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Alterações na rede social de apoio durante a gestação e o nascimento de filhos

Changes in mothers' social support network during pregnancy and childbirth

Resumos

A rede social de apoio tem sido enfatizada como um dos aspectos mais importantes para o bem-estar materno durante a gestação e o nascimento dos filhos. Este estudo teve como objetivo verificar as alterações no apoio prestado por familiares e não familiares durante esse período, na perspectiva de 45 mulheres grávidas e de 42 com bebês de até seis meses. A coleta de dados consistiu na aplicação de um questionário de caracterização do sistema familiar e de uma entrevista semiestruturada, visando obter informações sobre a estrutura e o funcionamento da família e de sua rede social durante a gestação e o nascimento dos filhos. Os resultados apontaram mudanças na vida familiar, durante essa transição, quanto ao contato social e ao suporte emocional e material. Os dados sugerem a importância da elaboração de programas de educação familiar para a manutenção do equilíbrio familiar, nesse período.

Apoio social; Gravidez; Nascimento de filhos; Rede social; Transição familiar


The social support network has been highlighted as one of the most important factors in maintaining the welfare of mothers during pregnancy and childbirth. The aim of this study is to ascertain the changes in support from family and others during this period, according to 45 pregnant women and 42 women with children under six months old. Data was collected by administering a family questionnaire and a semi-structured interview, focusing on information about the characterization of the family and the social support network during pregnancy and childbirth. The results show that the main changes occurred with social contact and psychological and material support. We suggest that family educational programs are fundamental in helping families during this period of transition.

Social support; Pregnancy; Child birth; Social network; Family transition


ARTIGOS

Alterações na rede social de apoio durante a gestação e o nascimento de filhos1 1 Artigo elaborado a partir da dissertação de M.R. OLIVEIRA, institulada "Nascimento de filhos: rede social de apoio e envolvimento de pais e avós". Universidade de Brasília, 2007. Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Changes in mothers' social support network during pregnancy and childbirth

Maíra Ribeiro de OliveiraI; Maria Auxiliadora DessenI

IUniversidade de Brasília, Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento, Laboratório de Desenvolvimento Familiar. Campus Universitário Darcy Ribeiro, 70910-900, Brasília, DF, Brasil, Correspondência para/Correspondence to: M.A. DESSEN, E-mail: dessen@unb.br

RESUMO

A rede social de apoio tem sido enfatizada como um dos aspectos mais importantes para o bem-estar materno durante a gestação e o nascimento dos filhos. Este estudo teve como objetivo verificar as alterações no apoio prestado por familiares e não familiares durante esse período, na perspectiva de 45 mulheres grávidas e de 42 com bebês de até seis meses. A coleta de dados consistiu na aplicação de um questionário de caracterização do sistema familiar e de uma entrevista semiestruturada, visando obter informações sobre a estrutura e o funcionamento da família e de sua rede social durante a gestação e o nascimento dos filhos. Os resultados apontaram mudanças na vida familiar, durante essa transição, quanto ao contato social e ao suporte emocional e material. Os dados sugerem a importância da elaboração de programas de educação familiar para a manutenção do equilíbrio familiar, nesse período.

Unitermos: Apoio social. Gravidez. Nascimento de filhos. Rede social. Transição familiar.

ABSTRACT

The social support network has been highlighted as one of the most important factors in maintaining the welfare of mothers during pregnancy and childbirth. The aim of this study is to ascertain the changes in support from family and others during this period, according to 45 pregnant women and 42 women with children under six months old. Data was collected by administering a family questionnaire and a semi-structured interview, focusing on information about the characterization of the family and the social support network during pregnancy and childbirth. The results show that the main changes occurred with social contact and psychological and material support. We suggest that family educational programs are fundamental in helping families during this period of transition.

Uniterms: Social support. Pregnancy. Child birth. Social network. Family transition.

O nascimento de filhos é uma das transições mais significativas no curso de vida da família, e, apesar de a gravidez ser uma situação natural na vida da mulher, os sentimentos de ansiedade e as dúvidas quanto às consequências físicas e emocionais da gestação são comuns nessa etapa (Montigny, Lacharitè & Amyot, 2006). As transformações físicas, emocionais e sociais acarretadas pela gestação têm especial impacto na vida da mulher, e a maneira como ela vivencia essa experiência é importante para a própria percepção da gravidez e da maternidade (Piccinini, Gomes, Nardi & Lopes, 2008).

