O MOVIMENTO ESTUDANTIL EM PORTUGAL NA DÉCADA DE 1960: MEMÓRIA E HISTÓRIA
O estreitamento das relações acadêmicas nas áreas de Ciências Sociais, História e Educação, entre as universidades brasileiras e portuguesas, tem sido crescente desde o início dos anos 2000. Um dos motivos foi o impulsionamento dado por políticas científicas firmadas por ambos os governos, o que possibilitou o crescente interesse pela pesquisa comparada nos dois contextos, bem como o intercâmbio intelectual, tão necessário para a afirmação da pesquisa e da inovação em um contexto de internacionalização científica.
A “oitocentenária” Universidade de Coimbra abriga, desde 1978, em suas dependências o Centro de Estudos Sociais, fundado e dirigido pelo Prof. Dr. Boaventura de Sousa Santos, uma das maiores referências das ciências sociais no mundo contemporâneo. Com o objetivo de realizar uma compreensão científica dos processos sociais e políticos de Portugal, Boaventura também fundou o Centro de Documentação 25 de Abril (CD25A), em 1984, com o intuito de dispor e organizar a documentação da história recente portuguesa. Contando com uma singular compilação documental que abarca o período da transição democrática, com suas diversas expressões políticas e culturais, o CD25A é uma referência indispensável para aqueles que buscam compreender esse momento tão pouco conhecido no Brasil. Diretor do CD25A desde 2011, o Prof. Dr. Rui Bebiano tem se dedicado exaustivamente a organização, divulgação e estruturação desse arquivo, com atividades e proposições que ultrapassam o nível acadêmico e alcançam os mais diversos redutos, seja da sociedade portuguesa, seja internacionalmente.
A entrevista que se segue com o Prof. Dr. Rui Bebiano, historiador e professor de História Contemporânea do Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, trata das relações entre a transição democrática e a presença do movimento estudantil português. Combinam-se as memórias próprias do ex-militante e hoje professor de História com o contexto e com a análise crítica e imparcial, articulando a memória e a análise histórica e sociológica. Rui Bebiano reavalia a história do tempo presente de Portugal, para além do tom saudosista que muitas vezes nutre essas narrativas, apresentando-se como ex-militante e como historiador que, inusitadamente, em algum momento de sua carreira acadêmica, reforçou seus interesses de pesquisa junto àquilo que havia participado no início de sua vida estudantil. Dessa rica combinação foi publicada, em 2003, a obra O poder da imaginação: juventude, rebeldia e resistência nos anos 60 e possibilitou diversas pesquisas subsequentes, entre elas, Do ativismo à indiferença. Movimentos estudantis em Coimbra (em coautoria com Elísio Estanque), em 2007, além da orientação de dissertações e teses sobre a temática do movimento estudantil.
Recentemente, a publicação da sua obra Tony Judt: historiador e intelectual público, de 2017, trouxe uma contribuição singular e desafiadora para os dilemas da intelectualidade, especialmente quanto à tarefa de combinar o ofício do historiador com sua crítica e com o engajamento nos temas públicos. A entrevista é um excerto desse exercício que, assim como em Tony Judt, não prescinde dos detalhes acerca das possibilidades deixadas em aberto para a transformação social e política.
Entrevista
Entrevistador 1: Em 2018 completam-se os 50 anos de 1968. A pesquisa que estou desenvolvendo trata da interpretação do jornal O Estado de S. Paulo sobre os movimentos de contestação que eclodiram em 1968. Ao chamar a atenção para o fato de que a violência se espalhou por todo o mundo, o matutino divide a análise dos protestos em dois blocos. De um lado, os EUA e a Inglaterra, que conseguirão sobreviver a essa onda por não terem sido influenciados pelo Maio francês e, portanto, todos aqueles que eram alunos em 1968 nesses países são bem sucedidos quando chegam à vida adulta. Por outro lado, alguns países da Europa Ocidental - como Alemanha, Itália, Espanha - inclusive o Brasil, retratados como supostamente orquestrados pela França e que obtiveram como saldo o aumento da violência e o surgimento de grupos terroristas. O movimento estudantil de Portugal não é citado, embora analisem o da Espanha, dizendo que até hoje a juventude é completamente desinteressada devido ao movimento estudantil em 1968. Há perspectivas negativas pela mídia que acompanho.
A hipótese é a de que pode, inclusive, haver uma seleção por parte da mídia ao não fazer menção a Portugal. Parece que não há muitos estudos, mas seria por isso que não se fala? Ou Portugal seria um furo nessa interpretação, já que resultou na Revolução dos Cravos em 1974? O caso português revela que não houve um banho de sangue depois das contestações estudantis, mas sim a retomada da democracia e o fim do salazarismo.
Rui Bebiano: Isso é uma das perspectivas negativas de 1968. Trata-se da ideia de que é uma revolução conhecida e que de fato não teria tido o impacto que lhe foi atribuído mais tarde. Para essa mídia, pensar dessa forma é uma maneira de desvalorizar completamente 1968. Provavelmente há um argumento de que as correntes feministas venceram e, portanto, hoje já não são necessárias. Ouço muito isso, dizendo que o feminismo foi importante naquela época, mas venceu e firmou-se, que os direitos das mulheres foram dados e não é preciso mais nada…
Após a Revolução dos Cravos, Portugal não voltou a ser a mesma coisa de antes. O modo como a revolução foi vivida e pensada em Portugal é muito recente. É uma situação política completamente nova. Nova, principalmente depois de quatro anos de governo de centro-direita, governos que infletiram muitas das medidas que tinham sido mantidas ao longo de décadas depois da revolução. O governo pôs em causa alguns dos princípios fundamentais que a revolução tinha defendido, nomeadamente, alguns direitos dos trabalhadores consagrados na constituição e na legislação laboral seguida do 25 de Abril e que nenhum governo, ao longo de décadas, mesmo governos um pouco mais conservadores ou de direita, não tinham ousado pôr em causa. E que esse governo, apoiado na conjuntura internacional, na questão dos mercados e na crise global, começou a por em causa. Pela primeira vez, o Partido Socialista (PS), que não tinha sido o mais votado nas eleições, conseguiu uma maioria no parlamento. Essa maioria foi feita com dois partidos de esquerda com os quais o PS nunca tinha se coligado minimamente: o Partido Comunista Português (PCP) e o Bloco de Esquerda (BE). A partir desse momento, o PS passa a desenvolver uma argumentação de direita que domina claramente as televisões, os jornais e os meios de comunicação no sentido de aproximar a realidade atual de uma imaginada situação relacionada ao período pós-revolucionário, que é agora visto como um período frenético, terrível, incontrolado, quase de guerra civil. Mas nada disso de fato aconteceu. Um período revolucionário, como todas as revoluções, foi complexo e movimentado, mas nunca esteve em cima da mesa, em seu plano estético, a questão de uma guerra civil. A mídia atual em Portugal, associada aos partidos mais conservadores, tenta dar uma imagem mais negativa da revolução ao dizer que os partidos que estão próximos do poder e que sustentam o parlamento atual, no fundo, estão repetindo o 25 de Abril e o período revolucionário, anárquico, confuso.
