RESUMO
A região hidrográfica da Bacia da Baía de Guanabara integra 17 municípios do estado do Rio de Janeiro, entre os quais estão os maiores geradores de resíduos sólidos: São Gonçalo, Belford Roxo, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro e Duque de Caxias. O lixiviado, efluente altamente tóxico, quando descartado de maneira inadequada, pode provocar diversos impactos negativos nos corpos hídricos. Este trabalho apresenta, por meio de uma abordagem qualitativa e quantitativa, as áreas de destinação final de resíduos sólidos e os principais corpos hídricos vulneráveis e potencialmente receptores de lixiviado da região hidrográfica da Bacia da Baía de Guanabara. Realizou-se uma pesquisa em documentação legal das centrais de tratamento de resíduos, aterros controlados e vazadouros, relatórios das visitas técnicas do Grupo de trabalho Chorume, informações do ICMS Ecológico 2019–2020 — ano de referência 2018 — e demais documentos institucionais pertinentes ao objeto da pesquisa. Observou-se que, impulsionados pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, pelo Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços Ecológico e por programas do Governo do Estado, como o Pacto pelo Saneamento (Rio + Limpo e Lixão Zero), os municípios da região hidrográfica da Bacia da Baía de Guanabara, em sua maioria, encerraram seus lixões nos últimos 10 anos. Não obstante, grande parte dos aterros sanitários construídos não dispõe de estações de tratamento de lixiviado que atendam à vazão gerada e os aterros controlados e lixões, ativos e desativados, seguem produzindo lixiviado e descartando nos corpos hídricos da Baía de Guanabara.
Palavras-chave:
aterro sanitário; lixiviado; região hidrográfica; RH V; vazadouro; Baía de Guanabara
ABSTRACT
The hydrographic region of the Guanabara Bay basin includes 17 municipalities in the state of Rio de Janeiro and among them are the largest solid waste generators in the state: São Gonçalo, Belford Roxo, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, and Duque de Caxias. Leachate, a highly toxic effluent, can cause several negative impacts on water bodies when improperly disposed of. This study, through a qualitative and quantitative approach, maps the areas used for the final disposal of solid waste within the hydrographic region of the Guanabara Bay basin and vulnerable water bodies which are potential receivers of leachate. Research was carried out analyzing legal documentation for sanitary and controlled landfills and dumps, reports of technical visits of the Leachate Work Group, data from the 2018 Ecological Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (reduced state tax incentives) and other institutional documents related to the research object. It was observed that most of the municipalities in the hydrographic region of the Guanabara Bay basin closed their landfills within the last 10 years, driven by the National Solid Waste Policy, Ecological Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços and state government programs, such as the Pact for Sanitation (Rio + Clean and Zero Dump). Nevertheless, most of these closed sites do not have leachate treatment stations that meet the flow rate and thus continue producing leachate and discarding it into the water bodies of Guanabara Bay.
Keywords:
landfill; leachate; hydrographic region; RH V; dump; Guanabara Bay
INTRODUÇÃO
O rápido aumento da geração de resíduos sólidos urbanos (RSU) e a ausência de políticas públicas efetivas que permitam conciliar a produção de bens, a conservação e o uso racional dos recursos naturais criaram um problema ambiental que envolve o manejo e a disposição final dos resíduos sólidos. Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos, apresentado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2020ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS (ABRELPE). Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020. Disponível em: https://abrelpe.org.br/panorama/. Acesso em: 20 jan. 2021.
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), em 2019, foram geradas 79 milhões de toneladas por ano de resíduos sólidos em todo o Brasil. Desse montante, 40,5% foi descartado em locais inadequados, como lixões e aterros controlados, que não contam com um conjunto de sistemas e medidas necessárias para proteger a saúde da população e o meio ambiente contra danos e degradações.
O estado do Rio de Janeiro segue a mesma tendência de aumento da geração de resíduos sólidos: foram aproximadamente 8 milhões de toneladas em 2019 (ABRELPE, 2020ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS (ABRELPE). Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020. Disponível em: https://abrelpe.org.br/panorama/. Acesso em: 20 jan. 2021.
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), sendo a região metropolitana responsável por 83% dessa geração, com uma média de 1,19 kg.hab.dia (PERS, 2013). Antes da promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, 2010.), esses resíduos eram destinados, em sua vasta maioria, a lixões. Nesse mesmo ano, de acordo com o Sistema Nacional de Informação de Saneamento (SNIS, 2020SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO (SNIS). Diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos 2019. SNIS site institucional, 2020. Disponível em: http://www.snis.gov.br/. Acesso em: 20 jan. 2021.
