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Distribuição espaço-temporal das salas de cinema no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro (1909-2021)

Distribución espaciotemporal de los cines en el barrio de Copacabana, Río de Janeiro (1909-2021)

Resumo

Nesta pesquisa, a partir de uma análise da sala de cinema como uma forma urbana passível de ser compreendida a partir de seus aspectos locacionais, foi investigado como se deu a distribuição espaço-temporal das salas de Copacabana ao longo do período da atividade no bairro (1909-2021) e como foi a sua trajetória. Para isso foi levantado as características dos cinemas de Copacabana (tempo de atividade, capacidade e localização) a partir dos dados obtidos no catálogo de Gonzaga (1996) e dados adicionais do acervo hemerográfico da Biblioteca Nacional. Com isso, foi construída uma periodização da atividade de exibição cinematográfica no bairro e foi analisado os eixos pelo qual esta se concentrou espacialmente.

Palavras-chave:
Salas de cinemas; Copacabana; Rio de Janeiro; Espaço urbano

Resumen

En esta investigación, a partir de un análisis de la sala de cine como forma urbana que puede entenderse desde sus aspectos locacionales, se investigó cómo se produjo la distribución espaciotemporal de los cines de Copacabana a lo largo del período de actividad en el barrio (1909-2021) y cómo fue su trayectoria. Para ello, se colectarán las características de los cines de Copacabana (tiempo de funcionamiento, capacidad y ubicación) a partir de datos obtenidos del catálogo de Gonzaga (1996) y datos adicionales de la colección de periódicos de la Biblioteca Nacional. Con esto, se construyó una periodización de la actividad comercial cinematográfica en el barrio y también se hizo un análisis de los ejes a lo largo de los cuales se concentraba espacialmente.

Palabras clave:
Cines, Copacabana; Rio de Janeiro; Espacio urbano

Abstract

In this research, based on an analysis of the movie theater as an urban form that can be understood from its locational aspects, it was investigated how the spatio-temporal distribution of Copacabana theaters occurred throughout the period of activity in the neighborhood (1909-2021) and what his trajectory was like. To this end, the characteristics of Copacabana cinemas were surveyed (time in operation, capacity, and location) based on data obtained on Gonzaga (1996) and additional data from the National Library's newspaper collection. With this, a periodization of the cinematographic commercial activity in the neighborhood was constructed and an analysis of the axes along which it was spatially concentrated was also made.

Keywords:
Movie theater; Copacabana; Rio de Janeiro; Urban space

Introdução

O cinema é um lugar. Se partirmos de uma acepção mais abrangente no qual cinema é entendido como conjunto dos processos materiais e simbólicos da prática cinematográfica que tem no filme o produto final desses processos (FIORAVANTE, 2016FIORAVANTE, Karina Eugenia. Geografia e cinema: a produção cinematográfica e a construção do conhecimento geográfico. Tese (Doutorado em Geografia) – PPGG/UFRJ, Rio de Janeiro, 2016.), adicionamos a isso que o termo cinema consiste também no espaço físico concebido para a projeção e experiência sensorial dos filmes por um público. Dessa forma, ao mesmo modo que outras formas urbanas, as salas estão localizadas e dispostas no espaço urbano conforme a lógica da organização interna das cidades.

Sendo o cinema uma indústria cultural, que pressupõe a massificação do consumo de produtos culturais, é possível representá-la a partir dos seus processos em cadeia (Quadro 1), que, de forma simplificada, Pratt (2011)PRATT, Andrew. An economic geography of the cultural industries. In: LEYSHON, Andrew; McDOWELL, Linda; LEE, Roger. (Orgs.). The SAGE Handbook of Economic Geography. 1ª ed. Londres: SAGE, 2011. p. 322-337. dividiu em quatro etapas. A primeira refere-se aos processos de criação intelectual dos produtos culturais, de autoria, de criação do design. A segunda etapa consiste na concretização do produto, momento no qual se monta a infraestrutura para execução e esse se materializa. Na terceira, constroem-se as ferramentas necessárias para a reprodução e distribuição em massa. A etapa final corresponde ao momento de exposição desse produto cultural em localidades destinadas à compra ou ao consumo desses produtos por um público.

