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A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência elegeu, como tema para a sua 50a. Reunião Anual, em Natal (RN), o tema Ciência, Educação e Investimento.

Não poderia ser mais oportuno, pela visibilidade que confere à alarmante situação que vive a C&T no Brasil. Observamos a progressiva deterioração das condições de funcionamento da instituição universitária pública: imersa na crise, a universidade - impotente - vai perdendo os seus mais competentes quadros e os grupos de pesquisa vão se desarticulando. O risco mais iminente, um projeto de autonomia que, de requisito indispensável à vida universitária, transfigura-se em sinônimo de privatização e descomprometimento do Estado com o seu financiamento. Autonomia, como bem lembra José Arthur Giannotti (Em defesa da universidade pública, 1998, 17 de abril, Folha de São Paulo, p. 3/6), deve trazer uma maior eficácia ao sistema de ensino superior, mas sempre vinculada ao aumento dos seus graus de liberdade e maior responsabilidade social.

Sem entrar nas querelas acadêmicas acerca do estatuto do neoliberalismo - se este constitui um corpo teórico próprio ou resume-se a um mero conjunto de proposições políticas que conjuga uma atualização do liberalismo com formulações conservadoras - é inegável que o sucateamento do ensino superior público no Brasil não é um caso isolado. Ao contrário, faz parte de um processo em nível planetário que, sob o primado do mercado, articula a contração da emissão monetária, a elevação das taxas de juros, a diminuição da taxação sobre os altos rendimentos, a abolição de controles sobre os fluxos financeiros, a criação de altos níveis de desemprego, o controle e repressão do movimento sindical, um amplo programa de privatizações, com o corte dos gastos sociais e a conseqüente decomposição do atendimento público e estatal nesse setor.

Lutar contra a destruição do sistema de C&T no Brasil é responsabilidade de todos. Concordando com o professor Luiz Carlos Soares, da Universidade Federal Fluminense (Sobre a destruição das Universidades, 1998, 17 de abril, Jornal da Ciência, p. 5), evitar esse desastre anunciado é legado para as futuras gerações.

No conjunto das preocupações acerca da questão das políticas sociais, saúde e habitação dividem o espaço com o campo educacional. Particularmente, para os psicólogos, pela evidência alcançada no campo da saúde pública, faz com que esta mereça atenção especial. Trata-se de uma das áreas mais críticas no que concerne ao atendimento às necessidades da população, a precariedade da realidade contrastando com os avanços alcançados nos embates políticos, consubstanciada, entre outros diplomas legais, na Constituição de 1988. Neste número de Estudos de Psicologia, apresentamos dois estudos sobre a questão. Maria Lúcia Boarini e Roselânia Borges abordam a questão dos serviços de saúde mental infantil; Magda Dimenstein, a formação e atuação do psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde. Os dois outros artigos discutem também temáticas situadas dentro do mesmo terreno das questões políticas e sociais: Leoncio Camino, Eleneide da Silva e Sânzia de Souza esboçam um modelo psicossociológico do comportamento eleitoral e Esther Wiesenfeld propõe uma análise psicossocial da resistência ao despejo em população de baixa renda. É interessante notar, neste trabalho sobre a realidade venezuelana, a nítida proximidade com relação às questões que enfrentamentos hoje no Brasil.

A seção especial deste número está dedicada a duas palestras que marcaram o vigésimo ano de funcionamento do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Contamos com a presença do psicólogo francês Gabriel Moser, que proferiu uma palestra sobre a "Psicologia Ambiental" e o psicanalista brasileiro radicado também na França, Heitor de Macedo, que discorreu sobre o tema "O caráter traumático da sexualidade".

O entrevistado desta edição é Agostinho Minicucci, que faz parte do rol de intelectuais que teve por responsabilidade construir as bases do conhecimento e da profissão de psicólogo no Brasil. Autor de dezenas de publicações, o professor Minicucci nos fala sobre suas inúmeras áreas de interesse e atuação, bem como as suas opções teóricas.

Dois trabalhos que giram, com enfoques distintos, sobre a temática do gênero são apresentados na seção de comunicações breves. O livro resenhado nesta edição é a obra "Interpretação e superinterpretação", de Umberto Eco, pela professora Denise Dantas.

Este é o número que preparamos para abrir o terceiro ano de Estudos de Psicologia - que, esperamos, seja do agrado dos leitores.

O Editor.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Maio 2001
  • Data do Fascículo
    Jun 1998
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