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Comunicação e sociabilidade: perspectivas no campo da comunicação1 1 Agradecemos à CAPES, ao CNPq, à FAPEMIG e à PRPq/UFMG o apoio ao desenvolvimento de nossas pesquisas.

Communication and sociabilility - perspectives in the field of Communication

Resumo

O objetivo deste artigo é mapear autores e teorias utilizados como referência por pesquisadores da área de comunicação e sociabilidade no Brasil. O corpus selecionado inclui 98 artigos da Compós no período de 2006 a 2015, coletados do grupo de trabalho homônimo. Esses resultados integram uma pesquisa mais ampla que almeja identificar as teorias contemporâneas que sustentam o campo da comunicação no país. A análise destaca dois eixos centrais nos estudos inscritos nessa área: o próprio sujeito (a questão da subjetividade, da autonomia e da opressão); 2) a sociedade em que ele se inscreve (a sociedade capitalista, de classes, mas também a sociedade em rede formada pelos novos dispositivos tecnológicos).

Palavras-Chave
teorias da comunicação; epistemologias da comunicação; comunicação e sociabilidade

Abstract

The aim of this paper is to map authors and theories used as reference by researchers in the field of Communication and Sociability in Brazil. The selected corpus includes 98 articles from Compós during the period from 2006 to 2015, collected from the homonymous working group.

These results integrate a broader research that aims to identify the contemporary theories that underpin the field of Communication in the country. The analysis highlights two central axes in the studies regarded in this area: the subject itself (the question of subjectivity, autonomy and oppression); the society in which it is inscribed (capitalist society, society of classes, but also the network society formed by the new technological devices).

Keywords
communication theories; communication epistemologies; communication and sociability

Introdução

Comunicação e sociabilidade é o tema de um dos grupos de trabalho (GT) mais antigos e consolidados da Compós (Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação). Embora não tenha se projetado em uma dimensão institucional autônoma, como outros subcampos da comunicação (com associações e eventos próprios), ele traduz um viés de absoluta importância – a inscrição social da comunicação.

Quais são os autores e obras mais relevantes utilizados pelos pesquisadores no âmbito dessa temática? Quais eixos investigativos eles privilegiam? Estas foram as perguntas que orientaram o presente trabalho, que se inscreve em uma pesquisa mais ampla em torno das referências teóricas que embasam a pesquisa da comunicação no Brasil2 2 O projeto As novas teorias da comunicação: mapeamento de um campo científico é coordenado pelas professoras Vera França e Paula Simões e investiga os alicerces teóricos das áreas temáticas que configuram o campo da comunicação no Brasil. Já foram tratadas seis áreas: comunicação e política, estudos de televisão, novas mídias, estudos de jornalismo, epistemologia da comunicação e comunicação e sociabilidade. . Buscando respondê-las, fizemos um levantamento da bibliografia utilizada pelos textos apresentados no GT comunicação e sociabilidade da Compós em um período de dez anos (2006-2015), destacando os dez autores mais citados e buscando apresentar uma breve síntese de suas respectivas abordagens.

Metodologia e resultados quantitativos3 3 A metodologia da pesquisa foi apresentada de forma mais detalhada em outros textos publicados pela equipe do projeto. Cf. FRANÇA et al., 2016, 2018; SIMÕES et al., 2019a, 2019b, 2020.

A análise do corpus, composto por 98 textos apresentados nesse período (2006-2015), apresenta os resultados quantitativos a seguir:

Quadro 1
Número de autores referenciados (inclusas as autocitaçoes)

Partindo da sistematização dos dados, chegamos ao seguinte ranking dos dez autores mais citados no período analisado:

Quadro 2
Dez autores mais referenciados (excluídas as autocitações)

Também fizemos a identificação de suas obras mais referenciadas (apresentadas na seção seguinte), utilizando como primeiro critério a maior frequência das citações. Quando estas eram baixas ou semelhantes, o critério adotado foi a observação do modo como as obras eram acionadas nos artigos apresentados no GT, atentando para a relevância dos textos mobilizados na constituição das pesquisas expostas. A breve discussão dos trabalhos dos autores mais citados é importante para mapear as perspectivas propostas pelos pesquisadores do GT (o que, desses autores, é de fato recuperado) e compõe a fase qualitativa da pesquisa desenvolvida.

Autores e perspectivas convocadas

Michel Foucault

Historiador e filósofo francês, Michel Foucault (1926-1984)______. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1983. é o autor mais citado no GT comunicação e sociabilidade. Foram indicadas 6 obras do autor, sobressaindo A história da sexualidade: a vontade de saber (9 menções) e Vigiar e Punir (7).

Na obra A história da sexualidade: a vontade de saber (1976), Foucault traz uma reflexão sobre a questão da repressão sexual vivida pela sociedade. Ele destaca que, a partir do século XVIII, há uma variedade de discursos sobre o sexo emergindo de instituições como a igreja, a escola, a família e a medicina, no intuito de controlar os indivíduos. Nela, ainda aponta que as práticas sexuais são administradas por meio de discursos que visam a fortalecer o Estado e desenvolve a hipótese de que a sexualidade humana é socialmente construída.

