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Tempo das finanças e o cotidiano bancário da população em Buenos Aires

El tiempo de las finanzas y el cotidiano de los servicios bancarios en la población de Buenos Aires

Finance tima and the banking daily life of the population in Buenos Aires

Resumo

As finanças são o eixo central da economia em todos os países do mundo. Contudo, suas manifestações são singulares em cada formação socioespacial, com características e especificidades locais. Na Argentina, em especial na cidade de Buenos Aires, vislumbramos uma repartição do trabalho financeiro por meio do que propomos chamar de comércios bancários, isto é, locais que mesclam funções comerciais com atividades bancárias.

Busca-se com este texto traçar o caminho do dinheiro na divisão social e territorial do trabalho, estabelecendo o que denominamos de economia monetária digital, dando destaque ao fato de que a participação desses negócios configura a paisagem da cidade portenha e alterando a vida de relações em seu interior. Neste contexto, novas temporalidades são experienciadas pelos atores sociais, acelerando os processos de trocas e consumos urbanos.

Palavras-chave:
Buenos Aires; comércios bancários; tempo; cotidiano

Resumen

Las finanzas son el eje central de la economía en todos los países del mundo. Sin embargo, sus manifestaciones son singulares en cada formación socioespacial con características y especificidades locales. En Argentina, en particular en la ciudad de Buenos Aires, se nota una repartición del trabajo financiero por medio de lo señalamos como comercios bancarios, o sea, locales que mezclan funciones comerciales con actividades bancarias.

Se busca con el texto hacer recorrido de los senderos del dinero en la división social y territorial del trabajo, estableciendo la economía monetaria digital, poniendo en relieve la participación de los negocios financieros en el paisaje de la ciudad porteña, cambiando la vida de relaciones en su interior. En ese contexto, nuevas temporalidades son experimentadas por los actores sociales, acelerando los procesos comerciales y los consumos urbanos.

Palabras clave:
Buenos Aires; comércios bancários; tempo; cotidiano

Abstract

Finance is the spine of the economy in every country in the world. However, its manifestations are singular in each socio-spatial formation, with local properties and specificities. In Argentina, particularly in the city of Buenos Aires, there is a distribution of financial work through what we refer to as bank-wise commerce, that is, premises that mix commercial functions with banking activities.

The text seeks to travel the routes of money in the social and territorial division of labor, establishing the digital monetary economy, highlighting the participation of financial businesses in the landscape of the Buenos Aires city, and changing the life of relationships. In this context, new temporalities are experienced by social actors, accelerating commercial processes and urban consumption.

Keywords:
Buenos Aires; bank-wise commerce; time; daily life

Introdução

O objetivo do artigo é contribuir, por meio da análise teórico-empírica, na identificação dos caminhos percorridos pelo dinheiro dentro do sistema financeiro, no consumo de produtos e na prestação de serviços da população na Cidade Autônoma de Buenos Aires, capital da Argentina.

É neste contexto que destacamos a participação dos comércios bancários (Creuz, 2020CREUZ, V. Globalización, finanzas y división del trabajo. Nuevos actores en los circuitos de la economía urbana en Buenos Aires y São Paulo. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2020. ) na divisão social e territorial do trabalho e, ao mesmo tempo, presenciamos a produção de uma nova configuração territorial da cidade portenha, alterando a vida de relações em seu interior, novos ritmos e cotidianos, resultando em novas temporalidades sociais e nas velocidades de fluxos monetários.

Nessa ordem de ideias, o texto está estruturado a partir de três eixos argumentativos correlacionados, a saber: o primeiro eixo, que responde pelos dois primeiros pontos de argumentação do artigo, isto é, sobre o papel dos comércios bancários na materialidade urbana da cidade de Buenos Aires, o segundo eixo, sobre a produção de temporalidades sobrepostas entre os diferentes atores sociais ligados aos fluxos monetários financeiros, e o último eixo, o qual traça uma linha argumentativa sobre a atuação das empresas financeiras que aceleram o fluxo de trocas monetárias no interior do sistema urbano.

As finanças, isto é, o conjunto de atividades financeiras com seus subprodutos, estão incorporadas ao cotidiano das populações. Pagamos contas, fazemos compras com cartões de débito e crédito, utilizamos taxas de juros no pagamento de tarifas, financiamos casas e automóveis, alguns investidores utilizam a Bolsa de Valores e, além disso, tomamos empréstimos em bancos comerciais. Da mesma forma, novos serviços e produtos financeiros são oferecidos diariamente às populações.

De fato, o sistema financeiro estrutura toda a atual cadeia produtiva do planeta, pois envolve operações em todos os ramos e setores da produção nas mais diversas etapas. Assim, neste texto apontaremos o fato de que a pulverização das funções bancárias dos bancos comerciais ampliou o fluxo dos vasos comunicantes entre os dois circuitos da economia urbana (Santos, 2004SANTOS, M. O espaço dividido. Os dois circuitos da economia urbana nos países subdesenvolvidos. Tradução de Myrna T. Rego Viana. 2. ed. São Paulo: Editora da USP, 2004 [1975].), acelerando os processos de troca financeira e transformando, ao mesmo tempo, a natureza técnica do dinheiro e, como corolário, afetando as temporalidades vivenciadas pelas populações na Cidade Autônoma de Buenos Aires.1 1 De acordo com dados do Instituto Nacional de Estadísticas y Censos - INDEC (2023), a Ciudad Autónoma de Buenos Aires possui, em 2023, 3.120.612 habitantes.

Efetivamente, o cotidiano das pessoas nas cidades transitou para uma acelerada forma de realizar atividades para gerar uma “economia de tempo”. Do ponto de vista da transformação da vida urbana, a partir do advento dos serviços financeiros, nos últimos 50 anos, emergiu uma sucessão de transformações tecnológicas monetárias cujo resultado foi uma profunda transformação na natureza técnica do dinheiro e suas manifestações empíricas: dinheiro, cheques, depósitos e saques, uso de cartões de crédito e débito, internet banking e, mais recentemente, a presença de dispositivos móveis com aplicativos bancários e de transferência de dinheiro.

No território argentino, dois movimentos foram combinados e simultâneos: de um lado, houve um enorme avanço de novas tecnologias informacionais, rapidez na velocidade de transmissão de informações e relativa banalização de semoventes financeiros. De outro lado, houve o extenso uso da moeda em espécie em transações correntes.

E, nesse contexto, os comércios bancários (Creuz, 2018CREUZ, V. Entre os nós do trabalho financeiro: modernizações em Buenos Aires e São Paulo. Boletim Campineiro de Geografia, v. 8, n. 1, 2018. ) foram extremamente funcionais aos negócios financeiros do circuito superior, como bancos e grupos de investimento, associando comércios, farmácias e negócios de rua com a prestação de serviços bancários - estritamente envolvidos no sistema financeiro global. Estes comércios bancários oferecem pagamento de passagens e contas banais, como energia elétrica, gás, recarga de celular e bilhetes para os transportes coletivos, como metrô e ônibus.

Cotidiano urbano e os pequenos comércios bancários

Os serviços financeiros compõem o fluxo de movimentos da cidade. No presente, esses serviços estão vinculados aos fixos geográficos (Santos, 1996SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.) dos comércios bancários e, portanto, pulverizados na extensão da mancha urbana de diferentes cidades. Os comércios bancários são pequenas empresas ligadas à comercialização de produtos e serviços nos bairros, assumindo funções bancárias. Frequentemente, estão vinculados à realização de pagamentos e são as principais pontas para os canais financeiros da população utilizados na contiguidade urbana.

Esses agentes, que propomos chamar de comércios bancários, atuam por meio dos sistemas de informação dos bancos e de seus operadores. De fato, “as atividades econômicas essenciais já não são a produção e acumulação de objetos físicos, mas sim a emissão e tratamento de fluxos, canalizados por ‘rotas digitais’” (Goldfinger, 2001GOLDFINGER, Charles. Trabalho e extratrabalho. Em direção a uma sociedade fluída. Tradução: Felipe Duarte. Instituto Piaget: Lisboa, 2001., p. 78). Por isso, a informação é um fator de produção nos circuitos da economia urbana2 2 A teoria dos circuitos da economia foi elaborada por Milton Santos na década de 1970, em seu livro O espaço dividido (Santos, 2004). Desde então, diversos pesquisadores trabalham com a teoria trazendo importantes contribuições. Em destaque, a Professora María Laura Silveira e seu grupo de pesquisadores, muitos dos quais, hoje, também são professores e seguem se apoiando sobre essa teoria para analisar diversos temas no interior das cidades na Argentina e no Brasil. e, não apenas para o circuito superior, mas também, agora, para os atores do circuito marginal superior e do circuito inferior.

