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Além dos muros do Instituto Químico era noite, a noite da Europa: Chamberlain retornara enganado de Munique, Hitler entrara em Praga sem disparar um tiro, Franco tomara Barcelona e dominava Madri. A Itália fascista, pirata menor, ocupara a Albânia [...]
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Mas naqueles muros espessos a noite não penetrava; a própria censura fascista, obra-prima do regime, nos mantinha separados do mundo, num branco limbo de anestesia. [...]
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Havia elementos fáceis e francos, incapazes de se esconderem, como o ferro e o cobre; outros, insidiosos e fugidios, como o bismuto e o cádmio. Havia um método, um esquema refletido e antigo de pesquisa sistemática, uma espécie de pente e de rolo compressor a que nada (em teoria) podia escapar, mas eu preferia inventar de cada vez meu caminho, com rápidas e extemporâneas incursões de guerra de movimento em lugar da rotina extenuante da guerra de posição: sublimar o mercúrio em pequenas gotas, transformar o sódio em cloreto e reconhecê-lo em fragmentos cristalizados sob o microscópio. [...]
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Poucos meses antes tinham sido proclamadas as leis raciais, e ali também estava me tornando um solitário [...]
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Entre nós, Sandro era um solitário. Rapaz de estatura média, magro, mas musculoso, nem mesmo nos dias mais frios usava casaco. Vinha para a aula com calças surradas de falso veludo, meias de lã tosca e, às vezes, um pequeno capote negro que me recordava Renato Fucini. Tinha grandes mãos calosas, um perfil ossudo e áspero, a face curtida de sol, a testa baixa sob a linha dos cabelos, que usava muito curtos e cortados à escovinha: caminhava com o passo longo e lento do camponês [...]
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O pai morrera quando ele era criança, tratava-se de gente simples e pobre, e como o rapaz era ativo tinham decidido mandá-lo estudar a fim de trazer algum dinheiro para casa: ele havia aceitado com seriedade piemontesa, mas sem entusiasmo. [...] Escolhera Química porque lhe parecera melhor que outro curso: era um ofício que tratava de coisas que se vêem e se tocam, um ganha-pão menos cansativo que ser marceneiro ou camponês [...]
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Nasceu uma fraternidade, e para mim começou uma época frenética. Sandro parecia feito de ferro e era ligado ao ferro por um antigo parentesco: os pais de seus pais, me contou, tinham sido caldeireiros (magnín) e ferreiros (fré) dos vales canaveses, fabricavam pregos na forja a carvão, cintavam as rodas dos carros com aros incandescentes, batiam a chapa de ferro até o ponto da surdez: e ele mesmo, quando descobria na rocha o veio vermelho do ferro, lhe parecia reencontrar um amigo. Quando o inverno acometia, amarrava os esquis na bicicleta enferrujada, partia cedo e pedalava até a neve, sem dinheiro, com uma alcachofra numa algibeira e a outra cheia de verduras: voltava de noite ou mesmo no dia seguinte, dormindo no feno dos abrigos, e quanto mais tormenta e fome sofria mais contente e melhor de saúde ficava [...]
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Sandro era Sandro Delmastro, o primeiro combatente morto do Comando Militar Piemontês do Partido da Ação.
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Aluna 1. É então é... o nosso texto fala sobre o ferro. ((inaudível, vários alunos falando ao mesmo tempo)) é a citação de vários acontecimentos históricos que aconteciam nessa época da recordação de Primo Levi, como a Itália fascista e uma breve citação ao Hitler. Também, a gente
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observa muito o cenário que se passa a história. É... logo no começo, a gente vê que a história se passa num Instituto de Química... um Instituto Químico, que a história do Primo Levi segue, e também é todas as relações, tanto estudantis e pessoais que são apresentadas dentro desse / desse cenário.
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Aluna 2. É, ao longo do texto percebemos uma, meio que uma visita de um cara chamado Sandro, que era meio que parceiro do Levi, que era um homem solitário, robusto, de personalidade única e forte / e ele acreditava que tudo tinha uma esperança.
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Aluna 3. Bom, por que da profissão do Sandro? Ele optou por Química porque era um ofício que podia modificar as coisas, as coisas poderiam ser modificadas e também pela situação econômica dele. Que, já que o Sandro ele veio de família pobre, ele..., a Química proporcionava mais recursos, era mais fácil ser químico do que um mero camponês e trabalhar no campo e nas plantações.
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Aluna 4. Primo Levi descrevia o Sandro como uma pessoa independente. Ele sabia se virar sozinho e preocupava-se a ((inaudível)) a si mesmo. Então, nesse trecho ele fala “ Sandro aprecia ser feito de ferro, ele era ligado ao ferro por um antigo parentesco: os pais dos seus pais eram caldeireiros e ferreiros”.
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Aluna 1. Bom, é, a entrada do Sandro na história é de extrema importância. Por que tanto, é, a questão de citar o ferro / nessa entrada dele, tem todo um contexto para que a história prossiga. É,../ Então, além dessa entrada do Sandro, explicando, é ajudando o Levi a seguir em frente, a novas relações com suas ideias, pra poder, é, seguir / a profissão exata. É, a ligação dos acontecimentos históricos sempre, é, intercalando entre as relações de Primo Levi e Sandro. É, eles viviam numa época de extrema rigidez. Por isso, é, acontecimentos como a ditadura fascista, a ditadura é... e a
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Segunda Guerra Mundial, é... foram de extrema importância para que, é, as relações entre eles prosseguissem. E também, é, a citação do ferro e a questão do Sandro é, se diferenciar do resto das pessoas, dos restos dos/ das ligações entre Primo Levi e Sandro. É, infelizmente ele foi morto em combate por causa desses acontecimentos históricos e teve um, não digamos um fim trágico, mas/ foi um fim dessa relação, mas que foi destacada pelo Primo Levi como de extrema importância para sua vida. É, e também a gente consegue perceber que ao longo do texto são citados vários elementos e reações químicas, que não é, não exatamente ligada ao ferro, mas que servem nessa história para poder constar que tanto o Sandro como o Primo Levi, eram ligados aos elementos químicos e as reações deles.
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