Avaliação de processos para a formação docente fundamentados na perspectiva dialógico-problematizadora: categorias de análise

Lambach, Marcelo; Marques, Carlos Alberto; Silva, Antonio Fernando Gouvêa da

doi:10.1590/S0104-40362018002601105

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Artigo Original • Ensaio: aval. pol. públ. educ. 26 (100) • Jul-Sep 2018 • https://doi.org/10.1590/S0104-40362018002601105 linkcopiar

Avaliação de processos para a formação docente fundamentados na perspectiva dialógico-problematizadora: categorias de análise

Evaluation of teacher training courses based on the prospect dialogical-problematizing: analysis categories

Evaluación de carreras de formación docente fundamentados en la perspectiva dialógico-problematizadora: categorias de análisis

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Resumo

O texto traz uma proposta de categorias avaliativas nos processos formativos para docentes a partir dos princípios freireanos, dialogicidade e problematização. Tem como referência uma formação baseada nas etapas formuladas por Freire: Levantamento Preliminar, Análise das Situações Significativas, Escolha das Codificações, Diálogos Descodificadores e Redução Temática. Prevista por Delizoicov e Freire, uma quinta etapa é incluída e usa os “três momentos pedagógicos”. A análise foi construída a partir dos critérios: Concepções dos professores sobre o ensino de ciências; Pesquisas qualitativas iniciais derivadas do estudo da realidade; Seleção de falas coletadas, proposição dos temas/contratemas; Formulação das problematizações e indicação de conteúdos; Organização de atividades/aulas; e se referenciam nos estudos de Gouvêa da Silva. O artigo traz também, indicações de encaminhamentos e reorientações a serem realizados por aqueles que desenvolverem formação na perspectiva freireana.

Formação Permanente de Professores; Avaliação de Processos na Formação Docente; Paulo Freire; Ensino de Ciências

	Critérios Analisados
Perspectivas do Ensino de Ciências-QFB	Contribuir para compreensão dos problemas cotidianos locais em busca da sua solução.
	Favorecer a compreensão e a superação das explicações de senso comum sobre os fenômenos.
	Promover a problematização crítica da realidade das pessoas.
	Promover a problematização crítica de situações cotidianas de qualquer contexto sociocultural.
	Promover a problematização de situações cotidianas de qualquer âmbito sociocultural.
	Reconhecer a ciência como produção humana e histórica.
	Ser entendido como apropriação de um bem social.

Ações para a geração de dados quantitativos derivados das pesquisas socioculturais no ER	Critérios utilizados para a análise
•fazer um levantamento de hipóteses anteriores, a partir do conhecimento prévio que o grupo-escola já possui, para as situações mais problemáticas vivenciadas pela população e, por conseguinte, das possíveis temáticas que a comunidade provavelmente abordará na pesquisa;	Explorar as falas sobre questões de caráter sociocultural do cotidiano do aluno e da comunidade.
•relacionar às hipóteses prévias, os aspectos que contextualizarão as observações e entrevistas, tais como ambiente, topografia, vestuário, religiosidade, hábitos, nível socioeconômico etc.; [...]
•evitar se satisfazer com respostas genéricas – “a culpa é dos políticos, do sistema social etc.”–, procurando convergir para situações concretas em que o entrevistado explicita como ele entende que esse “sistema” ou modelo político se faz presente de forma efetiva naquele cotidiano específico e concreto; [..]	Considerar o registro da fala do entrevistado, com o mínimo de interferência das concepções do professor.
•identificar o espaço e as atividades observadas, para perceber o seu significado para os envolvidos, procurando penetrar em seus contextos – é preciso priorizar situações que causem espécie aos pesquisadores, que apresentem dificuldades de compreensão ao serem olhados de forma distanciada, superando admirações e rejeições primárias; [...]	Dar ênfase ao olhar coletivo sobre as problemáticas da comunidade.
	Dar ênfase às questões socioculturais.
•fazer também referência aos silêncios da entrevista, às respostas dúbias, ao titubeio e recusas propiciados pelo clima da conversa in off (SILVA, 2004, p. 433–434).	Envolver os diversos grupos constituintes da comunidade escolar.
a)Pedir aos alunos que façam um estudo da escola (dados estatísticos, onde se localiza, qual a característica geral dos alunos que lá estudam, quando foi fundada, como é o entorno onde a escola está localizada etc.).	Possibilitar a fala livre dos alunos a respeito da visão de mundo que eles têm sobre os problemas socioculturais.
b)Pedir aos alunos que façam um estudo do bairro/rua onde moram. Levantamento de características gerais, encontradas nos órgãos oficiais. Também pedir que eles conversem com as pessoas mais antigas do bairro para que elas relatem como era no passado e como é agora. Entrevistar pessoas que moram há menos tempo e jovens para dizer o que acham do bairro. Líderes comunitários podem ser incluídos nessa investigação.	Solicitar aos alunos um estudo sobre as características do bairro e das pessoas que nele vivem.
c)Entrevistar os alunos, gravando as conversas e/ou fazendo anotações em um caderno. (LAMBACH, 2013, p. 351–352)	Utilizar diferentes instrumentos (questionário, entrevista, discussão em grupo etc.).