Os circuitos da economia compreendem a repartição do trabalho feita a partir de dois subsistemas que coexistem: o circuito superior e o inferior, com características que os diferenciam entre si. Trata-se dos graus de capitalização, dos graus de tecnologia e dos graus de organização que os atores sociais, de diferentes ramos e setores da economia, podem estabelecer diante dos contextos aos quais estão inseridos.

De tal modo, os comércios bancários, no contexto portenho, desempenham funções marginais ao circuito superior que lhe demanda trabalho, mas cuja organização depende da oferta de tecnologia e de materiais que, cada ente, separadamente, seria incapaz de prover aos seus clientes.

Por essa razão, os comércios bancários, enquanto prestadores de serviços financeiros, enviam e recebem conteúdos informacionais que movimentam o fluxo monetário na cidade, aumentando a densidade de processos ligados à divisão territorial do trabalho financeiro.

Tal fenômeno é produto da ação dos diferentes atores sociais que participam da divisão territorial e social do trabalho a partir do sistema financeiro, com seus diferentes espectros e graduações de poder e influência. O estudo das atividades com funções comerciais e bancárias e a nova dinâmica dos dois circuitos da economia urbana compreende a dependência do circuito inferior e da marginal superior ao circuito superior. Esse ponto de união entre os dois circuitos econômicos é dado, no período, pelas finanças.

O desafio é desenvolver de um pensamento que possa unir as descobertas da realidade de nossas cidades por meio de situações geográficas (Silveira, 1999SILVEIRA, M.L. Uma situação geográfica: do método à metodologia. Revista Território, ano IV, n. 6, jan./jun. 1999.) que vão sendo recriadas e organizadas de modo a redefinir os contextos de cada ator social a partir de sua posição da repartição do trabalho. Daí a importância do termo “complexidade”, retomado por Edgar Morin (1996MORIN, E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.), que recupera o sentido de trabalhar sob a análise de um “tecido que é junto”, que dá figura à imagem de uma tapeçaria. O território e seu uso, o território usado, é um todo complexo unido, operando por meio das diferenciações complementares presentes na vida dos atores sociais: economia e cotidiano, trabalho e relações pessoais, são exemplos de uma trama entretecida para responder as questões de uma realidade complexa.

Nesse movimento, a quinta dimensão do espaço banal (Santos, 1996SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.)3 3 Para Milton Santos (1996, p. 257), “através do entendimento desse conteúdo geográfico do cotidiano poderemos, talvez, contribuir para o necessário entendimento (e, talvez, teorização) dessa relação entre espaço e movimentos sociais, enxergando na materialidade, esse componente imprescindível do espaço geográfico, que é, ao mesmo tempo, uma condição para a ação; uma estrutura de controle, um limite à ação; um convite à ação. Nada fazemos hoje que não seja a partir dos objetos que nos cercam”. torna-se um híbrido de forças verticais, como a chegada do crédito e do consumo, mas também por forças horizontais, como a vida de relações pessoais da população. No período atual, a economia urbana revela a racionalização do espaço como condição para a reprodução dos serviços e produtos financeiros. Lugares com acesso à internet, rede elétrica e pontos que aderem clientes pelas demandas diferentes concentradas no mesmo local (Figura 1).

Figura 1.
Pago Fácil com oferta de diversos serviços. Recoleta, Buenos Aires - Argentina.

É nessa dinâmica que o mundo moderno, do meio técnico-científico-informacional (Santos, 1996SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.), tornou o dinheiro um problema aritmético (Simmel, 2004SIMMEL, G. The Philosophy of Money. 3. ed. Translate by Tom Bottomore and David Frisby. London: Routlegde, 2004.). Nesse sentido, hoje, “o mundo parece ter se tornado um enorme problema algorítmico, cuja solução cria novas quantidades e qualidades financeiras para a vida cotidiana” (Silveira, 2017SILVEIRA, M.L. Banalidade das finanças e cidadania incompleta: lugar e cotidiano na globalização. Geousp - Espaço e Tempo (online), v. 21, n. 2, p. 370-383, agosto, 2017., p. 373).

Apesar disso, a razão binária dos algoritmos não é um problema em si: o eixo da questão é a relação estabelecida a partir de uma casualidade4 4 Sobre a causalidade, Paul Ricœur (2018, p.142), a “relação de causalidade está, pois, entre o resultado e as consequências, não entre a ação e o seu resultado. É neste sentido, e apenas neste sentido, que o conceito de ação é conceptualmente anterior ao da causa. Não é que toda a causa se conceba segundo os modelos de um agente, mas sim porque a intervenção de um agente no curso das coisas serve de modelo à ideia de produzir efeitos”. de fatores de organização das funções urbanas às ordens binárias, cujo âmago são, por essência, problemas sociais que delineiam situações de marginalidade e empobrecimento na economia urbana.

O bojo da discussão sobre o uso de algoritmos reside nos projetos dos atores sociais baseados em cálculos binários, nas intenções que são depositadas nesse esforço por soluções pragmáticas e na capacidade de transformação do espaço geográfico com ordens exógenas advindas do circuito superior da economia urbana.

É com esse panorama que o circuito superior coloca em movimento a influência e seu poder em relação aos demais agentes dos circuitos da economia urbana, trazendo soluções com métricas que favorecem seus próprios negócios e reorganizando a economia de modo a aumentar sua capacidade de dominar mercados por meio da tecnologia e do controle da gestão dos fluxos monetários.

De tal sorte que, as formas espaciais, resultados da ação e do trabalho no território, ganham contornos a partir dos processos que lhes dão movimento e sentido. Neste contexto, coisas e intencionalidades se tornam pares biunívocos. O conteúdo das atividades do mercado extrabancário argentino reforça o movimento financeiro no meio construído em Buenos Aires, outorgando um caráter financeiro à urbanização portenha.

De fato, a análise da sociedade usando o território pode ser realizada por meio da disposição e composição dos objetos geográficos fixados ao território. Estes outorgam, como resultado da ação precedente, condições à velocidade dos fluxos e dos processos sociais e, ao mesmo tempo, fornecem as condições materiais para a repartição do trabalho, influindo diretamente no ritmo do cotidiano das populações.

A modernização dos objetos, em especial as tecnologias de informação, impacta os a organização dos mercados urbanos, dando mais força às empresas do circuito superior na capital argentina.

Fatores de localização dos comércios bancários

No que se refere às escolhas de localização das empresas ligadas à oferta de serviços financeiros na cidade de Buenos Aires, ressaltamos a presença de comércios bancários em grandes avenidas e pontos de intensa circulação, configurando pontos ideais para tais atividades (Figura 2).

Figura 2.
Avenida Santa Fe, Recoleta, Buenos Aires - Argentina.

A movimentação de pessoas representa uma demanda espontânea dos pedestres. Um teórico de marketing como Philip Kotler (1998KOTLER, P. Administração de Marketing: análise, planejamento, implementação e controle. Tradução: Ailton Bomfim Brandão. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1998., p. 144-158) chama esse conjunto de variáveis de “respostas macroambientais”, entre as quais estão presentes: o “ambiente demográfico”, que leva em conta a idade e o gênero da população, a escolaridade grupos e padrões habitacionais; também o “ambiente econômico”, ou seja, distribuição de renda, número de investidores, poupança e créditos disponíveis para consumo; o “ambiente tecnológico”, que considera a aceleração na produção de aparelhos, inovação e legislação sobre transformações tecnológicas; o “ambiente político e jurídico”, que se refere principalmente à legislação comercial; e, por fim, o “ambiente sociocultural”, vinculado aos valores e crenças que compõem a visão de mundo dos membros da sociedade.

Na pesquisa que realizamos em Buenos Aires com 65 homens e mulheres entre 25 e 65 anos, em 2017 e 2018, descobrimos que 56,36% dos entrevistados utilizavam agências do bairro onde moram; 30,91% frequentam agências próximas ao local de trabalho e 20% pagam suas contas na primeira agência que encontram. Em 2023, o consumo de locais para o pagamento de contas, envio de remessas financeiras e compras de passagens permanece presente, tal como mostra a fotografia abaixo (Figura 3).

Figura 3.
Rapipago na Avenida de Mayo, Buenos Aires/Argentina.

A localização das agências em grandes avenidas ou em ruas paralelas é um elemento central para a atuação do mercado não bancário. Em particular, nas ruas paralelas às grandes avenidas, por onde circulam peões e ciclistas - algumas com ciclovias -, existe uma oferta de serviços financeiros.

Nas palavras de Leila Christina Dias (2017DIAS, L. C. D. O correspondente bancário como estratégia de reorganização de redes bancárias e financeiras no Brasil. Geousp - Espaço e Tempo (online), v. 21, n. 2, p. 384-396, agosto, 2017., p. 385) “a localização geográfica define quem tem acesso a quais serviços financeiros e qual é o custo”. Para os comércios bancários, a densidade populacional em bairros de uso residencial também é fundamental para definir o número de clientes potenciais para cada agência.

