Resumo
O presente artigo tem como objetivo a partilha de uma experiência profissionalizante em Psicologia na qual, por meio do programa de estágio, foi desenvolvido um trabalho de intervenção clínica, durante os anos de 2016 a 2017, voltado a mães - além de familiares e amigos - que perderam seus filhos, vítimas de execuções policiais em favelas da cidade do Rio de Janeiro. No presente trabalho, é feito um recorte dessa experiência, apresentando um caso clínico no qual as práticas de cuidado são convergidas a uma das mães participantes que, após a recente execução de seu filho, vive grande sofrimento passando por tentativas de suicídio. A partir de uma prática transdisciplinar da clínica, voltada à contração do coletivo por meio do dispositivo-grupo e orientada pelo método do pesquisarCOM, são tecidas conexões entre a cultura racista brasileira e as suas reproduções, tais como a atual guerra às drogas, sendo contextos indissociáveis do caso clínico.
Palavras-chave: clínica transdisciplinar; violência policial; racismo; favelas
Abstract
The present article aims to share a professionalizing internship experience in psychology, which occurred during the years of 2016 and 2017, when a clinical intervention is developed with mothers whose sons were victims of lethal police brutality in the favelas of Rio de Janeiro. Amongst this experience, a specific clinical case event is selected, in which the care practices are converged to one of the mothers, who experiences intense suffering, attempting suicide, following the recent execution of her son. After a transdisciplinary clinical practice, focused on the contraction of the collective through the group-device and guided by the reserchWITH method, are presented connections between brazilian’s racist regime and its re-productions, such as the current politics of war on drugs, as being contexts inseparable from the clinical case.
Keywords: transdiciplinary clinic; police violence; racism; favelas
Resumen
Este artículo tiene como objetivo compartir una experiencia profesional en Psicología en la que, a través del programa de prácticas, se desarrolló un trabajo de intervención clínica, durante los años 2016 a 2017, dirigido a madres - además de familiares y amigos - que perdieron a sus hijos, víctimas de ejecuciones policiales en favelas de la ciudad de Río de Janeiro. En el presente trabajo, se realiza un recorte de esta experiencia, presentando un caso clínico en el que convergen las prácticas de atención a una de las madres participantes que, tras la reciente ejecución de su hijo, vive un gran sufrimiento pasando por intentos de suicidio. A partir de una práctica clínica transdisciplinar, centrada en la contracción de lo colectivo a través del grupo-dispositivo y orientada por el método de investigarCOM, se tejen conexiones entre la cultura racista brasileña y sus reproducciones, como la actual guerra contra las drogas, siendo contextos inseparables del caso clínico.
Palabras clave: clínica transdisciplinar; violencia policial; racismo; favelas
Introdução
Durante os anos de 2016 e 2017 inicia-se o desenvolvimento de um trabalho que tem por objetivo oferecer atendimento psicológico a mães - além de familiares e amigos - que tiveram seus filhos mortos por agentes policiais, representantes do Estado, na cidade do Rio de Janeiro. Este trabalho é resultante da parceria entre o Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e uma organização de apoio aos movimentos sociais.1 Como aluna de graduação em Psicologia e estagiária deste projeto que se iniciava, tive participação direta no processo de construção do campo de atuação, trabalhando em parceria com a psicóloga da organização de apoio aos movimentos sociais, responsável pelos atendimentos.
O presente artigo desenvolve um relato dessa experiência profissional. Para tal, apresentamos no caso clínico a primeira ida a campo, assim como o dispositivo clínico grupal a partir do qual um cuidado direcionado a uma das mães se dá. A primeira ida ao local acontece no dia da reconstituição do caso de uma chacina ocorrida na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, na qual cinco jovens são executados ao retornarem para suas casas no final do dia. A chacina é descrita em aliança à contextualização histórico-política que compõe a tessitura do caso. O caso clínico é desenvolvido em três partes: a primeira apresenta a chacina como um evento performativo das forças racistas do socius; a segunda apresenta as relações construídas no processo de grupalização, quando Ana2 convoca nossa atenção, aglutinando e contraindo o coletivo como demanda de cuidado; neste ponto transita-se pela terceira parte do caso, na qual é exposto o emergir de um dos dispositivos clínicos de intervenção - um mutirão de faxina -, suas práticas e implicações. Por fim, nas considerações finais, são trazidas algumas falas de Ana a respeito dos efeitos produzidos pelos dispositivos de cuidado, compartilhadas ao longo dos anos seguintes ao evento aqui relatado. São trazidas também breves reflexões a respeito da performatividade das práticas (MOL, 2007; 1999; ARENDT; MORAES, 2013).