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), no estado do Rio de Janeiro, 94% dos resíduos foram direcionados a aterros sanitários (16 aterros), 4,2%, a aterros controlados (7 aterros) e 1,8%, a lixões.
A disposição de RSU em aterro sanitário é considerada uma das técnicas mais eficientes e seguras de destinação de resíduos sólidos e quase sempre apresenta a melhor relação custo-benefício. Pode receber e acomodar vários tipos de resíduos, em diferentes quantidades, e é adaptável a qualquer tipo de comunidade, independentemente do tamanho (VAN ELK, 2019VAN ELK, A.G.H.P.; SANTOS, J.E.S.; FERREIRA, J.A. Os maiores geradores de resíduos da região metropolitana do estado do Rio de Janeiro: sua gestão dentro da perspectiva da Política Nacional de Resíduos Sólidos. In: 30 Congresso Brasileiro de Engenharia Ambiental e Sanitária, 30, 2019. Anais… Natal: ABES, 2019. p. 1-6.). Não obstante, os aterros sanitários e, principalmente, os lixões estão entre as principais fontes de poluição do solo e das águas subterrâneas, bem como são responsáveis pela maioria das emissões de gases de efeito estufa (GEE) do setor de resíduos sólidos.
O lixiviado, subproduto da decomposição de resíduos sólidos em aterros, é caracterizado por elevada toxicidade, alta concentração de matéria orgânica, poluentes emergentes, além de amônia e sais dissolvidos (MIAN et al., 2017MIAN, M.; ZENG, X.; NASRY, A.N.B.; SULALA, M.Z.F.A.H. Municipal solid waste management in China: a comparative analysis. Journal of Material Cycles and Waste Management, v. 19, p. 1673-82, 2017.; NAVEEN et al., 2017NAVEEN, B.P.; MAHAPATRA. D.M.; SITHARAM, T.G.; SIVAPULLAIAH, T.V.; RAMACHANDRA, T.V. Physico-chemical and biological characterization of urban municipal landfill leachate. Environmental Pollution, v. 220, p. 1-12, 2017. https://doi.org/10.1016/j.envpol.2016.09.002
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; SEIBERT et al., 2019SEIBERT, D.; QUESADA, H.; BERGAMASCO, R.; BORBA, F. H.; PELLENZ. L. Presence of endocrine disrupting chemicals in sanitary landfill leachate, its treatment and degradation by Fenton based processes: A review. Process Safety and environmental Protection, v. 131, p. 255-267, 2019.; KJELDSEN et al., 2002KJELDSEN, P., BARLAZ, M.A., ROOKER, A.P., BAUN, A., LEDIN, A., CHRISTENSEN, T.H. Present and long-term composition of MSW landfill leachate: A review. Critical Reviews in Environmental Science and Technology, n. 4, v. 32, p. 297-336, 2002.). Carreado pela água de chuva e pela própria umidade contida nos resíduos, o lixiviado se transforma em uma matriz aquosa de extrema complexidade, (NASCENTES et al., 2015NASCENTES, A.L.; NASCIMENTO, M.M.P.; BRASIL, F.C.; CAMPOS, J.C.; FERREIRA, J.A. Tratamento combinado de lixiviado de aterro sanitário e esgoto doméstico – Aspectos operacionais e microbiológicos. Revista Teccen, v. 8, n. 1, p. 5-12, 2015. https://doi.org/10.21727/teccen.v8i1.222
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). Sua composição pode variar de acordo com a idade dos resíduos, com o clima e com o modo de operação dos aterros (FERREIRA et al., 2009FERREIRA, J.A.; CANTANHEDE, A.L.G.; LEITE, V.D.; BILA, D.M.; CAMPOS, J.C.; YOKOYAMA, L.; FIGUEIREDO, I.C.; MANNARINO, C.F.; SANTOS, A.S.; FRANCO, R.S.O.; LOPES, W.S.; SOUSA, J.T. Tratamento combinado de lixiviados de aterros de resíduos sólidos urbanos com esgoto sanitário. In: GOMES, L.P. (cord.). Estudos de Caracterização e Tratabilidade de Lixiviados de Aterros Sanitários para as Condições Brasileiras. Rio de Janeiro: ABES, 2009.; GIORDANO et al., 2011GIORDANO, G.; BARBOSA FILHO, O.; CARVALHO, R.J. Processos físico-químicos para tratamento do chorume de aterros de resíduos sólidos urbanos. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, v. 4, 2011. 178 p.). Por ter alta concentração de nitrogênio amoniacal, quando descartado de maneira inadequada, o lixiviado pode causar diversos problemas ambientais, como: toxicidade para a biota no solo e nas comunidades aquáticas, diminuição do oxigênio dissolvido, eutrofização de corpos hídricos, além de ser prejudicial em caso de emissões de gases voláteis para a atmosfera (LANGE et al., 2009LANGE, L.C.; AMARAL, M.C.S. Geração e características do lixiviado. In: GOMES, L.P (cord.). Estudos de Caracterização e Tratabilidade de Lixiviados de Aterros Sanitários para as Condições Brasileiras, Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (PROSAB). Rio de Janeiro: Editora ABES, 2009.; MORAVIA et al., 2011MORAVIA, W.G.; LANGE, L.C.; AMARAL, M.C.S. Avaliação de processo oxidativo avançado pelo reagente de fenton em condições otimizadas no tratamento de lixiviado de aterro sanitário com ênfase em parâmetros coletivos e caracterização do lodo gerado. Química Nova, v. 34, n.08, p.1370-1377. https://doi.org/10.1590/S0100-40422011000800014
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).