De acordo com Cusinato (1994), as mudanças advindas da parentalidade trazem uma série de benefícios, mas também de desafios e problemas a serem enfrentados pela família, pois a chegada de um recém-nascido isola os pais e requer adaptação à nova situação. Aceitar a criança no sistema familiar e ajustar o relacionamento com a família de origem, com o companheiro e com o ambiente são alguns dos desafios desse período de transição familiar. Assim, adaptar-se à presença da criança, compartilhar a responsabilidade do filho e das tarefas domésticas, e administrar o tempo livre, além de reorganizar as tarefas do trabalho e do ambiente social são tarefas necessárias no ajuste do casal à parentalidade.

As atividades profissionais femininas tendem a ficar em segundo plano durante os primeiros meses de vida do bebê ou mesmo ainda durante a gestação, pois a mãe volta-se para as atividades próprias da maternidade (Piccinini et al., 2008). As mães que voltam ao trabalho logo após o parto queixam-se do pouco tempo que sobra para seus filhos e também do cansaço derivado da dupla jornada (Gjerdingen & Chaloner, 1994). As genitoras que não voltam a trabalhar, por outro lado, relatam tanto ressentimento pelo isolamento social quanto sentimentos de "inadequação" por não estarem cumprindo suas atividades laborativas (Piccinini et al., 2008). Em ambos os casos, a chegada de um novo bebê transforma as relações de trabalho da mulher e as outras atividades que anteriormente ela praticava, exigindo uma readaptação de seus papéis.

Durante o nascimento e no período pós-natal, há uma série de novas tarefas impostas à mãe, e, nesse momento, o apoio social desempenha papel preponderante diante das necessidades financeiras e de descanso da mãe, dos cuidados dispensados ao bebê e da divisão de tarefas domésticas (Dessen & Braz, 2000; Gottlieb & Pancer, 1988; Singley & Hynes, 2005). Esse suporte é fundamental para os cuidados pré e pós-natais recebidos pela mãe, além de possibilitar a diminuição de ocorrências de eventos estressantes (Barnett & Hyde, 2001; Salmela-Aro, Nurmi, Saisto & Halmesmäki, 2000).

Por ocasião do nascimento dos filhos, a rede social de apoio atua desde o período pré-concepcional até o pós-parto (Gottlieb & Pancer, 1988; Piccinini, Silva, Gonçalves, Lopes & Tudge, 2004). Os tipos de ajuda fornecidos são diversificados, abrangendo o suporte material e financeiro, o auxílio nas tarefas domésticas e de cuidado com os filhos, as orientações e informações e o oferecimento de apoio emocional (Dessen & Braz, 2000). Nesse contexto, pode haver o fortalecimento de algumas relações entre as fontes de apoio, a adição de novas fontes ou a exclusão das já existentes (Doss, Rhoades, Stanley & Markman, 2009). É por meio desse sistema de relações formais e informais que os indivíduos recebem suporte emocional, cognitivo e material considerados necessários em situações estressantes (Gottlieb & Pancer, 1988).

Dentre os participantes da rede social de apoio da mãe durante as transições decorrentes do nascimento de filhos, seus companheiros e os próprios pais ou sogros são citados como os principais colaboradores, pois oferecem a ela o suporte na realização das tarefas domésticas e nos cuidados dispensados ao bebê (Burchinal, Follmer & Bryant, 1996). Os estudos têm confirmado a participação do pai ao longo da gravidez e após o nascimento dos filhos e, sobretudo, têm mostrado que ele desempenha um papel ativo e determinante para o bem-estar materno, ainda durante a gestação (Piccinini et al., 2008; Piccinini, Levandowski, Gomes, Lindemeyer & Lopes, 2009). Os avós, por sua vez, também constituem fontes importantes de suporte familiar, provendo apoio emocional, financeiro e instrumental a mães, pais e filhos (Reynolds, Wright & Beale, 2003).