O livro Vigiar e Punir (1975) é uma das obras mais importantes de Foucault. Trata-se de um estudo científico sobre a evolução histórica da legislação penal e dos métodos coercitivos e punitivos adotados pelo Estado. Nele, o autor aborda a história da violência nas prisões. A questão da punição é central em sua reflexão. O livro se baseia em documentos históricos franceses e traz uma discussão voltada para a sociedade contemporânea.

Félix Guattari

Filósofo e psicanalista, Félix Guattari (1930-1992)GUATTARI, F. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: Ed. 34, 1992. foi o segundo autor mais citado do ranking, se considerarmos as referências em que ele se apresenta como coautor junto a Deleuze. Das 8 obras citadas, as 2 mais referenciadas (não levando em conta Mil platôs e O que é a filosofia?, produções em que Guattari é coautor junto a Deleuze) são: Caosmose: um novo paradigma estético (7 referências); Micropolítica: cartografias do desejo (5).

Micropolítica: cartografias do desejo (1986) traz conferências e falas do psicanalista durante sua visita ao Brasil, abordando três eixos principais de pensamento. Após debater o conceito de cultura, Guattari fala acerca da subjetividade e apresenta sua crítica à fixação identitária, pensando a singularização como saída para reconhecer as possibilidades de diferença. Ele também apresenta sua ideia de uma subjetividade capitalística ao mostrar a relação entre o sistema do capital contemporâneo e sua produção opressora das subjetividades. O segundo eixo do livro diz respeito ao entendimento da micropolítica, cujos dois vetores são: um molar, que diz respeito às construções políticas localizadas, uma dimensão fixa; e o molecular, que se refere aos devires e fluxos, à economia dos desejos. A transversalidade guattariana seria a possibilidade de atravessamento entre esses dois vetores. Ao fim do livro, Guattari traz suas discussões da subjetividade e da política para o campo da psicanálise e propõe alguns termos para o que ele e Deleuze concebem como a esquizoanálise.

Em As três ecologias (1989), Guattari retoma seu pensamento sobre a subjetividade e tenta demarcar três componentes ou esferas estético-ético-políticas humanas: uma ecologia ambiental ou do meio ambiente; uma ecologia social ou das relações sociais; e uma ecologia psíquica ou da subjetividade. Essas esferas estariam em degradação e precarização pelas mudanças capitalísticas e tecnocráticas contemporâneas (forças desterritorializantes do que Guattari chama de Capitalismo Mundial Integrado – CMI). A formulação ética e política de abertura à singularidade subjetiva coletivamente partilhada pelos sujeitos, em oposição à homogeneidade opressora e individualista dos processos subjetivos capitalísticos, Guattari chama de heterogênese. O que Guattari convoca, portanto, é um resgate, em diferentes esferas, de uma autonomia criativa das subjetividades.

Em Caosmose: um novo paradigma estético (1992), o autor busca compreender o processo de produção e operação das subjetividades. O livro se debruça sobre os imbricamentos subjetivos propostos até então pelo esquizoanalista, que propõe uma ampliação do entendimento da subjetividade a partir de seus diversos engendramentos: territoriais, semiológicos e maquínicos. A obra apresenta, portanto, uma entrada a uma noção complexa dos processos da subjetividade guattariana.

Gilles Deleuze

O filósofo Gilles Deleuze (1925-1995)DELEUZE, G. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 1992. teve 14 obras citadas pelos pesquisadores da área, dentre as quais se destacam Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia, Conversações (6 menções) e O que é a filosofia (4).

Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia foi publicado em 1980, em parceria com Guattari, dando sequência à obra anterior da dupla, O Anti-ÉdipoCapitalismo e esquizofrenia. O livro se organiza em 15 platôs articulados, mas independentes, que se configuram como mapas de construção de conceitos centrais ao pensamento dos autores, como agenciamento, devir, máquinas de guerra, linhas de fuga, molar e molecular, entre outros. Tal organização tem como base o conceito de rizoma, que “não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo” (DELEUZE; GUATTARI, 1995DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil Platôs - capitalismo e esquizofrenia. Vol.1. São Paulo: Editora 34, 1995.). A partir de uma perspectiva de multiplicidade, que refuta unidades e dualismos tidos como essenciais ou naturais, os autores buscam desenvolver conceitos que não servem para explicar o que é algo, mas explorar as circunstâncias e condições de sua existência e de seu funcionamento.

Conversações (1990) é uma compilação de entrevistas e ensaios de Deleuze produzidos entre 1972 e 1990 e divididos em cinco partes. Na primeira, De o Anti-Édipo a Mil Platôs, Deleuze fala sobre processos, estilo e fluxo da escrita e defende a abertura para uma livre circulação do pensamento entre a filosofia e outras áreas do conhecimento. Na segunda parte, Cinema, o autor questiona o uso da linguagem audiovisual como meio autoritário e repressivo e defende o uso político das imagens e dos sons para fazer ver as fronteiras e fissuras dos regimes estéticos que condicionam o olhar e a escuta. Na terceira parte, Foucault, Deleuze fala do filósofo buscando compreender a lógica do pensamento foucaultiano, especialmente em relação à sua passagem do saber ao poder. Na quarta parte, Filosofia, o autor defende a ideia de que a filosofia é criadora, e não reflexiva, destacando a questão da imanência e o interesse em criações, experimentações, multiplicidades e singularidades ao invés da unidade, reflexão e interpretação transcendentes, que buscam universalidades. Na última parte, Política, ele remete novamente à obra de Foucault e dá continuidade ao seu pensamento sobre o poder ao falar sobre sociedades de controle.

