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‘Se pá’: um condicional epistêmico!1 1 Agradecemos a leitura atenta dos pareceristas, essencial para essa versão final.

‘Se pá’: An epistemic conditional!

RESUMO:

Este artigo apresenta uma proposta semântico-pragmática para a expressão ‘se pá’, característica da fala de comunidades mais jovens no Brasil. Em textos escritos, como whatsapp ou X, aparece grafada de maneiras distintas: ‘cepá’, 'sepá’, 'cpá’ e etc. Trata-se de uma expressão idiomática, em que as partes dão uma contribuição composicional: o ‘se’ é a conjunção condicional e o ‘pá’ ocupa o lugar da sentença antecedente. Defendemos que não estamos diante de um operador de possibilidade como ‘talvez’, pois só se combina com o modo indicativo. Mostramos que a expressão se comporta como um condicional indicativo, já que não se combina com formas do verbo no subjuntivo. Mostramos que o ‘pá’ carrega expressividade (Potts, 2007POTTS, Christopher. The Expressive Dimension. Theoretical Linguistics, v. 33, p. 165-197, 2007.), veiculando a posição subjetiva do falante. Para a semântica, partimos de Kratzer (2012KRATZER, Angelika. Modals and conditionals. Oxford: Oxford University Press , 2012. ) para os condicionais indicativos nus, em que o ‘se’ indica a restrição da quantificação universal, que é implícita, aos mundos compatíveis com os descritos pelo antecedente. O antecedente está ocupado por ‘pá’, que é vazio porque só carrega a informação de que é epistêmico. Epistêmicos são ordenados pelo curso normal dos eventos. A base modal é o conhecimento do falante sobre o que é normalidade no contexto. O normal epistêmico, que envolve conhecimento sobre o mundo, é relativo. Nesse sentido, o ‘pá’ é vazio porque significa o mesmo independente do contexto. O ‘pá’ é a proposição que resume as condições normais. Assim, o falante afirma que dado o que ele sabe tendo em vista a normalidade das coisas, o consequente se segue. Logo, conversacionalmente, ele implica que o consequente é o caso e a expressividade da expressão reforça que o falante está emocionalmente inclinado nessa direção.

PALAVRAS-CHAVES:
expressão idiomática; composicionalidade; condicional indicativo; expressividade.

ABSTRACT:

The article aims to present a semantic-pragmatic proposal for the expression ‘se pá’, characteristic of the speech of younger communities in Brazil. In written texts, such as whatsapp or X, it appears spelled in different ways: ‘cepá’, ‘sepá’, ‘cpá’ and etc... We argue that it is a compositional expression, in which ‘se’ (‘if’) is the conditional conjunction and the ‘pá’ takes the place of the antecedent. We initially argue that we are not facing a possibility operator like ‘talvez’ (‘maybe’), but an indicative conditional, since it does not combine with forms of the verb in the subjunctive. We show, relying on Potts (2007POTTS, Christopher. The Expressive Dimension. Theoretical Linguistics, v. 33, p. 165-197, 2007.), that ‘pá’ carries expressiveness, conveying the subjective position of the speaker. For the semantics, we start from Kratzer’s (2012KRATZER, Angelika. Modals and conditionals. Oxford: Oxford University Press , 2012. ) proposal for conditionals in which the ‘se’ (‘if’) indicates that the restriction of universal quantification, which is implicit, is given by the antecedent. The antecedent is occupied by ‘pá’, which is the proposition that contains what is the normal course of events. The modal base is epistemic; the worlds accessible are those that share the facts with the evaluation world, which is the actual world; those worlds are ordered according to normalcy. The ‘pá’ is the proposition that summarizes the normal conditions. Thus, the speaker indicates that if everything is normal, the consequence will follow. Therefore, not only is he inclined in the direction of the consequent, but the expressiveness of the expression conveys that the speaker is emotionally inclined in that direction.

KEYWORDS:
idiomatic expression; compositionality; indicative conditionals; expressiveness.

Introdução

O significado nas línguas naturais, como é o português brasileiro em suas diferentes variedades, é espesso; ele tem dimensões (Potts, 2007POTTS, Christopher. The Expressive Dimension. Theoretical Linguistics, v. 33, p. 165-197, 2007.) que congregam informações vindas de diferentes fontes, do significado composicional, da expressividade, das pressuposições e das implicaturas conversacionais. Conversamos sobre algo, o assunto em questão, dentro de um contexto, que é compartilhado pelos interlocutores, e proferimos sentenças sempre com alguma intenção. Expressamos nossa opinião, nossas crenças e o quanto acreditamos ou desejamos as coisas. Além disso, as palavras carregam posicionamentos subjetivos do falante. E mesmo nos casos em que o falante quer enganar seu interlocutor, isso ocorre dentro do jogo conversacional, ainda que pervertido, em que o manipulador finge que está jogando o jogo cooperativamente, no sentido de Grice (1989GRICE, Herbert Paul. Studies in the way of words. Cambridge: Harvard University Press, 1989. ). Um falante que escolhe proferir ENT#091;se:paENT#093;, grafado no whatsapp ou X como ‘sepá’ ou ‘cepá’, e outras formas, está explorando a máxima do modo, já que ele poderia ter usado outra expressão, e com isso está se apresentando como um jovem, de uma certa classe social no Brasil e veicula um certo conteúdo que este artigo busca esclarecer. Buscamos entender diferentes dimensões do significado associadas à escolha da expressão ‘se pá’, que grafamos separadamente já que, na nossa análise, cada item dá a sua contribuição, embora ela seja uma expressão idiomática porque não permite a intervenção de nenhum elemento.

A primeira seção mostra que ‘se’ e ‘pá’ são itens independentes, que recorrem em outras construções, mas que estão amalgamados, num sentido que iremos esclarecer ao longo do artigo, já que não é possível a intervenção de qualquer outro elemento entre eles. A segunda seção argumenta que não estamos diante de um operador de possibilidade como o advérbio ‘talvez’, mas sim de um condicional indicativo; um epistêmico, relativizado ao falante.

A terceira seção apresenta a análise de Kratzer (2012KRATZER, Angelika. Modals and conditionals. Oxford: Oxford University Press , 2012. )2 2 A proposta de Kratzer para as sentenças condicionais está dispersa em uma série de artigos e textos. Vamos ancorar nossa análise em Kratzer (2012), mas recorremos também a Kratzer (1986). para as sentenças condicionais indicativas nuas, isto é, sem modais aparentes como ‘deve’ e ‘pode’, por exemplo. Nessa análise, quando não há um modal explícito, a conjunção ‘if’ (‘se’) indica a restrição de um modal de necessidade. Na quarta seção, aplicamos a análise para as sentenças com ‘se pá’. Argumentamos que o ‘pá’ veicula uma proposição que abrevia as condições que são compatíveis com o mundo de avaliação e ordenados segundo o parâmetro da normalidade. Dessa maneira, o raciocínio se restringe aos mundos organizados via normalidade; em outros termos, nos mundos normais, o consequente irá se realizar. Assumindo, como propõe Gillies (2004GILLIES, Anthony. Epistemic Conditionals and Conditional Epistemics. NOÛS, v. 38, n. 4, p. 585-616, 2004.), que, em condicionais indicativos, os falantes pressupõem que o antecedente é verdadeiro, então o falante acredita que as coisas têm seu curso normal, e daí inferimos sua atitude positiva; o que gera a interpretação de que há uma inclinação do falante em direção ao consequente, reforçada pela escolha de um item expressivo. Logo, o falante está muito inclinado.