Por apresentar variabilidade em sua composição, seu tratamento é um dos principais desafios relacionados à gestão dos aterros. Não há uma solução simples e universal para o tratamento do lixiviado (ZIYANG et al., 2007ZIYANG, L., YOUCAI, Z. Size-fractionation and characterization of refuse landfill leachate by sequential filtration using membranes with varied porosity. Journal of Hazardous Materials, v. 147, n. 1-2, p. 257-264, 2007. https://doi.org/10.1016/j.jhazmat.2006.12.084
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), permanecendo um desafio em todo o mundo (COSTA et al., 2019COSTA, A.M.; ALFAIA, R. G. S. M.; CAMPOS, J. C. Landfill leachate treatment in Brazil – an overview. Journal of Environmental Management, v. 232, p. 110-116, 2019. https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2018.11.006
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), dada a necessidade de contemplar a variação de composição, a idade do aterro, as características dos resíduos e as condições específicas locais (WISZNIOWSKI et al., 2006WISZNIOWSKI, J.; ROBERT, D.; SURMACZ-GORSKA, J.; MIKSCH, K.; WEBER, J.V. Landfill leachate treatment methods: a review. Environment Chemistry Letters, v. 4, p. 51-61, 2006. https://doi.org/10.1007/s10311-005-0016-z
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; ZIYANG et al., 2007ZIYANG, L., YOUCAI, Z. Size-fractionation and characterization of refuse landfill leachate by sequential filtration using membranes with varied porosity. Journal of Hazardous Materials, v. 147, n. 1-2, p. 257-264, 2007. https://doi.org/10.1016/j.jhazmat.2006.12.084
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).
A região hidrográfica da Bacia da Baía de Guanabara (RH-V) integra 17 municípios, sendo 16 pertencentes à Região Metropolitana do Rio de Janeiro e um pertencente à Região Serrana, o município de Petrópolis (com área muito pequena dentro da bacia drenante), e entre eles estão os maiores geradores de resíduos sólidos do estado: São Gonçalo, Belford Roxo, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro e Duque de Caxias (VAN ELK et al., 2019VAN ELK, A.G.H.P.; SANTOS, J.E.S.; FERREIRA, J.A. Os maiores geradores de resíduos da região metropolitana do estado do Rio de Janeiro: sua gestão dentro da perspectiva da Política Nacional de Resíduos Sólidos. In: 30 Congresso Brasileiro de Engenharia Ambiental e Sanitária, 30, 2019. Anais… Natal: ABES, 2019. p. 1-6.). A região é marcada pela presença dos principais aterros sanitários do estado e pela formação, ao longo dos anos, de diversos lixões, como Jardim Gramacho, que foi remediado e operado como aterro controlado até 2012, recebendo a maioria dos resíduos gerados no município do Rio de Janeiro.
É dentro desse contexto que se situa o presente artigo, identificando as áreas de disposição final da RH-V e os corpos hídricos vulneráveis e potencialmente receptores do lixiviado, mapeando o cenário de lançamento do percolado na RH-V, Rio de Janeiro, permitindo, assim, que os tomadores de decisão e responsáveis pela governança das águas na RH-V estejam apoiados em dados técnicos atualizados sobre os aspectos que influenciam a qualidade das águas.
