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Desafios editoriais da divulgação científica: os caminhos da Revista Geousp

Ao longo dos anos, a Revista Geousp passou por diversas mudanças visando o aperfeiçoamento de seus processos editoriais, adotando práticas sintonizadas com as demandas dos periódicos científicos de alto nível, chegando a 2024 posicionada entre as mais importantes publicações da Geografia da América Latina.

Nesse percurso de quase três décadas, foram necessárias atualizações nos meios técnicos, que permitiram aperfeiçoamento na recepção e na avaliação dos manuscritos, com transparência nos trâmites e confiabilidade relativa à autoria, além de agilidade no processo editorial em si. Com isso, novas perguntas sobre o mundo editorial de revistas científicas perpassam o cotidiano de um periódico como a Geousp: quais estratégias podem ser adotadas para tornar a revista mais acessível e mais diversa? Como a revista científica dialoga com as novas formas de comunicação, por exemplo, com as redes sociais? Como podemos reconhecer as novas e crescentes demandas do universo editorial acadêmico mantendo-as em equilíbrio e sintonia com a nossa essência de publicação acessível e plural? Para tecermos ideias acerca desses questionamentos, podemos compreender o caminho percorrido até aqui, 2024.

De 1997 a 2009, a revista foi divulgada exclusivamente em versão impressa, sendo, de 2010 em diante, disponibilizada em versão eletrônica baseada na plataforma Open Journal Systems (OJS) 1 1 Open Journal Systems (OJS) é um sistema de código livre gratuito para a administração e a publicação de revistas, desenvolvido com suporte e distribuição pelo Public Knowledge Project sob a licença GNU General Public License. , tendo sido também digitalizado seu acervo pregresso, estando hoje integralmente disponibilizada no Portal de Revistas da USP, que concentrou, a partir de 2008, grande parte dos periódicos da Universidade de São Paulo ( Serradas, 2015SERRADAS, André. Portal de revistas da USP: crescimento e visibilidade dos periódicos. Fisioterapia e Pesquisa, v. 22, n. 1, p. 1-2, jan./mar. 2015.). A partir de 2014, 100% do processo e fluxo editorial passou a ser exercido por intermédio da plataforma OJS, da submissão do manuscrito pelo autor, passando pelos processos de recepção e avaliação por pares cegos até o envio para a diagramação, como apontou Antas Junior (2022ANTAS JUNIOR, R. M. Editorial. GEOUSP: Espaço e Tempo (Online), [ S. l.], v. 26, n. 3, 2022. DOI: 10.11606/issn.2179-0892.geousp.2022.203695. Available at: https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/203695 . Accessed on: April 5, 2024.
https://www.revistas.usp.br/geousp/artic...
).

Nesses últimos 10 anos, foram 1281 submissões recebidas por meio digital, sendo, em média, 127 por ano 2 2 Este número não inclui os ensaios escritos mediante convite da revista. . Destas, 345 foram aceitas para publicação (37/ano) e 727 recusadas (75/ano).

A Revista Geousp vem crescendo continuamente como fonte de referência de trabalhos científicos, como mostra o gráfico expresso na Figura 1, a partir das citações medidas pelo Google Acadêmico. Salientamos que os indicadores de 2020 até 2023, mesmo tendo sido publicados há, no máximo, 3 anos, já possuem altos índices de citações, expressando a relevância dessas publicações ( Garcia, 2024GARCIA, T. M. Relatório anual. São Paulo: Revista GEOUSP - Espaço e tempo, 2022. (Internal document.)).

Figura 1:
índice de citações por ano medidas pelo Google Acadêmico.

Consolidamos uma tendência crescente de acessos dentro da plataforma Scielo, estando as oscilações negativas condizentes com os períodos de férias acadêmicas (ver Figura 2). Salientando, ademais, que estes números não incluem os acessos dentro do Portal de Revistas da USP.

Figura 2:
Acessos à Revista Geousp na plataforma Scielo entre janeiro/2022 e dezembro/2023 (gerado a partir de ferramenta Analytics da Scielo.orgSCIELO Analytics. Base de dados da Scielo. Available at: https://analytics.scielo.org/ . Accessed on April 04, 2024
https://analytics.scielo.org/...
).

Relevância nacional e internacional

Atingimos atualmente alcance nacional e internacional (especialmente na América Latina, Portugal, Espanha e Moçambique), contando com um Conselho Científico composto por 25 nomes, sendo oito estrangeiros (EUA, Alemanha, Espanha, Chile, Reino Unido, China, França, Argentina), 13 de diversos estados brasileiros e quatro da Universidade de São Paulo. O Comitê Editorial é composto por 15 docentes, sendo sete externos à Universidade de São Paulo: cinco pesquisadores com afiliação no exterior (Universidad de Buenos Aires - Argentina; Universidad de Chile - Chile; Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales - Quito/Equador), nove brasileiros (Universidade Federal do Amazonas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Estadual do Ceará, Universidade Federal da Grande Dourados, Universidade de Brasília, Universidade Federal de Uberlândia, Universidade Estadual de Campinas). Oito docentes estão vinculados aos programas de pós-graduação de Geografia Humana e Geografia Física FFLCH/USP.

