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Otília Forster: uma professora e as descontinuidades de uma educação física higienista em Campinas (1937-1945)

Otília Forster: a teacher and the discontinuities of a hygienist physical education in Campinas (1937-1945)

Resumo

O estudo teve como objetivo compreender como o esporte e a ginástica, presentes nas escolas nas aulas de Educação Física, organizavam-se em torno de um projeto pedagógico de educação e saúde em comparação com as “práticas de educação física” que aconteciam nas escolas públicas de Campinas. Ao analisar o trabalho desenvolvido pela professora Otília Forster, entre 1937 e 1945, a pesquisa procura evidenciar as descontinuidades entre os propósitos higienistas proferidos em discursos pedagógicos e as dificuldades enfrentadas pelas professoras no trabalho nas escolas. Para isso, realizamos uma pesquisa histórica que teve como principais fontes documentos que compõem o acervo da referida professora no Centro de Memória Unicamp (CMU), o qual é formado por documentos pessoais, relatórios de atividades e fotografias sobre os trabalhos e eventos por ela organizados entre 1937 e 1945. Por meio das fontes, foi posds sível identificar que o esporte e ginástica se desenvolveram nos grupos escolares da Delegacia Regional de Ensino de Campinas, conformando uma educação física dos jovens com pressupostos higienistas mediante descontinuidades entre o projeto educacional e as “práticas de educação física”. Nesse contexto, a Educação Física foi destacada por educadores no campo discursivo para a assimilação de valores, comportamentos e atitudes. No entanto, essa representação higienista da Educação Física esbarrava em condições materiais inadequadas em escolas do interior de São Paulo. Observamos, assim, que as práticas de educação física não ocorriam de forma homogênea, pois ganhavam uma dinâmica própria devido às desigualdades econômicas e sociais que expunham as diferenças sociais entre as crianças.

Palavras-chave:
História da Educação; Educação física escolar; Higienismo

Abstract

The study aimed to understand how sports and gymnastics, present in schools in Physical Education classes, were organized around a pedagogical project of education and health compared to the “physical education practices” that occurred in public schools in Campinas. By analyzing the work developed by teacher Otília Forster between 1937 and 1945, the research seeks to highlight the discontinuities between the hygienist purposes professed in pedagogical discourses and the difficulties faced by teachers in their work in schools. For this, we conducted a historical research that had as its main sources documents that make up the collection of said teacher at the Unicamp Memory Center (CMU), which is formed by personal documents, activity reports, and photographs about the works and events organized by her between 1937 and 1945. Through these sources, it was possible to identify that sports and gymnastics developed in the school groups of the Regional Education Delegation of Campinas, shaping a physical education of young people with hygienist assumptions through discontinuities between the educational project and the “physical education practices”. In this context, Physical Education was highlighted by educators in the discursive field for the assimilation of values, behaviors, and attitudes. However, this hygienist representation of Physical Education collided with inadequate material conditions in schools in the interior of São Paulo. We observed, therefore, that physical education practices did not occur homogeneously, as they gained their own dynamics due to economic and social inequalities that exposed the social differences among children.

Keywords:
History of education; Physical Education; Hygienism

Introdução2 2 Esta pesquisa contou com auxílio financeiro: da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na modalidade “Auxílio a projeto de pesquisa regular”, processo n. 2022/13537-1; e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio de Bolsa de Produtividade em Pesquisa, processo n. 304575/2021-6.

Otília Forster nasceu em 1912, em Campinas, e se formou como professora normalista em 1930 na Escola Normal de Campinas, vindo a lecionar como professora substituta efetiva no Grupo Escolar Francisco Glicério de 1931 a 1934, quando foi nomeada professora da Escola Mista Rural do bairro Coqueiral em Potirendaba. Em 1935, entrou para a Escola Superior de Educação Física do Estado de São Paulo (ESEF-SP), formando-se em 1936, ano em que também foi nomeada para prestar serviços junto ao Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo (DEF-SP). Logo, em 1937, foi nomeada para prestar serviços na Delegacia Regional de Ensino de Campinas (DREC), na qual desenvolveu diversas atividades e assumiu os cargos de Professora de Educação Física, Técnica de Educação Física e Delegada Regional de Educação Física, aposentando-se em 1964 (Forster, 197-?FORSTER, Otília. Carreira profissional. Campinas: Centro de Memória Unicamp, [197-?]. (Acervo Otília Forster; caixa 1).).

Grande parte do trabalho desenvolvido pela professora Otília Forster pode ser acessada por uma documentação preservada pelo Centro de Memória Unicamp (CMU). Esse acervo é composto por documentos pessoais e profissionais, como relatórios anuais das atividades desenvolvidas pelas turmas de ginástica dos grupos escolares, materiais didáticos, recortes de jornais e fotografias que datam de 1937 a 1945. Nesse período, Campinas passa por uma ampla reforma, na qual são consideradas questões relacionadas à higiene, à saúde e à urbanização da cidade, representadas por ações ligadas à assistência e ao controle da infância, como também à sistematização das “práticas de educação física”3 3 Neste estudo, o termo “práticas de educação física” é compreendido como um conjunto de esportes, ginásticas, atividades e exercícios físicos, jogos, lutas, divertimentos ativos com finalidades específicas e que mobilizam diversos agentes institucionalizados, como professores de Educação Física, instrutores, educadores, médicos, técnicos e estudantes (Góis Junior; Soares, 2018). nos grupos escolares do município.

Em termos metodológicos, o corpus documental desta pesquisa foi formado pelo acervo pessoal da professora Otília Forster. A documentação está organizada em duas caixas e foi doada pela própria professora em 1994.

Na caixa número 1, encontram-se: documentos pessoais, como um diário com poucas páginas escritas, no qual Otília discorre sobre sua vida em São Paulo, no primeiro ano cursando a Escola Superior de Educação Física, e alguns santinhos de papel; alguns materiais que devem ter sido utilizados por Otília na época em que ministrou aulas como professora normalista, como dois cadernos com planos de aula, sendo um sobre ciências naturais e matemática, com modelos de aulas sobre diversos assuntos, como botânica, doenças, corpo humano, elementos químicos, números e operações matemáticas, e outro sobre escrita e alfabetização; há também algumas folhas com músicas, gritos de torcida e jogos infantis. Há, do mesmo modo, algumas correspondências de felicitações por sua aposentadoria e outras de agradecimentos por serviços prestados em eventos.

Na caixa número 2, há: um documento escrito à mão intitulado “Carreira profissional”, no qual Otília resume sua trajetória como professora normalista e de Educação Física, apontando, inclusive, os cargos que assumiu na Delegacia Regional de Campinas, órgão do DEF-SP; uma folha, também escrita à mão, com muitas anotações sem ordem definida, sobre sua carreira no magistério; e relatórios das atividades desenvolvidas pelos grupos escolares que estavam sob sua supervisão. Os relatórios são compilados de forma anual, sendo organizados em sete cadernos que vão de 1937 a 1945 (1937-1938; 1939; 1940; 1941; 1942; 1943 e 1945), com exceção do ano de 1944, que não se encontra disponível. Esses cadernos tornaram-se as principais fontes deste estudo, pois permitiram uma análise sobre os relatórios das atividades desenvolvidas nas escolas, os quais não apresentam um padrão definido, sendo alguns muito sucintos e outros bem completos, inclusive com fotografias. O conjunto de imagens tem 783 fotografias que retratam “aulas-modelo” desenvolvidas por Otília, apresentações de ginástica, idas às colônias de férias organizadas pelo DEF-SP e eventos como a Olimpíada Infantil Campineira.

As imagens estão incorporadas ao conjunto documental como parte dos relatórios e estão sendo analisadas neste estudo com seus próprios códigos. Elas não são simples montagens que refletem imediatamente os interesses da professora Otília Forster e não estão mecanicamente ligadas às fontes escritas. Pelo contrário, as imagens podem até mesmo contradizer os discursos encontrados nas fontes escritas. Conforme afirmado por Kossoy (2021KOSSOY, Boris. Fotografia e história: as tramas da representação fotográfica. Projeto História, São Paulo, v. 70, p. 9-35, jan./abr. 2021., p. 33), a fotografia “ao mesmo tempo em que nos fornece indícios e pistas, também nos revela fatos desconhecidos, por vezes nunca mencionados na história escrita. Ela nos faz refletir sobre o que é aparente e sobre as aparências, nos informando e emocionando”. Além disso, em relação ao manuseio das fotografias, devido às restrições de espaço, não realizamos uma análise morfológica detalhada. Em vez disso, consideramos principalmente sua inserção e possíveis contradições com os relatórios, com o objetivo de questionar aspectos relevantes para a pesquisa.