Quadro 1
Cadeia de produção das indústrias culturais

Dessa forma, é possível observar que a partir da ótica do sistema de produção das indústrias culturais, as salas de cinemas fazem parte do conjunto de processos da etapa IV, ao final da cadeia, sendo o momento de exibição dos filmes ao público consumidor. Cabe acrescentar que, até o surgimento das tecnologias de consumo doméstico de filmes, as salas de cinema eram a única forma comercial de se apresentar os filmes para um público, sendo indispensável para a perpetuação da cadeia. Entendemos então que essa necessidade econômica de distribuição dos filmes atua na produção do espaço urbano ao passo que se constroem formas espaciais cuja função primária é a exibição cinematográfica. Por forma e função, remetemos às categorias de análise do espaço geográfico propostas por Santos (1985)SANTOS, Milton. Espaço e método. 1ª ed. São Paulo: Nobel, 1985., no qual a forma é o aspecto visível ou externo de um objeto geográfico, e a função seria a atribuição dada a essa forma.

Seguindo essa linha, é possível constatar que a espacialidade do cinema, tanto como espaço físico quanto como conjunto dos processos da prática cinematográfica, se configura como um dos potenciais temas da geografia. Segundo Sousa (2014)SOUSA, Raquel Gomes de. Processo espaciais e os cinemas: análise da metrópole carioca. In: Anais do VII Congresso Brasileiro de Geógrafos, Vitória, 2014., a geografia humana em geral trabalha o cinema sob duas perspectivas. A primeira analisa o espaço fílmico, ou seja, o cenário diegético onde ocorrem os eventos dos filmes, suas imagens e representações. A segunda examina os cinemas como objetos espaciais fixos, integrantes do espaço urbano e que compõem os circuitos econômicos da cidade. Já Fioravante (2016)FIORAVANTE, Karina Eugenia. Geografia e cinema: a produção cinematográfica e a construção do conhecimento geográfico. Tese (Doutorado em Geografia) – PPGG/UFRJ, Rio de Janeiro, 2016. em sua análise bibliométrica sobre a produção acadêmica na temática indica quatro principais linhas de pesquisa pelos quais a geografia trabalha o cinema: cinema e o ensino de geografia; indústria cinematográfica e geografia; geopolítica e cinema; e geografia, humanismo e representações cinemáticas. Acreditamos que a presente investigação se insere na segunda perspectiva apontada por Sousa (2014)SOUSA, Raquel Gomes de. Processo espaciais e os cinemas: análise da metrópole carioca. In: Anais do VII Congresso Brasileiro de Geógrafos, Vitória, 2014. e dentro dos estudos a respeito da geografia da indústria cinematográfica indicados por Fioravante (2016)FIORAVANTE, Karina Eugenia. Geografia e cinema: a produção cinematográfica e a construção do conhecimento geográfico. Tese (Doutorado em Geografia) – PPGG/UFRJ, Rio de Janeiro, 2016., já que, como explicitamos anteriormente, pretendemos estudar as salas de cinema como formas urbanas. É de interesse destacar também, como aponta Fioravante (2016)FIORAVANTE, Karina Eugenia. Geografia e cinema: a produção cinematográfica e a construção do conhecimento geográfico. Tese (Doutorado em Geografia) – PPGG/UFRJ, Rio de Janeiro, 2016., que a tradição geográfica esteve mais associada ao estudo das imagens produzidas pelos filmes e os seus significados geográficos do que pela perspectiva locacional, da sala de cinema enquanto lugar. Desse modo, acreditamos que esta é possivelmente uma área ainda negligenciada no estudo das relações entre geografia e cinema.

Indo então para o objeto do presente estudo de caso, desde o final do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro se apresenta como um relevante centro da difusão da atividade de exibição cinematográfica no Brasil. Como mostra Sousa (2019)SOUSA, Raquel Gomes. Salas de cinema no Rio de Janeiro: 1896-1995. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019., o início da atividade na metrópole se caracterizou pela concentração da atividade no centro. Em um segundo momento, houve uma descentralização na difusão de novas salas, com a expansão da malha urbana e emergência de bairros da zona sul e zona norte e, posteriormente, da zona oeste. E nas dinâmicas recentes, vemos a migração dos cinemas para os shopping centers sob o formato de multiplex, que consiste num conjunto integrado de salas que permite a exibição de múltiplos filmes em um mesmo momento. Entretanto, atualmente observa-se uma constante redução do número de salas de cinemas em funcionamento, indicando uma decadência da atividade na cidade do Rio de Janeiro.

Como indicamos, apesar da difusão espacial inicial das salas de cinema ter ocorrido no centro da cidade, em um segundo momento, a expansão da atividade alcançou expressividade em outras partes da cidade. Nesse novo cenário, alguns bairros se destacaram pela concentração de salas de cinemas, como a Tijuca, que formou o principal núcleo de cinemas após a Cinelândia (FERRAZ, 2009FERRAZ, Talitha Gomes. A Segunda Cinelândia Carioca: cinemas, sociabilidade e memória na Tijuca. 1ª ed. Rio de Janeiro: Multifoco, 2009.), e Copacabana, bairro que pouco a pouco se tornava um importante subcentro comercial da cidade.