Dois constituintes distintos

O ‘se pá’ é uma expressão popular do português brasileiro de jovens contemporâneos, amplamente utilizada em diversos contextos, testemunhado nas diferentes redes sociais, na literatura (1a), em letras de músicas (1b), além de mensagens em whatsapp e X, entre outros. A expressão parece estar ligada a variedades linguísticas de classes sociais com baixo prestígio; na literatura, é utilizada para marcar o falar de personagens periféricos; nas músicas, aparece principalmente em gêneros que são normalmente associados à realidade da periferia das grandes cidades brasileiras, como o Funk e o Rap. Com a popularização e ganho midiático destes estilos, o ‘se pá’ também se difunde, aparecendo cada vez mais em diversos contextos de fala. Abaixo colocamos alguns exemplos que confirmam sua presença nestes espaços:

(1) a. “Se pá tudo que eu digo é um monte de besteira” (Falero, 2020FALERO, José. Os supridores. São Paulo: Todavia, 2020. )

b. “Se pá tiro a foto, se pá pego sim Quando eu fui ver já tinha pegado o contatinho” (MC Davi, 2016 - MC DAVI. Pé Direito. São Paulo: Pereira DJ, 2016. Disponível em: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5Xc9SQrfJog . Acesso 15 nov 2023.
https://www.youtube.com/watch?v=5Xc9SQrf...
)

Sua origem não é o foco deste artigo, mas sim apresentar uma análise de dimensões de significado que ela dispara, em particular, uma proposta para a semântica dessa expressão, bem como uma descrição da sua contribuição em termos de posicionamento do falante. A expressão pode ser grafada de diferentes maneiras, ‘se pá’, ‘sepa’, se pah’, ‘cpa’ e etc, e é uma formação realizada a partir da junção de dois itens lexicais que são independentes: ‘se’ e ‘pá’.

O ‘se’ é a conjunção condicional do português, ocorrendo tanto em condicionais indicativos quanto em subjuntivos, também chamados de subordinados, exemplificados abaixo na ordem respectiva:

(2) a. Se a luz está acesa, o João está em casa. b. Se a luz estivesse acesa, o João estaria em casa.

Condicionais indicativos e subjuntivos têm propriedades distintas. Por exemplo, nos condicionais indicativos, as sentenças são independentes; em (2a) ‘a luz está acesa’ e ‘o João está em casa’; já no condicional subjuntivo, como em (2b), não são. Voltaremos com mais atenção a essa distinção nas próximas seções deste artigo, por enquanto basta notar que estamos diante de uma conjunção condicional.3 3 Não é nossa intenção revisar o tema dos condicionais indicativos que é vasto. Bennett (2003) é uma discussão filosófica sobre os condicionais. Pires de Oliveira e Mortari (no prelo) tem um capítulo sobre condicionais no quadro da teoria kratzeriana, que iremos adotar também neste artigo.

O ‘pá’ é o centro da nossa análise. Ele também aparece em diversas outras situações e faz-se presente há mais tempo, estando registrado em dicionários como uma interjeição.4 4 interjeição ENT#091;Portugal, InformalENT#093; Palavra esvaziada de sentido que se usa ou se repete no discurso, geralmente de forma inconsciente ou automática, como bordão linguístico (ex.: ele estava a falar, pá, mas não se percebia, pá, não se percebia mesmo nada, pá). in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa ENT#091;em linhaENT#093;, 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/p%C3%A1. Abaixo estão alguns exemplos em que ele aparece em trechos das músicas Tanto Mar (3a) de Chico Buarque (1978BUARQUE, Chico. Tanto mar. São Paulo: PHILIPS. Faixa 10. 1 CD. 1978), Vida Loka Pt1(3b) dos Racionais MC’s (1994 - RACIONAIS MC’s. Vida Loka pt1. São Paulo, Casa Nostra, 1994.) e Meio Pa (3c) de Veigh (2022VEIGH. Meio Pa. Jaraguá do Sul: Supernova Entertainment. 2022. Disponível em: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AtolYzaMoXc . Acesso 15 nov 2023.
https://www.youtube.com/watch?v=AtolYzaM...
), entre outros. Nesses exemplos é possível notar que a expressão ocupa uma posição sintática e está investida de uma carga de emotividade, como um tipo de expressão exclamativa ou uma interjeição, indicando que o falante está emocionalmente envolvido.

(3) a. Sei que está em festa, pá Fico contente E enquanto estou ausente Guarda um cravo para mim b. Mó função, mó tabela, pô, desculpa aí Eu me sinto às vezes meio pá, inseguro Que nem um vira-lata, sem fé no futuro Vem alguém lá, quem é quem, quem será meu bom c. Cê tava meio pá, eu também Acho que nóis se merece Fica mais fácil cê vim com as verdade depois de umas dose de Whisky

Em (3a) ‘pá’ é efetivamente uma interjeição, a expressão do contentamento do falante neste caso em particular. Em (3b) e (3c), ‘pá’ ocupa a posição de um adjetivo. Em (3b), o adjetivo é dado em seguida; em (3c) é deixado em aberto. Em ambos os casos, indica o envolvimento do falante. Há dois aspectos relevantes sobre essa expressão exemplificados nesses exemplos e que iremos retomar: ‘pá’ entra no lugar de uma expressão linguística e indica envolvimento do falante.

Assim, parece que estamos diante de dois itens lexicais, que, no entanto, constituem uma unidade sintático-semântico, uma expressão idiomática, como veremos na próxima seção.

‘Se pá’ um constituinte único e duas contribuições

Aparentemente essas expressões estão fundidas num constituinte único, levando em consideração que a expressão ‘se pá’ resiste a modificações. Observe que em todos os exemplos em que tentamos interpor uma expressão, como ‘bem’ ou ‘todo’, entre os constituintes, geramos sentenças agramaticais:

(4) a.*Se bem pá eu vou. b.*Se menos pá tu atrasa. c.*Se todo pá o almoço tá pronto. d.*Se apenas pá amanhã chove.

O mesmo acontece se tentamos acrescentar um predicado, um nome ou um verbo no meio do constituinte. A combinação com um verbo, como em (5b) é possível apenas se ‘pá’ for um elemento isolado prosodicamente, ocorrendo em paralelo, por assim dizer, com a dimensão de conteúdo, e expressando a emoção do falante; seria apenas uma interjeição e não faz parte da estrutura da sentença:

(5) a. *Se amarelo pá o almoço tá pronto. b. *Se chover pá o jogo é cancelado. c. *Se cachorro pá é isso aí mesmo. d.* Se João pá eu vou.

Finalmente, não se pode alterar a ordem do constituinte:

(6) a. *Pá se eu vou. b. *O almoço pá se tá pronto.

Os exemplos acima indicam que os falantes consideram o ‘se pá’ como um constituinte único; trata-se de uma expressão idiomática. No entanto, cada um desses elementos dá uma contribuição semântica diferente, que é a mesma que eles oferecem nos outros contextos em que eles recorrem: o ‘se’ constrói sentenças condicionais, tanto indicativas quanto subjuntivas, e o ‘pá’ também ocorre isoladamente, como vimos nos exemplos da seção anterior, e, ao menos em alguns casos, parece ocupar a posição de algum constituinte, mas sempre carrega um traço de emoção ou envolvimento do falante.

