RESUMO
Os jogos escolares ao ar livre organizados pela cidade de Metz entre 1919 e 1932 representam uma experiência original. Criados sob o regime do Reichsland em 1903, eles continuaram presentes mesmo após a Primeira Guerra Mundial, depois que Metz voltou a ser parte do território francês. Organizados por professores primários voluntários, atividades físicas ou esportivas eram ofertadas aos alunos, fora do horário escolar. A ambição era desenvolver a saúde dos estudantes num quadro menos restritivo do que o proporcionado pela ginástica escolar obrigatória, mantendo-os com isso afastados das tentações da rua. Nesses jogos ao ar livre não havia uma distinção de sexo e nem uma diferenciação confessional (católicos, protestantes e laicos). Para isso, foram criados vários locais de atividade, sempre ao ar livre. As ações escolhidas eram na maioria das vezes os jogos tradicionais, mas também podiam ser cultura física, atividades esportivas, passeios, banhos ao ar livre. De 1919 a 1932, várias centenas de alunos e alunas de Metz se beneficiaram de uma educação física moral e higiênica. Isso ocorreu em um quadro menos estrito do que o existente no interior da escola, sob a direção de professores primários que utilizavam de pedagogias mais ativas e menos tradicionais do que as praticadas no contexto escolar.
Palavras-chave:
Jogos ao ar livre; Educação Física; Aluno; Metz
RÉSUMÉ
Les jeux de plein air scolaires organisés par la ville de Metz entre 1919 et 1932 représentent une expérience originale. Créés sous le régime du Reichsland en 1903, ils se poursuivent cependant après la première guerre mondiale, après que Metz soit revenue à la France. Organisés par des instituteurs volontaires, ils proposent aux élèves qui le désirent des activités physiques ou sportives en dehors des heures scolaires. L’ambition est de développer la santé des élèves dans un cadre moins contraignant que celui de la gymnastique obligatoire de l’école, tout en les éloignant des tentations de la rue. Ces jeux de plein air s’adressent sans distinction de sexe aux garçons comme aux filles et sans distinction confessionnelle aux catholiques, aux protestants, aux laïcs. Pour ce faire, divers lieux d’activité sont investis, toujours en plein air. Les activités choisies relèvent le plus souvent des jeux traditionnels, mais peuvent aussi être de la culture physique, des activités sportives, des promenades, des bains de plein air. De 1919 à 1932, plusieurs centaines d’écolières et d’écoliers messins ont donc bénéficié d’une éducation corporelle morale et hygiénique. Celle-ci s’est déroulé dans un cadre moins strict que celui de l’école, sous la direction d’instituteurs qui utilisaient des pédagogies plus actives et moins traditionnelles qu’à l’école.
Mots clés:
Extérieur; Jeux; Éducation physique; Étudiant; Metz
ABSTRACT
The city of Metz organized outdoor games for students between 1919 and 1932. This should be considered as an innovative experiment. Created under the Reichsland’s regime in 1903, this organization did not stop its activities after World War 1, when Metz returned to the French homeland in 1918. Volunteer teachers kept on proposing sporting or physical activities to young students, aged 6-13, who were willing to participate outside classtime. The primary goal aimed to promote schoolchildren health in a less strict educational environment and at the same time to keep them away from streets temptations. Each sex could take part into these outdoor games and no one could be excluded, based on his or her religious affiliation. Activities took place in various venues, but always outdoor. They were often traditional games or child’s plays, but sometimes pupils were teached physical education or sports. Some of them were brought to walks or river baths. From 1919 to 1932, several hundreds of schoolgirls and schoolboys from Metz benefited from these specific forms of physical education, aiming both sanitary and moral improvement. Outdoor environment was less rigorous than compulsory school and teachers could use more active teaching and less traditional methods.
Keywords:
Outdoor Games; Physical education; Student; Metz
Introdução
No período entre guerras, o município de Metz permitiu que um grupo de professores primários voluntários oferecesse uma educação física opcional aos alunos que consentissem. Essa política voluntarista de acompanhamento dos jovens, implantada em 1903, consolidou-se no período entre guerras, mais por incentivo dos professores do que do município. No entanto, a cidade de Metz considerou a ação de grande interesse, subsidiando oficialmente esta organização de 1919 a 1932. O objetivo era permitir que os alunos do ensino primário de Metz, através da utilização de jogos ao livre, se beneficiassem de uma educação corporal destinada a complementar a educação física fornecida durante a escolaridade obrigatória. A ambição declarada era a de permitir que os jovens de Metz adquirissem uma melhor condição de saúde. Ela estava associada a preceitos morais confessos: tirar essas crianças e adolescentes da ociosidade ou das tentações da rua, evitando deixá-las sozinhas em seus momentos de tempo livre.
Sendo assim, o primeiro passo deste artigo será o de detalhar os objetivos desses jogos ao ar livre, demonstrando que a educação corporal voltada para os alunos de Metz tinha aspectos de ordem física, mas que também evidenciavam elementos morais. Em segundo lugar se realizará a constatação de que, entre 1919 e 1932, as brincadeiras ao ar livre, inicialmente reservadas para ambos os sexos, acabaram progressivamente se tornando um privilégio dos meninos. Por outro lado, destinavam-se sem qualquer restrição a estudantes de diferentes religiões, católicos, protestantes e até laicos. Por fim, se concentrará na variação desses jogos: o ar livre, compreendido tanto pelos funcionários municipais quanto pelos professores em Metz, como uma noção flexível (SURREL, 1947SURREL, Yvonne. Plein Air: Éducation physique et activités dirigées. Paris: Éditions Bourrelier et Cie, 1947. (Carnets de l’éducation physique et des sports).). De fato, as atividades também podiam ocorrer em locais muito diferentes uns dos outros. Os jogos em si mesmo eram variados, pois podiam consistir tanto em um jogo tradicional como em uma partida de futebol. Deste modo, se garantia aos meninos e meninas que as frequentavam uma educação corporal variada e, muitas vezes, baseada em procedimentos menos rígidos do que os observados no contexto de uma sala de aula.
A originalidade dessa organização de jogos ao ar livre tinha inúmeros aspectos: em primeiro lugar, cabe destacar que ela se originou em uma região que estava sob domínio alemão desde o ano de 1871. Mas apesar desta particularidade, assim como da mudança de regime e de sua reintegração à França em 1918, os jogos ao ar livre foram perpetuados nesta localidade. Eles se desenvolviam em um espaço singular, extracurricular, não integrados à escola nem às suas margens, o que lhes conferia relativa liberdade pedagógica em seu funcionamento. Enfim, eles pareciam ir além dos antagonismos confessionais, o que era incomum no período entre guerras, tanto nas escolas quanto nos quadros associativos.
Metodologia
O estudo dos arquivos municipais de Metz (1 R 270) constituem a principal fonte de pesquisa. Este arquivo 1 R 270 é constituído por cartas trocadas entre a prefeitura e os professores que supervisionam as atividades ao ar livre. Ele contém também relatórios anuais de atividades que detalham onde as crianças eram educadas nas várias escolas de Metz, quem as supervisionava e, por vezes, quais atividades eram especificamente fornecidas à juventude local. Infelizmente, alguns anos escolares do período entre 1919 e 1932 não são assunto de nenhum documento arquivado. No entanto, aqueles disponibilizados são suficientemente ricos para oferecer uma leitura realista das práticas ao ar livre e do seu interesse no contexto da educação corporal específica para alunos voluntários na cidade de Metz.