Frequentemente, a partir dos deslocamentos de cada indivíduo5 5 Para Norbert Elias (1990, p. 108), “Nas sociedades industrializadas, urbanizadas e densamente habitadas, os adultos têm muito mais oportunidade, bem como necessidade e capacidade de ficar sozinhos, ou pelos menos de ficar sós aos pares. Escolher por si entre as muitas alternativas é exigência que logo se converte em hábito, necessidade e ideal”. ou da proximidade de suas residências, por conveniência, acaba por se estabelecer uma relação de vínculo (fidelização no jargão administrativo) entre quem frequenta e quem presta os serviços financeiros, a qual é decisiva para a manutenção dos comércios bancários, uma vez que são criados laços de amizade ou de cordialidade recíproca que fidelizam clientes.

Partindo dessa ideia, retornaríamos a Max Sorre (1984SORRE, M. Espacio y Sociedad: Geografía Humana. Barcelona: Labor, 1953., p. 83), para quem, falando do contexto francês, “m parisiense hoje é menos o homem da cidade do que o homem de seu bairro, do que o homem de a rua dele”. Poderíamos interpretar esse fenômeno no cotidiano dos portenhos? Se, talvez, não sejamos indivíduos das ruas e dos bairros em que vivemos, somos atores sociais que tendem a consumir no meio imediato.

A presença dos comércios bancários transforma a dinâmica cotidiana do bairro e altera a paisagem da cidade com uso de publicidade. As marcas, com suas cores e fontes nas fachadas dos edifícios, estão conquistando cada vez mais visibilidade a partir do mercado dentro da metrópole, descobrindo as novas fronteiras dos mercados urbanos a partir de pequenos negócios de bairro.

No que se refere aos comércios bancários em Buenos Aires, em geral, os clientes vivem no mesmo bairro e costumam caminhar para fazer pagamentos ou apostas. Além disso, também percebemos em nossas pesquisas de campo que muitas agências estão dentro de redes de supermercados.6 6 A geógrafa Silvia Busch (2018), ressalta o papel dos supermercados, como as redes varejistas Carrefour, Coto e Disco, na área metropolitana de Buenos Aires, e a topologia de empresas fabricantes de alimentos de preparo rápido. Os clientes atestam que é mais conveniente para eles utilizarem esses serviços bancários dentro de um supermercado em razão da segurança do uso do dinheiro em espécie. Um dos entrevistados acrescentou que alguns clientes já são conhecidos, estabelecendo relações de amizade.

De tal sorte, retomamos a ideia de que a configuração territorial das cidades é resultado da disposição de seus objetos, das funções que cumprem dentro dos projetos de cada um dos atores sociais e da relação entre eles. Nesse enredo, as formas e as ações são indissociáveis, pois o objeto “constitui um dos dados primários do contato do indivíduo com o mundo” (Moles, 1973MOLES, A. A. Rumos de uma cultura tecnológica. Tradução de Pérola de Carvalho. São Paulo: Editora Perspectiva, 1973., p. 197).

Assim, a configuração territorial estabelece solidariedades entre indivíduos, empresas e instituições. A ação humana dá sentido aos objetos e, por isso, o “ambiente cotidiano permanece, em grande medida, um sistema ‘abstrato’: nele os múltiplos objetos são isolados de sua função, é o homem quem lhes assegura [...] coexistência em um contexto funcional” (Baudrillard, 2009BAUDRILLARD, J. O sistema de objetos. Tradução de Zulmira Ribeiro Tavares. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2009., p. 14).

Ainda considerando a situação dos comércios bancários em Buenos Aires, ao tratar da localização, o emprego da tecnologia e a distribuição da repartição do trabalho financeiro na cidade é reorganizada. Em outras palavras, “não é apenas a diferença técnica das etapas da divisão técnica do trabalho que é determinada pela localização, mas é também a própria diferença entre as localizações que pode estimular o desenvolvimento da divisão técnica do trabalho” (Massey, 1984MASSEY, Doreen. Spatial Divisions of Labour. Social structures and Geography of Production. London: Macmillan, 1984., p. 74), uma vez que a “divisão do trabalho em si é agora o resultado de uma dinâmica social” (Smith, 1988SMITH, N. Desenvolvimento desigual. Natureza, Capital e a Produção do Espaço. Tradução: Eduardo de Almeida Navarro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988., p. 153).

De modo que “a técnica constitui um elemento de explicação da sociedade e de cada um de seus lugares geográficos. É evidente que a técnica em si não explica nada” (Santos, 1997SANTOS, M. Técnica, Espaço, Tempo. Globalização e Meio técnico-Científico-Informacional. 3. ed. Editora Hucitec: São Paulo, 1997. , p. 60). Os projetos disponíveis, a estrutura material e, também, a configuração física dos objetos são, em conjunto, elementos da descrição e interpretação geográfica.

De fato, o indivíduo está inserido em relações de produção que modificam sua visão de mundo. As relações de produção e a vida cotidiana estão repletas de signos e funções baseadas em variáveis atuais (ciência, informação e finanças) que produzem ontologias contemporâneas.

Nesse sentido, as palavras de Max Horkheimer (2007HORKHEIMER, M. Crítica de la razón instrumental. Traducción de H.A. Murena y D.J. Vogelmann. La Plata: Terramar, 2007., p. 130) são muito pertinentes: “o destino variável do indivíduo sempre esteve ligado à evolução da sociedade urbana. O citadino é o indivíduo por excelência”. A ideia da produção do indivíduo no ambiente urbano fortalece a prerrogativa da análise que entende que os indivíduos reunidos criam laços de reciprocidade e necessidade.

Em outras palavras, os laços sociais mencionados são criados a partir do resultado da divisão social do trabalho entre os atores sociais que oferecem serviços de pagamento e seus clientes no meio construído urbano de Buenos Aires.

Nesse contexto, o sujeito está envolvido em uma rede de relações sociais que atinge também uma espécie de vínculo entre o indivíduo, dono da sociabilidade que lhe é inerente, e uma lei de mercado que supre a demanda por serviços bancários:

Cada um dos seres humanos que caminham pelas ruas, aparentemente alheio e independente dos demais, está ligado a outras pessoas por uma infinidade de grilhões invisíveis, sejam esses grilhões impostos pelo trabalho ou pela propriedade, pelo instinto ou pelo afeto. [...] O ser humano individual vive, e vive desde a infância, dentro de uma rede de interdependências que não pode modificar ou romper à vontade, exceto enquanto a própria estrutura dessa rede o permitir; vive numa teia de relações móveis que, pelo menos em parte, lhe foram depositadas, moldando o seu carácter pessoal. (Elias, 1990ELIAS, N. La sociedad de los individuos. Ensayos. Traducción de José Antonio Alemany. Barcelona: Ediciones Península, 1990., p. 29).

Portanto, certos tipos de laços ou compromissos de fidelidade aos comércios bancários de cada bairro, por meio de boas relações de empatia, acabam por produzir economia. Em geral, é uma economia feita com pequenos capitais e graus de organização que costumam ser omitidos nas estatísticas macroeconômicas. Essa realidade cotidiana dos lugares tende a estabelecer relações entre os vizinhos e as filiais da Rapipago e Pago Fácil.

Cada forma espacial é modificada para dar lugar aos conteúdos e funções presentes em cada momento, bem como para atender às demandas de cada ator social. O meio construído urbano é uma construção histórica feita de formas materiais antigas que conformam a base para as novas formas geográficas em justaposição.

As velhas formas, que M. Santos chamou de rugosidades, são substituídas por novos conteúdos no presente: “as rugosidades não podem ser interpretadas apenas como legados físico-territoriais, mas também como legados socioterritoriais ou sociodemográficos” (Santos, 1996, p. 38). A coexistência de objetos de diferentes idades é combinada com diferentes sistemas de ações, transformando os modos de vida de cada lugar e dando, ao mesmo tempo, novos contornos às divisões territoriais do trabalho nas cidades. Esse é caso dos comércios bancários.

Objetos técnico-financeiros atuais coexistem com objetos e formas passadas. Nesse sentido, para Thomas P. Hughes (1988HUGHES, T. P. Networks of power. Eletrification in Western Society, 1880-1930. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1988.), a ideia de reverse salient [reverso saliente] advém da condição de que, na própria evolução do conjunto formado pela sociedade, novos sistemas sejam fabricados, deixando os antigos objetos em estado de obsolescência. Nas palavras de Hughes (1988HUGHES, T. P. Networks of power. Eletrification in Western Society, 1880-1930. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1988., p. 79-80), à medida que “o sistema evolui em direção a um objetivo, alguns componentes ficam para trás ou fora de linha. Como resultado da saliência reversa, o crescimento de toda a empresa é prejudicado ou frustrado e, portanto, são necessárias medidas corretivas”. Os bancos utilizam os comércios bancários como uma forma de corrigir essa modernização incompleta.