‘Se pá’ não é ‘talvez’

É comum ouvirmos falantes do ‘se pá’ afirmando que ele indica o mesmo que o advérbio ‘talvez’. De fato, as duas expressões têm muito em comum, já que ambas indicam situações possíveis, em sentido amplo. São, portanto, modais5 5 A modalidade é definida como a expressão da necessidade e da possibilidade. Ver von Fintel (2006). . No entanto, elas parecem não veicular a mesma informação e não ter a mesma estrutura sintático-semântica. Uma evidência nessa direção é o fato de que a forma ‘se pá’ não se combina com o modo subjuntivo, ao passo que ‘talvez’ se combina (embora seja também possível seu uso com o indicativo, ao menos em algumas variedades, como no exemplo em (8b)):

(7) a. * Se pá, João fosse na festa. b. Talvez João fosse na festa. c. Se pá, João vai/foi na festa. d. Talvez o João vá na festa. e. # Talvez o João vai/foi na festa. (8) a. Se pá chove amanhã. b. Talvez chova(e) amanhã. c. * Se pá chova amanhã.

A expressão ‘se pá’ só é gramatical com o modo indicativo, (7a) e (8c) não são gramaticais. ‘Se pá’ se combina tanto com o futuro quanto com o pretérito do indicativo, enquanto que ‘talvez’ é melhor com as formas do subjuntivo. Esse é um dado importante para a nossa abordagem: ‘se pá’ seleciona o modo indicativo. Não é nosso objetivo discutir a semântica do modo neste artigo. Vamos assumir com Marques e Pires de Oliveira (2016MARQUES, Rui; PIRES DE OLIVEIRA, Roberta. Mood and Modality. WETZELZ, Leo Willem; MENUZZI, Sérgio; COSTA, João (ed.). Handbook of Portuguese Linguistics. Wiley Blackwell, 2016. p. 408- 24.) que uma maneira de entendermos a diferença entre o modo indicativo e o subjuntivo é a quantificação sobre alternativas de situação. Nesse sentido, diferentemente do que é comumente assumido, o modo indicativo não seria sobre o real e o subjuntivo sobre o irrealis, mas a diferença estaria na quantificação: o indicativo é uma quantificação universal, ao passo que o subjuntivo seria uma quantificação existencial.

Uma evidência nessa direção é que o indicativo não é usado apenas para expressar ocorrências reais, afinal contamos sonhos no indicativo (‘sonhei que o João chegou em casa.’). Para os autores, o indicativo veicula que o que está sendo dito é o caso em todos os mundos compatíveis com o mundo de avaliação, que pode ser o mundo dos sonhos ou de uma ficção.6 6 Há diferentes maneiras de tratar sentenças ficcionais. Lewis (1986), por exemplo, assume que há um operador discursivo de ficcionalidade. Não iremos adentrar nessa questão. Já o subjuntivo (‘se o João chegar, eu saio.’) se caracterizaria por ser uma quantificação existencial, há pelo menos um mundo em que o João não chega, o que explicaria a inferência de irrealis, de incerteza, pois há uma alternativa em aberto. Suponha que seja esse o caso. Vimos que o ‘se pá’ não se combina com o subjuntivo. Logo, ele ocorre sempre em contexto de quantificação universal, ao passo que ‘talvez’ no subjuntivo expressa uma possibilidade. Se for assim, então ‘se pá’ expressa uma maior certeza do falante do que ‘talvez’.

Além disso, ‘talvez’ é um advérbio que tem como escopo apenas uma sentença, como mostram as sentenças em (7d) e (8d). No entanto, ‘se pá’ não atua sobre a sentença, parece antes relacionar a sentença do consequente a uma restrição imposta pelo ‘pá’, mais próxima de uma conjunção do que de um advérbio. Se estamos diante de uma sentença condicional, então há duas sentenças. Iremos desenvolver essa hipótese nas próximas seções.

O condicional indicativo

A semântica dos condicionais é um tópico excepcionalmente rico e extenso, que vem sendo discutido desde os gregos. Não é nossa intenção revisá-la. von Fintel (2019von FINTEL, Kai. Conditionals. In: PORTNER, Paul; von HEUSINGER, Klaus; MAIENBORN, Claudia (ed.). Semantics - Noun Phrases and Verb Phrases. Berlin, Boston: De Gruyter Mouton, 2019. p. 503-530.) define os condicionais como “sentenças que falam sobre um cenário possível que pode ou não ser o real e descreve o que (mais) é o caso naquele cenário; ou considerando “a outra ponta”, condicionais afirmam em que tipo de cenários possíveis uma dada proposição é verdadeira. A forma canônica de um condicional é uma sentença de duas partes consistindo de um “antecedente” (também “premissa”, “protasis”) marcada com ‘se’ e um “consequente” (“apodosis”) algumas vezes marcado com ‘então’ (Von Fintel, 2019von FINTEL, Kai. Conditionals. In: PORTNER, Paul; von HEUSINGER, Klaus; MAIENBORN, Claudia (ed.). Semantics - Noun Phrases and Verb Phrases. Berlin, Boston: De Gruyter Mouton, 2019. p. 503-530., p. 505).7 7 Conditionals are sentences that talk about a possible scenario that may or may not be actual and describe what (else) is the case in that scenario; or, considered from “the other end”, conditionals state in what kind of possible scenarios a given proposition is true. The canonical form of a conditional is a two-part sentence consisting of an “antecedent” (also: “premise”, “protasis”) marked with if and a “consequent” (“apodosis”) sometimes marked with then. Por exemplo, as sentenças em (2) acima e as em (9a) e (9c) abaixo, que exemplificam os dois tipos mais famosos de condicionais, que são os indicativos e os subjuntivos. Se comparamos sentenças com o ‘se pá’ com esses dois tipos de condicionais, notamos que ele se comporta como o indicativo, (9a), pois não aceita a combinação com o modo subjuntivo -(9d) é agramatical -; a marca característica do condicional subjuntivo (9c):

(9) a. Se a luz está acesa, o João está em casa. b. Se pá, o João está em casa. c. Se a luz estivesse acessa, o João estaria em casa. d. * Se pá, o João estaria em casa.

Embora ‘se pá’ se comporte como uma sentença condicional indicativa, a sentença em (9b) não veicula exatamente a mesma informação do que a sentença em (9a), como veremos na próxima seção. Antes, porém, de discutirmos em que elas diferem, vamos introduzir brevemente a semântica do chamado condicional indicativo nu, isto é, a sentença condicional indicativa sem modais aparentes, como é o caso de (9a), revisando parcialmente a proposta de Kratzer (2012KRATZER, Angelika. Modals and conditionals. Oxford: Oxford University Press , 2012. ), que é a nossa base teórica.