METODOLOGIA
Área de estudo
O estudo foi realizado na RH-V, que tem aproximadamente 4.800 km2 de extensão territorial e uma população estimada de 10 milhões de habitantes (Figura 1). Além de concentrar a mais elevada densidade populacional do estado, nela também está inserida a maior concentração de aglomerados subnormais (IBGE, 2020INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E PESQUISA (IBGE). Áreas territoriais. Censo 2010. 2010. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br. Acesso em: 03 fev. 2020.
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) e os grandes geradores de resíduos do estado, como os municípios Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Belford Roxo e São Gonçalo. Além da significativa geração de resíduos e efluentes industriais, a região apresenta forte vulnerabilidade a eventos críticos de deslizamentos e inundações nas regiões de declive mais acentuado (BERNARDINO et al., 2016BERNARDINO, D.; FRANZ, B. Lixo flutuante na Baía de Guanabara: passado, presente e perspectivas para o futuro. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 38, p. 231-252, 2016. https://doi.org/10.5380/dma.v38i0.47024
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; GONZALEZ et al., 2020GONZALEZ, A.H.G., ROCHA, M.B. A exposição científica “do mangue ao mar” e suas contribuições para a percepção ambiental sobre a Baía de Guanabara. Revista Ciências & Ideias, Revista Ciências & Ideias, v. 11, n. 2. 2020.; ARAÚJO et al., 2002ARAÚJO, F.P.; COREIXAS, M.A; NEGREIROS, D.H. Nossos Rios. Niterói: Instituto Baía de Guanabara, 2002. 31p.; BAPTISTA NETO et al., 2011BAPTISTA NETO, J.A.; FONSECA, E. M. Variação sazonal, espacial e composicional de lixo ao longo das praias da margem oriental da Baía de Guanabara (Rio de Janeiro) no período de 1999-2008. Revista da Gestão Costeira Integrada, v.11, n. 1, p. 31-39, 2011. https://doi.org/10.5894/rgci189
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; RIO DE JANEIRO, 2014RIO DE JANEIRO. Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica do Rio de Janeiro (PMMA-Rio), 2014. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/web/smac/pmma-rio. Acesso em: 20 ago. 2020.
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). Os vários rios que são afluentes à baía contribuem para a descarga média anual de cerca de 200 m3/s (IBGE, 2020INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E PESQUISA (IBGE). Áreas territoriais. Censo 2010. 2010. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br. Acesso em: 03 fev. 2020.
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). Entre os 55 rios principais que são afluentes à Baía de Guanabara, os que contribuem para a maior vazão de água doce são os Rios Iguaçú, Caceribú, Macacu, Guapimirim, Estrela, Sarapuí e São João de Meriti (COELHO, 2007COELHO, V. Baía de Guanabara: Uma história de agressão ambiental. Casa da Palavra, Rio de Janeiro, 2007. 278 p.; SAMPAIO, 2003SAMPAIO, M. Estudo de Circulação Hidrodinâmica 3D e Trocas de Massas D’água da Baía de Guanabara. 220 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.).
Mapa dos municípios e corpos hídricos que integram a região hidrográfica da Bacia da Baía de Guanabara.
Coleta e compilação de dados
Foi realizada uma pesquisa quantitativa e qualitativa em documentação legal das centrais de tratamento de resíduos, aterros controlados e vazadouros da região metropolitana do Rio de Janeiro inseridos na RH-V, relatórios das visitas técnicas do GT Chorume das áreas de disposição final de resíduos na região e informações do ICMS Ecológico 2019–2020 — ano de referência 2018, bem como outros documentos institucionais pertinentes ao objeto da pesquisa.
Para identificar as áreas de destinação final e os corpos hídricos vulneráveis à contaminação por lixiviado, investigaram-se os Termos de Ajustamento de Condutas (TACs), vigentes até o ano de 2020, e as licenças ambientais, disponíveis na seção de consulta a processos de licenciamento ambiental do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) (Tabela 1). Informações complementares a respeito de vazadouros desativados foram obtidas por meio da Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS) e do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Embora estejam fora da RH-V, as Centrais de Tratamento de Resíduos (CTRs) Santa Rosa e Três Rios atendem aos municípios integrantes da RH-V, como Rio de Janeiro e Petrópolis. Destaca-se a relevância da CTR Santa Rosa, que recebe diariamente aproximadamente 10 mil toneladas de resíduos.
Dados referentes aos potenciais corpos hídricos contaminados por meio de lixiviado foram obtidos do GT Chorume, por meio da análise de atas das reuniões, relatórios de visitas técnicas e dados de monitoramento da qualidade da água, recebidos dos operadores das centrais de tratamento de resíduos, aterros e vazadouros. Com as informações coletadas foi possível gerar mapas para a visualização espacial dos locais de disposição final inseridos na RH-V utilizando-se o software Quantum Gis (QGis).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apresenta-se, na Figura 2, a identificação dos aterros sanitários e dos municípios atendidos pela RH-V.