Os objetos, que são também formas espaciais, enquanto produtos históricos, não possuem existência autônoma. Se são utilizados por atores que dão vida ao território, são, da mesma forma, objetos geográficos que dão suporte e criam movimentos no território (Figura 4).

Figura 4.
Cobro Express, Juncal y Azcuenaga, Recoleta, Buenos Aires/Argentina.

As formas geográficas são transformadas por dinâmicas sociais, econômicas e urbanas, modificando o meio construído. “Ritmos cíclicos de investimento e desinvestimento em maquinário e em ambiente construídos estão conectados com movimentos nas taxas de juros, inflação e crescimento da oferta monetária e, portanto, com fases de desemprego e expansão.” (Harvey, 1985HARVEY, D. Consciousness and the Urban Experience. Studies in the History and Theory of Capitalist Urbanization. Baltimore: John Hopkins University Press, 1985., p. 27).

A variável financeira no período atual encontra meios de capilarizarão nas diferentes porções da formação socioespacial argentina e de suas cidades. A partir da localização dos comércios bancários na capital portenha, percebemos a força do vínculo entre os dois circuitos da economia urbana e uma ordem de necessidade, na qual o circuito superior possui a primazia e o controle da produção de demandas e da associação de marcas. Isso ocorre, entre outros fatores, a partir do estabelecimento dos fixos geográficos com as micro e médias na contiguidade urbana por meio de empresas associadas ao circuito superior.

Os tempos das finanças e as temporalidades da cidade

O tempo7 7 “Toda vez que evocamos o tempo, é o espaço que responde. (...) tudo se passa na ordem do tempo” (Jardim, 2007, p. 110), e, com esse autor podemos afirmas, já não existe distinção entre tempo e espaço. São uma só e única coisa. é uma superposição em movimento constante de coisas materiais e eventos8 8 “São os eventos que criam o tempo, como portadores da ação presente”; eles são, simultaneamente, “a matriz do tempo e do espaço”. Assim, segundo Ernst Bloch em Philosophy of Future (1963, p. 124), “o tempo somente é porque algo acontece, e onde algo acontece o tempo está”. Logo, “O lugar é depositário final, obrigatório, do evento” (Santos, 1996, p. 114-116). acontecendo simultaneamente. O tempo9 9 Gaston Bachelard (2007, p. 29), retomando o princípio filosófico de Bergson, escreve: “a verdadeira realidade do tempo é sua duração; o instante é apenas uma abstração, desprovida de realidade”. não é, a priori, universal, mas relativo, colocando numa relativização da temporalidade de cada ator social suas formas de ação. A noção de tempo pode ser percebida como um prisma de análise da organização social de empresas e indivíduos, cada um controlando, a seu modo, as temporalidades10 10 Martin Heidegger (2012, p. 1095) escreve que o “Dasein cotidiano que toma tempo de imediato no utilizável e no subsistente que lhe vêm-de-encontro no interior do mundo. O tempo, assim ‘experimentado’, ele o entende no horizonte do imediato entendimento-de-ser, isto é, como algo de algum modo subsistente. [...]. A prova dessa origem vulgar do tempo se torna a justificativa da precedente interpretação da temporalidade como tempo originário”. e a velocidade dos fluxos dos quais participam.

Nesse sentido, a informação, no sentido amplo, é a variável que potencializa a aceleração de repartição das funções e dos conteúdos do território e, por essa razão, constitui um elemento central para o entendimento do tempo das finanças,11 11 María Laura Silveira (2013, p. 22) nos ensina que a “técnica (forma) permite empirizar o tempo porque seu conteúdo (evento) é um conteúdo de tempo, tempo dos objetos sobre os quais o tempo opera de ações. Pela sua realidade empírico, as técnicas permitem periodizar, porque são representativos de épocas históricas e revelar uma forma de trabalhar, de dividir e distribuir o trabalho. Tempo e espaço deixam de ser categorias a priori para se tornarem conceitos historicamente datados”. enquanto um vetor regulador advindo dos atores do circuito superior como um tempo universal para as temporalidades dos cotidianos dos demais atores dos circuitos da economia urbana.

De tal modo, a análise da repartição do trabalho inclui a temporalidade dos indivíduos, por meio dos usos de objetos e das formas espaciais no território que estes utilizam.12 12 Para Roberto Lobato Côrrea (2016, p. 7), “Insiste-se que na visão geográfica a análise na perspectiva da inscrição deve estar centrada na espacialidade de processos e formas que geram simultaneamente padrões e diferenças espaciais daqueles processos e formas, envolvendo seja a produção ‘strictu sensu’, a circulação, o consumo, seja os diversos movimentos de contestação, assim como as diversas representações do espaço. Produção ‘latu sensu’, contestação e representação são parte integrante da mesma realidade”. A informação requer a formação de redes materiais, linhas de telefonia, antenas e cabos de fibra ótica, que terminam por se cruzar e criarem nós de concentração técnica. Contudo, todas essas tecnologias reunidas estão entrelaçadas também a uma concentração organizacional e financeira, muitas vezes localizados nas grandes cidades.

A temporalidade dessas cidades tende, em razão da concentração de objetos e fixos geográficos, a estabelecer pontos de uma acelerada fluidez dos ritmos dos processos sociais, com uma maior repartição do trabalho. Por meio desses nós da rede global, os fluxos de capital entre os lugares e as instituições são estabelecidos no mercado da economia urbana. De fato, são dessas redes que saem as ordens financeiras de gestão e gerenciamento de controle das ações bancárias das grandes empresas de serviços financeiros, como o exemplo das marcas Rapipago e Pago Fácil.

A informação, nessa dinâmica, tende a se revelar como única. A contrapartida dessa força vertical cristalizada pelas técnicas hegemônicas e hegemonizantes é a experiência do lugar e do cotidiano, na qual a consciência desse tempo universal financeiro acaba por ditar a compulsividade de tarefas comuns. Contudo, isso não significa que as temporalidades sejam descartadas, não há supressão das desiguais velocidades na cidade, tampouco a unicidade se instala por completo pela via de imposição de um único projeto. Essa é uma manifestação do acontecer solidário, no qual se aprofunda a interrelação entre os eventos, evidenciando a interconectividade entre coisas, pessoas, instituições e empresas.

Nesse movimento do território utilizado, a divisão social e territorial do trabalho se torna mais complexa e o tempo13 13 Retomamos as palavras de Henri Lefebvre (1991, p. 8), para quem o “tempo, esse tempo em questão, com sua fluidez e sua continuidade, com sua lentidão (cheia de surpresas e de suspiros, de debates e de silêncios, suntuosa, monótona e variada, tediosa e fascinante), é o fluxo heraclitiano sem cortes, principalmente entre o cósmico (objetivo) ou o subjetivo. A história de um dia engloba a do mundo e a da sociedade”. vivido na cidade ganha maior granulometria e densidade. Os atores sociais se tornam mais demandantes de soluções céleres para resolver questões do cotidiano prático, como pagar contas e se locomover pela metrópole. De fato, na gestão de pagamentos em Buenos Aires, torna-se evidente na paisagem a formação de uma rede de serviços bancários, como as agências - Rapipago, Pago Fácil - em um permanente fluxo de informações.

Essas empresas, que estabelecem relações competitivas, têm entre si ares de família pela semelhança de suas funções, derivadas do lugar que ocupam na divisão do trabalho. A fabricação de um sistema de objetos gera uma rede de comunicação ativa, que fomenta um sistema de ações.

Nessa mesma ordem de coisas, há uma produção de sistemas de objetos funcionalmente integrados ao meio geográfico. A computação e o sistema de objetos vinculados às funções financeiras transformam os conteúdos urbanos. Esses conteúdos mudam quando a psicologia dos atores sociais também é transformada em razão da velocidade dos movimentos que, com a tecnologia informacional, ganha mais celeridade, alterando as relações e as estruturas da divisão social e territorial do trabalho.

A cada inovação tecnológica há novos desdobramentos no mercado nos dois subsistemas urbanos. O consumo das famílias e a ação das empresas se adaptam às diante das tecnologias produzidas pelo circuito superior.

Os processos de modernização reforçam a tendência autopropulsão do circuito superior, integrado horizontalmente com outros atividades modernas da economia, enquanto as distâncias aumentam, mas eles multiplicam os links com o circuito marginal e com o circuito inferior. Por outro lado, os novos sistemas técnicos e respetivos desempenhos permitem aumentar os lucros das empresas do circuito superior diminuindo ou mantendo contratação estável de mão de obra e, conseqüentemente, aumenta a pobreza, e com ele, o circuito inferior. Por outro lado, o financiamento, a publicidade e a capilaridade no marketing levam a um aumento no consumo desses alimentação mesmo em domicílios pobres, aprofundando assim os vínculos entre os circuitos. Nesse processo, as relações e formas de interdependência entre os circuitos da economia urbana. (Busch, 2018BUSCH, S. Modernización en el circuito productivo de alimentos y aceleración contemporánea en la región metropolitana de Buenos Aires. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2018. ).