Portanto, para compreender a transição decorrente do nascimento de filhos é fundamental conhecer a estrutura e as funções da rede de apoio das famílias, uma vez que elas variam de acordo com o contexto sociocultural, o tempo histórico e o estágio do curso de vida do indivíduo e da família enquanto grupo (Barnett & Hyde, 2001; Gottlieb & Pancer, 1988; Piccinini, Pereira, Marin, Lopes & Tudge, 2007). Considerando os aspectos que envolvem a rede social familiar durante esse período, este estudo teve como objetivo descrever o apoio prestado às mães por familiares e não familiares, além de verificar as alterações percebidas por elas quanto ao suporte durante a gestação e o nascimento de filhos.

Método

Participantes

Este estudo contou com a participação de 87 mulheres; dessas, 45 estavam grávidas (grupo A) e 42 tinham bebês nascidos nos seis meses anteriores à coleta de dados (grupo B). O grupo A era composto por mulheres grávidas, primíparas ou não, não havendo gestantes de "alto risco"; e o grupo B, por mães de bebês de até seis meses de idade, primogênitos ou não. No grupo A, a maioria (n=39, 87,6%) das mulheres estava entre o quarto e o nono mês de gestação, e 40,0% delas estavam esperando o primeiro filho. No grupo B, a metade das mães tinha apenas um filho.

Todas as mulheres coabitavam com seu companheiro, o pai do bebê, e foram selecionadas em centros de saúde da rede pública do Distrito Federal. As mães, em sua maioria (n=71, 81,6%), tinham idades entre 15 e 29 anos, e os pais entre 20 e 34 anos (n=68, 78,1%). A maioria dos pais e mães tinha ensino fundamental incompleto, tanto no grupo A (n=54, 62,0%) quanto no grupo B (n=44, 50,5%). Quanto à ocupação, 46,0% das mães e 93,0% dos pais exerciam atividades remuneradas, e a renda média das famílias era de aproximadamente 4,7 salários-mínimos.

Procedimentos

A coleta de dados foi efetuada em um único encontro, em centros de saúde da rede pública localizados no plano piloto e nas regiões administrativas do Distrito Federal, e consistiu na aplicação de um questionário de caracterização da família e de uma entrevista semiestruturada, ambos respondidos pelas mães. Os questionários foram preenchidos pelo próprio aplicador para evitar constrangimentos decorrentes de possíveis dificuldades de leitura por parte das mães. As entrevistas foram realizadas após o término do questionário, e a duração média de aplicação de cada instrumento foi de 20 minutos.

O questionário de caracterização do sistema familiar (Dessen, 2009) era composto por três partes: a) identificação da família do estudo; b) informações sobre escolaridade, ocupação, renda, religião, condições de moradia e constelação familiar; e c) dados relativos ao funcionamento familiar, incluindo informações sobre atividades de lazer e de rotina da família. Foram priorizadas questões relativas ao tipo e ao compartilhamento de atividades de lazer, à divisão de tarefas domésticas, às características da rede social de apoio, às condições de saúde e aos principais eventos ocorridos com a família.

Em relação à entrevista, seu roteiro abordou os seguintes aspectos: a) alterações da rede de apoio durante a gravidez e após o nascimento do bebê, b) participação e apoio dispensados pelo marido/companheiro em relação às tarefas rotineiras da casa e aos cuidados com os filhos, c) sentimentos e expectativas quanto à participação do pai na vida familiar e d) influência dos avós na vida familiar.

As questões abertas do questionário, assim como as entrevistas semiestruturadas, foram analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo, a fim de identificar características especiais das mensagens e levantar categorias emergentes no próprio texto (categorias empíricas) (Dessen & Cerqueira-Silva, 2009). Os dados são apresentados de maneira descritiva, de acordo com as orientações para a análise gerada por meio de entrevista semiestruturada (M. D. Gall, J. P. Gall & Borg, 2007). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Saúde do Distrito Federal - Divisão de Pesquisa/CEDRHUS, tendo todos os participantes assinado um termo de consentimento livre e esclarecido antes de sua inclusão na amostra.