O peso da revolução foi muito forte. A extrema direita não tem peso eleitoral e partidos mais à direita, como o Partido Nacional, costumam ter 1% dos votos ou menos. Mas a seção dessas franjas mais radicais à direita, durante todos esses anos, mesmo os partidos que hoje se convenceram que são de direita, a direita democrática, a direta moderada, nunca puseram em causa as conquistas da revolução. Até cerca de quatro anos atrás, depois de um governo em que todos os partidos mais à esquerda se uniram para um governo novo. A partir desse momento, foi quase como uma caixa de pandora que, ao se abrir, sai tudo aquilo que estava ali.
Entrevistador 1: Consolidando as conquistas da Revolução dos Cravos?
Rui Bebiano: Existia um domínio de crítica às conquistas democráticas de 1974-1975 que nunca deixou de existir, mas era como se tivesse clandestino. Não porque fosse proibido, mas porque os próprios setores mais conservadores ou mais à direita não tinham coragem e ousadia de os colocar em cima da mesa. Falavam entre si, em seus encontros, mas depois, quando se ligavam o microfone ou as câmeras da televisão, eles já não tinham esse discurso.
Então surgiram argumentos, que se notam principalmente nos editoriais dos jornais ou em alguns comentadores na televisão, no sentido de justificar a ideia de que Portugal, neste momento, caminha para um novo Processo Revolucionário em Curso (PREC)1. Essa designação, na época, tinha um sentido pejorativo, era dado para a direita. Atualmente não. Fala-se do PREC para se referenciar à revolução. É quase como um processo para identificar o período revolucionário, que vai do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Abril de 1976, que é quando a constituição é aprovada no parlamento. Agora já mudou o sentido e há historiadores a utilizarem a expressão como qualificativo do período. Mas de fato estamos vivendo um tempo de mudança.
Entrevistador 1: Nos 50 anos de 1964, tanto na grande imprensa quanto na academia, teve muitas publicações e eventos. O que está me deixando bastante fascinada com o seu relato é ver o resultado positivo na Europa. Porque os meios de comunicação mostram a vitória do eurocapitalismo, enquanto enfatizam que o que sobrou de tudo foi mais violência, que era um pouco a argumentação de Hannah Arendt na época. A ideia de que dessa violência revolucionaria só pode vir mais violência.
Rui Bebiano: Essa violência irrompeu na Europa nos anos 1970 e depois, com o fim do Maio de 1968 e o surgimento de grupos de extrema-esquerda. Esses grupos são epifenômeno: as Brigadas Vermelhas, a Fração Vermelha (Alemanha), o Pátria Basca e Liberdade (ETA, da Espanha), o Exército Republicano Irlandês (IRA, da Irlanda), mesmo sendo diferentes. Embora a ETA e IRA tenham uma arqueologia diferente, têm vínculos com o nacionalismo. O IRA era muito heterogêneo e depois cindiu e se dividiu. Quanto aos grupos radicais de extrema-esquerda - podemos dizer, terroristas, pois não tenho receio quanto a palavra, tendo em conta o conceito de terrorismo da época, que é naturalmente muito diferente daquele que hoje se tem aplicado -, tinham algum impacto por causa das ações espetaculares, mas não eram significativos de uma tendência que pudesse ligar a uma geração, como nos Estados Unidos aquele movimento Weather Underground, que depois teve uma articulação com os Black Panthers. Era um movimento violento, embora nos Estados Unidos a tradição é outra. Na Europa, o 1968 francês e o exemplo dado pela sua geração sempre manteve, em termos majoritários, uma perspectiva positiva, eventualmente idealista ou utópica no sentido negativo da palavra. Um ideal de sociedade justa e perfeita, de uma revolução que nunca se identificava muito bem qual era, no sentido de querer uma sociedade mais justa e destruir uma sociedade desigual. A ideia de revolução é essa.
De dez em dez anos há debates sobre 1968. Em 1978, colocam-se os debates e dossiês da imprensa e programas de televisão. Em 1988, 1998 e 2008 e, provavelmente, quando chegarmos a 2018, vai acontecer a mesma coisa. Sempre que se lembrava o Maio de 1968 em revistas internacionais, francesas, inglesas, não me recordo de ver uma tendência para considerar esse tipo de tradição e origem, a fonte do Maio de 1968 na França, como algo que fosse essencialmente negativo.
Entrevistador 1: O jornal O Estado de S. Paulo e a revista Veja - que têm grande repercussão - só publicam os protestos de 1968 no Brasil, que iniciaram em janeiro, em maio, com a finalidade de atrelá-los ao Maio francês e, consequentemente, inseri-los na esteira do terrorismo. No entanto, Portugal pode ser visto como um contraponto a essa argumentação devido ao 25 de Abril. No Brasil, depois de 1968 houve um endurecimento ainda maior da ditadura e os que continuaram na resistência foram para a luta armada. Por que a imagem negativa do Maio francês não sai de cena, dando espaço para a história de Portugal, já que nela há uma vinculação ao Maio francês, além de ter sido uma experiência que deu certo?
Rui Bebiano: A revolução produziu, em Portugal, um fator que eu não conheço em mais lado algum. Devido ao caráter quase unânimo, mesmo os partidos mais à direita, que surgiram pós-Revolução, sentiram a necessidade de defender alguns dos valores da revolução. Por isso o Partido Social Democrata (PSD) se intitula social democrata, quando na verdade é liberal. Por isso o Centro Democrático Social (CDS) é, na verdade, um partido muito mais próximo do Partido Popular (PP) espanhol, conservador e de direita. Tivemos dirigentes, principalmente Durão Barroso2, que durante a revolução foi membro de um movimento maoista muito veiculado aos ideais da revolução e com alguma influência dos maoistas franceses. Um dos partidos maoistas, o Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP), entendia que o partido proletariado não existia, mas era um movimento com alguma importância e com algum impacto. Durão Barroso tinha esse passado maoista e foi primeiro ministro nos anos 1990 e chefe de um partido da direita. De vez em quando, um ou outro jornal usa isso como arma de crítica, mas nunca foi questionado. Há práticas de revolução, linhas de força, escolhas, ensaios de uma ordem política mais justa e que se pensava revolucionária e que nunca foram verdadeiramente questionados pela direita e incorporados.
Entrevistador 1: As palavras de Sarkozy, que defendia a necessidade de enterrar 1968, eram ditas pela Veja e pelo O Estado de S. Paulo bem antes por terem acabado com os bons costumes e a ordem estabelecida.
Rui Bebiano: A questão da ordem é essencial, do questionamento das hierarquias. Há um livro da socióloga norte americana Julie Stephens3 sobre os anos 1960 que fala da vertente disciplinar, que põe em causa tudo que fossem as disciplinas, a ordem social, as formas de tratamento no trabalho, o casamento. Um dos aspectos é que mesmo os setores mais conservadores da mesma geração dos revolucionários incorporaram a questão sexual. Em Portugal, até os anos 1970, existia um conservadorismo social de origem salazarista muito poderoso e articulado com a Igreja Católica que influenciava as questões de sexualidade, os papéis masculino e feminino rigorosamente estabelecidos e divididos (BEBIANO, 2003). E isso, de fato, a revolução vai romper.
