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PLANEJAMENTO, MANEJO E ASPECTOS SOCIAIS EM ARBORIZAÇÃO URBANA: O CASO DO BAIRRO ECOLOGIA, SEROPÉDICA, RJ

URBAN TREES PLANNING, MAINTENANCE AND SOCIAL ASPECTS IN ECOLOGIA DISTRICT, SEROPÉDICA -RJ

RESUMO

São constantes os conflitos entre a falta de urbanização de bairros em desenvolvimento, aspectos sócio-econômico-culturais e a conservação e plantio de árvores em vias públicas. O inventário de todas as árvores com mais de 1,30 m de altura e até 2,0 m de afastamento do meio-fio no Bairro Ecologia, em Seropédica- RJ, revelou as pressões sofridas por árvores situadas em locais que ainda não possuem calçamento, pavimentação, entre outros elementos de infra-estrutura urbana. Observou-se também durante este trabalho a interação dos moradores com a arborização viária local, demonstrando a importância da participação da comunidade nas ações de planejamento, implementação e manejo.

Palavras-chaves:
Arborização urbana; planejamento; aspectos sociais

ABSTRACT

The conflicts among urban trees, urban development and fellowship are constant. A street arboricultural analyze in Ecologia District (Seropédica - RJ), revealed the pressures suffered by trees in places without urban infrastructure elements. It was also observed a social interaction with the urban trees, demonstrating the importance of the community’s participation in the planning and handling actions.

Key words:
Urban trees; planning; fellowship

As cidades arborizadas no Brasil, não contaram com o devido planejamento e nem contam com a adequada manutenção (MILANO, 1994MILANO, M. S. Arborização Urbana: Plano Diretor. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA. Anais. São Luiz: SBAU, p.207-15, 1994.), além do que, as comunidades de locais em fase de desenvolvimento possuem prioridades imediatas em seus anseios, as quais quase sempre não lhes permitem compreender ou respeitar a importância do ambiente natural (FERREIRA et al, 1992FERREIRA, R. L. C. et al. Arborização Urbana em Assentamentos Habitacionais da Região Metropolitana do Recife. In: 1° CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA. 4° ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA. Anais II. Vitória, ES; Prefeitura Municipal de Vitória, p.389-402, 1992.).

Por outro lado, cabe destacar a falta de orientação por parte do poder público relativamente a normas para construção de calçadas com o objetivo de permitir um adequado desenvolvimento aos vegetais (SANCHOTENE, 1994SANCHOTENE, M. C. C. Desenvolvimento e Perspectivas da Arborização Urbana no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA. Anais. São Luiz: SBAU, p. 15-25, 1994.), bem como levar em consideração no planejamento da arborização viária a caracterização sócio-econômico-cultural locais, considerando-se aspectos legais, uso e ocupação do solo e expectativas da população para com as questões ambientais (MILANO, 1994MILANO, M. S. Arborização Urbana: Plano Diretor. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA. Anais. São Luiz: SBAU, p.207-15, 1994.).

A ausência desta preocupação por parte do poder público nas ações de planejamento e manutenção em bairros pobres ou periferia de bairros em desenvolvimento compromete a potencialização dos múltiplos benefícios da arborização viária e até sua existência, caso ela seja priorizada

O estudo de caso realizado no Bairro Ecologia, situado em área federal no município emancipado de Seropédica (RJ) demonstra as pressões sofridas pela arborização viária em locais onde a infra-estrutura urbana não está definida apresentando contínuo desenvolvimento, e visa contribuir na elaboração de melhores práticas de manejo e planejamento local, bem como exemplo para áreas adjacentes.

A arborização do bairro foi iniciada em 1948, por um órgão do governo já extinto (Centro Nacional de Ensino e Pesquisa Agronômica - CINEPA); que vem sendo mantida e incrementada aleatoriamente pela Prefeitura Universitária da UFRRJ e pelos próprios moradores. O bairro é composto de 22 ruas, 5 travessas e 4 pequenas ruelas que circundam a única praça do local, num total de aproximadamente 8,295 km de rede viária.

No período de abril de 1996 à julho de 1997, foi realizado inventário quali-quantitativo de todas as árvores com mais de 1,30 m de altura e com até 2,0 m de afastamento do meio-fio (COUTINHO et al., 1996COUTINHO, C. L., MALAVASI, U. C., VEIGA, B. G. A., SCALISE, M. E SANTOS, A. S. Análise da Arborização Viária do Bairro Ecologia, do Município de Seropédica, RJ. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS (4, Belo Horizonte, 1996). Resumo. Belo Horizonte, p.198, 1996.; 1998).

Das 22 ruas percorridas, nove apresentaram deficiência de elementos de infra-estrutura viária, como calçamento e ausência de meiofio. A ausência de muros em algumas casas, e sua gradativa implantação sem qualquer padrão de afastamento do meio-fio comprometeu as possíveis ações de implementação na arborização viária.