Resultados

Nesta seção é apresentado o modo de vida das famílias, destacando-se as alterações nas atividades desenvolvidas e nos trabalhos domésticos realizados pela família, particularmente no que tange aos cuidados com os filhos. São também descritas as alterações percebidas pelas mães quanto ao apoio emocional e material da sua rede social durante a gestação e o nascimento dos filhos.

Em relação às atividades que as famílias mais realizavam durante a semana e nos finais de semana, as mães do grupo A (n=40, 88,8%) relataram ficar em casa, sem nenhuma programação especial, e visitar parentes e amigos, enquanto a maior parte do grupo B relatou participar mais usualmente das atividades da igreja ou permanecer em casa (n=18, 42,8%). As companhias mais usuais das mães durante as atividades eram seus maridos e/ou filhos (grupo A=100,0% e grupo B=100,0%), mas a participação dos demais parentes, além de vizinhos ou amigos (grupo A=93,3% e grupo B=61,90%), também era usual para várias das mães entrevistadas.

Quando perguntadas se houve mudanças quanto à rotina e ao contato social, a maior parte das mães do grupo A (89,3%) e todas as mães do grupo B (100,0%) responderam afirmativamente. Questionadas sobre as mudanças ocorridas, 78,3% delas citaram o fato de as famílias passarem mais tempo em casa do que antes: "não posso fazer quase tudo o que fazia antes, dançar, sair, é muito cansaço" (grupo A) e "com criança pequena é difícil a gente sair, antes eu saía, ia pro trabalho, ia almoçar com alguém, ia na casa de algum amigo, agora, tá mais difícil. Dá muito trabalho sair com criança ... um monte de sacola..." (grupo B).

Para as mães do grupo A que responderam não ter havido mudanças no modo de vida das famílias (2,6%), foi mantida a rotina de visitar parentes, ficar em casa, sair com amigos para festas, reuniões/passeios com pessoas da igreja e bater papo com vizinhos. Elas relataram, por exemplo: "a gente sempre senta à noite na calçada e vamos conversar, bater papo. A maioria trabalha durante o dia, à noite bate aquele calorzão, aí a gente senta lá na calçada e vamos conversar" (grupo A).

Algumas famílias (grupo A=6,6% e grupo B=18,2%) citaram que o contato social aumentou: "Agora, eu vivo de visita... minha prima, ah, vai muita gente" (grupo B). Duas mães do grupo A responderam, ainda, que as pessoas se afastaram depois que elas (as mães) ficaram grávidas, e uma mãe citou que o casal passou a fazer mais atividades juntos, por passarem a coabitar devido ao nascimento do bebê.

A mãe era a principal responsável pela execução de todas as tarefas domésticas, ainda que algumas dessas tarefas fossem divididas com o companheiro, um filho mais velho ou com os avós da criança. A única atividade que mãe e pai dividiam, de modo similar, era a de "fazer compras", sendo, no grupo B, o pai o principal responsável por essa tarefa. A Tabela 1 mostra o percentual do número de vezes em que uma categoria foi citada pelos participantes, e um mesmo participante pode ter mencionado mais de uma categoria.

Verifica-se, ainda, que as mães eram as principais responsáveis pelo cuidado com os filhos, seguida por outros cuidadores: o pai, os avós e os outros filhos (Tabela 1). De acordo com o relato das mães, em 23,9% das respostas do grupo A e 17,2% das do grupo B, o pai contribuía com todas as tarefas relativas aos cuidados com os filhos; além disso, os pais do grupo A contribuíam mais com as atividades domésticas do que os do grupo B.

Quanto às possíveis alterações no recebimento de ajuda para a realização de tarefas domésticas, 39,0% das mães do grupo A relataram ter recebido ajuda durante a gravidez: "O que ela (avó materna) pode fazer, ela faz". Ainda nesse grupo, 29,2% das mães disseram continuar sendo a principal responsável pelas tarefas domésticas, enquanto 26,8% delas citaram que as tarefas passaram a ser divididas.