Atua-se em consonância com metodologias que afirmam a dimensão processual da experiência e da prática clínica. O presente trabalho articula-se à transdisciplinaridade da clínica (RAUTER, 2009; PASSOS; BENEVIDES, 2009) e ao exercício constante de construção de um comum (KASTRUP; PASSOS, 2014), guiando-se pelo ethos clínico-estético-político afirmado na prática cartográfica como método de pesquisa-intervenção (PASSOS; KASTRUP; TEDESCO, 2014; PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2015; ROLNIK, 2011; GUATTARI; ROLNIK, 1999), em sintonia com a diretriz de método do pesquisarCOM (MORAES, 2010). Este trabalho possui também, como intercessores aliados, a “política ontológica” (MOL, 2007; 1999; ARENDT; MORAES, 2013) e a “política cognitiva inventiva” (KASTRUP, 2007; 2015).
A chacina como uma performatividade do racismo
Nos últimos meses de 2015,3 por volta das 22h, cinco jovens (com idades entre 16 e 24 anos) voltavam de carro para suas casas, nas imediações de um complexo de favelas na Zona Norte, após terem saído para celebrar o primeiro salário de um dos rapazes e a conclusão dos estudos de outro. O irmão de um deles seguia de moto na frente. Quando estavam em uma comprida estrada, asfaltada e de mão dupla que margeia a linha do trem, quase chegando em suas casas, foram surpreendidos por quatro agentes policiais militares fardados. Estes interceptaram o percurso dos jovens aos disparos, sem nenhuma abordagem prévia. Conforme apontam testemunhas, os jovens colocaram as mãos para o alto, dizendo “é morador! É morador!”. Foram contabilizados cento e onze tiros entre disparos de fuzis e pistolas. Todos os disparos foram feitos do exterior para o interior do carro. Os policiais foram pegos em flagrante pelos moradores na tentativa de adulterar a cena do crime, ao colocarem uma arma na lateral do carro no intuito de criminalizar os jovens. Os policiais foram denunciados ao Ministério Público estadual por homicídio qualificado, fraude processual e porte ilegal de armas de fogo.
Segundo o Atlas da Violência 20214, a principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos é a violência, havendo uma média de 64 jovens assassinados por dia no país. Das pessoas que morrem por homicídio no Brasil, 77% são negras (CERQUEIRA et al., 2021). Segundo estes dados, a chance de uma pessoa negra ser assassinada é 2,6 vezes maior do que a de uma pessoa não negra, sendo que a taxa de violência letal contra pessoas negras foi 162% maior que entre pessoas não negras. Nas análises trazidas da última década pelo Atlas da Violência 2021, houve um aumento de 1,6% dos homicídios contra negros entre 2009 e 2019, enquanto entre não negros houve uma redução de 33% no número de vítimas (CERQUEIRA et al., 2021).
Os jovens executados na chacina relatada eram pretos e pardos, assim como a população atendida pelo trabalho de Psicologia voltado às mães e familiares. Entendemos que os dados estatísticos supracitados são uma ferramenta que produz visibilidade a determinados atravessamentos presentes nas relações sociais. Por que, em um país que viveu – de sua história tendo suas relações sociais geridas pela escravidão institucionalizada, mata-se, hoje, mais negros do que brancos? Dado o teor tão contrastante dos escores entre negros e brancos, os dados estatísticos aqui trazidos são analisadores (LOURAU, 2003) que explicitam o jogo de forças presente em nossa sociedade, colocando em evidência, mais especificamente, o racismo como produtor de realidade.
