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Avaliação das principais variáveis que influenciam na conectividade de sedimentos com base em modelos aplicados

Resumo

O índice de conectividade hidrossedimentológica determina o grau de possibilidade que os sedimentos de uma determinada área chegue a um ponto de controle. Compreender a dinâmica que ocorre com os sedimentos requer o uso de variáveis que representam a morfologia e as condições ambientais envolvidas no espaço e no tempo. Esta pesquisa propõe a análise de modelos, identificando as principais variáveis que explicam a conectividade de sedimentos e observando as influências e frequências de uso delas. Com base em 35 artigos específicos que trataram de modelos de conectividade de sedimentos, foi constatada uma representatividade importante do uso de modelos digitais de elevação em 85% dos trabalhos, com destaque para variáveis de declividade, área de drenagem, além do uso da terra. A rugosidade, apesar de extrema importância, foi usada apenas com dados tabelados, podendo assim ser um elemento a ser detalhado em novos modelos.

Palavras-chave:
hidrossedimentologia; índice de conectividade; parâmetros hidrossedimentológico; métodos hidrossedimentológicos

Abstract

The hydro-sedimentological connectivity index determines the degree of possibility that sediments from a given area reach a control point. To understand the dynamics that occur with sediments, the use of variables that represent the morphology and environmental conditions involved in space and time is necessary. This research proposed the analysis of models, identifying the main variables that explain the connectivity of sediments and observing their influences and frequency of use. Based on 35 specific articles that addressed sediment connectivity models, an important representativeness of the use of digital elevation models was found in 85% of the studies, emphasizing slope variables, drainage area, and land use and cover. Roughness was used only with tabulated data, despite being extremely important, thus being able to be an element to be detailed in new models.

Keywords:
Hydro-sedimentology; Connectivity Index; Hydro-sedimentological parameters; Hydro-sedimentological methods

Resumen

El índice de conectividad hidrosedimentológica determina el grado de posibilidad de que los sedimentos de una zona determinada lleguen a un punto de control. Comprender la dinámica que ocurre con los sedimentos requiere el uso de variables que representen la morfología y las condiciones ambientales involucradas en el espacio y el tiempo. Esta investigación propuso el análisis de modelos, identificando las principales variables que explican la conectividad de los sedimentos y observando sus influencias y frecuencia de uso. A partir de 35 artículos específicos que abordaron modelos de conectividad de sedimentos, se encontró una representatividad importante del uso de modelos digitales de elevación en el 85% de los trabajos, con énfasis en variables de pendiente, área de drenaje, además del uso del suelo. La rugosidad, a pesar de ser sumamente importante, se utilizó únicamente con datos tabulados, pudiendo así ser un elemento a detallar en nuevos modelos.

Palabras Clave:
hidrosedimentología; índice de conectividad; parámetros hidrosedimentológicos; métodos hidrosedimentológicos

Introdução

A sedimentologia trata de todos os processos de produção, transporte e deposição de sedimentos a partir da sua origem até o exutório de uma bacia ou em um dado ponto de referência para a análise. Essa dinâmica pode ocorrer por meio hídrico, eólico, por arraste do movimento de animais ou ações antrópicas (Perry; Taylor, 2007PERRY, C.; TAYLOR, K. Environmental Sedimentology. Journal of Soils and Sediments, v. 7, n. 6, p. 460, 2007. ; Oliveira, 2023OLIVEIRA, Leon Dias. Análise estratigráfica das formações Serra do Catuni e Chapada Acauã inferior, grupo macaúbas, ao longo do paralelo 17°30’S, região Centro-Oeste de Minas Gerais. Dissertação (Mestrado em Evolução Crustal e Recursos Naturais) - Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2023. ; Mahoney; Fox, 2024MAHONEY, D. T.; FOX, J. F. Quantification of bedrock structural controls of longitudinal sediment connectivity using the probability of connectivity and sediment continuity model. Geomorphology, v. 448, p. 109027, 2024.). Para compreender os processos sedimentológicos (também tratados em Rodrigues, 2015RODRIGUES, C. Atributos ambientais no ordenamento territorial urbano. O exemplo das planícies fluviais na Metrópole de São Paulo. GEOUSP Espaço e Tempo (Online), v. 19, n. 2, p. 324-347, 2015. ), estudos recentes utilizam modelos computacionais e/ou desenvolvem índices que possam representar a dinâmica dos sedimentos ao longo da bacia hidrográfica, com alguns exemplos apresentados neste artigo. Esses modelos são construídos com o aporte de dados disponíveis a depender do objetivo e da área de estudo, os quais são aqui tratados como variáveis, também considerados como parâmetros de entrada para alguns autores.

