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A criança, a cidade e o patrimônio na construção do currículo e na formação docente na educação infantil

RESUMO

O artigo apresenta o projeto “A Criança, a Cidade e o Patrimônio: fazeres e saberes das comunidades penedense e eborense”, realizado no município de Penedo, AL, no período de 2018 a início de 2020. Apresenta as premissas do projeto, sua concepção inicial, as etapas realizadas, as metodologias utilizadas, destacando alguns contributos para se pensar no currículo da educação infantil e na formação de seus profissionais. Uma das premissas básicas do projeto é que as referências culturais existentes em ambas as cidades, Penedo e Évora, deveriam ser reconhecidas e valorizadas como recursos imprescindíveis para a educação da criança, a formação dos profissionais e o currículo, assim como para interações e diálogos com famílias e comunidades em geral. As pesquisas e as ações realizadas no âmbito desse projeto dão pistas de como as crianças, a educação infantil e seu currículo podem dialogar com o patrimônio cultural, reconhecendo-o, valorizando-o e potencializando a vivência das crianças em seus territórios de modo a fortalecer o sentimento de identidade e pertencimento para com a cidade.

Palavras-chave:
Educação Infantil; Cidade; Patrimônio; Referências Culturais

ABSTRACT

The article presents the project “The Child, City and Heritage: practices and knowledge about the communities of Penedo and Évora” carried out in the municipality of Penedo, AL, from 2018 to early 2020. It exhibits the premises of the project, its initial idea, the stages carried out, the methodologies used, highlighting some contributions to reflect on the curriculum of early childhood education and the training of its professionals. An important facet of the project is that in both cities, Penedo and Évora, the existing cultural references should be recognized and valued as essential resources for educating children, for training the professionals and shaping the curriculum, as well as for interactions and dialogues with families and communities at large. The research and actions carried out within the scope of this project provide clues as to how children, early childhood education and its curriculum can dialogue with cultural heritage, recognizing it, valuing it and enhancing the experience of children in their territories so as to strengthen the sense of identity and belonging to the city.

Keywords:
Early Childhood Education; City; Heritage; Cultural References

Introdução

Este artigo visa analisar criticamente os contributos do projeto1 1 O projeto recebeu apoio financeiro da Prefeitura Municipal de Penedo, por intermédio da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (FUNDEPES), Projeto n.º: 046/2019, e da Universidade de Évora, por meio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Projeto n.º: UID/CED/04312/2019. “A Criança, a Cidade e o Patrimônio: fazeres e saberes das comunidades penedense e eborense” para se pensar no currículo da educação infantil e na formação de seus profissionais. O projeto foi realizado na cidade de Penedo, Alagoas, Brasil, nos anos de 2019 e 2020, mediante um acordo de cooperação com a Cidade Educadora de Évora em Portugal, envolvendo três instâncias: da municipalidade, do patrimônio e acadêmico2 2 Isso significou o envolvimento de seis parceiros no Programa, a saber: a Prefeitura Municipal de Penedo e a Câmara Municipal de Évora (CME); o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Alagoas (IPHAN/AL) e a Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA); a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Universidade de Évora (UÉ). . Évora e Penedo, nas suas enormes diferenças e singularidades, apresentam características nos níveis histórico e cultural que as aproximam. Évora foi classificada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1986, e o conjunto histórico e paisagístico de Penedo foi tombado pelo Iphan/AL em 1996. Além do tamanho da população, em torno de 65 mil habitantes, as duas cidades apresentam um grande interesse pela preservação e fomento do patrimônio histórico e cultural, para que esse venha a ser usado por todos. Uma das premissas básicas do projeto era que as referências culturais presentes em ambas as cidades de Penedo e Évora - nomeadamente as que decorriam da experiência lúdica e festiva das manifestações performativas populares de diversas origens e não apenas as que se conformavam ao campo do patrimônio cultural e artístico de recorte histórico - deveriam ser reconhecidas e valorizadas como recursos imprescindíveis para a educação da criança, a formação dos profissionais e o currículo, assim como interações e diálogos com famílias e comunidades em geral. As crianças, em Penedo e em Évora, figuram como o presente e também como uma expectativa de futuro que vai dar continuidade a essas práticas, ressignificando-as e, assim, garantindo a sua sustentabilidade no que diz respeito ao sentimento de pertença e apropriação cultural pelos cidadãos.

O projeto teve como objetivo identificar, descrever e explorar projetualmente os contributos mútuos para a educação, cultura e arte no contexto das duas cidades e promover um conjunto articulado de ações educativas e culturais, além de identificar, categorizar e promover boas práticas de formação/investigação, visando à produção de cartografias do espaço público participado em contexto patrimonial.

Contributos teóricos que sustentam o projeto

A temática em questão discutida nesse projeto propicia o debate de conceitos que permeiam a participação das crianças nos espaços públicos e em todos os âmbitos da sociedade, como: identidade, alteridade, apropriação, pertença, sustentabilidade e visibilidade. O ponto de partida é a discussão em torno dos direitos das crianças aos espaços públicos da cidade e, em especial, o direito à participação nas decisões sobre os seus usos, visando à garantia dos seus direitos como cidadãos que são e não como um vir a ser. O projeto situa-se no domínio dos estudos de cidades patrimoniais com base em uma perspectiva crítica, vindo a ser mobilizados elementos de reflexão como os fenômenos de gentrificação3 3 Segundo Bataller e Botelho (2012, p. 10), a gentrificação é um fenômeno que “[...] consiste em uma série de melhorias físicas e materiais e mudanças imateriais - econômicas, sociais e culturais - que ocorrem em alguns centros urbanos antigos, os quais experimentam uma considerável elevação do seu status”. Segundo a autora, esse processo se dá basicamente nos países industrializados ao longo da etapa pós-industrial ou pós-moderna e caracteriza-se, fundamentalmente, pela ocupação dos centros das cidades por parte de uma classe média, de elevada remuneração, que desloca os habitantes da classe baixa, de menor remuneração, que viviam no centro urbano. , em que a mercantilização e a turistificação dos lugares atuam sobre as dimensões simbólica, de memória e de vivência cotidiana do presente e do futuro, como motes conceituais para a educação, cultura e criação artística contemporânea.

Em O Direito à Cidade, Lefebvre (1996LEFEBVRE, Henri. The right to the city, 1996. https://theanarchistlibrary.org/library/henri-lefebvre-right-to-the-city
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, n.p) argumenta sobre a impossibilidade de se considerar a hipótese da reconstituição da cidade antiga, visto que isso satisfazia as necessidades de um momento do passado. No contexto de Évora e Penedo, havia-se que levar em conta a construção sociopolítica do espaço e toda sorte de intersubjetividades presentes na forma como os seus habitantes veem e leem as paisagens, os lugares e as performances das culturas populares que os atravessam. Segundo Lefebvre (1996, n.p), em sua dimensão sintagmática, a cidade

[...] se apresenta como um subsistema privilegiado porque é capaz de refletir, de expor os outros subsistemas de oferecer como um “mundo”, como uma totalidade única, na ilusão do imediato e do vivido. Exatamente nesta capacidade residem o charme, a tonicidade, a tonalidade própria da vida urbana. Mas a análise dissipa essa impressão e revela vários sistemas ocultos na ilusão de unicidade. O analista não tem o direito de compartilhar dessa ilusão e de consolidá-la, mantendo-se no plano do “urbano” em lugar de aí discernir os aspectos de um conhecimento mais amplo.