Há um artigo publicado aqui em Coimbra, na revista estudantil Via Latina, em 1961, chamado Carta a uma jovem portuguesa. Lendo hoje, o texto é quase ingênuo. Um estudante anônimo, que nem sequer era importante no meio associativo, escreveu uma carta sobre a divisão entre rapazes e moças que passava por estilos de vida completamente diferentes. Por exemplo, as meninas a partir das 6 horas da noite não saiam de casa, enquanto os rapazes podiam ter aquela vida boêmia, que faz parte da tradição acadêmica. Era uma carta dirigida a uma suposta estudante anônima, na qual ele fazia o apelo a que as outras moças estudantes rompessem a sua prisão e viessem colaborar com os estudantes nas atividades associativas. É um artigo longo, mas só existia duas linhas onde se fala do corpo, com referências um pouco mais ousadas. No restante é completamente ingênuo, no entanto houve grande polêmica com os jornais católicos do país inteiro, a escrever contra a dissolução dos costumes. Foi uma luta que durou anos para conseguir contornar esse cerco conservador, sobre a possibilidade de jovens estudantes universitárias saírem à rua e poderem ter uma atividade associativa, social, cultural etc. Isso dá para ver como Portugal era conservador.
A viragem no meio estudantil começa em 1968 e 1969. Pode parecer um pouco presunção, mas acho que tive sorte de pertencer a geração de viragem, porque das pessoas que chegaram aqui em 1967-1968, muitas tiveram atividade no movimento estudantil e tinham essa dimensão democrática politicamente mais à esquerda, ainda que socialmente conservadores. Quando entramos em 1970-1971, começa a mudar completamente. Conheci a primeira estudante mulher que viveu em uma república. O pai dela era professor primário e foi meu professor. Ele expulsou-a de casa e nunca mais falou com a filha, até morrer, porque ela tinha ido para uma república. Quando cheguei aqui, já era normal os rapazes e as moças começarem a namorar e dormir juntos e tudo isso. Até 1967 e 1968, era excepcional. Encontrava-se um ou outro estudante mais de vanguarda artística ou poetas. O estudante comum não. Ainda era aquela ideia arraigada e salazarista do casamento como algo que tinha uma dimensão sagrada e que, muitas vezes, as pessoas dormiam pela primeira vez somente após casarem virgens. Ainda é maioritário. Já me passou pela cabeça fazer uma enquete com alguns estudantes daquela época sobre isso. A maior parte dos estudantes dessa época, antes de 1969, quando se fala desses temas, desvia a conversa e não gosta de falar dessas questões. É muito subjetivo e pode ser entendido que as gerações posteriores tiveram uma vida afetiva e sexual muito limitada e, eventualmente, sentem um niilismo por isso.
A cultura dos anos 1960 tem essa dupla vertente: uma dimensão vivencial, que se manteve para além do período, e uma dimensão mais política, que ficou com clivagens.
Entrevistador 1: Enquanto protagonista, uma vez que fez parte do movimento, e como pesquisadora, gostaria de saber das questões de contexto, também focando nas questões pessoais do seu depoimento, pensando enquanto ativista.
Rui Bebiano: Quando vim para Coimbra, o primeiro contato com o movimento estudantil foi em 1969. A crise acadêmica em Coimbra de 1969 aconteceu no ano letivo de 1968-1969 e eu cheguei em 1969-1970, no refluxo do movimento. Quando cheguei já tinha alguma sensibilidade, politicamente, em um país que era dominado pelo regime ditatorial tipo fascista e com uma oposição ao regime normalmente de esquerda, embora uma esquerda um tanto quanto heterodoxa. Eu recordo estar ainda na casa dos meus pais, em maio de 1968, e meu pai assinava uma revista que era uma espécie de versão portuguesa da revista Time, a Via mundial, que tinha uma síntese de tudo aquilo que se passava no mundo e trazia alguma informação sobre o Maio de 1968. Li aquilo no sentido empolgado, perturbado pela invasão da Primavera de Praga. Eu era aluno do ensino secundário e vim aqui acabar o último ano do liceu, porque não existia na minha vila aulas desse nível. Só em 1971 é que fui aluno da Universidade de Coimbra, do curso de Direito. No liceu, como as aulas eram no colégio perto da universidade, todos os acontecimentos que se relacionavam como o movimento estudantil, na área da universidade, inevitavelmente acabavam por me interessar. Faltava às aulas para ver o que estava acontecendo.
No início do ano de 1972, já ligado à universidade, conheci aqueles que foram os primeiros estudantes em Coimbra que pertenciam ao grupo que se autodesignava maoista. O grupo começou a realizar, pela primeira vez aqui em Coimbra (já havia em Lisboa), uma organização do movimento estudantil que não passasse pela atividade meramente associativa, a qual estava ligada às táticas da esquerda tradicional e que esses setores consideravam reformista. Essa esquerda dita reformista os considerava como esquerda revolucionária ou esquerdistas, ou até utilizavam da expressão pejorativa esquerdalha - uma quase ofensa para designar que era de esquerda, mas ao mesmo tempo uma esquerda completamente sem sentido, panfletária, um pouco infantil. O famoso ensaio do Lenin, Esquerdismo, doença infantil do comunismo, já era citado nessa altura para nos acusarem de esquerdistas. Nesse contexto, passei a ter uma atividade de militância absoluta, deixei de frequentar as aulas e me tornei revolucionário profissional. Apesar de não ser profissional da política, não fazia mais nada, e eram os meus pais que financiavam minha presença aqui.
Desse processo resultou uma passagem do movimento estudantil para o movimento político, que já não era apenas estudantil. Era uma organização que já não era apenas de estudantes, estava ligada a alguns setores de trabalhadores e operários da região. Comecei a ter alguma atividade, até mais fora da universidade do que na universidade, apesar de nunca ter deixado de fazer essa ligação. No âmbito de uma das iniciativas que eram o cavalo de batalha dos setores mais radicais em termos da ação política e na qual participei, estava a luta contra a Guerra Colonial. Fui preso duas vezes em passeatas contra a guerra. A primeira vez foi uma coisa de poucas horas, a segunda vez já foi uma noite. Não me levaram para a polícia política, foi só na polícia de segurança. Pelo fato de ter sido apanhado duas vezes, fiquei com uma ficha em meu nome. O serviço militar, na época, era de três anos e exigia quase que obrigatoriamente a ida para a guerra na África: era um ano aqui em Portugal e depois dois anos em Angola, Moçambique ou Guiné. Os estudantes podiam pedir um ano a mais para completar os seus estudos. Quando chegou no início de 1973, na altura de pedir o ano, como tinha ficha na polícia, me foi negado e, portanto, fui fazer o serviço militar. Entrei em abril de 1973, um ano antes do 25 de Abril, tendo uma atividade política dentro do exército já desvinculada completamente da ação estudantil e, depois, dentro do próprio movimento operário. Entretanto, deu-se a revolução, acabou a guerra e o caminho natural em muitos jovens que faziam parte do grupo político, quando fossem chamados para a guerra, era desertar. E a minha missão era essa. Primeiro, preparar a deserção de alguns que iam sair e, depois, era eu próprio a desertar. Tive sorte de ocorrer o 25 de Abril e fui desertor já depois da data, ao contrário da maior parte dos desertores que saíram do exército e tiveram que migrar. Muitos para a França, Suécia, Suíça, Reino Unido. Era basicamente para a Europa, embora a maioria fosse para a França, onde existia o maior núcleo de antigos estudantes e outros que não eram estudantes, desertores imigrantes, muito ligados à politização das comunidades imigrantes nesses países.