O conjunto de objetos técnicos contribui para a organização da vida cotidiana e molda uma apreensão coletiva do mundo,14 14 Daí também a ideia psicoesfera (Santos, 1996) ativa que encaminha as ações dos indivíduos. Tomemos o exemplo do celular e o uso de aplicativos: relacionamentos, transações financeiras, comunicação escrita e interações sociais. O par da psicoesfera é a tecnoesfera, constituída por objetos que permite estes movimentos no território. na qual a centralidade da racionalização exprime a lógica impressa aos objetos e sua temporalidade. Nessa direção, segundo Jean Baudrillard (2009BAUDRILLARD, J. O sistema de objetos. Tradução de Zulmira Ribeiro Tavares. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2009., p. 64): “O modo de uso cotidiano dos objetos constitui um esquema quase autoritário de suposição do mundo”.

Na atualidade, as ações dos atores também partem da lógica binária dos computadores, justamente os mais capacitados para criar fluxos e caminhos para a informação, e por isso tendem a reproduzir formas de “controlar a complexidade das relações entre o homem e o ambiente” (Moles, 1973MOLES, A. A. Rumos de uma cultura tecnológica. Tradução de Pérola de Carvalho. São Paulo: Editora Perspectiva, 1973., p. 47). A união estabelecida entre os homens e a mais moderna inovação de ferramentas e instrumentos de trabalho sustenta a construção dos projetos dos atores do circuito superior. Na “história da humanidade, uma técnica prática se materializa em instituições estabelecidas” (Whitehead, 1988WHITEHEAD, A. N. A Função da Razão. Tradução: Fernando Dídimo Vieira. Editora da Universidade de Brasília: Brasília, 1988, p. 39), agregando ao cotidiano das populações novas formas de trabalhar, de viver, de produzir e de consumir. A tecnologia de pagamentos bancários em empresas terceirizadas deram uma nova organização às ruas de Buenos Aires (Figura 5).

Figura 5.
Pago Fácil, Centro, Buenos Aires/Argentina.

Com efeito, o geógrafo Max Sorre (1953SORRE, M. Espacio y Sociedad: Geografía Humana. Barcelona: Labor, 1953., p. 253) afirmava, a propósito da cidade, que ela é “um lugar de contatos e de dependência entre diferentes atividades, modos de vida, sistemas de diversas necessidades”. Por isso, “as cidades traduziriam, em sua estrutura interna e fisionomia, o caráter dominante da civilização que as produziu” (Sorre, 1953SORRE, M. Espacio y Sociedad: Geografía Humana. Barcelona: Labor, 1953., p. 253).

A velocidade de circulação é uma manifestação do período contemporâneo, em que os lugares se conectam por meio das tecnologias de informação, permitindo a fluidez do capital e das mercadorias. Com efeito, as cadeias telemáticas transformam as categorias de tempo e de espaço:

Todos nós somos corroídos pelo cuidado de governar bem a "economia do tempo", pela esperança de manter o controle sobre as cadeias sequenciais de seus atos e a cadência de seus movimentos. A sociedade de consumo é uma grande consumidora de tempo. (Chesneaux, 1995CHESNEAUX, J. Modernidade-Mundo. Brave modern word. Tradução de João da Cruz. Petrópolis: Editora Vozes, 1995., p. 33).

Na sucessão dos acontecimentos históricos, o fenômeno técnico contemporâneo se diferencia dos precedentes ao inaugurar uma nova natureza técnica do dinheiro e da comunicação entre o uso de aparelhos pelas pessoas: celulares e computadores são convertidos em próteses de nosso próprio corpo.

Os ritmos e as velocidades do consumo são potencializados ou refreados com os objetos disponíveis nos lugares onde habitamos e, pela nossa localização e posição no contexto em que estamos, somos compelidos à ação.

Os comércios bancários são fixos geográficos que compõem a topologia bancária argentina, pese ao fato de que, estão em maior evidência na cidade de Buenos Aires - dada a densidade da população e de demandas -, tomando para si a função de ponta entre os clientes e o sistema bancário na repartição de tarefas que permitem o consumo como o pagamento de contas, boletos e ordens de serviços e, também, a compra de mercadorias como refrigerantes, sucos e doces, além da recarga de bilhetes de transporte.

Figura 6.
Marca da Rapipago. A velocidade como símbolo. Abasto, Buenos Aires, Argentina. Fonte: Original do autor.

A marca Rapipago (Figura 6) enfatiza a agilidade nas operações de pagamento. Para isso, utiliza um relógio com pernas que está associado ao tempo acelerado do cotidiano metropolitano. O slogan é “Vem, paga e vai”. Para que a “aceleração contemporânea” (Santos, 1997SANTOS, M. Técnica, Espaço, Tempo. Globalização e Meio técnico-Científico-Informacional. 3. ed. Editora Hucitec: São Paulo, 1997. , p. 29) ganhe força:

A aceleração contemporânea [...] é mais passível de ser objeto de construção de metáforas porque [...] vivemos plenamente a era dos signos, depois de ter vivido o tempo dos deuses, o tempo do corpo e o tempo das máquinas. Os símbolos confundem, porque substituem as coisas reais.

A aceleração contemporânea é resultado da explosão da publicidade e do consumo, do crescimento exponencial do número de objetos e do arsenal de palavras (Santos, 1997SANTOS, M. Técnica, Espaço, Tempo. Globalização e Meio técnico-Científico-Informacional. 3. ed. Editora Hucitec: São Paulo, 1997. , p. 30). É por isso que a aceleração contemporânea ocorre, entre outras coisas, como consequência do pilar publicitário e da produção de uma retórica discursiva que incentiva o consumo e celebra a velocidade. Tal como nos recorda Ana Fani (2017, p. 301), o tempo “se revela no modo de apropriação do espaço, isto é, no uso do espaço. Este, por sua vez, é a materialização concreta de relações sociais que se realizam”. Assim, a coerência do período também se verifica na paisagem urbana, por meio das formas de propaganda da marca, que exaltam a rapidez e o pouco tempo para operar um pagamento.

A nova natureza técnica do dinheiro estabelece a distribuição de tarefas dentro do subsistema financeiro ligadas aos pagamentos e um novo tempo financeiro na cidade. Isso ocorre porque o dinheiro adquiriu maior velocidade de circulação por meio da integração da cibernética, da informação e das finanças.

Nesse momento, é evidente a circulação de dados na nova divisão do trabalho. São operações realizadas com pequenos atores sociais na contiguidade urbana associados a grandes empresas gestoras de fundos e repasses entre bancos comerciais, bancos centrais que executam a logística de fluxo de caixa nas cidades e, também, o fluxo de dinheiro virtual. O circuito superior financeiro e bancário tende a evitar transações diretamente com pessoas, priorizando as máquinas (aplicativos e caixas eletrônicos).15 15 “Alguns indicadores publicados pelo Banco Central da República Argentina (2021) dão conta desse processo. Por exemplo, o número total de cartões de débito no sistema financeiro, entre 2010 e 2020, passou de 22,4 para 56,7 milhões de plásticos. Ainda no contexto da pandemia, continuou aumentando, atingindo 56,8 milhões em março de 2021 (Banco Central do República Argentina, 2021)” (Parserisas, 2022, p. 175). Além disso, a operação financeira do próprio circuito superior é realizada por meio de algoritmos.

Todavia, a variável que dá força à porção marginal do circuito superior é o conjunto de atores sociais, em circunstâncias de copresença (Giddens, 2003GIDDENS, A. A constituição da sociedade. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 2003.) nos lugares. É a potência da sociedade vivendo em centros urbanos, densamente unida, que permite aos atores com baixos graus de capitalização, tecnologia e capital sobreviver no mercado urbano ante à sucessão de modernizações.

Dessa forma, os novos intermediários da topologia bancária e financeira argentina ampliam as possibilidades de consumo e endividamento da população. A engenharia de pagamentos produz uma complexa rede de cooperação entre atores sociais com alto grau de organização, tecnologia e capital.

No entanto, todo o sistema tende a sustentar-se através do consumo em lojas e serviços, e da relação destes atores com os bancos, com os compradores e as suas situações de crédito. Toda essa cadeia de valor e produção movimenta a economia urbana na cidade de Buenos Aires, impulsionada pela digitalização monetária (Creuz, 2020CREUZ, V. Globalización, finanzas y división del trabajo. Nuevos actores en los circuitos de la economía urbana en Buenos Aires y São Paulo. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2020. ).