A partir dessas fontes, observa-se que a professora Otília desempenhou um papel pioneiro e fundamental no desenvolvimento de um projeto pedagógico no município, uma vez que era responsável por ministrar aulas-modelo de Educação Física, assim como por supervisionar as turmas de ginástica organizadas em Campinas e outros municípios da região.

O trabalho desempenhado pela professora Otília Forster também foi objeto de estudos de Danailof (2002DANAILOF, Kátia. Corpos e cidades: lugares da educação. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.), Dalben (2009DALBEN, André. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e educação física em São Paulo (1930-1945). 2009. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.) e Pizani (2012PIZANI, Rafael Stein. Recreação, lazer e educação física na cidade de Campinas: um olhar acerca dos parques e recantos infantis (1940-1960). 2012. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2012.), os quais, por meio de problemas de pesquisa diferenciados, compartilharam a compreensão sobre o estabelecimento do projeto da referida professora como pioneiro no campo da Educação Física em Campinas.

No entanto, nenhum dos trabalhos apresentados se propôs a investigar questões relacionadas ao desenvolvimento de “práticas de educação física” que integrassem esportes e ginásticas nos grupos escolares, considerando as descontinuidades entre essas práticas e o projeto pedagógico da Educação Física nas escolas. Enquanto Danailof (2002DANAILOF, Kátia. Corpos e cidades: lugares da educação. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.) se concentra na ginástica e Dalben (2009DALBEN, André. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e educação física em São Paulo (1930-1945). 2009. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.) e Pizani (2012PIZANI, Rafael Stein. Recreação, lazer e educação física na cidade de Campinas: um olhar acerca dos parques e recantos infantis (1940-1960). 2012. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2012.) focam nos espaços extracurriculares, nosso estudo busca problematizar como eram estabelecidas as descontinuidades entre o projeto pedagógico de Otília Forster e o desenvolvimento das “práticas de educação física” nos grupos escolares da região de Campinas. Isso expõe as dificuldades enfrentadas pelas professoras na organização de aulas de Educação Física com características homogêneas em termos de seus pressupostos institucionais.

A Educação Física no período estudado - com a vitória de Getúlio Vargas na década de 1930 e com o Estado Novo a partir de 1937 - estava envolta por discursos cívicos que se materializavam por meio de datas comemorativas, desfiles e cantos impregnados pelo disciplinamento da Escola (Parada, 2003PARADA, Maurício Barreto Alvarez. Educando corpos e criando a nação: cerimônias cívicas e práticas disciplinares no Estado Novo. 2003. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.). Nesses anos, em São Paulo, observa-se que institucionalmente a Educação Física com letras maiúsculas era mais pautada, no campo discursivo, em posturas higienistas e ideais eugênicos de médicos e educadores do que em práticas mais identificadas com o popular ou com os usos do esporte por parte de jovens pobres (Dalben; Góis Junior, 2018DALBEN, André; GÓIS JUNIOR, Edivaldo. Embates esportivos: o debate entre médicos, educadores e cronistas sobre o esporte e a educação da juventude (Rio de Janeiro e São Paulo, 1915-1929). Movimento, Porto Alegre, v. 24, p. 161-172, 2018.). O investimento do Estado na disseminação das aulas de Educação Física nas escolas, na perspectiva de educadores e médicos higienistas, “poderia ser útil para a promoção da saúde, higiene, disciplina, uma ferramenta que poderia contribuir com o progresso do país” (Melo, 2021MELO, Victor Andrade de. Para o bairro, para o subúrbio, para a nação: a experiência náutica do Olaria Atlético Clube (Rio de Janeiro, 1915-1930). Tempo, Niterói, v. 27, n. 3, p. 561-584, 2021., p. 579). Por exemplo, Ana Gomes e André Dalben (2011GOMES, Ana Carolina Vimieiro; DALBEN, André. O controle médico-esportivo no Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo: aproximações entre esporte e medicina nas décadas de 1930 e 1940. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 321-335, abr./jun. 2011.), ao estudarem o Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo, enfatizaram que, na década de 1930, havia a organização de um aparato científico promovido pelo governo paulista, que desejava balizar uma Educação Física orientada segundo os conhecimentos da Medicina. Outrossim, reivindicava-se um sistema público de educação e uma intervenção estatal no campo da saúde. O médico Arthur Neiva, por exemplo, em São Paulo, pressionava por uma maior participação do Estado na organização dos esportes em consonância com os saberes médicos e higienistas (Dalben; Góis Junior, 2018DALBEN, André; GÓIS JUNIOR, Edivaldo. Embates esportivos: o debate entre médicos, educadores e cronistas sobre o esporte e a educação da juventude (Rio de Janeiro e São Paulo, 1915-1929). Movimento, Porto Alegre, v. 24, p. 161-172, 2018.).

No entanto, quando observamos as práticas de educação física na perspectiva de professores, instrutores e estudantes, outras representações emergem, e o discurso higienista pode ser permeado por descontinuidades. Estudos recentes buscam essas novas interpretações sobre o higienismo, com o objetivo não de desconstruir o higienismo, mas sim de evidenciar seus limites. Por exemplo, de acordo com Carmen Soares e Heloísa Rocha (2020SOARES, Carmen Lúcia; ROCHA, Heloísa Helena Pimenta. Viver ao ar livre: entre prescrições higiênicas, alegria e aventura. Cadernos Cedes, Campinas, v. 40, p. 198-206, 2020.), na década de 1930, essas práticas educativas eram relacionadas a um lento processo de modernização e eram entendidas como educativas, curativas e divertidas. Tais práticas educativas promoveram o “surgimento de outro regime de emoções, aquele que ensina a extrair prazer junto a uma natureza transformada pela mão humana ou a sonhar com a felicidade que pode resultar de uma vida saudável” (Soares; Rocha, 2020SOARES, Carmen Lúcia; ROCHA, Heloísa Helena Pimenta. Viver ao ar livre: entre prescrições higiênicas, alegria e aventura. Cadernos Cedes, Campinas, v. 40, p. 198-206, 2020., p. 200). Além disso, as práticas esportivas também estavam gradualmente se incorporando ao cotidiano das cidades, indo além das escolas, sendo apreciadas e apropriadas por diferentes grupos em rios, praças e clubes (Medeiros; Moraes e Silva; Quitzau, 2023MEDEIROS, Daniele Cristina Carqueijeiro de; MORAES E SILVA, Marcelo; QUITZAU, Evelise Amgarten. De promotor de saúde a vetor de doenças: o rio Tietê na perspectiva dos clubes de remo paulistanos, 1900-1940. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 30, p. e2023035, 2023.).

Dessa forma, partimos da hipótese de que as “práticas de educação física” ganhavam novos significados no cotidiano, já que - em um contexto escolar, quando da aplicação da proposta pedagógica elaborada por Otília - limitações materiais e técnicas, desigualdades econômicas e sociais e outros fatores impediram a alusão a uma Educação Física homogênea, marcada exclusivamente por pressupostos higienistas naqueles espaços educacionais.

Nesse sentido, Certeau (2011CERTEAU, Michel de. A escrita da história. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011., p. 165) nos possibilita um caminho interessante para a análise das fontes ao afirmar que “Uma das tarefas da história é medir a distância, ou as relações, entre as formalidades das práticas e das representações”, cabendo-nos, portanto, medir os distanciamentos e as aproximações entre as representações sobre a Educação Física presentes no campo discursivo das instituições (DEF-SP e ESEF-SP) e as práticas realizadas nos grupos escolares.

Compreendemos que o projeto pedagógico de Otília não pode ser explicado simplesmente por suas motivações pessoais, por sua história de vida, por sua formação, pelos discursos institucionais do Estado ou, por outro lado, pelas condições econômicas e sociais locais. Nessas relações sociais, nas quais tanto os atores quanto os currículos e projetos educacionais concebem representações e práticas que se modificam, há uma história que não se estrutura de cima para baixo ou de baixo para cima, de forma unilateral; há um passado ancorado por trocas, aproximações e distanciamentos entre diferentes perspectivas e ações dos agentes. Para Marshall Sahlins (1997SAHLINS, Marshall. Ilhas de história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.), as pessoas organizam seus projetos e dão sentido aos objetos partindo de compreensões da ordem cultural que as envolve, mas, por outro lado, como as circunstâncias são contingentes, as pessoas não obedecem aos significados dados por grupos específicos e, portanto, homens e mulheres repensam criativamente seus esquemas convencionais, alterando a cultura historicamente nas ações.