	Critérios Analisados
Momento 2: Estudo das FS, TGr e CT a partir das Produções Docentes	Analisar o conjunto de falas para identificar o assunto que era mais frequente.
	Destacar o que era mais significativo para a visão de mundo dos entrevistados/alunos.
	Resgatar falas como originalmente aparecem, sem o filtro do pesquisador.
	Selecionar falas explicativas, abrangentes, que extrapolam a simples constatação ou situações restritas a uma pessoa ou família, que opinem sobre dada realidade e que envolvam a coletividade.
	Selecionar falas que permitem perceber as diferenças entre as concepções de realidade de educadores e educandos, baseadas em referenciais epistemológicos distintos.
	Selecionar falas com contradições; representavam situações significativas e uma situação-limite.
	Identificar o TG selecionado como aquele que continha uma contradição de caráter sociocultural.
	Identificar contradições sociais e de diferentes formas de preconceitos e de opressões (sociais, culturais, econômicas, étnicas, de sexo etc.).
	Possibilitar organização metodológica que viabilize o diálogo crítico entre as visões de mundo.

	Critérios utilizados para a análise
Momento 3: Elaboração das Problematizações e para a Indicação de Conteúdos Escolares a partir das Produções Docentes	Partir de falas que expressem problemas e necessidades na perspectiva da comunidade.
	Propor questionamentos que permitam evidenciar a visão dos alunos a respeito do conflito presente no TG.
	Fazer questionamentos problematizadores das falas, em seu contexto específico (L1), que indiquem possibilidades de descrição e de compreensão no plano local dos conflitos sociais vivenciados.
	Fazer questionamentos de caráter sociocultural que permitam compreender que os conflitos se caracterizam como contradições sociais ao evidenciarem as tensões entre os conhecimentos embasados em diferentes teorias que propõem explicar o real vivido, apreendido em distintos níveis (local e macrossocial).
	Fazer questões problematizadoras, com objetivo de apontar possibilidades concretas de superação dos conflitos expressos nas falas, a partir da busca de opções teóricas (L2).
	Selecionar conhecimentos interdisciplinares que permitam análise contextualizada das diferentes dimensões do real (L1/Macro/L2).
	Selecionar conteúdos específicos de ciências e de outras áreas que auxiliem a análise e a compreensão, de forma contextualizada, os conflitos e as contradições socioculturais, nas diferentes dimensões do real (L1/Macro/L2), a fim de superar a postura resignada com explicações de senso comum.
	Observar a relação do conteúdo com a fala analisada.
	Resgatar a história da química e denotar o conhecimento científico como uma produção humana sócio-histórica, que sofre modificações e influências e é provisório.

Momentos Pedagógicos	Análise dos critérios utilizados nas atividades/aulas
Problematização Inicial (PI)	Partir da seleção da fala significativa como situação codificada (contradição).
	Ter pertinência sociocultural do objeto de estudo escolhido.
	Haver pertinência do objeto de estudo em relação aos alunos jovens e adultos.
	Apresentar problematização qualitativa (procura identificar concepções dos sujeitos sobre o tema).
	Possuir problematização que possibilite a caracterização dos limites explicativos sobre o problema (hipóteses alunos/comunidade).
	Estabelecer relação tema/contratema gerador.
	Retomar problematizações iniciais da realidade local (Local-1).
Organização do Conhecimento (OC)	Utilizar os dados da realidade local.
	Propiciar a análise da realidade local em suas diferentes dimensões (local/micro/macro).
	Contemplar as relações estabelecidas e os conhecimentos sugeridos na problematização programática (redução temática).
	Estabelecer relação de pertinência entre recorte do conhecimento e coerência dos tópicos sequenciados (relação fala/conteúdo).
	Utilizar conceitos químicos atualizados e corretos, atendendo o rigor científico.
	Utilizar material didático-pedagógico produzido.
Aplicação do Conhecimento (AC)	Fazer a retomada crítica da Problematização Inicial.
	Ter uma dimensão programática interdisciplinar: aprofundamento da temática, propiciando análise conjuntural/estrutural contemporânea da realidade local.
	Apresentar momentos de avaliação individual e coletiva – buscando identificar se houve mudança das concepções dos alunos em relação aos seus limites explicativos.

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[TFN1] Fonte: Pesquisa de campo; eleborado pelos autores (2016).