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VARIAÇÃO SAZONAL DE SCOLYTIDAE (COLEOPTERA) NUMA COMUNIDADE DE FLORESTA NATURAL DE SEROPÉDICA, RJ

SEASONAL VARIATION OF SCOLYTIDAE IN A NATURAL FOREST COMMUNITY AT SEROPEDICA, RJ, BRAZIL

RESUMO

Visando estabelecer a incidência e a frequência mensal das espécies de Scolytidae, que ocorrem na área do sistema integrado de produção agroecolôgica, EMBRAPA, Itaguaí, RJ, foram instalados dois modelos de armadilhas etanólicas (Marques-Pedrosa e Carvalho-47) a uma altura de 1.30m, com renovação do atrativo durante as coletas. As coletas foram realizadas semanalmente entre os meses de outubro de 1993 a novembro de 1994. Foram capturados 609 espécimens, distribuídos em sete gêneros, dezenove espécies e três não identificadas: Hypothenemus eruditus Westwood, 1636 foi a espécie dominante, com 27,59% dos indivíduos capturados, seguida por H. obscurus (Fabricius) 1601 (19,21%), Xyleborus affinis Eichhoff, 1867 (17,08%), com freqüências superiores a 10%. A época com maior ocorrência de indivíduos foi nos meses de novembro e dezembro. Sendo que as espécies Cryptocarenus hevea (Hagedorn), 1912 e H. bolivianus (Eggers), 1931 apresentaram picos populacionais em fevereiro, enquanto que X. affinis foi em dezembro e X. hagedoni Iglesias, 1914 nos meses de julho e agosto.

Palavras-chave:
Scolytidae; coleobrocas; armadilha para inseto

ABSTRACT

The aim of this study was to investigate the seasonal variation of Scolytidae species found at the EMBRAPA agroecological farmer. Two etanol trapping systems, developed by Marques-Ped rosa and Carvalho 47 were used and placed at 1,30 m of height. The attractive was changue after each harvest. The samples were collected weekly between October 1993 and November 1994. 609 insects were collected and distributed amoung seven genera, nineteen species and three were not yet identified. Hypothenemus eruditus Westwood, 1836 was the dominant specie (27,59%) followed by H. obscurus (Fabricius), 1801 (19,21 %) a nd Xyleborus affinis Eichhoff, 1867 (17,08%). During November and December higher numbers of insects were observed. Cryptocarenus hevea (Hagedorn), 1912 e H. bolivianus (Eggers), 1931 showed the population peak at February, X. affinis at December and X. hagedoni Iglesias, 1914 at July and August.

Key Words:
Scolytidae; bark beetle; insect’s trap.

INTRODUÇÃO

Entre os insetos que maiores danos ocasionam às florestas de coníferas do mundo destacam-se as coleobrocas família da Scolytidae, embora estejam também presentes em áreas com florestas de folhosas. Baseando-se no padrão de galerias que constróem nas árvores, nofloema ou no xilema, os scolytideos foram agrupados em: verdadeiros besouros da casca; besouros perfuradores da madeira e besouro de ambrosia (BAKER, 1972BAKER, W. L, 1972. Eastern forest insects. Miscellaneous Publication, USDA-FS, Washington (1175): 227-72.).

Sobre a importância da família Scolytidae, segundo Schedl, citado por MARQUES (1984)MARQUES, E. N., 1984. Scolitydae e Platypodidae em Pinus taeda. Curitiba, Universidade Federal do Paraná. 65 p. (Dissertação de Mestrado)., há atualmente 5. 682 espécies entre besouros da ambrosia pertencentes à familia Scolytidae, cuja subdivisão abrange 5 subfamílias distribuídas em 255 gêneros que são as seguintes: Scolytinae, com 5 gêneros e 196 espécies; Hylesininae, com 87 gêneros e 1.195 espécies; Xyloctoninae, com 5 gêneros e 57 espécies; Ipinae, com 157 gêneros e 4. 197 espécies; Scolytoplatypinae, com 1 gênero e 37 espécies.