Condicionais indicativos nus são considerados epistêmicos, porque eles mobilizam uma base de conhecimento ordenada pela normalidade; essa base pode ou não ser compartilhada pelos interlocutores, podendo ser apenas acessível ao falante. Informalmente, ao proferir um condicional indicativo, o falante expõe seu raciocínio, propondo que o antecedente do condicional seja adicionado à base de conhecimento e que seja, então, verificado se o consequente se segue dessa base. Trata-se de um raciocínio inferencial local.8 8 Kratzer desenvolve a chamada Semântica de Premissas para caracterizar raciocínios universais “locais”, isto é, cujas premissas são dadas localmente, isto é nas conversas ordinárias não agimos como cientistas, que só trabalham com o mundo real, nem como os deuses oniscientes que manipulam os mundos ao seu bel prazer. Ver capítulo 1 Kratzer (2012). Voltaremos a essa questão mais adiante. Na proposta clássica para os indicativos, (9a) tem a forma em (10), uma sentença complexa, isto é, uma sentença formada por outras sentenças, ‘a luz está acesa’ e ‘o João está em casa’, unidas pela implicação material, representada por →:

(10) A luz está acesa → o João em casa

A implicação material é uma conjunção extensional, ou seja, o valor de verdade do todo depende exclusivamente do valor de verdade das partes. Ou seja, a base modal é apenas o mundo real. Nas nossas interações corriqueiras, não interpretamos (9a) como (10). As condições de verdade em (10) não condizem com o modo como os falantes corriqueiramente interpretam (9a). Por exemplo, se a luz não está acessa, o João estar ou não em casa é irrelevante, porque (10) será verdadeira.9 9 A tabela de verdade da implicação material é: p q p → q 1 1 1 1 0 0 0 1 1 0 0 1 Um condicional com antecedente falso é sempre verdadeiro. Só que, em geral, não compreendemos (9a) desse modo.

Uma proposta de solução, inspirada em Grice (1989GRICE, Herbert Paul. Studies in the way of words. Cambridge: Harvard University Press, 1989. ), é entender que condicionais indicativos são semanticamente a implicação material, mas eles disparam uma implicatura generalizada de que há uma conexão não acidental entre as sentenças que compõem o condicional. Entretanto, hoje em dia, já temos evidências suficientes para descartar a hipótese da implicatura10 10 Kratzer (2012) mostra que a proposta de Grice não gera os resultados esperados. . Há duas grandes linhas de crítica a essa proposta: (i) o cálculo pragmático não permite explicar todos os casos, em particular o raciocínio pragmático falha se o falante sabe que o consequente é verdadeiro, mas há situações em que isso ocorre. Por exemplo, a sentença ‘se eu não fui demitido, meu chefe gosta de mim’ proferida pelo filho do chefe; (ii) tratar os indicativos como uma implicação material leva a predições que não correspondem a como interpretamos as sentenças corriqueiramente. Por exemplo as duas sentenças abaixo deveriam veicular o mesmo significado, porque há uma equivalência lógica entre elas (p→¬q ≡ q →¬p)11 11 Essa é uma inferência lógica clássica. Ela é aceita na lógica e tendo em vista a maneira como a lógica clássica traduz as sentenças nas línguas naturais para o cálculo proposicional, as sentenças em (11) deveriam expressar o mesmo conteúdo. :

(11) a. Se a Bíblia é inspirada divinamente, ela não é literalmente verdadeira. p→¬q b. Se a Bíblia é literalmente verdadeira, ela não é inspirada divinamente. q →¬p

No entanto, entendemos que essas sentenças não dizem o mesmo. Alguém pode entender que (11a) é verdadeira e (11b) é falsa. A Bíblia sempre é divinamente inspirada.

Kratzer (2012KRATZER, Angelika. Modals and conditionals. Oxford: Oxford University Press , 2012. ) afirma que o argumento que derruba a hipótese de que o ‘se’ nas línguas naturais é a implicação material é a análise que Lewis (1975LEWIS, David. Adverbs of quantification. In: KEENAN, Edward (ed.). Semantics of Natural Language. Cambridge: Cambridge University Press, 1975. p. 3-15.) faz de sentenças com quantificação adverbial, como a exemplificada em (12a) no inglês e em (12b) no português. A questão é: se aplicamos a análise clássica da implicação material, geramos tanto para (12a) quanto para (12b), as condições de verdade em (12c), que é uma generalização sobre os casos, mas não é isso o que compreendemos em (12a) e (12b). Por exemplo, suponha um cenário em que houve um milhão de casos de compra e, dessas, duas mil são de venda de cavalo e 1900 foram pagas com cheque. Nesse cenário, a nossa intuição é que (12a-b) deveria ser falsa, mas pela análise clássica elas devem ser verdadeiras, justamente porque o antecedente do condicional é falso, já que duas mil compras não é a maior parte dos casos, que era de um milhão. Mas, como dissemos, nossa intuição é que nesse cenário a sentença é falsa. Essa é a intuição que Lewis busca capturar com a estrutura em (12d):

(12) a. Most of the time, if a man buys a horse, he pays cash for it. b. Na maior parte das vezes, se um homem compra um cavalo, ele paga à vista. c. Para a maior parte dos casos, se é um caso de comprar um cavalo por um homem, então é um evento de pagar à vista. d. (A maior parte dos casos em que um homem compra um cavalo) (são casos em que paga à vista)

O problema, como mostra Lewis, não é o quantificador ‘most’ (‘a maior parte de’), já que sua substituição por outros quantificadores adverbiais como ‘always’ (‘sempre’), ‘sometimes’ (‘às vezes’), também gera condições de verdade inadequadas. A solução em Lewis é considerar que o ‘se’ não é a implicação material, mas indica a restrição do quantificador, como aparece na estrutura lógica em (12d). A diferença é que em (12d) a quantificação não é realizada sobre o número total de compras, mas apenas sobre as compras de cavalo. A maior parte dessas compras é paga em dinheiro. Ou seja, a quantificação é realizada tendo como escopo um conjunto restrito pelo antecedente. Esse modo de representar capta a nossa interpretação de (12a-b). Resumindo Lewis, Kratzer afirma que “O que se originou como uma sentença-se na estrutura de superfície, terminou como uma restrição ao quantificador na forma lógica. Nessa abordagem não há algo como um operador de dois lugares se… então nas representações lógicas das sentenças em (13) ENT#091;sentenças como (12a)ENT#093;. A função das sentenças-se é invariavelmente restringir o domínio do advérbio.” (Kratzer, 2012KRATZER, Angelika. Modals and conditionals. Oxford: Oxford University Press , 2012. , p. 90-91)12 12 “What originated as an if-clause in surface structure ended up as a quantifier restriction at logical form. On such an account, there is no such thing as a two-place if…then operator in the logical representations of the sentences in (13). The function of if-clauses is invariably to restrict the domain of the adverb.”

Assim, Kratzer entende que o ‘se’ não é uma conjunção, apenas indica a restrição da quantificação. Ela afirma que “a história do condicional é a “estória” de um erro sintático” (1986KRATZER, Angelika. Conditionals. Chicago Linguistics Society, v. 22, n. 2, p. 1-15, 1986., p. 2).13 13 “The history of the conditional is the story of a syntactic mistake.” Sentenças condicionais nuas, como em (13a-b), são sentenças implicitamente modalizadas universalmente e o ‘se’ apenas indica a restrição do quantificador. Assim, a forma lógica de (13a-b), sentença condicionais nuas, porque não há um modal explícito, teria uma quantificação adverbial universal, como representado em (13c), com a versão em português em (13d):

(13) a. If the lights are on, Roger is home. b. Se as luzes estão acesas, o Roger está em casa. c. ENT#091;MUST: the lights are onENT#093; Roger is home. (Kratzer, 2012KRATZER, Angelika. Modals and conditionals. Oxford: Oxford University Press , 2012. , p. 98) d. ENT#091;Necessariamente: a luz está acesaENT#093; o Roger está em casa.

A conclusão é que sentenças condicionais nuas são sentenças com quantificação modal implícita, em que o antecedente restringe os mundos. A questão agora é a semântica de MUST, o modal de necessidade que está implícito.