O objetivo desta pesquisa foi, por meio dessa perspectiva historiográfica, entender como o esporte e a ginástica, presentes nas escolas nas aulas de Educação Física, se organizavam em torno de um projeto pedagógico de educação e saúde em comparação com as “práticas de educação física” que aconteciam nas escolas públicas na região de Campinas.

Otília Forster e seu projeto de Educação Física

Em 1937, a professora Otília Forster, que havia se formado pela ESEF-SP e sido contratada pelo DEF-SP, é nomeada para prestar serviços junto à Delegacia Regional de Ensino de Campinas, assumindo a responsabilidade de organizar a Educação Física nos grupos escolares de Campinas e região. Esse primeiro momento é relevante no sentido de observação, pelos pesquisadores, das tensões entre o que é projetado e planificado no campo da Educação Física e as práticas, mediante as descontinuidades, vislumbradas por nossa análise, em dificuldades impostas pelas condições objetivas, como as desigualdades econômicas e sociais das escolas no interior de São Paulo.

Por meio dos relatórios anuais de trabalho escritos por Otília, podemos ver o número de grupos escolares que estavam sob sua tutela desde que assumiu o cargo, sendo 41 em 1937 e 1938; 42 em 1939; 38 em 1940; 34 em 1941; 23 em 1942; e 36 em 1943. Destes, entre 10 e 12 pertenciam ao município de Campinas e o restante, a outros municípios da região, como Cosmópolis, Mogi Mirim, Mogi Guaçu, Valinhos, Itapira, dentre outros4 4 Não conseguimos identificar o número de grupos escolares atendidos em 1944, uma vez que não há no acervo do CMU o relatório referente a esse ano, nem em 1945, pois, embora haja o relatório, Otília não menciona quais Grupos escolares estavam sob sua responsabilidade. (Forster, 1939FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1938, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1939. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., 1940FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., 1941 [1941 ou 1942]FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1941, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, [1941 ou 1942]. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., 1943aFORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1942, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1943a. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., 1943bFORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1943, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1943b. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., 1945FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1945, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1945. (Acervo Otília Forster; caixa 2).).

Dado o grande número de grupos escolares sob sua responsabilidade, Otília adotou uma dinâmica específica de trabalho. Isso incluía ministrar aulas em Campinas, elaborar planos de aula, ensinar às professoras normalistas5 5 Nesse período, as professoras normalistas faziam sua formação na Escola Normal e eram responsáveis pelas classes de 1º, 2º, 3º e 4º anos nos grupos escolares. Os cargos por elas ocupados eram chamados Professora Substituta Efetiva e Professora Adjunta. Tais nomenclaturas aparecem em muitos relatórios, escritos por Otília ou pelos diretores dos grupos escolares, acompanhadas dos nomes das professoras que assumiam as equipes de ginástica. os exercícios presentes nesses planos e acompanhar as atividades realizadas nos grupos escolares. Essa coordenação era possível graças à sua presença semanal nos grupos escolares de Campinas, à realização de reuniões com as professoras de municípios da região e ao recebimento de relatórios anuais enviados pelos diretores das escolas.

Para estruturar esse trabalho, no início de 1938, Otília escreve um documento intitulado Projeto de orientação para o ensino da Educação Física, nos grupos escolares de Campinas, no início do ano de 1938 (Forster, 1938FORSTER, Otília. Projeto para orientação do ensino de educação física, nos grupos escolares de Campinas, no início do ano de 1938. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1938. (Acervo Otília Forster; caixa 2).). Enviado aos diretores das escolas, esse documento continha orientações de como proceder à organização das aulas para as classes regulares e, especialmente, como formar equipes de ginástica, que eram turmas constituídas por alunos selecionados, os quais treinavam para as apresentações ginásticas em datas comemorativas e eventos.

Para além de orientações, os documentos enviados aos grupos escolares também solicitavam aos diretores o envio de relatórios no final do ano letivo, contendo informações sobre as equipes de ginástica, como número de alunos, uniforme, horário das aulas, nome da professora responsável, principais eventos de que tinham participado e até mesmo fotografias (Forster, 1941FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1940, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1941. (Acervo Otília Forster; caixa 2).)6 6 Este trecho foi retirado da circular enviada em 12 de fevereiro de 1941, a qual está anexada no relatório de atividades do ano de 1941 (Forster, [1941 ou 1942]). . Nas palavras da professora Otília:

Os grupos escolares, conforme ficou estabelecido, deverão ter as suas equipes de ginástica. Essa será selecionada dentre os alunos dos 3º e 4º anos, que apresentem a mesma idade cronológica e fisiológica, obtendo-se assim uma turma, o mais possível homogênea. (Forster, 1938FORSTER, Otília. Projeto para orientação do ensino de educação física, nos grupos escolares de Campinas, no início do ano de 1938. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1938. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., p. 1).

Os critérios de seleção de alunos para as equipes de ginástica, mencionados acima, estão no documento escrito por Otília, no qual esta trata da organização da Educação Física nos grupos escolares. Apesar de o documento não especificar os métodos utilizados para a seleção dos alunos, fica-nos claro que os critérios para a participação nas equipes de ginástica eram de cunho biológico, representando a forte influência que o discurso médico exercia sobre a Educação Física naquele período, em uma perspectiva higienista. Ao selecionar as crianças “mais fortes e de melhor aparência” (Forster, 1938FORSTER, Otília. Projeto para orientação do ensino de educação física, nos grupos escolares de Campinas, no início do ano de 1938. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1938. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., p. 1), evidenciam-se a preocupação com a saúde e a ideia de “regeneração da nação”, questões de cunho higiênico e eugênico, presentes na educação brasileira, sobretudo a partir dos anos de 1920 e 1930 (Carvalho, 1998CARVALHO, Marta Maria Chagas. Molde nacional e fôrma cívica: higiene, moral e trabalho no projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931). Bragança Paulista: Edusf, 1998.).

A professora Otília não especifica no projeto, nem em outros documentos e relatórios, os métodos utilizados para fazer a seleção dos alunos, mas menciona a realização de testes antropométricos e exames médicos, assim como a elaboração de fichas para a anotação e controle dos dados obtidos (Forster, 1939FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1938, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1939. (Acervo Otília Forster; caixa 2).).

A preocupação de Otília com a realização de exames médicos e testes coaduna-se, como nos aponta Pineau (2001PINEAU, Pablo. ¿Por qué triunfó la escuela? o la modernidad dijo: ‘Esto es educación’, y la escuela respondió: ‘Yo me ocupo’. In: PINEAU, Pablo; DUSSEL, Inés; CARUSO, Marcelo. La escuela como máquina de educar: tres escritos sobre un proyecto de la modernidad. Buenos Aires: Paidós, 2001. p. 306-331.), com a influência de discursos médicos e psicométricos que pregavam o controle total, as classificações, a correção dos desvios e outras práticas ortopédicas como necessárias ao sucesso educacional, numa escola que se tornava hegemônica perante os ideais de modernidade que se desenvolviam na passagem do século XIX para o XX.

Se pensarmos no contexto brasileiro, há indícios de que as discussões médicas, por exemplo, sobre a biometria e a biotipologia se apresentam desde a década de 1910. Baseados nos estudos italianos sobre o tema, os saberes biométricos e biotipológicos foram difundidos no país e, por volta de 1930, foram inseridos no currículo da Escola de Educação Física do Exército, com a criação do Gabinete Biométrico, bem como circularam em publicações dos dois primeiros periódicos especializados em Educação Física do Brasil (Silva, 2012SILVA, André Luiz dos Santos. Nos domínios do corpo e da espécie: eugenia e biotipologia na constituição disciplinar da Educação Física. 2012. Tese (Doutorado em Educação Física) - Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.; Silva; Macedo; Goellner, 2022SILVA, André Luiz dos Santos; MACEDO, Christiane Gomes; GOELLNER, Silvana Vilodre. A biometria como instrumento da educação física (1932-1944): constituição de sujeitos e identificação de tipos populacionais. Movimento, Porto Alegre, v. 28, e28014, 2022.).

