Resumo
O fracasso escolar no Brasil é crônico e complexo, portanto, torna-se relevante uma escuta atenta daqueles que lidam com os desafios cotidianos das escolas públicas. Esta pesquisa teve o objetivo de identificar as hipóteses docentes sobre as dificuldades na aprendizagem escolar e analisar alguns aspectos subjacentes às explicações dadas por eles. A coleta de informações foi realizada por meio de 133 questionários e grupos focais com professores do Ensino Fundamental I. Utilizou-se a análise temática de conteúdo e frequências de palavras para sistematização e interpretação dos resultados. A maioria dos professores, 88%, afirma que as dificuldades de aprendizagem estão relacionadas principalmente à falta de apoio e de estímulo das famílias; 69% destacam os aspectos relacionados aos alunos, como falta de interesse, de atenção, de pré-requisitos, além de problemas emocionais e de indisciplina. Ressaltam, ainda, questões pertinentes às políticas públicas: redução da idade para matrícula no EF sem as devidas adaptações estruturais na escola, material didático inadequado e a progressão continuada sem apoio às crianças com dificuldades. Concluímos que tais explicações se, em um primeiro momento, sugerem preconceitos quanto às famílias e alunos, em uma análise criteriosa, revelam sintomáticas contemporâneas da sociedade de consumo, dissonâncias na relação família-escola e desvalorização da educação. As falas dos professores denunciam um mercado de apostilas e de formações que desqualificam seus saberes. Os cursos formativos, apelidados de deformações docentes, parecem descontextualizados das problemáticas concretas enfrentadas pelas instituições públicas. Por fim, as falas também evidenciam o universo de manipulações midiáticas dos interesses e valores das famílias e dos alunos.
Fracasso escolar; Dificuldades na aprendizagem; Alfabetização; Formação docente; Mídia e infância