Acontece que se instaura o 25 de Abril, a guerra acaba em quase todos os palcos da luta colonial, mas ainda não existiam acordos para transformar a paz na independência dos novos estados. Foi nesse contexto que recebi instruções para desertar, uma vez que ainda não existia essa parte. Eu desertei, mas já não fui para França ou para o exílio. Estive clandestino aqui em Portugal, trabalhando como operário em uma área do norte, fazendo apoio da luta operaria e da luta sindical, com documentos que não eram os meus.
Finalmente, foi assinada a paz, foi-me dada a instrução para me apresentar ao exército e, agora sim, podia ir para África porque já não havia mais guerra. Apresentei-me, fui novamente mobilizado, fui para a África, agora já não como membro militar do exército colonial, mas como militar do exército que estava preparando, junto com os movimento de libertação, a independência desses países. Estive cerca de 10 meses em Angola, sai quatro ou cinco dias antes da independência de Angola (novembro de 1975). Nessa altura, voltei a Coimbra, voltei a entrar na universidade para um curso novo, pois no curso de Direito não tinha feito uma única disciplina porque tinha me dedicado a fazer o movimento político. A partir daí, segui um curso com melhores notas e ali estive como estudante até 1981, quando acabei o curso e fiquei como professor assistente. É o que estou fazendo desde 1981, 35 anos de profissão aqui na Universidade de Coimbra.
A minha articulação com a vida associativa como estudante acabou praticamente em 1981. Passei pelo período pós 25 de Abril, em uma realidade completamente diferente. Depois continuei interessado, fiz outras coisas. A minha pesquisa também tinha um sentido completamente diferente. Nessa época, eu trabalhava com um objeto de História Moderna, com temas completamente diferentes. Mas sempre tive interesses pela História Contemporânea. Foi a partir de 1997 ou 1998, quando fiz o doutorado, que tive condições para voltar a uma pesquisa que já não era aquela que tinha que fazer pelo dever profissional e decidi voltar meu interesse para a História Contemporânea. Nessa época, retornei ao movimento estudantil, já não como ator, mas como alguém que observava um fenômeno do qual eu próprio fiz parte.
A formação como historiador nos leva a ter alguns critérios de atividade, mas é impossível dissociar as nossas posições políticas da época, que vivemos com muita convicção e empenho, daquilo que pensamos hoje sobre esse tempo. Em Portugal, antes da revolução era muito difícil estar fora: ou se era a favor ou era contra. Tenho dificuldade de aceitar que, diante de condições extremas, haja neutralidade.
Entrevistador 1: Era o que Sartre falava: os intelectuais que não tomarem posição frente à guerra na Argélia serão considerados seus cúmplices.
Rui Bebiano: Como intelectuais, sabemos que há momentos que recuamos um pouco e pensamos, pois faz parte da condição intelectual ter essa reflexão. Mas quando estamos confrontados com aquela situação, ou matas ou morres, ou participas ou és contra, não há opção. É necessário tomar essa posição e posso dizer, há uma relação de uma fase da vida de historiador e cientista social em comparação com a fase em que era um jovem estudante.
Naquele grupo maoísta inicial eu era o mais novo, tinha dois anos a menos do que o mais novo. Hoje isso não é nada, mas naquela época, os de 19 anos eram quase já adultos. Com 17 anos, só mais tarde tive uma posição mais empenhada, de maior responsabilidade. Na fase inicial, era também de alguém que participava, mas não tinha, ainda, uma responsabilidade muito profunda.
Entrevistador 1: Havia uma ligação entre os estudantes universitários de Coimbra, Lisboa e Porto?
Rui Bebiano: Em relação à história do próprio movimento estudantil português, do ponto de vista cronológico e do ponto de vista dos espaços, podemos começar pelos espaços. Em Portugal, o sistema universitário português foi, até o 25 de Abril, muito restrito. Até a República (1910) só existia em Portugal uma única universidade, a Universidade de Coimbra. Só nessa altura que foi fundada a Universidade de Lisboa e depois a do Porto, com características sociais e simbólicas muito diferentes. Apesar de Portugal ser um país pequeno, as características sociais de alguns espaços mudam muito de um lado para o outro. Até praticamente metade da década de 1960 só existia uma cidade com a dimensão cosmopolita, Lisboa. Coimbra era uma cidade provinciana e hoje não é uma cidade grande, tem cerca de 140 mil habitantes. Em 1974, tinha cerca de 50 mil e era uma cidade muito centrada na universidade. Hoje ainda é bastante, mas não tanto quanto antes. A vivência de um jovem estudante que vinha estudar em Coimbra era basicamente a de alguém que vinha aqui para tirar o seu curso e que fazia uma vida em parte articulada com a dimensão tradicional da universidade, a cidade associada com a boemia, principalmente masculina. Na medida que os anos 1960 avançam, havia uma articulação com o movimento cultural, reivindicativo, mas que se desenvolvia dentro de um espaço muito limitado. Nessa altura, existia uma concentração muito grande da população no centro da cidade. Hoje o centro da cidade está muito despovoado.
Coimbra tinha a tradição de uma universidade antiga, prestigiada. Essa imagem estava associada a uma certa ideia de universidade. Um dos últimos ministros da Educação e Historiador, José Hermano Saraiva, chamava a Universidade de Coimbra de uma Alfobre de Mandantes, uma terra onde se cultivam pessoas que vão mandar, um espaço de elite, em um contexto social muito fechado sobre si próprio.
Lisboa era uma cidade completamente diferente. A universidade diluía-se numa cidade muitíssimo maior. Era uma cidade de mais de um milhão de habitantes com a área metropolitana. Não era uma grande metrópole, mas comparada com a dimensão das cidades portuguesas da época, era uma cidade grande com uma vida cosmopolita. A área mais cosmopolita de Portugal era aquela área entre Lisboa e o Estoril, com muito turismo para elites, que marcava muito a vida daquela cidade. Era a cidade onde estava a maior parte dos artistas, dos atores de cinema, a televisão, a rádio, os jornais, as galerias de arte, os teatros e concertos. No interior, mesmo de uma cidade como Coimbra, isso era mais limitado. A vida de uma academia como a de Lisboa se processava de uma forma muito diferente do que daquela que se conhecia em Coimbra.
O Porto é um caso muito especial, porque ainda hoje tem uma marca muito regionalista. O Porto era uma cidade intermédia, era maior que Coimbra, mas ao mesmo tempo era marcada por uma profunda tradição democrática, republicana, de lutas liberais pela república. Tinha a conjugação de uma cidade média, com uma tradição de democracia e, ao mesmo tempo, deautonomia em relação a Lisboa que dava características muito particulares. Isso se refletia na organização do movimento estudantil, provocando uma situação que praticamente se mantém até a revolução.