Quanto aos testes realizados com os alunos das equipes de ginástica da DREC, embora não tenhamos encontrado especificação ou referência à biometria ou à biotipologia, podemos observar procedimentos semelhantes no relatório do Grupo Escolar Dr. Júlio de Mesquita, do município de Itapira:

Antes do início das atividades foram os alunos pertencentes à equipe submetidos a exame médico pelo Dr. José Secchi, o qual gentilmente se prestou a executar esse trabalho.

pós o início foram todos os ginastas registrados em fichas individuais com os seguintes dados: identificação, altura, peso, circunferência do tórax, inspiração, expiração e índice da ampliação toráxica. (Forster, 1939FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1938, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1939. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n. p.)7 7 Relatório do Grupo Escolar Dr. Júlio Mesquita, de Itapira. .

Para além das medidas como peso e altura, que muitos grupos escolares relatam ter verificado e anotado nas fichas dos alunos, o relatório mencionado anteriormente é o único que descreve a realização de testes para mensurar a circunferência do tórax e questões fisiológicas relacionadas à capacidade respiratória, como inspiração, expiração e índice da ampliação toráxica. Nesse sentido, considerando que não encontramos outros registros sobre esses testes, não sabemos se havia uma padronização ou um protocolo aos quais os alunos deveriam ser submetidos. De fato, apesar não apenas do estabelecimento dos critérios de seleção, mas também da recomendação do exame médico, observamos que Otília enfrentava dificuldades para realizá-los, seja devido à falta de aparelhos nos centros de saúde, seja pela escassez de fichas para registrar os dados coletados:

Não consegui fichar nenhum aluno, conforme era meu desejo, por não ter recebido do Almoxarifado nem as fichas, que enviei modelo, e nem material para o fichamento, pedido esse feito pelo Delegado de Ensino, e também nem o Centro de Saúde Local possuir alguns desses aparelhos. (Forster, 1940FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., p. 2).

Nos documentos encontrados no acervo da professora Otília, não há referência aos aparelhos específicos necessários para os exames e mensurações, nem quais deles não estavam disponíveis nos centros de saúde. De acordo com Silva (2012SILVA, André Luiz dos Santos. Nos domínios do corpo e da espécie: eugenia e biotipologia na constituição disciplinar da Educação Física. 2012. Tese (Doutorado em Educação Física) - Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.), na década de 1930, os gabinetes de biometria contavam com um extenso número de aparelhos. Dado o custo elevado e a necessidade de uma grande quantidade de aparelhos, é pouco provável que muitos centros de saúde ou escolas possuíssem todos esses equipamentos. Provavelmente, eles dispunham apenas dos mais acessíveis, como balanças e fitas métricas, o que possibilitava, ao menos, a medição do peso e altura, como indicam os relatórios dos grupos escolares que mencionam a seleção e o fichamento dos alunos.

No que diz respeito às fichas recomendadas por Otília, também não há nos seus documentos um modelo específico ao qual ela se referia. Isso nos deixa sem informações sobre quais medidas e testes a professora pretendia realizar com os alunos caso tivesse acesso aos materiais necessários.

Essas descontinuidades não impediram o Estado de adotar novas abordagens e estratégias para estreitar as relações entre médicos e professores, o que reforça o entendimento de que as discussões sobre saúde, higiene e eugenia associadas à educação ganharam visibilidade e espaço privilegiado nas proposições de transformação da sociedade brasileira, visando à regeneração física e moral, bem como à construção da nacionalidade, especialmente a partir dos anos de 1920 e 1930 (Carvalho, 1998CARVALHO, Marta Maria Chagas. Molde nacional e fôrma cívica: higiene, moral e trabalho no projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931). Bragança Paulista: Edusf, 1998.; Souza, 2009SOUZA, Rosa Fátima de. Alicerces da pátria: história da escola primária no estado de São Paulo (1890-1976). Campinas: Mercado de Letras, 2009.).

Em conformidade com seus objetivos relativos ao exame médico e antropométrico de professores e alunos, Souza (2009SOUZA, Rosa Fátima de. Alicerces da pátria: história da escola primária no estado de São Paulo (1890-1976). Campinas: Mercado de Letras, 2009.) aponta que o Serviço de Higiene e Educação Sanitária Escolar publicou, no relatório referente aos serviços realizados no ano de 1935, os seguintes números: 1.250 visitas médicas aos grupos escolares e 44.851 alunos atendidos. Segundo a autora, embora alguns grupos escolares tivessem sala própria para assistência médica, essa não era uma realidade comum a todas as escolas, sendo “a assistência médica aos escolares prestada somente nas localidades que possuíam centros de saúde, limitando-se muitas vezes à vacinação e ao tratamento de verminoses e tracomas” (Souza, 2009SOUZA, Rosa Fátima de. Alicerces da pátria: história da escola primária no estado de São Paulo (1890-1976). Campinas: Mercado de Letras, 2009., p. 252).

Na Delegacia Regional de Ensino de Campinas, a realidade da assistência médica observada a partir dos relatórios das atividades desenvolvidas pelas equipes de ginástica dos grupos escolares se assemelha ao exposto por Souza (2009SOUZA, Rosa Fátima de. Alicerces da pátria: história da escola primária no estado de São Paulo (1890-1976). Campinas: Mercado de Letras, 2009.), pois, enquanto alguns informam terem selecionado os alunos em conformidade com os critérios postos no projeto escrito por Otília e realizado os exames médicos, outros descrevem dificuldades e ausência de médicos.

Mesmo sem especificar quais exames e medidas antropométricas foram realizados, como fez o Grupo Escolar de Itapira, os grupos escolares de “Guanabara” (Campinas) e de Pinhal também relatam terem conseguido assistência médica, tendo o segundo, inclusive, anexado uma foto do exame antropométrico, a única sobre o tema no acervo de Otília:

A equipe seguindo à risca as instruções recebidas foi constituída por alunos rigorosamente selecionados e examinados pelos médicos da Delegacia de Saúde, desta cidade.

Compunha-se de alunos de 9 a 11 anos com o desenvolvimento físico o mais uniforme possível [...]. Dentre esses alunos alguns foram até premiados no concurso de robustez realizado na capital do Estado. (Forster, 1939FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1938, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1939. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n.p.)8 8 Relatório do Grupo Escolar de Guanabara, de Campinas. .

Figura 1
Exame Antropométrico

Contudo, observamos que os exames médicos não eram uma regra, sendo que grupos escolares não conseguiam realizá-los, como aponta o relatório do Grupo Escolar Dr. Almeida Vergueiro: “Não se fez a seleção por capacidade física rigorosamente, porquê isso importaria na colaboração de um médico com que não se contava na ocasião” (Forster, 1940FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n. p.)10 10 Relatório do Grupo Escolar Dr. Almeida Vergueiro, de Pinhal. . Ou, ainda, o relatório do Grupo Escolar Joaquim Vieira:

Os alunos da equipe foram selecionados pela idade e físico. Foram escolhidos entre os mais fortes e assíduos à escola. Foi adotado esse critério por não haver médico no lugar e no estabelecimento não existir material adequado para uma seleção mais racional. (Forster, 1941FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1940, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1941. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n.p.)11 11 Relatório do Grupo Escolar Joaquim Vieira, de Eleutério. .

As dificuldades enfrentadas para o fichamento adequado e a realização dos exames médicos por parte dos grupos escolares ao longo dos anos são externadas por Otília no relatório das atividades desenvolvidas em 1941:

Dei aulas para todas as Equipes Selecionadas dos Grupos escolares, já bem organizadas e matriculadas no livro competente.

Esse livro de Matrícula para os alunos das Equipes Selecionadas consta de: nome, filiação, idade, altura, peso e a anotação do consentimento por escrito dos Senhores Pais.

Não é um serviço perfeito, pois para organizarmos um bom fichário falta-nos material biométrico e a assistência médica, que é a mais necessária. (Forster, [1941 ou 1942]FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1941, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, [1941 ou 1942]. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n.p.).

Esse dado é relevante porque expõe que, mesmo na prevalência de discursos higienistas e por vezes eugênicos, as condições materiais impediam uma inserção mais efetiva de médicos no contexto das escolas no interior de São Paulo. Embora houvesse um projeto educacional claro, nem sempre havia uma estrutura material e profissionais que garantissem o cumprimento de seus objetivos. Havia uma fragilidade do serviço médico educacional frente à demanda resultante do aumento significativo do número de grupos escolares a partir da década de 1920, já que não houve tampo hábil para a formação de profissionais em número suficiente.