O que é a filosofia? (1991), também em parceria com Guattari, foi uma das últimas obras de Deleuze. O livro é dividido em duas partes. A primeira, Filosofia, aborda os quatro pilares do pensamento desenvolvido na obra: conceito; plano de imanência; personagens conceituais; geofilosofia. Na segunda, Filosofia, Ciência Lógica e Arte, os autores refletem sobre a relação da Filosofia com outras áreas. Deleuze e Guattari afirmam que a filosofia se define como um trabalho de criação de conceitos, não entendidos como definições ou explicações, mas como a conexão entre elementos e ideias a fim de responder a determinado problema. Nesse sentido, eles recusam as noções de universalidade e unidade ao afirmar que um conceito é sempre uma singularidade, produtora de verdade em sua relação com o problema ao qual se destina a responder. A criação dos conceitos no solo erigido para a observação e organização da multiplicidade dos acontecimentos é feita por personagens conceituais, uma espécie de dissimulação do filósofo, que recusa a identidade em favor de uma alteridade. Por último, a geofilosofia propõe o abandono da ideia de estabelecer origens para pensar a filosofia a partir das chaves da territorialização e da imanência.

João Freire Filho

Único brasileiro entre os dez mais citados, João Freire Filho (1969-)FREIRE FILHO, J. (Org.). Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2010. teve 13 obras referenciadas no período analisado. As 3 mais frequentes foram o livro Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade (5 menções), o texto A felicidade na era de sua reprodutibilidade científica: construindo ‘pessoas cronicamente felizes’ (3) e o livro Reinvenções da resistência juvenil: os estudos culturais e as micropolíticas do cotidiano (3).

Ser feliz hoje (2010) foi um seminário internacional que resultou numa coletânea de textos de 14 diferentes autores que tratam do imperativo da felicidade, muitas vezes colocado na grande mídia, na literatura de autoajuda, na psicologia positiva, enfim, na cultura contemporânea. Freire Filho é organizador do livro e autor do capítulo A felicidade na era de sua reprodutibilidade científica, no qual o autor discute a ideia de construção de pessoas “cronicamente felizes”.

Reinvenções da resistência juvenil: os estudos culturais e as micropolíticas do cotidiano (2007) discute as contribuições e limites da teoria pós-subculturalista para análises de subculturas, cenas e tribos (punks, mods, skinheads, rave). Discute, ainda, se os fãs são a nova vanguarda da cultura, na medida em que se submetem, participam e mesmo resistem ao polo produtor. Em seguida, a revista Capricho é analisada enquanto um produto cultural e uma mercadoria, que prega a autenticidade como forma de se tornar uma adolescente liberada no terceiro milênio. O autor conclui o livro apontando os riscos de análises “populistas culturais”, nas quais não há qualquer distanciamento crítico dos objetos pesquisados.

Paula Sibilia

Com nacionalidade argentina, a pesquisadora Paula Sibilia (1967- )SIBILIA, P. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. teve 9 obras referenciadas. A mais citada entre elas é O show do eu: a intimidade como espetáculo (5 menções). As demais receberam 1 ou 2 menções.

Em todos os textos, Paula Sibilia trabalha a subjetividade (marcada pelos conceitos de intimidade e felicidade) relacionada a fenômenos contemporâneos marcados pelas tecnologias digitais, especialmente as redes sociais, bem como a visibilização dos corpos sob um viés cultural e político. Em sua obra mais referenciada, a pesquisadora analisa o cenário emergente da prática de exposição pública da intimidade nas redes sociais e nos reality shows como um fenômeno que reconfigura a concepção social dos limites entre o que é privado e o que é público, assim como entre ficção e realidade, em proporções mais complexas do que a própria mídia massiva já proporcionara. Suas análises apontam menos para um viés tecnológico do que para a discussão de como essas práticas impactam na sociabilidade contemporânea, na vida cotidiana dos sujeitos.

Zygmunt Bauman

Sociólogo e filósofo polonês, Zygmunt Bauman (1925-2019)BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. tem 9 obras citadas. As três mais recorrentes foram: Modernidade líquida (4); Comunidade: a busca por segurança no mundo atual (2); Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos (2).

Em Modernidade líquida (2001), o autor retrata a mudança da sociedade sólida para a líquida: a liquidez a deixa mais bem adaptada aos meios, preenchendo um ambiente que, com a mesma facilidade, se esvai deste local para tomar outras formas – diferente da solidez, que não consegue completar um ambiente que não seja de sua forma. Fluidez, movimento, imprevisibilidade são noções centrais nesse novo momento da sociedade, em que instituições, identidades e condições de trabalho perdem sua estabilidade e deixam os indivíduos em permanente insegurança e angústia. Já não há mais verdades inquestionáveis; consumo e estilo de vida se tornam referências ordenadoras das personalidades voláteis e adaptáveis de indivíduos que não querem mais se comprometer. Essa sociedade moderna apresenta novas formas de poder, agora realocadas e redistribuídas, novos valores e novas crenças, mas nada é concreto e tudo pode se alterar à mercê da própria sociedade. A incerteza se torna o novo habitat da vida humana, resume o filósofo.