O movimento estudantil em Portugal tinha muito poucas correlações entre si. Não existia uma federação nacional dos estudantes. Não existiu uma organização intermédia. Os três movimentos se desenvolveram de forma muito autônoma. Mesmo quando existem movimentos críticos, simultâneos, que acabaram por afetar as três academias, processaram-se por razões completamente diferentes. Aqui em Coimbra, os primeiros movimentos maoístas chegaram em início de 1971 e 1972, entretanto, em Lisboa, já existiam desde 1968, no Porto desde 1970. Existiam, em Lisboa, correntes católicas antiestado novo, antiditadura, mas que aqui em Coimbra praticamente não existiam. Eram só casos individuais. No Porto, em contrapartida, como era uma cidade mais industrial, na época existia uma articulação entre o movimento estudantil e o movimento operário. Muitos estudantes ativistas não se limitavam, no Porto, a estar presentes na luta estudantil, também tinham, muitas vezes, atividades organizadas em fábricas, em passeatas contra o regime. São realidades diferentes.
Entrevistador 1: Quais foram os principais acontecimentos no movimento estudantil na década de 1960 e início da década de 1970 (1961, 1962 e depois 1969), até 1974?
Rui Bebiano: Em Portugal, há uma viragem muito grande por volta de 1958, coincidindo com a campanha do general Humberto Delgado na eleição presidencial contra o regime, de impacto público. Nessa época, começa a firmar-se um universo de oposição ao regime da ditadura, com um impacto muito grande nas comunidades estudantis ao ponto de, rapidamente, assumir a maioria da influência dessas comunidades. Até a viragem para os anos 60, as associações dos estudantes eram nomeadas pelo regime. As primeiras eleições realizadas deram vitória às listas que eram próximas do regime. A primeira sessão dos estudantes que teve alguma posição diferente foi a sessão dos estudantes do ensino superior técnico de Lisboa, por volta de 1957-1958, com uma lista não muito unitária, muito abrangente, com estudantes que não tinham uma posição política expressa, mas que, em termos de sensibilidade, era antirregime. A primeira claramente antirregime foi a sessão dos estudantes de Coimbra nas eleições de 1960-1961 das quais, inesperadamente, a lista de estudantes de oposição ao regime ganhou por uma diferença mínima de votos, enquanto toda a gente contava que mais uma vez vencesse a lista que era apoiada pelo regime. A partir daí que se lança, em Coimbra e em Lisboa, um movimento de oposição que tem um primeiro momento de pico com a chamada crise de 1961-1962. A origem da Crise de 1962 remonta à 1958, quando o ministro da educação aprovou o Decreto-lei nº 40.900, que determinava que as sessões estudantis não podiam funcionar se não fossem aprovadas previamente pelo Ministério da Educação. Houve um protesto de estudantes em 1958. Em 1961, houve um movimento que está ligado ao Dia do Estudante, com atividades desportivas e culturais, e marcou uma jornada de luta para defender a revogação desse Decreto-lei, para permitir que existissem eleições das associações dos estudantes, democráticas, livres, sem que o governo pudesse intervir. É essa a origem da Crise de 1962 em Lisboa. Ela vai ter um grande impacto e depois é reprimida, estudantes são presos, expulsos da universidade. Houve um prolongamento, em Coimbra, que foi basicamente um movimento de apoio aos colegas de Lisboa. Em Coimbra, não existiram movimentações com as características de Lisboa, que foram muito mais amplas, com milhares de estudantes na rua. No Porto, não aconteceu nada. Existiam estudantes que simpatizavam, mas não existiu movimento de apoio.
Essa fase, associada a uma fase da repressão, que em Lisboa durou praticamente até o início dos anos 1970, foi vivida em um processo subterrâneo de construção de organizações políticas que, muito antes de Coimbra, começaram a politizar e a radicalizar muitos estudantes. Por isso, quando se chega na viragem para 1969 e 1970, vamos encontrar em Lisboa um movimento muito mais radical. Aqui em Coimbra, a famosa Crise de 1969 é ainda uma crise bastante reformista. O professor Fernando Rosas, que foi ativista do movimento estudantil, dizia: “Pois nós íamos lá em Coimbra e ensinava-os como se fazia a Revolução”.
Os colegas do Porto sempre tiveram uma evolução autônoma. Das correntes mais radicais, tanto do ponto de vista dos grupos maoístas como dos grupos trotskistas que começaram a chegar a Coimbra por volta de 1971, grande parte veio de influência de estudantes do Porto, destacados para lançar essas mobilizações. No Porto, não existia faculdade de Direito e a faculdade de Direito mais ao Norte era a de Coimbra. O curso de Direito era de pessoas que estavam vocacionadas para a carreira pública, com um certo padrão de estudante que gostava de ter participação pública, protagonismo.
Entrevistador 1: Qual a influência do Maio francês no movimento estudantil em Portugal e em Coimbra?
Rui Bebiano: A influência do Maio de 1968 em termos políticos e culturais também chegou de forma faseada. Chegou primeiro a Lisboa porque já existiam as correntes, mas também pela dimensão da cidade, que permitia a circulação da informação e vigilância da polícia era mais difícil. No Porto a seguir e, em Coimbra, em 1971. Os estudantes da Crise de 1969 sabiam da existência do Maio de 1968, mas não encontramos movimentos, organizações, ideias, propostas, inscrições nas paredes que liguem minimamente à influência daquele evento. Só chegam aqui por volta de 1971, quando começam a entrar os trotskistas, os maoístas, situacionistas, anarquistas, muitas pessoas ligadas aos meios mais artísticos. Há o círculo das artes plásticas, em que estavam alguns situacionistas, grupos de teatro mais vanguardistas que começaram a buscar propostas vistas no Maio de 1968, com suas características particulares.
As bandeiras de luta também foram mudando, cada vez mais radicalizada e com uma clivagem enorme entre os estudantes, os considerados reformistas e os considerados revolucionários, sem qualquer espécie de colaboração, em Lisboa, no Porto e em Coimbra. Os estudantes comunistas, que eram considerados forças das mais radicais, não tinham nenhuma ligação com os estudantes da esquerda revolucionária. Não se falavam, não havia contatos, não havia namorados e namoradas. Existia casos de irmãos que pertenciam a movimentos diferentes - quando iam para casa, com os pais, acredito que levassem uma vida normal - mas aqui na rua, uns moravam em um sítio, outros moravam em outro. Um corte absolutamente radical. Isso não impediu o movimento estudantil de se radicalizar, de ter ampliado a base social com influência dos dois setores e de ter sido instrumental na construção de um movimento de desafetação, de distanciamento em relação ao regime do Estado Novo. Penso que existiu de fato uma relação: não foi o movimento estudantil que provocou o 25 de Abril, mas criou espaços de resistência cada vez mais radicalizados e antirregime, que foram espalhando em um vírus de resistência.
Entrevistador 1: Então há um vínculo estreito entre a resistência consolidada pelo movimento estudantil e a emergência da Revolução dos Cravos?
Rui Bebiano: Muito estreito. Há um fator: Portugal tem uma classe média muito restrita. O número de pessoas, de técnicos, advogados, médicos, mesmo de professores, era muito pequeno e a maior parte deles estavam espalhados por cidades e vilas do país. Aqui não há um baby boom, mas há um crescimento demográfico razoável durante os anos 1960. Com esse número de pessoas, a classe média cresce: há mais professores, há mais médicos, há mais advogados, e essa gente toda passou pelas universidades, onde a esquerda tinha cada vez maior impacto em termos políticos ou culturais.