Cabe destacar que, desde sua regulamentação em 1934, dentre suas atribuições, competia ao DEF-SP “orientar e fiscalizar o controle médico da ginástica e dos esportes.” (São Paulo, 1934SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 6.583, de 1.º de agosto de 1934. Aprova o regulamento do Departamento de Educação Física. São Paulo, SP: Secretaria da Educação e da Saúde Pública, 1934.). Segundo Gomes e Dalben (2011GOMES, Ana Carolina Vimieiro; DALBEN, André. O controle médico-esportivo no Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo: aproximações entre esporte e medicina nas décadas de 1930 e 1940. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 321-335, abr./jun. 2011.), a partir de seu gabinete médico, fundado em 1935, o referido departamento promovia o fichamento antropométrico ou antropofisiológico dos esportistas e ginastas dos clubes paulistas, o qual incluía procedimentos como a mensuração do peso, da estatura e da capacidade respiratória. Embasado em conhecimentos científicos da biometria e da biotipologia, o DEF-SP buscava conhecer e controlar os corpos, determinando tipos físicos adequados às modalidades esportivas, bem como fundamentar a prescrição das práticas.

É possível identificar que, apesar dos avanços demonstrados pelo referido órgão no controle médico-esportivo dos atletas em clubes da cidade de São Paulo, era necessária sua expansão e organização no interior do estado. Do mesmo modo, o controle médico das “práticas de educação de física” nos grupos escolares necessitava de uma organização tanto na capital quanto no interior.

Acreditamos que discutir como se dava a seleção dos alunos para as equipes de ginástica expõe não apenas a relação com os discursos médicos difundidos no período, mas também e principalmente as dificuldades encontradas nesse processo, que revelam as contradições entre o projeto educacional e as desigualdades entre os grupos escolares do interior de São Paulo.

As descontinuidades podem ser observadas de maneira semelhante em relação aos uniformes escolares, inclusive o uniforme das “práticas de educação física”. Isso ocorre porque, como parte da simbologia que constitui as instituições escolares, o uniforme é um objeto histórico de importância significativa para a compreensão da educação escolar no contexto cultural (Souza, 2009SOUZA, Rosa Fátima de. Alicerces da pátria: história da escola primária no estado de São Paulo (1890-1976). Campinas: Mercado de Letras, 2009.). Dentre os diversos elementos que compõem as materialidades da educação escolar, a análise dos usos, formas e padrões do uniforme ao longo do tempo pode auxiliar-nos na compreensão da história e memória de uma instituição específica, de um grupo (Ribeiro; Gaspar da Silva, 2012RIBEIRO, Ivanir; GASPAR DA SILVA, Vera Lucia. Das materialidades da escola: o uniforme escolar. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 38, n. 3, p. 575-588, jul./set. 2012.), ou até mesmo, no nosso caso, das “práticas de educação física”.

Nesse sentido, os uniformes das equipes de ginástica dos grupos escolares de Campinas e região se apresentavam como uma possibilidade para compreendermos a organização da Educação Física nessas instituições. Como uma das diretrizes do projeto escrito por Otília, o uniforme deveria ser composto de:

[...] blusa branca, calção azul marinho, cinto, soquete e tênis branco. Para as meninas é obrigatório o uso de uma saia pregueada, azul marinho, sendo aberta em um dos lados, será fechada por meio de colchetes de pressão, para se usada por cima do calção, portanto mais comprida que esse, para os dias em que houver a necessidade de desfilar pela cidade. (Forster, 1938FORSTER, Otília. Projeto para orientação do ensino de educação física, nos grupos escolares de Campinas, no início do ano de 1938. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1938. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., p. 1).

Embora seguissem o mesmo padrão de cores e peças, com exceção da saia exigida em dias de desfile, os uniformes de meninos e meninas apresentavam diferenças em seus modelos de “blusa e calção”:

Todas as meninas dos grupos escolares, mesmo não pertencendo à equipe de ginástica, deverão ter o calção de ginástica, procurando seguir o modelo adotado pela Delegacia, isto é, azul marinho, com elástico na cintura e nas pernas, bem folgado ou franzido, de modo a não incomodar nos movimentos e o tênis. Isto para todas as meninas desde os primeiros anos.

Os meninos poderão ter uma camiseta de ginástica, branca e nos ombros só com tiras, próprias para ginástica. (Forster, 1938FORSTER, Otília. Projeto para orientação do ensino de educação física, nos grupos escolares de Campinas, no início do ano de 1938. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1938. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., p. 2, grifos da autora).

Enquanto o calção de meninos apresentava um corte reto, sem elástico nas pernas, o calção das meninas tinha um corte mais largo e era preso ao corpo por elásticos, com especial atenção para as pernas. Quanto às blusas, aos meninos permitia-se também o uso de regata, enquanto para as meninas as blusas permitidas eram apenas com mangas.

A seguir, apresentamos fotografias de algumas das equipes de ginástica, organizadas entre 1939 e 1941, nas quais podemos observar os uniformes adotados, em conformidade com as exigências mencionas anteriormente.

Figura 2
Equipe de Ginástica do Grupo Escolar do Cambuí, Campinas, 1939

A figura 2 é uma fotografia da equipe do Grupo Escolar do Cambuí, de 1939, que ficava localizado anexo à Escola Normal Carlos Gomes, na região central de Campinas, onde vemos uma turma mista, com os alunos uniformizados e organizados em quatro filas no pátio da escola. Ao fundo vemos três professoras, sendo Otília a que está no canto direito. As demais eram, provavelmente, suas professoras auxiliares, ou seja, as que ministravam as aulas que Otília não conseguia assumir.

No Brasil, o uso de uniformes escolares vem compondo formas de regular os corpos dos alunos desde o século XIX. Com o advento da República e a expansão da escola no Brasil, Ribeiro e Gaspar da Silva (2012RIBEIRO, Ivanir; GASPAR DA SILVA, Vera Lucia. Das materialidades da escola: o uniforme escolar. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 38, n. 3, p. 575-588, jul./set. 2012.) apontam que o uso do uniforme passou a ser defendido como uma maneira para evitar os contrastes sociais entre ricos e pobres, pressupondo que se efetivaria uma educação igual para todos. Em São Paulo, contudo, a igualdade pretendida com o uso dos uniformes não evitou que as desigualdades sociais aparecessem, conforme evidenciam Silva e Catani (2016SILVA, Katiene Nogueira da; CATANI, Denice Barbara. Fantasias da igualdade: uniformes escolares e democratização no Brasil. Cadernos de História da Educação, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 700-722, maio/ago. 2016.). Ao analisar artigos publicados em periódicos educacionais a partir do final da década de 1940, período de expansão da escola pública paulista, as autoras identificaram que as famílias mais pobres enfrentavam dificuldades para manter os filhos na escola devido às exigências materiais que eram feitas, entre elas, a obrigatoriedade dos uniformes (Silva; Catani, 2016SILVA, Katiene Nogueira da; CATANI, Denice Barbara. Fantasias da igualdade: uniformes escolares e democratização no Brasil. Cadernos de História da Educação, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 700-722, maio/ago. 2016.).

Podemos observar tais questões nos grupos escolares de Campinas e região por meio dos relatórios anuais enviados pelos diretores, nos quais há relatos de equipes em que o uniforme não foi um problema, e outros que expõem dificuldades para a aquisição do referido uniforme, o que dificultava a participação dos alunos e a formação das equipes. Esse é o caso, por exemplo, do Grupo Escolar Dom João Néry e do Grupo Escolar Guanabara:

Sendo facultativa a inscrição e não obrigatória pela dificuldade oriunda da confecção do uniforme de desfile e demonstração, conseguiu-se arregimentar 32 alunos de ambos os sexos que se prontificaram a aparelhar-se convenientemente. [...] Os uniformes da ginástica, parte foi adquirida pelos alunos, sendo, portanto, de propriedade particular dos mesmos e parte fornecida pela caixa escolar; tornando-se de propriedade do estabelecimento. (Forster, 1939FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1938, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1939. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n.p.)12 12 Relatório do Grupo Escolar Dom João Nery. .