Em Comunidade: a busca por segurança no mundo atual(2003)______. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Zahar, 2003., Bauman identifica uma projeção utópica de comunidade (um desejo e simulacros de comunidade) como contraponto à insegurança e incerteza da sociedade líquida. Já no livro Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos(2004)______. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004., o sociólogo caracteriza as relações humanas contemporâneas partindo de suas fragilidades e das flexibilizações que elas apresentam.

Pierre Bourdieu

Importante sociólogo francês, Pierre Bourdieu (1930-2002)BOURDIEU, P. La distinction: critique sociale du jugement. Paris: Minuit, 1979. teve 9 obras citadas, sendo a mais referenciada A Distinção: crítica social do julgamento (5 citações).

A obra A Distinção: crítica social do julgamento (1979) é resultado de um compilado de pesquisas empíricas realizadas ao longo da década de 1970 pelo autor, e discute a teoria crítica, debatendo a luta de classes em um viés que difere da abordagem marxista clássica. Para o autor, a questão da luta de classes vai além do capital econômico como único princípio das desigualdades sociais, indicando que o capital cultural também é determinante para a compreensão da diferença de classes, sobretudo quando se pensa na lógica da aquisição e reprodução dos bens culturais – algo que, segundo Bourdieu, é mais complicado de ser identificado que propriamente o capital econômico.

Nikolas Rose

Professor de sociologia no Departamento de Saúde Global e Medicina Social no King’s College London, Nikolas Rose (1947 – )ROSE, N. Powers of freedom: reframing political thought. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. teve 6 obras referenciadas, sendo 3 as mais citadas: The Politics of Life Itself: biomedicine, power, and subjectivity in the Twenty-First Century (5); Inventing our selves: psychology, power, and personhood, e Powers of freedom: reframing political thought, ambas com 2 citações.

Em A política da própria vida: biomedicina, poder e subjetividade no século XXI (2006), o autor discute uma política vital, ou seja, a política de uma forma de vida emergente, na qual ele identifica cinco linhas de mutação: 1) molecularização (a centralidade que a biomedicina confere à vida no nível molecular); 2) otimização (as tecnologias de vida contemporâneas buscam agir no presente para garantir o melhor futuro possível aos sujeitos); 3) subjetificação (novas ideias estão surgindo acerca dos seres humanos e de como se constituem como indivíduos somáticos); 4) expertise somática (emergência de novas formas de governar a conduta humana); 5) economias de vitalidade (o aparecimento de um novo espaço econômico – a bioeconomia – e uma nova forma de capital – biocapital).

Em Inventando nossos selfs: psicologia, poder e personalidade (1998), o autor constrói uma genealogia da subjetivação, recuperando contribuições de Foucault – além de Deleuze e Guattari – para discutir a noção de governo e das tecnologias do self. Refletindo sobre as democracias liberais, Rose destaca como a autonomia e a liberdade são evidenciadas na elaboração do self e devem impulsionar os indivíduos na busca pelo sentido de sua existência.

Powers of freedom: reframing political thought (1999) desenvolve o argumento de que a racionalidade do governo em um sistema capitalista tem como objetivo central a regência das pessoas através da liberdade. A autonomia é vista como uma condição necessária e um aspecto vital do governo da conduta dos indivíduos – que são, portanto, obrigados a serem livres.

Bruno Latour

O sociólogo, antropólogo e filósofo Bruno Latour (1947- )LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Rio de Janeiro: Editora 34, 2009. teve 8 obras citadas, sendo 3 as que tiveram mais destaque: o livro Jamais fomos modernos (3 citações), o capítulo Where are the missing masses? The sociology of a few mundane artifacts (2) e outro livro Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede (2).

No ensaio Jamais fomos modernos (1991), o autor discute a modernidade, colocando em foco a sociedade ocidental e o embate clássico natureza x cultura. Latour propõe, através do que chama de antropologia simétrica, que a categoria “modernidade” seja superada e as análises culturais sejam pensadas a partir de conceitos como crítica, redes, tradução, hibridismo.

O capítulo Where are the missing masses? (1992) contém as sementes do que o autor desenvolve mais tarde na teoria ator-rede. O filósofo aborda o poder e a “agência” dos artefatos, interessado na maneira como as tecnologias afetam a sociedade e são afetadas, mediam as relações humanas e transformam nossas vivências, atentando para as tensões de ordem política que advém dessas novas configurações.

Em Reagregando o social: uma introdução à teoria ator-rede (2005), uma das obras de maior reconhecimento do autor, ele destrincha a teoria ator-rede (teoria social que aborda a agência de sujeitos – animados ou inanimados – e redes, utilizando os conceitos de tradução e associação), aborda a modernidade e constrói uma teoria engajada. Sua luta é pela construção de arcabouços teóricos diferentes, que imaginem novas organizações de mundo, abandonando a centralidade da sociologia ocidental.