Entendemos que a lógica racista é uma estrutura de poder (ALMEIDA, 2019) sediada fundamentalmente na ‘relação’, a qual confere, ao mesmo tempo, desvantagens a uns e vantagens a outros. O racismo, neste sentido, é uma construção relacional. A realidade que os dados estatísticos trazem à existência pode ser compreendida enquanto efeito de práticas cotidianas que legitimam a hierarquização e a dominação das diferenças. Estas práticas podem assumir diversas formas e intensidades, transitando, por exemplo, desde o uso recorrente de termos estigmatizantes naturalizados na linguagem, que para alguns podem parecer banais (como piadas e expressões depreciativas), até o extermínio de vidas. Essas diversas práticas cotidianas, somando força umas às outras, produzem efeitos e criam mundos. Essa rede faz com que a reprodução de gestos, aparentemente naturalizados, estejam em conexão direta com as produções de genocídio, legitimando estas práticas (RUOTTI et al., 2014). Os resultados evidenciados pelos dados estatísticos são fruto de construção coletiva, histórico-política, à qual todos pertencemos de diferentes maneiras.
Por meio de quais práticas cotidianas fazemos existir,5 e re-existir, o racismo? Quais realidades elas ajudam a criar? O racismo:
[...] origina-se da elaboração e da expansão de uma doutrina que justificava a desigualdade entre os seres humanos [...] não pela força ou pelo poder dos conquistadores [...], mas pela desigualdade imanente entre as raças humanas (a inferioridade intelectual, moral, cultural e psíquica dos conquistados ou escravizados). Esta doutrina justificava pelas diferenças raciais a desigualdade de posição social e de tratamento, a separação espacial e a desigualdade de direitos entre colonizadores e colonizados [...], entre senhores e escravos e, mais tarde, entre os descendentes destes grupos incorporados num mesmo Estado nacional (GUIMARÃES, 1999, p. 104).
Entendemos que o presente caso clínico está situado em um ponto no qual convergem e se adensam forças de segregação e subalternização promovidas e naturalizadas pelas lógicas colonialista-capitalista e neoliberal, tais como a discriminação racial e a produção da pobreza. Especificamente no contexto brasileiro e carioca, há em curso processos de criminalização da pobreza e de genocídio da juventude negra, sob a alegação de uma política de segurança pública aliada a um discurso de combate às drogas (AMNESTY INTERNATIONAL, 2015). A população atendida é, portanto, depositária de ônus simbólicos e materiais que são sucessivamente produzidos (re-produzidos) e legitimados por forças no socius há, pelo menos, 523 anos em território brasileiro.
Nosso objetivo não é fazer aqui uma análise mais densa dos vetores histórico-políticos envolvidos nas condições de possibilidade do caso. Queremos evidenciar, no entanto, o fato de que estes vetores são elementos indissociáveis do manejo clínico, pois são produtores de modos de existir, tanto no que se refere à população atendida quanto à que atende.
O dispositivo-grupo
A primeira ida a campo se deu três meses após a chacina, quando houve no local a reconstituição da cena do crime, em um bairro do subúrbio carioca. Neste dia conhecemos muitas mães que também tiveram seus filhos assassinados por agentes do Estado, cada uma com uma história diferente. Entre outras pessoas, conhecemos Ana, mãe de um dos jovens mortos na chacina em questão, e Graziella, mãe que foi prestar solidariedade aos familiares recém vitimados. Graziella também teve o filho executado6 por agentes policiais, em circunstâncias distintas das que levaram o filho de Ana. A partir deste dia, Graziella passou a ser presença constante e determinante em todas as fases do trabalho. Nesta primeira etapa, mantivemos entre todas nós contato por telefone e por alguns encontros presenciais em seus territórios de moradia, os quais eram suscetíveis a todo o tipo de atravessamentos, como dificuldades de mobilidade urbana das participantes, seja por não terem com quem deixar os filhos, seja devido a tiroteios nas comunidades, impedindo a entrada e a saída de quem quer que fosse, seja por não ter dinheiro para pagar os transportes. As participantes eram, em sua maioria, mulheres com filhos.