Os uniformes, à exceção de três alunos que puderam adquiri-los por conta própria, foram fornecidos pela Caixa Escolar conforme a autorização de V.S. [referia-se ao Delegado de Regional de Ensino] para esse fim e serão ainda ocupados pelos alunos no decorrer do presente ano pelo seu ótimo estado de conservação. (Forster, 1939FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1938, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1939. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n.p.)13 13 Relatório do Grupo Escolar de Guanabara. .

Conforme Souza (2009SOUZA, Rosa Fátima de. Alicerces da pátria: história da escola primária no estado de São Paulo (1890-1976). Campinas: Mercado de Letras, 2009.), preocupações relacionadas à frequência irregular e à evasão escolar, muitas vezes decorrentes das dificuldades dos pais em adquirir roupas e materiais necessários para os alunos, têm sido observadas desde o início do século XX. A autora argumenta que o crescimento da escola pública trouxe consigo a necessidade de lidar com questões de assistência escolar e a importância do apoio da sociedade para suprir as necessidades dos grupos escolares e dos estudantes.

Os grupos escolares mencionados anteriormente utilizavam as “caixas escolares” como uma das primeiras iniciativas assistenciais organizadas nas escolas públicas. De acordo com Souza (2009SOUZA, Rosa Fátima de. Alicerces da pátria: história da escola primária no estado de São Paulo (1890-1976). Campinas: Mercado de Letras, 2009.), essas caixas recebiam contribuições e donativos dos pais e da comunidade, além de angariar recursos por meio de festas e campanhas. Esses recursos eram destinados à compra de materiais escolares, roupas, calçados e, em alguns casos, até mesmo de medicamentos para as crianças carentes.

Apesar das dificuldades financeiras encontradas para a aquisição dos uniformes, percebemos um esforço dos grupos escolares e dos familiares para organizar as equipes de ginástica, ainda que nem todas as exigências para o traje fossem atendidas, como podemos observar na fotografia (Fig. 3), em que há alunos com uniformes fora do padrão determinado:

Figura 3
Equipe de Ginástica do Grupo Escolar de Joaquim Egídio

A equipe de ginástica retratada na imagem pertence ao Grupo Escolar de Joaquim Egídio. Ainda que em preto e branco, as imagens revelam uma distinção clara entre as tonalidades e o comprimento das bermudas e saias dos alunos. Também é possível perceber a falta de padronização das vestimentas quanto ao uso de camisas de manga curta e comprida, vestidos e acessórios, como suspensórios, cintos e calçados.

Ao compararmos o Grupo Escolar do Cambuí, localizado no centro de Campinas, com outros grupos escolares situados em comunidades mais distantes do centro da cidade ou de outras regiões, torna-se evidente que os desafios enfrentados para adquirir uniformes e formar equipes de ginástica eram significativamente maiores para as comunidades mais distantes. Enquanto nas imagens do Cambuí nos impressionam a uniformidade, o padrão e a ordem exibidos pelos alunos que estão impecavelmente uniformizados e organizados, nas fotografias de outras localidades destacam-se as assimetrias que revelam diferenças econômicas e sociais. Essas diferenças evidenciam que não podemos descrever um projeto homogêneo de educação física, planejado e executado por médicos e educadores de acordo com seus princípios. Nesse ponto, as contradições minam a representação de uma bem-sucedida educação física higienista em relação aos seus objetivos.

Vale ressaltar também a estranheza com que os alunos de grupos escolares mais afastados recebiam as “práticas de educação física” e suas vestimentas, uma vez que estas não faziam parte de seus hábitos até aquele momento:

No ano de 1938 foi organizada neste estabelecimento, a título de experiência, dadas as dificuldades do nosso meio, que é rural e a distância em que moram os alunos, a equipe de ginástica.

Um outro fator a observar era a surpresa que dominava os alunos, que não estavam habituados a exercícios assim ritmados, ao uso de calções etc. (Forster, 1939FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1938, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1939. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n.p.)14 14 Relatório do Grupo Escolar de Jardim. .

As dificuldades relacionadas ao uniforme, especialmente à aquisição e ao uso de sapatos, persistiram nos municípios da região de Campinas ao longo da década de 1940, conforme evidenciado no conjunto documental de fotografias de Otília Forster. Nessas fotografias, ainda é possível observar alunos participando de atividades esportivas descalços.

De fato, os problemas enfrentados pelas autoridades na tentativa de estabelecer o uso do uniforme nas escolas de São Paulo persistiram por um período significativo. À medida que as escolas passaram a exigir o uso do uniforme, também passaram a receber apenas crianças cujas famílias podiam adquiri-lo. As crianças cujas famílias não conseguiam comprá-lo frequentemente eram matriculadas em escolas rurais ou ficavam fora da escola (Silva, 2006SILVA, Katiene Nogueira da. “Criança calçada, criança sadia!”: sobre os uniformes escolares no período de expansão da escola pública paulista (1950/1970). 2006. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.). Essa realidade parece semelhante à situação observada nos municípios da Delegacia Regional de Campinas entre o final dos anos 1930 e o início dos anos 1940, pois o uso do uniforme era um critério de seleção para a participação nas equipes de ginástica:

Não houve seleção propriamente dita, mas escolhidos os alunos que pudessem adquirir o uniforme, pois somente alguns deles achavam-se em condições de comprá-lo. [...]. Encerrando o relatório em apreço, cumpre-me cientificar que, mau grado todo o nosso empenho em organizar uma equipe com o número de alunos determinado nas instruções, torna-se ele muito difícil por motivos já bastante conhecidos, um dos quais a obtenção do uniforme a que já nos referimos. (Forster, 1940FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n. p.)15 15 Relatório do Grupo Escolar Dom João Nery.

O relato acima confirma que a situação financeira dos alunos e de suas famílias era determinante para a aquisição dos uniformes e, consequentemente, para a formação das equipes de ginástica, o que fica ainda mais claro no relato Grupo Escolar de Posse: “Não houve seleção, pois, foram aproveitados, somente, os alunos, cujos pais puderam comprar o uniforme”. (Forster, 1940FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n. p.)16 16 Relatório do Grupo Escolar de Posse. . Ou ainda no do Grupo Escolar Pedro de Toledo, de Lindóia: “Os alunos não foram selecionados; fazem parte da equipe os que puderam comprar uniforme, por ser o lugar bastante pobre”. (Forster, 1940FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n.p.)17 17 Relatório do Grupo Escolar Pedro de Toledo, de Lindóia. .

Acreditamos que, no contexto dos grupos escolares de Campinas e região, o uniforme se configurou como parte de uma rede de poderes e saberes que buscaram regular e disciplinar os corpos dos alunos no ambiente escolar, o que influenciou, sobremaneira, a organização da Educação Física nesses municípios, sem, contudo, se enfrentarem as dificuldades impostas pelas diferenças econômicas e sociais. Mas não eram exclusivamente as referidas desigualdades econômicas e sociais que impediam uma homogeneidade: o projeto pedagógico de Otília apresentava também diferenças entre seu planejamento e as práticas conduzidas por professoras normalistas.

Em Campinas, Otília ministrava uma aula por semana, enquanto a outra era conduzida pelas professoras das classes ou pelas responsáveis pelas equipes de ginástica, complementando o trabalho de Otília ao longo do ano. Nos demais municípios da região, todas as aulas eram ministradas por professoras do grupo escolar, tanto para as classes quanto para as equipes.

A distribuição das aulas da professora Otília nos grupos escolares de Campinas pode ser observada na documentação (Forster, 1943aFORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1942, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1943a. (Acervo Otília Forster; caixa 2).). A grade horária de Otília nos confirma que ela ministrava aulas tanto para as classes quanto para as equipes dos grupos escolares de Campinas, como também nos mostra que as aulas tinham por volta de trinta minutos de duração e que havia separação entre meninos e meninas. As aulas registradas de outros grupos escolares apresentavam divisões de turmas e horários muito similares, havendo pequenas alterações de acordo com o número de turmas e alunos, a disponibilidade das professoras ou de espaço para as atividades.

Além disso, a professora Forster fazia um trabalho de orientação, que ocorria tanto com as professoras de Campinas quanto com as de outros municípios. Para estas, essa orientação era indispensável, pois eram as únicas responsáveis por ministrar as aulas das equipes de ginástica e repassar as informações para as demais professoras de seu grupo escolar, uma vez que, para Otília, não era possível ministrar aulas fora de Campinas. Sendo assim, com apoio do delegado regional de ensino e dos diretores dos grupos escolares, Otília organizava encontros com as professoras responsáveis pelas equipes de ginástica, nos quais ela distribuía os planos de aula e as instruía. Todos os grupos escolares nomeavam apenas uma professora encarregada da equipe de ginástica, a qual deveria participar da orientação:

Todas as equipes de ginástica tinham uma professora responsável, nomeada pelos respetivos Diretores dos grupos escolares, que muito me auxiliaram.