O plantio de árvores em calçadas não pavimentadas e em frente à terrenos não urbanizados resultou em (i) 5,4% das 735 árvores inventariadas apresentando queima do tronco ou da copa devido à limpeza de canteiros e calçadas com uso de fogo, e (ii) 2,4% das árvores utilizadas como moirão em cercas de arame farpado. Em apenas uma única rua foi constatado após a limpeza de canteiros com uso de fogo, a eliminação de 17 espécimens de Albizzia lebbeck e a queima de dois exemplares de Senna siamea, únicas árvores restantes devido ao porte adulto.

As calçadas sem pavimentação apresentaram também outros incovenientes. Na impossibilidade do uso de fogo, sua manutenção torna-se uma constante devido ao grande número de regenerações por dispersão de sementes: em uma única rua foram encontradas aproximadamente 100 mudas em pleno desenvolvimento, o que representa um implemento desordenado, além do custo para manutenção periódica.

Com a implantação desordenada de muros, cercas-vivas, cercas de arame ou bambu, tomou-se difícil o plantio de árvores no pequeno espaço definido como calçada (< 1,0 m). Esta situação, verificada em três ruas do bairro, sugere uma consulta aos moradores para implemento em sua arborização particular, visto que a rua é estreita, impedindo o aumento da largura das calçadas.

Muitos moradores utilizaram essências florestais para implantar cercas-vivas (Caesalpinea mimosaefolia Benth, Ficus sp, etc.), e a falta de manutenção das mesmas implica numa influência das árvores na arborização viária, nas redes aéreas de luz e telefonia, de maneira desorganizada.

Entre ruas e travessas, 17 são usualmente ocupadas em sua maioria por moradias de professores e pesquisadores da Embrapa, Pesagro e UFRRJ; enquanto 8 sediam moradias de funcionários de nível superior, médio e de apoio destas instituições.

Dentro desta observação, foram encontradas na arborização do bairro 77 espécies distribuídas em 735 indivíduos (COUTINHO et al., 1998COUTINHO, C. L., VEIGA, B. G. A., MALAVASI, U. C., SCALISE, M., SANTOS, A. S. Avaliação da Arborização do Bairro Ecologia, RJ. IV CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA. Anais. Porto Alegre, 1998.); das quais 15 frutíferas, próprias para o consumo humano, distribuídas em 77 indivíduos, o que representa aproximadamente 10,48 % da arborização inventariada do bairro

Nas ruas com moradias ocupadas por funcionários de nível superior, médio e de apoio, foram encontradas 57% do total de espécies frutíferas do bairro, representando estas espécies 30% da arborização total das referidas ruas; enquanto que as vias onde predominam residências de professores e pesquisadores, prevaleceram as espécies ornamentais.

Esta situação sugere possivelmente preferência local dos moradores por determinadas espécies de árvores, relacionada à sua condição sócio-econômico-cultural; tornando fundamental uma consulta-formal à comunidade, prévia às ações de manejo.

Por outro lado, árvores sinalizadas com desenhos, nomes, cortes feitos à faca, e utilização de tronco como suporte para placas e latas de lixo representaram 11,56% dos indivíduos totais da arborização do bairro. Deste percentual, a maior parte das árvores sinalizadas foi encontrada em ruas próximas às escolas do bairro ou em locais de concentração de crianças e adolescentes, como a única praça local.

Este tratamento inadequado dado às árvores de rua por parte da comunidade evidencia a necessidade de uma campanha educacional voltada para as escolas e moradores locais, conscientizando o público-alvo da importância e conservação da arborização urbana; seja com essências ornamentais ou frutíferas.

A interação de aspectos sócio-econômico-culturars na preferência por espécies ornamentais e frutíferas na arborização urbana observada entre os moradores do Bairro Ecologia, deve (i) ser levada em consideração nas ações de manejo e implementação da arborização local, e (ii) contribuir como exemplo para o planejamento e manejo das áreas adjacentes do município.

Por fim, as ações de planejamento, manejo e implementação na arborização urbana, são prejudicadas pela falta de urbanização dos bairros em desenvolvimento, e requerem cuidados específicos na sua implantação; principalmente quando os elementos de infraestrutura ausentes são prioritários para a qualidade de vida urbana

LITERATURA CITADA

  • COUTINHO, C. L., MALAVASI, U. C., VEIGA, B. G. A., SCALISE, M. E SANTOS, A. S. Análise da Arborização Viária do Bairro Ecologia, do Município de Seropédica, RJ. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS (4, Belo Horizonte, 1996). Resumo. Belo Horizonte, p.198, 1996.
  • COUTINHO, C. L., VEIGA, B. G. A., MALAVASI, U. C., SCALISE, M., SANTOS, A. S. Avaliação da Arborização do Bairro Ecologia, RJ. IV CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA. Anais. Porto Alegre, 1998.
  • FERREIRA, R. L. C. et al. Arborização Urbana em Assentamentos Habitacionais da Região Metropolitana do Recife. In: 1° CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA. 4° ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA. Anais II Vitória, ES; Prefeitura Municipal de Vitória, p.389-402, 1992.
  • MILANO, M. S. Arborização Urbana: Plano Diretor. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA. Anais. São Luiz: SBAU, p.207-15, 1994.
  • SANCHOTENE, M. C. C. Desenvolvimento e Perspectivas da Arborização Urbana no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA. Anais. São Luiz: SBAU, p. 15-25, 1994.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Dec 1999
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