Consumos financeiros e presença do circuito superior na cidade

A partir dos novos atores no circuito superior (GIRE S.A e Western Union), passam a existir novos intermediários bancários e de transações financeiras. As finanças incorporam o movimento monetário de todos os atores da economia urbana e, por isso, penetram em todas as outras variáveis do território.

A circulação dos dados mostra a divisão do trabalho em que os comércios bancários operam transações e as grandes empresas são responsáveis pela gestão e transferência de recursos entre bancos, bancos centrais e pela logística do fluxo monetário e, também, do fluxo de dinheiro virtual. Algumas dessas empresas (gateways e adquirentes) na Argentina são Nacion Servicios, Wipei, First Data, Link e Prisma Medios de Pago. Esses agentes facilitam o processo de circulação financeira por meio da comunicação com bandeiras globais de cartões de crédito, como Visa, MasterCard, Hipercard, Diners Club e Amex.

A engenharia de pagamentos produz uma rede de cooperação entre atores sociais com alto grau de organização, tecnologia e capital. No entanto, todo o sistema tende a se sustentar por meio das vendas em lojas e nos estabelecimentos de serviços, bem como na relação estabelecida entre estes atores, os bancos e os compradores e pela oferta de crédito.

Toda esta distribuição de tarefas constitui o movimento da economia, possibilitado e potenciado pelo fenómeno técnico (Santos, 1996SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.), cujo corolário é uma tendência à digitalização monetária. Chamaremos de economia monetária digital (Creuz, 2020CREUZ, V. Globalización, finanzas y división del trabajo. Nuevos actores en los circuitos de la economía urbana en Buenos Aires y São Paulo. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2020. ) o fenômeno da digitalização das operações bancárias e financeiras, dando maior ênfase às transações que colocam em circulação o dinheiro utilizado para pagar compras e serviços.

Esse fenômeno produz fluxos de capital entre atores sociais por meio das tecnologias de informação, transmitindo dinheiro como informação-algoritmo, criando e estabelecendo novos círculos de cooperação dentro do mercado da economia urbana.

As empresas que comercializam produtos ou serviços no comércio eletrônico utilizam os gateways para operar como plataformas (sistemas de software) que recebem a confirmação do pagamento e transmitem as informações com autorização ou rejeição.

Um gateway é responsável pelo processamento dos pagamentos online e efetua o pagamento no momento do checkout das lojas online. Nesse caso, o gateway processa as informações de pagamento como um software de processamento de pagamentos por meio de informações como cartões de crédito e débito e boletos. Com o intuito de ilustrar o fluxo de informações dos gateways, veja o Fluxograma 1:

Fluxograma 1.
Caminho da informação financeira.

É importante esclarecer que não existe gateway sem adquirentes. Realizam a liquidação financeira das transações por meio de cartões de débito e crédito. Os adquirentes16 16 Citemos a Redecard, Cielo, Getnet, Elavon, Global Payments, First Data, Stone, Link e Prisma Medios de Pago. são os responsáveis pela comunicação com as administradoras de cartões e bancos emissores, sendo eles os atores que atuam no sistema de pagamentos.

A seguir, o Fluxograma 2 mostra o percurso das informações financeiras, destacando as etapas do trabalho financeiro atreladas aos pagamentos.

Fluxograma 2.
Caminhos monetários digitais.

Cada etapa desse fluxograma envolve a mediação do sistema técnico para efetuar um pagamento em condições de proteção de dados. O processo de realização de um pagamento, através de cartão de crédito ou débito, inicia-se quando o cliente apresenta o seu cartão na loja física ou quando envia os dados do seu cartão através de um computador, celular ou tablet por meio de uma transação eletrônica. Cabe ressaltar que cada etapa do fluxograma corresponde a um custo pago pelo vendedor e pelo consumidor.

Além disso, outro vetor promoveu a comercialização de operações de pagamento em Buenos Aires: é o fato de que os bancos, nesse movimento mais amplo de tecnologias digitais bancárias, promoveram a retirada de funções de suas agências. Nesse contexto, estabelecem-se a divisão de tarefas e de funções entre as empresas, os graus de dominação e a submissão e dependência recíproca entre os atores sociais. À medida que novos níveis de modernização ocorrem, novas funcionalidades surgem na economia criadora de demanda.

As empresas do circuito superior tendem a estabelecer uma série de métodos na gestão das marcas, nos desenhos dos layouts dos seus prestadores de serviços, nos softwares de integração e na comunicação que elas próprias desenvolvem, como é o caso da Rapipago, empresa do grupo GIRE. S.A.

É interessante notar que os gateways se tornam um elemento central à divisão do trabalho financeiro na medida em que aumenta a circulação de capital por meio do comércio digital.

A moeda se converte em uma mediação digital sem, no entanto, deixar de ser uma mediação monetária. Nesse sentido, em uma cidade

podemos descobrir eventos que carregam solidariedade organizacional, como o estabelecimento de um banco global que muda a circulação do dinheiro local e regional e, ao mesmo tempo, outros eventos, cujo berço é aquela porção do território, como, por exemplo, ação de uma associação de pequenos comerciantes em busca de formas mais endógenas de circulação de dinheiro. (Silveira, 2013SILVEIRA, M.L. Tiempo y Espacio en Geografía: dilemas y reflexiones. Revista de Geografía Norte Grande, n. 54, p. 9-29, 2013., p. 31).

A força dos grandes atores sociais tende a eclipsar as formas mais orgânicas dos pequenos comerciantes. Através da banalização tecnológica do uso de cartões de débito e crédito, as pequenas empresas integram a divisão do trabalho consumindo serviços de circuito superior ligados ao sistema financeiro.

Da mesma forma, o uso de gateways na Argentina marca um novo momento na divisão urbana do trabalho concentrada na cidade de Buenos Aires com o uso de cartões de débito e crédito. Ao mesmo tempo, e como já mencionamos, o uso do dinheiro é um dado relevante ao entendimento da macroeconomia na formação socioespacial argentina. Assim, a participação do mercado dos comércios bancários foi funcional ao sistema financeiro nacional por meio de empresas como GIRE S.A. (marca Rapipago) e Western-Union (marca Pago Fácil).

Desde 2010, houve uma profunda modernização das funções financeiras na Argentina, ampliando a relação entre pessoas físicas que consomem, empresas que vendem produtos e serviços e empresas que agora são responsáveis por realizar as operações da economia monetária digital do país: cartões, adquirentes, gateways e bancos.

O uso de gateways não tem regulamentação bem delimitada no país, o que de alguma forma possibilita ao circuito superior distribuir tarefas e funções entre os atores sociais dos demais circuitos da economia.

Dessa combinação de fatores resulta uma divisão social e territorial do trabalho, na qual o comando das ações é, ao mesmo tempo, difuso e concentrado. Por um lado, o comando é difuso, porque são várias as empresas que produzem a coerência interna do sistema urbano, distribuindo tarefas entre as empresas do circuito superior e criando formas de consumo entre todos os demais atores. Por outro lado, também é concentrado, porque quem fiscaliza as diretrizes das solicitações bancárias são os bancos. Estes são os donos - ou possuem grande parte - das empresas no exercício de funções de gateways ou intermediários. Da mesma forma, os bancos estão associados às administradoras de cartões: MasterCard, Visa, Amex, Diners Club, etc. Estas últimas, por sua vez, estão associadas a empresas de tecnologia móvel como Samsung, Apple e Google.

Hoje, a Prisma Medios de Pago é uma das principais empresas que processam informações financeiras na Argentina, estabelecendo negócios com o cartão Visa. Da mesma forma, é proprietária de diversas marcas de serviços financeiros no país, como a rede de caixas eletrônicos Banelco, com mais de 6.000 pontos no país; conta, ainda, com a rede LaPos, para captação e transmissão dos dados dos cartões nas lojas, sejam elas virtuais ou físicas. Esse é um sistema também utilizado em obras sociais pré-pagas, com a utilização de sistemas terminais.

Outra marca da Prisma é o PagoMisCuentas: serviço de pagamentos da rede Banelco, por meio do qual são feitos pagamentos de contas de serviços públicos e impostos, cartões de crédito, compras feitas pela internet e recargas de celular. PagoMisCuentas recebe mais de 3.500 conceitos de pagamento para telefonia fixa e móvel, gás, eletricidade, TV a cabo, estabelecimentos de ensino, clubes, consórcios, municípios, Administração Federal de Receitas Públicas (AFIP), Agência de Arrecadação da Província de Buenos Aires (ARBA) e outros.

Através do site PagoMisCuentas é possível efetuar pagamentos através de diversos canais como Home Banking, caixas eletrônicos da rede Banelco, celulares com a rede Banelco Móvil e canais de pagamento em dinheiro, FullPago, Fullcarga, Express Payment, Virtual Charge, Nevada Card, Banco Comafi e Banco Galiza.