O autor faz assim um chamamento para que os sistemas ocultos sejam considerados e desvendados, a fim de dissipar a falsa ilusão de organicidade e totalidade única que o plano urbano apresenta.

As práticas de educação cultural, artística e patrimonial em contextos formativos e comunitários apresentam-se como uma oportunidade para examinar e escrutinar as questões de identidade, alteridade, memória e sonho de futuro, numa relação de dialogismo criativo, na relação cidade/local/território. Encara-se a ocupação performativa do espaço público como um direito, assim como simultaneamente se apresenta como um fenômeno de resistência cultural a que a educação das infâncias não pode ficar imune. Assim, o valor das práticas performativas que consubstanciam as culturas populares se apresenta na condição de poéticas híbridas e agires significativos. Assim sendo, a experiência implicada do corpo num processo de criação de imagens, sentidos e significações é insubstituível. A construção partilhada de conhecimento é o motor de desenvolvimento e transformação individual e possivelmente social, a qual é percebida como eminentemente processual, em que se promovem no seio do grupo as competências coinvestigativas, cocriativas e coavaliativas de âmbito educacional, cultural, social e estético (Bezelga, 2021BEZELGA, Isabel. Educação e vivências performativas fora de portas ou a busca por uma visão ecológica. In: OLIVEIRA, Mónica, EÇA, Teresa, SALDANHA, Ângela, FERREIRA, Célia. Antologia de educação artística e sustentabilidade: orientações para estratégias de educação ambiental através das artes. Salvador Viseu, PT: APECV, 2021. p. 30-3).

A atuação sobre o patrimônio cultural também se entrelaça com as discussões sobre a infância presentes nos estudos da criança e Sociologia da Infância, que compreendem as crianças como atores sociais, sujeitos produtores de cultura, seres ativos situados no tempo e no espaço. Assim, a concepção de infância assumida nesse projeto se afasta da visão unicamente adultocêntrica e tenta romper com as visões tradicionais de criança como ser inacabado. Para Qvortrup (2010QVORTRUP, Jens. A infância enquanto categoria estrutural. Educação e Pesquisa, v. 36, n. 2, p. 631-643, 2010. https://www.scielo.br/j/ep/a/M9Z53gKXbYnTcQVk9wZS3Pf/?lang=pt
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, p. 635, grifo nosso) a infância refletida em termos estruturais, e não como um período, “[...] rompe com os planos de vida pessoal; faz pensar não em termos do desenvolvimento da criança, mas, particularmente, no desenvolvimento da infância”. De acordo com vários autores que pesquisam sobre as culturas infantis e os modos de viver sua infância (Sarmento, 2005SARMENTO, Manoel Jacinto. Crianças: educação, culturas e cidadania activa - Refletindo em torno de uma proposta de trabalho. Perspectiva, v. 23, n. 1, p. 17-40, 2005. https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/9857
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; Müller; Nunes, 2014MÜLLER, Fernanda; NUNES, Brasilmar Ferreira. Infância e cidade: um campo de estudo em desenvolvimento. Educ. Soc., v. 35, n. 128, p. 629-982, 2014. https://www.scielo.br/j/es/a/VyYrQTKPWyzjbGScvnwydVb/?format=pdf⟨=pt
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; Trevisan, 2014TREVISAN, Gabriela de Pina. “Somos as pessoas que temos de escolher, não são as outras pessoas que escolhem por nós.” Infância e cenários de participação pública: uma análise sociológica dos modos de codecisão das crianças na escola e na cidade. Tese (Doutorado em Estudos da Criança, Especialidade em Sociologia da Infância) - Universidade do Minho, Braga, Portugal, 2014.), pensar no desenvolvimento da infância requer uma ampliação de espaços, territórios e lugares para o viver a infância, demandando uma responsabilização da sociedade no sentido de garantir uma interlocução entre os diversos sistemas e com as outras gerações, promovendo o intercâmbio e a continuidade das ações entre os membros da sociedade no espaço em que vivem.

Para tornar a cidade/local/território mais próxima das crianças, é necessário que se criem rotinas culturais (Corsaro, 2011CORSARO, Willian. A. Sociologia da infância. Porto Alegre: Artmed, 2011.) ampliando seus horizontes, integrando-as numa rede maior de articulação com a sua cultura local, naquilo que é mais próximo e também com o mundo, criando oportunidade de visibilidade, escuta e presença respeitada. Buscou-se, assim, ampliar a dimensão pública dos processos de aprendizagem que a vivência da criança inserida na cidade pode potencializar, ao dar-lhes condições de se apropriarem e ocuparem espaços públicos, participarem nas manifestações performativas das suas comunidades de maneira contínua, permitindo assim a ampliação do seu modo de ser e estar no mundo.

Outros conceitos serão trazidos à medida que se explicitam as diversas ações específicas que constituem o projeto, nas seções seguintes.

O projeto em sua concepção inicial

A criança, em Penedo e em Évora, é o sujeito das múltiplas ações que dão corpo ao projeto “A Criança, a Cidade e o Patrimônio”, as quais abrangem quatro contextos que se interconectam e se inter-relacionam. O primeiro, referido como Cidade/local/território, mobiliza aspectos históricos, usos sociais e a própria dimensão patrimonial, na perspectiva dos estudos críticos do patrimônio, já referida. Os saberes locais e as práticas culturais das duas cidades constituem uma dimensão importante desse contexto e se articulam com a questão geográfica e econômica, permitindo compreender o que faz a cidade ser uma cidade e não ter desaparecido ou manter-se com sua importância diminuída ou aumentada. Nessa dimensão, por via da cartografia, o projeto almejava dar visibilidade e potencializar as estruturas, equipamentos culturais, práticas artesanais, artísticas e culturais já existentes e fazer uso dos espaços públicos, patrimoniais ou não, ocupando os locais disponíveis. Outra dimensão importante é a política, que compreende a articulação com a gestão da cidade e os vários departamentos ou secretarias, por exemplo, de Educação e Cultura, que regulam a organização das cidades, assim como com os principais parceiros, nomeadamente, o Iphan, responsável pela gestão do patrimônio cultural em Penedo, e a Direção Regional de Cultura do Alentejo, responsável pelo patrimônio cultural em Évora. Todas essas dimensões são atravessadas pelas perspectivas da Cidade da criança4 4 Projeto idealizado pelo pensador, pedagogo e desenhista italiano Francesco Tonucci (2022). , Cidade educadora5 5 Carta das cidades educadoras (2023). e Cidade criativa6 6 Para mais informação ver: Reis e Kageyama (2011). .