Em uma perspectiva histórica
Metz foi uma cidade francesa até 1871. Entretanto, após a derrota contra a Prússia, a França cedeu a Alsácia e a Mosela à Alemanha, em aplicação do Tratado de Frankfurt, assinado em 10 de maio de 1871. Metz, que era a capital da Mosela, passava a pertencer ao Reichsland, formado pelas províncias da Alsácia e Mosela condição que perdurou até o ano de 1918. Ela tornou-se oficialmente francesa novamente após a assinatura do Tratado de Versalhes em 28 de junho de 1919 (ROTH, 1976ROTH, François. La Lorraine annexée, 1870-1918. Nancy: Presses universitaires de Nancy, 1976.). Foi, portanto, a partir de 1903, sob o regime alemão que as atividades e jogos ao ar livre foram introduzidos nas escolas de Metz (ROTH, 2016ROTH, François. Alsace-Lorraine. Histoire d’un « pays perdu ». De 1870 à nos jours. Paris: éditions Tallandier, 2016. (Texto).). Nesse período, formaram-se instituições na Mosela que, como na Alsácia, ou participavam da luta contra a germanização, ou, ao contrário, tentavam fortalecer o processo de assimilação ao Reich alemão (CHARPIER, 1996CHARPIER, William. La Société des Gymnastes en Alsace (SGA) du milieu du 19e siècle à nos jours. In: TERRET, Thierry(org.). Histoire des sports. Paris: L’Harmattan , 1996. p. 11-37.).
Porém, depois de 1918, a organização de jogos ao ar livre na cidade de Metz passou a depender do governo francês. É provável que antes de 1918 em Metz os jogos fossem supervisionados por professores de origem francesa, mas que dominavam perfeitamente a língua alemã, utilizada no ensino escolar desde 1873. Todavia, em 1918, após a transição para o estado francês, a língua desse país tornou-se novamente obrigatória na região da Alsácia-Mosela. Vários professores conservaram prerrogativas na animação desses jogos ao ar livre que já cumpriam no período do Reichsland, o que poderia sugerir que eles não estavam usando esse espaço para transmitir ideias germanófilas. Destaca-se que não se teve acesso aos registros de carreira desses professores, nem daqueles que completaram o efetivo de voluntários para a supervisão das atividades ao ar livre. Mas estes últimos eram necessariamente franceses de origem, já que a partir de 1918 os professores alemães foram forçados a deixar seus cargos na região da Mosela (QUIRIN, 2014QUIRIN-HÉMON, Isabelle. La germanisation par l’école en en Alsace-Moselle et en Poznanie: une politique coloniale ? 2014. Thèse (Doctorat en Sciences de l’Homme et de la Société) - Université François Rabelais, Tours, 2014.). Na realidade, as atividades ao ar livre, bem como os jogos ao ar livre realizados nas escolas de Metz eram atividades extracurriculares e, nesse sentido, parecem se emancipar de certas obrigações relacionadas à educação escolar obrigatória, como também de potenciais convicções nacionalistas.
Os objetivos dos jogos ao ar livre e os meios concedidos
Em um relatório enviado à Câmara Municipal da cidade de Metz (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1922), no ano de 1922, o diretor da escola Saint-Maximin, Sr. François, menciona que esses jogos, criados por uma comissão em 1902, estavam em funcionamento desde 1903. Infelizmente, nenhum detalhe foi dado quanto à constituição deste comitê. Eles tiveram origem dos pais de alunos, de membros de uma liga de ensino, de uma associação para a supervisão de jovens? Os arquivos não fornecem uma resposta. Mas é mais do que provável que o contexto social e político, movido pela preocupação com a higiene, tenha influenciado os membros desta comissão responsável pela criação de jogos ao ar livre em Metz, fossem eles francófilos ou germanófilos. Do lado alemão, a criação do Movimento da Juventude Alemã (Deutsche Jugendbewegung), em 1896, afetou as mentalidades em termos de educação do corpo através da relação com a natureza (FUCHS; STUMPP, 2013FUCHS, Julien; STUMPP, Sébastien. Frontières politiques, frontières symboliques. La difficile implantation des organisations sportivo-touristiques allemandes en Alsace avant 1914. Revue d’histoire moderne & contemporaine, Paris, v. 3, n. 60, p. 86-109, 2013.). Por outro lado, os membros deste comitê tinham uma inclinação francófila e por isso eles não podiam ignorar o desejo de supervisionar os jovens fora do período escolar pela Terceira República na França. Este desejo assumia diversas formas: patronado, movimentos juvenis, que desejavam trabalhar para fazer da criança um futuro membro da sociedade, guardiã dos valores católicos ou republicanos (LE BON, 2003LE BON, Frédéric. Une politique de l’enfance, du patronage au centre de loisirs. Éducation et sociétés, Paris, v. 1, n. 11, p. 135-152, 2003.). Apesar de não se saber se os membros do comitê que instituíram os jogos ao ar livre em Metz eram francófilos ou germanófilos, sabe-se que o Sr. Rech, diretor da escola Monnaie, coordenou até 1918 um grupo de professores primários responsáveis por ofertar esses jogos e exercícios (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1920aARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz. Metz:1 R 270, 20 juil.1920a.). Porém, após sua aposentadoria, ocorreu uma desorganização, o diretor da escola Saint-Maximin, Sr. François, demandou aos funcionários eleitos de Metz que reorganizassem esses cursos e assegurassem sua coordenação entre as várias escolas primárias da cidade (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1920aARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz. Metz:1 R 270, 20 juil.1920a.). Ele destacava sua experiência, pois foi um dos professores responsáveis pela supervisão das atividades ao ar livre desde o primeiro ano de funcionamento em 1903. O primeiro objetivo declarado desses jogos ao ar livre fora do horário escolar era eminentemente higiênico: “essas aulas que são de grande importância para a educação e o desenvolvimento físico dos alunos” (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1920aARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz. Metz:1 R 270, 20 juil.1920a.). É possível que esse comitê extracurricular tenha sido influenciado originalmente pelo Turnen ensinado nas escolas do Reichsland, uma ginástica de inspiração pangermanista que realizaria uma síntese ideal entre saúde corporal e energia intelectual (DREIDEMY, 2008DREIDEMY, Éric. La gymnastique à l’école pour germaniser l’Alsace-Lorraine (1870- 1890). Staps, Paris, v. 2, n. 80, p. 7-22, 2008.). Também é provável que o discurso higienista dos médicos, seja na França ou na Alemanha, tenha tido um peso real nessa proposta de jogos ao ar livre. Assim, a Associação Alemã de Higiene Escolar, bem como a Liga dos Médicos e Famílias na França estabeleceram como meta a proteção da saúde das crianças na escola, militando para que se possa dar “toda a importância para a vida ao ar livre” (CHABOT, 1903CHABOT, Charles. Le congrès d’hygiène scolaire et la Ligue des médecins et des familles. La Revue pédagogique, [s.l.], tome 43, p. 541-558, 1903., p. 547) desde a idade escolar.