Como parte dos estudos da sedimentologia, a conectividade vem ganhando espaço como relatado em uma revisão da literatura que abordou a dinâmica dos sedimentos (Najafi et al., 2021NAJAFI, S. et al. Sediment connectivity concepts and approaches. Catena, v. 196, p. 104880, 2021. ). Ainda segundo os autores, a maioria dos estudos levantados focaram em características estáticas e não em aspectos dinâmicos da conectividade, desenvolvendo métodos e índices baseados especialmente nas estruturas, deixando a conectividade funcional, que está relacionada basicamente com os processos de transporte do sedimento à margem dos estudos. Com a evolução destes, foram surgindo conceitos para definir a conectividade de sedimentos, como: transferência de água mediada de matéria, energia e/ou organismos dentro ou entre os elementos do ciclo hidrológico (Pringle, 2001PRINGLE, C. M. Hydrologic Connectivity and the Management of Biological Reserves: A Global Perspective. Ecological Applications, v. 11, n. 4, p. 981, 2001. ); passagem da água entre compartimentos da paisagem a partir de escoamento na bacia, causando efeitos sobre os processos biológicos e movimento de sedimentos (Bracken et al., 2013BRACKEN, L. J. et al. Concepts of hydrological connectivity: Research approaches, Pathways and future agendas. Earth-Science Reviews, v. 119, p. 17-34, 2013. ); estimativa da conexão potencial entre o sedimento erodido nas encostas e o sistema de riachos (Borselli; Cassi; Torri, 2008BORSELLI, L.; CASSI, P.; TORRI, D. Prolegomena to sediment and flow connectivity in the landscape: A GIS and field numerical assessment. Catena, v. 75, n. 3, p. 268-277, 2008. ) e transferência integrada de sedimentos por toda a bacia, de qualquer fonte possível, para determinado ponto de controle em um sistema, onde o vetor de transporte é única e exclusivamente a água, com ligações ao longo da cascata de sedimentos (Zanandrea; Kobiyama; Michel, 2017ZANANDREA, F.; KOBIYAMA, M.; MICHEL, G. P. Conectividade Hidrossedimentológica: Uma Abordagem Conceitual. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS, 22., 2017, Florianópolis, 2017. Anais [...]. Porto Alegre : ABRH, 2017. p. 1-8. ).

A conectividade de sedimentos trabalha com os componentes estrutural e funcional. A conectividade estrutural se relaciona com características físicas, como: declividade, uso e ocupação da terra, área de drenagem, rugosidade da superfície e características do sedimento; e a funcional se relaciona com os processos de erosão do solo, transporte, deposição de sedimentos, escoamento superficial e precipitação (Najafi et al., 2021NAJAFI, S. et al. Sediment connectivity concepts and approaches. Catena, v. 196, p. 104880, 2021. ). Um dos primeiros modelos para calcular a conectividade de sedimentos através de um índice foi proposto por Borselli, Cassi e Torri (2008BORSELLI, L.; CASSI, P.; TORRI, D. Prolegomena to sediment and flow connectivity in the landscape: A GIS and field numerical assessment. Catena, v. 75, n. 3, p. 268-277, 2008. ), através das características topográficas e uso da terra e com o apoio de Sistemas de Informações Geográficas (SIG). Através do uso do modelo LAPSUS (Research, 2018RESEARCH, W. U. Software LAPSUS, 2018. Disponível em: https://www.wur.nl/en/Research-Results/Chair-groups/Environmental-Sciences/Soil-Geography-and-Landscape-Group/Research/LAPSUS/Downloads-and-Updates.htm . Acesso em: 10 maio 2022.
https://www.wur.nl/en/Research-Results/C...
), que aplica a teoria da onda cinemática para simular erosão e deposição por fluxo superficial, foram utilizados seis modelos digitais de elevação com características diferentes para avaliar a relação das diferentes formas de relevo com a conectividade de sedimentos. Os resultados confirmaram que a relação não é linear e que os eventos de chuvas podem ter importâncias diferentes em função da complexidade da paisagem (Baartman et al., 2013BAARTMAN, J. E. M. et al. Linking landscape morphological complexity and sediment connectivity. Earth Surface Processes and Landforms, v. 38, n. 12, p. 1457-1471, 2013. ).