No grupo B, quase a metade das mães (44,7%) respondeu que continuava executando sozinha as tarefas domésticas, e 13,1% delas relataram não ter havido mudanças na divisão do serviço do lar: "sou eu quem faço, não tem mais ninguém pra fazer pra mim, meu esposo trabalha" (grupo B). Algumas mães desse grupo (13,1%) relataram ter recebido ajuda na execução das tarefas, enquanto 26,3% citaram que houve, de fato, divisão nas tarefas domésticas: "Minha mãe também, quando ela vê que eu tô ocupada e que o bebê está chorando, ela vai e pega ele e fica com ele, quando ela está em casa no sábado e domingo" (grupo B).

Dentre as principais mudanças relatadas pelas mães durante o período gestacional e nos primeiros meses após o nascimento do bebê, encontra-se o aumento no recebimento de apoio, atenção, carinho e de ajuda material e/ou financeira (Figura 1).


Além disso, as mães relataram, também, que se sentiram objeto de maior preocupação e que receberam melhor tratamento do que anteriormente, como fica claro na seguinte fala: "nesses últimos meses, ele (marido) tá maravilhoso comigo. Se eu dou um pulo na cama, ele já levanta pensando que eu tô com alguma coisa. A mulher quando tá grávida precisa muito de carinho. Eu acho que tô recebendo" (grupo A). O apoio recebido do sogro também foi mencionado: "Até dormir lá, às vezes, eu tenho que dormir, meu sogro dorme no chão e eu durmo na cama dele" (grupo B).

A maioria das mães do grupo B relatou que a maior alteração no apoio recebido foi em relação ao provimento financeiro e material, conforme ilustrado pela fala a seguir: "Tudo que eu precisava e ela (a sua mãe) podia me ajudar, ela ajudava. O que ela podia, o que faltava lá em casa, assim de comida, essas coisas, ela sempre me ajudou" (grupo B). As mães desse grupo citaram, também, a atenção, o carinho, a preocupação e o tratamento recebido, que eram melhores do que os recebidos anteriormente. O seguinte depoimento ilustra a situação: "Ele (marido) deu toda a atenção que eu precisei. Na época, minha irmã não morava comigo, então, eu não podia contar com a companhia de uma irmã, duma tia, duma prima, nem da família dele, porque também não mora aqui" (grupo B). No grupo A, seis mães mencionaram não ter recebido o apoio esperado, e duas mães não perceberam mudanças no apoio. No grupo B, todas as mães citaram alguma mudança no apoio recebido.

Na percepção das mães, as pessoas que mais as apoiaram durante a gestação atual (para o grupo A) ou a mais recente (para o grupo B) foram seus familiares, de acordo com várias das respondentes (grupo A=81,5% e grupo B=92,3%). Dentre os familiares, a maioria das mães do grupo A (n=42, 93,3%) e do grupo B (n=35, 83,3%) citou o companheiro como o principal familiar envolvido no apoio durante a gravidez, seguido pelos avós e tios maternos e paternos de seus filhos, outros familiares e os próprios filhos mais velhos. Em ambos os grupos, o apoio dos não familiares foi considerado menos importante para as mães. Dentre eles, foram citados amigos, outras pessoas, vizinhos e empregada ou babá.

Discussão

A rede de apoio declarada pelas mães participantes desta pesquisa é pequena, restringindo-se, de modo geral, a seus familiares, particularmente ao pai e aos avós da criança. Conforme pesquisa realizada por Burchinal et al. (1996), as mães que possuem uma rede social de apoio mais ampla, ou seja, formada por um número maior de contatos e interações diárias, têm acesso a uma maior assistência do que as mães com redes sociais menores. Para esses autores, em uma rede extensa, caso não recebam o apoio esperado em um determinado ambiente social, elas terão uma possibilidade maior de encontrá-lo junto a outras pessoas. No presente estudo, apesar de as mães contarem com uma rede relativamente restrita aos familiares, elas se sentiam satisfeitas, sobretudo com as mudanças positivas que haviam ocorrido durante a transição decorrente do nascimento de filhos. Essa situação sinaliza que, para as mães desta amostra, apenas a quantidade de membros existentes em uma rede social de apoio não é preditora de sua qualidade (Burchinal et al., 1996).