Uma das contribuições mais importantes de Kratzer para a semântica contemporânea é a sua semântica para os modais, um avanço não só para a semântica das línguas naturais, mas também para o cálculo lógico.14 14 Pires de Oliveira & Mortári (no prelo) para uma introdução formal à proposta de Kratzer para os modais aplicada aos auxiliares modais do português brasileiro. Classicamente modais são entendidos como operadores mono-argumentais, isto é, tomam uma proposição. Como sabemos, a sentença em (14a) pode ser interpretada de diferentes maneiras. Por exemplo, podemos entender que essa sentença expressa uma probabilidade, nesse caso a leitura é epistêmica, ou podemos entender que é uma ordem, e a leitura é deôntica. Esse é o chamado sabor da modalidade. Uma consequência da abordagem mono-argumental é que a cada um dos sabores da modalidade corresponde um operador lógico distinto. Se (14a) é uma sentença que está expressando o que o falante sabe, ‘deve’ corresponde a um operador epistêmico. Se (14a) expressa uma ordem, ‘deve’ corresponde a um operador deôntico. Teríamos, nessa abordagem, diferentes auxiliares ‘deve’, um para cada modalidade, como exemplificado em (14b) e (14c):

(14) a. O João deve estar em casa. b. DeveEpistêmico (o João estar em casa) c. DeveDeôntico (o João estar em casa)

Cada um desses operadores tem propriedades distintas. Por exemplo, o epistêmico é reflexivo, isto é, o mundo de avaliação está acessível, ao passo que o deôntico não é reflexivo, ele é serial. Essa é a solução via ambiguidade.

Kratzer propõe, entretanto, que os modais são “sub-especificados”; polissêmicos e não ambíguos. Assim, no português, não há diferentes modais de necessidade, diferentes ‘deve’, apenas um item que a depender do contexto ganha sabor epistêmico ou deôntico. Sua proposta é que modais carregam três ingredientes: a força do modal, a base modal e a fonte de ordenação. A força do modal, que pode ser existencial ou universal, é, no inglês, assim como no português, dada no léxico.15 15 Como apontou um parecerista, há línguas em que a força é dada pelo contexto e o sabor é dado lexicalmente. Ver Rullmann et al (2008). Assim, no português, ‘deve’ apenas informa que estamos diante de uma quantificação universal. Modais são quantificadores adverbiais que, como Lewis mostrou, são estruturas bi-argumentais; eles estabelecem uma relação entre a base modal ordenada, que, na maior parte das vezes, é dada pelo contexto, e a proposição expressa pela sentença prejacente, isto é, aquela que está sob o escopo do modal. A diferença entre as leituras epistêmica e deôntica está na base modal ordenada. Nessa proposta, (14a) tem a forma lógica em (15) e não é nem deôntica nem epistêmica enquanto a base modal ordenada não for preenchida pelo contexto; é o discurso que informa sobre o sabor da interpretação:

(15) Deve (base modal ordenada) (o João estar em casa)

A base modal ordenada pode ser dada explicitamente, através de orações adverbiais. Em, por exemplo, ‘Tendo em vista o que o falante sabe, o João está em casa’, a base modal é epistêmica. No entanto, em geral, ela não é dada explicitamente, mas sim pelo fundo conversacional, que congrega as informações que são compartilhadas pelos interlocutores da conversa. Por exemplo, um falante que profere a sentença em (14a) com felicidade, está num fundo conversacional em que os interlocutores conhecem o João. Se a conversa for sobre o paradeiro de João, o sabor da modalidade é epistêmico e o falante, ao proferir (14a), expõe o seu raciocínio dado o seu estado de conhecimento e o que conta como normalidade: do que ele sabe, em situações normais, o João está em casa.16 16 O sabor da modalidade também poderia ser deôntico, se a conversa fosse sobre o que o médico mandou o João fazer, por exemplo. Ou se essa foi a ordem dada pelos pais do João.

A base modal são as informações que estão no conhecimento compartilhado e que são relevantes para o raciocínio modal. Ela delimita todos os mundos compatíveis com as evidências ou informações mobilizadas. No entanto, não seria condizente com as condições de verdade de (14a) se em todos os mundos o João está em casa, porque daí o falante estaria expressando uma certeza. Ao proferir (14a), o falante deixa claro, por implicatura de quantidade, que ele não sabe se o João está em casa. Dado o que ele sabe, em todos os mundos compatíveis com as evidências que ele tem, e levando em conta que as coisas transcorrem normalmente, o João está em casa, mas ele não tem certeza de que esse é efetivamente o caso. Esse é o resultado de um raciocínio, é uma inferência.

Para captar essa intuição, Kratzer introduz sua Semântica de Ordenação, uma contribuição para os cálculos lógicos e uma expansão da Semântica de Vizinhança, em que a relação de acessibilidade é dada entre um mundo e um conjunto de mundos; o que fizemos implicitamente ao descrever o papel da base modal. Nesse modelo, o fundo conversacional atua duas vezes. Ele restringe os mundos que são relevantes, estabelecendo a relação de acessibilidade. Esses são os mundos que são compatíveis com as evidências que estão sendo usadas no raciocínio, por exemplo nesses mundos o João sempre vai para casa depois do serviço - essa é a base modal. Esses mundos são, então, ordenados tendo em vista algum parâmetro - essa é a fonte de ordenação. No caso dos modais epistêmicos, esse parâmetro é sempre o curso normal dos eventos. Se os mundos estão ordenados por uma relação de normalidade, não há garantia de que o João está em casa mesmo que ele sempre vá para casa depois do serviço, porque o mundo real pode não ser normal. Por exemplo, o João sofreu um acidente no meio do caminho para casa. Mas esse não é um mundo normal. A quantificação universal é sobre os mundos normais. Assim, o fundo conversacional desempenha papel duplo: restringe os mundos e ordena esses mundos segundo a normalidade, se o contexto for epistêmico.17 17 No modelo de Kratzer a base modal é sempre o conhecimento que é compartilhado e o sabor da modalidade é dado pela fonte de ordenação. Na modalidade deôntica, os mundos são ordenados de acordo com as leis ou normas. Na modalidade bulética, de acordo com os desejos do falante.

Ainda que breve, essa introdução à semântica dos modais, permite retornarmos ao proferimento da sentença condicional indicativa nua, exemplificada em (9a), ‘Se a luz está acesa, o João está em casa’ e a sua forma lógica. Como já dissemos, os condicionais indicativos nus são epistêmicos. O falante manifesta seu estado de conhecimento e a conclusão do seu raciocínio. A quantificação é universal. Ele afirma que em todos os mundos em que os fatos são os mesmos, por exemplo, o João saiu do emprego às 6:00, normalmente quando ele está em casa, a luz está acesa, ele demora 20 minutos para chegar em casa, e que são ordenados pela normalidade, ou seja, não houve nenhum acidente, o João está em casa. A necessidade indica que o João estar em casa é uma consequência dos mundos que são os mais normais e compatíveis com o conhecimento do falante. A sentença em (9a) expressa que levando em consideração as evidências e o conhecimento disponível, organizando esses mundos tendo em vista o curso normal dos eventos, em todos os mundos em que a luz da casa está acesa e que são normais são mundos em que o João está em casa. Logo, temos razão para bater em sua porta, se a luz estiver acesa. Mas é claro que João pode não estar em casa, porque ele esqueceu a luz acesa, por exemplo. O mundo real não precisa ser um mundo normal, mas ele está acessível, isto é, é compatível com as evidências que os interlocutores compartilham. Captamos assim que o falante não tem certeza de que João está em casa; que ele estar em casa é a consequência de um raciocínio tendo em vista a normalidade.