Em relação a autoria de artigos, a presença de pesquisadores de outros países tem crescido consistentemente, tendo a presença internacional já atingido mais de 25% dos artigos e ensaios publicados em 2023.

Tabela 1 -
Número de autoria com afiliação no exterior

Em 2021 a revista foi indexada na base Scielo, o que marca a etapa atual da revista, buscando o cumprimento das exigências para continuidade na base entre as quais: publicação de artigos em inglês, 25% de participação de autores e avaliadores com afiliação em instituições do exterior ( Figura 3), aplicação de práticas de Ciência Aberta, entre outras. Nos últimos dois anos, por exemplo, foram 196 submissões recebidas, sendo 85 aprovadas e 151 recusadas, uma taxa de aprovação de 27%. Em 2019 foram recebidas 106 submissões, aprovados 86 artigos e 50 submissões rejeitadas (índice de rejeição estimado: 47%). Foram publicados 43 artigos. A partir de dezembro de 2019 foi incorporada a marcação em XML 3 3 XML é uma linguagem de programação utilizada para armazenamento de dados. Nas revistas científicas permite o armazenamento do texto completo e dos metadados de artigos em indexadores como a SciELO. Possibilita gerar versões para suportes como: HTML, ePub, PDF e outros sistemas como Crossref DOI, ORCID, DOAJ, etc. e permite a interoperabilidade entre sistemas: Lattes, Crossref, SciELO, Web of Science, além de automatizar validações. Cf: PORTAL DE REVISTAS DA USP. O que é marcação XML. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/wp/noticias/o-que-sao-arquivos-xml/. Acesso em: 08 de abril de 2024. . Nesse período a revista ingressou no Portal de Revista da USP e passou a operar na versão OJS 3.0.

Figura 3:
Distribuição por idiomas medido pela Scielo, entre jan/2022 e dez/2023 (gerado a partir de ferramenta Analytics da Scielo.orgSCIELO Analytics. Base de dados da Scielo. Available at: https://analytics.scielo.org/ . Accessed on April 04, 2024
https://analytics.scielo.org/...
).

Entre as mudanças mais significativas estão a nova estrutura editorial e os recursos humanos. A revista passou a contar com um grupo de profissionais mais amplo: uma editora-chefe, professora doutora responsável pela edição geral e os artigos de geografia humana; um vice-editor, professor doutor responsável pelos artigos de geografia física; um editor-executivo, servidor técnico responsável pelo andamento do fluxo editorial; um estagiário de pós-graduação que colabora na recepção de manuscritos e em atividades editoriais diversas e uma estagiária de graduação que colabora nas atividades de comunicação e de relacionamento institucional através de redes sociais. Os editores de seção são responsáveis cada qual por observar a qualidade dos artigos dentro de seu campo de especialidade (geografia urbana, geomorfologia, geografia econômica, ensino de Geografia, cartografia, etc.) desde a aceitação do artigo passando pela escolha dos pareceristas e dos diálogos e soluções de problemas específicos até a aceitação final do artigo para publicação.

Após a indexação do periódico na base Scielo, concentramos esforços no aperfeiçoamento da política editorial com centralidade na ética e na publicação de artigos originais, além da incorporação de procedimentos adequados aos novos patamares qualitativos atingidos pela revista, tais como aumento na relevância no campo da geografia e internacionalização. Nesse sentido, a participação da revista em eventos internacionais como o EGALC 2023 (Encontro de geógrafos da América Latina e Caribe), em Santo Domingo, onde estiveram presentes quatro membros do conselho editorial, e o ENANPEGE (Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia), em Palmas - Tocantins, onde estiveram presentes a editora-chefe e membros do conselho editorial. Também a promoção de eventos acadêmicos e a divulgação de conteúdo por meio de releases para mídias científicas e universitárias, como o Blog da Scielo, além de publicações em redes sociais próprias ( Figura 4), fazem parte das estratégias de comunicação e relacionamento que estamos efetuando.

Figura 4:
Artigo da Geousp em destaque no Blog da Scielo e perfil na rede social Instagram contribuem para comunicação com público externo à academia.

A Geousp e o contexto atual das revistas acadêmicas

Neste ponto da nossa caminhada, a Revista Geousp - Espaço e Tempo é orientada por três aspectos em suas ações editoriais: 1) a melhoria e constante revisão da política editorial e a manutenção do acesso aberto; 2) o aperfeiçoamento do seu projeto gráfico e, sobretudo, o zelo e o aprimoramento da qualidade do texto no que tange à responsabilidade editorial e a ética; 3) a comunicação e a divulgação científica.

Quanto à política editorial, a revista tem como preocupação ampliar a sua vocação enquanto publicação de geografia humana e física na comunidade nacional e internacional de geógrafos, com especial alcance nos países latino-americanos, promovendo publicações em formatos de artigos, ensaios, entrevistas e dossiês.