A percepção de que as mães têm que ser cuidadas por seus companheiros, parentes e amigos está diretamente relacionada ao seu bem-estar geral (Gjerdingen & Chaloner, 1994). Ou seja, a sensação de estar sendo cuidada contribui para a melhoria da qualidade de vida da mãe durante esse período de transição, incluindo a diminuição da probabilidade de ocorrência de depressão pós-parto (Singley & Hynes, 2005). O apoio proporcionado por pais, avós e demais parentes tornou-se preponderante para as mães deste estudo, já que essas pessoas estavam cotidianamente presentes na vida das mães. Essas mães relataram aumento no apoio, na atenção e no carinho, comparado ao que recebiam anteriormente, e essas mudanças foram consideradas positivas por elas.

As pessoas mais citadas pelas mães quanto ao apoio oferecido a elas foram seus companheiros e os avós da criança. Esse dado corrobora a literatura, pois, segundo Levitt, Weber e Clark (1986), os maridos, as crianças mais velhas, os pais e as mães (das mães) são os principais participantes da rede social e as principais fontes de apoio. Dessen e Braz (2000) e Piccinini et al. (2007) também encontraram, em seus estudos com famílias brasileiras, que o pai era considerado a principal fonte de apoio das mães.

No entanto, ainda que as mães tenham relatado que os pais participavam da distribuição das tarefas domésticas e do cuidado com os filhos, eles não assumiam a responsabilidade por tarefas cotidianas, cabendo esse papel a elas próprias. A única atividade doméstica em que a participação dos pais igualava-se à das mães era "fazer compras" e, ainda assim, as mães eram as principais responsáveis. De acordo com Barnett e Hyde (2001), é comum a mulher se responsabilizar pelas tarefas domésticas, enquanto o homem se responsabiliza pelas compras e pela aquisição de bens materiais para o lar. Portanto, os dados de nosso estudo indicam que o papel do pai brasileiro continua sendo o de provedor, conforme sugerido por Lewis e Dessen (1999).

Os pais, em especial, têm estado mais envolvidos com a criação dos filhos desde a gestação, além de mais próximos afetivamente de sua companheira e do bebê (Piccinini et al., 2008). No grupo A, muitas das famílias estavam vivendo a primeira gestação, o que pode ter trazido sentimentos de "novidade" para o casal, inclusive na redistribuição das tarefas domésticas. Outro aspecto importante a ser considerado é o relacionamento conjugal. Em pesquisa realizada por Levitt et al. (1986), grande parte das mães considerou que houve mudanças, tanto negativas quanto positivas, nos relacionamentos com seus maridos após o nascimento do bebê. Já na presente pesquisa, a maioria das mães não relatou mudanças nas relações com o companheiro. De qualquer maneira, a transição para a parentalidade constitui uma grande alteração na vida do homem e da mulher, acarretando mudanças tanto positivas quanto negativas para o casal (Lawrence, Nylen & Cobb, 2007; Piccinini et al., 2004), que devem ser mais bem investigadas no contexto brasileiro.

Quanto às mudanças relacionadas aos demais familiares, nota-se que o apoio prestado pelos avós, especialmente pelas avós maternas, foi de grande importância para as mães do estudo, confirmando dados da literatura (Dessen & Braz, 2000; Piccinini et al., 2007; Reynolds et al., 2003). Nesta pesquisa, o apoio fornecido pelos avós quando do nascimento dos netos foi percebido por grande parte das mães de ambos os grupos, que relatou que eles haviam contribuído emocional, material e financeiramente durante a gestação e o nascimento dos netos.

A diminuição de contatos com amigos e outras pessoas em geral, decorrente de dificuldades em manter uma vida social fora do lar, pode ser intensificada quando as mulheres não têm atividades laborais fora de casa, o que favorece o seu isolamento, conforme afirmam Singley e Hynes (2005). Salmela-Aro et al. (2000) consideram ser comum as mulheres exercerem, com menor frequência, funções remuneradas após o nascimento do bebê. No entanto, mais da metade das mães de nosso estudo, em ambos os grupos, já era composta por mulheres que não trabalhavam fora e executavam, quase todas, apenas atividades domésticas. Das mães que trabalhavam, algumas deixaram de trabalhar ou até mesmo de estudar para cuidar de seus filhos e do lar, o que favoreceu ainda mais seu isolamento e a diminuição de contatos com amigos. Além disso, no caso da amostra deste estudo, esse isolamento pode ser mais acentuado, uma vez que a população do Distrito Federal vem sendo formada nos últimos 50 anos, e a maior parte dos familiares das mães da pesquisa reside em outros estados brasileiros. Portanto, a chegada de um recém-nascido favoreceu o isolamento dos genitores, conforme relatado na literatura (Cusinato, 1994; Salmela-Aro et al., 2000; Singley & Hynes, 2005).