Munidos dessa reflexão sobre os condicionais indicativos nus e a modalidade, vamos, na próxima seção, analisar o ‘se pá’.

Se pá: epistêmico subjetivo

Vamos apresentar a nossa análise discutindo o par mínimo em (9), repetido em (16). Afirmamos que as sentenças abaixo não dizem exatamente a mesma coisa, mesmo que sejam proferidas na mesma situação de fala. Suponha que a pergunta em discussão (Roberts, 1996ROBERTS, Craige. Information structure: Towards an integrated formal theory of pragmatics. In: YOON, Jae-Hak; KATHOL, Andreas. (ed.). Papers in Semantics. Working papers in Linguistics 49. Ohio: Ohio State University, 1996. p. 91-136.) é sobre onde o João está. Os interlocutores sabem quem é o João, sabem também sobre seus hábitos e estão considerando onde ele poderia estar. Além disso, falante e ouvinte estão diante da casa de João e podem ver que a luz na sala de jantar está acesa. Essa é uma situação em que os interlocutores estão diante da evidência que torna o antecedente verdadeiro. Faz diferença proferir (16a) ou (16b)?

(16) a. Se a luz está acesa, o João está em casa. b. Se pá, o João está em casa.

Há várias diferenças. O ‘pá’ é uma exclamação ou uma interjeição, em que o falante expressa seu posicionamento subjetivo. Não há, em (16a), nenhum elemento que tenha uma carga emotiva. Potts (2007POTTS, Christopher. The Expressive Dimension. Theoretical Linguistics, v. 33, p. 165-197, 2007.; 2019POTTS, Christopher. Conventional implicature and expressive content. In: MAIENBORN, Claudia; von HEUSINGER, Klaus; PORTNER, Paul (ed.). Semantics - Interfaces. Berlin, Boston: De Gruyter Mouton , 2019. p. 598-621.) é uma proposta pioneira que distingue diferentes dimensões do significado, como o conteúdo semântico e a expressividade. Em (16a) não há nenhuma carga expressiva dada morfologicamente. O falante pode, é claro, expressar diferentes tipos de emoção ao proferir (16a), pode inclusive não expressar nenhuma emoção. Já em (16b) a expressividade transparece na escolha do item ‘pá’, que seria então um item lexical expressivo.

Classicamente, os expressivos estão atrelados ao falante, sua expressividade só pode ser atribuída a ele. Assim, se ‘pá’ for efetivamente um item expressivo, deve haver a possibilidade da carga emotiva ser associada ao falante:

(17) Pedro disse que se pá, o João está em casa.

Na nossa avaliação, é possível interpretar que o falante de (17) está veiculando sua aposta de que o João está em casa. Já mostramos, na seção 1, que há uma carga emotiva no ‘pá’.

‘Se pá’ não parece ser um expressivo puro, porque ele carrega um certo conteúdo. Trata-se talvez de um expressivo misto que carrega informações de expressividade e de conteúdo.18 18 Agradecemos a sugestão a um dos pareceristas. ‘Se pá’ parece veicular um conteúdo que é vazio, porque é totalmente herdado da estrutura, que é a de um condicional indicativo. Nesse sentido ele tem uma interpretação fixa, o que o coloca como uma expressão idiomática. É a materialização de um condicional indicativo. O ‘pá’ indica sempre as condições normais transcorrendo normalmente. Assim, (16b) afirma que em todos os mundos que se conformam a situações de normalidade, e em que tudo corre como previsto, João está em casa. Vimos, na seção 1, que ‘pá’ ocupa o lugar de uma expressão linguística. Nossa proposta é que ele ocupa o lugar de uma sentença, o antecedente do condicional, logo expressa uma proposição. Mais que isso, expressa que se trata de uma conclusão de um raciocínio.

Mostramos que ‘se pá’ se comporta como um condicional indicativo nu, já que não aceita as formas subjuntivas do verbo; enquanto tal, ele é um epistêmico, ou seja, o falante expõe seu estado de conhecimento e a sua conclusão de um raciocínio. Na seção 3, vimos que condicionais indicativos nus são sentenças modais de necessidade, em que o antecedente restringe os mundos, que são então ordenados pela normalidade. Se juntarmos esses ingredientes, a estrutura lógica de (16b), repetida abaixo por conveniência em (18a), está representada em (18b); colocamos o sobrescrito “falante” para indicar que há uma expressividade sendo veiculada, mas não iremos desenvolver os mecanismos que permitem derivar esse conteúdo afetivo. Assim, ao proferir (18a), o falante manifesta seu estado epistêmico, acompanhado por seu posicionamento subjetivo. O falante expressa a sua conclusão de que o João está em casa, dada a condição expressa pelo antecedente, neste caso ‘pá’, que indica as situações mais normais e que transcorrem normalmente, como na paráfrase em (18c):

(18) a. Se pá, o João está em casa. b. ENT#091;Necessariamente páENT#093;falante o João está em casa c. Em todos os mundos que se conformam ao mundo de avaliação e em que as situações transcorrem normalmente, o João está em casa.

Dessa maneira, a condição para que o consequente ocorra é que as coisas transcorram normalmente. Nos mundos normais, o consequente se realiza. Não há uma restrição, como ocorre em (16a), em que são considerados apenas os mundos em que a luz esteja acesa. Há a restrição dada pela própria estrutura, que é do condicional indicativo; logo, expressa que se trata de um raciocínio tendo em vista o conhecimento do falante e os fatos acontecerem normalmente. A restrição é ser o encadeamento normal dos eventos, maximizando a normalidade. Esse é evidentemente um raciocínio ceteris paribus, isto é, pode não se realizar, mas em que o falante se posiciona favoravelmente, no sentido de que é para acontecer.

Gillies (2004GILLIES, Anthony. Epistemic Conditionals and Conditional Epistemics. NOÛS, v. 38, n. 4, p. 585-616, 2004.) afirma que condicionais epistêmicos ordinários exprimem uma conexão sobre as possibilidades epistêmicas e carregam uma pressuposição de que o antecedente é verdadeiro. Suponha que seja isso. O falante de ‘se pá’ pressupõe que as coisas são normais e que tem seu desenvolvimento normal. Na conversa, ele indica que a condição para que o consequente se realize é o curso normal dos eventos. Dado o máximo de informação que o falante possui, em situações normais, o João está em casa. Logo, há uma alta probabilidade de o João estar em casa da perspectiva do falante, que está emocionalmente envolvido com essa perspectiva. Assim, ele “aposta” que é isso. Ele não tem certeza, mas tem uma forte crença de que é isso.

Em sua análise dos condicionais indicativos, Kratzer constrói um exemplo de um jogo de cartas para mostrar que o indicativo depende das informações que o falante tem. O ‘se pá’, utilizado nessa situação do jogo de cartas, deixa claro que também essa expressão depende do conhecimento que o falante tem e que pressupõe que o falante não sabe sobre o consequente. A situação se desenrola num casino. Está acontecendo um jogo de truco gerenciado por Tiago e seus dois ajudantes, Renan e Lela. Neste momento, dois jogadores ainda se encontram na rodada, Pedro e Frederico. No truco, a ordem de forças dos naipes das manilhas é decrescente como expresso em: paus>copas>espadas>ouro>outras cartas. Pedro possui uma manilha de espadas na mão e pede truco; cabe agora a Frederico responder, se ele aceita o truco e disputa 3 pontos, ou se rejeita e entrega apenas 1 ponto para o oponente. Enquanto Frederico pondera, os ajudantes, Renan e Lela, estão rodando a mesa, para avisar o Tiago sobre os possíveis resultados. Renan, vê a mão de Pedro, e quer indicar a sua opinião, calculando com base no jogo que o Pedro tem, a probabilidade de ele ganhar, caso Frederico aceite. Suponha que ele envia a mensagem em (19) para Tiago:

(19) Se pá, o Pedro ganha.

