e convocação da própria comunidade para se pensar nos serviços de mediação literária, em construir junto com as pessoas interessadas, é essencial para uma efetivação mais afetiva inclusive dos serviços. A mediação da literatura é, como visto nas ocorrências, também uma possibilidade de serviços das bibliotecas universitárias que poderiam se envolver com essa dimensão da formação dos sujeitos por meio da literatura. O professor Antonio Candido, no texto “Direito à literatura”, afirma que a literatura é uma necessidade humana, universal e:

[...] que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos, portanto, humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade (Candido, 1995CANDIDO, Antonio. Direito à literatura. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995., p. 188, grifo nosso).

Nessa direção, fica evidente a importância da literatura oral e escrita, (Pètit, 2009aPETIT, Michèle. A arte de ler: ou como resistir à adversidade. São Paulo: Ed. 34, 2009a.) na vida das pessoas. As bibliotecas não são só o lugar de encontro com a tecnologia dos livros, que salvaguardam o conhecimento e a sabedoria impressa. Fato que os livros sempre se direcionam às bibliotecas, sejam coletivas (públicas, escolares, universitárias) sejam as particulares, nas estantes de nossas casas; mas o principal do livro são os movimentos que seus espaços institucionais de salvaguarda fomentam e promovem, de encontro com o objeto, com as pessoas e com as ideias. O livro torna-se um dispositivo para fomentar a relação. E as bibliotecas são espaços de encontros, das efetivações das relações, tendo os bibliotecários e os mediadores de leitura como um dos facilitadores dos encontros e diálogos entre pessoas, pessoas e os livros.

Consideramos importante ainda registrar, aqui, nossas dificuldades de pesquisa, tais como as dificuldades: (i) em encontrar o “ícone” da biblioteca dentro dos websites das Universidades Federais Brasileiras, pois nem todas mantém isso visível, sendo encontradas as bibliotecas em diferentes locais no site; (ii) em encontrar informações nos websites das bibliotecas, pois nem todos seguem uma estruturação completa dos serviços realizados; (iii) a dispersão das informações acerca das atividades realizadas, as quais são divulgadas como notícias que por sua natureza mais efêmera acaba tornando confuso encontrar; e, por fim, (iv) a delimitação do estudo em torno da mediação literária, que é algo específico, que pressupõe o livro literário na ação de mediação, parece não ocorrer como esperado, mas outras ações de mediação cultural (no sentido mais amplo), pode ser que façam parte das atividades das bibliotecas.

Com isso, a fim colaborar com as bibliotecas universitárias a partir desta experiência de observar os sites das bibliotecas, pensamos nas seguintes contribuições: (a) a sistematização atualizada, nos websites da biblioteca, dos projetos de extensão, dos eventos e das ações de mediação cultural e literária; (b) a divulgação das ações de mediação cultural e literária em notícias no website da Universidade, bem como em jornais de grande circulação; (c) a informação no website da biblioteca o serviço realizado, que poderia ser nomeado mediação cultural e/ou literária; e, por fim, (d) a criação de mais projetos de extensão, em parceria, com os cursos de Letras e Biblioteconomia, visando a possibilidade de ações de mediação literária na biblioteca.

Afirmar que as bibliotecas realmente não realizam ações de mediação literária, uma vez que elas podem ter realizado, mas não ter isso de modo sistemático como um serviço, poderia ser repensado pelas instituições para que essa dimensão de pesquisas não seja comprometida pela falta de informações e visibilidades estratégicas. Em suma, como o objetivo desta pesquisa foi olhar para os sites institucionais das bibliotecas universitárias, o resultado encontrado está aquém do esperado. Diante disso, esperamos que as bibliotecas universitárias possam firmar esse compromisso com a literatura, com os acervos literários e, por conseguinte, com os serviços de mediação literária. Como próximos passos de pesquisa sugerimos um olhar para as tantas bibliotecas setoriais existentes nas universidades brasileiras a fim de aumentarmos o escopo da pesquisa, bem como um outro caminho poderia se dar por meio de entrevistas com as pessoas bibliotecárias, com a intenção de saber das existências de projetos e ações voltadas para as mediações literárias.