A produção de sedimentos, a conectividade dos sedimentos e a taxa de entrega de sedimentos estão fortemente relacionados, porém existem diferenças importantes entre elas. A produção de sedimentos quantifica a massa no espaço e no tempo através de modelos matemáticos com o uso de equações consolidadas na literatura (Carvalho, 2008CARVALHO, N. de O. Hidrossedimentologia Prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2008. ). A taxa de entrega de sedimentos determina a fração de todo sedimento erodido na bacia hidrográfica que chega ao exutório (Minella; Merten; Clarke, 2009MINELLA, J. P. G.; MERTEN, G. H.; CLARKE, R. T. Método “ fingerprinting ” para identificação de fontes de sedimentos em bacia hidrográfica rural Fingerprinting method for identification of sediment sources in a rural watershed. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 13, n. 5, p. 633-638, 2009. ). A conectividade de sedimentos só depende da morfologia para sua determinação. No entanto, outras variáveis podem ser utilizadas como parte dos processos para cálculo da conectividade. (Zanandrea et al., 2020ZANANDREA, F. et al. Conectividade dos Sedimentos: Conceitos, Princípios e Aplicações. Revista Brasileira de Geomorfologia, v. 21, n. 2, p. 0-3, 2020. ).

Através de vários artigos revisados dentro do tema de conectividade de sedimentos, Najafi et al. (2021NAJAFI, S. et al. Sediment connectivity concepts and approaches. Catena, v. 196, p. 104880, 2021. ) organizaram os trabalhos em cinco categorias diferentes: (1) desenvolvimento de estruturas conceituais; (2) representação a distribuição espacial e temporal das áreas de origem e sumidouro de sedimentos; (3) desenvolvimento de índices de conectividade de sedimentos; (4) uso e desenvolvimento de modelos; ou (5) investigação da probabilidade de entrega de sedimentos por meio de uma abordagem de análise de rede.

Estudos têm sido desenvolvidos utilizando dados geomorfológicos e morfométricos, como: o comprimento do percurso de transporte dos sedimentos, a declividade do terreno, a área de drenagem e a rugosidade da superfície, sendo estes derivados de modelo digital de terreno (MDT). Esse alto número de pesquisas que usam esses dados de MDTs podem ser explicados pela evolução dos softwares de Sistema de Informação Geográfica (SIG), os quais facilitam e agilizam os processos no uso desses dados. Essas aplicações podem ser observadas em artigos mais antigos, como, por exemplo, Fryirs et al. (2007FRYIRS, K. A. et al. Buffers, barriers and blankets: The (dis)connectivity of catchment-scale sediment cascades. Catena, v. 70, n. 1, p. 49-67, 2007. ) e Borselli, Cassi e Torri (2008BORSELLI, L.; CASSI, P.; TORRI, D. Prolegomena to sediment and flow connectivity in the landscape: A GIS and field numerical assessment. Catena, v. 75, n. 3, p. 268-277, 2008. ).

Entre uma diversidade de variáveis aplicadas nos modelos, existem algumas com maior frequência e outras que são características específicas dos sedimentos, as quais foram alvos de análises e observações neste trabalho. A partir da busca de trabalhos que aplicaram modelos relacionados à conectividade de sedimentos, a proposta deste artigo é uma revisão bibliográfica para análise e discussão das principais variáveis aplicadas a partir de um agrupamento considerando variáveis hidrológicas, geomorfológicas e sedimentológicas, e, com essa organização e análise, poder identificar possíveis lacunas para novas pesquisas.

Materiais e métodos

Este trabalho constitui uma revisão da literatura científica de caráter analítico a respeito dos modelos aplicados para análise de conectividade de sedimentos. A busca e seleção das informações de referência para este estudo se deu utilizando a base de dados da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Google Scholar e Science Direct. Como critério de busca, foi aplicada a restrição aos artigos publicados a partir do ano de 2000 a 2023. Entre os artigos encontrados sobre sedimentologia, foram identificados aqueles que utilizaram modelos de conectividade de sedimentos para analisar os parâmetros aplicados na metodologia, os quais serviram de base para a discussão do presente trabalho. Após a identificação dos artigos, foram selecionadas as principais variáveis usadas nos modelos para uma observação da frequência de aplicação entre os trabalhos.

No primeiro momento, as variáveis de interesse a serem observadas foram agrupadas em: hidrológica (precipitação, erosividade, precipitação antecedente, taxa de infiltração, escoamento superficial), geomorfológica (comprimento do percurso, declividade, área de drenagem, fator topográfico, rugosidade do terreno), sedimentológica (densidade do sedimento, erodibilidade do solo, granulometria do sedimento, coesão do sedimento, sólidos em suspensão e perda de solo) e uso da terra. Foi criada uma planilha para organizar e identificar as variáveis aplicadas nos artigos e, assim, poder calcular as devidas proporções.