O que significa que se cria um caldo de cultura disseminado pelo território. Muitas daquelas pessoas que eram estudantes, logo em seguida à revolução foram ser os novos prefeitos das cidades, foram constituir as comissões de organização e de moradores. Outros tomaram conta de escolas, de liceus, de universidades. Muita da vida cultural e social de Portugal, na fase final do regime e do período que segue à revolução, teve como fatores de dinamismo uma parte desse grupo socialmente formado nas universidades. Para além de ter sido também importante a forma como muitos desses jovens, que estiveram nas universidades - aqui falo sobretudo dos rapazes, os estudantes homens -, o papel dentro do exército, por causa da guerra. Eram pessoas que tinham se formado aqui, contra o regime, contra a guerra, por uma universidade democrática, por uma sociedade também democrática e que ia para dentro dos exércitos, para mais que uma posição de oficiais ou sargentos, de acordo com o grau, mas em uma posição de algum pequeno poder.
Muitos militares que fizeram a revolução, ou que depois foram protagonistas da revolução, dizem que ficaram devendo a sua politização ao contato com esses colegas que tinham ido às universidades. Eu fui preso e obrigado a ir para o quartel. O que eu fui fazer no quartel? Eu distribuí comunicados, panfletos, organizei conversas, fiz anotações, gravações, ouvi músicas revolucionárias. Tudo isso dentro dos quartéis.
Entrevistador 1: Uma postura também revolucionária.
Rui Bebiano: Sim, eu hoje penso que, no fundo, elas não eram muito eficazes. Via-se que o regime estava na fase de desgaste, porque isso 10 anos mais cedo era impossível. O regime foi se desgastando e, portanto, já não tinha capacidade para enquadrar e reprimir aquela espécie de vírus que estava se alastrando em vários setores da universidade, da sociedade.
Quando falei do meu percurso pessoal, esqueci-me de dizer que quando já estava incorporado ao exército fui interrogado duas vezes por agentes da polícia política. Não me torturaram porque foi dentro do quartel.
Entrevistador 1: Em Angola?
Rui Bebiano: Não, os dois aqui em Portugal. Fui interrogado, não bateram. Das duas vezes, os militares responsáveis pelos quartéis em que eu estava exigiram estar presentes. Esses militares tiveram ligados ao 25 de Abril. Portanto, já tinham entendido o que estava passando e fizeram aquilo com intenção de impedir que os inspetores fizessem uma pressão. Acho que tive sorte, escapei. Houve perguntas muito estranhas. Em um dos interrogatórios, uma pergunta que fizeram insistentemente é se eu sabia ou conhecia alguém que soubesse a língua esperanto. Nunca entendi por que me fizeram aquela pergunta. Já perguntei várias vezes a pessoas e o máximo que dizem é que o esperanto estava associado a organizações internacionais e que estariam tentando perceber se existiam agentes do comunismo. Era como se eu fosse um agente de comunismo internacional, que era a última coisa que eu poderia ser.
Entrevistador 1: Quais as bandeiras de luta desse movimento da década de 1960 e inicio da década de 1970, até 1974?
Rui Bebiano: Sobre a questão das bandeiras, eu dividia em três grandes, comuns às três universidades, embora tratadas de forma diferente e de acordo com a realidade de cada uma das academias.
A primeira fase, no início dos anos 1960, é do movimento puramente associativo, no sentido mais simples. Passava pela defesa da possibilidade dos estudantes se organizarem em termos associativos. Nem sequer se tratava de fazer reivindicações, a reivindicação era poder reunir-se, falar e ter uma vida associativa comum. A segunda fase, na segunda metade da década de 1960, até 1969, 1970, é uma fase de reivindicação, já com associações instaladas, mas uma fase de reivindicação no sentido de melhoria da condição estudantil. Um ensino mais democrático, mais aberto à sociedade. Uma das palavras de ordem aqui em Coimbra, que se vê nas fotografias do movimento de 1969, é democratização do ensino, a ideia de um ensino acessível a pessoas que não fossem apenas da elite. A partir de 1971-1972, quando se dá a radicalização, a bandeira principal passou a ser, por um lado a luta contra a guerra e, em termos de associativo, o derrube do regime. Era um movimento essencialmente antirregime e até anticapitalista. A ideia era derrubar o regime, substituí-lo por um regime mais justo. Socialista não sei, mas diferente da União Soviética.
De qualquer maneira, é um vago ideal. Nós sabemos que alguns desses setores mais radicais, que acusavam de reformismo ou de práticas não-socialistas e não-democráticas os partidos comunistas, defendiam posições muitas vezes até mais ortodoxas. Os maoístas eram mais ortodoxos que os pró-soviéticos em termos de ideologia política. Em termos da relação com o movimento de caráter social e político, os comunistas procuravam encontrar consensos, só lutar quando houvesse condições para um salto diferente. E esses grupos maoístas eram por uma ação mais imediata, mais direta, de confronto com a polícia. Os maoístas atuavam no sentido de dar exemplo, de mobilizar mais os estudantes e, depois, a população.
Entrevistador 1: Como vanguarda?
Rui Bebiano: Depois vanguarda. No início dos anos 1970, defendia-se considerar os estudantes como os novos proletários. Claro que isso é fortemente discutível, mas é a ideia de ver nos grupos estudantis uma espécie de vanguarda, com maior capacidade de mobilização do que a vanguarda tradicional, a classe operária, dirigida pelos seus partidos comunistas. Isso é um aspecto bastante presente. Há uma politização gradual do movimento estudantil que se traduziu em uma resposta cada vez mais musculada por parte do poder da ditadura até a revolução. Se há uma politização do movimento, os ativistas estudantis que eram vistos como incógnitos e quando muito tinham processos disciplinares ou eram chamados à polícia, a partir de 1970 e 1971, começam a ser presos e torturados. Portanto, há a percepção de que o movimento estudantil está ultrapassando a barreira dos campos universitários, que está passando para a sociedade, com consequente resposta do regime.
Entrevistador 1: Quais são o papel e a influência da esquerda no movimento estudantil? O que significava ser de esquerda naquele momento?
Rui Bebiano: De fato, a ditadura em Portugal foi se autoisolando. Foi tão incapaz, a partir dos anos 1960, de se renovar em termos de ideias, em termos de relação com o mundo que estava em rápida mudança, que muito naturalmente muitos setores da população, sobretudo jovens que tinham alguma informação e conhecimento, foram se afastando. Hoje, nós estudamos a história da Literatura ou das Artes em Portugal nos anos 1960, na Literatura, na poesia, no cinema, nas Artes Plásticas, na Arquitetura e são raríssimos os autores, os escritores, os artistas, os intelectuais com algum impacto, com alguma obra significativa, que apoiassem o regime.
Algumas pessoas diziam que só há inteligência de esquerda. Hoje sabemos que não é assim, infelizmente ou felizmente, há inteligência de direita. Mas havia um pouco a ideia de que quem é direita é burro, e uma ideia de superioridade moral, não apenas intelectual, da esquerda.
