RESUMO
O estatuto do realismo em Foucault, apesar de elaborado insistentemente, permanece elíptico - em parte graças à sua associação a proposições que poderíamos denominar ficcionalistas. Através dos textos onde Foucault aborda os nexos de pertencimento entre ficção, universalidade e facticidade, o artigo propõe uma leitura não-realista de suas pesquisas, caracterizada pela recusa não do real enquanto objeto, mas de sua evidência ontológica. Inicialmente, trata da apresentação das insuficiências das interpretações que exigem uma ontologia - como a de Paul Veyne -, bem como das que a substituem pela excepcionalidade da criação - como a de Michel de Certeau, e da aproximação mais bem-sucedida da leitura proposta por Giorgio Agambem. Em seguida, detalha a questão da literatura como paradigma metodológico, especialmente nas referências de Foucault à obra de René Char. Enfim, mostra em que sentido a enunciação do discurso da arqueogenealogia está mais próximo do (não-)realismo de Fichte - no seu improvável encontro com Blanchot - do que da dialética hegeliana.
Palavras-chave:
Foucault; realismo; ficcionalismo