A exibição cinematográfica em Copacabana se mostra então como um caso significativo a ser estudado. Marcado pela incorporação dos cinemas a uma já efervescente vida cultural do bairro (O'DONNELL, 2011O’DONNELL, Julia. Um Rio Atlântico: culturas urbanas e estilos de vida na invenção de Copacabana. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – MN/UFRJ, Rio de Janeiro, 2011.), o conjunto de cinemas de Copacabana teve em seu período de auge 16 salas funcionando simultaneamente, uma quantidade notável, atrás apenas da Tijuca (SOUSA, 2019SOUSA, Raquel Gomes. Salas de cinema no Rio de Janeiro: 1896-1995. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019.). Assim como o próprio bairro, a distribuição espacial dos cinemas de Copacabana foi se alterando e assumindo novas características. Entretanto, experienciou posteriormente um declínio gradativo do número de salas e, com o encerramento das atividades do cinema Roxy em 2021, Copacabana não possui mais cinemas ativos em sua extensão.

O fim da atividade num bairro tão notadamente marcado por seus cinemas, simboliza não apenas o avanço da perpetração de mudanças culturais que o consumo de filmes experienciou nas últimas décadas, mas também uma mudança nos usos do espaço urbano do bairro, cujo qual as dinâmicas imobiliárias se alteraram e esses espaços assumiram novas funções. Desse modo, o objetivo da investigação é analisar o período no qual a atividade era exercida no bairro e compreender seus padrões espaciais e como esses foram se alterando ao longo do tempo.

Os dados para a análise foram extraídos do catálogo de Gonzaga (1996)GONZAGA, Alice. Palácios e Poeiras: 100 anos de cinema no Rio de Janeiro. 1ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1996., sendo eles: os nomes dos cinemas, os endereços, as datas de abertura e fechamento das salas, os períodos de funcionamento e a capacidade de público de cada sala. Sousa (2019)SOUSA, Raquel Gomes. Salas de cinema no Rio de Janeiro: 1896-1995. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019., que também utilizou os dados de Gonzaga (1996)GONZAGA, Alice. Palácios e Poeiras: 100 anos de cinema no Rio de Janeiro. 1ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. como fonte principal, alertou sobre algumas limitações que essa base de dados possui. Isso se dá devido a heterogeneidade da origem dos dados, baseado em quinze fontes diferentes, como o Anuário Estatístico do Distrito Federal do IBGE, listas telefônicas da cidade do Rio de Janeiro, cadastro de cinemas da Embrafilme e recortes dos jornais de maior circulação na cidade. Assim, há alguns dados discordantes e informações ausentes em diferentes pontos do catálogo, que foram corrigidas com outras fontes bibliográficas quando possível, mas devida a riqueza da compilação inicial, essa fonte ainda é a principal base de dados sobre as informações técnicas das salas de cinema do Rio de Janeiro. Esses dados, entretanto, só se estendem até 1996, o ano da publicação, tendo sido necessário complementá-los com informações posteriores sobre aberturas ou fechamentos para alcançar integralmente o recorte temporal aqui objetivado. Essas foram obtidas no acervo hemerográfico da Biblioteca Nacional, partindo de 1997 até 2021. Para isso, utilizou-se como palavra-chave os nomes dos cinemas que ainda estavam abertos em 1996 para verificar nesses acervos quando foi noticiado o fechamento das salas.

Com os dados organizados, foi feita uma periodização da evolução do conjunto de salas de cinema do bairro, utilizando as informações de quantidade de cinemas por ano e a soma da capacidade de público das salas por ano. Outro procedimento realizado foi a identificação dos eixos de concentração de cinemas pela malha urbana de Copacabana. Dessa forma, utilizamos como parâmetros para definir os clusters de salas, para além da proximidade espacial, a capacidade de público e o período de atividade simultânea dos cinemas integrantes de cada eixo.

Os padrões espaço-temporais das salas de cinema do bairro de Copacabana (RJ)

Como resultados encontrados, primeiramente, temos a localização das salas de cinema em Copacabana (Mapa 1), apresentado em ordem numérica crescente, conforme o ano de inauguração. É possível perceber que a maioria das salas (16 das 23) estava localizada próximo ao centro do bairro, com alguns outros pontos com pequenos agregados de salas.