Em determinado momento, Ana passou a produzir a demanda por um acolhimento mais direcionado, convergente a ela, contraindo o coletivo e evocando uma prontidão ao cuidado, partilhado por todo o grupo. Pelo que nos informou, ela havia tentado o suicídio uma vez, logo na sequência à perda de seu filho. Logo após esse episódio, passou a fazer uso de medicamentos controlados, recebendo acompanhamento psiquiátrico e psicológico. Ana é também mãe de uma menina, que à época tinha 6 anos, chamada aqui de Maria Clara.
Estabeleço com Ana um vínculo de confiança. Ela passa a ligar e mandar mensagens de celular com grande frequência: “oi, bom dia”; “oi, boa tarde”; “oi, boa noite”. Por vezes as ligações ocorriam em horários não convencionais, como de madrugada. Mantemos um contato frequente. Em dado momento, por meio de uma troca de mensagens de texto, Ana compartilha comigo seu estado, que entendo ser de gravidade: há dias encontra-se sozinha em casa, sem comer, com dengue, febre e dores. Pede minha ajuda, pergunta onde moro. Poucos dias após essa conversa, a psicóloga supervisora Joana, a participante do grupo, Graziella e o diretor da organização de apoio aos movimentos sociais vão até a sua casa. Os vizinhos acham que Ana viajou, pois não a veem há dias. Ao entrarem, encontram sua casa em processo de grande acúmulo de sujeira, de restos espalhados. Relatam encontrar roupas e objetos ocupando o chão e outras superfícies, junto a pratos com restos de comida e insetos. Estes rastros seguem até o quarto, onde Ana encontra-se de bruços na cama, cabelos sobre o rosto em meio a diversos comprimidos. Imaginaram que estivesse morta, mas não estava. Mobilizando os vizinhos, levam-na à UPA mais próxima. Lá, ela é atendida e recupera seus sentidos. Sua casa é uma materialidade expressiva de seu território existencial. Com o contexto do assassinato de seu filho esse território foi arrebatado por forças que decompõem a vida, que a fazem esvair-se (ARAÚJO et al., 2022).
É através do “dispositivo-grupo” (BENEVIDES DE BARROS, 1997) que uma composição potencializadora das forças produtivas de Ana passa a ganhar existência: sua potência para a ação, e não para o padecer, é aumentada. Como considera Benevides de Barros (1997, p. 103), é pelo dispositivo-grupo que “outros modos de existencialização, outros contextos de produção de subjetividades, outras línguas para outros afetos, outros modos de experimentar” ganham espaço de possibilidade para vir a ser. Trata-se de colocar o dispositivo-grupo para funcionar, no sentido de fazê-lo operar e produzir efeitos: trazendo à tona as forças em jogo podendo então analisá-las e criar outros caminhos de subjetivação (KASTRUP; BENEVIDES DE BARROS, 2015).
O poder de ser afetado, do qual o filósofo Baruch de Spinoza (1632-1677) fala em seu livro Ética (2011), apresenta-se como potência para agir quando é preenchido por “ações” - que partem de nossa própria natureza e para as quais somos causas ativas - e, ao contrário, como potência para padecer quando é preenchido por “paixões” - que partem de outra coisa, derivando do exterior. As paixões, no entanto, podem ser de dois tipos: “tristes” - quando encontramos um corpo cuja natureza não convém à nossa, decompondo nossas forças de ação, “a paixão triste é sempre impotência” (DELEUZE, 2002) - e “alegres” - quando a natureza de outro corpo convém à nossa, compondo então com nossa potência de agir, amplificando-a. As “paixões alegres”, ainda sendo externas, ampliam nossa potência de ação e somos por elas convocadas: é quando caminhamos a um ponto de conversão, no qual passamos a ser motriz da ação, nos tornando, então, causas ativas de nossas ações. Nesta conversão, as paixões alegres passam a ser chamadas de “alegrias ativas”.
As paixões alegres tornam-se um horizonte para a prática: acompanhar o outro em seus movimentos, compor com ele, cultivando uma presença fértil ao aumento da potência de ação.
Desde que a conhecemos, Ana relata “não ter amigos”, nos relatando, repetidas vezes, uma situação na qual, após a morte de seu filho, pessoas da comunidade que ela considerava serem suas amigas entram em sua casa e dizem “nossa, olha quanta sujeira, como ela é porca!”. E completa: “Ninguém nunca se ofereceu pra me ajudar a arrumar. Falar mal é fácil, né?”.