Em ambos os lados da fronteira, a intenção era a de proporcionar aos escolares espaço, ar e luz com o intuito de combater a anemia, excesso de trabalho escolar (surmenage), a fadiga e até mesmo doenças contagiosas. Trata-se, portanto, de adquirir saúde, com o intuito de que se pudesse lutar contra uma pretensa degeneração da raça francesa (VIGARELLO, 1999VIGARELLO, Georges. Histoire de pratiques de santé. Le sain et le malsain depuis le Moyen-Âge. Paris: Seuil, 1999) e com isso tornar os corpos saudáveis. Do lado alemão, os apelos por uma reforma escolar substituíram um vasto movimento higienista que se constituiu a partir de meados do século XIX com a criação de associações de dimensão nacional, tais como a Associação Central para Cultura Física Popular e na Escola (Zentralverein für Körperpflege in Volk und) em 1882 (PERNY, 2014PERNY, Pierre. L’arrivée des sports en Alsace. De l’éducation physique au culte de la compétition: un enjeu de société à la fin du XIXe siècle. Revue d’Alsace, Strasbourg, n. 140, p. 321-360, 2014.). Na Alsácia-Mosela, von Manteufel, governador do Reichsland, criou em 1882 uma comissão para a melhoria da saúde das crianças e do funcionamento da escola, que notadamente recomendava a utilização de jogos ao ar livre. Ela é seguida pela fundação em 1891 do Comitê Central para a Promoção da Juventude e Jogos Populares na Alemanha (Zentral-Ausschuss zur Förderung der Jugend- und Volksspiele in Deutschland) (PERNY, 2014PERNY, Pierre. L’arrivée des sports en Alsace. De l’éducation physique au culte de la compétition: un enjeu de société à la fin du XIXe siècle. Revue d’Alsace, Strasbourg, n. 140, p. 321-360, 2014.). Não há dúvida de que esse contexto social influenciou na implementação dos jogos ao ar livre em Metz em 1902. No entanto, a justificativa para atividades ao ar livre na escola ou aquelas realizadas fora dos muros da escola não eram exclusivamente corporais, pois desde 1903 ela foi acoplada a uma argumentação moral: “Naquela época já tínhamos considerado que era um meio, e por assim dizer o único, de retirar as crianças da rua fora do horário e dar-lhes a oportunidade de se envolverem em jogos e exercícios de fortalecimento ao ar livre” (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1922ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz. Metz: 1 R 270, 14 déc.1922.). O enquadramento da juventude para fins de educação cívica constituiu, portanto, outro pretexto primordial para o estabelecimento desses jogos. Isso evitava que as crianças se envolvessem com maus hábitos como a ociosidade, pequenos crimes ou alcoolismo.
De maneira concomitante, no final do século XIX e início do XX, várias associações foram criadas na França para propagar um novo empreendimento higiênico, objetivando combater o despovoamento, sífilis, tuberculose, alcoolismo (ROSANVALLON, 1990ROSANVALLON, Pierre. L’État en France de 1789 à nos jours. Paris: Seuil, 1990. (Points Histoire).), como a Aliança de Higiene Social (Alliance d’hygiène sociale), criada em 1905 e presidida pelo radical Léon Bourgeois. Qualquer que seja a inclinação dos membros do comitê fundador desses jogos ao ar livre, germanófilos, francófilos, até neutros, destaca-se que eles não podiam escapar das influências de um movimento higiênico que estava se espalhando em ambas as costas do Reichsland, mas também dentro dele. Quando a Primeira Guerra Mundial terminou e a região da Mosela voltou a ser francesa, essa preocupação não desapareceu. Ao contrário, a vontade de regenerar a raça (BANCEL; GAYMAN, 2002BANCEL, Nicolas; GAYMAN, Jean-Marc. Du guerrier à l’athlète. Éléments d’histoire des pratiques corporelles. Paris: PUF, 2002.), presente na França desde a década de 1850, passou a ser mais enfatizada a partir de 1871. Tratava-se de revitalizar os corpos de toda uma população, incluindo crianças, marcados pelos acontecimentos da guerra ocorrida entre 1914-1918. Por isso, a ginástica na escola foi de suma importância no pensamento dos médicos e higienistas (SAINT MARTIN, 1998SAINT-MARTIN, Jean. L’exemplarité des éducations physiques étrangères en France entre les deux guerres. Spirales, [s.l.], n. 13-14, p. 175-187, 1998.). Porém, o governo, ou na sua falta, personalidades políticas ou industriais, estavam tentando garantir a continuidade de uma educação física fora da escola, promovendo o desenvolvimento de movimentos juvenis, como escotismo, (GUÉRIN, 1981GUÉRIN, Christian. Le scoutisme français: une expérience pédagogique parallèle. Revue d’histoire moderne & contemporaine, Paris, v. 1, n. 28, p. 118-131, 1981.) e demais entidades de assistência. Este era o caso neste exemplo relativo à supervisão da juventude de Metz: “A necessidade de tirar as crianças das ruas fora do horário escolar e de desenvolver suas forças e agilidade ainda existe em um grau maior hoje do que quando a organização foi criada” (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1922ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz. Metz: 1 R 270, 14 déc.1922.). Como em toda a França, a região da Mosela, logo após a guerra, sentiu a necessidade de supervisionar as crianças, às vezes por meio de atividades físicas e esportivas realizadas nos patronatos, tanto de empreendimentos seculares como confessionais. Essa tendência, já consolidada desde o final do século XIX (CRUBELIER, 1979CRUBELIER, Maurice. L’enfance et la jeunesse dans la société française, 1800-1950. Paris: Armand Colin, 1979.), se confirmou a partir de 1918.
As medidas tomadas pela cidade de Metz, que decidiu em 1919 manter os jogos ao ar livre, antecipam-se às do governo francês, por meio da publicação das Instruções Oficiais (IO) de 1923 (IO, 1923IO. Instruciones Oficiales Plan d’études et programmes des écoles primaires élémentaires et instructions du 20 juin 1923. Paris, 20 juin1923.), que funcionaram como um currículo para o ensino primário e que em seu texto enfatizava as atividades ao ar livre. Dentro dessa conjuntura do pós-guerra, deve-se lembrar que a ambição de regenerar o corpo continuava sendo uma preocupação primordial para os governantes. Assim, o deputado parisiense Henri Paté interpelou o Parlamento no início da década de 1920 sobre a necessidade de desenvolver desde a primeira juventude hábitos de higiene indissociáveis de uma educação moral (THIBAULT, 1995THIBAULT, Jacques. 1919-1929. La conjoncture des années d’après-guerre. In: ARNAUD, Pierre; CLÉMENT, Jean-Paul; HERR, Michel(org.). Éducation physique et sport en France. 1920-1980. Clermont-Ferrand: AFRAPS, 1995. p. 101-117.). Neste contexto, os convites para as atividades ao ar livre remetiam certamente à higiene, mas também à ação salutar das experiências vivenciadas pela juventude (RAUCH, 1983RAUCH, André. Le souci du corps. Paris: PUF , 1983.). Esta foi a posição defendida pelo coordenador destes jogos em Metz, quando afirmou que para os cinco grupos de meninos e os dois grupos de meninas que funcionavam em 1924, “A organização dos jogos visa um objetivo verdadeiramente humanitário” (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1924ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur François à la mairie de Metz. Metz:1 R 270, 17 nov. 1924.). O desejo de libertar os alunos de tentações duvidosas ou imorais permanecia uma constante que se perpetuou durante toda a existência da organização. Às vésperas do desaparecimento dos jogos em 1932, o diretor François realizou um balanço mais do que satisfatório para o ano de 1931. Segundo ele, os alunos das 8 turmas de meninos e da única escola feminina representada tinham obtido efeitos eminentemente benéficos a partir de sua assiduidade nas atividades. Durante as 25 sessões na tarde de quinta-feira, os 40/50 alunos em cada grupo, “durante o tempo que passavam nos lugares de jogo, eram retirados da rua e fortaleciam sua saúde com bons exercícios” (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932aARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Bilan du directeur François adressé à la ville de Metz, Metz:1 R 270, 4 févr. 1932a.). Assim, ao longo de todo o período entre 1919-1932, a preocupação com a higiene esteve sempre associada ao princípio da moralização entre os professores responsáveis por esses alunos.
