RESUMO
No coração da França dos anos 1970, momento marcado por uma onda de convulsões ideológicas e culturais, a expressão corporal constitui uma experiência inovadora e única na Educação Física diante da hegemonia do esporte na área. Através de sua abordagem desregulamentada, pessoal e emancipatória, a expressão corporal marca uma ruptura na gestão do corpo das crianças em idade escolar. Por meio dela, os alunos tiveram acesso a novas práticas envolvendo o sensível e o expressivo. Essa concepção de Educação Física também afetou a representação da identidade masculina desse período. Dominante, corajoso, autoritário e principalmente reproduzido pelo ensino do esporte, o ideal masculino foi então redefinido e questionado. Ao denunciar o caráter reprodutivo e desigual do esporte, os promotores da expressão corporal masculina objetivam não apenas dessacralizar o modelo patriarcal, mas também buscar a emergência de um novo ideal masculino, voltado para mais emancipação e realização pessoal. Além disso, os autores notam o surgimento de novas masculinidades que eles qualificaram como subordinadas ou mesmo marginalizadas, e que encontram no ensino da expressão corporal um terreno inédito de predileção. A análise exaustiva de periódicos profissionais (Cahiers du GREC, Revue Esprit, Revue EP.S) e as entrevistas de vários atores da expressão corporal (em particular JB. Bonange) tornam possível destacar uma predominância das relações de classe social sobre as de gênero, na medida em que a expressão corporal surge principalmente na França em círculos privilegiados como as universidades, e não consegue disseminar nos círculos populares, locais de resistência de uma masculinidade hegemônica tradicional.
Palavras-chave:
Expressão corporal; Educação Física; Identidades masculinas; França