Amparar o outro na queda: não para evitar que caia, nem para que finja que a queda não existe ou tente anestesiar os seus efeitos, mas sim para que possa entregar-se ao caos e dele extrair uma nova existência. Amparar o outro na queda é confiar nessa potência, é desejar que ela se manifeste. Essa confiança fortalece, no outro e em si mesmo, a coragem da entrega (ROLNIK, 1994, p. 8).
O ethos da confiança (SADE; FERRAZ; ROCHA, 2014), uma das pistas compartilhadas pelo método da cartografia (PASSOS; KASTRUP; TEDESCO, 2014; PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2015), é um ativo elo no trabalho. “Em vez de um regime de suspeita em relação à experiência, no qual toda a dimensão de vínculo é tratada sob a égide do controle e do juízo, a cartografia aposta na riqueza deste plano” (SADE; FERRAZ; ROCHA, 2014, p. 69). Abrir-se ao vínculo, permitir a articulação nossa, e do trabalho, por ele, engendra mundos não antes previstos: “Confiar - fiar com, tecer com, composição e criação com o outro/outrem” (SADE; FERRAZ; ROCHA, 2014, p. 69). Confia-se na experiência afetiva compartilhada. Confia-se, como trazem os autores, no “senso” que se tem do encontro vivido: dos afetos de vitalidade que são expressos (nos mínimos gestos), dessas qualidades sutis que comunicam forças, que são, ao mesmo tempo, relacionais e pré-reflexivas.
A confiança surge da composição, também, com o indeterminado. De um porvir inexato, imprevisível, impalpável. Ana estava vivendo um momento de indizível dor, de decomposição de suas forças de vida. Como ela nos disse tempos depois, “eu tava indo morrer”; “eu tava vegetando, tava só ocupando espaço no mundo”.
Ninguém [...] a não ser que seja dominado por causas exteriores e contrárias à sua natureza, descuida-se de desejar o que lhe é útil, ou seja, de conservar seu ser. Quero, com isso, dizer que não é pela necessidade de sua natureza, mas coagido por causas exteriores que alguém se recusa a se alimentar ou se suicida, o que pode ocorrer de muitas maneiras. Assim, alguém se suicida coagido por outro [...] enfim, porque causas exteriores [...] dispõem sua imaginação e afetam seu corpo [...] (SPINOZA, 2011, p. 170).
Ana nos dizia sentir-se extremamente culpada por tudo o que aconteceu, por estar trabalhando na hora em que seu filho foi morto, por não o ter impedido de entrar no carro. Culpada por não conseguir perdoar os policiais, pois, “essa é a parte mais difícil da oração: ‘assim como nós perdoamos aqueles que nos têm ofendido’”, dizia. Achava que já tinha sofrido tudo o que tinha para sofrer, que sua vida agora era só para seus filhos, e lamenta:
[...] e então acontece isso. Se fosse de bala perdida seria mais fácil, porque na comunidade você sabe, né? Já estamos acostumados. Mas daquele jeito. Pensar que ele estava encurralado, não tinha como sair. O carro só tinha uma porta do lado do motorista.
Sua filha mais nova dizia para ela: “Ele bateu o carro dele e tava cheio de tiro”.
Mutirão de faxina como dispositivo clínico de intervenção
Seguindo os caminhos dos traçados evidenciados no campo, a partir das reiteradas falas de Ana, trazemos a proposta de auxiliá-la na arrumação de sua casa. Estes traçados que ganharam relevo são tanto suas repetidas e incisivas manifestações - quando Ana conta o que disseram suas colegas ao entrarem em sua casa - quanto a experiência concreta de receber seu pedido de ajuda via celular e de entrar em sua casa, encontrando-a desacordada em meio a toda a desarrumação. A dimensão da matéria-força (ROLNIK, 1999; 2006) desses encontros produz afetos intensos. É comunicado e inserido no campo signos afirmativos tanto da importância (e dificuldade) de ter amizades, quanto do plano de inseparabilidade das formas, que antecede os termos sujeito e objeto, Ana e sua casa, Ana e seus encontros, corpo e mente, fazer e conhecer. Somos tocadas pelo contrastante relevo que surge desse acontecimento, nossa atenção pousa nesses signos de matéria-força e somos convocadas ao plano de imanência (KASTRUP, 2015). Seu lar é a extensão de seu estado, assim como seu estado é composição - ou decomposição - com esse lar, seu território de existir. Aponta-se para o domínio do rizoma (DELEUZE; GUATTARI, 2011) - anterior a todas as dicotomias -, que é pré-formal e pré-subjetivo: ele “aparece como condição dos regimes e das formas existentes, inclusive de sujeito e objeto [...] onde se mistura o que era em aparência distinto, onde se conecta o que permanecia separado” (KASTRUP, 2013).