Na Tabela 2 encontram-se as informações sobre os aterros sanitários instalados na RH-V, os lixiviados gerados e a identificação dos corpos hídricos susceptíveis à contaminação por lixiviado.
Corpos hídricos susceptíveis à contaminação por lixiviado dos aterros sanitários da região hidrográfica da Bacia da Baía de Guanabara.
Os aterros sanitários contidos na Tabela 2, com exceção de Niterói, têm estações de tratamento de lixiviado, incluindo o tratamento terciário. No entanto, em alguns aterros as estações de tratamento não têm capacidade para a vazão de chorume gerado. O aterro de São Gonçalo gera 234 m3/dia de lixiviado e só consegue tratar aproximadamente 50% (D’OLIVEIRA, 2020D’OLIVEIRA, P.M.S. Potencial poluidor da disposição final de resíduos sólidos nas águas da Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara. 100 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) – Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020.). Somente no final de 2021 foi autorizada e concedida pelo INEA a Autorização Ambiental para ampliação Estação de Tratamento de Chorume com a implantação de um módulo de osmose reversa, com capacidade nominal de 250 m3/dia (INEA, 2021INSTITUTO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE (INEA). Ata da 602ᵃ Reunião Ordinária de Licenciamento Ambiental do Condir. Rio de Janeiro, 2021.). A CTR Santa Rosa construiu outra estação de tratamento, ampliando a capacidade para 1.000 m3.dia, sendo considerada atualmente uma das maiores da América Latina. O excedente do lixiviado gerado nos aterros fica em lagoas de retenção, aguardando o tratamento. As CTRs de Itaboraí, Santa Rosa e Niterói enviam parte do lixiviado gerado para as estações de tratamento de esgoto (ETEs), respectivamente, Prolagos, Alegria e Icaraí.
O tratamento combinado de lixiviado de aterro sanitário com esgoto doméstico em ETEs é uma das alternativas adotadas em vários países como forma de reduzir os custos de operação dos aterros (FERREIRA et al., 2009FERREIRA, J.A.; CANTANHEDE, A.L.G.; LEITE, V.D.; BILA, D.M.; CAMPOS, J.C.; YOKOYAMA, L.; FIGUEIREDO, I.C.; MANNARINO, C.F.; SANTOS, A.S.; FRANCO, R.S.O.; LOPES, W.S.; SOUSA, J.T. Tratamento combinado de lixiviados de aterros de resíduos sólidos urbanos com esgoto sanitário. In: GOMES, L.P. (cord.). Estudos de Caracterização e Tratabilidade de Lixiviados de Aterros Sanitários para as Condições Brasileiras. Rio de Janeiro: ABES, 2009.). De acordo com Pesci et al. (2017PESCI C., PEREIRA, T.C., GOMES, G., QUINTAES, B.R., BILA, D.M., CAMPOS, J.C. Tratamento combinado de lixiviado em esgoto: avaliação da atividade estrogênica residual. In: 28 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental (CBESA /FENASAN), 2017 São Paulo, 2017. Anais…São Paulo: CBESA /FENASAN, 2017.), a mistura do volume de lixiviado ao esgoto sanitário é conhecida como tratamento combinado e/ou cotratamento. Nascentes et al. (2015NASCENTES, A.L.; NASCIMENTO, M.M.P.; BRASIL, F.C.; CAMPOS, J.C.; FERREIRA, J.A. Tratamento combinado de lixiviado de aterro sanitário e esgoto doméstico – Aspectos operacionais e microbiológicos. Revista Teccen, v. 8, n. 1, p. 5-12, 2015. https://doi.org/10.21727/teccen.v8i1.222
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) destacam que estudos recentes têm mostrado que essa técnica é promissora e uma alternativa viável para dar destino ao lixiviado produzido. No entanto, essa medida necessita ser investigada com profundidade (NASCENTES et al., 2013NASCENTES, A.L. Tratamento Combinado de Lixiviado de Aterro Sanitário e Esgoto Doméstico, 166 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013.). Pereira et al. (2018PEREIRA C.P.; CONCEIÇÃO PEREIRA T.; GOMES G.; QUINTAES B.R.; BILA D.M.; CAMPOS J.C. Evaluation of reduction estrogenic activity in the combined treatment of landfill leachate and sanitary sewage. Waste Management, v. 80, p.339-348, 2018.) comentam que a proporção de volume do lixiviado, volume de esgoto (v.v%), é discutida na literatura. McBean et.al. (1995MCBEAN, E.A.; ROVERS, F.A.; FARQUHAR, G.J. Solid waste landfill engineering and design. New Jersey: Prentice Hall, 1995. 