Georg Simmel

Sociólogo alemão, Georg Simmel (1858-1918)SIMMEL, G. Questões fundamentais da sociologia: indivíduo e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. teve 9 obras citadas, sendo as 2 mais referenciadas: Sociabilidade: um exemplo de sociologia pura ou formal (3 citações) e A natureza sociológica do conflito (2).

No artigo em que discute a sociabilidade, Simmel (1983)______. A natureza sociológica do conflito. In: MORAES FILHO, E. (Org.). Simmel. São Paulo: Ática, 1983. divide as formas (os meios, os formatos) e o conteúdo (o fim, o objetivo) das interações. Ele exemplifica: agregarse em uma comunidade pode ser uma forma de proteção dos indivíduos (conteúdo). Algumas formas, no entanto, não têm conteúdo e existem apenas enquanto forma. Assim, Simmel define sociabilidade como um exemplo de sociologia pura ou formal: o objetivo é o próprio interagir, estar junto. Sociabilidade, para o sociólogo, é a forma lúdica de sociação.

Em A natureza sociológica do conflito (1983), Georg Simmel sustenta que o conflito não é necessariamente uma anomalia do ponto de vista social; pelo contrário, pode ser considerado, em certas circunstâncias, a forma mais viva de interação. Mesmo levando em conta que o conflito em última instância pode eliminar sujeitos e grupos, o autor sustenta o antagonismo como um elemento de sociação.

Leitura dos autores pelos textos da área temática

Após o levantamento das principais referências acionadas pelos pesquisadores, procuramos perceber de que maneira isso é feito nos artigos, através da identificação de quais aspectos e questões teóricas e/ou metodológicas tratados nas obras citadas são, de fato, recuperados e servem de apoio à tessitura dos textos do GT. Além disso, registramos a distribuição das citações por instituições no país, de modo a perceber se a referência a determinado autor é mais localizada ou mais difusa entre os pesquisadores da área, bem como mapear tendências mais específicas de alguns Programas. Como passo seguinte, uma avaliação do tratamento dos autores efetuado pelos pesquisadores do GT, no sentido de apreender a singularidade de suas leituras, a construção de um novo conhecimento, seria certamente de grande interesse. Porém, demandaria não apenas um exame mais criterioso de cada artigo, como um esforço analítico e comparativo que ultrapassaria os objetivos desta fase de nossa pesquisa. Neste momento, nosso interesse ficou mais centrado nas formulações e conceitos que influenciam e atuam na reflexão dos pesquisadores brasileiros4 4 Nesta fase de mapeamento das áreas temáticas da comunicação, já foram tratadas seis entre elas: comunicação e política, estudos de televisão, novas mídias, estudos de jornalismo, epistemologia da comunicação. .

Michel Foucault

Foucault é referenciado 45 vezes, com 21 obras citadas em 29 artigos diferentes. Dentre os textos que citam o autor, encontramos 28 pesquisadores de 10 instituições: UFRJ (6); UFMG (4); PUC-SP (4); UFF (3); PUC-Rio (3), UnB (1); UFRN (1), UFBA (2), UFPE (2), UERJ (1); UFC (1)

Em relação às noções e conceitos de Foucault que são encontrados nos textos deste GT, podemos mencionar: o conceito de discurso, sujeito do crime e sujeito do discurso; a concepção de enunciação como lugar de articulação de poder e saber; as relações de força e poder; a noção de vontade de verdade; a questão do regime disciplinar; a ideia de multidão e de sociedade disciplinar; a noção de dispositivo; a discussão sobre sexualidade e repressão; a noção de cuidado de si e do outro; a questão do corpo e da nudez; a questão do controle; a noção de práticas discursivas e de sujeito; o conceito de biopolítica; o conceito de homo economicus; a discussão sobre anormalidade, sobre noções de verdade e sobre formas de subjetividade; o conceito de biopoder; a noção de Estado, de liberalismo e de capital humano; a noção de vigilância, disciplina e instituições disciplinares; o conceito de heterotopia; e a discussão sobre a produção de subjetividade.

Félix Guattari

Desconsiderando as citações como coautor com Deleuze, o filósofo foi referenciado 21 vezes em 12 artigos diferentes de 9 pesquisadores. Estes pertencem a 5 instituições diferentes: UFRJ (5); UERJ (1); PUC-SP (1); PUC-Rio (1); e ESPM (1).

Guattari é usado para entender as formas de subjetivação que são produzidas contemporaneamente e como somos constituídos e afetados por espaços e objetos técnicos, principalmente no contexto urbano. Ele também é acionado para recusar fixações identitárias e propor possibilidades de transversalidade e de singularização dos sujeitos – que, diferente do pensamento identitário, servem como conceitos para abarcar todas as possibilidades de diferença e mudança. O debate sobre o desejo e a micropolítica também emergem nas referências a esse autor.

Gilles Deleuze

Deleuze é citado 36 vezes, em 20 artigos de 14 pesquisadores, distribuídos entre 8 instituições: UFRJ (4); PUC-Rio (3); PUC-SP (2); UERJ, UFF, UFSM, UTP5 5 Uma pesquisadora estava na UFMG em 2011 e na UTP em 2015. e UFMG (1 cada).