O segundo contexto são as Instituições de educação infantil - o grande âmbito educacional - que compreendem as estruturas e unidades educacionais e os agentes de educação que abrangem não apenas as professoras/educadoras, mas também as diretoras e as coordenadoras. Uma ação inicial ligada a esse contexto almejava a análise da situação da rede municipal de educação infantil de Penedo, no que tangia à oferta, à qualidade dos espaços internos e externos, aos mobiliários e materialidades, assim como seu uso pelas crianças, os modelos pedagógicos vigentes e a organização do trabalho pedagógico. Dessa análise da situação seriam derivados, de forma participada, os planos de formação e mediação a serem executados ao longo do projeto, previsto para uma duração de três anos. Esse contexto também compreendia: o âmbito da pesquisa, abrangendo pesquisas de mestrado e doutorado e das próprias pesquisadoras de ambas as universidades como suporte ao projeto; o âmbito dos educadores de infância cooperantes e instituições cooperantes que acolhem os estágios da Universidade de Évora; e as orientações nacionais advindas do Ministério de Educação, estaduais e locais que balizariam as análises.

O terceiro contexto é a formação/mediação nos campos educacional, artístico e patrimonial e no design dos equipamentos e mobiliários, que era uma necessidade especialmente em Penedo. As ações de formação seriam diferenciadas para professoras/educadoras, classe dirigente e coordenadores pedagógicos e agentes culturais. No campo educacional, buscava-se oferecer uma ampla gama de oportunidades de formação: que permeiam os conhecimentos sobre a criança de 0 a 6 anos; e abordagens pedagógicas que trazem diferentes perspectivas sobre a educação da criança, a organização do trabalho pedagógico (espaços, tempos e relações) e o papel do adulto. No campo artístico, o foco estava na ampliação do repertório artístico-cultural (literatura, artes visuais, música, dança, teatro e manifestações artísticas diversas das culturas populares) das professoras. No campo patrimonial, a formação englobaria uma dimensão social, histórica e ambiental. Enquanto as ações de formação reuniriam profissionais de diferentes unidades educacionais em diferentes locais do patrimônio cultural da cidade, as ações de mediação ocorreriam no contexto educacional, incidindo sobre as práticas educativas e a organização do trabalho pedagógico como um todo. Na perspectiva do contexto institucional, buscar-se-ia introduzir metodologias participativas7 7 Exemplos de pedagogias que promovem a participação das crianças com décadas de trabalho e internacionalmente conhecidos, tais como a abordagem educativa High/Scope, o Movimento da Escola Moderna português (MEM), a abordagem Reggio Emília e a pedagogia dinamarquesa. , que promoveriam a autonomia da criança, sua iniciativa e mobilidade nos espaços internos e externos, bem como a participação e o sentido de cooperação e vida em comunidade. Para além dos muros da escola, pretendia-se solidificar práticas consoantes à visão da criança como cidadã “[...] que, desde cedo, participa na vida da cidade e por tal, não só tem oportunidade de fazer parte de uma rede social de apoio e de recursos, como também se envolve na identificação de problemas e na sua resolução” (Folque, 2017FOLQUE, Maria Assunção; ARESTA, Fátima; MELO, Isabel. Construir a sustentabilidade a partir da infância. Cadernos de Educação de Infância, n. 112, p. 82-91, 2017. https://core.ac.uk/download/pdf/154812529.pdf
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, p. 85).

Por último, há o contexto das famílias e comunidade local. Além do patrimônio cultural, seriam alvo de investigação os espaços de associativismo local espalhados pela cidade, que constituem espaços relacionais, de lazer, de cultura, de fruição artística e também de manifestação religiosa e poderiam ser potencializados como espaços de participação cívica, por meio de ações conjuntas com os profissionais de educação de infância, as crianças e as famílias.

Uma das premissas do projeto é que o contexto escolar, como espaço privilegiado de intermediação entre a família e o mundo, precisa estabelecer diálogo intermitente com a produção cultural local e sua comunidade escolar. Nesse sentido, os diálogos com os saberes e fazeres da comunidade penedense foram planejados em forma de encontros com as crianças e seus profissionais, para serem explorados em suas várias dimensões: da musicalidade, da corporeidade, do ritmo, da materialidade. Esse diálogo foi pensado em mão dupla, tanto possibilitando que as culturas populares chegassem às escolas quanto no sentido inverso desse fluxo, entendendo a cidade também como espaço de educação das futuras gerações.

Esses quatro contextos abarcam todas as dimensões pelas quais o projeto foi idealizado, revelando a interdisciplinaridade e a transversalidade inerentes.

Trocas de saberes - em busca de uma horizontalidade

O sentido da ligação Penedo-Évora também foi considerado na perspectiva de cooperação técnica num patamar horizontal, e não vertical. Uma questão que permeou o desenho do projeto dizia respeito a encontrar um ponto de diálogo e troca entre as duas cidades. Que recursos poderiam vir de Penedo que pudessem ser mobilizados em Évora e vice-versa?

A princípio, o que se viu em Évora foi um potencial educativo mais sólido, com ações já estabelecidas no âmbito da implementação de metodologias participativas na educação da infância. As instituições de educação da infância adotam modelos pedagógicos como o Movimento de Escola Moderna Portuguesa (MEM) ou o High/Scope ou mesmo um sistema misto, além de seguir os fundamentos e princípios postos nas diretrizes curriculares do país. O MEM, em especial, é uma abordagem pedagógica muito presente nas instituições de educação de infância cooperantes (que acolhem os estágios), e o movimento em si é alimentado continuamente por um processo de autoformação continuada que promove a cooperação e a troca de experiências e resulta em empoderamento e apropriação das práticas. Há também uma forte conexão entre a Universidade e as instituições cooperantes, construída em bases sólidas no compromisso de coparticipação entre as duas instâncias.

Além disso, a cidade de Évora já possuía várias experiências de qualidade com crianças na sua relação com a cidade pela via de um acordo de cooperação entre a Câmara Municipal e a Universidade de Évora, essa última atuando diretamente com a Educação Básica por meio dos cursos de Licenciatura em Educação Básica e Mestrado em Educação Pré-Escolar e Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º CEB. Essas experiências se realizam de forma que as crianças vivenciem a cidade de maneira cultural, artística e exploratória, apropriando-se dos espaços e ruas, observando e intervindo com a ajuda dos adultos, percebendo que os equipamentos (museus, igrejas, monumentos, praças, ruas etc.) lhes pertencem e que devem sofrer intervenções e direcionamentos participativos e conjuntos em prol da comunidade, com vista a uma sustentabilidade local necessária à construção de uma democracia mais participativa (Folque, 2017FOLQUE, Maria Assunção; ARESTA, Fátima; MELO, Isabel. Construir a sustentabilidade a partir da infância. Cadernos de Educação de Infância, n. 112, p. 82-91, 2017. https://core.ac.uk/download/pdf/154812529.pdf
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; Folque; Aresta; Melo, 2017). Penedo, por sua vez, guarda uma tradicional vocação artística e cultural. Como um dos municípios mais antigos do estado, para além do patrimônio histórico traduzido no arcabouço arquitetônico ainda conservado, possui uma vasta riqueza de referências culturais, como celebrações, formas de expressão, lugares e ofícios. Conhecer essas referências, promovendo formas de aproximação e conexão entre artistas locais e expressões da cultura de tradição e as crianças, poderia agregar valor às práticas já consolidadas em Évora, no que diz respeito à relação criança-cidade. Além disso, o projeto vislumbrava visitas de artistas locais de grupos tradicionais e contemporâneos entre as duas cidades, para fins de apresentações, trocas de experiências, saberes e fazeres próprios de cada lugar.