A diferença na percepção das mães dos grupos A e B quanto ao recebimento de apoio nas tarefas domésticas durante a gestação e o pós-parto merece destaque. Essa disparidade pode ter ocorrido pelo fato de que, no grupo B, todas as mulheres tinham um filho de até seis meses, e metade delas tinha, também, ao menos outro filho. Portanto, é possível que as mães, além de estarem reorganizando a vida familiar em decorrência da chegada de um novo membro da família, estavam se sentindo mais sobrecarregadas pelo acúmulo de funções com as tarefas domésticas e com os outros filhos.

Já no grupo A, quase metade das mães estava grávida de seu primeiro filho, variando entre o quarto e o nono mês de gestação. Possivelmente, a carga de tarefas domésticas dessas mães era menor, não tendo elas que dispensar atenção e cuidados com outros filhos. Ademais, nesse período da gestação, as mudanças físicas no corpo da mãe são evidentes, e é comum que as pessoas se compadeçam pelo estado da gestante, auxiliando-a no que seja necessário. Por fim, cabe ressaltar que, ainda que as mães do grupo B tenham sido questionadas tanto sobre o período atual quanto sobre sua última gestação, a tendência pode ter sido falar apenas sobre a situação vivenciada no momento de coleta de dados.

Em síntese, os dados deste estudo ressaltam a importância da família como a principal fonte de apoio materno, já que os parentes foram bem mais citados do que os não familiares e as instituições. Ainda que seja necessário considerar os diferentes sistemas familiares e não familiares envolvidos na rede social de apoio, fica claro que a família ainda é a principal fonte de apoio no contexto brasileiro. No entanto, para as pesquisas futuras, faz-se necessário que outros membros da família, especialmente os pais, sejam consultados.

Apesar de o uso de entrevistas semiestruturadas e questionário ter contribuído para a qualidade dos resultados apresentados neste estudo, é importante, também, que se faça uso de outros tipos de instrumentos que possibilitem o acesso a informações de natureza distinta e/ou aprofundadas (Weber & Dessen, 2009). Por exemplo, a metodologia de observação, em especial, forneceria informações valiosas a respeito do funcionamento e da qualidade da rede de apoio da família em seus diferentes subsistemas.

Embora esta pesquisa tenha explorado a presença da família das mulheres entrevistadas, outros estudos são necessários no contexto brasileiro a fim de se compreender melhor o modo de vida das famílias e de sua rede de apoio durante as transições decorrentes do nascimento dos filhos. O isolamento da mãe e as mudanças nas suas atividades cotidianas e no seu contato social demandam uma reorganização da família, o que pode gerar estresse materno ou mesmo desestruturação familiar, especialmente quando a mãe não conta com uma rede de apoio satisfatória.

Assim, é muito importante que os apoios emocionais e práticos sejam trabalhados junto aos pais ainda durante a gestação, permitindo a família a lidar melhor com o nascimento dos filhos (Gjerdingen & Chaloner, 1994; Salmela-Aro et al., 2000). Nesse contexto, os programas de educação familiar trariam contribuições efetivas para a melhoria da qualidade de vida das famílias brasileiras (Pereira-Silva & Dessen, 2005).

Recebido em: 13/1/2010

Versão final reapresentada em: 16/8/2011

Aprovado em: 27/10/2011

Agradecimentos: ao grupo de estudos do Laboratório de Desenvolvimento Familiar.

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    Artigo elaborado a partir da dissertação de M.R. OLIVEIRA, institulada "Nascimento de filhos: rede social de apoio e envolvimento de pais e avós". Universidade de Brasília, 2007. Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Abr 2012
    • Data do Fascículo
      Mar 2012

    Histórico

    • Recebido
      13 Jan 2010
    • Aceito
      27 Out 2011
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