Há certa diversidade no modo como o autor é citado nos textos analisados, sendo possível perceber certas chaves de leitura e modos de apropriação. Três eixos, contudo, se destacam. Primeiro, a proposta de Deleuze de que à sociedade disciplinar, conceituada e analisada por Foucault, seguiria uma sociedade do controle (DELEUZE, 2013______.O que é a filosofia? 3. ed. São Paulo: Ed. 34, 2010.), em que o poder se exerceria não mais por uma ordenação e disciplinarização dos corpos, mas por um agenciamento dos desejos e das subjetividades, de uma forma modular e imanente, e não massiva e transcendente. O segundo eixo está centralizado na produção de subjetividades por essas sociedades de controle, mas também na produção de sentidos e de sensibilidades (afectos e perceptos) capazes de desafiar os regimes de enunciação e visibilidade por elas dispostos. Um terceiro eixo estaria na abordagem dos conceitos de agenciamento e máquina em relação com a noção de dispositivo, que Deleuze desenvolve a partir de Foucault.

João Freire Filho

O pesquisador brasileiro foi referenciado 23 vezes em 18 artigos diferentes, de 20 pesquisadores. Foram 10 instituições, sendo elas: UFRJ (6); ESPM (2) PUC-SP (3); UFMG (2) UFPE (2), UnB (1); UFSM (1); UFF (1); PUC-RS (1) e Universidade de Illinois (1).

Freire Filho vem sendo citado mais recentemente quando os trabalhos tratam do campo temático da felicidade, autoajuda, bem-estar e autoestima. Oito artigos com as mais diversas temáticas, de programas da GNT a empreendedorismo, de velhice a pacientes com câncer, bebem do diagnóstico da (oni)presença da psicologia positiva e do autogerenciamento da felicidade.

Alguns artigos utilizam considerações metodológicas e epistemológicas do autor sobre análises de recepção, a condição de pesquisador insider, o desenvolvimento da chamada sociologia do “pânico moral”, a cena musical como ferramenta interpretativa. A temática das pesquisas da juventude aparece em citações mais antigas.

Paula Sibilia

Paula Sibilia é citada 17 vezes, em 12 artigos de 16 autores diferentes distribuídos em 10 instituições: PUC-Rio (5), UFPE (2), UFBA (2), UFF (1), UnB (1), UFSM (1), UFRJ (1), ESPM (1), UCPel (1), USP (1).

Sua obra é acionada principalmente para tratar de temáticas relacionadas ao corpo, em diferentes aspectos (disciplinamento, nudez, corpo belo), ao controle das subjetividades, às novas formas de sociabilidade.

Outro grande tema abordado pelos artigos que referenciam Sibilia são as redes sociais, a escrita de si multimídia, a busca de visibilidade e popularidade, e discussões relacionadas ao conceito de felicidade e sofrimento, à relação contemporânea entre ficção e realidade.

Zygmunt Bauman

O autor foi referenciado 14 vezes, em 10 artigos, de 11 pesquisadores, em 6 instituições: UFRJ (3), UFMG (2), PUC-SP (2); ESPM (1); PUC-Rio (1), UFRN (1) e UFC (1).

Bauman é evocado para abordar as mudanças e a falta de fixação da modernidade e dos laços de afetos, ou seja, as inconsistências que apresentamos nas relações amorosas, bem como frente ao poder, ao controle, à globalização e às novas formas de comunicação, bem como às alterações nas representações.

Pierre Bourdieu

Pierre Bourdieu foi referenciado 13 vezes, em 8 artigos por 10 pesquisadores de 7 instituições: UFRJ (2), UFMG (2), UFPE (2), UFSM (1), UFRN (1), UFC (1) e Unisinos (1).

O autor é convocado pelos pesquisadores do GT sobretudo através do seu modelo economicista da cultura, na discussão de questões referentes ao capital cultural, social e simbólico, principalmente no que diz respeito ao poder da mídia enquanto uma instituição detentora de tais capitais. Enfatiza-se a ideia proposta por Bourdieu de que escolhas culturais (músicas, filmes, produtos televisivos, por exemplo) são elementos que refletem as origens socioeconômicas dos sujeitos, sendo os elementos culturais produzidos pela mídia um termômetro medidor das classes sociais.

Nikolas Rose

Nikolas Rose foi referenciado 12 vezes, em 9 artigos, por 7 pesquisadores, vinculados a 2 instituições: UFRJ (7) e UFF (1).6 6 Uma pesquisadora transitou entre as duas instituições no período analisado.

O autor é acionado para tratar da teoria da governamentalidade, para refletir sobre a liberdade e a autonomia na constituição e na administração dos indivíduos na contemporaneidade. Suas ideias são resgatadas também para falar sobre o cálculo e a administração de sujeitos de consumo. Ao lado de outros autores, é citado para falar da demanda por uma avaliação contínua de diferentes funções físicas e de taxas de elementos bioquímicos do corpo.

Bruno Latour

Latour foi referenciado 12 vezes, em 8 artigos, por 6 pesquisadores de 6 instituições: UFRJ (2), UERJ (1)7 7 Um pesquisador mudou da UERJ para a UFRJ no período. , UFBA (1), UFMG (1), UFRN (1), UFC (1).