Mapa 1
Distribuição espacial das salas de cinema do bairro de Copacabana (1909-2021)

Em sequência apresentamos a trajetória temporal do coletivo de salas a partir de duas variáveis: o número de salas abertas e a capacidade de público do conjunto, em cada ano (Gráfico 1). Podemos verificar, de forma geral, que a atividade teve uma ascensão e queda bem evidentes, e quase simétricos, tanto na capacidade quanto no número de salas ativas. O ponto de inflexão do gráfico, ou seja, o auge da atividade, foi em 1969, único ano no qual atingiu 16 salas, a partir disso ocorreu um declínio gradativo, que se acentuou nas décadas de 1990 e 2000.

Gráfico 1
Capacidade e número dos cinemas de Copacabana por ano (1909-2021)

Pudemos então chegar em uma periodização da evolução do conjunto de salas de cinema do bairro (Gráfico 2). Assim, temos três períodos distinguíveis por eventos-chave: 1909-1940, que começa com a inauguração do Cinema Copacabana em 1909 e se encerra com a inauguração, em 1941, do Metro Copacabana, que consolidou, juntamente ao Roxy aberto três anos antes, um novo momento da atividade com um conjunto imponente de recém-inaugurados palácios cinematográficos. No período de 1941 a 1985, registrou-se o maior número de salas de cinema ativas, chegando a 16 salas simultâneas em 1969. O último período se inicia após o fechamento de três dos palácios cinematográficos de Copacabana: Rian, Caruso Copacabana e Royal, no qual, a partir desse marco, os fechamentos passaram a ser frequentes nas décadas de 1990 e 2000, até o fim dos cinemas no bairro em 2021, com o encerramento das atividades do Roxy.

Gráfico 2
Periodização das salas de cinema de Copacabana (1909-2021)

Percebemos que os três períodos exibem características distintas e nos informam sobre as mudanças na atividade. No primeiro, contou com cinemas que de forma geral não obtiveram sucesso e fecharam após pouco tempo. O segundo equivale ao período de consolidação da atividade, que passa a crescer rapidamente, contando com um alto número de inaugurações e manutenção das salas já existentes. É nesse período que o bairro atinge o ápice de cinemas simultâneos com 16 cinemas em 1969. O último período acelerou a tendência de arrefecimento que vinha se apresentando desde a década de 1970, e apresentou uma queda gradativa, que foi acentuada no final dos anos 90, sem abertura de salas e com o fechamento dos cinemas ativos.

Entretanto, gostaríamos de destacar que a atividade não se difundiu uniformemente pela malha urbana de Copacabana, e sim a partir de dois eixos principais, que concentraram espacialmente um quantitativo notável de salas em momentos distintos. Primeiramente, o mais evidente e relevante é o do centro comercial do bairro (Mapa 2), que a partir de 1942 se tornou um aglomerado consistente, que chegou a contar com 8 salas ativas, e em dado momento de auge (1950) chegou a 82,1% da capacidade de público de todo o bairro, e se configurou como um cluster até 1997.

Mapa 2
Cluster Central dos cinemas de Copacabana (1942-1997)

O outro cluster relevante se localizou no sul do bairro (Mapa 3), próximo a Ipanema, e esteve muito relacionado justamente ao aparecimento de salas no bairro vizinho. Contou com 5 salas, embora por um período bem mais curto, de cerca de uma década (1958-1969), sendo parte essencial do apogeu do segundo período visto anteriormente.

Mapa 3
Cluster Sul de cinemas de Copacabana (1958-1969)

Entendemos aqui também, de maneira geral, que a evolução do coletivo de salas de cinemas de Copacabana se deu majoritariamente a partir do eixo central. Houve também, no segundo período (1941-1984), uma efêmera subcentralidade na vizinhança com Ipanema. Quando teve início a decadência da atividade, essa deu primeiramente nas salas localizadas nas extremidades do bairro, próximo aos limites com Ipanema e Leme, e as salas que perduraram nesse período estavam no centro comercial, em um movimento centrípeta na lógica dos fechamentos.