O projeto a “Criança, a Cidade e o Patrimônio” em ação

O projeto “Criança, a Cidade e o Patrimônio” foi concebido de forma abrangente e multidimensional, como anteriormente referido. Originalmente, o projeto, que se transformou em programa, foi desenhado para ser realizado em três etapas: análise da situação do sistema municipal de educação infantil; intercâmbio pedagógico e cultural Penedo-Évora; e um conjunto de ações formativas e propositivas derivadas das duas etapas precedentes. Uma equipe multiprofissional foi formada abrangendo as áreas da educação, cultura, arquitetura e, posteriormente, turismo, incluindo docentes e discentes de graduação, mestrado e doutorado. Em consequência da pandemia causada pelo novo coronavírus SAR-S e resultando na Covid-19, apenas a primeira e a segunda etapas foram plenamente realizadas, além de ações pontuais da terceira etapa.

Trazemos nesta seção do artigo a apresentação e a análise de algumas ações nele desenvolvidas que julgamos contribuírem para a discussão que vem requerer que as referências culturais das comunidades de pertença deveriam ser reconhecidas e valorizadas como recursos imprescindíveis para a educação da criança, a formação dos profissionais e currículo, assim como para interações e diálogos com famílias e comunidades em geral.

Conhecer as referências culturais de Penedo

A parceria com o Iphan/AL nos brindou com o acesso ao Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), realizado por uma equipe multiprofissional em 2015 e que ainda não havia sido publicado. As seguintes referências culturais foram inventariadas no município de Penedo: cinco celebrações - Festa do Bom Jesus dos Navegantes, Festa da Padroeira Nossa Senhora do Rosário, Festa de Santo Antônio, Lavagem do Beco e Corrida de Embarcações; duas edificações - Casa de Axé do Pai de Santo Bobô e Casa de Farinha de Manoel Vieira (povoado Tabuleiro dos Negros); cinco formas de expressão - Guerreiro, Pastoril, Coco de Roda, Banda de Pífano e Lenda do Túnel do Convento Nossa Senhora dos Anjos; dois lugares - Feira Livre e Várzea da Marituba; e treze ofícios - Modos e saberes da pesca, Caça de jacaré, Modo de fazer culinário, Moqueca de jacaré, Macasada e quebra-queixo, Modos e práticas da rizicultura, Artesanato com palha de Ouricuri, Ofício de santeiro, Modo de fazer escultura em pedra, Artesanato de miniatura em madeira, Modo de fazer bonecos de carnaval, Práticas e modos de construir em taipa.

Esse foi o ponto de partida para investigar a produção e as formas de organização dos artistas locais, em especial aqueles voltados aos saberes e fazeres penedenses, e os fluxos estabelecidos entre essa produção cultural e sua inserção na comunidade local de educação infantil. Para compreender o patrimônio cultural de Penedo, buscou-se identificar artistas e grupos culturais atuantes na cidade, seus locais de atuação e moradia, a produção, a difusão e a inserção de seus trabalhos na comunidade penedense. Além do levantamento nos órgãos públicos, foram realizadas visitas aos locais de produção e difusão artística e entrevistas com os criadores. Conhecer suas práticas culturais, os saberes e fazeres locais e identificar parceiros potenciais para uma aproximação com a comunidade escolar, nomeadamente as crianças e suas professoras, foi um dos objetivos desse programa.

Outra ação realizada foi a constituição de um acervo de saberes e fazeres da comunidade penedense por meio de pesquisa de campo e bibliográfica. A ideia era que esse acervo pudesse alimentar as ações de ampliação do repertório cultural dos profissionais que atuam com a educação da infância e potencializar a vivência da criança na cidade, além de subsidiar a elaboração das orientações curriculares para a educação infantil do município de Penedo, que valorizassem os saberes e fazeres da cultura local. Uma pesquisa realizada no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) voltou-se ao levantamento da produção acadêmica sobre as práticas culturais da tradição popular no município de Penedo, entre os anos de 2013 e 2020 (Nascimento, 2022NASCIMENTO, Ilnah Rafaelly Neto. A produção acadêmica sobre cultura da tradição popular no município de Penedo/AL, entre os anos de 2013 e 2020: contribuições para a prática educativa na educação infantil. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo) - Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2022.), no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes. Dentre as referências culturais que evidenciavam a presença de crianças, destacou-se uma dissertação de mestrado (Araújo, 2019ARAÚJO, Laís Gois de. A prática educativa da mandiocada nas comunidades quilombolas Tabuleiro dos Negros e Sapé - Alagoas. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Sergipe, 2019.) sobre a prática educativa da Mandiocada em duas comunidades quilombolas: do Tabuleiro dos Negros, situada no município de Penedo; e do Sapé, situada em município vizinho, Igreja Nova.

A inserção da cultura penedense na comunidade escolar

Diante dessa diversidade de referências culturais que mesclam o período da colonização portuguesa e holandesa, mas também as expressões de resistência africana e indígena ainda presentes no município de Penedo, indagamos se esses saberes e fazeres que interligam gerações, conectam memórias e dão sentido a práticas sociais locais eram reconhecidos e valorizados nos contextos de educação infantil como componentes importantes do currículo. Assim, uma pergunta que norteou o projeto foi: que lugar o patrimônio cultural ocupa nos contextos de educação infantil de Penedo?

A análise da inserção da cultura penedense na comunidade escolar foi realizada por meio de um questionário respondido por coordenadores, professoras e auxiliares e complementada por entrevistas. Alguns dados mostraram a possibilidade de potencializar o diálogo entre o patrimônio cultural e a prática educativa, já que em torno de 50% das professoras afirmaram trabalhar com as crianças aspectos da cultura penedense, como os prédios históricos e as manifestações da tradição popular, porém limitando-se ao espaço da instituição. As visitas ao Centro Histórico em geral eram restritas a eventos pontuais, como o mês de aniversário da cidade, e realizadas, em sua maioria, somente uma vez ao ano; as atividades voltadas às artes estavam restritas, em quase sua totalidade, às datas comemorativas e aos conhecimentos artísticos dos próprios profissionais da educação infantil, indicando ausência de intercâmbio com os artistas locais, salvo raras exceções. Ações de ampliação do repertório cultural das profissionais que atuam com a educação da infância e de apoio a projetos que potencializam a vivência da criança na cidade foram previstas para a terceira etapa.

