Resumo
Este artigo investiga possíveis analogias entre a escuta e o olhar do documentarista Eduardo Coutinho e a atenção psicológica psicanaliticamente orientada. A filmografia de Eduardo Coutinho questiona a simples dualidade entre realidade e ficção. Também a psicanálise questiona essa dualidade, a partir de noções como realidade psíquica e realidade material, por exemplo. Freud chegou a afirmar que o aparelho psíquico se constitui enquanto ficção, problematizando os limites entre a realidade objetiva e o vivido. Em uma situação de análise, é por meio da associação livre por parte do paciente e da escuta interessada que acredita na verdade do sujeito por parte do analista que podem ocorrer transformações, de modo que representações sejam modificadas, situações traumáticas elaboradas, o sofrimento dirimido. Nesse caso, tanto a atenção psicológica quanto a de Eduardo Coutinho estariam atestando a existência dos sujeitos por meio de uma abertura radical à alteridade e tomando a existência também em sua vertente ficcional.
Palavras-chave:
cinema; psicanálise; Eduardo Coutinho; alteridade