Latour é convocado sobretudo para tratar da teoria ator-rede, de suas teorizações sobre mediação, tradução e redes, bem como para falar sobre novas identidades nas redes e os novos papéis na modernidade. Em alguns artigos suas obras são utilizadas para justificar os objetos da pesquisa relacionados, por exemplo, aos conceitos de híbridos, sistemas técnicos, tecnologia, automação. Numa perspectiva metodológica, são resgatados os conceitos antropológicos de exploração e rastreio.

Georg Simmel

Referenciado 12 vezes em 6 artigos de 10 pesquisadores, Simmel encerra nossa lista de autores mais recorrentes no GT. Os pesquisadores são de 3 instituições: UFMG (6), UFRN (2), UFRJ (2).

Nos textos que compõem o recorte, Simmel é acionado para discutir conceitos como sociação, sociabilidade, bem como a relação sociabilidade e conflito. Também é retomado para refletir sobre a vida nas grandes cidades, cujo aparecimento, a partir do século XIX, trouxe a intensificação de estímulos visuais e novas formas de contato entre as pessoas. Além disso, o sociólogo é resgatado para pensar a conflituosa dinâmica de constituição entre indivíduo e sociedade.

Reflexões finais

Embora os dados coletados possibilitem inúmeros cruzamentos e inferências, os limites deste texto não nos permitem ir muito além de um tratamento mais descritivo, aprofundando a análise de nossos resultados (o que esperamos fazer em próximos trabalhos). Aqui, nosso objetivo foi apresentar o quadro de autores e respectivas perspectivas teóricas convocadas pelos estudiosos na área comunicação e sociabilidade.

O GT homônimo da Compós tem como eixo de investigação “os modos de ser e estar no mundo”, conforme sintetizou o coordenador do grupo, João Freire Filho, na reunião de avaliação do GT em 2019. Nossa análise evidenciou que esses modos de ser e estar no mundo são investigados enfatizando dois eixos centrais: 1) o próprio sujeito, a partir de sua subjetividade, dos embates entre autonomia e opressão; 2) a sociedade em que ele se inscreve, identificada como a sociedade capitalista, mas também a sociedade em rede formada pelos novos dispositivos tecnológicos.

No primeiro eixo, são retomados autores como Foucault, Deleuze, Guattari e Rose, que compartilham um mesmo núcleo temático-conceitual, em torno das formas de subjetivação na contemporaneidade, com ênfase na administração e no controle dos indivíduos. Freire Filho e Sibilia – pesquisadores do campo da comunicação no Brasil e membros do GT – também podem ser situados nessa perspectiva, que concentra, ao todo, 175 citações.

No segundo eixo, autores como Simmel, Bauman, Latour, Bourdieu (51 citações) são convocados para pensar a sociedade e sua configuração na contemporaneidade. A combinação dos dois eixos – refletir sobre o sujeito, mas um sujeito em sociedade – sinaliza uma característica fundamental para área comunicação e sociabilidade, na medida em que permite situar os processos comunicativos na esfera da ação de sujeitos que se constituem em sociedade. O fundamento interacional do conceito de sociabilidade que nomeia a área e o GT permanece na preocupação dos pesquisadores, ainda que, muitas vezes, a ênfase recaia mais nos processos de subjetivação que constituem os indivíduos na contemporaneidade.

Os 98 trabalhos apresentados no GT no período analisado foram desenvolvidos por pesquisadores inseridos em 18 instituições brasileiras e uma americana8 8 O autor da instituição é um brasileiro, no período em que realizava o pós-doutorado na instituição. , indicando diversidade de origem. No entanto, há um enraizamento predominante do GT nos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. A UFRJ marca a presença mais forte, com 19 participantes (23% do total); em seguida, vem a UFMG, com 14 (17%). O total das universidades fluminenses (UFRJ, UERJ, UFF, PUC-Rio) alcança 36 pesquisadores (43%); somando com a UFMG, encontramos nesses dois estados 60% dos participantes do GT nos dez anos analisados pela pesquisa.

Uma leitura da distribuição das referências também mostra um mapa interessante. Percebe-se que a influência de alguns autores é bastante espraiada: Foucault é citado por pesquisadores de 11 instituições, João Freire e Paula Sibilia por 10, Deleuze por 8, Bauman e Bourdieu por 7, Latour por 6 instituições. Os outros três estão abaixo disto: Guattari (5), Simmel (3), Rose (2), o que mostra influências mais localizadas.

Olhando pelo viés das instituições, e muito embora esse número tenha que levar em conta o número de pesquisadores de cada uma, percebemos também tendências distintas. Trabalhos apresentados por pesquisadores da UFRJ citam todos os 10 autores mais referenciados; os da UFMG citam 7. Pesquisadores da UFF, PUC-Rio, PUC-SP, UFRN citam 5 autores da lista de 10. Os trabalhos das demais instituições citam menos do que isto (4, 3, 1), o que aponta o mapa de sustentação dos autores mais referenciados. Além de Foucault, Freire e Sibilia são autores que penetram mais horizontalmente.