Consegui com o Delegado Regional do Ensino, então Snr. Malvino de Oliveira, reuniões dos professores responsáveis pelas equipes dos Grupos escolares da cidade e os mais próximos, para a distribuição dos planos de aulas, sendo que nessas reuniões elas assistiam às aulas por mim dadas e depois repetiam em seus Grupos para as colegas assistirem e ensinarem às suas classes. (Forster, 1940FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., p. 2).

Sendo assim, com exceção dos grupos escolares de Campinas, aos quais Otília comparecia semanalmente, nos demais a condução das aulas ficava inteiramente sob a responsabilidade de professoras sem formação na área, com apenas a encarregada da equipe recebendo orientações diretas de Otília. Embora necessária, pois não havia outra professora de Educação Física na DREC, a ausência de Otília e a dependência das professoras normalistas para assumir as aulas geravam dificuldades para a organização das equipes.

Cabe ressaltar que, em 1938, a convite do então prefeito Euclydes Vieira, o diretor do DEF-SP, Dr. Edmundo Carvalho, visitou Campinas com intuito de “estudar in loco os meios e modos de generalizar e intensificar a prática de educação physica” (Departamento..., 1938DEPARTAMENTO de Educação Physica. Correio Paulistano, São Paulo, p. 6, 15 dez. 1938., p. 6). Na ocasião, conforme noticiado pelo jornal Correio Paulistano, o diretor do DEF-SP, acompanhado pelo prefeito, “percorreu diversos pontos da cidade, demorando-se em diversos educandários” (Visita..., 1938VISITA do Chefe do Departamento de Educação Physica do Estado de S. Paulo. Correio Paulistano, São Paulo, p. 15, 17 dez. 1938., p. 15).

Apesar do interesse demonstrado pelo DEF-SP no desenvolvimento da Educação Física em Campinas, com atenção para a escola, nenhuma providência foi tomada a respeito da contratação de professores com formação específica, uma vez que Otília continuou orientando os trabalhos. Desse modo, os diretores dos grupos escolares relatavam dificuldades em formar equipes de ginástica. Por exemplo, no Grupo Escolar de Mogi Guaçu, a equipe de ginástica funcionou por quatro meses e, após passar por duas trocas de professoras, foi dissolvida, uma vez que não havia quem pudesse assumir a responsabilidade de ministrar as aulas. (Forster, 1940FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2).)18 18 Relatório do Grupo Escolar de Mogi Guaçu. .

Fato similar ocorreu no Grupo Escolar de Serra Negra, onde a professora que estava responsável pela equipe adoeceu e não houve outra que pudesse assumir, o que forçou o grupo escolar a solicitar apoio ao Comandante do Destacamento Policial da cidade:

Consultadas as outras colegas nessa época, não foi encontrada uma sequer que se sentisse com coragem para assumir tal responsabilidade.

Esta Diretoria [do Grupo Escolar], então convidou o Comandante do Destacamento Policial, para que ministrasse, na medida do possível, as referidas aulas, o que foi feito, graças a Boa vontade manifestada pelo referido militar. (Forster, 1940FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n.p.)19 19 Relatório do Grupo Escolar de Serra Negra. .

Percebe-se, dessa maneira, que havia uma dificuldade dos grupos escolares, especialmente os de cidades menores, em designar ou manter professoras nas aulas, seja por motivo de doença seja mesmo por falta de interesse, uma vez que não eram remuneradas ou bonificadas para exercer tal função. A reivindicação quanto a isso foi explicitada em relatórios de alguns grupos escolares, conforme a documentação pesquisada:

As equipes de ginástica de cada grupo escolar teriam mais eficiência se para cada uma delas fosse escalada professora especializada ou as que estão à frente percebessem uma gratificação anual ou mensal, ao menos melhores pontos para entrada em concurso etc. (Forster, 1941FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1940, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1941. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n. p.)20 20 Relatório do Grupo Escolar Luiz Leite, de Amparo. .

A falta de remuneração e de formação específica acarretavam dificuldades das professoras em assumir as aulas das equipes de ginástica, o que impossibilitava sua organização em alguns grupos escolares:

Tenho a honra de comunicar-vos que perdurado as mesmas razões expostas em meu ofício n. 12, de 14-2-1941, não foi possível a organização das equipes de ginástica deste estabelecimento, durante o ano próximo passado.

Não havendo entre o corpo docente deste Grupo (professoras) quem espontaneamente e com os requisitos indispensáveis queira tomar o encargo de instrutora de educação física, as equipes de ginástica nunca poderão ser organizadas satisfatoriamente (Forster, [1941 ou 1942]FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1941, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, [1941 ou 1942]. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n.p.)21 21 Relatório do Grupo Escolar Abelardo Cesar, de Pinhal. .

Conjuntamente às reivindicações por melhores condições de trabalho para as professoras, a necessidade de formação específica em Educação Física para assumir as equipes de ginástica e ministrar as aulas também ganha espaço nos relatórios enviados para Otília, conforme escreve o diretor do Grupo Escolar Luiz Leite, de Amparo:

Sugestão: Para maior progresso e perfeito desenvolvimento da ginastica escolar julgo que as equipes de ginastica deveriam ser dirigidas e orientadas somente por professoras especializadas e não acumulando funções de adjuntas. (Forster, 1940FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n.p.)22 22 Relatório do Grupo Escolar Luiz Leite, de Amparo. .

A sugestão dada pelo referido diretor não apenas corrobora o apresentado até o momento sobre o acúmulo de funções, as reivindicações das professoras normalistas e a consequente dificuldade de organização da Educação Física, mas também o extrapola, apontando a necessidade de professoras formadas na área. Essa discussão também ocorria no âmbito da institucionalização e regulação dos divertimentos e das práticas, como a ginástica e o esporte (Dalben et al., 2019DALBEN, André; GÓIS JUNIOR, Edivaldo; LIMA, Rodrigo Jeronimo Correa; PALMA, Lucas Polli da. Criação do Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo (1925-1932). Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 49, p. 264-286, 2019.).

O diretor de Amparo não foi o único a apresentar sua preocupação com a especificidade da Educação Física e a atual organização das aulas. Também o fez o diretor do Grupo Escolar Dr. Almeida Vergueiro, de Pinhal:

Sendo amplas as atribuições do professor de educação física, não podiam os pequenos escolares ser entregues aos cuidados de professores mal preparados para o desempenho dessa tarefa, e sim a educadores especializados que soubessem cuidar metódica e racionalmente do estado físico da infância escolar. (Forster, 1940FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., n. p.)23 23 Relatório do Grupo Escolar Dr. Almeida Vergueiro, de Pinhal. .

Otília Forster documentava as queixas dos diretores como argumento para a contratação de outros professores de Educação Física. Ao apresentar suas preocupações, o diretor enfatiza a necessidade de formação específica para que os exercícios fossem ministrados com método, de maneira racional, considerando as necessidades biológicas da infância, sem se preocupar com apresentações e demonstrações, mas com exercícios graduais e harmônicos. Finaliza reivindicando a presença de professores formados nas escolas e não somente nas Delegacias de Ensino, como é o caso de Otília, a única professora formada na área na região.

Tais questões não passaram despercebidas por Otília, especialmente em 1942, ano em que houve o menor número de grupos escolares com equipes de ginástica desde que iniciou os trabalhos em 1937. Dos 23 que conseguiram organizar suas equipes, 10 eram de Campinas, que manteve a quantidade de anos anteriores, e apenas 13 eram de outros municípios da região, o que representava uma diferença significativa, fato apontado pela professora no relatório daquele ano: “Quanto aos Grupos escolares da Região poucos foram esse ano os que organizaram as equipes pela dificuldade de serem transmitidas as instruções e conseguir professora responsável, com conhecimento do método.” (Forster, 1943aFORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1942, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1943a. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., p. 2).