Quanto ao vôo de dispersão, SAFRANYIK (1976)SAFRANYIK, L., 1976. Climatic barriers and influences on integrated control of Dendroctonus ponderosae Hopkins (Coleoptera: Scolytidae) in Western Canada. In: World Congress, 16 Norway. Division II. Forest plants and forest protection. P. 429-438. registrou que a saída dos adultos jovens hibernantes, de seus locais de abrigo, ocorre somente quando a temperatura atinge valores que permitam ao vôo, sendo que grandes diferenças ocorrem nos níveis de temperatura de vôo entre as espécies de besouros de casca e da ambrosia. Segundo POLLET (1977)POLLET, A., 1977. Species diversity and distribuition of Sxolytidae along the forest boundary in a forest boundary in a forest savanna mosaic belt of the Ivory Coast. Oikos, 29(1): 186-192., os insetos das florestas tornam-se mais ativos durante a estação das chuvas, período que favorece ao vôo, em busca de novas fontes de alimento. ENKERLIN e FLORES (1979)ENKERLIN, S., D. e J. E. FLORES, 1979. Estudio de la fluctuatión de poblaciones del complejo de escarabajos descortezadores del género Dendroctonus (Coleoptera: Scolytidae) en la Sierra Madre Oriental, N. L. en 1976-77. Informe de investigación, División de Ciencias Agropecuarias y Marítimas, Instituto Tecnológico de Monterrey, n° 16, p. 76-77. estudaram a flutuação e abundância dos besouros da casca com relação à temperatura e observaram influência deste parâmetro no comportamento dos besouros.

Algumas espécies da família Scolytidae influenciam o crescimento e o desenvolvimento das árvores atuando como vetores de algumas doenças causadas por fungos, bactérias e vírus. HINDS (1971)HINDS, T. E., 1971. Insect transmission of Ceratocystis species. Phytopathology, 62(2) :221-225. relatou que uma vez introduzido o fungo na galeria e no tecido vegetal, ele se desenvolve rapidamente, obstruindo o sistema vascular causando a morte da árvore. SCHREIBER e PEACOCK (1975)SCHREIBER, R. L. e J. W. PEACOCK, 1975. Dutch elm disease and its control. Agriculture Information Bulletin, United States Departament of Agriculture, Forest Service and Agricultural Research Service, n° 193, 15p. afirmaram que o fungo Ceratocystis ulmi é causador da doença do olmo, nos Estados Unidos, e que os besouros Scofytus multistriatus (Marsham) e Hylurgopinus rufipes (Eichh.) são vetores deste fungo.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido num bosque de vegetação nativa, na área do Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiología, CNPAB, EMBRAPA, Seropédíca, RJ.

As coletas foram feitas semanalmente, durante o período de outubro de 1993 a novembro de I994. As coletas dos insetos foram realizadas por armadilhas de impacto, modelos Marques-Pedrosa e Carvalho-47, instaladas a um metro do solo. O atraente utilizado foi etanol com concentração de 96%.

A armadilha Carvalho-47 foi adaptada, visando facilitar a confecção, através de utensílios facilmente encontrados no comércio, além de material descartável, procurando manter as características funcionais do modelo utilizado por ZELAYA (1985)ZELAYA, M. R. M. Observações sobre o comportamento de Xyleborus spp. (Coleoptera: Scolytidae) em florestas de Pinus spp. na região de Agudos, Estado de São Paulo. Piracicaba, ESALQ-USP, 83 p. (Dissertação de Mestrado). e MARQUES-PEDROSA (1985)PEDROSA-MACEDO, J. H. & SCHONHERR, J., 1985. Manual dos Scolytidae nos reflorestamentos brasileiros. UFPR, 69 p..

Para que as coletas fossem realizadas semanalmente, foi utilizado como depósito do etanol (isca) uma mangueira de plástico, com 25 cm de comprimento e quatro milímetros de diâmetro.

Os insetos coletados semanalmente foram levados ao Laboratório de Entomologia do Instituto de Florestas para triagem, montagem e etiquetagem sendo posteriormente encaminhados ao Laboratório de Proteção Florestal da Universidade Federal do Paraná, para identificação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A frequência e o número de indivíduos por espécies da família Scolytidae, coletadas com armadilhas de impacto, modelo Marques- Pedrosa e Carvalho-47, num bosque de vegetação nativa na região de Seropédíca, RJ, estão demonstrados nas Tabelas 1 e 2.

ESPÉCIES IDENTIFICADAS

Na área foram capturados 609 insetos da família Scolytidae, sendo identificados sete gêneros e dezenove espécies. As três espécies não identificadas pertencem aos gêneros Cnesinus, Corthylocurus e Hypothenemus, com freqüências inferiores a 1%. As maiores freqüências encontradas foram: 34, 17; 28, 22; 23,75% das espécies Hypothenemus eruditus; H. obscurus e Xyleborus affinis, respectivamente (Tabelas 1 e 2).