Ana acolhe a proposição do mutirão de faxina. Joana e eu convocamos outras pessoas disponíveis a participar. A partir de vínculos que Joana havia cultivado em atividades anteriores feitas pela organização em que trabalhava, formou-se um grupo com seis integrantes,7 contando com Ana.
O grupo apresentava campos de pertença heterogêneos no que tange ao poder aquisitivo (classe) e à aparência fenotípica (raça). Eu, Joana e as demais mulheres vínhamos de bairros de classe média de diferentes regiões da cidade do Rio de Janeiro e poderíamos ser lidas nesse contexto como majoritariamente brancas (ou embranquecidas); já as participantes moradoras da comunidade, que neste momento eram Ana e, durante o início do encontro, sua filha de seis anos Maria Clara, podem ser lidas como predominantemente negras - muito embora não tenha ocorrido uma discussão racial ou mesmo processos de autodeclaração. No quesito gênero, todas as envolvidas eram mulheres engajadas em um trabalho coletivo de luto por jovens homens. Os traços de pertença de classe e raça, poderiam vir a reproduzir demarcações hierarquizantes em relação à Ana, e de identificação em relação às moradoras dos bairros de classe média majoritariamente brancas - seguindo, tão somente, o registro hegemonizante do modo de subjetivação capitalístico, produtor de práticas hierarquizantes (vertical) e corporativistas (horizontal) (GUATTARI, 1985; PASSOS; BENEVIDES, 2015). Apesar de este registro instituído - o hiato segregador classista e racial - estar presente, já que, estamos todas inseridas nesta sociedade que imprime essa força subjetivante com grande intensidade, há aqui, também, a presença de outras forças que propõem outras práticas: não hierarquizantes, não opressivas, não privatistas, não totalizantes. Para tal, há o empenho do cultivo de um estado atencional que seja sensível à problematização e à desconstrução destas forças capitalísticas e colonizadoras em nós - o que não se dá sem o exercício prático deste outro vetor: na ação afirmativa e produtiva, que se arrisca na construção de outras realidades, de outros modos de se relacionar e viver, indicando a inseparabilidade entre o si e o mundo.
Após a explicitação de Ana, dizendo do seu desejo de realização da faxina, dividimo-nos em funções e áreas da casa. Nair e eu fomos limpar a cozinha, Joana o banheiro, Bruna e Júlia os quartos e sala. Ana, ao retornar de sua saída para levar a filha à escola, foi organizar as roupas espalhadas - inclusive as de seu filho, as quais, desde a morte dele, não tinha “tido coragem para mexer”, como nos disse. Enquanto arrumava nos contava histórias; todas contávamos histórias. Chorávamos e ríamos.
Em dado momento, Ana comenta o que imaginava que suas vizinhas poderiam ter pensado de todas nós, enquanto íamos passando e entrando na favela: “O que que essas mulheres com cara de rica tão fazendo aqui?!”. Brincamos entre nós que éramos uma equipe de faxineiras e que fomos lá para trabalhar. Um trabalho clínico.
Exercitamos coletivamente uma travessia que foi permitindo uma coexistência entre um bando de “mulheres com cara de rica” entrando na comunidade e uma “equipe de faxina”. Uma travessia com as fricções próprias daquilo que está sendo construído, no gerúndio das ações, na lida com o vir a ser. Buscamos partilhar na experiência a fisicalidade de práticas que tecem um comum; não tanto pelo “o que” é feito, mas por “como” é feito (KASTRUP; PASSOS, 2014). Consideramos ter-se produzido, neste dia da faxina, um aumento de comunicabilidade intragrupo, um aumento do coeficiente de transversalização (GUATTARI, 1985), pois sustentamos coletivamente o tensionamento das diferenças - como por exemplo os marcadores sociais tais quais nomeados por Ana, “cara de rica” - ao mesmo tempo em que pudemos nos aliar - com as diferenças e apesar delas.