Como parte da Coleção SciELO Brasil, a Revista Geousp segue os critérios, a política e os procedimentos da Rede SciELO para periódicos nacionais, bem como orienta-se pelo Guia de Boas Práticas para o Fortalecimento da Ética na Publicação Científica e assume os desafios expressos na Declaração em Apoio à Ciência Aberta com IDEIA - Impacto, Diversidade, Equidade, Inclusão e Acessibilidade. Desde 2022, estamos adotando os princípios IDEIA de forma que o comitê editorial conta com 40% de mulheres e acreditamos em uma crescente nos próximos anos.

Nesse sentido, são necessárias ações que viabilizem a divulgação das revistas entre a comunidade científica internacional, tanto para estimular a submissão de manuscritos por pesquisadores também de instituições do exterior, quanto na composição do corpo editorial e na participação no processo editorial.

Um convite à leitura de nosso número 1 de 2024

Começamos este ano com a publicação de 10 artigos, sendo três pertencentes ao Dossiê: Fronteiras da América latina e uma entrevista com a geógrafa estadunidense Ruth Gilmore. Esperamos que tenham uma excelente leitura de todo o conhecimento geográfico aqui disponível.

O artigo de Carlos Brandão reflete sobre como as relações entre dinheiro e mercados em perspectiva ao chamado “Capitalismo de Plataforma” em um contexto geohistórico de operações das atividades econômicas, cálculos e intercâmbios que são mediados por dispositivos e tecnologias digitais.

Ainda na área da geografia econômica, o artigo de Villy Creuz busca traçar o caminho do dinheiro na divisão social e territorial do trabalho, destacando a participação desses negócios na configuração da paisagem da cidade portenha.

Larissa Lira analisa em seu trabalho as reflexões de um grupo de geógrafos e suas controvérsias sobre a escolha da nova localização de Brasília e as lógicas de planejamento regional, observando a performatividade da ciência geográfica em sua capacidade de construir territórios.

O artigo de Francyjonison do Nascimento promove o contato entre a Geografia e a obra de Byung-Chul Han, filósofo germano-coreano contemporâneo, estabelecendo um esforço teórico de relacionar a noção de Terra do autor estudado às mais diversas tradições geográficas,

A pesquisa realizada por Warlen de Oliveira e Marcelo Nero analisa o índice de conectividade hidrossedimentológica e seus efeitos, buscando compreender a dinâmica de sedimentos que requer o uso de variáveis que representam a morfologia e as condições ambientais envolvidas no espaço e no tempo.

Leandro Bortoluzzi e José Tadeu Tommaselli analisam Foz do Iguaçu como cidade que recebe forte ação do Estado como agente produtor do espaço urbano e expansão dele através da análise temporal de documentos, fotos aéreas e imagens de satélite.

Desejamos excelente leitura!

References

  • ANTAS JUNIOR, R. M. Editorial. GEOUSP: Espaço e Tempo (Online), [ S. l], v. 26, n. 3, 2022. DOI: 10.11606/issn.2179-0892.geousp.2022.203695. Available at: https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/203695 Accessed on: April 5, 2024.
    » https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2022.203695» https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/203695
  • GARCIA, T. M. Relatório anual São Paulo: Revista GEOUSP - Espaço e tempo, 2022. (Internal document.)
  • SERRADAS, André. Portal de revistas da USP: crescimento e visibilidade dos periódicos. Fisioterapia e Pesquisa, v. 22, n. 1, p. 1-2, jan./mar. 2015.
  • SCIELO Analytics. Base de dados da Scielo Available at: https://analytics.scielo.org/ Accessed on April 04, 2024
    » https://analytics.scielo.org/
  • A versão em inglês editorial foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Código de financiamento 001.
  • 1
    Open Journal Systems (OJS) é um sistema de código livre gratuito para a administração e a publicação de revistas, desenvolvido com suporte e distribuição pelo Public Knowledge Project sob a licença GNU General Public License.
  • 2
    Este número não inclui os ensaios escritos mediante convite da revista.
  • 3
    XML é uma linguagem de programação utilizada para armazenamento de dados. Nas revistas científicas permite o armazenamento do texto completo e dos metadados de artigos em indexadores como a SciELO. Possibilita gerar versões para suportes como: HTML, ePub, PDF e outros sistemas como Crossref DOI, ORCID, DOAJ, etc. e permite a interoperabilidade entre sistemas: Lattes, Crossref, SciELO, Web of Science, além de automatizar validações. Cf: PORTAL DE REVISTAS DA USP. O que é marcação XML. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/wp/noticias/o-que-sao-arquivos-xml/. Acesso em: 08 de abril de 2024.

Disponibilidade de dados

Citações de dados

SCIELO Analytics. Base de dados da Scielo Available at: https://analytics.scielo.org/ Accessed on April 04, 2024

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    30 Mar 2024
  • Aceito
    25 Abr 2024
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