Levantamento de recursos equipamentos e espaços de uso público

Se se quer despertar o sentimento de identidade e pertencimento pela cidade em que se habita, para que se possa contribuir para a preservação do seu patrimônio cultural, é preciso conhecê-lo, vivenciá-lo, aproximar-se de forma significativa dos contextos em que se está inserido. Nessa direção, também foi feito um levantamento de recursos, equipamentos e espaços de uso público e patrimoniais existentes em Penedo, com a finalidade de compreender seu potencial para uso infantil sistemático ou apenas visitação, para formação continuada, e também como local de manifestações de expressões da cultura popular. Foi constatada a existência de um amplo acervo de equipamentos culturais e patrimoniais que se apresentam em bom estado de conservação, com possibilidade de receber diversas atividades além daquelas já oferecidas, podendo ser utilizados para a formação continuada de professores, sendo que alguns espaços possibilitam a ambientação para o público infantil. Porém, observou-se que esses edifícios patrimoniais estavam subaproveitados em seu potencial de ação cultural, em razão de dificuldades financeiras e de pessoal para manter o espaço aberto e também pela não identificação de demandas provindas dos produtores culturais da cidade. Isso indicava a necessidade da interpretação desse patrimônio por informantes qualificados que pudessem desenvolver estratégias para visitas de cunho didático-pedagógico. Nesse sentido, ampliamos a proposta de formação continuada para esse perfil, informantes ou agentes culturais, visando a sua sensibilização para receber o público infantil.

O Programa de Residência Pedagógica e Cultural (PRPC) em Évora como experiência de troca de saberes e referentes culturais

Como uma estratégia que poderia potencializar a ampliação de experiências e troca de saberes e fazeres entre Penedo e Évora, foi realizado o Programa de Residência Pedagógica e Cultural (PRPC) em Évora, constituindo a ação central da segunda etapa do programa. O PRPC contou com a participação de 15 profissionais de Penedo - 12 professoras de EI e três técnicas da Secretaria Municipal de Educação de Penedo (SEMED) - em uma intensa programação de duas semanas. Envolveu a imersão dessas profissionais em instituições de educação da infância eborenses que desenvolvem trabalho com a cidade/comunidade e a participação delas em ações oferecidas pela Universidade de Évora, tais como seminários, vivências em locais culturalmente relevantes e reuniões na Câmara Municipal de Évora.

Inspirado nos intercâmbios realizados em um município litorâneo do Estado de São Paulo (Haddad, 2022HADDAD, Lenira; FOLQUE, Maria Assunção; AMARAL, Jeane Costa. A potência (trans)formadora da residência pedagógica e cultural na voz de educadores/as de infância de Évora e professoras de educação infantil de penedo. In: SILVA, Brigite; CRAVEIRO, Clara; PINHEIRO, Ana; MEDEIROS, Paula (Org.). Perspetivas e experiências de formação em educação de infância. 1. ed. Porto: Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, 2022. p. 78-98.) e igualmente nas ideias de Nóvoa (2017NÓVOA, António. Firmar a posição como professor, afirmar a profissão docente. Cadernos de Pesquisa, v. 47, n. 166, p. 1106-1133, 2017. https://www.scielo.br/j/cp/a/WYkPDBFzMzrvnbsbYjmvCbd/?lang=pt
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) de diminuir o fosso entre a universidade e os contextos da profissão e os pressupostos da matriz sociocultural da aprendizagem (Folque, 2017FOLQUE, Maria Assunção; ARESTA, Fátima; MELO, Isabel. Construir a sustentabilidade a partir da infância. Cadernos de Educação de Infância, n. 112, p. 82-91, 2017. https://core.ac.uk/download/pdf/154812529.pdf
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), para a qual a construção do conhecimento profissional docente requer a participação nas atividades que decorrem nos contextos da profissão, o PRPC buscou o encontro entre docentes de distintas culturas e a oportunidade de experiências das várias realidades que configuram o campo docente. O PRPC também se apoia no conceito de aprendizagem situado em comunidades de práticas de Lave e Wenger (1991LAVE, Jane.; WENGER, Etiene. Situated Learning: legitimate peripheral participation. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.), na experiência das residências artísticas, como potência de pesquisa e criação, e no conceito de sujeito da experiência de Larrosa (2014LARROSA, Jorge. Desafios da educação. 1 vídeo (25 min). Publicado pelo canal da Univesp, 2014. https://www.youtube.com/watch?v=AzI2CVa7my4&lc=UgzpjGWZpDMRERKo6b94AaABAg
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), dentre outras referências. Também sustentam a experiência de “estar” em residência conceitos fundamentais para a discussão sobre as relações que nesses ambientes operam, como tempo, espaço e trocas interculturais.

De forma geral, a imersão nas instituições, com propostas de ação conjuntas entre educadoras de infância eborenses e professoras penedenses, deslocadas de seus contextos habituais, e o acompanhamento das saídas das crianças em um conjunto de ações e projetos realizados nas ruas com a temática cidade, contribuíram para a inter-relação imediata entre a teoria e a prática. As ressonâncias e os impactos dessa experiência de formação continuada provocados nos profissionais envolvidos foram reportados em duas publicações (Haddad et al., 2023HADDAD, Lenira; FOLQUE, Maria Assunção; AMARAL, Jeane Costa; BEZELGA, Isabel. Ressonâncias de uma experiência além-mar de formação continuada de professoras de educação infantil. Cadernos Cedes (impresso), v. 43, p. 86-97, 2023. https://www.scielo.br/j/ccedes/a/pvLNw5XPfbjYCRpnD9B7dqv/
https://www.scielo.br/j/ccedes/a/pvLNw5X...
; Haddad; Folque; Amaral, 2022AMARAL, Jeane Costa; HADDAD, Lenira; FOLQUE, Maria Assunção. Entre cá e lá: conversas sobre identidades entre Penedo (AL) e Évora por meio de um projeto de correspondência entre crianças. In: MAGALHÃES, Cassiana; ARTUR, Ana (Org.). Travessias luso-brasileiras na educação da infância. São Carlos: Pedro & João, 2022. p. 59-79.). Na perspectiva das professoras penedenses, destacam-se: a renúncia ao determinismo pedagógico, ampliando as perspectivas sobre mudanças na prática pedagógica, reconsiderando a visão das crianças, bem como o seu papel no processo pedagógico; e outros modos de olhar, valorizar e ocupar a cidade de Penedo, reconhecendo-se como parte da sua cidade. As narrativas apresentadas pelas participantes enfatizam a eficácia desse modelo de residência quando comparado às formações baseadas em metodologias que não deslocam e não desestabilizam os saberes preestabelecidos, o que pode ser exemplificado neste depoimento “[...] eu estudei quase sete anos e não aprendi tanto como eu aprendi naquelas duas semanas de vivência, de tocar e cheirar e sentir e pisar, de ver que funciona, que é real (Haddad et al., 2023, p. 89, grifo nosso).