512 p.) recomendam que a mistura não deve exceder os 2% de volume do esgoto. Não obstante, Ferreira et al. (2009FERREIRA, J.A.; CANTANHEDE, A.L.G.; LEITE, V.D.; BILA, D.M.; CAMPOS, J.C.; YOKOYAMA, L.; FIGUEIREDO, I.C.; MANNARINO, C.F.; SANTOS, A.S.; FRANCO, R.S.O.; LOPES, W.S.; SOUSA, J.T. Tratamento combinado de lixiviados de aterros de resíduos sólidos urbanos com esgoto sanitário. In: GOMES, L.P. (cord.). Estudos de Caracterização e Tratabilidade de Lixiviados de Aterros Sanitários para as Condições Brasileiras. Rio de Janeiro: ABES, 2009.), baseando-se em estudo realizado no Aterro Controlado Morro do Céu, Niterói, Rio de Janeiro, observaram que o limite de 2% indicado na literatura pode ser excessivo, havendo certa segurança na proporção de 1% de lixiviado com relação ao volume do esgoto. Na mesma direção, Nascentes et al. (2015NASCENTES, A.L.; NASCIMENTO, M.M.P.; BRASIL, F.C.; CAMPOS, J.C.; FERREIRA, J.A. Tratamento combinado de lixiviado de aterro sanitário e esgoto doméstico – Aspectos operacionais e microbiológicos. Revista Teccen, v. 8, n. 1, p. 5-12, 2015. https://doi.org/10.21727/teccen.v8i1.222
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) e Pesci (2017PESCI C., PEREIRA, T.C., GOMES, G., QUINTAES, B.R., BILA, D.M., CAMPOS, J.C. Tratamento combinado de lixiviado em esgoto: avaliação da atividade estrogênica residual. In: 28 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental (CBESA /FENASAN), 2017 São Paulo, 2017. Anais…São Paulo: CBESA /FENASAN, 2017.), em seus experimentos com tratamento combinado, envolvendo tratamento biológico, mostraram que a eficiência de remoção cai drasticamente com o aumento da proporção do lixiviado. Contudo, o Comitê de Bacia adverte que o transporte do lixiviado, para longe da fonte geradora, representa riscos ambientais e que as ETEs não sofreram nenhuma adaptação tecnológica para atender ao tratamento combinado.
Em 08 de outubro 2020, foi sancionada Lei Estadual n° 9.055, que instituiu a obrigatoriedade do controle e tratamento do lixiviado nos sistemas de destinação final de resíduos sólidos, vazadouros, aterros controlados e aterros sanitários, bem como de remediação de vazadouros no estado do Rio de Janeiro. O artigo V da lei estabelece a proibição de descarte de resíduos sólidos de qualquer natureza em vazadouros públicos no estado. O artigo XIII estabelece a proibição de tratamento de chorume bruto em ETE convencional, salva a hipótese de existência de pré ou pós-tratamento que garanta valores de lançamento do efluente tratado dentro dos limites e padrões da Resolução CONAMA n° 430, ou outra que a vier substituir (RIO DE JANEIRO, 2020RIO DE JANEIRO. Lei Estadual n° 9.055, de 08 de outubro de 2020. Institui a obrigatoriedade do controle e tratamento do chorume nos sistemas de destinação final de resíduos sólidos, vazadouros, aterros controlados e aterros sanitários, bem como a remediação de vazadouros no Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências. Diário Oficial do Estado: seção 1, Rio de Janeiro, RJ, 2020.).
Em 08 de fevereiro de 2021, foi publicada a Resolução CONEMA nº 90/2021, que estabelece os critérios e padrões de lançamento de esgotos sanitários e, segundo a qual, as ETEs só poderão receber lixiviado de aterro sanitário de RSU após aprovação do estudo de tratabilidade pelo órgão ambiental competente.
Cunha et al., (2020CUNHA, C.E.S.C.P., RITTER, E., FERREIRA, J.A. O uso de indicadores de desempenho na avaliação da qualidade operacional dos aterros sanitários do estado do Rio de Janeiro no triênio 2013-2015. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 25, n. 2, p. 345-360, 2020. https://doi.org/10.1590/S1413-41522020187467
https://doi.org/10.1590/S1413-4152202018...
