Apresentação
No campo de investigação do Ensino de História, tem-se destacado uma perspectiva de estudo denominada Educação Histórica, enfaticamente desenvolvida em países como a Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e Portugal, por investigadores que centram sua atenção nos princípios, fontes, tipologias e estratégias de ensino e aprendizagem em História. Seus pressupostos ancoram-se, particularmente, na necessidade de conhecimento sistemático sobre as idéias históricas dos alunos para que as intervenções didáticas realizadas no processo de ensino possam ser mais adequadas e efetivas, tendo como referência principal a epistemologia da História.
Enquanto linha de investigação, a Educação Histórica tem seus fundamentos pautados em indagações como as que buscam entender os sentidos que os jovens, as crianças e os professores atribuem a determinados conceitos históricos - como revolução francesa, renascimento, reforma protestante - chamados "conceitos substantivos", bem como aos chamados "conceitos de segunda ordem" - tais como narrativa, explicação ou evidência histórica. Busca-se essa compreensão examinando-se os conceitos nos processos de apreensão em situações concretas de ensino e articulados aos contextos e modos de educar de cada época e sociedade.
No contexto dos trabalhos relacionados ao Ensino de História, a linha de investigação em Educação Histórica inclui, portanto, novas problemáticas e novas abordagens de pesquisa, principalmente no que se refere à análise dos processos, dos produtos e da natureza do ensino e aprendizagem histórica em diferentes sujeitos, bem como os significados e sentidos dados a esses processos. Assim, as abordagens de investigação já realizadas indicam um privilegiamento de perspectivas qualitativas de pesquisa, sem excluir a importante contribuição dos métodos quantitativos.
Além disso, os trabalhos já realizados indicam que há que se levar em conta uma séria reflexão sobre a natureza do conhecimento histórico e seu papel como instrumento para análise da sociedade e como recurso na formação para a cidadania.
Assim, a finalidade deste dossiê é apresentar algumas investigações já produzidas nessa perspectiva. No Brasil, destacam-se os trabalhos de Maria Auxiliadora Schmidt e Tânia Braga Garcia (UFPR), Marlene Cainelli (UEL) e Daniel Hortêncio de Medeiros (UNICENP), produzidos no diálogo com debates e pesquisas realizadas em outros países, especialmente Portugal, Reino Unido, Espanha e Grécia, representados neste volume especial da Revista Educar pelos artigos dos seguintes pesquisadores: Isabel Barca(Universidade do Minho) e Olga Magalhães (Universidade de Évora); Peter Lee (University of London), Rosalyn Ashby (University of London) e Hilary Cooper (St. Martin's College, Lancaster); Joaquim Prats (Universitat de Barcelona), Concha Fuentes Moreno (do Grupo DIGHES, Barcelona) e Rafael Valls (Universidad de Valencia); Irene Nakou (University of Thessaly).
A inserção da Educação Histórica como objeto de pesquisa, no Brasil, pode ser melhor situada com a leitura do artigo de Olinda Evangelista e Jocemara Triches (UFSC), que contribui com um balanço dos grupos de pesquisa em Ensino de História cadastrados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) a partir de 2004.
Acreditamos que o conjunto de trabalhos aqui publicados possa contribuir para explicitar a relevância das investigações em Educação Histórica, indicando possibilidades e desafios para aqueles que têm no Ensino de História o seu objeto de pesquisa e que dirigem suas ações na busca de melhores resultados nos processos de ensinar e aprender História.
Curitiba, 19 de março de 2006
Maria Auxiliadora Schmidt
Tânia Braga Garcia
Organizadoras
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
04 Set 2014 -
Data do Fascículo
2006