Regeneração da juventude escolar em Metz: quais professores, para quais alunos?
No Reichsland o sistema escolar era específico: não foram as leis de Ferry que se aplicaram, como na França, mas as leis de Guizot. Por outro lado, o ensino era ministrado em alemão e, no âmbito da escolaridade obrigatória, os alunos eram efetivamente submetidos aos exercícios decorrentes do Turnen. Porém, quando se tratava de exercícios e jogos em horários não obrigatórios, a gama de escolha de atividades era mais ampla. É provável que entre 1903 e 1918, os alunos das escolas de Metz tenham realizado jogos com bola que estavam no programa de atividades incluindo Grenzball, Tamburinball, Faustball (Punhobol), Balljagd, Fussball (Futebol)... Schlaghölzer2 2 N.T. Não há traduções específicas em português para os jogos mencionados. Grenzball corresponde a um jogo de bola que poderia ser traduzido literalmente como “jogo dos limites” ou “jogo das fronteiras”, em que duas equipes se enfrentam num campo de 60m, com o objetivo de fazer com que, por meio de golpes ou lançamentos, uma bola pesada chegue ao limite do campo adversário, onde há uma espécie de gol indicado por duas estacas. Tamburinball é um jogo similar ao atual voleibol, em que as equipes estão distribuídas em um campo, separadas por uma rede localizada ao centro, e devem golpear a bola para o campo adversário utilizando uma espécie de tamborim. Balljadg poderia ser traduzido como “caça às bolas”, e corresponde a um jogo em que se posicionam várias bolas no centro do campo e cada equipe deverá tentar levar para seu espaço a maior quantidade possível de bolas, enviando apenas um jogador por vez, que poderá carregar apenas uma bola em cada corrida. Por fim, Schlaghölzer literalmente se traduz como “bastões”, utilizados para jogos rítmicos. . A partir da incorporação à França, os professores da região da Mosella tiveram que se inspirar no Manual de Exercícios Físicos e Jogos Escolares (Manuel d’exercices physiques et de jeux scolaires) de 1908, que era o programa de educação física obrigatório no país. Este último afirmava o seguinte: “A aula deve ser dada, tanto quanto possível, no pátio, ao ar livre” (MANUEL..., 1908MANUEL d’exercices physiques et de jeux scolaires. Paris: Hachette, 1908.). De fato, como o título sugere, os jogos opcionais ao ar livre nas escolas de Metz também aconteciam em espaços exteriores.
Infelizmente, não se encontram registros precisos da identidade dos alunos que frequentaram esses jogos ao ar livre. Sabe-se que a maioria dos alunos tinham entre seis e treze anos. Conhece-se apenas os números por ano letivo, bem como a distribuição dos estudantes por sexo e às vezes por idade. Todavia, não existem listas nominativas, nem qualquer indicação particular quanto à categoria socioprofissional dos pais. Pode-se presumir que esses jovens meninos e meninas pertenciam a famílias para as quais a religião e as práticas de um determinado culto tinham uma importância menor. Com efeito, para os meninos em particular, a organização de jogos ao ar livre enfrentava a concorrência de “organizações semelhantes em círculos paroquiais” (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1923ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du Directeur de l’Instruction publique de la Moselle au Préfet portant à sa connaissance la délibération (avis favorable) du conseil municipal de la ville de Metz sur le maintien des jeux scolaires. Metz:1 R 270, 16 févr.1923.). Essa oferta, que pode, por exemplo, se concretizar no escotismo (FUCKS, 2013FUCHS, Julien. Concurrences et ententes au sein des mouvements de jeunesse. Le cas alsacien (1918-1960). Vingtième Siècle. Revue d’histoire, Paris, v. 3, n. 119, p. 113-126, 2013.), que fazia parte de um movimento que não era novo, mas que recuperava uma nova vitalidade no período pós-guerra. Esta gama de potencialidades extracurriculares, muitas vezes de caráter confessional, levou as autoridades eleitas em Metz a questionar a conveniência de manter esses jogos para o exercício financeiro do ano de 1923. Embora não se tenha conhecimento da ata das deliberações, é possível que a vontade de propor um enquadramento laico, de acordo com os ideais da Terceira República, tenha orientado favoravelmente as deliberações dos membros do conselho municipal de Metz. Apesar do status especial da Alsácia-Mosela em matéria de direito confessional, não se pode excluir a hipótese de que alguns dos professores e pais que iniciaram esses jogos tivessem uma orientação laica. Pode-se ver que essas atividades eram oferecidas tanto para meninos quanto para meninas, para alunos que frequentam uma escola protestante, bem como para aqueles que frequentam estabelecimentos escolares católicos ou laicos. Esta ação também se inseria, sem dúvida alguma, na perspectiva de ajudar os alunos socialmente menos privilegiados, que frequentariam a escola popular e ficariam nos bancos escolares apenas até os 13 anos, ao contrário de seus colegas da escola de notáveis, ou seja, aquela destinada aos mais ricos e abastados (PROST, 1968PROST, Antoine. L’enseignement en France, 1800-1967. Paris: Armand Colin, 1968.).
A partir de 1919, a regeneração moral e física da juventude escolar de Metz adotou formas diversas que acabaram por antecipar as diretivas ministeriais. De fato, as IO de 1923 destinadas à educação primária enfatizavam três emergências: “Mais ar, mais facilidade, mais liberdade” (IO, 1923IO. Instruciones Oficiales Plan d’études et programmes des écoles primaires élémentaires et instructions du 20 juin 1923. Paris, 20 juin1923., p. 7). É verdade que a partir de 1920 na França, as atividades ao ar livre tiveram um desenvolvimento significativo a partir do desenvolvimento do hebertismo (BANCEL; GAYMAN, 2002BANCEL, Nicolas; GAYMAN, Jean-Marc. Du guerrier à l’athlète. Éléments d’histoire des pratiques corporelles. Paris: PUF, 2002.). O texto do IO 1923 proclamava a necessidade de aulas de educação física ao ar livre e recomendava que “se aproveite todas as oportunidades para utilizar os espaços livres que porventura sejam disponibilizados para a escola” (IO, 1923IO. Instruciones Oficiales Plan d’études et programmes des écoles primaires élémentaires et instructions du 20 juin 1923. Paris, 20 juin1923., p. 2). Também foi indicado que as instalações disponíveis na França eram, em muitos casos, defeituosas ou insuficientes para muitas escolas (GAY-LESCOT, 1999GAY-LESCOT, Jean Louis. Éducation physique et sport scolaires durant l’entre-deux- guerres (1919-1939): des textes à la réalité. In: GLEYSE, Jacques(org.). L’éducation physique au XXème siècle. Approches historique et culturelle. Paris: Vigot, 1999. p. 59-68.). Neste caso, o recurso à prática ao ar livre era também um meio de compensar a falta de equipamentos esportivos ou dedicados ao desenvolvimento corporal que poderia ou deveria ter se atribuído à prática de diferentes formas de ginástica escolar.