Na perspectiva das educadoras de infância eborenses, essa convivência despertou a consciência para seus próprios saberes e fazeres a ponto de elegerem aspectos da sua prática profissional que pudessem contribuir para a formação das residentes. Além disso, o partilhar das estratégias de ocupação da cidade pelas crianças, como cidadãs - com olhares e vozes próprias, que muito podem contribuir para uma cidade mais plural e amiga -, por via dos vários projetos em andamento, implicou a visibilidade e o reconhecimento do que vem sendo sistematizado há alguns anos.

A pandemia causada pelo novo coronavírus SAR-S impediu a ida das educadoras de infância de Évora a Penedo, conforme havia sido programada.

Perspectivas futuras

Com base nos resultados das ações e atividades das etapas iniciais, a terceira etapa do programa “A criança, a Cidade e o Patrimônio” foi minuciosamente elaborada para possibilitar a materialização de vivências das crianças e suas professoras na cidade, em diálogo com o patrimônio cultural por meio de um programa de formação continuada de cunho pedagógico, cultural e patrimonial, ambientação dos espaços escolares e não escolares, visibilidade, reconhecimento e aproximação das expressões da cultura da tradição popular à comunidade escolar. Visava sobretudo valorizar uma concepção de criança cidadã e imprimir uma prática pedagógica que se distribui por diversos espaços das unidades de educação infantil e da comunidade, ou seja, pelas ruas do bairro, no comércio, pelas praças, junto ao rio, nos diversos equipamentos culturais da cidade etc. Também almejava a abertura dos contextos escolares a diversos membros da comunidade, agentes culturais, artesãos, grupos recreativos e profissionais de diversas áreas.

Assim, foi proposto um conjunto de ações inter-relacionadas. Seus principais pilares giravam em torno de: um vasto programa de formação de professores da rede pública de educação infantil de Penedo e agentes culturais; a constituição de centros de referência em educação infantil; a ambientação de espaços para crianças, escolares e não escolares; e diálogos culturais entre criança, cidade e patrimônio, envolvendo parceiros culturais e artísticos locais. Também estavam previstos diálogos interculturais Penedo-Évora com outras formas de intercâmbio pedagógico e cultural. Todas essas ações alimentariam a elaboração de orientações curriculares para a Educação Infantil do município de Penedo, com ênfase na cultura local. Algumas iniciativas realizadas antes de o projeto ser suspenso incluíram: projetos de reformas e ambientação de várias instituições analisadas; design de dois espaços não escolares para serem utilizados como espaços da criança; uma linha de brinquedos e móveis para serem utilizados em espaços escolares e não escolares, com características regionais. Também já haviam sido definidos potenciais grupos artístico-culturais para estreitar o diálogo das crianças com a cidade (como espaço de formação do sujeito) e com os saberes e fazeres do povo penedense (como modos de ser e estar no mundo). Por último, em parceria com o curso de Turismo, foram desenhados esboços de roteiros para crianças.

A pandemia e as medidas de distanciamento social, seguidas da mudança de administração municipal, impediram a continuidade do programa e a efetivação de uma proposta de ocupação da cidade pela criança, na perspectiva expressa neste artigo. Mas isso não impediu a realização de um projeto-piloto com as crianças, conforme se pode ver a seguir.

As dimensões que possibilitam a relação criança, cidade e patrimônio no âmbito da educação infantil

Uma pesquisa de doutorado (Amaral, 2020AMARAL, Jeane Costa. A criança, a cidade e o patrimônio no âmbito da educação infantil: identidade cultural, pertencimento e participação. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2020.)8 8 A referida pesquisa foi agraciada com o prêmio Ana Maria Almeida em Lisboa em 3/11/2023, na categoria Inovação Pedagógica. , realizada ao longo das duas primeiras etapas, configura a construção do diálogo entre Évora e Penedo e investiga as dimensões teóricas e práticas da relação criança, cidade e patrimônio no âmbito da educação infantil. A pesquisa envolveu a imersão da pesquisadora nas duas cidades históricas em três tempos. Primeiramente, com base em vivências no campo profissional de Évora, junto com o trabalho realizado pelas educadoras de infância com as crianças na cidade apoiando-se em iniciativas que envolveram a Câmara Municipal, a Universidade de Évora e os contextos de educação infantil. Posteriormente, acompanhando as professoras de Penedo nas atividades do PRPC, em parceria com as educadoras de infância de Évora. Por último, em Penedo, criando possibilidades para a vivência das crianças em situações extramuros de forma colaborativa com uma professora do município, envolvendo duas turmas de crianças de 5 a 6 anos de duas pré-escolas municipais, uma situada no centro histórico e outra, no campo. Perpassando esses três momentos houve a realização de um projeto de correspondência entre crianças de Évora e Penedo, em torno do tema “A minha cidade” (Amaral; Haddad; Folque, 2022HADDAD, Lenira; FOLQUE, Maria Assunção; AMARAL, Jeane Costa. A potência (trans)formadora da residência pedagógica e cultural na voz de educadores/as de infância de Évora e professoras de educação infantil de penedo. In: SILVA, Brigite; CRAVEIRO, Clara; PINHEIRO, Ana; MEDEIROS, Paula (Org.). Perspetivas e experiências de formação em educação de infância. 1. ed. Porto: Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, 2022. p. 78-98.), que tinha como objetivo comunicar características de suas cidades às crianças dos distintos países.

Os projetos de correspondência possibilitaram que fossem desenvolvidas com as crianças, em Penedo e em Évora, proposições que incluíram: visitas contextualizadas aos edifícios históricos; descobertas do patrimônio cultural; contato com o patrimônio natural; exploração dos espaços públicos abertos; e incursões, à deriva, pela cidade. A correspondência entre as turmas de crianças dos dois países por meio de vários recursos (mapas, postais, aplicativos de mensagens, mapas, notebook, câmeras fotográficas) serviu como uma metodologia para ampliar o olhar das crianças para a sua própria cidade.

Algumas vivências com crianças das duas pré-escolas de Penedo, referidas em outra publicação (Amaral; Haddad; Folque, 2021AMARAL, Jeane Costa; HADDAD, Lenira; FOLQUE, Maria Assunção. Patrimônio cultural e pertencimento: contribuição para pensar o currículo na educação infantil. Revista de Educação Pública, n. 30, p. 1-21, 2021. https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/educacaopublica/article/view/12321
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), ilustram a multidimensionalidade do programa e sua potencialidade para fomentar o debate sobre um currículo alicerçado na história da cidade e da cultura local.