Entrevistador 1: Era ao contrário no Brasil, todo militante era considerado ignorante.
Rui Bebiano: Aqui há uma diferença muito grande, mas também é preciso ver que o triunfo da direita em Portugal é em 1926, ou seja, o apogeu do Estado Novo, do salazarismo, foi nos anos 1930, quando muito até a Segunda Guerra Mundial. A partir daí começa uma fase que chamamos de anos cinzentos, entre a Segunda Guerra Mundial e o final dos anos 1950 e depois, a partir de 1958, o regime perde completamente o dinamismo. As organizações paramilitares, os jornais que apoiavam o regime etc. entram todos em um processo de reorganização muito grande. As organizações de mulheres, de jovens, de antigos combatentes e uma organização paramilitar, a Legião Portuguesa, que pretendia ser uma espécie de braço armado do regime, que ainda existe nos anos 1930 e se mantém até o 25 de Abril, nos anos 1960 basicamente eram os mesmos que tinham entrado nos anos 1930. Eram vistos como os velhinhos que já pouca influência tinham, sem capacidade de se renovar. De fato, escritores e poetas ou eram comunistas ou eram companheiros de luta do comunismo; ou eram socialistas ou estavam ligados à esquerda; ou não tinham posição e enquadramento político, mas não simpatizavam com o regime nem que fosse do ponto de vista estético.
A estética do regime não se renovou. Nos anos 1960, os edifícios do regime ainda continuam a copiar a estética fascista, que é aquela que nós temos aqui na Universidade de Coimbra, agora já está um bocadinho moderada, porque foram feitas alterações. Mas essa Cidade Universitária era uma zona antiga da cidade. No início dos anos 1950 foi destruída toda a zona de habitação popular. Muitas pessoas foram afastadas para a periferia da cidade e foram construídos esses edifícios com uma estética quase nazista. As cadeiras doutorais, dos professores, ficavam sempre dois degraus acima, para dar imagem de respeito nas salas de aula. Na faculdade de Direito, quando eu cheguei, ainda existiam aulas que eram dadas à maneira medieval, porque existia uma sala com púlpitos. O púlpito era onde os antigos Lentes, no tempo da primitiva universidade, davam as aulas para estudantes que se sentavam em baixo, nos banquinhos, e olhavam para cima para o professor que lia. Na faculdade de Direito, participei de alguns boicotes em aulas de professores. Mas os estudantes que viveram esse dia a dia das aulas mostram como havia uma espécie de diferença entre esse mundo, que era muito rígido, muito formal. Na faculdade de Direito, até a revolução, os rapazes ainda tinham que assistir às aulas de gravata, se não, não podiam entrar.
Entrevistador 1: Mas é muito interessante, porque havia uma formação à esquerda, apesar de serem formados por esses professores reacionários. Diferente do Brasil. E os estudantes tinham que levantar quando o professor entrasse, não é?
Rui Bebiano: Tinham de se levantar. Na minha faculdade, até pouco antes da revolução, era impedido às estudantes moças de, no verão em Coimbra, entrar sem meias. A professora Irene de Sousa Ramalho conta que havia uma senhora na portaria da faculdade de Letras cuja função era olhar para as pernas das moças para ver se elas vestiam meia. Naquela época usavam aquelas meias de náilon com costura. As moças faziam um risco com uma caneta na parte de trás da perna e a senhora na portaria via, então, deixava passar. Essa ideia de um universo, de uma mudança de geração, de um conflito geracional, em toda parte é assim. Por volta de 30 anos, 40 anos antes, isso já existia, mas em Coimbra tinha um substrato cultural e político mais intenso. Eu continuo a achar que ainda temos estudado muito pouco isso, concentrando mais nos aspectos orgânicos e políticos do movimento. Também é uma área mais difícil de tratar do ponto de vista do nosso trabalho como historiadores. Para o resto temos os panfletos, temos os fatos que podemos comprovar, mas saber o que se pensava, saber o que liam…
Entrevistador 1: Como a mídia abordava o movimento estudantil em Coimbra ou em Portugal?
Rui Bebiano: O cinema, devido à censura, que fez voga nos anos 1950 e no princípio dos anos 1960, só chegou aqui no final dessa década. O cinema Neorrealista, o Nouveaux Cinéma francês, os filmes de 1960-1962, chegaram aqui em 1968-1970, já naquela fase Marcelista, na abertura. Quando cai Salazar, o primeiro ministro que o sucede, Marcello Caetano, figura do regime, tenta uma fase de liberalização política. Depois essa fase recua, mas durante dois ou três anos há uma abertura muito grande. E é nessa fase, da abertura política, que começam a chegar aos quiosques, aos postos de vendas das livrarias, os jornais franceses. Vendia-se o Le Nouvel Observateur, o Le Monde, a revista L’Express. Vendia-se uma revista de apoio ao movimento de pressão e ao movimento terceiro-mundista, Afrique Asie. Quase tudo era francês porque a maior parte dos estudantes lia em francês. E no período de 1969-1971, há algumas publicações portuguesas, já com a censura abrandada. Há um jornal, que se publicava na Ilha da Madeira e que era mais vendido aqui do que no Funchal, o Comércio de Funchal. Ele tinha uma característica: era publicado em folhas de papel cor de rosa, com entrevistas de André Glucksmann, Daniel Cohn-Bendit, ensaios sobre a Revolução Cubana. E isso, em 1968-1969, vendia-se no calor da hora. Havia estudantes que também tinham acesso a editoras. Uma se chamava Cadernos Dom Quixote, que eram livros sobre a temática internacional. Tinham alguns sobre a luta na Irlanda, outros sobre a Palestina, outros sobre os movimentos da esquerda, sobre a Nova Esquerda. Há uma revista que trazia o Marcuse na capa em 1971, e sem censura, que obviamente não sabia quem era. Outra, com a cara de Cohn-Bendit. Deixaram passar e isto circulava. Hoje parece quase irreal. Em 1969 vi, junto ao rio Mondego, um quiosque com publicações internacionais. Eu ia lá todas as semanas com a minha assinatura e comprava uma dessas revistas, que meu pai pagava. O meu pai era uma figura próxima do regime e não fazia a menor ideia do que estava financiando naquele momento. Mas parece impossível, a essa distância, que isso acontecesse.
Entrevistador 1: Em termos de um balanço pessoal e de agora. Como foi dito, é difícil, no seu caso, separar o pesquisador do protagonista. Mas é um balanço positivo, algo que hoje está difícil nessas comemorações. As reflexões de Daniel Cohn-Bendit são um exemplo.