Ponderando sobre as transformações que levaram ao fim da atividade no bairro, é possível identificar alguns fatores da dinâmica espacial da cidade e de Copacabana que podem ser responsáveis por essa desaceleração gradual da atividade. Primeiramente, temos as mudanças em Copacabana no final do século XX, como a saturação imobiliária, que não acompanhava o ritmo de crescimento do bairro, provocando uma desvalorização devido a questões como o superpovoamento, a queda do padrão habitacional, a proliferação dos tradicionais problemas urbanos (poluição atmosférica e sonora, trânsito intenso, violência etc.) e a incorporação das classes populares (RANGEL, 2003RANGEL, Cynthia Campos. As Copacabanas no tempo e no espaço: diferenciação socioespacial e hierarquia urbana. 1ª ed. Rio de Janeiro: ASE/IPPUR, 2003.). Com isso, Copacabana foi progressivamente perdendo moradores: foi de 239.256 habitantes em 1970, para 216.699 em 1980, 169.680 em 1991 e 161.201 em 2000 (VELHO, 1999VELHO, Gilberto. Os mundos de Copacabana. In: VELHO, Gilberto. Antropologia Urbana. 1ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.). Assim, a perda do status elitizado e o relativo esvaziamento populacional são indicativos da mudança no perfil do consumidor de Copacabana e nas funções urbanas desejadas, ocasionando uma perda da atratividade comercial na manutenção das salas de cinema do bairro.

Apontamos também, a partir de Sousa (2019)SOUSA, Raquel Gomes. Salas de cinema no Rio de Janeiro: 1896-1995. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019., para a emergência de uma nova centralidade para a exibição cinematográfica na cidade: a Barra da Tijuca. Na virada das décadas de 80 para 90, a Barra da Tijuca experienciou um aumento quantitativo considerável na abertura de salas enquanto o resto das áreas da cidade estava tendo tendências contrárias, de estabilidade ou declínio. Isso se deu, em grande parte, devido à abertura em 1999, de um multiplex de grandes proporções no shopping New York City Center com 18 salas, o maior da cidade. Juntamente com outros cinemas de shopping como os do Via Parque, Downtown Shopping e Casa Shopping, a Barra foi se tornando a nova área que ainda induzia dinamismo à atividade. Dessa forma, as antigas centralidades como Copacabana e a Tijuca deixaram progressivamente de serem eixos visados para a abertura de novas salas.

Considerações finais

Portanto, ao analisarmos a sala de cinema como forma urbana a partir de sua dimensão espaço-temporal pudemos perceber os possíveis padrões espaciais na organização da atividade, bem como o seu tipo específico de evolução da atividade, podendo esses serem comuns a outras localidades. Indicamos aqui também, como a trajetória de uma atividade comercial pode ser sensível tanto a aspectos locais, em um dado bairro reconhecido pela relevância no ramo, quanto a mudanças mais gerais próprias a toda uma indústria.

Ademais, a presente pesquisa apresentou, a partir do foco na espaçotemporalidade da atividade cinematográfica, como um bairro se modifica com o tempo para adequar diferentes funções e como as suas formas acompanham esses processos.

Referências

  • FERRAZ, Talitha Gomes. A Segunda Cinelândia Carioca: cinemas, sociabilidade e memória na Tijuca. 1ª ed. Rio de Janeiro: Multifoco, 2009.
  • FIORAVANTE, Karina Eugenia. Geografia e cinema: a produção cinematográfica e a construção do conhecimento geográfico. Tese (Doutorado em Geografia) – PPGG/UFRJ, Rio de Janeiro, 2016.
  • GONZAGA, Alice. Palácios e Poeiras: 100 anos de cinema no Rio de Janeiro. 1ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.
  • O’DONNELL, Julia. Um Rio Atlântico: culturas urbanas e estilos de vida na invenção de Copacabana. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – MN/UFRJ, Rio de Janeiro, 2011.
  • PRATT, Andrew. An economic geography of the cultural industries. In: LEYSHON, Andrew; McDOWELL, Linda; LEE, Roger. (Orgs.). The SAGE Handbook of Economic Geography 1ª ed. Londres: SAGE, 2011. p. 322-337.
  • RANGEL, Cynthia Campos. As Copacabanas no tempo e no espaço: diferenciação socioespacial e hierarquia urbana. 1ª ed. Rio de Janeiro: ASE/IPPUR, 2003.
  • SANTOS, Milton. Espaço e método 1ª ed. São Paulo: Nobel, 1985.
  • SOUSA, Raquel Gomes de. Processo espaciais e os cinemas: análise da metrópole carioca. In: Anais do VII Congresso Brasileiro de Geógrafos, Vitória, 2014.
  • SOUSA, Raquel Gomes. Salas de cinema no Rio de Janeiro: 1896-1995. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019.
  • VELHO, Gilberto. Os mundos de Copacabana. In: VELHO, Gilberto. Antropologia Urbana 1ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    15 Jan 2024
  • Aceito
    30 Abr 2024
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