Uma delas se refere à ida à feira livre da cidade, patrimônio cultural inventariado pelo Iphan como um lugar da tradição popular. As crianças tiveram a oportunidade de apreciar a feira, negociar com feirantes, consumir frutas e vegetais e ter contato com pessoas de seu cotidiano e artistas locais, como a Poderosa, um animador de festas que se veste de boneca, e o artesanato local, como a barraca de artesanato de palha da bananeira de Dona Neide da Banana.

Figura 1:
O encontro das crianças com a boneca Poderosa na feira livre de Penedo/AL

Outra vivência que vale destacar foi um encontro fortuito das crianças com um músico amador cantando na porta da sua casa, decorrente de uma saída à deriva pelas ruas do Centro Histórico de Penedo. Atraídas pelo som da cantoria, as crianças pararam em frente à calçada onde se encontrava o músico que permitiu que as crianças se sentassem lá e as chamou para cantar uma música do repertório delas.

Figura 2:
Crianças sentadas na calçada cantando com um músico amador

Em outra vivência para uma exposição de fotos de animais da Mata Atlântica, no hall de entrada do Teatro 7 de setembro, as crianças se depararam com o ensaio de uma peça de teatro denominada “O Território é um Livro”9 9 Peça dirigida por Alê Santos, diretor da Cia. de Teatro Lampejo, um dos grupos de teatro amador de Penedo. , que retrata a feira livre de Penedo e homenageia a feirante Neide da Banana cuja barraca havia sido visitada pelas crianças em ida à feira. A música do Coco de roda cantada pelo grupo teatral da qual o refrão reproduzia o chamamento que se faz na feira livre: “Quem quer comprar, quem quer comprar!” foi logo assimilado pelas crianças, que prosseguiram o seu percurso entoando o refrão.

Em uma das vivências com crianças da pré-escola do campo, que envolvia o projeto de correspondência entre crianças penedenses e eborenses, uma das crianças, referida como Gabriel, indicou a casa de farinha para mostrar às crianças eborenses um lugar que caracterizava a cidade de Penedo. Ao tentar explicar onde se localizava a casa de farinha, o menino descreveu com suas próprias palavras e gestos os modos de fazer que envolvem essa complexa prática cultural conhecida como Mandiocada.

Nós mandioca, bota no coisa e vai fazendo assim, e a mandioca vai descendo (começa a mexer o corpo para mostrar como amassa a mandioca), depois nós pega, bota no caixão, aí nós vai fazendo a farinha, vai botando no fogo, vai fazendo assim (fazendo gestos de quem está mexendo uma panela), aí vai coisano.

[...] Pega a mandioca, bota no saco, bota no coisa, baixa o pau e começa a coisar (remexe o corpo todo para mostrar como mexia a mandioca). [...] E aí vai coisando (mexendo o corpo novamente). [...] Pega um coisa de um saco e vai coisando, tira de outro e bota no outro (fazendo os gestos), aí chega desce o leite, aí tira, bota no coisa, aí tira do saco, bota dentro, raspa, aí quando o leite sair, pega e bota no coisa, aí bota mais outro saco, coisa, aí consegue descer, aí faz a farinha (Amaral, 2020AMARAL, Jeane Costa. A criança, a cidade e o patrimônio no âmbito da educação infantil: identidade cultural, pertencimento e participação. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2020., p. 290-291).

Foi possível compreender, graças à pesquisa bibliográfica sobre referências culturais de Penedo mencionada anteriormente, que a Mandiocada é uma prática de produção da farinha azeda e doce que produz saberes/conhecimentos como os da territorialidade e ancestralidade, que são “[...] fundamentais para o sentimento de pertencimento a um grupo de matriz africana” (Araújo, 2019ARAÚJO, Laís Gois de. A prática educativa da mandiocada nas comunidades quilombolas Tabuleiro dos Negros e Sapé - Alagoas. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Sergipe, 2019., p. 19). A pesquisa de cunho etnográfico realizada pela autora possibilita compreender que a sequência de fazeres descrita pelo menino Gabriel corresponde ao processo que caracteriza essa tradição da cultura popular de matriz africana, que se inicia na colheita da mandioca, passa pelas etapas de raspagem, ralagem, descanso no paiol, prensagem, peneiragem, cozimento, peneiragem novamente e armazenamento do produto para o consumo.

Também se aprende com Araújo (2019ARAÚJO, Laís Gois de. A prática educativa da mandiocada nas comunidades quilombolas Tabuleiro dos Negros e Sapé - Alagoas. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Sergipe, 2019.) que a Mandiocada é uma prática pedagógica que atribui lugar e papel definidos às crianças. Conforme a autora, as crianças não possuem as mesmas responsabilidades que os adultos, mas não são excluídas das atividades. Ao contrário, expressam muita alegria e vontade de auxiliar nos processos da mandiocada, observam as ações ao lado das mães e avós, entregam lanche e água, raspam a mandioca, sempre de forma lúdica, nunca como obrigação, com liberdade de manusear os equipamentos que desejam, incluindo facas. Além disso, a Mandiocada também se caracteriza como um acontecimento em que a dança expressiva que movimenta quadris e pés era feita desde os antigos.

Nesta dinâmica há o movimento de permanência de saberes no grupo e construção de novos saberes, tendo como forma de transmissão a oralidade, a própria prática produtiva em suas etapas, a interação, a música. Por isso a Mandiocada consiste em uma prática, além de produtiva, pedagógica, que se contrapõe ao modelo colonizador de educação (Araújo, 2019ARAÚJO, Laís Gois de. A prática educativa da mandiocada nas comunidades quilombolas Tabuleiro dos Negros e Sapé - Alagoas. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Sergipe, 2019., p. 84).

Assim, o conhecimento dessa prática cultural nos habilita para uma escuta mais apurada e atenta à explicação dessa criança e nos ensina sobre um modo de prática pedagógica específico dessa tradição, que não se afina com o modelo colonizador de educação, que não reconhece os saberes e fazeres locais como dimensões essenciais do currículo.

Por meio da análise das experiências vividas nas aproximações nas duas cidades foram elencadas oito dimensões que compõem uma proposta que envolve a relação criança, cidade e patrimônio no âmbito da educação infantil. São elas: o papel das instituições e dos potenciais atores envolvidos; a relação das crianças com a arquitetura da cidade e os espaços culturais; a participação e a consequente visibilidade das crianças nos espaços públicos; a força da cultura popular e a valorização da cultura local; e as imensas descobertas e possibilidades que as saídas nas/pelas cidades proporcionam às crianças, em diálogo com seus pares e parceiros adultos no âmbito da educação infantil. Os resultados indicam que habitar a cidade por meio de experiências ricas de participação e ocupação contribuem para a significação e/ou ressignificação do patrimônio cultural pelas crianças e, consequentemente, a ampliação da sua identidade cultural e pertencimento local.