Rui Bebiano: Sim, ele tem posições complicadas. Quando me interessei pelo meio estudantil, falei com um professor, que foi meu orientador, que me disse: “isto não é tema para tratar”. Tentei até fazer uma tese sobre isso, é a minha tese ainda. “Não vá por aí porque senão não pode ser aceito e tal”, “não é objeto de estudo”, dizia ele. Mas logo depois algumas pessoas foram trabalhar. Talvez o primeiro que teve a ousadia de fazer um trabalho sobre 1962 foi o Álvaro Garrido. Ele tem um livro sobre a crise acadêmica de 1962 em Lisboa e em Coimbra, que já foi feito há uns bons anos, mas ainda permanece com muita qualidade. O trabalho do Miguel Cardina também foi um dos primeiros. Há um núcleo que começou a tratar o movimento estudantil que foram meus alunos. Depois começou em Lisboa, no Porto. Praticamente não existe tradição de estudo do movimento estudantil. Nesses últimos anos, já existem alguns colegas que estão trabalhando sobre o tema. Na área da História, em Coimbra, mais cedo começaram a tratar temas mais contemporâneos e talvez por isso demorou para constituir um núcleo de investigadores, pesquisadores e estudantes que se interessassem sobre o tema. Nos últimos tempos, começou a haver um grupo de pessoas que também estavam ligados a esses temas, e há muita coisa para fazer sobre os anos 1960, mas também já podemos falar dos anos 1980, que é a etapa seguinte. E já começa a constituir-se um núcleo interessante de comparação, de pessoas que tentam trabalhar os dois tempos.
Entrevistador 1: Qual o papel do movimento estudantil na queda do regime de 1974?
Rui Bebiano: O período pós-revolucionário é muito especial, pois o movimento estudantil praticamente desapareceu em seguida à revolução. Os estudantes mais ativos foram fazer alfabetização, tornaram-se militantes políticos. Outros já tinham alguns anos e foram trabalhar, alguns nem sequer acabaram o curso e não voltaram. Foram trabalhar como empregados, como operários porque era a sua escolha em termos políticos. Os mais politizados tinham o objetivo mais empenhado de levar até o fim as suas convicções. Entendiam que estava ocorrendo uma revolução, queriam fazê-la e saíram da universidade. O movimento estudantil ficou praticamente decapitado a seguir a revolução.
Entrevistador 1: Mas confirma um balanço positivo, não?
Rui Bebiano: Sim, é positivo. Os estudantes que ficaram aqui, mais vinculados ao movimento estudantil, eram mais aqueles que não tinham empenho político. Por isso, logo a seguir, a partir de 1977-1978, há a grande queda do movimento. O movimento estudantil passa a ser enquadrado pelas Jotas, as Juventudes Partidárias, que construíram movimentos destinados a preparar a futura carreira política. Foi nessa época que o movimento estudantil perdeu completamente o caráter mais reivindicativo, mais politizado.
Entrevistador 1: É o que você chama de um quadro corporativo?
Rui Bebiano: Sim, corporativo. O estudante ainda continuava tendo um papel importante em termos políticos, que hoje aqui em Portugal não tem. Podem até ter considerado, mas não em termos de movimento estudantil.
Entrevistador 1: De massa? Como movimento social? Numericamente?
Rui Bebiano: Não existem. Integram-se. Há exceções de vários tipos, defensores de causas etc., isso existe bastante. Agora movimento, ver estudantes a ir em passeatas de milhares na rua não se vê. Nem em nível nacional. Já têm acontecido concentrações convocadas para Lisboa, com associações vindas de várias partes de Portugal e ter 200 pessoas do país inteiro. Esvaziada. Depois, a mídia deixou de se interessar porque não é notícia. Durante algum tempo ainda alimentou. Havia a ideia de que o movimento estudantil era importante: os jornais, as televisões ainda prestavam um pouco de atenção. Quando se viu que tinha deixado de ser mobilizador, desinteressaram-se completamente. Mesmo com essas pequenas iniciativas, não tem visibilidade nos jornais.
Entrevistador 1: Será que é por não haver tantos estudos e por essa falta de visibilidade dos jornais? Pelo que eu saiba, na França, permanecem as comemorações mesmo que sejam regadas pelo saudosismo.
Rui Bebiano: E aí é a imagem de 1968.
Entrevistador 1: Manter 1968 vivo. No Brasil, não existe esse empenho em manter 1968 vivo. É falar para não ter mais. Mas se mantém…
Rui Bebiano: Não, aqui não.
Entrevistador 1: Aqui não mantém? Será que isso justifica também Portugal não ter aparecido nessas reportagens?
Rui Bebiano: Eu não sei...
Entrevistador 1: Porque o Júlio de Mesquita Filho, que dá nome à nossa Universidade, era dono do jornal O Estado de S. Paulo. Ele esteve presente no Maio francês em 1968, e ele então dá o seu testemunho em 1978 sobre 1968. E ele não faz menção a Portugal. E isso não se justifica se ele está por aqui.
Rui Bebiano: O movimento aqui tinha algum impacto. Mesmo em termos da oposição. No final da ditadura, existem duas eleições para deputado da Assembleia Nacional que são semilivres e há a oposição. Depois, claro, que foi controlado, os votos foram combinados, mas houve uma campanha eleitoral, em 1969 e até 1973, com listas da oposição ao regime e listas que eram legais. Nelas, que tiveram um impacto público e internacional, estavam muitos estudantes. Quando cheguei aqui em Coimbra, antes de me ligar aos estudantes que eram contra o regime, fui na Avenida Fernão de Magalhães, na Baixa, na sede da oposição. Fui lá perguntar se precisava de alguém para distribuir panfletos e assim foi a minha primeira intervenção política. Estavam lá vários estudantes. Conhecia alguns na altura, muitos jovens, eu tinha 16 anos.
E curiosamente, na época, em Portugal e no movimento estudantil, existia uma atenção muito grande em relação ao Brasil, quer politicamente ou pela importância da música popular brasileira.
Entrevistador 1: E a música popular brasileira tem muita influência do Maio francês. A música de Caetano Veloso É proibido proibir. Então os nomes das músicas são os dos grafites franceses. Portugal é uma história não contada no Brasil e é uma história que tem um saldo, um balanço altamente positivo.
Rui Bebiano: E um trabalho dessa natureza também pode ser um trabalho de resgate de algo que nós pensamos que não existiu, mas que pode simplesmente estar esquecido ou camuflado pelo poder hegemônico que se sobrepõe.
Entrevistador 1: E por que esse saldo positivo não pode ser mostrado?
Rui Bebiano: A memória curta das sociedades, como percebemos, é também seletiva. E, assim como agora, há uma imposição de uma visão hegemônica da mídia. Muitas pessoas, que até tiveram uma experiência de vida e que hoje possuem idade, pelo tempo de vida que tiveram, deviam ter memória mais adequada, mas hoje já moldam a sua visão.
É estranho ver, de repente, como se fosse uma diluição em termos de memória. Na relação com o Brasil, aqui em Portugal sempre tivemos um pouco essa ideia de que uma cultura da oposição e de esquerda tinha uma atração muito grande pelo Brasil nas várias facções, em várias áreas, mas tínhamos a apreciação que havia muita pouca informação no Brasil sobre Portugal também.
Referência
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Historiador e professor de História Contemporânea no Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Investigador do Centro de Estudos Sociais (CES). É diretor do Centro de Documentação 25 de Abril. Autor dos livros O Poder da Imaginação: Juventude, Rebeldia e Resistência nos Anos 60 (2003), Do Ativismo à Indiferença. Movimentos Estudantis em Coimbra (2007) (em coautoria com Elísio Estanque), Outubro (2011) e Tony Judt: historiador e intelectual público (2017).
Notas
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
29 Abr 2019 -
Data do Fascículo
2019
Histórico
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Recebido
08 Jun 2018 -
Aceito
14 Jun 2018