O conceito de “comum” tem sua consistência no processo experiencial, concreto, sem nunca chegar a um ponto de conquista definitiva. Não é algo de antemão dado, é preciso o engajamento para que se produza na experiência, no vivido. É na vivência do pertencimento de qualquer um ao coletivo, que reside o comum (KASTRUP; PASSOS, 2014, p. 15). Em um mesmo ato partilha-se a construção do real, criando-se domínios de participação. “Partilhamos um domínio comum do qual fazemos parte em função do modo como juntos habitamos um território, coexistimos em um tempo e compartilhamos um tipo de atividade, um modo de fazer” (KASTRUP; PASSOS, 2014, p. 22). O comum não se refere à identidade, ao homogêneo, ao particular, ao exclusivo, mas ao inclusivo, ao heterogêneo, à comunicação entre singularidades.
Na cozinha: resíduos materiais sobre os móveis e eletrodomésticos. A densa camada de gordura sugeria o tempo passado desde a última faxina. Muita louça com restos de comida espalhadas pela casa. Geladeira praticamente vazia: uma gelatina rosa, um nebulizador, duas salsichas congeladas no congelador, um pepino já apodrecendo, poeira, pequenos insetos mortos e cascas de ovo espalhadas dentro e fora da geladeira.
Nair partilha conosco seus saberes domésticos, o que passamos a chamar de “misturinha da Nair”,8 que nos auxiliou no processo de remover os densos resíduos acumulados. Em dado momento, Ana estava encostada à parede, nos olhando trabalhar. Nós a convidamos a envolver-se ativamente na faxina. Ela perguntou: “mas o que é que eu posso fazer?”. Sugeri que auxiliasse na limpeza da geladeira, por exemplo. Pegamos um balde e uma bucha, sentamos lado a lado compartilhando a “misturinha” e começamos a esfregar. A experimentação transdisciplinar da clínica (RAUTER, 2009; PASSOS; BENEVIDES, 2009) é afirmada a partir da vivência encarnada da lateralização (KASTRUP; PASSOS, 2014) e do contágio com outros saberes - tal qual o saber da faxina enquanto um modo específico de cuidado com os espaços, historicamente delegado às mulheres, em especial às mulheres negras e subalternizadas. Apostamos em um outro regime de distribuição de agência: quando aquele que é interpelado e cuidado, participa ativamente do dispositivo de intervenção (MORAES, 2010), saindo de uma posição passiva e apontando quais são suas necessidades, engajando-se no próprio processo de construção desse meio de transformação. A partir deste sentido, faxinamos, trilhando os traçados anunciados por Ana.
Esfregando o acúmulo de resíduos, Ana começa a nos contar sobre o dia da execução de seu filho: desde quando recebeu a notícia em sua casa e foi desmaiando pelos caminhos, até chegar ao carro, cair sentada em um pneu no chão e ver os meninos mortos. Descreveu como seu filho estava quando morreu, a posição de seu corpo, como seu rosto estava desfigurado, trazendo concretos e inquietantes detalhes. Disse ter visto, repetidas vezes no noticiário - o qual ressoava na sala assim que chegamos em sua casa - a notícia da chacina. Choramos, ouvimos e acolhemos, intensamente.
Considerações finais
Alguns encontros após a faxina, Ana comenta alegremente que sua filha Maria Clara tem gostado muito de ver a casa arrumada. Agora, toda vez que sai para ir à escola ou à casa do pai, diz à Ana: “mamãe, quero tudo arrumado para quando eu voltar, tá?!”; e quando chega em casa vai entrando em todos os cômodos, olhando um por um e dizendo “muito bonito! Muito bem! Tudo arrumado! Muito bonito!...”. Ana nos conta com frequência como foi importante para ela nossa ida até sua casa, quando fomos com “aquelas outras moças”. Que ali “alguma coisa aqui dentro mudou” [passando a mão na região do tórax].