TABELA 1
Freqüência, em porcentagem, e total de indivíduos por espécies da família Scolytidade, coletadas com armadilha modelo Marques-Pedrosa, num bosque de vegetação nativa na região de Seropédica, RJ. 1995
TABELA 2
Freqüência, em porcentagem, e total de indivíduos por espécie da família Scolytidade, coletadas com armadilha adaptadas, modelo Carvalho- 47, num bosque de vegetação nativa na região de Seropédica, RJ. 1995.

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL

As flutuações populacionais das espécies de Scolytidae na vegetação nativa foram avaliadas no período de outubro de 1994 a novembro de 1995. No período considerado os picos populacionais expressivos iniciaram em outubro e persistiram até dezembro, para as espécies H. eruditus e H. obscurus (Figura 1). As espécies Cryptocarenus heveae e H. bolivianus apresentaram picos populacionais em fevereiro (Figura 2). Enquanto que para X. affinis o pico foi em dezembro e para X. hagedorni foi em julho e agosto (Figura 3).

CONCLUSÕES

  1. As espécies que apresentaram maior frequência foram H. obscurus e H.eruditus, seguido por X. affinis na vegetação nativa da região de Seropédica, RJ.

  2. O pico populacional da espécie H.eruditus ocorreu em outubro e novembro; de H. obscurus foi registrado em setembro, outubro e novembro de 1994, de X. affinis em novembro e dezembro; para Cryptocarenus hevea e H. bolivianus foi em fevereiro, de X. affinis foi em dezembro e de X. hagedoni em julho e agosto.

FIGURA 1
Flutuação populacional de Hypothenemus eruditus e H. obscurus num bosque de vegetação nativa, no período de outubro de 1993 a novembro de 1994, na região de Seropédica, RJ. 1995.

FIGURA 2
Flutuação populacional de Cryptocarenus heveae e Hypothenemus bolivianus num bosque de vegetação nativa, no período de outubro de 1993 a novembro de 1994, na região de Seropédica, RJ. 1995.

FIGURA 3
Flutuação populacional de Xyleborus affinis e X. hagedorni num bosque de vegetação nativa, no período de outubro de 1993 a novembro de 1994, na região de Seropédica, RJ. 1995.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

  • BAKER, W. L, 1972. Eastern forest insects. Miscellaneous Publication, USDA-FS, Washington (1175): 227-72.
  • ENKERLIN, S., D. e J. E. FLORES, 1979. Estudio de la fluctuatión de poblaciones del complejo de escarabajos descortezadores del género Dendroctonus (Coleoptera: Scolytidae) en la Sierra Madre Oriental, N. L. en 1976-77. Informe de investigación, División de Ciencias Agropecuarias y Marítimas, Instituto Tecnológico de Monterrey, n° 16, p. 76-77.
  • HINDS, T. E., 1971. Insect transmission of Ceratocystis species. Phytopathology, 62(2) :221-225.
  • MARQUES, E. N., 1984. Scolitydae e Platypodidae em Pinus taeda. Curitiba, Universidade Federal do Paraná. 65 p. (Dissertação de Mestrado).
  • PEDROSA-MACEDO, J. H. & SCHONHERR, J., 1985. Manual dos Scolytidae nos reflorestamentos brasileiros. UFPR, 69 p.
  • POLLET, A., 1977. Species diversity and distribuition of Sxolytidae along the forest boundary in a forest boundary in a forest savanna mosaic belt of the Ivory Coast. Oikos, 29(1): 186-192.
  • SAFRANYIK, L., 1976. Climatic barriers and influences on integrated control of Dendroctonus ponderosae Hopkins (Coleoptera: Scolytidae) in Western Canada. In: World Congress, 16 Norway. Division II. Forest plants and forest protection. P. 429-438.
  • SCHREIBER, R. L. e J. W. PEACOCK, 1975. Dutch elm disease and its control. Agriculture Information Bulletin, United States Departament of Agriculture, Forest Service and Agricultural Research Service, n° 193, 15p.
  • ZELAYA, M. R. M. Observações sobre o comportamento de Xyleborus spp. (Coleoptera: Scolytidae) em florestas de Pinus spp. na região de Agudos, Estado de São Paulo. Piracicaba, ESALQ-USP, 83 p. (Dissertação de Mestrado).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    1996
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