Considerações finais

As pesquisas e as ações realizadas ao longo desse programa dão pistas de como as crianças, a educação infantil e seu currículo podem dialogar com o patrimônio cultural reconhecendo-o, valorizando-o e potencializando a vivência das crianças em seus territórios. Um primeiro contributo consiste na sua complexidade e organicidade, marcadas pela necessária abrangência para além do âmbito educacional e articulação com as diversas dimensões que informam e sustentam a mudança, incluindo as políticas municipais e comunidades locais.

Um segundo contributo dos projetos e das pesquisas que ele incorporou é a reiteração da necessidade de fazer permear o currículo pelas práticas, saberes e fazeres das comunidades. Dessa forma, as crianças têm de ser “escutadas” e observadas nas suas brincadeiras, pois desde que nascem vão conhecendo, integrando, experienciando, participando e aprendendo de “formas outras” os saberes e fazeres culturais de suas famílias e comunidades.

Assim, são elas que - junto com pais e avós, vizinhos e moradores do bairro, da vila e cidade onde os estabelecimentos escolares estão inseridos - devem trazer para a escola essas práticas identitárias em primeira mão. As professoras não podem desperdiçar esse saber, deixá-lo do lado de fora da porta, pois ele também forma parte do currículo, pois é resultado das experiências das crianças, que na sua diversidade dão significado às aprendizagens múltiplas que se vão estabelecendo.

O exemplo da mandiocada referido no texto vem igualmente desafiar os modos de aprender contemplados na pedagogia da infância, a qual oscila entre práticas escolarizantes de aprendizagem descontextualizada, fragmentada e estéril sob o ponto de vista das práticas culturais e as práticas pedagógicas que tomam a criança com o centro da ação educativa (Vasconcelos, 2015VASCONCELOS, Teresa. Do discurso da criança “no” centro à centralidade da criança na comunidade. Investigar em Educação. Revista da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, v. 2, n. 4, p. 25- 42, 2015.; Folque, 2017FOLQUE, Maria Assunção; ARESTA, Fátima; MELO, Isabel. Construir a sustentabilidade a partir da infância. Cadernos de Educação de Infância, n. 112, p. 82-91, 2017. https://core.ac.uk/download/pdf/154812529.pdf
https://core.ac.uk/download/pdf/15481252...
). Rogoff (2005ROGOFF, Barbara. A natureza cultural do desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2005.) refere que esses modos de aprender estão presentes em comunidades nas quais as crianças foram segregadas das práticas da comunidade, com prejuízo para a sua educação e para o processo de desenvolvimento de identidades e pertencimento. Esses dois pólos do pêndulo não contemplam uma visão de aprendizagem em comunidade intergeracional, em que as crianças aprendem participando, vendo e ouvindo, fazendo e assumindo papéis progressivamente mais complexos, preservando e recriando a cultura.

São também múltiplos os desafios para a formação dos profissionais que este artigo nos traz. A insuficiente vivência cultural e artística de muitos professores/estudantes compromete a familiaridade, o conhecimento e a vontade de explorar os territórios da expressão artística e cultural de forma fecunda e integrada. A insegurança sentida produz, não raras vezes, a recusa de se interpelar a si próprio e instaura um relativo alheamento e descomprometimento em relação a essa dimensão da prática humana e da produção de conhecimento.

Esse é um problema que se tem sentido em diversas cidades em que os/as cidadãos/ãs se desligam de um viver diário e orgânico e não sacralizado com a cidade e o seu patrimônio. Assim, numa perspectiva prática de mediação/formação que atravessava o projeto, abrir-se a práticas culturais de lógica diversa e de forma implicada (fazer/explorar/experimentar) é o garante da relação cidadã com a produção cultural, patrimonial e artística das cidades envolvidas no projeto.

A valorização por parte das professoras que participaram na residência pedagógica e cultural da oportunidade de uma vivência experiencial prolongada no tempo que permitiu a imersão, em duas semanas, num conjunto de contextos pedagógicos e culturais, veio realçar a necessidade de formações que vão além do encontro com a teoria e que promovam a experiência com atividades culturais e pedagógicas.

As professoras, hoje, aprendem também elas do lado de lá da porta, acompanhando os tempos da festa, dos ritos e das sociabilidades que ocorrem fora do espaço escolar, desejando saber/experienciar o que não conhecem ainda, com a curiosidade e o respeito que as culturas locais merecem, afetando-se e disponibilizando-se para trocas ricas, num registro de maior presença e convivialidade.

Referências

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  • APOIO/FINANCIAMENTO

    O projeto recebeu apoio financeiro da Prefeitura Municipal de Penedo, por intermédio da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes), Projeto nº 046/2019, e da Universidade de Évora, por meio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Projeto nº UID/CED/04312/2019.
  • DISPONIBILIDADE DE DADOS DE PESQUISA

    Dados serão fornecidos se solicitados.
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    O presente artigo foi revisado por Wilce Francisca Prota. Após ter sido diagramado, foi submetido para validação do(s) autor(es) antes da publicação.
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    O projeto recebeu apoio financeiro da Prefeitura Municipal de Penedo, por intermédio da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (FUNDEPES), Projeto n.º: 046/2019, e da Universidade de Évora, por meio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Projeto n.º: UID/CED/04312/2019.
  • 2
    Isso significou o envolvimento de seis parceiros no Programa, a saber: a Prefeitura Municipal de Penedo e a Câmara Municipal de Évora (CME); o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Alagoas (IPHAN/AL) e a Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA); a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Universidade de Évora (UÉ).
  • 3
    Segundo Bataller e Botelho (2012, p. 10), a gentrificação é um fenômeno que “[...] consiste em uma série de melhorias físicas e materiais e mudanças imateriais - econômicas, sociais e culturais - que ocorrem em alguns centros urbanos antigos, os quais experimentam uma considerável elevação do seu status”. Segundo a autora, esse processo se dá basicamente nos países industrializados ao longo da etapa pós-industrial ou pós-moderna e caracteriza-se, fundamentalmente, pela ocupação dos centros das cidades por parte de uma classe média, de elevada remuneração, que desloca os habitantes da classe baixa, de menor remuneração, que viviam no centro urbano.
  • 4
    Projeto idealizado pelo pensador, pedagogo e desenhista italiano Francesco Tonucci (2022).
  • 5
    Carta das cidades educadoras (2023).
  • 6
    Para mais informação ver: Reis e Kageyama (2011).
  • 7
    Exemplos de pedagogias que promovem a participação das crianças com décadas de trabalho e internacionalmente conhecidos, tais como a abordagem educativa High/Scope, o Movimento da Escola Moderna português (MEM), a abordagem Reggio Emília e a pedagogia dinamarquesa.
  • 8
    A referida pesquisa foi agraciada com o prêmio Ana Maria Almeida em Lisboa em 3/11/2023, na categoria Inovação Pedagógica.
  • 9
    Peça dirigida por Alê Santos, diretor da Cia. de Teatro Lampejo, um dos grupos de teatro amador de Penedo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    26 Nov 2022
  • Aceito
    20 Fev 2024
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