Hoje, oito anos após a morte de seu filho, Ana segue sendo acompanhada clinicamente por uma das psicólogas autoras deste texto e diz sentir-se contente por esta história ter sido escrita, e pergunta se as pessoas vão acreditar no que é contado, se não vão achar que é “ficção científica”. Solicita que seja registrado aqui, neste texto, o seu testemunho: “Em 2015 a única certeza que tinha para mim era a morte e hoje, não. Hoje eu quero viver. Quero viver por mim e por minha filha”.
Consideramos relevante enfatizar que o recorte feito neste estudo teve como objetivo compartilhar uma intervenção clínica a qual, posteriormente, avaliamos ter produzido efeitos de vinculação com forças de vida. Foram encontros que “se deram pela dor”, como disse Ana. O trabalho clínico produzido com Ana vem a ser mais um elo em sua rede existencial, na qual há também a forte presença do exercício da sua fé e de sua vinculação religiosa, frequentemente evocadas por ela. Sabemos que muitas famílias não suportaram os efeitos nocivos dessa atroz violência, que revoltantemente tem se mostrado sistemática no Brasil. Alguns dos familiares próximos às vítimas morreram no decorrer desses sete anos, entre jovens e adultos, afetados pela violência da chacina relatada neste artigo. Quadros como depressão, ansiedade, estresse, problemas cardíacos e transtornos mentais graves surgem como decorrência da violência sofrida, produzindo tristeza e padecimento que afeta toda uma comunidade.
Na esteira das contribuições de autoras e autores que dão desenvolvimento aos postulados trazidos pelas “políticas ontológicas”9, podemos considerar que a produção de histórias, de modos de dizer e fazer, de outras possibilidades de mundos, de múltiplas realidades, têm nas práticas a sua performatividade, ou, o seu “fazer existir”. As práticas “fazem existir realidades que não estavam dadas antes e que não existem em nenhum outro lugar senão nestas e por estas práticas” (MORAES, 2010). Afirmamos a importância de psicologias que promovam por suas práticas o direito à vida, ao território, ao lazer para todas as populações, em sua diversidade. Fazendo eco à pergunta ontológica e política: que mundos fazer existir?
Referências
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1
Organização sem fins lucrativos defensora dos Direitos Humanos, fundada sob a consigna: “defender o direito do povo de lutar por seus direitos”.
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2
Ana é mãe de um dos jovens mortos na chacina e a personagem principal do caso aqui trazido. Todos os nomes utilizados são fictícios, a fim de manter a privacidade e a segurança dos envolvidos.
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3
O caso é aqui relatado com base em matérias de jornais e nos relatos dos familiares dos mortos e de outros membros da comunidade.
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5
“O termo enact foi utilizado por Mol (2007) para dizer que nenhum objeto existe sem estar articulado às práticas que o produzem e o fazem existir. Em inglês enact aponta para dois sentidos distintos: como encenar, representar um papel; e como fazer existir, promulgar, fazer [...]” (ARENDT; MORAES, 2013). Nas traduções em português opta-se com frequência pelos termos “fazer existir” e “performar”. Para maiores informações conferir Mol, 2007.
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6
Em 2014 seu filho foi executado com um tiro de fuzil na cabeça, disparado à distância, enquanto estava parado em um posto de gasolina - em pé, ao lado de sua moto - em um bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. Graziella nos conta que não viu, mas ouviu o disparo que atingiu seu filho, chegando ao seu socorro logo em seguida. Ele não estava armado.
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7
A equipe de faxina - como passamos a nos chamar - era composta por seis mulheres com idades variadas: três entre 25-30 anos (como eu, Joana e Bruna), uma com 35 (Ana) e duas entre 50-60 (Nair e Júlia).
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Misturar, em uma garrafa de plástico grande, desinfetante, sabão em pó, água sanitária e água. Misturar bem. Tomar cuidado com a pele, usar luvas.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
04 Out 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
08 Jan 2019 -
Revisado
25 Jan 2022 -
Revisado
12 Out 2022 -
Aceito
04 Jan 2023