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    O próprio ato de ler (livros, jornais, revistas), de uma perspectiva ampliada da leitura, parece estar em crise no ensino superior, que vem desde, na verdade, a tenra idade, pelo afastamento da leitura o âmbito familiar e escolar (Almeida; Silva, 2018ALMEIDA, Janderson; SILVA, Clodoaldo. A importância da prática da leitura no ensino superior. Marupiara: Revista Científica do CESP/UEA, Parintins, n. 2, p. 68-80, 2018.). Discussão sobre a importância da leitura na universidade também fora abordada por Pires (2012PIRES, Erik André de Nazaré. A importância do hábito da leitura na universidade. Revista ACB , Florianópolis, v. 17, n. 2, p. 365-381, 2012. ), Silva e Bin (2017SILVA, Miguel Rettenmaier; BIN, Margarete Maria Soares. A leitura no ensino superior. Revista Travessias, Cascavel, v. 11, n. 3, set./dez, 2017.), entre outros.
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    Tais bibliotecas que são inclusive direitos de toda a população brasileira previstas em leis (Lei federal 12.244/2010BRASIL. Lei n. 12.244, de 24 de maio de 2010. Dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensio do País. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, ano 147, n. 98, p. 1, 25 maio 2010. , universalização das bibliotecas escolares e Lei federal 13.696/2018BRASIL. Lei n. 13.696, de 12 de julho de 2018. Institui a Política Nacional de Leitura e Escrita. Diário Oficial da União : seção 1, Brasília, ano 155, n. 134, p. 1, 13 jul. 2018. , política nacional da leitura e escrita (Brasil, 2010BRASIL. Lei n. 12.244, de 24 de maio de 2010. Dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensio do País. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, ano 147, n. 98, p. 1, 25 maio 2010. , 2018BRASIL. Lei n. 13.696, de 12 de julho de 2018. Institui a Política Nacional de Leitura e Escrita. Diário Oficial da União : seção 1, Brasília, ano 155, n. 134, p. 1, 13 jul. 2018. ) não são amplamente concretizadas. Passados mais de quatorze anos o cenário das bibliotecas escolares ainda não é uma realidade nacional, mais, recentemente, a Lei 14.837, de 2024BRASIL. Lei n. 14.837, de 8 de abril de 2024. Altera a Lei n. 12.244, de 24 de maio de 2010, que “dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do País”, para modificar a definição de biblioteca escolar e criar o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE). Diário Oficial da União : seção 1, Brasília, n. 68, p. 3, 9 abr. 2024. (Brasil, 2024BRASIL. Lei n. 14.837, de 8 de abril de 2024. Altera a Lei n. 12.244, de 24 de maio de 2010, que “dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do País”, para modificar a definição de biblioteca escolar e criar o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE). Diário Oficial da União : seção 1, Brasília, n. 68, p. 3, 9 abr. 2024. ), vem reiterar essa obrigatoriedade das bibliotecas escolares, com profissionais especializados, e a criação um sistema nacional de bibliotecas escolares. Muitas são as escolas públicas e privadas, bem como municípios e estados que ainda não dispõem de bibliotecas públicas, ou quando existem não são centralidade das políticas públicas. De um modo, mais orgânico, devido a vinculação obrigatória da existência da biblioteca universitária e os cursos superiores, os quais são inclusive avaliados sistematicamente pelo Ministério da Educação, que se preocupa com a infraestrutura (uma delas a biblioteca), que no âmbito federal das universidades dispomos de bibliotecas abertas, integradas em um sistema de bibliotecas. Assim, diante da presença das bibliotecas universitárias na vida da comunidade acadêmica que, novamente, se destaca a importância do acesso ao acervo literário, com um dos caminhos possíveis para minimizar a falta de relação com tais acervos e bibliotecas ao longo da vida dos sujeitos.
  • 3
    Michèle Petit (2009aPETIT, Michèle. A arte de ler: ou como resistir à adversidade. São Paulo: Ed. 34, 2009a.) nomeia os bibliotecários como mediadores de livros, de leituras e literaturas, e qualquer outra pessoa “se for determinada, se dispuser de um pouco de tempo e de vínculo com uma instituição ou uma comunidade local”, e acrescenta “Alguém que manifesta à criança, ao adolescente, e também ao adulto, uma disponibilidade, uma recepção, uma presença positiva e o considera como sujeito. “Tudo começa com uma hospitalidade” (Petit, 2009aPETIT, Michèle. A arte de ler: ou como resistir à adversidade. São Paulo: Ed. 34, 2009a., p. 48), envolve acolhimento, presença e escuta.
  • 4
    O corte e o bloqueio de verbas nas instituições de ensino e pesquisa, como as universidades, foi sentida sistematicamente ao longo de todo o último governo federal (2019-2022).
  • 5
    Vemos que, no Brasil: Há uma visão largamente disseminada de que o serviço público federal brasileiro, sem exceção, é marcado por uma tendência crônica de inchaço e empreguismo, característicos de um clientelismo e patrimonialismo arraigados e de uma partidarização contumaz. Daí resultariam contratações ou nomeações por critérios no mínimo duvidosos ou flagrantemente perversos. Na melhor das hipóteses, as “áreas meio”, eminentemente administrativas, estariam superdimensionadas, enquanto faltariam profissionais nas áreas finalísticas (Lassance, 2017LASSANCE, Antonio. O serviço público federal brasileiro e a fábula do ataque das formigas gigantes. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2017., p. 7).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    05 Jan 2024
  • Aceito
    13 Maio 2024
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