) observam que a qualidade do serviço público prestado deve ser avaliada de forma constante por meio de indicadores de desempenho, para reduzir a subjetividade durante a fiscalização e o acompanhamento de empreendimentos com licenças de operação (LO). Baseado nesse princípio, o estado do Rio de Janeiro, por meio do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), desenvolveu, em 2013, uma metodologia para a obtenção do Índice de Qualidade de Destinação Final de Resíduos (IQDR), tomando como base os valores de significância do indicador paulista (Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos do Estado de São Paulo — IQR).
Na Figura 3 e na Tabela 3 estão apresentados a localização dos vazadouros ativos e encerrados e os rios potencialmente receptores de lixiviado gerado nessas áreas de destinação final.
Localização dos vazadouros existentes na RH V e corpos hídricos potencialmente receptores de lixiviado.
Corpos hídricos potenciais receptores de lixiviado dos aterros controlados e vazadouros na região hidrográfica da Bacia da Baía de Guanabara, Rio de Janeiro, 2020.
De maneira geral, os rios da região e que deságuam na Baía de Guanabara apresentam padrão de qualidade de águas ruim, resultado da degradação provocada pelos despejos de efluentes industriais e domésticos, bem como pelo descarte de resíduos. A Baía de Guanabara tem uma longa história de degradação, inclusive provocada por acidentes de derramamento de óleo de navios petroleiros. O processo de descontaminação, que custou 1,2 bilhão de dólares, atravessou sete governos, nunca foi concluído e não conseguiu melhorar significativamente a qualidade da baía. Esperava-se que os Jogos Olímpicos deixariam como legado para as populações carioca e fluminense a descontaminação da Baía de Guanabara, no entanto isso não ocorreu (RIO DE JANEIRO, 2015RIO DE JANEIRO. Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Abastecimento de Duque de Caxias. Parecer técnico – disposição inadequada de efluentes, 2015. Disponível em: https://www.slideshare.net/MarceloForest/parecer-tcnico-aterro-jardim-gramacho-empresa-gs-verde-s-a. Acesso em: 16 jun. 2020.
https://www.slideshare.net/MarceloForest...
; ALENCAR, 2016ALENCAR, E. Baía de Guanabara: descaso e resistência. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2016. 123 p.).
Os lixões e aterros controlados não contam com revestimento de fundo. Diante da ausência da camada impermeável de proteção, o percolado migra através do solo para as águas subterrâneas, podendo alcançar poços de água para abastecimento ou irrigação, ou, ainda, pelo ciclo hidrológico, as águas superficiais, como lagos e cursos d’água (BOSCOV, 2008BOSCOV, M.E.G. Geotecnia Ambiental. São Paulo: Ed. Oficina de Texto, São Paulo, 2008. 248 p.).
O aterro controlado mais relevante é o Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, considerado, até então, um dos maiores aterros da América Latina. Situado em Duque de Caxias, o aterro foi operado durante décadas, atendendo ao município do Rio de Janeiro. A Estação de Tratamento de Chorume (ETC) de Gramacho, segundo última vistoria realizada pelo INEA em 11 de novembro de 2020, consta como em operação apenas com as etapas primária e secundária de tratamento. Porém, ainda com diversas condicionantes a serem atendidas. Verificou-se também o não atendimento à Resolução CONAMA nº 430 (condições e padrões de lançamentos de efluentes) e à NOP-INEA-08 (Critérios e Padrões para Controle da Toxicidade Aguda em Efluentes Líquidos). Além disso, a eficiência da ETC e o quantitativo de chorume gerado não foram apresentados ao INEA (INEA, 2020INSTITUTO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE (INEA). Relatório de Vistoria Técnica GELANIRVT 29/2020. Rio de Janeiro, 2020.).
Embora desativados, os antigos lixões ainda recebem resíduos de forma clandestina, ilegal e irregular; ademais, não têm estações de tratamento de lixiviados e o despejo de chorume nas águas da Baía de Guanabara continua acontecendo.
O Aterro Controlado Gericinó, situado no bairro de Bangu, iniciou as atividades, em 1987, como lixão, sendo encerrado, em 2014, como aterro controlado, no entanto continua recebendo resíduos de construção civil e de varrição. Gericinó recircula todo o lixiviado gerado e, segundo informação da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB), há um edital para a construção de uma estação de tratamento de lixiviado com capacidade de 200 m3.