Ao proferir (19), coloca que tendo em vista as condições normais, ter manilha menor é suficiente para o Pedro ganhar. Renan informa que ele está otimista sobre o resultado e que tendo em vista o que ele sabe sobre a mão de Pedro e sobre o que é normal nesse jogo, incluindo as regularidades de Frederico, é Pedro quem ganha, mas ele não tem certeza, precisamente porque essa não é uma manilha maior. Se fosse a manilha maior, enviar a mensagem em (19) seria não ser cooperativo. Do mesmo modo, se Lela olhar as cartas dos dois jogadores e souber o que ambos têm na mão, proferir (19) é infeliz, porque ele não pode mais dar palpite, já que ele já sabe quem ganhou. O ‘se pá’ só pode ser usado com felicidade numa situação em que o falante desconhece se o consequente é um fato. Ele tem evidências que permitem uma conclusão, mas não sabe sobre o consequente. Para usar ‘se pá’ com felicidade deve haver, no espaço epistêmico do falante, mundos em que Pedro ganha e mundos em que Frederico ganha. O que está sendo manipulado é a ordenação desses mundos, qual é o mundo mais provável tendo em vista a perspectiva do falante e como as coisas são normalmente.

A análise proposta explica os vários dados que recolhemos, por exemplo, o fragmento, retirado de uma conversa:

(20) O que você vai fazer na sexta de noite? Se pá, eu vou na festa.

A sentença com ‘se pá’ é interpretada como: em todos os mundos normais, em que tudo se desenvolve normalmente, o falante vai na festa. Logo, infere-se que o falante está propenso a ir na festa. Além disso, a escolha do ‘se pá’ coloca a dimensão subjetiva. Não apenas ele está propenso, mas ele deseja fazer isso. Ao mesmo tempo, ele mantém a incerteza sobre ir. Nesse sentido, ‘se pá’ é bastante diferente de um condicional indicativo pleno, em que o antecedente estabelece uma condição necessária para que algo ocorra.

Explica também os dados retirados da literatura, exemplificados na primeira seção. Considere, por exemplo, (1a), ‘Se pá tudo que eu digo é um monte de besteira.’ O falante está inclinado a achar que o que ele fala é besteira porque essa é a sua condição normal. Ele não duvida de que o que ele fala é besteira, como seria o caso se ele tivesse usado ‘talvez’, ‘talvez tudo o que eu digo é um monte de besteira’; ao contrário, ele está convencido de que esse é o caso.

Um argumento forte na direção de que ‘se pá’ é uma expressão idiomática é que ele se comporta como um elemento linguístico “fechado”, porque não é possível inserir nenhum elemento entre eles. O modal aparente não é gramatical no antecedente de ‘se pá’, mostrando mais uma diferença com o condicional indicativo, que não impõe essa restrição, como vemos na comparação entre (21) e (22):

(21) a. * Se necessariamente pa, João está em casa. b. * Se pode pa, João está em casa. c. * Se deve pa, João está em casa (22) a. Se necessariamente o João está em casa, o João está em casa. b. Se o João pode estar em casa, ele está em casa. b. Se o João deve estar em casa, ele está em casa.

A impossibilidade de acréscimo se explica porque o ‘pá’ está no lugar de uma sentença completa. Não há como acrescentar mais nada. Ele não é composicional. Não há nenhuma estrutura interna. Assim, a melhor caracterização para ‘se pá’ é que estamos diante de um único constituinte, como afirmamos na seção 2, mas cada um dá a sua contribuição semântica: o ‘se’ introduz o antecedente de um raciocínio indicativo e o ‘pá’ expressa a proposição que engloba as condições normais. A impossibilidade de qualquer elemento interveniente mostra que estamos diante de uma expressão idiomática. Assim, a quantificação é sempre implícita e logo sempre expressa uma necessidade. O modal explícito nas sentenças com ‘se pá’ só é possível no consequente:

(23) a. Se pá, o João deve estar em casa. b. Se pá, o João pode estar em casa.

Nesse caso a análise que propusemos se mantém inalterada. Nas sentenças em (23), o falante está expondo seu raciocínio dado o que é normal; há uma alta probabilidade de o João estar em casa em (23a) e há uma possibilidade em (34b). (23a) tem gosto de repetição de ideias.

Um outro tipo complexidade que encontramos recentemente com ‘se pá’, está exemplificada abaixo, em que o ‘se pá’ se combina com uma conjunção subordinada ou o complementizador ‘que’. Em (24), há uma sentença condicional que parece encaixada:

(24) Se pá que se eu for na festa eu encontro a pessoa.

Sem entrar na questão da estrutura sintática, na sentença em (24) há dois condicionais, o indicativo atrelado ao ‘se pá’ e o subjuntivo, ‘se eu for’. A dúvida sobre ir ou não na festa vem do subjuntivo, o falante afirma que em todos os mundos normais e organizados pela normalidade, nos mundos em que ele vai na festa, e ele não tem certeza de que vai na festa, já que ao usar o subjuntivo deixa aberta a opção de ele não ir, ele encontra uma certa pessoa saliente no contexto. A possibilidade de um condicional indicativo ter escopo sobre um subjuntivo aparece também em (25):

(25) Se pá que se eu tivesse pego o ônibus mais cedo eu ainda ia atrasar.

Na sentença acima o falante utiliza o ‘que’ para encaixar uma sentença condicional subjuntiva contrafactual, já que ele não pegou o ônibus mais cedo. O epistêmico tem, então, escopo sobre o condicional contrafactual. Com este artifício ele veicula que organizando a partir da normalidade, em todos os mundos da base modal, que são contrafactuais, em que ele pegou o ônibus mais cedo, ele ainda se atrasaria. Dessa maneira, há um efeito de recursividade, que aparece na fala do personagem Marques na ficção Os Supridores de José Falero:

(26) - Mas é verdade, Roberto! Na época dos escravizado, por acaso eu ia ter que aceitar ser um escravizado, sem reclamar e sem tentar fugir, só porque o mundo era assim? Meu pau! Eu ia fugir, mano! Eu ia ser preto fujão! Eu ia fugir e matar branco pra caralho! Ou, se pá, eles é que iam me matar, mas era isso que eu ia tentar fazer: fugir e matar o máximo de branco que eu pudesse! (José Falero, 2020FALERO, José. Os supridores. São Paulo: Todavia, 2020. ).

Neste trecho, o personagem começa por especular como agiria, segundo sua vontade, caso vivesse no período escravocrata do Brasil; no entanto, no meio de seu raciocínio o mesmo percebe que, de acordo com a normalidade do mundo e as evidências (sabor epistêmico) que possui sobre o mundo real, a realidade provavelmente não seria como ele estava imaginando, então emprega o ‘se pá’, isolado do resto da construção por vírgulas para manter a gramaticalidade, com o intuito de coordenar seu raciocínio com algo que estaria mais próximo com os mundos que são mais normais tendo em vista o mundo real. Ele considera que o normal seria ele ser morto.