Quando o Sr. François, o diretor da escola Saint-Maximin, pede para ficar encarregado da direção desses jogos em substituição ao seu antecessor, ele especifica que para o ano de 1918-1919, essas atividades diziam respeito a apenas dois grupos de meninos (cada um compreendendo 40 alunos), o dele e o do professor Sr. Wehring da escola protestante Grève (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1920bARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz. Metz:1 R 270, 10 déc. 1920b.). No entanto, para o verão de 19213 3 Os arquivos não contêm nenhuma referência ao ano de 1920. , as operações foram organizadas para cinco escolas para meninos (incluindo duas protestantes), sete para meninas (mas na realidade nove grupos), sendo uma delas de orientação protestante. Metade desses grupos de meninas eram supervisionados por freiras, o que não era surpreendente devido ao particularismo local, afinal, em 1920 a região da Mosela ainda tinha 45% dos professores congregacionais contra 55% de professores de orientação laica (KIEFFER, 1994KIEFFER, Jean. L’enseignement primaire mosellan, de 1918 à 1939. Essai d’histoire sociale d’un particularisme scolaire. 1994. Thèse (Doctorat en Histoire) - Université de Lorraine, Metz, 1994.).
Sessões de jogos ao ar livre aconteciam a partir da Páscoa: os meninos tinham de 25 a 30 aulas de duas horas, dependendo da escola, enquanto as meninas só tinham 15 sessões. A contagem dos anos de 1921 e 1922 evidenciam uma frequência média de mais de 36 meninos presentes por grupo e por sessão e 31 meninas. Ao longo dos anos, entre 1924 e 1932, o diretor François registrou oscilações relacionadas ao funcionamento dos grupos. Em 1924 e 1925, vários grupos não puderam funcionar, “por falta de equipamentos necessários aos jogos, os outros quatro por falta de monitores” (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1924ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur François à la mairie de Metz. Metz:1 R 270, 17 nov. 1924.). Sem dúvida, é possível questionar a remuneração dos professores e professoras que conduziam as sessões de jogos. O salário real era de 6,25 francos por uma sessão de duas horas em 1922, subindo para 8 francos por duas horas em 1922. O montante ainda era modesto em comparação com outros subsídios por vezes recebidos pelos professores, quando ocupavam as funções de secretário da câmara municipal ou de organista na igreja (KIEFFER, 1994KIEFFER, Jean. L’enseignement primaire mosellan, de 1918 à 1939. Essai d’histoire sociale d’un particularisme scolaire. 1994. Thèse (Doctorat en Histoire) - Université de Lorraine, Metz, 1994.).
Por outro lado, a ausência de um aparato parece ser um pretexto questionável, justamente na medida em que não existia uma imposição específica sobre a natureza das atividades ou sobre o local de exercício. Em 1925, novamente, três grupos dos onze planejados não funcionaram, devido à doença dos monitores (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1925ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz. Metz:1 R 270, 2 nov.1925.). O número de 25 sessões para meninas, que passou a ser idêntico ao dos meninos, demonstra, no entanto, o desejo dos professores de não criar desigualdades no tratamento entre os dois sexos. Por outro lado, em 1924 e 1925, a queda no efetivo feminino foi inegável. Dos nove grupos contabilizados em 1921 permaneceram apenas dois supervisionados por duas freiras, enquanto, ao mesmo tempo, o número de meninos se manteve estável de 1921 a 1925. As meninas ou suas famílias eram cada vez menos atraídas por essas práticas extracurriculares? A diminuição da frequência feminina era devido a uma deserção do corpo docente? Remuneração insuficiente aos olhos dos professores, trabalho extra fora do horário escolar, problemas ligados a um possível cansaço, a procura de novos locais de prática - aliás, não abrigados - podiam constituir motivos de abandono de professores e professoras. Depois de 1926, a contagem da força de trabalho tornou-se impossível, porque não se encontram mais vestígios de correspondência do Diretor François nos arquivos até 1932, data de seu último relatório anual (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932aARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Bilan du directeur François adressé à la ville de Metz, Metz:1 R 270, 4 févr. 1932a.). Este é um relato da atividade dos grupos durante o ano letivo de 1931. Os arquivos relativos a este ano são particularmente interessantes, porque a Câmara Municipal convidou cada professor responsável por um grupo a fornecer um relatório de atividades para completar aquele realizado pelo diretor François (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932cARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapports d’activité annuelle demandés par la mairie de Metz: Mr Hubsch, école Saint-Vincent; Mr Rohr, école Saint-Eucaire; Mr Mathiotte, école Notre-Dame; Mr Michels, école Saint-Martin; Mr Bandines, école Saint-Maximin; Mr Goury, école de Plantières-Queuleu; Mr Reichert, école protestante de Queuleu; Mr Bonnet, école de Paixhans puis école de plein-air; sœur Karst, école Saint-Maximin. Metz:1 R 270, 22 févr. 1932c.). A análise destes relatórios individuais mostra um aumento da diferença de frequência entre meninos e meninas, uma vez que oito grupos de meninos trabalhavam enquanto apenas um grupo de meninas era supervisionado, o da escola Saint-Maximin, monitorado pela freira congregacional Irmã Karst.
Os dados registados graças aos vários relatórios anuais do diretor François conduzem a diferentes contatações. Em primeiro lugar, cabe destacar que a diferença de frequência aumentou entre meninos e meninas. Embora no período imediato ao pós-guerra a taxa de supervisão das meninas fosse maior do que a dos meninos, ela diminuiu até findar em 1931. Na verdade, a diminuição foi brutal entre 1923 e 1924, quando o número de grupos femininos caiu de sete para dois. Ao mesmo tempo, a taxa de supervisão para meninos experimentou pouca flutuação e até aumentou em 1931. Além das hipóteses já realizadas, pode-se questionar as representações ligadas à suposta fragilidade feminina em vigor na sociedade francesa de uma forma geral (ZANCARINI-FOURNEL, 2005ZANCARINI-FOURNEL, Michelle. Genre des femmes et genre des corps. In: SAINT- MARTIN, Jean; TERRET, Thierry(org.). Sport et Genre. Apprentissage du genre et institutions éducatives. Paris: L’Harmattan , 2005. v. 3, p. 15-34.), bem como no universo particular da educação física (OTTOGALLI-MAZZACAVALLO; LIOTARD, 2012OTTOGALLI-MAZZACAVALLO, Cécile; LIOTARD, Philippe. L’apprentissage du genre en éducation physique. Devenir homme ou femme par l’exercice. In: OTTOGALLI- MAZZACAVALLO, Cécile; LIOTARD, Philippe(org.). L’éducation du corps à l’école. Mouvements, normes et pédagogies, 1881-2011. Clermont-Ferrand: AFRAPS, 2012. p. 93-113.). O enrijecimento ao ar livre, ou mesmo num contato mais direto com a natureza plena (florestas, montanhas etc.), correspondia mais às representações de um corpo viril, portanto, o masculino (ARNAUD, 1996ARNAUD, Pierre. Le genre ou le sexe ? Sport féminin et changement social (XIXème- XXème siècle). In: ARNAUD, Pierre; TERRET, Thierry (org.). Histoire du sport féminin. Sport masculin-sport féminin: éducation et société. Paris: L’Harmattan, 1996. Tome 2, p. 147-183.). No entanto, para os grupos de meninas que se beneficiaram dessa supervisão, o número de sessões anuais tinha aumentado gradativamente até se tornar equivalente ao dos meninos. Por outro lado, parece que, embora o tamanho médio de um grupo pudesse variar, na maioria das vezes, era aproximadamente 40 a quantidade de alunos de que cada professor deveria se ocupar. Estes números não eram anormais, visto que no ano de 1931-1932 existia em Metz um professor para cada 39 alunos (KIEFFER, 1994KIEFFER, Jean. L’enseignement primaire mosellan, de 1918 à 1939. Essai d’histoire sociale d’un particularisme scolaire. 1994. Thèse (Doctorat en Histoire) - Université de Lorraine, Metz, 1994.). Além disso, os relatórios individuais de atividades dos professores apontam que, às vezes, em 1931, eles podiam estar se ocupando de alunos de vários níveis diferentes. Assim, o professor Rohr da escola Saint-Eucaire dirigia quatro níveis de turma (6º, 5º, 4º e 2º níveis). É provável que os jogos oferecidos aos alunos fossem idênticos independentemente da idade, podendo o professor ajustar a intensidade ou a dificuldade dos exercícios de acordo com a sua natureza e com a idade dos diferentes públicos presentes.