Entende-se como variáveis a identificação dos dados usados como entrada nos modelos para atender os objetivos de cada trabalho. Vale ressaltar que existem outras variáveis aplicadas nos modelos e não relatadas anteriormente por não serem comuns a todos os artigos analisados. Com os artigos selecionados, foi identificado e tabelado o modelo usado, uma definição objetiva do trabalho, resolução do MDE (modelo digital de elevação) aplicado no modelo, as variáveis utilizadas e o grupo que as variáveis pertencem.

Através da busca foram identificados 831 artigos contendo a palavra “sedimentos” na CAPES e 835 na base Science Direct, todos nos últimos 24 anos. Quando se restringiu a busca para “modelos sedimentológicos”, o número de artigos foi reduzido consideravelmente, obtendo-se 70 artigos na CAPES, 371 no Google Scholar e 645 no caso do Science Direct. Finalmente, com mais uma palavra-chave, “hidrossedimentologia”, a busca encontrou 40 artigos na CAPES, 1.650 no Google Scholar e nenhum no Science Direct. De toda a busca, foram identificados 35 artigos que contemplavam a aplicação de modelos de conectividade sedimentológica para análise e discussão dos parâmetros aplicados nos modelos de conectividade.

Resultados e discussões

Durante as análises foram observados trabalhos que aplicavam mais de um modelo no processo, bem como algumas adaptações (ver Tabela 1).

Tabela 1 -
Relação dos modelos de avaliação da conectividade de sedimentos

O primeiro trabalho de sedimentologia registrado no Brasil foi efetuado pela CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica) no rio Camaquã, no Rio Grande do Sul, com o objetivo de prever o assoreamento e cálculo da vida útil do reservatório da barragem do Paredão (Carvalho, 2008CARVALHO, N. de O. Hidrossedimentologia Prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2008. ). Porém, quando se adentra na especificidade com o processo de conectividade dos sedimentos, as pesquisas são mais recentes (Zanandrea, 2017ZANANDREA, F.; KOBIYAMA, M.; MICHEL, G. P. Conectividade Hidrossedimentológica: Uma Abordagem Conceitual. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS, 22., 2017, Florianópolis, 2017. Anais [...]. Porto Alegre : ABRH, 2017. p. 1-8. ). A evolução cronológica da produção científica relacionada com a conectividade de sedimentos foi relatada através de 142 trabalhos, como demonstrado na Figura 1, destacando-se como ápice o ano de 2017 (Najafi et al., 2021NAJAFI, S. et al. Sediment connectivity concepts and approaches. Catena, v. 196, p. 104880, 2021. ).

Figura 1 -
Evolução da produção científica para conectividade de sedimentos.

Entre os artigos avaliados, 43% aplicaram a base do modelo proposto por Borselli, Cassi e Torri (2008BORSELLI, L.; CASSI, P.; TORRI, D. Prolegomena to sediment and flow connectivity in the landscape: A GIS and field numerical assessment. Catena, v. 75, n. 3, p. 268-277, 2008. ) ou adaptado por Cavalli et al. (2013CAVALLI, M. et al. Geomorphometric assessment of spatial sediment connectivity in small Alpine catchments. Geomorphology, v. 188, p. 31-41, 2013. ), e 69% citaram Borselli, Cassi e Torri (2008BORSELLI, L.; CASSI, P.; TORRI, D. Prolegomena to sediment and flow connectivity in the landscape: A GIS and field numerical assessment. Catena, v. 75, n. 3, p. 268-277, 2008. ). Dessa forma, fica nítida a importância da proposta inicializada por Borselli e que foi evoluindo com o tempo, trazendo novos índices com o objetivo de melhorar e trazer novos elementos para a modelagem de conectividade de sedimentos.

Pelos grupos apresentados na Tabela 2, 31% dos artigos utilizaram dados hidrológicos, 46% para dados geomorfológicos, 12% para dados sedimentológicos e 11% do total para uso da terra. Isso reforça a importância dos dados geomorfológicos. Pelo menos uma variável de cada classe foi utilizada por 28% dos artigos, demonstrando, assim, uma diversidade no uso das variáveis.

Tabela 2 -
Proporção das aplicações das variáveis nos trabalhos avaliados

Mesmo com uma grande aplicação da variável área de drenagem (Tabela 2), não quer dizer que o valor da área tenha sido utilizado nas análises como possível influência na dinâmica dos sedimentos. Apesar de não ser considerado como uma variável nas análises, o MDE é uma informação de extrema importância, a qual apenas um artigo não utilizou como dado de entrada para o modelo. Porém, é importante ressaltar que algumas variáveis são derivadas do MDE, como: declividade, comprimento da rampa e área de drenagem, o que justifica a ampla utilização desta variável.