Vale lembrar que a bibliografia levantada apresenta um número grande e diversificado de autores – 1.145 – e uma forte preponderância de nomes estrangeiros (733, ou 64%), tendência ainda mais acentuada nos dez autores mais citados, dentre os quais encontramos apenas um brasileiro (João Freire Filho) e apenas dois inseridos em instituições brasileiras (UFRJ e UFF). Entre os estrangeiros citados no grupo dos dez primeiros, há uma clara preponderância de nomes franceses (cinco), e um viés muito claro trazido pelo trio Foucault, Deleuze e Guattari (não por acaso, os três mais citados), aos quais se soma Rose (inglês), citados sobretudo pelos pesquisadores das instituições fluminenses. Bourdieu e Latour (franceses) estão mais presentes em instituições de outras partes do país, assim como Bauman (polonês).

Ao olhar para o modo como esses autores são acionados nas reflexões do grupo, percebemos que não se trata de uma mera transposição de ideias da filosofia ou da sociologia para a comunicação. Referências provenientes de outros campos de conhecimento constituem historicamente o nosso campo e enriquecem as pesquisas nele realizadas. No caso do GT analisado, trata-se, de modo geral, de um acionamento de ideias que podem ajudar a problematizar o objeto propriamente comunicacional – as interações comunicativas entre os sujeitos em determinados contextos sociais e históricos.

Se retomarmos a instigante reflexão de Braga (2018)BRAGA, J. L. O conhecimento comunicacional - entre a essência e o episódio. In: FRANÇA, V.R.V.; SIMÕES, P.G. (Orgs.) O modelo praxiológico e os desafios da pesquisa em Comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2018, p. 119-137. acerca da essência e do episódio na produção do conhecimento comunicacional, podemos dizer que os autores são acionados no GT para a problematização de casos empíricos, fazendo dialogar as duas posições: “a da proposição de essências e a de se fixar nos episódios e aspectos singulares” (BRAGA, 2018BRAGA, J. L. O conhecimento comunicacional - entre a essência e o episódio. In: FRANÇA, V.R.V.; SIMÕES, P.G. (Orgs.) O modelo praxiológico e os desafios da pesquisa em Comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2018, p. 119-137., p. 129). Podemos vislumbrar que teorias intermediárias – que buscam justamente uma “visada de nível intermediário entre as duas posições” – podem emergir nas pesquisas em torno dos dois eixos destacados acima: 1) o próprio sujeito (e suas relações); 2) a sociedade em que ele se inscreve. Dois eixos importantes na consolidação de uma visada propriamente comunicacional acerca dos fenômenos – que permanece como meta e desafio para os pesquisadores do campo da comunicação.

  • 1
    Agradecemos à CAPES, ao CNPq, à FAPEMIG e à PRPq/UFMG o apoio ao desenvolvimento de nossas pesquisas.
  • 2
    O projeto As novas teorias da comunicação: mapeamento de um campo científico é coordenado pelas professoras Vera França e Paula Simões e investiga os alicerces teóricos das áreas temáticas que configuram o campo da comunicação no Brasil. Já foram tratadas seis áreas: comunicação e política, estudos de televisão, novas mídias, estudos de jornalismo, epistemologia da comunicação e comunicação e sociabilidade.
  • 3
    A metodologia da pesquisa foi apresentada de forma mais detalhada em outros textos publicados pela equipe do projeto. Cf. FRANÇA et al., 2016______.Tendências das teorias da Comunicação: mapeamento de campos teóricos contemporâneos. Questões Transversais, São Leopoldo, v. 4, n. 8, p. 57-67, 2016., 2018; SIMÕES et al., 2019aSIMÕES, P. G. et al Estudos de televisão no Brasil: uma abordagem de autores/as e teorias. Contemporânea, Salvador, v. 17, n. 2, 2019a, p. 1-23., 2019b______. Mapeando os estudos de novas mídias no Brasil. Eco-pós, v. 22, n. 3, 2019b, p. 231-258., 2020______. Mapeando o campo da comunicação no Brasil: desafios e descobertas metodológicas de uma metapesquisa. Intexto n. 49, mai./ago. 2020, p. 56-71..
  • 4
    Nesta fase de mapeamento das áreas temáticas da comunicação, já foram tratadas seis entre elas: comunicação e política, estudos de televisão, novas mídias, estudos de jornalismo, epistemologia da comunicação.
  • 5
    Uma pesquisadora estava na UFMG em 2011 e na UTP em 2015.
  • 6
    Uma pesquisadora transitou entre as duas instituições no período analisado.
  • 7
    Um pesquisador mudou da UERJ para a UFRJ no período.
  • 8
    O autor da instituição é um brasileiro, no período em que realizava o pós-doutorado na instituição.

Referências

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  • ______.Tendências das teorias da Comunicação: mapeamento de campos teóricos contemporâneos. Questões Transversais, São Leopoldo, v. 4, n. 8, p. 57-67, 2016.
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  • ______. Mapeando o campo da comunicação no Brasil: desafios e descobertas metodológicas de uma metapesquisa. Intexto n. 49, mai./ago. 2020, p. 56-71.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    12 Set 2019
  • Aceito
    10 Dez 2019
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