Regenerar a juventude escolar em Metz: quais atividades oferecer?
Os locais nos quais os jogos ao ar livre aconteciam na cidade de Metz eram variados, pois os professores e seus alunos saiam do ambiente de sala de aula. Por razões práticas e ideológicas, os locais escolhidos para os jogos e exercícios correspondiam a “qualquer prática realizada ao ar livre, ou seja, fora de qualquer recinto fechado” (SAINT-MARTIN, 2014SAINT-MARTIN, Jean. Les activités de nature à l’école : entre une approche vitaliste et un ancrage culturel. In: ATTALI, Michaël; SAINT-MARTIN, Jean (org.). A l’école du sport. Épistémologie des savoirs corporels du XIXe siècle à nos jours. Louvain-la- Neuve: De Boeck, 2014. p. 21-50., p. 23). Tratava-se de expor as crianças ao ambiente natural, ao sol, ao ar puro, com finalidades higiênicas (VILLARET; SAINT-MARTIN, 2004VILLARET, Sylvain; SAINT-MARTIN, Jean. Écoles de plein air et naturisme : une innovation en milieu scolaire (1887-1935). Movement & Sport Sciences, Les Ulis, v. 1, n. 51, p. 11-28, 2004.). Em Metz, por vezes, o investimento foi em lugares públicos, como a praça de exercícios de Chambières, a praça do hospital militar de Plantières, a praça próxima à estação da TSF em Queuleu (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932aARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Bilan du directeur François adressé à la ville de Metz, Metz:1 R 270, 4 févr. 1932a.). Também poderiam ser instalações esportivas municipais, como o estádio Bellecroix ou o campo esportivo da Île du Saulcy4 4 Todos os locais mencionados representam bairros da cidade de Metz ou de sua periferia. O mesmo se aplica a todos os lugares mencionados no restante do artigo. , às vezes frequentado pelo grupo de meninas da irmã Karst ou pelos meninos do professor Bonnet (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932bARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport annuel d’activité de sœur Karst, institutrice de l’école Saint-Maximin, à la mairie de Metz. Metz:1 R 270, 7 févr.1932b.). Alguns professores frequentavam áreas arborizadas, como o antigo complexo militar do Fort de Queuleu. Na verdade, a proximidade geográfica com a escola era um critério de escolha significativo na maior parte dos casos. Quando as intempéries tornavam o terreno inutilizável, como é o caso da praça militar de Chambières, o professor utilizava o pátio da sua escola (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932gARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier de la ville de Metz à Mlle de Montlebert, médecin inspecteur des écoles. Metz:1 R 270, avril 1930a(le jour n’est pas spécifié).).
Mas quais são as práticas corporais realmente ofertadas aos alunos nas escolas Metz? O diretor François, coordenador dos jogos ao ar livre, distinguia claramente as atividades propostas daquelas planejadas no IO 1923, que continha ginástica baseada em exercícios respiratórios, flexibilidade e aplicação de ginástica proposta pelo método natural de Georges Hébert (DELAPLACE, 2000DELAPLACE, Jean-Michel. Culture et nature dans la « méthode naturelle » de Georges Hébert (1875-1957). In: SAINT-MARTIN, Jean; TERRET, Thierry (org.). Le sport français dans l’entre-deux-guerres. Regards croisés sur les influences étrangères. Paris: L’Harmattan, 2000. p. 239-258.). Na área metropolitana de Metz, esses jogos ao ar livre eram, portanto, complementares à educação física obrigatória: “Estas não são sessões de ginástica, são sessões preenchidas com vários conjuntos de jogos, como pulo do sapo (saute-mouton), cabra-cega (colin-maillard), jogos com barras (jeux de barres) pular corda (saut à la corde) etc. e principalmente os jogos com bola (jeux de balle)” (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932aARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Bilan du directeur François adressé à la ville de Metz, Metz:1 R 270, 4 févr. 1932a.). De fato, muitos dos professores que supervisionam esses grupos de alunos se utilizavam de jogos que podem ser considerados tradicionais na França: caçadador (balle aux chasseurs), gato e rato (chat et souris), jogo com barras (jeu de barres) e as vezes o futebol (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932fARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz. Metz:1 R 270, 2 nov.1925.).
O professor Bonnet, que primeiro dirigiu o grupo de meninos da escola Paixhans e posteriormente, a partir de junho, os da escola ao ar livre em Bellecroix, também ofertou jogos esportivos além de futebol e handeboll (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932hARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier de l’inspecteur d’académie de la Moselle à Monsieur le maire de Metz. Metz:1 R 270, 29 mai1930b.). Para este último esporte, reminiscências da influência do Reichsland são perceptíveis, já que o handebol não se desenvolveu no restante da França até depois da Segunda Guerra Mundial (ATTALI, 2004ATTALI, Michaël. Le hand-ball : l’invention d’un sport scolaire ? In: ATTALI, Michaël; SAINT-MARTIN, Jean(org.). À l’École du sport. Épistémologie des savoirs corporels du XIXe siècle à nos jours. Louvain-la-neuve: De Boeck, 2014. p. 233-264.). Por outro lado, alguns professores também utilizaram formas mais clássicas de ginástica, como aquelas indicadas como parte da educação obrigatória: o Regulamento Geral de Educação Física de 1925, de fato, previa exercícios educacionais como uma forma de desenvolver flexibilidade, força e habilidade (FRANCE, 1925FRANCE. Ministère de la Guerre. Règlement général d’education physique: méthode française. Paris: Charles Lavauzelle, 1925-1930. t. 1-4.). O professor Michels, da escola Saint-Martin, declarou, assim, ter proporcionado, além dos jogos, aulas de cultura física aos meninos de seu grupo (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932gARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport annuel d’activité de l’instituteur Mr Michels, école Saint-Martin. Metz:1 R 270, 21 mars1932g.). Esse tipo de exercício geralmente era realizado de maneira mais autoritária, sendo os alunos reduzidos à condição de meros executantes (FROISSART, 2012FROISSART, Tony. La relation enseignants/élèves en EPS : processus éducatif subi ou agi ? In: OTTOGALLI-MAZZACAVALLO, Cécile; LIOTARD, Philippe (org.). L’éducation du corps à l’école. Mouvements, normes et pédagogies, 1881-2011. Clermont-Ferrand: AFRAPS, 2012. p. 27-44.). O programa para as meninas da escola Saint-Maximin, liderado por sua professora, irmã Karst, era o seguinte: “experimentação 15 minutos; pequena lição de ginástica 15 minutos; jogos organizados com bolas e tamborins, aros, cordas; jogos livres; rondas e marchas” (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932bARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport annuel d’activité de sœur Karst, institutrice de l’école Saint-Maximin, à la mairie de Metz. Metz:1 R 270, 7 févr.1932b.). Com a Irmã Karst, os tempos livres em que os alunos não estavam sujeitos a uma supervisão rigorosa eram alternados com uma pedagogia mais intervencionista onde as evoluções eram mais controladas, como a ginástica, os jogos dirigidos ou as rondas e marchas.