Novos desafios

Defendemos que ‘se pá’ é uma expressão idiomática, mas ela é constituída por dois elementos ‘se’ e ‘pá’, em que cada um dá a sua contribuição: ‘se’ é a conjunção condicional e ‘pá’ é um item que ocupa a posição de uma sentença e é expressivo. Como antecedente de um condicional, o ‘pá’ ocupa o lugar de uma sentença “fechada”, isto é, não é possível adicionar nenhum outro elemento. Argumentamos que essa é uma expressão condicional indicativa e, portanto, é a manifestação da posição epistêmica do falante, exprimindo o seu estado de conhecimento e a fonte de ordenação da normalidade. Apresentamos brevemente Kratzer (2012KRATZER, Angelika. Modals and conditionals. Oxford: Oxford University Press , 2012. ) para os condicionais indicativos nus, em que o ‘se’ é o restritor de uma quantificação universal encoberta e a estrutura é como em Lewis (1975LEWIS, David. Adverbs of quantification. In: KEENAN, Edward (ed.). Semantics of Natural Language. Cambridge: Cambridge University Press, 1975. p. 3-15.). Transpusemos essa análise para o ‘se pá’, acrescentando que o ‘pá’ é a manifestação do condicional indicativo; é a proposição que indica os mundos compatíveis com as evidências e ordenados pela normalidade. Assim, a melhor paráfrase para sentenças com ‘se pá’ é: nos mundos normais, o consequente é o caso. Notamos ainda que ‘pá’ é um elemento expressivo, logo o falante está emocionalmente envolvido. Daí vem a inferência de que não apenas ele está inclinado na direção do consequente, já que considera que o antecedente é verdadeiro, mas também que ele deseja que esse seja o caso.

Não há dúvidas de que é ainda preciso detalhar melhor a análise, mas se pá esse artigo contribui para mostrar que mesmo aquelas expressões que são marginalizadas socialmente, porque estão associadas a um grupo particular de falantes, permitem compreendermos a sutileza da gramática internalizada de seus falantes.

Referências

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  • - MC DAVI. Pé Direito. São Paulo: Pereira DJ, 2016. Disponível em: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5Xc9SQrfJog Acesso 15 nov 2023.
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  • RULLMANN, Hotze, MATTHEWSON, Lisa, DAVIS, Henri. Modals as distributive indefinites. Natural Language Semantics v. 16, p. 317-57, 2008
  • 1
    Agradecemos a leitura atenta dos pareceristas, essencial para essa versão final.
  • 2
    A proposta de Kratzer para as sentenças condicionais está dispersa em uma série de artigos e textos. Vamos ancorar nossa análise em Kratzer (2012KRATZER, Angelika. Modals and conditionals. Oxford: Oxford University Press , 2012. ), mas recorremos também a Kratzer (1986KRATZER, Angelika. Conditionals. Chicago Linguistics Society, v. 22, n. 2, p. 1-15, 1986.).
  • 3
    Não é nossa intenção revisar o tema dos condicionais indicativos que é vasto. Bennett (2003BENNETT, Jonathan. A philosophical guide to conditionals. Oxford: Oxford University Press, 2003.) é uma discussão filosófica sobre os condicionais. Pires de Oliveira e Mortari (no preloPIRES DE OLIVEIRA, Roberta; MORTÁRI, Cezar Augusto. Modais: semântica e lógica. (no prelo)) tem um capítulo sobre condicionais no quadro da teoria kratzeriana, que iremos adotar também neste artigo.
  • 4
    interjeição ENT#091;Portugal, InformalENT#093; Palavra esvaziada de sentido que se usa ou se repete no discurso, geralmente de forma inconsciente ou automática, como bordão linguístico (ex.: ele estava a falar, pá, mas não se percebia, pá, não se percebia mesmo nada, pá). in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa ENT#091;em linhaENT#093;, 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/p%C3%A1.
  • 5
    A modalidade é definida como a expressão da necessidade e da possibilidade. Ver von Fintel (2006von FINTEL, Kai. Modality and Language. In: BORCHERT, Donald M. (ed.). Encyclopedia of Philosophy. Detroit: MacMillan Reference, 2006. p. 20-27.).
  • 6
    Há diferentes maneiras de tratar sentenças ficcionais. Lewis (1986LEWIS, David. On the plurality of worlds. Oxford: Blackwell, 1986.), por exemplo, assume que há um operador discursivo de ficcionalidade. Não iremos adentrar nessa questão.
  • 7
    Conditionals are sentences that talk about a possible scenario that may or may not be actual and describe what (else) is the case in that scenario; or, considered from “the other end”, conditionals state in what kind of possible scenarios a given proposition is true. The canonical form of a conditional is a two-part sentence consisting of an “antecedent” (also: “premise”, “protasis”) marked with if and a “consequent” (“apodosis”) sometimes marked with then.
  • 8
    Kratzer desenvolve a chamada Semântica de Premissas para caracterizar raciocínios universais “locais”, isto é, cujas premissas são dadas localmente, isto é nas conversas ordinárias não agimos como cientistas, que só trabalham com o mundo real, nem como os deuses oniscientes que manipulam os mundos ao seu bel prazer. Ver capítulo 1 Kratzer (2012KRATZER, Angelika. Modals and conditionals. Oxford: Oxford University Press , 2012. ). Voltaremos a essa questão mais adiante.
  • 9
    A tabela de verdade da implicação material é: p q p → q 1 1 1 1 0 0 0 1 1 0 0 1
  • 10
    Kratzer (2012KRATZER, Angelika. Modals and conditionals. Oxford: Oxford University Press , 2012. ) mostra que a proposta de Grice não gera os resultados esperados.
  • 11
    Essa é uma inferência lógica clássica. Ela é aceita na lógica e tendo em vista a maneira como a lógica clássica traduz as sentenças nas línguas naturais para o cálculo proposicional, as sentenças em (11) deveriam expressar o mesmo conteúdo.
  • 12
    “What originated as an if-clause in surface structure ended up as a quantifier restriction at logical form. On such an account, there is no such thing as a two-place if…then operator in the logical representations of the sentences in (13). The function of if-clauses is invariably to restrict the domain of the adverb.”
  • 13
    “The history of the conditional is the story of a syntactic mistake.”
  • 14
    Pires de Oliveira & Mortári (no prelo) para uma introdução formal à proposta de Kratzer para os modais aplicada aos auxiliares modais do português brasileiro.
  • 15
    Como apontou um parecerista, há línguas em que a força é dada pelo contexto e o sabor é dado lexicalmente. Ver Rullmann et al (2008RULLMANN, Hotze, MATTHEWSON, Lisa, DAVIS, Henri. Modals as distributive indefinites. Natural Language Semantics v. 16, p. 317-57, 2008).
  • 16
    O sabor da modalidade também poderia ser deôntico, se a conversa fosse sobre o que o médico mandou o João fazer, por exemplo. Ou se essa foi a ordem dada pelos pais do João.
  • 17
    No modelo de Kratzer a base modal é sempre o conhecimento que é compartilhado e o sabor da modalidade é dado pela fonte de ordenação. Na modalidade deôntica, os mundos são ordenados de acordo com as leis ou normas. Na modalidade bulética, de acordo com os desejos do falante.
  • 18
    Agradecemos a sugestão a um dos pareceristas.

Editado por

Editora-chefe dos Estudos de Linguagem:

Bethania Mariani

Editores convidados:

Brenda Laca Luciana Sanchez-Mendes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2024

Histórico

  • Recebido
    16 Nov 2023
  • Aceito
    06 Mar 2024
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