Para justificar as dificuldades encontradas, Otília aponta, no mesmo relatório, as questões trazidas pelos diretores das escolas em anos anteriores, como a falta de remuneração ou bonificação das professoras. Ela sugere, inclusive, o oferecimento de cursos nas férias para que professores pudessem adquirir conhecimentos acerca da organização das aulas:

A dificuldade apresentada em alguns Grupos escolares na organização das equipes é arranjar a professora responsável que siga minhas instruções, repetindo a segunda aula semanal, pois elas alegam que não recebem, nem mesmo alguns pontos por ano, como as professoras de orfeão.

Ótimos resultados conseguiríamos se houvesse um curso abreviado para professores, primeiro dos Grupos escolares [...]. (Forster, 1943aFORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1942, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1943a. (Acervo Otília Forster; caixa 2)., p. 1-2).

Com a compreensão da dinâmica organizacional do trabalho de Otília, cabe-nos discutir a relação entre os planos de aula, os eventos e as “práticas de educação física” presentes no cotidiano escolar, em especial, a ginástica e o esporte, já que, entre os planos e as práticas, além de descontinuidades, havia também continuidades. Em outras palavras, mesmo diante de dificuldades materiais inequívocas, o projeto pedagógico de Otília tentava se materializar para além dos planos de ensino. Ela foi uma professora que buscou documentar suas ações e, dessa forma, produzir uma memória sobre os resultados de seu trabalho pedagógico, que eram expostos em eventos e comemorações; aliou esporte e ginástica, expondo as continuidades entre a Educação Física, idealizada como moderna em uma escala nacional, e as “práticas de educação física” daqueles grupos escolares da região de Campinas.

Considerações finais

O estudo teve como objetivo compreender como o esporte e a ginástica, presentes nas escolas nas aulas de Educação Física, organizavam-se em torno de um projeto pedagógico de educação e saúde em comparação com as práticas. Ao analisar o trabalho desenvolvido pela professora Otília Forster, entre 1937 e 1945, a pesquisa observou descontinuidades entre os propósitos higienistas proferidos em discursos pedagógicos e as dificuldades enfrentadas pelas professoras no trabalho nas escolas. Quando Certeau (2011CERTEAU, Michel de. A escrita da história. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011.) instiga os historiadores a perceberem a formalidade das práticas, por vezes, em contradição com as representações, ele pressupõe como objetivo de uma operação historiográfica que os discursos poderiam se distanciar ou se aproximar das práticas. Nesse sentido, o que era disciplina, eugenia e higiene para médicos e educadores poderia, no âmbito da formalidade das práticas, ganhar outros significados em relação aos objetivos pedagógicos. Entre o final do século XIX e o início do século XX, os discursos de fortalecimento e regeneração da raça influenciaram significativamente as sistematizações de práticas como a ginástica e o esporte. Especialmente nas décadas 1920 e 1930, as elites políticas e intelectuais brasileiras buscavam pressupostos para uma modernização. Nesse contexto, as “práticas de educação física” foram importantes no campo discursivo para a assimilação de valores, comportamentos e atitudes, com o objetivo de moralizar a sociedade no sentido dado por parte dos higienistas. Essa representação da Educação Física, no entanto, esbarrava não apenas em práticas cotidianas que davam outros significados aos objetivos higienistas, mas também em condições materiais inadequadas de escolas do interior de São Paulo, que impactavam seus planos pedagógicos. Observamos, assim, que as práticas de educação física não ocorriam de forma homogênea, pois ganhavam uma dinâmica própria devido também às desigualdades econômicas e sociais que expunham as diferenças entre os estudantes.

Em Campinas, as diversas transformações sociais e urbanas ocorridas no município, especialmente a partir da década de 1930, lançam luz sobre os desafios que este ainda teria de enfrentar com relação ao saneamento, urbanização e modernização. Nesse sentido, dialogando com os discursos higiênicos, eugênicos e nacionalistas sobre a importância da Educação Física, sobretudo por meio da ginástica e do esporte, o projeto de Educação Física, organizado e implementado pela professora Otília Forster, tornou-se importante no conjunto de estratégias e iniciativas implementadas pelo poder público do município para mitigar aquelas dificuldades estruturais, como, por exemplo, a falta de professoras especializadas na área. O problema que as fontes nos narram, no entanto, evidencia as descontinuidades entre discursos pedagógicos e médicos e as “práticas de educação física”, mas também aborda os resultados do projeto da professora Otília, que perseguia seus objetivos higienistas em diferentes circunstâncias.

Referências

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  • FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1938, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1939. (Acervo Otília Forster; caixa 2).
  • FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1939, em Campinas, 1940. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1940. (Acervo Otília Forster; caixa 2).
  • FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1940, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1941. (Acervo Otília Forster; caixa 2).
  • FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1941, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, [1941 ou 1942]. (Acervo Otília Forster; caixa 2).
  • FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1942, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1943a. (Acervo Otília Forster; caixa 2).
  • FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1943, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, 1943b. (Acervo Otília Forster; caixa 2).
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  • VISITA do Chefe do Departamento de Educação Physica do Estado de S. Paulo. Correio Paulistano, São Paulo, p. 15, 17 dez. 1938.
  • 2
    Esta pesquisa contou com auxílio financeiro: da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na modalidade “Auxílio a projeto de pesquisa regular”, processo n. 2022/13537-1; e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio de Bolsa de Produtividade em Pesquisa, processo n. 304575/2021-6.
  • 3
    Neste estudo, o termo “práticas de educação física” é compreendido como um conjunto de esportes, ginásticas, atividades e exercícios físicos, jogos, lutas, divertimentos ativos com finalidades específicas e que mobilizam diversos agentes institucionalizados, como professores de Educação Física, instrutores, educadores, médicos, técnicos e estudantes (Góis Junior; Soares, 2018GÓIS JUNIOR, Edivaldo; SOARES, Carmen Lucia. Os comunistas e as práticas de educação física dos jovens na década de 1930 no Rio de Janeiro. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 44, p. 1-19, 2018.).
  • 4
    Não conseguimos identificar o número de grupos escolares atendidos em 1944, uma vez que não há no acervo do CMU o relatório referente a esse ano, nem em 1945, pois, embora haja o relatório, Otília não menciona quais Grupos escolares estavam sob sua responsabilidade.
  • 5
    Nesse período, as professoras normalistas faziam sua formação na Escola Normal e eram responsáveis pelas classes de 1º, 2º, 3º e 4º anos nos grupos escolares. Os cargos por elas ocupados eram chamados Professora Substituta Efetiva e Professora Adjunta. Tais nomenclaturas aparecem em muitos relatórios, escritos por Otília ou pelos diretores dos grupos escolares, acompanhadas dos nomes das professoras que assumiam as equipes de ginástica.
  • 6
    Este trecho foi retirado da circular enviada em 12 de fevereiro de 1941, a qual está anexada no relatório de atividades do ano de 1941 (Forster, [1941 ou 1942]FORSTER, Otília. Educação física: relatório do ano letivo de 1941, em Campinas. Campinas: Centro de Memória Unicamp, [1941 ou 1942]. (Acervo Otília Forster; caixa 2).).
  • 7
    Relatório do Grupo Escolar Dr. Júlio Mesquita, de Itapira.
  • 8
    Relatório do Grupo Escolar de Guanabara, de Campinas.
  • 9
    Relatório do Grupo Escolar de Jardim.
  • 10
    Relatório do Grupo Escolar Dr. Almeida Vergueiro, de Pinhal.
  • 11
    Relatório do Grupo Escolar Joaquim Vieira, de Eleutério.
  • 12
    Relatório do Grupo Escolar Dom João Nery.
  • 13
    Relatório do Grupo Escolar de Guanabara.
  • 14
    Relatório do Grupo Escolar de Jardim.
  • 15
    Relatório do Grupo Escolar Dom João Nery.
  • 16
    Relatório do Grupo Escolar de Posse.
  • 17
    Relatório do Grupo Escolar Pedro de Toledo, de Lindóia.
  • 18
    Relatório do Grupo Escolar de Mogi Guaçu.
  • 19
    Relatório do Grupo Escolar de Serra Negra.
  • 20
    Relatório do Grupo Escolar Luiz Leite, de Amparo.
  • 21
    Relatório do Grupo Escolar Abelardo Cesar, de Pinhal.
  • 22
    Relatório do Grupo Escolar Luiz Leite, de Amparo.
  • 23
    Relatório do Grupo Escolar Dr. Almeida Vergueiro, de Pinhal.

Editora responsável:

Mônica Caldas Ehrenberg.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    06 Mar 2023
  • Revisado
    12 Set 2023
  • Aceito
    17 Out 2023
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