Existiam também outros tipos específicos de animação para alguns desses grupos. Assim, o professor Rohr levava seus meninos da escola Saint-Eucaire para uma caminhada em 16 saídas consecutivas (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932dARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport annuel d’activité de l’instituteur Mr Rohr, école Saint-Eucaire. Metz:1 R 270, 24 févr. 1932d.), onde os alunos marchavam entre 5 e 12 quilômetros, em direção à estrada de Borny e as de Sarrebrück, Saint-Julien, Vaux, Grigy. O princípio dessas caminhadas, desenvolvido durante as caravanas escolares (HOIBIAN, 2016HOIBIAN, Olivier. L’œuvre des « caravanes scolaires »: un programme d’éducation globale à la périphérie de l’école républicaine (1874-1934). Revue française de pédagogie, Lyon, v. 2, n. 195, p. 25-36, 2016.), consistia na organização de passeios pedestres para os alunos sob a condução de professores voluntários. Este processo era educativo e pluridisciplinar, pois levava o professor a abordar noções tão diversas como as oriundas das ciências naturais, geografia, história, francês, no contexto de uma escola que queria se abrir ao mundo (DENIS, 2006DENIS, Daniel. Du dire au faire dans le dictionnaire de pédagogie: les arcanes d’une volonté républicaine de réformer l’éducation. Les sciences de l’éducation. Pour l’Ère nouvelle, Caen, v. 4, n. 39, p. 11-29, 2006.). Neste caso, o professor Sr. Rohr explorou uma possibilidade oferecida pelo IO 1923: o programa do curso superior apresentava, em comparação com o médio, novidades como a “educação dos sentidos nas caminhadas escolares” (IO 1923IO. Instruciones Oficiales Plan d’études et programmes des écoles primaires élémentaires et instructions du 20 juin 1923. Paris, 20 juin1923., p. 4). Durante as últimas 6 sessões do ano, os alunos do Sr. Rohr tinham direito a banhos na piscina ao ar livre de Metz (IO, 1923IO. Instruciones Oficiales Plan d’études et programmes des écoles primaires élémentaires et instructions du 20 juin 1923. Paris, 20 juin1923.). De forma semelhante, o professor Bonnet, ao dirigir os 40 alunos da escola ao ar livre de Bellecroix, levava-os ao estádio para banhos de sol e de piscina (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932hARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport annuel d’activité de l’instituteur A. Bonnet, école de Paixhans. Metz:1 R 270, 21 mars 1932h.). Esta escola ao ar livre não parece ser uma instituição como as criadas na França, desde a inauguração em Lyon da primeira do gênero no ano de 1907 (VILARRET; SAINT MARTIN, 2004VILLARET, Sylvain; SAINT-MARTIN, Jean. Écoles de plein air et naturisme : une innovation en milieu scolaire (1887-1935). Movement & Sport Sciences, Les Ulis, v. 1, n. 51, p. 11-28, 2004.), que funcionam durante todo o ano letivo. Uma carta da prefeitura indica que uma turma ao ar livre estava aberta no estádio Bellecroix, mas somente a partir de 16 de junho de 1929: uma turma de meninas ficava sob a responsabilidade da professora A. Duroc da escola de Saint-Julien lès Metz e uma de meninos sob a supervisão de A. Bonnet, professor da escola de Paixhans (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1930bARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz. Metz:1 R 270, 10 déc. 1920b.). A escola ao ar livre de Bellecroix destinava-se, após anuência dos pais, aos alunos detectados como deficientes pelo inspetor médico escolar: raquitismo, deficiências respiratórias, tuberculose, desvios vertebrais podiam ser as razões para a inclusão de crianças em lista de prováveis frequentadores de tais classes. Como as férias escolares de verão não começam até 15 de julho (GEBORD, 1999GERBOD, Paul. Les rythmes scolaires en France: permanences, résistances et inflexions. Bibliothèque de l’école des chartes, Paris, Tome 157, livraison 2, p. 447-477, 1999.), esses alunos com necessidades especiais se beneficiavam de pelo menos um mês de aulas ao ar livre nessa estrutura situada ao lado do estádio local.
Sabe-se que os jogos ao ar livre funcionaram em Metz até 1932. No entanto, o arquivo municipal não contém qualquer vestígio que testemunhe a continuação dessas atividades após esta data. Talvez se tenha visto o afastamento, na sequência de um parecer desfavorável da Câmara Municipal, face à concorrência de outras instituições de apoio à juventude. É possível que os relatórios enviados em 1932 pelos vários professores a pedido da Câmara Municipal não tenham convencido os governantes eleitos de Metz da necessidade de manter estes jogos ao ar livre. Quem sabe, aproveitando o anúncio da aposentadoria do Diretor François, os funcionários municipais não quisessem substituí-lo (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932aARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Bilan du directeur François adressé à la ville de Metz, Metz:1 R 270, 4 févr. 1932a.), e não quiseram atender às demandas dos professores que exigiam um aumento em seus subsídios de quatro para oito francos por hora (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1932eARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport annuel d’activité de l’instituteur Mr Goury, école de Queuleu-Plantières. Metz:1 R 270, 29 févr. 1932f.). Outra hipótese estaria no fato de que a prefeitura passava a desejar chamar sua atenção e, portanto, seus subsídios para as crianças com alguma deficiência. Na verdade, em uma carta dirigida a Sra. Montlebert, inspetora médica da escola, o conselho municipal a instruiu a “enviar uma lista de 40 meninos e 40 meninas de pelo menos nove anos de idade que necessitem de uma estadia prolongada ao ar livre e escolhidos entre alunos das escolas elementares” (ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ, 1930aARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz. Metz:1 R 270, 20 juil.1920a.). O objetivo era o de promover a restabelecimento corporal dos alunos que mais necessitassem o que, sem dúvida, requereria investimentos financeiros significativos por parte do município de Metz e, possivelmente, o abandono de outros subsídios. Sem que se tenha uma prova formal, a municipalidade decidiu, sem dúvida, pôr fim à exploração dos jogos ao ar livre em 1932.