Devido à grande utilização de MDE nas aplicações, foram observadas as resoluções das imagens empregadas nas modelagens. Foi constatado o uso de imagens com resolução espacial acima de 5m na maioria dos artigos como mostra a Figura 2.

Figura 2 -
Faixa de resoluções de imagens aplicadas nos artigos.

Entre os artigos que usaram a rugosidade da superfície, 60% aplicaram valores tabelados, seja através do coeficiente de Manning, do fator C ou da variação da declividade. O restante (40%) utilizou cálculos com base na topografia residual com imagem de satélite. Entre os trabalhos que aplicaram uma tabela de valores para a rugosidade, 73% usaram o coeficiente de Manning. Apenas 10% dos trabalhos aplicaram a rugosidade com base no uso da terra com dados tabelados. Com uma alta proporção de aplicação da rugosidade (91%), essa variável chama a atenção não apenas por esse valor, mas por ter formas diferentes de uso (tabelado ou calculado). Apesar do coeficiente de Manning ser um dado bem consolidado nos artigos, vale uma observação, de que valores tabelados podem não refletir a realidade das áreas, o que pode sugerir estudos para comparar o uso da rugosidade em suas duas formas de aplicação (tabelado ou calculado). Foi identificado apenas um artigo que aplicou a integração com dados de uso da terra, declividade e tipo de solo, através do modelo SWAT model, porém usado com dados secundários (Mishra et al., 2019MISHRA, K. et al. Towards the assessment of sediment connectivity in a large Himalayan river basin. Science of the Total Environment, v. 661, p. 251-265, 2019. ). Ainda nesse trabalho, os autores analisaram a influência da variação da declividade apenas relacionadas aos cursos d’água, e não a bacia. Com base nos artigos avaliados, a Figura 3 apresenta a distribuição dos métodos aplicados para uso da rugosidade.

Figura 3 -
Métodos aplicados para a rugosidade.

Conclusões

Diante das observações nas referências analisadas, os autores convergem para um consenso de que a conectividade sedimentológica é um termo complexo no qual a diversidade, as correlações entre parâmetros e a dinâmica dos sedimentos em uma região podem ser os principais obstáculos no desenvolvimento de modelos de conectividade sedimentológica. Sendo assim, existe um alinhamento com esse pensamento que as evidências nos processos da conectividade sedimentológica estão limitadas e que ainda existem diversas lacunas para pesquisas, como, por exemplo, o uso de mais parâmetros de elementos funcionais ou melhorar a representação da rugosidade superficial. Além desses pontos limitantes, as pesquisas situam-se mais no componente estrutural do que no componente funcional, sendo assim, abrem-se oportunidades para novas pesquisas aplicarem o uso de variáveis desse componente.

Apesar do grande potencial da aplicação com o uso da declividade e que tem uma importância significativa nos processos de conectividade, não foi observado uma análise mais criteriosa com relação à variação dos declives na influência da conectividade.

O uso de dados geomorfológicos, especialmente com base nos modelos digitais de elevação, está bem consolidado nas pesquisas, nas quais se destaca a qualidade dos resultados em função das resoluções espaciais das imagens. Assim, esses dados podem ser mais bem utilizados e potencializados com o emprego de imagens de drones e com processos fotogramétricos mais acurados, em que o tamanho do pixel é menor, atingindo, na prática, até 0,05 m. No entanto, ressalta-se avaliar as limitações atuais em termos de capacidade computacional e de viabilidade em termos de tempo de processamento.

Quando observados os parâmetros sedimentológicos, apenas 12% dos artigos estudados aplicaram esses parâmetros. Vale destacar que os parâmetros correspondentes à densidade e coesão foram pouco utilizados nos modelos, o que não elimina a importância destes. Assim, a busca de novas modelagens com foco em parâmetros sedimentológicos abrirá caminhos para novas observações e a melhor compreensão da dinâmica dos sedimentos.

Com uma quantidade significativa de parâmetros aplicados nos modelos, nenhum dos trabalhos discutiu a importância relativa de cada um nos devidos modelos. Informação importante que pode direcionar novas pesquisas para compreender melhor os processos das variáveis mais sensíveis.

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  • Declaração de financiamento

    Esta pesquisa foi apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG, bolsa de doutorado para WLO), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, bolsa de produtividade em pesquisa para DRM), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES, Código de Financiamento 001).

Editado por

Editor do artigo:

Fernando Villela

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    01 Nov 2022
  • Aceito
    22 Nov 2023
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