O vazadouro Babi se encontra na Área de Preservação Ambiental (APA) do Alto Iguaçu, tendo como limite o Rio das Velhas, tributário do Rio das Botas. O Aterro Controlado Morro do Céu, embora encerrado, continua recebendo resíduos públicos de varrição. Segundo o Comitê de Bacia (2018), estima-se que a Baía de Guanabara recebe 3 milhões de litros de lixiviados por dia, cerca de 1 bilhão de litros por ano.
CONCLUSÃO
Os serviços urbanos causam impactos ambientais significativos nos ecossistemas aquáticos e merecem atenção dos órgãos ambientais e programas de controle. A disposição final de resíduos, seja ela adequada e/ou inadequada, representa ameaça potencial à qualidade das águas, além da degradação do solo e da desvalorização das áreas do seu entorno.
Os 17 municípios que compõem a região RH V, em sua vasta maioria, descartavam seus resíduos entre os anos de 2011 e de 2020 em lixões e aterros controlados. Impulsionados pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, que estabeleceu a obrigatoriedade de encerramento de lixões, instrumentos como o ICMS Ecológico e programas do Governo do Estado, como o Pacto pelo Saneamento (Rio + Limpo e Lixão Zero), contribuíram consideravelmente para o encerramento da maioria dos lixões da região RH-V. Com as concessões e parcerias público-privadas, aterros sanitários foram construídos, seguindo as diretrizes técnicas estabelecidas pelas normas e legislações, e operados por empresas privadas, que os enxergaram como um empreendimento rentável. Não obstante, observou-se que grande parte dos aterros não dispõe de estações de tratamento de lixiviado que atendam à vazão gerada. E os aterros controlados e lixões, ativos e desativados, seguem produzindo lixiviado e descartando, há décadas, nos corpos hídricos da Baía de Guanabara.
O lixiviado bruto vem carregado de substâncias tóxicas e recalcitrantes, metais pesados, nitrogênio amoniacal, transformando os corpos hídricos em ambientes eutróficos, poluídos, que podem causar riscos à saúde pública e ao meio ambiente, bem como danos à economia.
Entre os vazadouros, destaca-se o Aterro Controlado Jardim Gramacho, considerado um dos maiores da América Latina, situado em uma região de mangue e às margens da Baía de Guanabara, um dos cartões-postais do Rio de Janeiro. Esse aterro, que foi encerrado em 2012, mas, possivelmente continua recebendo resíduos de forma clandestina, além do agravante de sido desativado sem a implementação de um plano de remediação e programa de monitoramento da contaminação. No entorno desse aterro surgiram vários pequenos lixões clandestinos e, desde seu encerramento, aumentou o nível de pobreza do Jardim Gramacho, em razão da perda da atividade de catação dos moradores do bairro. Ademais, são frequentes as denúncias dos pescadores prejudicados pelas qualidades das águas, uma atividade responsável pela geração de milhares de reais e dezenas de empregos.
Por sua vez, os aterros sanitários, apesar de serem local de disposição adequada e representarem um avanço conquistado na destinação dos RSU nesta última década, não têm, em sua grande maioria, estações de tratamento de lixiviado para a vazão gerada. A operação do aterro sanitário deve prezar pelo confinamento dos resíduos envoltos em camadas impermeáveis, drenar, coletar e tratar o percolado, protegendo os corpos d’água. E cabe aos órgãos de controle fiscalizar e aferir de forma continuada a operação desses serviços públicos, por meio de indicadores de qualidade.
O tratamento do lixiviado é obrigatório e deve ser realizado tanto nos aterros sanitários, atendendo à vazão gerada, como nos aterros controlados e lixões, sejam eles ativos ou desativados. O monitoramento dessas áreas de disposição final de resíduos deve permanecer por décadas, pois os resíduos sofrem processos bioquímicos de degradação em longo prazo. Espera-se que, com a Lei Estadual nº 9.055 de 2020 estabelecendo a obrigatoriedade do tratamento de lixiviados, os concessionários dos aterros e os municípios possam avançar no tratamento do lixiviado gerado em suas áreas de destinação final e devem contabilizar no preço da tonelada de resíduo, o tratamento do lixiviado.
A Baía de Guanabara, um símbolo nacional e protegido, desde 2012, pela Organização das Nações Unidas (ONU) como patrimônio da humanidade, continua sendo depósito de lixo flutuante, efluentes industriais e domésticos, lixiviados, que trazem poluentes químicos altamente tóxicos e metais pesados, ameaçando a sua vida marinha.
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Financiamento:nenhum.
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Reg. ABES:20200319
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
25 Mar 2022 -
Data do Fascículo
Jan-Feb 2022
Histórico
-
Recebido
09 Mar 2020 -
Aceito
04 Jan 2021