Em outra ordem de ideias, hoje é fato que os bancos tendem a criar procedimentos para não atender o público nas agências. Por isso o comércio digital busca ampliar seu mercado com o uso crescente da internet em casa e do celular, ao mesmo tempo em que oferece ampla utilização de carteiras digitais.

As carteiras digitais são aplicativos nos quais o dinheiro virtual pode ser carregado. Desta forma, é possível efetuar pagamentos ou transferências, quer com cartões pré-carregados na aplicação, quer captando informação no momento via QR code. Na Argentina, as carteiras digitais mais conhecidas são: MercadoPago, VALEpei (da Red Link), Ualá, Naranja X e TodoPago (Prisma Medios de Pagos).

O custo para o cliente por cada operação realizada era de 6,00 ou 8,00 pesos por conta ou serviço cobrado. Outro dado importante é que, em 2017, 70% dos pagamentos na Argentina foram feitos em dinheiro em lojas, restaurantes e outros serviços, incluindo despesas, e os 30% restantes dos pagamentos foram digitais. No entanto, essa situação está passando por uma transformação acelerada nos últimos anos.

Uma marca que também integra a Prisma é a Todo Pago, uma plataforma que permite pagar e receber pela internet de todas as formas, oferecendo também o parcelamento. Os meios de pagamento habilitados são cartões de crédito (American Express, MasterCard, VISA, Cabal, Diners); cartões de débito (Visa Debit e Cabal Debit) e o Pagamento Eletrônico Imediato (PEI).

Vemos na Argentina uma aceleração significativa do consumo pela internet. Por exemplo, o Mercado Pago, uma carteira virtual, é uma empresa do grupo Mercado Libre, que atua em diversos países (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Uruguai, Paraguai, Portugal e outros).

O Mercado Pago é uma plataforma que realiza e recebe pagamentos por meio de cartões de crédito, débito ou boleto. A partir do caso Mercado Pago, apontamos a transição de uma plataforma de comércio eletrônico para uma plataforma financeira, na qual o controle do fluxo de informações financeiras compõe o novo mercado daquela empresa do circuito superior da economia. Tal transação desde a troca de bens até a transformação em produtos financeiros é um dado da fluidez do dinheiro, pois, na realidade, como aponta Prasad (2023), “em última análise, se você pensar em transações econômicas de qualquer tipo, você está estão relacionados com o comércio, comprar uma peça de fruta, fazer uma transação financeira, os pagamentos são mesmo um lubrificante essencial”.

O PayPal é outro grande player com função financeira. Originou-se como uma divisão da empresa de comércio eletrônico eBay, mas depois se transformou em uma empresa dedicada à mediação financeira entre pagamentos. A partir desse momento funciona como uma porta de entrada ao operar com dois tipos de clientes: os que compram e os que vendem. O PayPal estabelece a mediação entre esses dois pontos por meio de tecnologia que cruza a demanda do cliente e suas respectivas formas de pagamento online: cartões de crédito, débitos bancários, moedas digitais como Bitcoin e pagamentos em lojas físicas, por meio do aplicativo PayPal Mobile.

Nesse sentido, o PayPal também se torna uma carteira virtual, aumentando a capilaridade da economia monetária digital. Hoje, em todos os países onde atua, são 210 milhões de contas ativas. Segundo dados da empresa, 55 mil entidades utilizam o sistema.

No mercado argentino, a chegada do PayPal aumentou a competição entre financeiras ligadas à tecnologia, como a Prisma. Ela era ligada ao banco Comafi, agente financeiro e de apoio. Além disso, o PayPal aproveitou o impulso de uma demanda de 16.000 atividades de PME (pequenas e médias empresas) e quase 70.000 profissionais independentes, desde professores que ensinam online até desenvolvedores freelance em vários campos.

Esses atores sociais acessam um serviço financeiro que conecta suas contas ou caixas econômicas, através do banco Comafi, com seus clientes que estão em diferentes pontos da cidade de Buenos Aires ou do país. O mais inovador, neste caso, é a integração de serviços do circuito inferior e da marginal superior a um fluxo internacional de dinheiro, associado a uma empresa de intermediação financeira global. O capital global está ligado com maior capilaridade às arrecadações de um fluxo monetário local.

Considerações finais

O objetivo do artigo foi tratar, simultaneamente, das formas geográficas presentes na paisagem com os comércios bancários caracterizados no texto, do movimento do dinheiro, revelando uma repartição de tarefas no sistema da economia urbana portenha e a relação entre o fenômeno técnico, associado às finanças com a noção de tempo e de temporalidades na produção de um cotidiano urbano.

Em tal movimento, fica evidente que o sistema financeiro e bancário é o ponto de união entre os circuitos da economia urbana, no qual os atores do circuito superior são capazes de ordenar todo o território nacional por meio da terceirização de serviços a agentes com menores graus de capital, tecnologia e organização - nesse bojo estão os comércios bancários, os gateways e os próprios servidores dos adquirentes.

No sistema financeiro, a progressão dos sistemas tecnológicos está associada ao uso corporativo do território. As tecnologias utilizadas no circuito superior aceleram o movimento do capital. Por essa razão, Giddens (1991GIDDENS, A. As consequências da modernidade. Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Editora da Unesp, 1991. , p. 28) sustenta que “a coordenação através do tempo é a base do controle do espaço”. Em uma sociedade capitalista, o capital torna-se um instrumento de exercer poder e catapultar a influência nos demais projetos de outros atores sociais, sejam pequenas empresas ou indivíduos.

Nesse sentido, o meio construído urbano é importante porque permite a expansão do mercado para clientes de diferentes poderes aquisitivos. Além disso, os comércios bancários recebem pagamentos pelas compras realizadas nos meios virtuais. E, se a modernização informacional, principalmente dos smartphones, expande e os bancos realizam modernizações no território, as demais empresas diversificam seus negócios diante desse fenômeno.

O resultado é uma impressionante bancarização e financeirização social, que torna ainda mais codependente a relação entre os dois circuitos econômicos. A partir das sucessivas modernizações tecnológicas, o circuito superior impõe formas de organização aos demais atores:

Na era do software, da modernidade leve, a eficácia do tempo como meio de obtenção de valor tende a se aproximar do infinito, com o efeito paradoxal de igualar (ou melhor, para baixo) o valor de todas as unidades que compõem o campo de alvos potenciais. (Bauman, 2004, p. 127).

Ao concentrar o capital, os atores do circuito superior criam formas de dominação e reafirmam a centralização das ações (organização), sobretudo a partir dos instrumentos financeiros de que dispõem. A participação dos atores do circuito inferior (pessoas físicas e jurídicas) no sistema financeiro revela a capilarização e expansão do circuito hegemônico. Os poucos excedentes produzidos pelo circuito inferior tendem a ser escoados por esses novos instrumentos, personificados por meio de bancos e financeiras.

Um dos principais eixos da globalização é a busca de um modo de produção comum e de uma hegemonia planetária por meio de instrumentos financeiros modernos. Nesse contexto, o cotidiano das pessoas em seus bairros é transformado com o uso de instrumentos e com a instalação de fixos geográficos por meio dos comércios bancários portenhos. Os objetos configuram o trabalho e sua repartição na cidade. Isso influencia o cotidiano e a temporalidade dentro da metrópole, bem como os meios de socialização dos recursos e as visões de mundo dos atores sociais. A velocidade da transformação do fenômeno técnico e financeiro transforma o cotidiano dentro da cidade.

Os novos intermediários da topologia bancária e financeira ampliam as possibilidades de consumo, ao mesmo tempo em que reforça a possibilidade de endividamento da população. Além disso, esses agentes exercem novas funções na economia urbana. Entre as tecnologias do sistema financeiro existe uma importante base de dados cada vez mais central à reprodução do capital financeiro. Isso revela, entre outros, aos atores financeiros a evolução da solvência da população através das regularidades e tipos de consumo.

Pode-se dizer que a concentração de pessoas multiplica e diversifica as demandas em Buenos Aires. Assim, as novas relações de necessidade entre os atores sociais são definidas a partir da tecnologia, informação e finanças. Esse conjunto de eventos compõe os elos entre os circuitos e a distribuição de tarefas que resulta na grande expansão do mercado bancário, que não exclui ninguém de seu repertório de serviços e produtos.