Conclusão
Esses vários exemplos comprovam que a implementação de jogos e exercícios ao ar livre na cidade de Metz tinha aspectos multifacetados. Ela deixava espaço para os professores escolherem as atividades oferecidas aos alunos. Também dava mais liberdade aos alunos no contexto de jogos e atividades, mesmo que ocasionalmente alguns professores se utilizassem de métodos mais estruturados, correlativo do uso de pedagogias mais autoritárias, como é habitual na educação obrigatória (GOMET, 2012GOMET, Doriane. Les pratiques des enseignants d’EPS dans le secondaire (1920-1980). Une facette peu connue de l’histoire de l’EPS. In: OTTOGALLI-MAZZACAVALLO, Cécile; LIOTARD, Philippe(org.). L’éducation du corps à l’école. Mouvements, normes et pédagogies, 1881-2011. Clermont-Ferrand: AFRAPS, 2012. p. 75-88.). Além disso, no caso particular do regime local no período entre guerras, essa experiência de jogos ao ar livre assumiu uma dimensão humanista e isenta de contingências confessionais, o que não era muito comum tanto no espaço escolar como na ambiência fora da escola na região da Mosela. Embora operando em espaços separados, o funcionamento era destinado a meninas e meninos. Portanto, esses alunos da escola primária em Metz geralmente se beneficiavam de uma educação corporal mais rica e variada daquela ofertada os colegas que não frequentavam essas sessões ao ar livre. O caso dos jogos ao ar livre oferecidos a crianças voluntárias nas escolas de Metz entre 1919 e 1932 é um bom exemplo do que poderia ter constituído a educação física obrigatória nas escolas primárias após o IO 1923: uma disciplina mais aberta as atividades ao ar livre, recurso a métodos ativos perceptíveis através de jogos, uma maior autonomia ofertada aos alunos, o que contrastaria com as austeras sessões de educação física realmente ministradas nas escolas francesas.
Nesse sentido, foi uma sorte que os alunos voluntários de Metz tenham experimentado das atividades ao ar livre, sobretudo em um período em que o higienismo do pós-guerra era mais do que nunca uma prioridade evidente, despertando atenção para as atividades ao ar livre em um ambiente extracurricular, mesmo que se referisse a apenas a uma pequena proporção das ações. Segundo Kieffer (1994KIEFFER, Jean. L’enseignement primaire mosellan, de 1918 à 1939. Essai d’histoire sociale d’un particularisme scolaire. 1994. Thèse (Doctorat en Histoire) - Université de Lorraine, Metz, 1994., p. 315-336), pode-se estimar em 8.000 o número de alunos matriculados na escola primária e maternal em Metz na década de 1930. Porém, apenas um número de 300 à 500 estudantes, dependendo do ano, se beneficiaram com esses jogos opcionais ao ar livre. Esses dispositivos prefiguram e antecipam as medidas dos decretos de 23 de março e 11 de julho de 1938, onde o ensino propriamente dito é reduzido em seis horas, das quais três são dedicadas ao esporte e exercícios ao ar livre e reservadas a modalidades de ensino mais livres, menos sujeitas aos métodos que são exigidos dentro da sala de aula (ARRÊTÉ, 1938aARRÊTÉ du 23 mars 1938 modifiant l’horaire des Écoles primaires élémentaires. Paris: 23 mars1938a.; 1938bARRÊTÉ du 11 juillet 1938 modifiant les horaires des différents cours des écoles primaires élémentaires. Paris: 11 juil. 1938b.). Por fim, em seus aspectos diversificados, a opção de atividades opcionais ao ar livre oferecida aos alunos de Metz sempre teve como objetivo proporcionar a todos uma educação corporal mais flexível e que buscasse também outros intentos: moldar o corpo dos alunos, torná-los ativos e incutir neles princípios morais.
REFERÊNCIAS
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz Metz:1 R 270, 20 juil.1920a.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz Metz:1 R 270, 10 déc. 1920b.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz Metz: 1 R 270, 14 déc.1922.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du Directeur de l’Instruction publique de la Moselle au Préfet portant à sa connaissance la délibération (avis favorable) du conseil municipal de la ville de Metz sur le maintien des jeux scolaires Metz:1 R 270, 16 févr.1923.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur François à la mairie de Metz Metz:1 R 270, 17 nov. 1924.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier du directeur de l’école Saint-Maximin, Mr François, à la ville de Metz Metz:1 R 270, 2 nov.1925.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier de la ville de Metz à Mlle de Montlebert, médecin inspecteur des écoles Metz:1 R 270, avril 1930a(le jour n’est pas spécifié).
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier de l’inspecteur d’académie de la Moselle à Monsieur le maire de Metz Metz:1 R 270, 29 mai1930b.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Bilan du directeur François adressé à la ville de Metz, Metz:1 R 270, 4 févr. 1932a.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport annuel d’activité de sœur Karst, institutrice de l’école Saint-Maximin, à la mairie de Metz Metz:1 R 270, 7 févr.1932b.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapports d’activité annuelle demandés par la mairie de Metz: Mr Hubsch, école Saint-Vincent; Mr Rohr, école Saint-Eucaire; Mr Mathiotte, école Notre-Dame; Mr Michels, école Saint-Martin; Mr Bandines, école Saint-Maximin; Mr Goury, école de Plantières-Queuleu; Mr Reichert, école protestante de Queuleu; Mr Bonnet, école de Paixhans puis école de plein-air; sœur Karst, école Saint-Maximin Metz:1 R 270, 22 févr. 1932c.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport annuel d’activité de l’instituteur Mr Rohr, école Saint-Eucaire Metz:1 R 270, 24 févr. 1932d.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Courrier de François Hubsch, instituteur de l’école Saint-Vincent, à la ville de Metz Metz:1 R 270, 28 févr. 1932e.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport annuel d’activité de l’instituteur Mr Goury, école de Queuleu-Plantières Metz:1 R 270, 29 févr. 1932f.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport annuel d’activité de l’instituteur Mr Michels, école Saint-Martin Metz:1 R 270, 21 mars1932g.
- ARCHIVES MUNICIPALES DE METZ. Rapport annuel d’activité de l’instituteur A. Bonnet, école de Paixhans Metz:1 R 270, 21 mars 1932h.
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1
Tradução de Marcelo Moraes e Silva. E-mail: marcelomoraes@ufpr.br - Revisão de Anderson da Cunha Baia, Andréa Moreno, Daniele Cristina Carqueijeiro de Medeiros e Evelise Amgarten Quitzau.
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N.T. Não há traduções específicas em português para os jogos mencionados. Grenzball corresponde a um jogo de bola que poderia ser traduzido literalmente como “jogo dos limites” ou “jogo das fronteiras”, em que duas equipes se enfrentam num campo de 60m, com o objetivo de fazer com que, por meio de golpes ou lançamentos, uma bola pesada chegue ao limite do campo adversário, onde há uma espécie de gol indicado por duas estacas. Tamburinball é um jogo similar ao atual voleibol, em que as equipes estão distribuídas em um campo, separadas por uma rede localizada ao centro, e devem golpear a bola para o campo adversário utilizando uma espécie de tamborim. Balljadg poderia ser traduzido como “caça às bolas”, e corresponde a um jogo em que se posicionam várias bolas no centro do campo e cada equipe deverá tentar levar para seu espaço a maior quantidade possível de bolas, enviando apenas um jogador por vez, que poderá carregar apenas uma bola em cada corrida. Por fim, Schlaghölzer literalmente se traduz como “bastões”, utilizados para jogos rítmicos.
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Os arquivos não contêm nenhuma referência ao ano de 1920.
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Todos os locais mencionados representam bairros da cidade de Metz ou de sua periferia. O mesmo se aplica a todos os lugares mencionados no restante do artigo.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
20 Ago 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
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Recebido
04 Out 2020 -
Aceito
12 Nov 2020