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  • SANTOS, M. Técnica, Espaço, Tempo. Globalização e Meio técnico-Científico-Informacional 3. ed. Editora Hucitec: São Paulo, 1997.
  • SANTOS, M. O espaço dividido Os dois circuitos da economia urbana nos países subdesenvolvidos. Tradução de Myrna T. Rego Viana. 2. ed. São Paulo: Editora da USP, 2004 [1975].
  • SILVEIRA, M.L. Uma situação geográfica: do método à metodologia. Revista Território, ano IV, n. 6, jan./jun. 1999.
  • SILVEIRA, M.L. Tiempo y Espacio en Geografía: dilemas y reflexiones. Revista de Geografía Norte Grande, n. 54, p. 9-29, 2013.
  • SILVEIRA, M.L. Banalidade das finanças e cidadania incompleta: lugar e cotidiano na globalização. Geousp - Espaço e Tempo (online), v. 21, n. 2, p. 370-383, agosto, 2017.
  • SIMMEL, G. The Philosophy of Money 3. ed. Translate by Tom Bottomore and David Frisby. London: Routlegde, 2004.
  • SMITH, N. Desenvolvimento desigual. Natureza, Capital e a Produção do Espaço Tradução: Eduardo de Almeida Navarro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.
  • SORRE, M. Espacio y Sociedad: Geografía Humana Barcelona: Labor, 1953.
  • WHITEHEAD, A. N. A Função da Razão Tradução: Fernando Dídimo Vieira. Editora da Universidade de Brasília: Brasília, 1988
  • 1
    De acordo com dados do Instituto Nacional de Estadísticas y Censos - INDEC (2023INDEC - Instituto Nacional de Estadística y Censos. Censo nacional de población, hogares y viviendas 2022: resultados provisionales / 1a ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Instituto Nacional de Estadística y Censos (INDEC), 2023.), a Ciudad Autónoma de Buenos Aires possui, em 2023, 3.120.612 habitantes.
  • 2
    A teoria dos circuitos da economia foi elaborada por Milton Santos na década de 1970, em seu livro O espaço dividido (Santos, 2004SANTOS, M. O espaço dividido. Os dois circuitos da economia urbana nos países subdesenvolvidos. Tradução de Myrna T. Rego Viana. 2. ed. São Paulo: Editora da USP, 2004 [1975].). Desde então, diversos pesquisadores trabalham com a teoria trazendo importantes contribuições. Em destaque, a Professora María Laura Silveira e seu grupo de pesquisadores, muitos dos quais, hoje, também são professores e seguem se apoiando sobre essa teoria para analisar diversos temas no interior das cidades na Argentina e no Brasil.
  • 3
    Para Milton Santos (1996SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Editora Hucitec, 1996., p. 257), “através do entendimento desse conteúdo geográfico do cotidiano poderemos, talvez, contribuir para o necessário entendimento (e, talvez, teorização) dessa relação entre espaço e movimentos sociais, enxergando na materialidade, esse componente imprescindível do espaço geográfico, que é, ao mesmo tempo, uma condição para a ação; uma estrutura de controle, um limite à ação; um convite à ação. Nada fazemos hoje que não seja a partir dos objetos que nos cercam”.
  • 4
    Sobre a causalidade, Paul Ricœur (2018RICŒUR, P. O discurso da ação. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Editora 70, 2018. , p.142), a “relação de causalidade está, pois, entre o resultado e as consequências, não entre a ação e o seu resultado. É neste sentido, e apenas neste sentido, que o conceito de ação é conceptualmente anterior ao da causa. Não é que toda a causa se conceba segundo os modelos de um agente, mas sim porque a intervenção de um agente no curso das coisas serve de modelo à ideia de produzir efeitos”.
  • 5
    Para Norbert Elias (1990ELIAS, N. La sociedad de los individuos. Ensayos. Traducción de José Antonio Alemany. Barcelona: Ediciones Península, 1990., p. 108), “Nas sociedades industrializadas, urbanizadas e densamente habitadas, os adultos têm muito mais oportunidade, bem como necessidade e capacidade de ficar sozinhos, ou pelos menos de ficar sós aos pares. Escolher por si entre as muitas alternativas é exigência que logo se converte em hábito, necessidade e ideal”.
  • 6
    A geógrafa Silvia Busch (2018BUSCH, S. Modernización en el circuito productivo de alimentos y aceleración contemporánea en la región metropolitana de Buenos Aires. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2018. ), ressalta o papel dos supermercados, como as redes varejistas Carrefour, Coto e Disco, na área metropolitana de Buenos Aires, e a topologia de empresas fabricantes de alimentos de preparo rápido.
  • 7
    “Toda vez que evocamos o tempo, é o espaço que responde. (...) tudo se passa na ordem do tempo” (Jardim, 2007JARDIM, E. As duas vozes: Hannah Arendt e Octavio Paz. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. , p. 110), e, com esse autor podemos afirmas, já não existe distinção entre tempo e espaço. São uma só e única coisa.
  • 8
    “São os eventos que criam o tempo, como portadores da ação presente”; eles são, simultaneamente, “a matriz do tempo e do espaço”. Assim, segundo Ernst Bloch em Philosophy of Future (1963, p. 124), “o tempo somente é porque algo acontece, e onde algo acontece o tempo está”. Logo, “O lugar é depositário final, obrigatório, do evento” (Santos, 1996SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Editora Hucitec, 1996., p. 114-116).
  • 9
    Gaston Bachelard (2007BACHELARD, G. A intuição do instante. Tradução de Antônio de Pádua Danesi. Campinas: Verus Editora, 2007., p. 29), retomando o princípio filosófico de Bergson, escreve: “a verdadeira realidade do tempo é sua duração; o instante é apenas uma abstração, desprovida de realidade”.
  • 10
    Martin Heidegger (2012HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Tradução e organização de Fausto Castilho. Campinas: Editora da Unicamp; Petrópolis: Editora Vozes , 2012. , p. 1095) escreve que o “Dasein cotidiano que toma tempo de imediato no utilizável e no subsistente que lhe vêm-de-encontro no interior do mundo. O tempo, assim ‘experimentado’, ele o entende no horizonte do imediato entendimento-de-ser, isto é, como algo de algum modo subsistente. [...]. A prova dessa origem vulgar do tempo se torna a justificativa da precedente interpretação da temporalidade como tempo originário”.
  • 11
    María Laura Silveira (2013SILVEIRA, M.L. Tiempo y Espacio en Geografía: dilemas y reflexiones. Revista de Geografía Norte Grande, n. 54, p. 9-29, 2013., p. 22) nos ensina que a “técnica (forma) permite empirizar o tempo porque seu conteúdo (evento) é um conteúdo de tempo, tempo dos objetos sobre os quais o tempo opera de ações. Pela sua realidade empírico, as técnicas permitem periodizar, porque são representativos de épocas históricas e revelar uma forma de trabalhar, de dividir e distribuir o trabalho. Tempo e espaço deixam de ser categorias a priori para se tornarem conceitos historicamente datados”.
  • 12
    Para Roberto Lobato Côrrea (2016, p. 7), “Insiste-se que na visão geográfica a análise na perspectiva da inscrição deve estar centrada na espacialidade de processos e formas que geram simultaneamente padrões e diferenças espaciais daqueles processos e formas, envolvendo seja a produção ‘strictu sensu’, a circulação, o consumo, seja os diversos movimentos de contestação, assim como as diversas representações do espaço. Produção ‘latu sensu’, contestação e representação são parte integrante da mesma realidade”.
  • 13
    Retomamos as palavras de Henri Lefebvre (1991LEFEBVRE, H. A vida cotidiana do mundo moderno. Tradução: Alcides João de Barros. São Paulo: Editora Ática, 1991., p. 8), para quem o “tempo, esse tempo em questão, com sua fluidez e sua continuidade, com sua lentidão (cheia de surpresas e de suspiros, de debates e de silêncios, suntuosa, monótona e variada, tediosa e fascinante), é o fluxo heraclitiano sem cortes, principalmente entre o cósmico (objetivo) ou o subjetivo. A história de um dia engloba a do mundo e a da sociedade”.
  • 14
    Daí também a ideia psicoesfera (Santos, 1996SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.) ativa que encaminha as ações dos indivíduos. Tomemos o exemplo do celular e o uso de aplicativos: relacionamentos, transações financeiras, comunicação escrita e interações sociais. O par da psicoesfera é a tecnoesfera, constituída por objetos que permite estes movimentos no território.
  • 15
    “Alguns indicadores publicados pelo Banco Central da República Argentina (2021) dão conta desse processo. Por exemplo, o número total de cartões de débito no sistema financeiro, entre 2010 e 2020, passou de 22,4 para 56,7 milhões de plásticos. Ainda no contexto da pandemia, continuou aumentando, atingindo 56,8 milhões em março de 2021 (Banco Central do República Argentina, 2021)” (Parserisas, 2022PARSERISAS, D. D. Territorio, finanzas y economía urbana en Argentina. La intermediación financiera en ciudades durante la pandemia. Bitácora Urbano Territorial, v. 32, n. II, p. 171-184, 2022. , p. 175).
  • 16
    Citemos a Redecard, Cielo, Getnet, Elavon, Global Payments, First Data, Stone, Link e Prisma Medios de Pago.

Editado por

Editor de seção:

Ricardo Mendes Antas Jr.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    20 Jun 2023
  • Aceito
    12 Mar 2024
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